A audiência



– A audiência.


- Deve ter sido bem ruim passar por isso sozinho – murmurou Hermione, pesarosa.


- Mas ele não estava sozinho, não é? – disse Rony. – Dumbledore estava com ele.


Harry sentiu o estômago revirar, e mandou Zacharias Smith começar.


Harry sufocou um grito; não conseguiu se conter. A grande masmorra em que entrara parecia-lhe terrivelmente familiar. Não somente a vira antes, mas estivera ali antes. Era o lugar que visitara com a Penseira de Dumbledore, o lugar em que assistira os Lestrange serem condenados à prisão perpétua em Azkaban.


- Você foi julgado no mesmo lugar em que julgam Comensais da Morte?


- Como assim você já esteve lá?


- O que é uma Penseira?


- Só continuem ouvindo – pediu Rose.


As paredes eram de pedra escura, fracamente iluminadas por archotes. Havia arquibancadas vazias de cada lado dele, mas, à frente, as mais altas estavam ocupadas por muitos vultos escuros. Tinham estado conversando, mas quando a pesada porta se fechou à entrada de Harry fez-se um silêncio agourento.


Uma voz masculina cortante ecoou pelo tribunal.


— O senhor está atrasado.


— Sinto muito — disse Harry nervoso — eu não sabia que a hora da audiência tinha sido mudada.


— Isto não é culpa da Suprema Corte dos Bruxos — disse a voz. — Despachamos uma coruja para o senhor esta manhã. Sente-se no seu lugar.


- Mas pela manhã, ele não estaria saindo pela audiência? –questionou Parvati Patil.


- Não faz sentido – concordou Lilá.


- Deviam ter avisado Harry antes – disse Simas, que até então, estivera desconfiado de Harry.


Fudge apenas se encolheu, diante dos olhares de estudantes e de Sirius, Tonks, Remo, Moody, McGonagall e um sorridente Dumbledore.


O olhar de Harry recaiu sobre a cadeira no centro da sala, cujos braços eram equipados com correntes. Vira aquelas correntes ganharem vida e prenderem quem ali sentasse. Seus passos ecoaram fortemente quando avançou pelo chão de pedra. No momento em que se sentou, pouco à vontade, na borda da cadeira, as correntes retiniram ameaçadoras, mas não o prenderam.


- Se essas correntes tivessem prendido Harry, você seria um sapo agora fazendo companhia à sua secretária, Fudge!


- Sirius, por favor.. – pediu Dumbledore.


- Você está falando com o Ministro da Magia, Black! – vociferou Umbridge. – Se não quiser voltar para Azkaban, sugiro que meça suas palavras. 


Mas Sirius sabia que não seria preso novamente, não se o Ministério não quisesse que o escândalo fosse ainda maior.  


Sentindo-se bastante mal, ele olhou para as pessoas sentadas no banco acima. Havia umas cinquenta, até onde sua vista alcançava, usavam vestes cor de ameixa com um W bordado em fio de prata do lado esquerdo do peito, e olhavam para ele com ar de superioridade, algumas com expressões bem austeras, outras, francamente curiosas.


Bem no meio da primeira fila sentava-se Cornélio Fudge, o ministro da Magia. Era um homem corpulento que costumava usar um chapéu-coco verde-limão, embora hoje o tivesse dispensado; dispensara, também, aquele sorriso de indulgência que no passado usara ao falar com Harry. Uma bruxa de ossos largos, queixo quadrado, cabelos grisalhos muito curtos, sentava-se à esquerda de Fudge; usava um monóculo e parecia assustadora.


- Minha tia Amélia – disse Susana Bones. – Ela é um pouco assustadora mesmo; mas aposto que ela deu chance ao Harry de se explicar.


Do lado direito do ministro, havia outra bruxa, mas estava sentada tão atrás no banco que seu rosto ficava na sombra.


— Muito bem — disse Fudge. — O acusado tendo finalmente chegado, podemos começar. Os senhores estão prontos? — perguntou aos demais bruxos.


— Estamos, sim senhor — respondeu uma voz ansiosa que Harry conhecia.
O irmão de Rony, Percy, estava sentado em uma das extremidades do banco da frente. Harry olhou para Percy, esperando algum sinal de reconhecimento, mas não recebeu nenhum. Os olhos do rapaz, por trás dos óculos de aros de tartaruga, estavam fixos em um pergaminho, e segurava uma pena à mão.


Percy baixou os olhos; não conseguiu encarar a família, mas estava ciente de que todos o olhavam agora. Em algum lugar, a mãe devia estar chorando.


— Audiência disciplinar do dia doze de agosto — anunciou Fudge com voz ressonante, e Percy começou imediatamente a anotar — para apurar violações ao Decreto de Restrição à Prática de Magia por Menores e ao Estatuto Internacional de Sigilo cometidas por Harry Tiago Potter, residente na Rua dos Alfeneiros, número quatro, Little Whinging, Surrey.


“Inquiridores: Cornélio Oswaldo Fudge, ministro da Magia; Amélia Susana Bones, chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia; Dolores Jane Umbridge, subsecretária sênior do ministro. Escriba da corte, Percy Inácio Weasley...


- Uma salva de palmas para o Percy! – bradou Fred. – Ele finalmente arranjou um chefe que sabe o nome dele!


A maioria do Salão não entendeu a piada, mas os que entenderam não riram.


- Parem com isso! – mandou Molly.


— Testemunha de defesa, Alvo Percival Wulfric Brian Dumbledore — disse uma voz baixa atrás de Harry e ele virou a cabeça tão rápido que estalou o pescoço.


Harry olhou para Dumbledore, que conversava com Sirius; ainda estava confuso com a atitude do diretor no final da audiência.


Dumbledore vinha entrando serenamente pela sala usando vestes longas azul-petróleo e exibindo uma expressão perfeitamente calma. Suas barbas longas e brancas e seus cabelos refulgiram à luz dos archotes, quando ele emparelhou com Harry e ergueu os olhos para Fudge através dos seus oclinhos de meia-lua, pousados bem no meio do nariz muito torto.


