Sombras do Passado



Yesterday
(Ontem)
All my troubles seemed so far away
(Todos os meus problemas pareciam tão distantes)
Now it looks as though they're here to stay
(Agora parece que eles vieram para ficar)
Oh, I believe in yesterday
(Oh, eu acredito no passado)


Suddenly
(De repente)
I'm not half the man I used to be
(eu não sou metade do homen que eu costumava ser)
There's a shadow hanging over me
(Existe uma sombra pairando sobre mim)

Oh, yesterday
(Oh, ontem)
Came suddenly
(Veio de repente)

Why she had to go I don't know
(Por que ela teve que ir eu não sei)
She wouldn't say
(Ela não me disse)
I said something wrong now I long
(Eu disse algo de errado e agora eu sinto falta)
For yesterday
(Do ontem)

Yesterday
(Ontem)
Love was such an easy game to play
(O amor era um jogo tão fácil de se jogar)
Now I need a place to hide away
(Agora eu preciso de um lugar para me esconder)
Oh, I believe
(Oh, eu acredito)
In yesterday
(No passado)
[The Beatles –Yesteday]

Casa de veraneio dos Malfoy, Marselha

-DRACO! –Blás Zabini chamou o amigo assim que percebeu que ele não prestava atenção alguma ao que ele dizia –DRACO!!! –tentou mais uma vez, chacoalhando-o pelo braço.
-Mas que inferno! –o loiro resmungou.
Blás revirou os olhos:
-Não tenho culpa se você estava sonhando acordado como uma princesinha de conto de fadas. –retrucou –Você tem que parar com isso, cara! Ela não quer ser achada e ela não vai voltar!
Draco pegou o moreno pelo colarinho e Blás apenas olhou-o com uma expressão condescendente. Logo soltou o consigliere com violência:
-Mas que porra, Zabini! Não preciso da sua pena! Me deixa em paz, que é o melhor que você faz.
-Draco, eu sou seu amigo. Estou tentando abrir os seus olhos. Ficar aqui na França nessa mansão não vai fazer os seus problemas sumirem e colocar o tanto de gente que você colocou da MMVO atrás da Weasley é estupidez. Faz mais de 7 meses! Sabe o que é isso?!? Sete meses que você não age pela razão, que foge do mundo e está louco atrás daquela mulher. Esse não é o Draco Malfoy que eu conheço.
-Foda-se o que você pensa, Zabini. –e então respirou profundamente –Agora saia do meu escritório enquanto eu estou pedindo educadamente, sim?
Mais uma vez Blás revirou os olhos. Para ele aquela situação já tinha ultrapassado os limites do ridículo e ele era o único –“Depois daquela Weasley maluca.” Uma vozinha insistiu em soar dentro de sua cabeça –que poderia colocar alguma sensatez no Malfoy para que ele agisse da maneira que ele costumava agir. No entanto, estava ficando cansado daquela ladainha. Era cada vez mais difícil trazer o velho Draco de volta, o capo que possuía sangue frio e sabia agir de maneira complexa, mas ainda assim coerente. Tinha que assumir que apenas a Weasley seria o remédio efetivo para que aquele homem retornasse e dominasse esse Draco que ele estava vendo agora. Um fracassado. Era isso o que o Malfoy estava pensando de si mesmo e Blás sabia disso.
“Acho melhor deixá-lo sozinho por enquanto. Pensando sobre as verdades que eu tão convenientemente trouxe à tona. Eu sei que deve ser duro, mas ele tem que encarar isso de frente, caramba! Será que ele não percebe que está sendo tão cego?!?”
-Está bem, Malfoy. Eu volto mais tarde e espero que você esteja mais sensato que agora. –Blás anunciou e Draco olhou para ele, fazendo uma cara de “Vai tarde” –Só mais uma coisa. Eu acho que você deveria fazer uma visita surpresa à sua mulher.
-Mas por quê? –perguntou, confuso.
Blás sorriu por ter conquistado a atenção do amigo:
-Isso você vai ter que descobrir por si mesmo. Até mais. –e entrou dentro da lareira.
“Me desculpe, Parvati, mas eu realmente preciso trazer o verdadeiro Draco de volta” foi o que pensou, desaparecendo em seguida em meio à fumaça verde.


