O Espelho de Ojesed



CAPÍTULO DOZE


O Espelho de Ojesed


 


O Natal se aproximava. Certa manhã em meados de dezembro, Hogwarts acordou coberta com mais de um metro de neve. O lago congelou e os gêmeos Weasley receberam castigo por terem enfeitiçado várias bolas de neve fazendo-as seguir Quirrell aonde ele ia e quicarem na parte de trás do seu turbante. As poucas corujas que conseguiam se orientar no céu tempestuoso para entregar correspondência tinham de ser tratadas por Hagrid para recuperar a saúde antes de voltarem a voar.


 


Todos mal agüentavam esperar as férias de Natal. E embora a sala comunal da Grifinória e o salão principal tivessem grandes fogos nas lareiras, os corredores varridos por correntes de ar tinham se tornado gélidos e um vento cortante sacudia as janelas das salas de aulas. As piores eram as aulas do Professor Snape nas masmorras, onde a respiração dos alunos virava uma névoa diante deles e eles procuravam ficar o mais próximo possível dos seus caldeirões. É claro que isso tudo foi uma desculpa e tanto para as "Siamesas" grudarem ainda mais em Malfoy, e um motivo a mais para Lilian fazer cara de vômito quando passava por elas.


 


— Tenho tanta pena — disse Draco Malfoy, na aula de Poções. — dessas pessoas que têm que passar o Natal em Hogwarts porque a família não as querem casa.


 


Olhou para Harry e Lilian ao dizer isso. Crabbe e Goyle miraram Harry, que estava medindo pó de espinha de peixe-leão, e não lhes deu atenção e Lilian que estava tão consentrada em sua poção nem ouviu. Malfoy andava muito mais desagradável do que de costume desde a partida de Quadribol.  Aborrecido porque Sonserina perdera, tentara fazer as pessoas rirem dizendo que um sapo iria substituir Harry como apanhador no próximo jogo. Então percebeu que ninguém achara graça, porque estavam todos muito impressionados com a maneira com que Harry conseguira se segurar na vassoura corcoveante. Por isso Draco, invejoso e zangado, voltara a aperrear Harry dizendo que não tinha família como os outros...


 


— Cuidado com a boca, Malfoy. — respondeu Lilian, depois da décima vez na qual o garoto disse isso. — Quem desdenha quer comprar.


 


Draco ficou infinitamente pálido depois dessa e parou de irritar os Gêmeos por uns... Três minutos.


 


Era verdade que Harry e Lilian não iam voltar à Rua dos Alfeneiros para o Natal. A Professora Minerva passara a semana anterior fazendo uma lista dos alunos que iam ficar em Hogwarts no Natal e Lily e Harry assinara seus nomes na mesma hora. Não sentiam nenhuma pena de si mesmos, provavelmente aquele seria o melhor Natal que já tivera. Rony e os irmãos também iam ficar, porque o Sr. e a Sra. Weasley iam à  Romênia visitar Carlinhos. Já Hermione ia para casa.


 


Quando deixaram as masmorras ao final da aula de Poções, encontraram um grande tronco de pinheiro bloqueando o corredor à frente. Dois pés enormes que apareciam por baixo do tronco e alguém bufando alto denunciou a todos que Hagrid estava por trás dele.


 


— Oi, Rúbeo quer ajuda? — perguntou Rony, metendo a cabeça por entre os ramos.


 


— Não, estou bem, obrigado, Rony.


 


- É para o Natal, Hagrid? - perguntou Lily, sorridente, com os olhinhos brilhando.


 


- É sim. O salão está ficando lindo, deviam ver!


 


- Aaaaah eu aaaaamo o Natal! - comentou Lily girando no lugar.


 


- Já comprou o presente do seu irmãozinho querido? - perguntou Harry, passando o braço pelos ombros dela.


 


- Isso depende se ele já comprou o meu.


 


Os dois riram e se lembraram de como até um ano atrás os dois se presenteavam com cartões de Natal feitos à mão, um para o outro, em folhas de caderno. Era o melhor presente que eles ganhavam, afinal, era isso ou um par de meias surradas dos Dursley. O cartão de Lily para Harry era sempre cheio de estrelinhas e coisas coloridinhas e fofinhas. O cartão de Harry para Lily era sempre preto no branco, mas com alguns desenhos bem engraçados de Duda sendo atropelado por uma caminhonete, Duda sendo estrangulado por um gigante, Duda caindo em um poço sem fundo, Duda se engasgando com uma maçã...


 


As lembranças dos Gêmeos foram interrompidas pela última pessoa que eles queriam ver naquele momento.


 


— Você se importaria de sair do caminho? — ouviu-se a voz arrastada e seca de Draco atrás deles. — Está tentando ganhar uns trocadinhos, Weasley? Vai ver quer virar guarda-caça quando terminar Hogwarts. A cabana de Rúbeo deve parecer um palácio comparada ao que sua família está acostumada.


 


- O que há de errado com você, seu peste? - interferiu Harry. - Só porque perdeu para minha irmã e eu, tem ficado mais desagradável que de costume nos últimos dias. Esquece isso e deixa a gente em paz!


 


- Pelo menos eu tenho pais e vou para a casa ter um natal descente.


 


- Agora chega. - respondeu Lilian, avançando para cima do loiro. Harry foi logo atrás, seguido por Rony. Hermione tentou segurar os três, mas ela era uma só e acabou com Harry em uma mão, Lilian em outra e Rony ficou livre e avançou em Draco. Justamente na hora em que Snape subia as escadas.


Rony agarrou a frente das vestes de Draco.


 


- Estão aprontando confusão? - indagou Snape.


 


- Professor, os três iam me bater! - apressou-se Malfoy.


 


— Ele foi provocado, Professor Snape — explicou Hagrid, deixando aparecer por trás da árvore a cara peluda. — Draco ofendeu a família deles.