Os membros da Suprema Corte dos Bruxos murmuraram. Todos os olhares se concentraram agora em Dumbledore. Alguns pareciam aborrecidos, outros ligeiramente receosos; duas bruxas idosas no último banco, no entanto, ergueram a mão e lhe acenaram as boas-vindas.


- Parece que nem todos no Ministério esqueceram o que Dumbledore representa para a comunidade bruxa – disse Olho-Tonto, encarando Fudge em desafio.  


Ao ver Dumbledore, uma intensa emoção despertou no peito de Harry, um sentimento de fortalecida esperança muito semelhante à que o canto da fênix lhe propiciara. Ele queria chamar a atenção de Dumbledore, mas o diretor não estava olhando para o seu lado; continuava com os olhos erguidos para o obviamente constrangido Fudge.


— Ah — exclamou Fudge, que parecia completamente desconcertado. — Dumbledore. Então, você... hum... recebeu a nossa... mensagem que a hora e... local da audiência foram mudados?


— Não chegou a tempo — respondeu Dumbledore animado. — Porém, graças a um feliz engano cheguei ao Ministério três horas mais cedo, por isso não houve prejuízo.


- Parece que alguém não esperava que Dumbledore aparecesse – debochou Sirius.


Fudge permaneceu em silêncio; de fato, esperava que tanto Dumbledore como Potter perdessem a audiência, mas parecia ter subestimado os dois.


- Sabe, eu pensei numa coisa – disse Rony. – Mas acho que é besteira.


- O quê? – perguntou Harry, tentando se distrair.


- Será que Dumbledore usou um Vira-Tempo para chegar na audiência na hora?


HARRY E Rony olharam para Hermione; Rony parecia receoso de que ela risse – mas a garota apenas encolheu os ombros.


- É possível... mas eu não sei... seria tão absurdo que...


— Ah... bem... suponho que iremos precisar de mais uma cadeira... eu... Weasley, será que você poderia...?


Fred e Jorge se levantaram e bateram palmas para o irmão, acompanhados de Rony e Gina.


Mas quando viram que a mãe ia começar a chorar, tornaram a se sentar.


— Não se preocupe, não se preocupe — disse Dumbledore gentilmente; puxou então a varinha, fez um breve aceno, e uma confortável poltrona de chintz apareceu ao lado de Harry.
Dumbledore se sentou, juntou as pontas dos longos dedos e ficou olhando Fudge por cima deles com uma expressão de educado interesse. Os bruxos da corte continuaram a murmurar e a se inquietar; somente quando Fudge retomou a palavra é que eles se aquietaram.


— Sim — repetiu Fudge, folheando suas anotações. — Bom, então. Portanto. As acusações. Sim.


- A chegada de Dumbledore fez Fudge perder o chão – comentou Hermione. – Ele claramente não esperava que o diretor chegasse à tempo.


- Então eles mudaram a hora da audiência para atrapalhar o Dumbledore, também – concluiu Gina.


Ele retirou um pergaminho da pilha à sua frente, inspirou longamente e leu:


— As acusações são as seguintes: “Que ele intencionalmente, deliberadamente e com plena consciência da ilegalidade dos seus atos, já tendo recebido anteriormente um aviso do Ministério da Magia, por escrito, por uma acusação semelhante, executou o Feitiço do Patrono em uma área habitada por trouxas, na presença de um trouxa, no dia dois de agosto às nove horas e vinte e três minutos, o que constitui uma violação ao parágrafo C do Decreto de Restrição à Prática de Magia por Menores, de 1875, e também à Seção 13 do Estatuto de Sigilo da Confederação Internacional dos Bruxos.” O senhor é Harry Tiago Potter, da Rua dos Alfeneiros, número quatro, Little Whinging, Surrey? — perguntou Fudge, lançando a Harry um olhar penetrante por cima do pergaminho.


Zacharias parou de ler:


- Vamos ter que acompanhar toda a audiência do Potter?! – perguntou ele.


- Sim – respondeu Rose, displicente.


- Mas – murmurou ele. -, isso pode demorar horas. Não tem coisas mais importantes que...


- Só continue lendo – pediu Al, com um quê de impaciência.


Bufando, o garoto tornou a ler:


— Sim, senhor — respondeu Harry.


— O senhor recebeu um aviso oficial do Ministério por ter feito uso ilegal de magia há três anos, não foi?


— Sim, senhor, mas...


— E ainda assim conjurou um Patrono na noite do dia dois de agosto? — perguntou Fudge.


— Sim, senhor, mas...


— Sabendo que não tem permissão para usar magia fora da escola enquanto for menor de dezessete anos de idade?


— Sim, senhor, mas...


— Sabendo que se encontrava em uma área povoada por trouxas?


— Sim, senhor, mas…


— Inteiramente consciente de que estava muito próximo de um trouxa naquele momento?


— Sim, senhor — disse Harry zangado — mas só usei magia porque estávamos...


Zacharias parou de ler mais uma vez e disse:


- Se fosse eu, não ficaria interrompendo o Ministro da Magia desse jeito. – caçoou.


Harry sentiu o sangue pulsar e disse:


- Mas você não sou eu! Então não continue lendo!


A bruxa de monóculo interrompeu-o com uma voz trovejante:


— Você produziu um Patrono inteiramente desenvolvido?


— Sim, senhora, porque...


— Um Patrono corpóreo?


— Um... o quê? — perguntou Harry.


— O seu Patrono tinha uma forma claramente definida? Quero dizer, era mais do que vapor ou fumaça?


Umbridge crispou os lábios.


- O que isso tinha a ver com as acusações? – resmungou ela. – Madame Bones só estava perdendo tempo.


- Ela estava apenas impressionada de saber que Harry conseguia conjurar um Patrono Corpóreo – explicou Dumbledore, animado.