***


Mansão Malfoy, Londres

-Tem certeza que o seu marido não suspeita de nada mesmo? Tem certeza que daquela vez em que ele chegou de repente não me viu sem a barriga falsa? –Parvati perguntava, preocupada, à Lilá, enquanto andava de um lado a outro.
-Certeza absoluta eu não tenho, mas acho que você correu rápido o suficiente para o banheiro. Ele não deve ter visto. Se tivesse, teria comentado algo comigo. –Lilá afirmou, com o máximo de convicção que conseguiu juntar.
-Porque se ele viu, ele vai correndo contar pro Draco e eu vou estar ferrada. O Draco não pode descobrir que eu forjei essa gravidez! –e desabou no sofá.
Lilá conjurou um bule com chá e duas xícaras. Serviu para a amiga e entregou-lhe:
-Você precisa se acalmar, Parvati. O Draco não está nem no país. Ele só vai descobrir quando fizer nove meses e você não tiver a criança.
Parvati, que havia bebericado o chá, olhou para a loira:
-Eu ainda não te contei? Vou usar um bebê recém-nascido que tenha o fenótipo dos Malfoy. O Peter, aquele medibruxo que é meu amigo e forjou o exame de gravidez, ele disse que vai arranjar isso pra mim também.
-Incrível ele fazer tudo isso por você sem pedir nada em troca. –Lilá surpreendeu-se.
-E quem disse que ele não pediu? Como pagamento tenho que dar algumas das minhas jóias e eu sei que ele vai conseguir um bom dinheiro com elas. Mas tudo bem, pra manter o Draco como meu marido eu faço qualquer coisa. –confessou, veemente.
-Então, amiga, não se preocupe. Vai dar tudo certo, você vai ver.
Parvati abaixou a cabeça:
-Eu fiz algo essa manhã...
-O quê? –Lilá não escondeu sua curiosidade.
-Você já leu O Profeta Diário de hoje?
-Na verdade não, por quê?
-Eu usei o dossiê da Weasley e denunciei o Draco. Não por tudo, apenas por alguns crimes mais leves.
-Eu não acredito nisso! –Lilá levou as mãos à boca, demonstrando sua surpresa –Como você foi capaz?!?
-Lilá, ele não está me dando a mínima atenção! Não moramos nem mais na mesa casa. Você por acaso sabe como me sinto com relação a isso? Eu quero o Draco pra mim! Mas enquanto ele continuar querendo aquela vaca da Weasley, isso vai ser impossível! Fiz a denúncia como anônima, mas tenho certeza que ele vai pensar que foi ela. A Weasley anexou notas dizendo coisas que ele só contava pra ela.
-Hum, agora você me deixou curiosa. Mas eu acho que não deve ter dado tempo deles terem colocado na edição de hoje. Provavelmente vai sair amanhã. Se é como você diz, o Draco vai passar a odiar a Weasley.
-Assim espero. –Parvati juntou as duas mãos em frente aos seios, como se estivesse fazendo uma prece.