 


— Seja por que for, brigar é contra o regulamento de Hogwarts, Hagrid — disse Snape insinuante. — Cinco pontos a menos para Grifinória, Weasley, e dê graças a Deus por não ser mais. Agora, vamos andando, todos vocês.


 


Draco, Crabbe e Goyle passaram pela árvore com brutalidade, espalhando folhas para todo lado com sorrisos nos rostos.


 


— Eu pego ele — prometeu Rony, rilhando os dentes as costas de Draco —, um dia desses, eu pego ele.


 


— Odeio os dois — disse Harry — Draco e Snape.


 


— Vamos, ânimo, o Natal está aí — disse Hagrid — Vou lhes dizer o que vamos fazer, venham comigo ver o salão principal, está lindo.


 


Então os quatro acompanharam Hagrid e sua árvore até o salão principal, onde a Professora Minerva e o Professor Flitwick estavam trabalhando na decoração para o Natal.


 


— Ah, Hagrid, a última árvore, ponha naquele canto ali, por favor.


 


— Está tudo lindo Hagrid. - comentou Lily.


 


O salão estava espetacular. Festões de azevinho e visco pendurados a toda à volta das paredes e nada menos que doze enormes árvores de Natal estavam dispostas pelo salão, umas cintilando com cristais de neve, outras iluminadas por centenas de velas.


 


— Quantos dias ainda faltam até as férias? — perguntou Hagrid.


 


— Um — respondeu Hermione — Ah, isso me lembra: Harry, Rony, falta meia hora para o almoço, devíamos estar na biblioteca.


 


— Ih, é mesmo — disse Rony, despregando os olhos do Professor Flitwick, que fazia sair bolhas azuis da ponta da varinha e as levava para cima dos galhos da árvore que acabara de chegar.


 


— Biblioteca? — espantou-se Hagrid, acompanhando-os para fora da sala — Na véspera das férias? Não estão estudando demais?


 


— Ah, não estamos estudando — respondeu Harry, animado. – Desde que você mencionou o Nicolau Flamel estamos tentando descobrir quem ele é.


 


— Vocês o quê? — Hagrid parecia chocado. — Ouçam aqui: já disse a vocês, parem com isso. Não é da sua conta o que o cachorro está guardando.


 


— Sem chance, estamos decididos a procurar até achar. —  respondeu Lily.


 


— Só queremos saber quem é Nicolau Flamel, só isso — falou Hermione.


 


— A não ser que você queira nos dizer e nos poupar o trabalho? — acrescentou Harry. — Já devemos ter consultado uns cem livros e não o encontramos em lugar nenhum. Que tal nos dar uma pista? Sei que já li o nome dele em algum lugar.


 


— Não digo uma palavra — respondeu Hagrid decidido.


 


— Então vamos ter que descobrir sozinhos — disse Rony, e saíram depressa para a biblioteca, deixando Hagrid desapontado.


 


Andavam realmente procurando o nome de Flamel nos livros desde que Hagrid deixara escapá-lo, porque de que outra maneira iam descobrir o que Snape estava tentando roubar? O problema é que era muito difícil saber por onde começar, sem saber o que Flamel poderia ter feito para aparecer em um livro. Não se encontrava em Grandes sábios do século, nem em Nomes notáveis da mágica do nosso tempo, não era encontrável tampouco em Importantes descobertas modernas da mata nem em Um estudo aos avanços recentes na magia. E, é claro, havia também o tamanho da biblioteca em si, dezenas de milhares de livros, milhares de prateleiras, centenas de corredores estreitos.


Hermione e Lilian puxaram uma lista de assuntos e títulos que decidiram pesquisar enquanto Rony se dirigiu a uma carreira de livros e começou a tirá-los da prateleira aleatoriamente. Harry vagou até a Seção Reservada. Vinha pensando há algum tempo se Flamel não estaria ali. Infelizmente, o estudante precisava de um bilhete assinado por um professor para consultar qualquer livro reservado e ele sabia que nenhum jamais lhe daria o bilhete.


 


Eram livros que continham poderosa magia negra jamais ensinada em


Hogwarts e somente lida por alunos mais velhos que estudavam no curso avançado de Defesa Contra a Magia Negra.


 


— O que é que você está procurando, menino?


 


— Nada — disse Harry.


 


Madame Pince, a bibliotecária, apontou-lhe um espanador de penas.


 


— Então é melhor sair daqui. Vamos, fora!


 


Desejando ter sido um pouco mais rápido em inventar alguma história, Harry saiu da biblioteca. Ele, Rony, Lilian e Hermione já tinham concordado que era melhor não perguntar a Madame Pince onde poderiam encontrar Flamel. Tinham certeza de que ela saberia informar, mas não podiam arriscar que Snape ouvisse o que andavam tramando.


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Harry esperou do lado de fora no corredor para saber se os outros tres tinham encontrado alguma coisa, mas não alimentava muitas esperanças. Afinal estavam procurando havia quinze dias, mas como só tinham breves momentos entre as aulas não era surpresa que não tivessem achado nada. O que realmente precisavam era de uma longa busca sem Madame Pince bafejar o pescoço deles.


 


Cinco minutos depois, Rony, Lily e Hermione se reuniram a ele balançando negativamente a cabeça. E foram almoçar.


 


— Vocês vão continuar procurando enquanto eu estiver fora, não vão? — recomendou Hermione. — E me mandem uma coruja se encontrarem alguma coisa.


 


— Logico, mas não alimente as esperanças já que estamos lendo a muito tempo e nada. — disse Lily.


 


— E você poderia perguntar aos seus pais se sabem quem é Flamel — disse Rony. — Não haveria perigo em perguntar a eles.


 


— Nenhum perigo, os dois são dentistas.