Umbridge amarrou a cara; não gostava de ver Potter como um bruxo poderoso.


— Sim, senhora — disse Harry, sentindo-se ao mesmo tempo impaciente e levemente desesperado. — É um veado, sempre foi um veado.


— Sempre? — trovejou Madame Bones. — Você já havia produzido um Patrono antes?


— Sim, senhora. Venho fazendo isso há um ano.


— E o senhor tem quinze anos de idade?


— Sim, senhora, e...


— O senhor aprendeu isso na escola?


— Sim, senhora, o Prof. Lupin me ensinou a produzir um Patrono no terceiro ano, por causa do...


— Impressionante — disse Madame Bones, olhando-o com altivez — um Patrono verdadeiro na sua idade... realmente impressionante.


Zacharias parou de ler novamente.


- Se ele consegue fazer aos catorze, não pode ser tão impressionante assim. – duvidou ele.


- Mas é – retrucou Remo. – O feitiço do Patrono é um dos mais avançados que existe; não são todos os bruxos que conseguem fazê-lo.


Contrafeito, Zacharias continuou:


Alguns bruxos e bruxas ao redor dela recomeçaram a murmurar; alguns faziam sinais de concordância, outros franziam a testa e sacudiam a cabeça.


— A questão não é até que ponto a mágica é impressionante — lembrou Fudge num tom rabugento. — De fato, quanto mais impressionante for, pior é, penso eu, uma vez que o rapaz realizou o Patrono bem à vista de um trouxa!


Os que tinham franzido a testa havia pouco agora murmuravam sua concordância, mas foi a visão do virtuoso e discreto aceno de cabeça de Percy que compeliu Harry a falar.


Percy manteve os olhos abaixados, sem olhar para ninguém, mas ciente de que todo o Salão o observava.


— Fiz isso por causa dos dementadores! — disse em voz alta, antes que alguém pudesse interrompê-lo.


Harry esperava que houvesse mais murmúrios, mas o silêncio que sobreveio pareceu-lhe de alguma forma mais denso que antes.


— Dementadores? — exclamou Madame Bones passado um momento, suas espessas sobrancelhas se erguendo até o monóculo parecer que ia cair. — Que quer dizer com isso, garoto?


- Ninguém do Ministério sabia dos dementadores?! – perguntou Ernesto MacMillan.


- Minha tia Amélia só soube durante a audiência – disse Susana Bones.


- Ora, ninguém acreditou nessa história – retrucou Umbridge. – e ainda não acreditamos, certo?


Mas nem Fudge respondeu.


— Quero dizer que havia dois dementadores na travessa, e que eles atacaram a mim e ao meu primo!


— Ah — disse Fudge mais uma vez, olhando os membros da corte a toda volta com um sorriso antipático, como se os convidasse a compartir com ele o gracejo. — Sim. Sei. Pensei ter ouvido alguma coisa assim.


— Dementadores em Little Whinging? — exclamou Madame Bones extremamente surpresa. — Não estou entendendo...


— Não está, Amélia? — respondeu Fudge, ainda sorrindo. — Deixe-me explicar. O garoto andou pensando e decidiu que dementadores dariam realmente uma bela reportagem de capa. Trouxas não podem ver dementadores, não é mesmo garoto? Muito conveniente, muito conveniente... então é apenas a sua palavra e nenhuma testemunha...


- Tem a Sra. Figg! – lembrou Parvati Patil.


- Então, aquela é a Sra. Figg! – exclamou Fudge; - Uma aliada sua, Dumbledore!


— Eu não estou mentindo — disse Harry em voz alta, abafando mais um surto de murmúrios entre os membros da corte. — Havia dois, vindos de lados opostos da travessa, tudo ficou escuro e frio, e meu primo sentiu a presença deles e procurou fugir...


— Basta, basta! — disse Fudge, com uma expressão de grande superioridade no rosto. — Lamento interromper o que certamente seria uma história muito bem ensaiada...


Dumbledore pigarreou. Os membros da corte tornaram a fazer silêncio.
— Na realidade, temos uma testemunha da presença dos dementadores naquela travessa, além de Duda Dursley, quero dizer.


A cara gorda de Fudge pareceu murchar, como se alguém a tivesse esvaziado. Ele encarou Dumbledore por alguns momentos, dando a impressão de alguém que procura se controlar, e disse:


— Receio que não tenhamos tempo para ouvir mais lorotas, Dumbledore. Quero cuidar desse caso sem delongas.


- Mas a pessoa tem o direito de chamar testemunhas! – exclamou Susana Bones. -  Minha tia disse que qualquer testemunha num caso pode mudar tudo, e nenhuma pode ser recusada!


- Apoiado, apoiado! – aprovou Ernesto, ao lado da colega, e logo, Hannah Abbott e Justin Fintch-Fletchey estavam bradando em uníssono. 


Pouco depois, todas as mesas tinham pessoas gritando em repúdio; a cada momento, Fudge se arrependia de ter vindo para aquela leitura.


- Será que eu posso continuar lendo?! – pediu Zacharias, que não gritara em apoio a Harry, e queria acabar logo aquele capítulo.


— Posso estar errado — disse Dumbledore agradavelmente — mas tenho certeza de que, pela Carta de Direitos da Suprema Corte dos Bruxos, o acusado tem direito a apresentar testemunhas para a defesa do seu caso, não? Não é essa a diretriz do Departamento de Execução das Leis da Magia, Madame Bones? — continuou ele, dirigindo-se à bruxa de monóculo.


— É verdade. Inteiramente verdade.


- Minha tia não proibiria uma testemunha importante – afirmou Susana.


— Ah, muito bem, muito bem — retrucou Fudge. — Onde está essa pessoa?
— Trouxe-a comigo — disse Dumbledore. — Está ali fora à porta. Devo...?
— Não... Weasley, vá você — disse Fudge com rispidez a Percy que se levantou imediatamente, desceu correndo os degraus de pedra da bancada dos juízes e passou na mesma velocidade por Dumbledore e Harry sem olhar para eles.