***


Dover, Litoral sudeste da Inglaterra

BLÉEM! Era o som da campainha da casa de Gina. A ruiva, que estivera no quarto arrumando sua cama, saiu do cômodo. Sua barriga de mais de oito meses dificultava sua locomoção. Desceu as escadas com vagar e segurando o corrimão. Nem olhou pelo olho mágico antes de destrancar a porta, estava acostumada às visitas matinais de Hermione.
-Olá, Gina. –a morena cumprimentou-a e lhe deu um beijo no rosto.
A ruiva abriu espaço para que a amiga passasse e em seguida fechou a porta novamente.
-Como vai o pequeno Alex? –a medibruxa perguntou, acariciando a grande barriga de Gina.
-Vai como sempre, me dando trabalho. –e sorriu –Desde que você me contou que iria mesmo ser um garoto, eu fico imaginando como ele será. Fico curiosa para saber o que ele terá de mim e o que terá do Draco...
-Hum, falando do pai...Gina, ele continua louco atrás de você. Chega a dar pena. Eu já nem sei mais quantas vezes ele foi me perguntar se eu sabia onde você estava e eu menti, dizendo que não sabia. Obviamente ele não acredita que eu não saiba realmente ou não teria me procurado várias vezes. Tem certeza que eu não deveria contar a ele?
-Tenho. –a ruiva respondeu prontamente, parecendo ressentida.
-Ele é o pai, Gina. Você pode não amá-lo mais, mas é direito dele saber que tem um filho.
-Eu ainda amo o Draco, Mione. Mas eu tenho medo. Eu não sei se ele está com raiva de mim por ter sumido sem dar qualquer satisfação. Tenho medo do que ele pode fazer se me encontrar.
-Bem, vindo do Malfoy nunca se sabe. Mas ele parece sentir a sua falta, Gina. Ele está abatido.
A ruiva caminhou até a sala, seguida de Hermione e sentou-se no sofá, cabisbaixa:
-Não me fale sobre sentir falta, Hermione. –exigiu, seriamente –Você não imagina o quanto eu sinto saudades dele. Em todos esses meses ele assombrou meus pensamentos, meus sonhos. Eu não tenho paz!
A medibruxa abraçou-a:
-Shiu. Calma, Gina. Você não pode se alterar, já está no final da gravidez. A qualquer momento o bebê pode nascer. Mesmo que não tiver completo 9 meses exatos.
-Ele não quis esse filho, Mione. Eu não consigo esquecer disso. Mas eu amo essa criança. O Alex terá todo o meu amor.
-E conte comigo também, Gina. Os seus pais e os gêmeos vão acabar aceitando também. Agora quanto ao Rony...Eu realmente me orgulho do meu poder de persuasão. –ela sorriu deixando transparecer um sutil toque de malícia–Agora vamos à consulta diária. Como você se sente?
-Cansada, com dor nas costas. Ao menos as poções aliviam um pouco disso.
Hermione usou um estetoscópio e colocou sobre a barriga de Gina, procurando por algum som que fosse considerado anormal.
-O seu bebê parece estar bem, mas eu ainda acho que você deveria ir periodicamente ao St. Mungus, Gina.
-Não, Mione. –a advobruxa teimou –Melhor não. Só no dia do parto e olha lá ainda. Não quero que a imprensa me veja assim. Porque não seria difícil depois eles darem palpites de quem é o pai.
A medibruxa suspirou, cansada de tentar fazer a amiga não ser tão cabeça-dura e disse:
-Agora tenho que ir. O trabalho me espera, você sabe. Na hora do almoço o Gui e a Fleur virão e acho que dessa vez eles trazem a Eve. Ela realmente bate pé firme que quer te ver, está deixando os pais loucos já. Puxou a tia cabeça-dura. Bem, mas você sabe o porquê de não terem trazido antes, né?
-Sim, imagino que é porque ela gosta do Draco e contaria a ele onde eu estou.
-Sim. O Malfoy continua indo visitar a Eve. Então acho que o Gui e a Fleur darão um jeito de trazê-la sem que ela possa informar a sua localização.
-Estou com tantas saudades daquela ruivinha sapeca! –comentou, nostálgica –Ah, eu nem te perguntei. Já tomou café-da-manhã? Quer comer alguma coisa?
-Eu já comi antes de sair de casa, mas obrigada mesmo assim. –Hermione disse e beijou uma das faces da amiga –Até amanhã, Srta. Teimosa.
-Até. –a ruiva acenou, sorrindo.
No entando, assim que Hermione sumiu de vista, o sorriso que havia nos lábios da Weasley desvaneceu. Queria Draco novamente em sua vida porque sentia uma imensa falta dele. Nunca imaginou que poderia amar tanto um sonserino esnobe como ele. No entanto, as coisas haviam mudado drasticamente desde os tempos de Hogwarts. A vida realmente era perita em pregar peças nas pessoas, teve que assumir.


***Flashback***

Gina estava parada perto à uma das janelas presentes em um dos muitos longos corredores de Hogwarts. Seu pé direito estava apoiado na parede, enquanto ela afivelava o sapato. Assim que terminou e endireitou-se, ouviu uma voz indesejada atrás de si:
-Ora, ora. O que temos por aqui? A Weasley pobretona sozinha e vestida com os trapos que chama de uniforme.
O rosto da ruiva esquentou, um dos sintomas da raiva que começava a se apoderar dela. Virou-se para encarar a expressão desdenhosa do loiro sonserino:
-E eu estou vendo uma doninha desacompanhada de seus dois armários de estimação. Vê se dá o fora daqui, Malfoy. –respondeu, demonstrando abertamente o quanto a presença dele a desagradava.
O loiro encurralou-a contra a parede com seu corpo:
-Está muito metida à besta pra uma quintanista e potterzete. Aliás, onde está o seu namoradinho cicatriz? –perguntou, encarando os olhos castanhos da garota, procurando intimidá-la.
-Inveja de mim, Malfoy? Não pensava que jogava no outro time, apesar desse excesso de implicação com o Harry parecer mesmo ciúmes. –ela provocou, demonstrando que não era à toa que pertencia à casa dos leões.
Os olhos dele estreitaram-se perigosamente:
-Quem você pensa que é pra dizer isso de mim, sua Weasley imunda? Eu sou muito homem sim. –e alisou uma das pernas dela, fazendo com que a saia subisse consideravelmente, e levando a boca ao pescoço dela.
-Me solta, Malfoy! Você me enoja. Eu não vou mais fazer insinuações sobre a sua opção sexual, então me solta.
O loiro tinha imobilizado os braços dela e estava entre suas pernas para que ela não o chutasse nas partes sensíveis. A grifinória amaldiçoou-o por ter pensado até nessa possibilidade. Malfoy riu, pressionando ainda mais os lábios finos contra o pescoço alvo da Weasley, sugando. Involuntariamente ela sentiu um arrepio.
-SEU IDIOTA! NUNCA MAIS ENCOSTA EM MIM! –ralhou, com raiva, desvencilhando-se de Draco quando ele abrandou a força com que a segurava.
Ele riu com a atitude da garota:
-Vá correndo pro seu namoradinho, Weasley. Quero ver como vai explicar a marca que eu deixei no seu pescoço.
-Ora seu.. –e levantou a mão direita para desferir um forte tapa contra o rosto do Malfoy, no entanto, ele foi mais rápido e segurou a mão dela.
-Nem pense nisso, sua pobretona sem classe. –falou, olhando-a com uma expressão séria para em seguida se retirar dali.