 


Uma vez começadas as férias, Rony, Lily e Harry estavam se divertindo à beça para se lembrar de Flamel. Tinham o dormitório só para eles e a sala comunal estava muito mais vazia do que o normal, por isso podiam usar as poltronas confortáveis ao pé da lareira. Sentavam-se a toda hora para comer tudo que pudessem espetar em um garfo de assar: pão, bolinhos, marshmallows e tramavam maneiras de fazer Draco ser expulso, o que se divertiam em discutir mesmo que não fosse produzir resultados.


 


Rony também começou a ensinar Harry e Lily a jogar xadrez de bruxo. Era exatamente igual a xadrez de trouxa exceto que as peças eram vivas, o que fazia parecer que a pessoa estava dirigindo tropas em uma batalha. O jogo de Rony era muito velho e gasto como tudo o mais que possuía, pertencera em tempos a alguém da família, no caso, ao seu avô. No entanto, a velhice das peças não era um empecilho. Rony as conhecia tão bem que nunca tinha dificuldade de mandálas fazer o que ele queria. Lily se entediou do jogo em três rodadas, mas Harry o achou bem divertido.


 


Harry jogava com peças que Simas Finnigan lhe emprestara e estas não confiavam nada nele. Ainda não era um bom jogador e elas não paravam de gritar conselhos variados, o que o confundia:


 


"Não me mande para lá, não está vendo o cavalo dele? Mande ele, podemos nos dar ao luxo de perder ele”.


 


Na noite de Natal, Harry foi para a cama pensando com ansiedade na comida e na diversão do dia seguinte, mas sem esperar nenhum presente. Lily decidiu dormir junto com o irmao já que estaria sosinha em sue dormitorio, então dormiu junto com o irmão sem esperar nenhum presente.


 


Quando Harry acordou cedo na manhã seguinte, porém, a primeira coisa que viu foi uma pequena pilha de embrulhos ao pé de sua cama.


 


— Feliz Natal — disse Rony sonolento quando Harry pulou da cama e vestiu o roupão enquanto Lily dormia.


 


— Para você também — falou Harry. — Olhe só isso! Ganhei presentes?


 


— E o que é que você esperava, nabos? — respondeu Rony, virando-se para a sua pilha que era bem maior do que a de Harry. — Ha a pilha de Lily esta do outro lado da cama, acho que você deveria acordar ela, não?


 


— Lily, acorde, vamos temos presentes. — disse Harry acordando carinhosamente a irmã.


 


— Hum... Bom dia Harry, Rony — disse Lily levantando. — Feliz natal! E... Ganhamos presentes? Sério?


 


— E o que você esperava? — disse Rony. — Feliz Natal!


 


— É maninha Feliz Natal! — disse Harry abraçando a irmã.


 


— Obrigada Harry espera um pouco que vou lá no quarto para pegar seu presente. — disse Lily saindo do dormitório.


 


Harry se virou para pilha de presentes apanhou o pacote de cima. Estava embrulhado em papel pardo grosso e trazia escrito em garranchos: Para o Harry, de Hagrid. Dentro havia uma flauta tosca de madeira. Era óbvio que Hagrid a entalhara pessoalmente. Harry soprou-a, parecia um pouco com um pio de coruja.


 


Um segundo embrulho, muito pequeno, continha um bilhete.


 


“Recebemos sua mensagem e estamos enviando o seu presente. Tio Válter e Tia Petúnia”.


 


Presa com fita adesiva na nota havia uma moeda de cinqüenta pence.


 


— Que simpático! — exclamou Harry.


 


Rony ficou fascinado pela moeda de cinqüenta pence.


 


— Que esquisito! — disse. — Que formato! Isso é dinheiro?


 


— Pode ficar com ela — disse Harry rindo-se ao ver a satisfação de Rony


— Rúbeo, minha tia e meu tio. E quem mandou esses?


 


— Acho que sei quem mandou esse — disse Rony, ficando um pouco vermelho e apontando para um embrulho disforme. — Mamãe. Eu disse a ela que vocês não estavam esperando receber presentes... Ah, não... — gemeu —ela fez para você um suéter Weasley deve ter feito para sua irmã também.


 


Harry rasgou o papel e encontrou um suéter tricotado com linha grossa verde-clara e uma grande caixa de barras de chocolate feito em casa.


 


— Todos os anos ela faz para nós um suéter — disse Rony, desembrulhando a dele —, e o meu é sempre cor de tijolo.


 


— Foi realmente muita gentileza dela — disse Harry, experimentando as barrinhas de chocolate, que estavam muito gostosas.


 


O presente seguinte também continha doces, uma grande caixa de sapos de chocolate dados por Hermione.


 


Restava apenas um embrulho. Harry apanhou-o e apalpou-o.


 


Ele abriu o cartão:


 


"À H. Potter e L. Potter.


Seu pai deixou isto comigo antes de morrer.


Está na hora de devolvê-la a vocês.


Usem-na bem.


Um natal muito feliz para vocês."


 


— É para minha irmã e eu. Vou espera-lá para abrir.


 


Lily voltou um pouco depois com um cartão em sua mão.


 


— Harry este é o seu presente.


 


Harry o abriu e viu uma linda mensagem de natal, com letras coloridas e uma musiquinha soando quando ele abria o pergaminho.


 


- Uau, obrigado!


 


- Só para não perder o costume.


 


- Também tenho um.


 


O cartão de Harry para Lily era o desenho de Draco enfeitiçando Duda, e depois Válter matava Draco com um tiro de escopeta. Os desenhos se moviam como os quadros do castelo. Ashley caiu na risada.


 


- Amei Harry!


 


- Duda morre com o feitiço. Só para não perder o costume.


 


Os dois riram e se abraçaram.


 


— Vou abrir meus presentes — disse seguindo para sua pilha.


 


Lily abriu o primeiro pacote que era de Hagrid ganhou uma flauta de madeira, depois abriu o presente da Hermione que era uma caixa de chocolate e um livro, depois o presente da Sra. Weaslley um suéter verde esmeralda e uma caixa de chocolate e por fim abriu o ultimo presente que era uma caixa muito pequena com uma moeda de cinqüenta pence dos Tios.