- Claro que não – murmurou Rony, com raiva. – ele vai continuar fazendo parte dessa farsa, enquanto puder.


Um momento depois, voltou acompanhado pela Sra. Figg. Ela parecia apavorada e mais caduca que nunca. Harry desejou que a velhota tivesse se lembrado de trocar as pantufas.


Metade do Salão riu, mas Harry e os amigos continuaram olhando curiosos para Al e Rose.


Dumbledore se levantou e cedeu sua poltrona à recém-chegada, conjurando outra para si mesmo.


- Dumbledore continua fazendo questão de manter o controle – disse Al.


- Deve ser por isso que ele fica conjurando coisas – sugeriu Rose. – Para se mostrar completamente à vontade, e garantir o controle da situação. – concluiu, perspicaz.


Harry admitiu para si que era uma estratégia inteligente; mas não conseguiu se sentir melhor, sabendo como aquilo terminou.


— Nome completo? — perguntou Fudge em voz alta, depois que a Sra. Figg se encarrapitou, nervosa, na borda da poltrona.


— Arabella Dora Figg — respondeu a bruxa, com a voz trêmula.


— E quem é a senhora exatamente? — perguntou Fudge, com uma voz arrogante e cheia de tédio.


— Sou residente em Little Whinging, próximo à casa onde mora Harry Potter.
— Não temos registro de nenhuma bruxa ou bruxo residindo em Little Whinging, a não ser Harry Potter — disse Madame Bones imediatamente. — A situação ali sempre foi acompanhada com muita atenção, em vista dos... em vista dos acontecimentos passados.


- Acontecimentos que parecem ter se esquecido de repente! – rosnou Sirius.


- Obrigado, Sirius – disse Dumbledore. – Continue, por favor. – pediu a Zacharias Smith.


— Sou uma bruxa abortada — disse a Sra. Figg. — Neste caso, a senhora não teria um registro meu, teria?


- O Ministério não tem registro dos bruxos abortados?! – exclamou Hermione.


Fudge e Umbridge negaram, como se não fosse importante.


- O que são bruxos abortados, mesmo? – perguntou Colin Creevey.


- São descendentes de bruxos que não dispõem de magia. – disse Dumbledore, tristemente. – e que, infelizmente, não podem aprendê-la.


- Então, - disse Colin. – são trouxas filhos de bruxos?


- Por assim dizer. – confirmou Dumbledore.


- A maioria dos abortos decide viver no mundo dos trouxas – disse McGonagall. -, onde podem ter uma rotina mais próxima das suas aptidões.


- Da falta de aptidão, você quer dizer – desdenhou Umbridge. – E paremos de falar de abortos!


Ela não estava suportando aquela discussão; fazia-a se lembrar do seu vergonhoso irmão mais novo, um aborto que seu pai logo cedo a ensinara a desprezar, até que ele fugisse para o mundo trouxa, com sua mãe igualmente não-mágica.


- Mas isso não é certo! – indignou-se Hermione, ficando de pé. – Essas pessoas vieram do mundo bruxo, sabem que os bruxos existem, e estão espalhadas sem conhecimento de ninguém! Além disso, isso ameaça o Estatuto de Sigilo em Magia!


- Tá, tá, certo! – disse Zacharias, com impaciência. – Agora, eu posso continuar?


Hermione tornou a se sentar, de braços cruzados.


- Só falta ela criar o FAAE – disse Rony, em tom de zombaria.


- FAAE?! – repetiram Harry e Gina.


- Fundo de Apoio aos Abortos Esquecidos – explicou Rony.


- Talvez eu realmente crie – desafiou Hermione, enquanto Zacharias voltava a ler:


— Uma bruxa abortada, é? — comentou Fudge, olhando-a, desconfiado. — Verificaremos isso. Deixe as informações sobre seus pais com o meu assistente Weasley. Nesse meio tempo, bruxos abortados são capazes de ver dementadores? — perguntou, olhando para os bruxos sentados de um lado e outro do banco.


- Se não bastasse serem esquecidos pelo Ministério, eles ainda são vítimas de desconfiança – bufou Hermione. – Essa é mais uma razão para se ter conhecimento dos bruxos abortados: eles podem ser testemunhas de incidentes mágicos em regiões trouxas.


- Você, por acaso, acha que entende mais de como reger as leis mágicas do que nós? – perguntou Fudge em desafio.


- Se eu estou contestando, é,  acho que sim – afirmou Hermione, com superioridade, recebendo o apoio dos amigos à volta.


Fudge bufou, contrariado, enquanto Zacharias continuava:


— Claro que podemos! — disse a Sra. Figg indignada.


Fudge tornou a olhar a bruxa, com as sobrancelhas erguidas.


— Muito bem — disse com superioridade. — Qual é a sua história?


— Eu tinha saído para comprar comida para gatos na loja da esquina, no fim da Alameda das Glicínias, por volta das nove horas, na noite de dois de agosto — tagarelou a Sra. Figg sem pestanejar, como se tivesse decorado o que estava dizendo — então ouvi uma perturbação na travessa entre o largo das Magnólias e a Alameda das Glicínias. Quando me aproximei da entrada da travessa, vi dementadores correndo...


— Correndo? — perguntou Madame Bones rispidamente. — Dementadores não correm, deslizam.


- Aposto que essa mulher nem pode ver dementadores – desdenhou Umbridge, mas ninguém lhe deu atenção.


— Foi isso que quis dizer — corrigiu a Sra. Figg rapidamente, manchas rosadas surgindo em suas bochechas murchas. — Deslizando pela travessa em direção ao que me pareceram dois garotos.


— Que aparência tinham? — perguntou Madame Bones, apertando os olhos de modo que o contorno do monóculo desapareceu sob sua carne.


— Bem, um era bem grande e o outro um tanto magricela.


Alguns alunos riram.


- Abortos são muito burros – desdenhou Draco com sua turma.


- Claro – concordou Pansy. – Não têm magia, só podem ser uns idiotas.


As colegas de Pansy deram gargalhadas, mas Tracey Davis permaneceu séria.


— Não, não — disse Madame Bones impaciente. — Os dementadores. Descreva-os.


— Ah — disse a Sra. Figg, o rubor subindo-lhe agora pelo pescoço. — Eram grandes. Grandes e usavam capas.


Harry sentiu um afundamento horrível no estômago. O que quer que a Sra. Figg pudesse dizer, passava a ele a impressão de que o máximo que ela vira fora um desenho de um dementador, e um desenho não era suficiente para transmitir a verdade sobre esses seres: o modo fantasmagórico com que se deslocavam, flutuando alguns centímetros acima do chão; ou o cheiro de podridão que exalavam; ou aquele horrível som de matraca que faziam quando sugavam o ar à sua volta...


Umbridge engoliu em seco: não podia deixar que acreditassem em Potter. Se descobrissem que ela mandara os dementadores... mas ainda tinha uma chance, o ministro devia estar com medo, talvez pudesse convencê-lo de que aquilo era uma farsa...


Na segunda fila, um bruxo atarracado, com um bigodão preto, aproximou-se para cochichar ao ouvido de sua vizinha, uma bruxa de cabelos muito crespos. Ela riu e concordou com a cabeça.


- Esses aí não devem ter acreditado – disse Rony.


- O testemunho de uma bruxa abortada deve valer menos para eles – bufou Hermione.


— Grandes e usavam capas — repetiu Madame Bones tranquilamente, enquanto Fudge dava uma risadinha desdenhosa. — Entendo. Mais alguma coisa?


— Sim, senhora — disse a Sra. Figg. — Senti a presença deles. Tudo ficou frio e era uma noite bem quente de verão, veja bem. E senti... como se toda a felicidade tivesse desaparecido do mundo... e me lembrei... de coisas medonhas... — A voz da bruxa tremeu e emudeceu.


- Isso, sim, descreve o efeito de um dementador – aprovou Remo. – Talvez a Arabella não os tenha visto, mas ela certamente que os sentiu. – sussurrou para Tonks.


Os olhos de Madame Bones se arregalaram ligeiramente. Harry viu as marcas vermelhas sob a sobrancelha, onde o monóculo comprimira seu rosto.


— Que foi que os dementadores fizeram? — perguntou Madame Bones, e Harry sentiu uma infusão de esperança.


— Eles avançaram sobre os garotos — disse a Sra. Figg, a voz mais forte e confiante agora, o rubor se esvaindo do rosto. — Um deles caíra. O outro estava recuando, tentando repelir o dementador. Era Harry. Por duas vezes, ele tentou, mas só produziu um vaporzinho prateado. Na terceira tentativa, produziu um Patrono, que investiu contra o primeiro dementador e depois, encorajado por ele, afugentou o segundo de cima do primo. E isso... isso foi o que aconteceu — encerrou a Sra. Figg, de forma pouco conclusiva.


- Acho que ela viu mesmo os dementadores – comentou Tonks.


A Sra. Bones mirou a Sra. Figg em silêncio. Fudge não olhava para ela agora, mexia nos seus documentos. Finalmente, ergueu a cabeça e disse, um tanto agressivamente:


— Foi isso o que a senhora viu?


— Foi isso o que aconteceu — repetiu a Sra. Figg.


— Muito bem — disse Fudge. — Pode se retirar.


A Sra. Figg lançou um olhar medroso de Fudge para Dumbledore, depois se levantou e saiu arrastando as pantufas. Harry ouviu a porta fechar depois que a bruxa passou.
— Não foi uma testemunha muito convincente — disse Fudge com altivez.
— Ah, não sei — disse a Sra. Bones com sua voz de trovão. — Ela certamente descreveu os efeitos de um ataque de dementadores com muita precisão. E não posso imaginar por que diria que eles estiveram lá se não tivessem estado.


- Sua tia parece ser a única sensata nessa audiência – disse Hannah a Susana. – O ministro parece que não quer aceitar as provas.


- Minha tia não deixaria de ouvir evidências – disse Susana, em tom orgulhoso.


— Dementadores perambulando por um subúrbio de trouxas simplesmente encontram um bruxo por acaso? — caçoou Fudge. — As probabilidades disto acontecer devem ser muito, muito remotas. Nem mesmo Bagman teria apostado...


— Ah, não acho que algum de nós acredite que os dementadores estiveram lá por coincidência — disse Dumbledore em um tom de voz leve.


- Então, você desconfia de quem mandou os dementadores? – indagou Sirius ao diretor.


Dumbledore fez que sim de relance.


- Tenho suspeitas.


Umbridge enrijeceu na cadeira.


A bruxa sentada à direita de Fudge, com o rosto na sombra, mexeu-se ligeiramente, mas os demais ficaram muito quietos e silenciosos.


— E que é que você quer dizer com isso? — perguntou Fudge com a voz gélida.


— Quero dizer que foram mandados até lá — disse Dumbledore.


— Creio que teríamos um registro se alguém tivesse mandado dois dementadores passearem em Little Whinging! — vociferou Fudge.


— Não, se ultimamente os dementadores andarem recebendo ordens de alguém que não o ministro da Magia — disse Dumbledore calmamente. — Já lhe dei a minha opinião sobre este assunto, Cornélio.


— Já deu, sim — disse Fudge a contragosto — e não tenho razão alguma para acreditar que sua opinião valha alguma coisa, Dumbledore. Os dementadores permanecem em seus postos em Azkaban e estão fazendo tudo que os mandamos fazer.


— Então — respondeu Dumbledore, em voz baixa, mas muito clara — precisamos indagar por que alguém no Ministério teria mandado dois dementadores àquela travessa no dia dois de agosto.
No silêncio absoluto que recebeu suas palavras, a bruxa à direita de Fudge se inclinou para a frente de modo que Harry a viu pela primeira vez.