 


— Ei Rony! Você que essa moeda?


 


— Obrigado, Lily.     


 


— De nada.


 


— Lily tem um presente que é para nós dois. — disse Harry apontando para o pacote encima da cama. — Estava esperando você para abrir.


 


Lily leu o cartão.


 


— Estranho, não tem remetente.


 


Os dois se olharam. Deram de ombros e rasgaram o papel do embrulho. O que havia lá dentro era uma enorme capa prateada, leve como água, reluzindo à luz ambiente. O tecido era suave e macio, e moldava-se facilmente aos corpos que cobria.


 


- É linda... Consigo me ver nela. - disse Lily.


 


- Quero experimentar - disse Harry.


 


- Eu também! - a garota replicou.


 


- Ok, vamos na sorte então. Eu sou o um e você o dois.


 


Liian fez cara de confusa. Então Harry berrou para Rony, distraído com chocolates.


 


- Rony, fale um número, sendo um ou dois.


 


- Um... - o menino murmurou, mastigando um chocolate.


 


- Há, ganhei!


 


- Não vale! Fala de novo Rony! - gritou a menina.


 


- Dois... - ele respondeu.


 


- Há agora eu ganhei.


 


Os dois se olharam em disputa. Então, com sincronia de gêmeos, expiraram ao mesmo tempo.


 


— Por que não vamos juntos?


 


— Esta bem.


 


— Mas o que é que vocês dois tanto discutem aí? — perguntou Rony, se virando para a dupla, e dando de cara com o tecido. — AH MEU MERLIN, NÃO ACREDITO! Já ouvi falar nisso — disse em voz baixa, deixando cair a caixa de feijõezinhos de todos os sabores que ganhara de Hermione. — Se isso é o que eu penso que é, é realmente raro e realmente valioso.


 


— E o que é? —perguntaram os dois juntos.


 


Harry apanhou o pano brilhoso e prateado do chão. Tinha uma textura estranha, parecia tecida com fios de água.


 


— É uma capa da invisibilidade — disse Rony, com uma expressão de assombro no tosto. — Tenho certeza de que é. Experimente.


 


Harry jogou a capa em volta dos ombros dele e de sua irmã e Rony deu um berro.


 


— É, Sim! Olhem para baixo!


 


Os dois olharam para os pés, mas eles tinham desaparecido. Correm então para o espelho. Não deu outra, o espelho refletiu sua imagem, só as cabeças suspensas no ar, os corpos completamente invisíveis. Ele cobriu as cabeça e a imagem desapareceu completamente.


 


— Eu já tinha ouvido falar nelas. — comentou Rony, pegando uma ponta da capa para analisar. — Leve, reluzente, prateada... Se enquadra perfeitamente... Caramba, quem deu isso a vocês?


 


— Não sabemos. — respondeu Harry. — Não tinha remetente.


 


— Minha nossa... Eu daria qualquer coisa para ter uma dessas. Qualquer coisa... Que foi?


 


— Nada. — Harry estava se sentindo muito estranho. Quem mandara a


capa? Será que pertencera mesmo ao seu pai?


 


Antes que pudesse dizer ou pensar qualquer outra coisa, a porta do dormitório se escancarou e Fred e Jorge Weasley entraram aos pulos. Harry rapidamente deu um sumiço na capa. Por ora não tinha vontade de compartilhá-la com mais ninguém.


 


— Feliz Natal!


 


— Ei, olhe só, o Harry e a Lily ganharam um suéter Weasley também!


 


Fred e Jorge estavam usando suéteres azuis, um com um grande F, o


outro com um J.


 


— Mas os deles são melhores do que os nosso — comentou Fred, erguendo


o suéter de Harry e de Lily — Ela com certeza capricha mais se a pessoa não é da família.


 


— Por que vocês não estão usando os seus? — perguntou Jorge — Vamos, vistam logo, eles são ótimos e quentes.


 


— Detesto cor de tijolo — lamentou-se Rony, desanimado enquanto vestia o suéter.


 


— Pelo menos você não tem uma letra no seu — comentou Jorge. — Ela deve pensar que você não esquece o seu nome. Mas nós não somos burros, sabemos que nos chamamos Forge e Jred.


 


— Que barulheira é essa?


 


Percy Weasley meteu a cabeça para dentro da porta, com um olhar de censura. Era visível que já desembrulhara metade dos seus presentes porque trazia também um suéter grosso pendurado no braço, que Fred logo agarrou.


 


— M de monitor! Vista logo, Percy, todos estamos usando os nossos, até Harry e Lily ganharam um.


 


— Eu... Não... Quero — disse Percy com a voz embargada, enquanto os gêmeos forçavam o suéter por sua cabeça, entortando seus óculos. — Tá legal, mas podem me devolver, AGORA! — ele berrou para os irmãos.


 


— Devolver? — perguntou Jorge.


 


— Devolver o que? — retrucou Fred.


 


— Não se façam de desentendidos! Me deem o meu crachá AGORA!


 


— Aaaaah! — os dois responderam em uníssono. — O crachá... VEM PEGAR!


 


Instaurou-se uma bagunça. Fred e Jorge fugiam e Percy tentava pegar o crachá das mãos deles.


 


— ME DEVOLVAM MEU DISTINTIVO, PRECISO TRABALHAR!


 


— Você não vai trabalhar e você hoje não vai se sentar com os monitores — disse Jorge.


 


— Natal é uma festa da família.


 


E os dois carregaram Percy para fora do quarto, com os braços presos dos lados pelo suéter.