Achou-a igualzinha a um grande sapo claro. Era baixa e gorda, tinha uma cara larga e flácida, o pescoço era quase tão inexistente quanto o do tio Válter e a boca, frouxa. Os olhos eram enormes, redondos e ligeiramente saltados. Até mesmo o lacinho de veludo preto encarapitado no alto de seus cabelos curtos e crespos fez o garoto imaginar um moscão que ela estivesse prestes a apanhar com sua língua comprida e pegajosa.


Zacharias não conseguiu mais ler sem rir; e logo, metade dos alunos estava rindo com ele.


Mas o resto dos alunos estremeceram, reconhecendo a terrível Dolores Umbridge.


Umbridge contorceu o rosto bufonídeo de fúria diante daquela descrição maldosa, jurando a si mesma que faria os responsáveis por aquele livro pagarem, um dia.


— O presidente reconhece Dolores Jane Umbridge, subsecretária sênior do ministro — disse Fudge.
A bruxa falou numa voz aguda, aflautada e infantil, que espantou Harry; esperara que ela coaxasse.


O Salão encheu-se de gargalhadas por todas as mesas, enquanto os professores tentavam retomar o silêncio, ao mesmo tempo que abafavam suas risadas.


— Tenho certeza de que devo ter compreendido mal o que o senhor disse, Prof. Dumbledore — começou ela com um sorriso afetado que deixou frios os seus olhos enormes e redondos. — Que tolice a minha. Mas me pareceu por um átimo que o senhor estava sugerindo que o ministro da Magia tivesse ordenado o ataque contra esse garoto!


Ela deu uma risada argentina que fez os pelos na nuca de Harry ficarem em pé. Alguns membros da corte acompanharam a risada da bruxa. Não poderia ter ficado mais claro que a maioria não achou a menor graça.


— Se for verdade que os dementadores estão recebendo ordens somente do ministro da Magia, e igualmente verdade que dois dementadores atacaram Harry e seu primo há uma semana, então seria lógico concluir que alguém no Ministério pode ter ordenado os ataques — disse Dumbledore polidamente. — É claro que esses dementadores em particular poderiam estar fora do controle do Ministério.


— Não há dementadores fora do controle do Ministério! — retrucou Fudge rispidamente, ficando cor de tomate.


- Claro! – exclamou Sirius. – Alguém do Ministério!


Dumbledore não confirmou nem negou, mas observou analiticamente as expressões de Fudge e Umbridge.


A professora estava quase fugindo; se alguém descobrisse...


Fudge estava se sentindo acuado, como se estivesse sendo acusado de ter mandado os dementadores.


Dumbledore fez uma pequena reverência com a cabeça.


— Então o ministro certamente irá mandar instaurar um inquérito para determinar por que dois dementadores estavam tão longe de Azkaban e por que atacaram sem autorização.


— Não cabe a você decidir o que o Ministério da Magia faz ou deixa de fazer, Dumbledore! — retrucou Fudge, agora exibindo no rosto um tom de magenta que teria sido o orgulho do tio Válter.
— Claro que não — disse Dumbledore suavemente. — Eu estava apenas expressando a minha confiança de que este assunto não deixará de ser investigado.


- E mais uma vez, Dumbledore mostra quem está com a razão – sussurrou Al com os amigos. – Esse é o grande bruxo de quem ouvimos falar.


- Al! – chamou Rose. -  Não devíamos estar falando tanto.


- Não é nada demais. – disse Al.


E olhou para Madame Bones, que reajustou o monóculo e o encarou, franzindo ligeiramente a testa.


— Eu gostaria de lembrar a todos que o comportamento desses dementadores, se não foram realmente imaginados por este garoto, não são o tema desta audiência! — disse Fudge. — Estamos reunidos aqui para examinar as violações ao Decreto de Restrição à Prática de Magia por Menores cometidas por Harry Potter!


- Mas claro que é relevante! – bradou Sirius. – Se dementadores estiveram num subúrbio trouxa atacando Harry, é óbvio que meu afilhado é a vítima nessa história.


Harry se assustou, assim como os colegas, mas principalmente pelo tom orgulhoso com que Sirius dissera “meu afilhado”. Naquele momento, sentiu como nunca que o padrinho era sua família.


- Sirius, por favor! – pediu McGonagall. – pare de agir impulsivamente!


— Naturalmente que estamos — disse Dumbledore — mas a presença de dementadores naquela travessa é muito relevante. A Cláusula Sete do decreto prevê que a magia pode ser usada diante de trouxas em circunstâncias excepcionais, e, na medida em que essas circunstâncias excepcionais incluem situações que ameaçam a vida dos próprios bruxos ou de quaisquer outros bruxos ou trouxas presentes na ocasião em que...


— Conhecemos a Cláusula Sete, muito obrigado! — vociferou Fudge.


— Naturalmente que conhece — disse Dumbledore cortesmente. — Então concordamos que o fato de Harry ter usado o Feitiço do Patrono se enquadra precisamente nas circunstâncias especiais que a cláusula descreve?


— Se é que havia dementadores, o que duvido.


— Você ouviu a testemunha ocular — interrompeu Dumbledore. — Se ainda duvida da veracidade do depoimento dela, torne a chamá-la, torne a interrogá-la, tenho certeza de que ela não faria objeção.


— Eu... isso... não... — atrapalhou-se Fudge, mexendo nos documentos à sua frente. — É que... quero terminar com isso hoje, Dumbledore!


— Mas naturalmente você não se importaria de ouvir muitas vezes um depoimento, se a alternativa fosse tomar uma decisão injusta — ponderou Dumbledore.


- O diretor está deixando o ministro sem chão. – comentou Astoria Greengrass. – Acho que essa audiência não vai durar muito mais.


- Ainda bem – disse Derek Bennett, consultando um relógio. – Já está ficando tarde.