 


Harry e Lily nunca tiveram em toda a vida um almoço de Natal igual àquele. Cem perus gordos assados, montanhas de batatas assadas e cozidas, travessas de salsichas, terrinas de ervilhas passadas na manteiga, molheiras com uva-domonte em molho espesso e bem temperado e, a pequenos intervalos sobre a mesa, pilhas de bombinhas de bruxo. Essas bombinhas fantásticas não se pareciam nada com as bombinhas fracas dos trouxas que os Dursley em geral compravam, cheias de brinquedinhos de plástico e chapéus de papel fino. Harry puxou a ponta de uma bombinha de bruxo com Fred e ela não deu apenas um estalinho, ela explodiu com o ruído de um canhão e envolveu-os em uma nuvem de fumaça azul, enquanto caiam de dentro um chapéu de almirante e vários camundongos brancos, vivos. Na mesa principal, Dumbledore tinha trocado o chapéu de bruxo por um toucado florido e ria alegremente da piada que o Professor Flitwick acabara de ler para ele.


Pudins de Natal flamejantes seguiram-se ao peru. Percy quase quebrou os dentes em uma foice de prata que estava escondida em sua fatia. Harry e Llily observavam o rosto de Hagrid ficar cada vez mais vermelho à medida que pedia mais vinho e acabou beijando a bochecha da Professora Minerva, e quase para espanto dos dois, rira e corara, o chapéu de bruxa enviesado na cabeça.


 


Quando Harry e Lily finalmente saíram da mesa estavam levando uma montanha de brinquedos das bombinhas, inclusive uma embalagem de balões luminosos e nãoexplosivos, um kit para cultivar capixingui, a planta símbolo de Hogwarts, e um jogo de xadrez de bruxo. Os camundongos brancos tinham desaparecido e Harry teve a desagradável sensação de que eles iam acabar virando jantar de Natal para Madame Nor-r-ra.


 


Harry, Lily e os Weasley passaram uma tarde muito alegre ocupados em uma furiosa guerra de bolas de neve. Depois, frios, molhados e ofegantes, voltaram para junto da lareira na sala comunal de Grifinória, onde Harry estreou o seu novo jogo de xadrez perdendo espetacularmente para Rony. Suspeitou que não teria levado uma surra tão grande se Percy não tivesse tentado ajudá-lo tanto.


 


Depois de lancharem sanduíches de peru, bolinhos, gelatina e bolo de frutas, todos se sentiram demasiado fartos e sonolentos para fazer outra coisa senão sentar e assistir a Percy correr atrás de Fred e Jorge por toda a torre de Grifinória porque eles tinham furtado seu crachá de monitor.


 


Fora o melhor Natal da vida de Harry e Lily. No entanto, no fundinho da cabeça alguma coisa os incomodara o dia inteiro. Somente quando finalmente se deitaram é que tiveram tempo para pensar nela: a capa invisível e a pessoa que a mandara. Rony, cheio de peru e bolo e sem nenhum mistério para perturbá-lo, caiu no sono assim que puxou as cortinas de sua cama de dossel. Lily se aconchegou na cama do Harry onde dormiu. Harry debruçou-se pela borda da cama e puxou a capa que escondera ali. Do seu pai... Aquilo fora do seu pai. Ele deixou o tecido escorregar pelas mãos, mais macio do que seda, leve como o ar.


 


“Use-a bem”, dissera o cartão.


 


Tinha de experimentá-la agora, acordou Lily e sairam da cama e se enrolaram na capa. Olhando para as pernas, viram apenas o luar e as sombras Era uma sensação muito engraçada.


 


“Use-a bem”.


 


De repente, Harry e Lily se sentiram completamente acordados. Toda a Hogwarts se abria para eles com esta capa. Sentiram-se tomado de excitação em pé ali na escuridão silenciosa. Podia ir a qualquer lugar com a capa, qualquer lugar, e Filch jamais saberia.


 


Rony resmungou adormecido. Será que eles deviam acordá-lo?


 


Alguma coisa os deteve, a capa era do seu pai, sentiram que desta vez, a primeira, queriam usá-la sozinhos. E sairam sorrateiros do dormitório, desceram as escadas, atravessaram a sala comunal e passaram pelo buraco do retrato.


 


— Quem está aí? — perguntou esganiçada a Mulher Gorda. Harry e Lily não responderam. Sairam depressa pelo corredor.


 


— Harry para onde vamos?


 


—Não sei... — disse Harry parando bruscamente.


 


— Ai, por que você parou?


 


— Lily, já sei para onde vamos.


 


— Para onde?


 


— Para um lugar onde não podemos entrar e procurar sobre Nicolau Flamel.


 


— É claro! A biblioteca, Harry você é um gênio! Podemos ler o tempo que for.


 


Seguiram o caminho foi feito sem grandes preocupações até a biblioteca. Toparam com Madame Nor-ra uma vez, mas aparentemente ela via tanta coisa quanto a Mulher Gorda, pois passou direto por eles sem dar um miado sequer.


 


A biblioteca estava escura como breu e muito estranha. Harry acendeu uma luz para enxergar o caminho entre as fileiras de livros, decidiram não acender as varinhas, pois a luz era muito potente e visivel. A lâmpada parecia que estava flutuando no ar, e embora Harry sentisse que seu braço a sustentava, aquela visão lhe deu arrepios.


 


A seção reservada era bem no fundo da biblioteca. Saltando com cautela a corda que separava esses livros do resto da biblioteca, Harry ergueu a lâmpada para lerem os títulos. Eles não lhe informavam muita coisa. Suas letras descascadas e esmaecidas formavam dizeres em línguas que Harry não entendia. Alguns sequer tinham titulo. Um livro tinha uma mancha escura que fazia lembrar horrivelmente de sangre. Os pêlos na nuca de Harry ficaram em pé. Talvez fosse imaginação dele, talvez não, mas achou que ouvia um sussurro inaudível vindo dos livros, como se eles soubessem que havia alguém ali que não deveria estar.