— Decisão injusta, uma ova! — disse Fudge aos berros. — Você algum dia se deu ao trabalho de contar o número de histórias fantasiosas que esse garoto inventa, Dumbledore, quando tenta encobrir seu flagrante mau uso da magia fora da escola? Suponho que tenha esquecido o Feitiço da Levitação que ele usou há três anos...


— Não fui eu, foi um elfo doméstico! — disse Harry.


— ESTÁ VENDO? — rugiu Fudge, fazendo um gesto largo em direção a Harry. — Um elfo doméstico! Numa casa de trouxas! Francamente.


— O elfo doméstico em questão está presentemente no serviço da Escola de Hogwarts — disse Dumbledore. — Posso convocá-lo aqui instantaneamente para depor, se você quiser.


- Como se o testemunho de um elfo doméstico valesse mais do que o de uma bruxa abortada – vociferou Umbridge.


Harry viu Hermione cerrar os punhos por baixo da mesa.


— Eu... não... eu não tenho tempo para ouvir elfos domésticos! Em todo o caso, esta não foi a única... ele transformou a tia em um balão de gás, ora tenha paciência! — Fudge berrava, socando a mesa do juiz e virando um tinteiro.


— E você bondosamente não fez acusações naquela ocasião, aceitando, suponho, que mesmo os melhores bruxos nem sempre podem controlar as emoções — disse Dumbledore calmamente, enquanto Fudge tentava limpar a tinta de suas anotações.


- Ele está perdendo a cabeça – comentou Susana Bones. – Está tentando usar um caso que já foi arquivado e esquecido; nada profissional.


- Você entende de leis? – perguntou Ernesto.


- Ouço muito a minha tia falar do trabalho dela no Ministério.


— E nem ao menos comecei a falar do que ele apronta na escola.
— Mas como o Ministério não tem autoridade para punir os alunos de Hogwarts por faltas cometidas na escola, o comportamento de Harry naquela instituição não é relevante para esta audiência — disse Dumbledore, educadamente como sempre, mas agora com um toque de frieza em suas palavras.


— Oh-ho! — exclamou Fudge. — Não é de nossa competência o que ele faz na escola, é? É o que você pensa.


Alunos estremeceram, alguns se encolheram, outros olharam ressentidos para Fudge, culpando-o por ter trazido Dolores Umbridge para Hogwarts.


— O Ministério não tem o poder de expulsar alunos de Hogwarts, Cornélio, como lembrei a você na noite de dois de agosto — disse Dumbledore. — Tampouco tem o direito de confiscar varinhas até que as acusações tenham sido comprovadas; tal como lembrei a você na mesma noite. Na sua admirável pressa de garantir o respeito à lei, você parece, inadvertidamente tenho certeza, ter esquecido algumas leis.


— As leis podem ser mudadas — respondeu Fudge com ferocidade.
— Claro que podem — disse Dumbledore, inclinando a cabeça. — E, sem dúvida, parece que você está fazendo muitas mudanças, Cornélio. Porque, nas poucas semanas desde que fui convidado a deixar a Suprema Corte dos Bruxos, já se tornou normal promover um julgamento criminal para tratar de um simples caso de magia praticada por menor!


Alguns bruxos sentados mais para o alto se mexeram em seus lugares, manifestando desconforto.


- Parece que nem todo mundo está aceitando o que o Ministério está fazendo com o Potter – comentou Justin Finch-Fletchey.


- Minha tia não aceitou – disse Susana. – Ela ficou muito irritada de julgar o caso dele como se fosse um processo muito grave.


Fudge assumiu um tom ligeiramente mais intenso de marrom-arroxeado. A bruxa que parecia uma sapa à sua direita, no entanto, apenas olhou para Dumbledore, seu rosto vazio de expressão.
— Até onde sei — continuou Dumbledore — ainda não está em vigor lei alguma definindo que a tarefa desta corte é punir Harry a cada ato de magia que ele já realizou. Ele foi acusado de uma violação específica e apresentou sua defesa. Tudo o que ele e eu podemos fazer agora é aguardar o seu veredicto.


Dumbledore tornou a juntar as pontas dos dedos e se calou. Fudge encarou-o com um olhar penetrante obviamente exasperado. Harry olhou de esguelha para Dumbledore, procurando reafirmação; não tinha muita certeza se o seu diretor fizera bem em dizer à corte que já estava na hora de seus membros tomarem uma decisão. Mais uma vez, porém, Dumbledore pareceu não perceber a tentativa de Harry de chamar a sua atenção. Continuou virado para os bancos acima, onde todos os membros da corte se ocupavam em urgentes consultas em voz baixa.


Harry ficou admirando os próprios pés. Seu coração, que parecia ter inchado desmedidamente, batia com força sob as costelas. Esperara que a audiência fosse demorar mais do que aquilo. Não estava nem um pouco seguro de que tivesse causado uma boa impressão. Não dissera realmente muita coisa. Devia ter detalhado melhor a questão dos dementadores, como ele caíra, como ele e Duda quase tinham sido beijados...


- O que Dumbledore disse já foi mais do que o bastante – comentou Remo.


Duas vezes ele olhou para Fudge e abriu a boca para falar, mas seu coração inchado agora comprimia as passagens de ar e, nas duas vezes, ele apenas inspirou profundamente e voltou a admirar os sapatos.


Harry arregalou os olhos; não se lembrava de ter comentado aqueles detalhes com ninguém. Imaginava como aquelas pessoas do futuro teriam arranjado aqueles detalhes...


Então os murmúrios cessaram. Harry queria olhar para os juízes lá no alto, mas descobriu que era, realmente, muito, mas muito mais fácil continuar a estudar os cordões dos seus sapatos.
— Os que são a favor de inocentar o acusado de todas as imputações? — soou a voz trovejante de Madame Bones.


Harry ergueu a cabeça com um movimento rápido. Havia mãos erguidas, muitas... mais da metade! Respirando muito rápido, ele tentou contar, mas antes que conseguisse terminar, Madame Bones já dizia:


— E os que são a favor da condenação?