 


Precisavam começar por alguma parte. Entregando com cuidado a lâmpada a Lily, ele procurou na prateleira mais baixa um livro que parecesse interessante. Um grande volume preto e prata chamou sua atenção. Puxou-o com esforço, porque era muito pesado, e equilibrando-o nos joelhos, deixou-o abrir ao acaso.


 


Um grito agudo de coalhar o sangue cortou o silêncio, o livro estava gritando! Harry fechou-o depressa, mas o grito não parou, uma nota alta, continua, de furar os tímpanos. Ele tropeçou para trás e derrubou Lilian que soutou a lâmpada, que se apagou na mesma hora.


 


— QUEM ESTÁ AÍ? APAREÇA!


 


Era Filch. Estavam fritos.


 


Harry sinalizou a Lily que entrasse com ele debaixo da capa e os dois foram pé ante pé, andando para a saída. Passaram por Filch quase a porta. Os olhos claros e arregalados de Filch atravessaram-nos, Harry e Lilian escorregaram por debaixo dos seus braços estendidos e sairam desabalado pelo corredor, os gritos do livro ainda ecoando em seus ouvidos.


 


Pararam subitamente diante de uma alta armadura. Estiveram tão ocupados em fugir da biblioteca que não prestaram atenção por onde estavam indo. Talvez porque estivesse escuro, eles sequer reconheceram onde se encontravam. Havia uma armadura perto das cozinhas, eles sabiam, mas eles deviam estar uns cinco andares acima.


 


— O senhor me pediu para eu vir direto ao senhor, professor, se alguém estivesse perambulando durante a noite e alguém esteve na biblioteca, na seção reservada.


 


Harry sentiu o sangue se esvair do seu rosto e olheu para Lilian que estava congelada. Onde quer que estivessem, Filch devia conhecer um atalho, porque sua voz baixa e untuosa estava se aproximando, e para seu horror, foi Snape quem respondeu:


 


— A seção reservada? Bom, eles não podem estar longe, vamos apanhálos.


Harry e Lilian ficaram imóveis no lugar em que estava quando Filch e Snape viraram o canto do corredor à frente. Eles não podiam vê-lo, é claro, mas era um corredor estreito e se chegassem mais perto esbarrariam neles, a capa não os impedia de ser sólidos.


 


Recuaram o mais silenciosamente que pôde. Havia uma porta entreaberta à sua esquerda. Era sua única esperança. Esgueiraram-se por ela, prendendo a respiração, tentando não empurrá-la e, para seu alívio, conseguiram entrar no aposento sem que percebessem nada. Eles passaram direto e Lily apoiou-se na parede, respirando profundamente, ouvindo os passos dos dois morrerem a distância.


 


— Harry... Nunca mais quero passar por um sufoco tão grande.


 


O garoto também soltava o ar a bafejadas.


 


— Concordo.


 


Passaram-se alguns segundos até eles repararem em alguma coisa no aposento em que se esconderam.


 


Parecia uma sala de aula fechada. Os vultos escuros das mesas e cadeiras se amontoavam contra as paredes e havia uma cesta de papéis virada, mas escorada na parede à sua frente havia uma coisa que não parecia pertencer ao lugar, alguma coisa que ,o. — disse Lily


 


Já livre do pânico, agora que não ouvia sinal de Filch e Snape, Harry aproximou-se do espelho querendo mostrar-se sem ver nenhuma imagem como antes. Adiantou-se para o espelho.


 


Teve de levar as mãos à boca para não gritai, Virou-se. Seu coração batia com muito mais fúria do que quando o livro gritara, porque não vira somente a própria imagem no espelho, mas a de uma verdadeira multidão por trás dele.


 


Mas o quarto estava vazio a não ser pela irmã. Respirando muito depressa, ele se virou lentamente para o espelho.


 


Lá estava ele, refletido, parecendo branco e assustado, e lá estavam, refletidos às suas costas, pelo menos outras dez pessoas, Harry espiou por cima do ombro, mas continuava a não haver ninguém mais. Ou será que eram todos invisíveis também? Será que estava de fato em um aposento cheio de gente invisível e o truque desse espelho é que ele refletia tudo, invisível ou não?


 


— Harry, tudo bem? Você parace está palido...


 


Ela se aproximou, e viu um casal, agora atrás dos dois. Uma mulher ruiva e um homem moreno encontravam-se atrás deles. A mulher a dava um meio abraço no reflexo, mas assim como Harry e Lily, ela não se sentia ser tocada.


 


Olharam para o espelho outra vez. Uma mulher parada logo atrás de sua imagem sorria e lhe acenava. Eles esticaram a mão e sentiram o ar atrás deles. Se ela estivesse realmente ali, eles a tocariam, pois suas imagens estavam muito próximas, mas eles pegaram apenas ar, ela e os outros só existiam no espelho.


 


Era uma mulher muito bonita. Tinha cabelos acaju e os olhos...


 


— Lily os olhos dela são iguais ao meu e você é igual a ela.


 


— Mas como é possivel, Harry.


 


Mas então reparou que ela estava chorando, sorrindo, mas chorando ao mesmo tempo. O homem alto, magro, de cabelos negros, parado ao lado dela abraçou-a. Usava óculos e seu cabelo era muito rebelde. Espetava na parte de trás, como o de Harry.


 


— Harry ele é igual a você, exeto pelos olhos que são iguais ao meu. Harry você acha que eles são... — Lily não conseguiu terminara a frase porque estava chorando.


 


— Mamãe? — murmurou Harry — Papai?


 


— Como eles estão no espelho? — disse Lily ainda chorando apoiada no ombro do irmão.


 


O casal apenas olhara para eles, sorrindo, e lentamente Harry olhou para os rostos das outras pessoas no espelho e viu outros pares de olhos verdes iguais aos seus, outros narizes como o seu, até mesmo um velhote que parecia ter os mesmos joelhos ossudos que ele, a mulher era igual a irmã e os olhos da irmã eram igual ao pai. Harry e Lily estavam olhando para seus pais, pela primeira vez na vida. A família estava completa finalmente.


 


Os Potter sorriram e acenaram para eles e eles retribuíram o olhar carente, as mãos comprimindo o espelho como se esperasse entrar por dentro dele e alcançá-los. Sentiram uma dor muito forte no peito, em que se misturavam a alegria e uma terrível tristeza.


 


Os dois se deixaram cair no chão assentados. Ver os pais era algo que eles nunca na vida haviam imaginado que fosse acontecer, no entanto, ali estavam... Tão próximos!


 


Os pais do espelho assentaram-se também. Lily deitou a cabeça no ombro de Harry.


 


- Não acredito... Estão bem ali.


 


Quanto tempo esteve parado ali, eles não sabia. As imagens não esmaeceram e eles continuaram mirando-as até que um ruído distante o trouxeram de volta ao presente. Não podiam ficar ali, tinha de encontrar o caminho de volta para a cama. Com esforço, desviaram os olhos do rosto de sua mãe, sussurrando "Nós voltamos" e sairam depressa do aposento, entraram na capa e foram tristonhos de volta à Sala Comunal.


 


Assim que Lily viu sua cama de dossel de Harry, ela caiu no sono. Já Harry fitou Rony e por um átimo de segundo quis dormir, queria contar mais resolveu contar no dia seguinte. Deitou ao lado da irmã e dormiu.


 


— Vocês podiam ter me acordado — falou Rony, aborrecido.


 


— Você pode vir hoje à noite. Vamos voltar, queremos lhe mostrar o espelho.


 


— Eu gostaria de ver sua mãe e seu pai — disse Rony, animado.


 


— E nós queremos ver toda a sua família, todos os Weasley, você vai poder nos mostrar os seus outros irmãos e todo o mundo.


 


— Você pode vê-los a qualquer hora. E só vir à minha casa neste verão.


Em todo o caso, talvez o espelho só mostre gente morta. Mas é uma pena você não ter achado o Flamel. Coma um pouco de bacon ou outra coisa qualquer, por que é que você não está comendo nada?


 


Harry não conseguia comer. Vira os pais e iria vê-los de novo à noite.


Quase se esquecera de Flamel, já não lhe parecia tão importante. Quem ligava para o que o cachorro de três cabeças estava guardando? Quem ligava realmente que Snape fosse roubar a coisa?


 


— Você está bem? — perguntou Rony — Está com uma cara tão estranha.


 


— Harry coma só um pouco, vai você não pode ficar com fome só por pensar nos nossos pais, eu também quero velos mais não posso ficar com fome por isso.


 


Harry comeu um pouco e ficou pensando no espelho.


 


O que os gêmeos mais temiam era não conseguir encontrar o aposento do espelho outra vez. Com Rony coberto pela capa também, eles tiveram de andar muito mais devagar na noite seguinte. Tentaram refazer o caminho de Harry e Lily ao sair da biblioteca, andando a mesmo pelos corredores escuros durante quase uma hora.


 


— Estou falando — disse Rony, — Vamos esquecer tudo e voltar.


 


— Não! — sibilou Harry — Sei que é em algum lugar por aqui.


— Deve está por aqui, tenho certeza. — disse Lily olhando pelos corredores.


 


Passaram pelo fantasma de uma bruxa alta que deslizava na direção oposta, mas não viram mais ninguém. Na hora em que Rony começou a reclamar que seus pés estavam dormentes de frio, Harry identificou a armadura.


 


— É aqui... Logo aqui... É.


 


Eles empurraram a porta. Harry deixou cair a capa dos ombros e correu para o espelho junto a irmã.


 


Lá estavam eles. Sua mãe e seu pai sorriam ao vê-los.


 


— Está vendo? — Harry cochichou.


 


— Não consigo ver nada.


 


— Olhe! Olhe eles todos... Ali, montes deles...


 


- São nossos pais! - exclamou Lily. - Não vê?


 


— Só consigo ver você e Lily.


 


— Olhe direito, vamos, fique aqui onde estamos.


 


Harry e Lily deram um passo para o lado, mas com Rony diante do espelho, não conseguiu mais ver sua família, apenas Rony como seu pijama de lã escocesa.


 


Rony, porém, estava mirando a própria imagem, petrificado.


 


— Está vendo? — perguntaram os gêmeos.


 


— Não, olhe só para mim! — exclamou.


 


— Você está vendo toda a sua família à sua volta?


 


— Não, estou sozinho, mas estou diferente... Pareço mais velho, e sou


chefe dos monitores.


 


— O quê? — exclamou Lily.


 


- Não é possível, eram nossos pais! - comentou Harry.


 


— Estou... Estou usando um crachá igual ao do Gui... E estou segurando a taça das casas e a taça de Quadribol, sou capitão do time de Quadribol também!


 


Rony despregou os olhos dessa visão magnífica para olhar excitado para


Harry e Lily.


 


— Vocês acham que esse espelho mostra o futuro?


 


— Como pode mostrar? A nossa família está toda morta. — disse Lily carisbaixa.


 


— Deixa a gente ver. — falou Harry.


 


— Vocês tiveram o espelho só para vocês a noite passada, me deixa olhar mais um pouco.


 


— Você só está segurando a taça de Quadribol, que interesse tem isso? — disse Lily. — Eu quero ver os meus pais.


 


— Não me empurre...


 


Um ruído repentino do lado de fora no corredor pós-fim à discussão dos tres. Não tinham se dado conta do como estavam falando alto.


 


— Depressa!


 


Rony atirou a capa de volta para cobri-los na hora que os olhos luminosos de Madame Nor-r-ra apareceram à porta. Rony e Harry ficaram imóveis, ambos pensando a mesma coisa, será que a capa fazia efeito para os gatos? Passado um tempo que pareceu uma eternidade, ela se virou e foi embora.