Fudge ergueu a mão; o mesmo fizeram meia dúzia de bruxos, inclusive o bruxo bigodudo, a bruxa à sua direita e a outra de cabelos muito crespos na segunda fila.
Fudge correu os olhos pela corte, com cara de que tinha alguma coisa entalada na garganta, então baixou a mão. Inspirou duas vezes profundamente e disse, com a voz distorcida pela raiva reprimida:


— Muito bem, muito bem... inocente de todas as imputações.


Fred e Jorge se levantaram, e começaram a bater palmas, que logo se espalharam por todas as mesas das Casas; apenas a mesa da Sonserina ficara relativamente quieta, embora um ou outro aluno tivesse se levantado a batido aplaudido duas vezes, antes de ser desanimado pelo silêncio dos outros.


Astoria continuou a bater palmas, seguida pelos amigos; e logo, seus exemplos contagiaram os outros sonserinos do terceiro ano, e do segundo e do quarto. A garota riu da expressão que Draco e sua turma fizeram ante os aplausos.


Dumbledore fez um aceno educado com a cabeça ao perceber as palmas na direção dele, e custou a pedir que retomassem o silêncio.


Fudge se sentiu encurralado; parecia que, a cada aparição sua, seu nome ficava mais e mais envergonhado.


Mas Harry não poderia estar melhor; toda a sensação de que estava sendo perseguido parecia ter se esvaído, agora que boa parte da escola fora convencida de que ele não era louco.


— Excelente — disse Dumbledore com energia, pondo-se de pé, tirando a varinha e fazendo as duas poltronas de chintz desaparecerem. — Bom, tenho de ir andando. Bom-dia para todos.


E sem olhar nem uma vez para Harry, ele se retirou com rapidez e imponência da masmorra.


A alegria de ser inocentado diante da escola pareceu sumir de Harry; agora se lembrava com amargura de que Dumbledore vinha o ignorando, sem dar razões.


- Grande coisa esse capítulo. – disse Zacharias, desapontado. – só mostrou o que nós já sabíamos: o Potter foi inocentado.


- Mostrou que ele foi injustiçado – ponderou Rose. 


- E que pessoas no Ministério estavam agindo contra ele – emendou Al. – E se você já terminou, pode devolver o livro.


Enquanto isso, Dumbledore se levantava, antes que alguém próximo lhe fizesse alguma pergunta.


- Está ficando tarde – disse. – Receio que tenhamos de continuar no próximo fim de semana. Estão dispensados. Obrigado.


Imediatamente, os alunos se ergueram, começando um burburinho de comentários, sussurros e olhares para a turma de Harry e as pessoas do futuro.


Harry ficou sentado, pensativo; parecia que, mesmo depois da chegada de viajantes do tempo, Dumbledore continuava dando desculpas para evitar dar respostas.


Avistou Al, seu sósia do futuro, e seus colegas, reunindo-se e andando na direção da mesa dos professores.


- Que será que eles vão fazer? – perguntou Gina.


- Acho que vão falar com Dumbledore – arriscou Hermione.


Dito e feito; logo, Al, Rose e Scorpius se reuniam ao diretor, que caminhava na direção deles.


- Olá – disse, sorridente. – Será que posso tê-los em meu escritório, por favor?


- Estávamos contando com isso, professor -  disse Rose, animada. – Por isso queríamos terminar logo a leitura de hoje.


- Pois é – disse Al. – Não teria como lermos os três livros num fim de semana só – e mostrou o livro que pegara de Zacharias.


- Além disso, os alunos precisam de tempo para estudar – lembrou Dumbledore. – Afinal, as aulas continuam, e os N.O.M.s e N.I.E.M.s também. – os olhos do diretor pararam nos de Al, que olhara por cima do ombro para a mesa da Grifinória.


- Claro, sabemos – disse Scorpius. – Bem, vai ser um prazer conversar com o senhor.


- Eu esperava que fosse – disse Dumbledore, sem modéstia. – Imagino que saibam o caminho.

~~
Olá!! Finalmente arranjei tempo para postar. Espero que esteja agradando meus leitores, porque a aprtir de agora vai ficar mais difícil... no próximo capítulo, Dumbledore vai conversar com nossos visitantes do futuro, e eles vão explicar alguns detalhes do que os fez voltar no tempo.

Anne_Anônima: eu sei como você se sente, tenho tido problemas com Internet de vez em quando. Na verdade isso me atrapalha mais do que o tempo de escrever. Acho que depois que a Luna aparecer ela vai ter o direito de ler um capítulo, quando o pessoal perceber como ela é importante para eles. Fico feliz em ter percebido que eu dei destaque a alunos de outras Casas, até porque, se eu ficasse só nos alunos mais conhecidos, ia parecer que só eles estavam acompanhando a história - a ideia é que todos os alunos acompanhem, e tenham achance de refletir com os erros que cometeriam no futuro. Eu não sabia desse problema pra colocar a nota; acho que isso explica porque alguns deixam só a nota mínima... pensei que se esquecessem de dar nota. Abraços

Sonhadora Dixon: obrigado por acompanhar; neste capítulo da audiência, o pessoal acompanha de perto o quanto está sendo injustiçado o Harry, para que vejam de vez quem está com a a razão. Abraços à uma das minhas maiores leitoras

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Comentários (3)

  • Beth Lahos

    2017-06-24
  • Sonhadora Dixon

    Admito que eu piro sempre que entro na F&B e tem atualização da sua fanfic! Adorei ver todos sabendo de como essa audiência foi injusta e uma verdadeira palhaçada. Mas quero muito os próximos capítulos tipo para ontem HUASHASU Além de, é claro, ver essa conversa que ocorrerá no gabinete do diretor

    2017-06-06
  • Beth Lahos

    OMG!!!! Não demore a postar atualizações, please!!!!!!

    2017-06-06
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