 


— Isto é perigoso. Ela pode ter ido buscar o Filch, aposto que nos ouviu.


Vamos.


 


E Rony puxou Harry e Lily pata fora do quarto. A neve ainda não derretera na manhã seguinte.


 


— Quer jogar xadrez, Harry? — convidou Rony.


 


— Não.


 


— Por que não descemos para visitar Rúbeo?


 


— Não... Vai você... — disse Lily


 


— Sei o que é que vocês estão pensando, naquele espelho. Não voltem lá hoje à noite.


 


— Por que não?


 


— Não sei, estou com uma intuição ruim, e de qualquer forma vocês já escaparam por um triz muitas vezes, demais. Filch, Snape e Madame Nor-r-ra estão andando por lá. E daí se eles não conseguem ver vocês? E se esbarrarem em vocês? E se você derrubarem alguma coisa?


 


— Você está falando igual a Hermione.


 


— Estou falando sério. Harry, Lily, não vão não. Se tiverem o mínimo de bom senso não vão voltar lá, tem algo de muito errado com aquele espelho.


 


- Credo Rony, está falando definitivamente igual a Hermione. - disse Lily, para provocá-lo.


 


- Não importa. Escutem o que digo, não voltem!


 


Mas Harry e Lily só tinham um pensamento na cabeça, voltar para frente do espelho, e Rony não ia detê-los.


 


Naquela terceira noite eles encontraram o caminho ainda mais rapidamente do que nas vezes anteriores. Andavam tão depressa que sabiam que estavam fazendo mais barulho do que seria sensato, mas não encontraram ninguém.


E lá estavam sua mãe e seu pai sorrindo de novo para eles, e um dos seus avós acenava feliz com a cabeça. Harry e Lilian se abaixaram para sentar no chão diante do espelho. Não havia nada que pudesse impedi-los de ficar ali a noite inteira com a família. Nada. A não ser...


 


— Então, mais uma vez vocês dois aqui?


 


Harry sentiu como se suas tripas tivessem congelado e Lily se assustou que por pouco não gritou. Olharam para trás. Sentado em uma das mesas junto à parede estava ninguém menos que Alvo Dumbledore. Harry e Lilian deviam ter passado direto por ele, tão desesperados estavam para chegar ao espelho, que nem repararam.


 


— Nós... Nós não vimos o senhor. — gaguejou Harry.


 


— Você estava ai esse tempo todo? — perguntou Lily


 


— É estranho como você pode ficar míope quando está invisível — disse


Dumbledore, e Harry e Lilian sentiram alívio ao ver que ele sorria.


 


— Então — continuou Dumbledore, escorregando da cadeira até o chão para se sentar ao lado de Harry e Lilian — vocês, como centenas antes de vocês, descobriram os prazeres do Espelho de Ojesed.


 


— Eu não sabia que se chamava assim, professor. — disse Harry.


 


— Mas espero que a essa altura você já tenha percebido o que ele faz?


 


— Bom... Me mostra a minha família...


 


— E mostrou o seu amigo Rony como chefe dos monitores.


 


— Como é que o senhor soube?


 


— Eu não preciso de uma capa para me tornar invisível — disse Dumbledore com brandura. — Agora, vocês são capazes de concluir o que é que o Espelho de Ojesed mostra a nós todos?


 


— Não sei. — disse Harry


 


— Mostra uma vontade, não é? — perguntou Lily. — Um desejo profundo.


 


— Sim, e não pequena. Mostra uma vontade, um desejo, o mais profundo de seus corações. É um objeto magnífico, mas vocês não podem mais vê-los. Homens definharam diante dele, julgaram-se loucos. O espelho será levado a uma nova casa hoje, com outra utilidade, e peço que não voltem a procurá-lo. Agora, se não se importam, porque não colocam esta belíssima capa e voltam para suas camas?


 


Harry se levantou e ajudou sua irmã.


 


— Senhor... Professor Dumbledore? Posso lhe perguntar uma coisa? — perguntou Harry.


 


— Obviamente você acabou de me perguntar — sorriu Dumbledore. — Mas pode me perguntar mais uma coisa.


 


— O que é que o senhor vê quando se olha no espelho?


 


— Eu? Eu me vejo segurando um par de grossas meias de lã.


 


Harry arregalou os olhos.


 


— As meias nunca são suficientes. Mais um Natal chegou e passou e não ganhei nem um par. As pessoas insistem em me dar livros.


 


Foi somente quando estava de volta à cama que ocorreu aos gêmeos que talvez Dumbledore não tivesse dito a verdade. Mas, Harry pensou, enquanto empurrava Perebas para longe do seu travesseiro, fizera uma pergunta muito pessoal. E dormiu abraçado a irmã.


 


No dia seguinte, Harry e Lily estavam sentados na grama, esperando Rony voltar do banheiro. A vista do lago congelado era belíssima, assim como os picos nevados das árvores na floresta. Harry escolheu este momento para falar do espelho, pelo que ele imaginava ser a última vez:


 


— Como você sabia?


 


Lily olhou para o irmão surpresa.


 


— Saber o que?


 


— Do espelho.


 


— Ah, isso. Imaginei que fosse me perguntar. — ela tirou um pergaminho dobrado e o entregou ao irmão, que leu: "Não mostro o seu rosto mas o desejo em seu coração". — A inscrição na moldura do espelho era uma espécie de anagrama. Era só ler de trás pra frente. Descobri no segundo dia.


 


Harry expirou.


 


— Vou sentir falta. Nunca pensei que fosse ver papai e mamãe.


 


— Eu entendo Harry. Você sabe disso. Mas se eles são o desejo mais profundo de nossos corações, então é porque estão guardados neles. Estão conosco.


 


Harry sorriu para a irmã. De fato, seus pais estavam com eles, em seus corações, para sempre.

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