***Fim do flashback***



Como ela o odiava naquele passado! E como ela o amava nesse presente!
“É, o mundo realmente dá voltas, Virginia Molly Weasley.” Pensou consigo mesma, dando um profundo e melancólico suspiro “Preciso parar de pensar no Draco ou eu ainda vou enlouquecer! Mas como é que eu posso fazer isso...? Hum, acho que um bom começo seria me ocupar. Já que a Mione disse que o Gui e a Fleur provavelmente trarão a Evelyn, eu vou cozinhar coisas que ela gosta de comer.” E sorriu consigo mesma, ao pensar na sobrinha que há tanto tempo não via.


***



Assim que Blás havia desaparecido na lareira, Draco se acomodou melhor na cadeira. Inclinou a cabeça para trás, apoiando-a contra a parte superior da cadeira. Fechou os olhos e respirou profundamente.
“Até quando aquela mulher vai me deixar louco desse jeito??? Tá certo que eu pisei na bola ao pedir pra ela tirar a criança. Não era algo que eu queria que ela fizesse e sim algo que precisava ser feito. Eu pensei que a Virginia tinha entendido isso. Por que é que ela tinha que sumir depois desse aborto?!? Como é que ela foi capaz de ir embora sem me dar qualquer satisfação? Ah, quando eu achar aquela mulher...vai ter que se explicar muito!” pensou, aborrecido, ainda mais ao sentir as ultimamente tão freqüentes dores-de-cabeça.
Nenhuma poção parecia ser boa o suficiente quanto os toques de Virginia Weasley. Deixou que sua mente o conduzisse mais uma vez ao passado, lembrando de uma de suas várias tentativas de descobrir o paradeiro da advobruxa.


***Fashback***


A limusine preta de Draco estacionou em frente a uma escola primária. Ele saiu do veículo. Pegou o celular e discou, enquanto caminhava em direção ao portão principal:
-Alô? Draco Malfoy falando. –anunciou.
-Ah, olá, Malfoy. Tudo bem com você? –a voz de Fleur perguntou de outro lado, deixando transparecer a surpresa por ele ter ligado.
-Sim, eu estou bem. Hum, acontece que desde que a Virginia...foi embora, eu não vi mais a Evelyn. Gostaria que você me deixasse pegá-la na escola para um passeio e depois eu a levo aí na sua casa. –disse em tom neutro.
-Ah, Malfoy, o Gui já deve estar à caminho de pegar a Eve na escola...
-Eu estou aqui em frente a escola e não estou vendo o seu marido. –cortou-a.
A loira respirou fundo do outro lado da linha:
-Tá ok. –acabou concordando –Você tem a minha permissão. Cuide bem da minha filhinha, tá?
-Pode deixar, Fleur. Eu vou cuidar bem da Eve. Até mais e obrigado.
-Tchau, Malfoy. –ela respondeu e Draco desligou o celular.
Assim que alcançou o portão, falou com o guarda que ali estava:
-Sou Draco Malfoy e vim buscar a aluna Evelyn Delacour Weasley.
-Espere um instante, Sr. Malfoy. –o guarda falou, pegando o telefone e discando o ramal da secretaria –Claire, tem um homem aqui chamado Draco Malfoy, que veio buscar a aluna Evelyn Delacour Weasley. O pai ou a mãe autorizaram isso? –perguntou e a mulher do outro lado da linha confirmou –Ok então. –e desligou o telefone.
Após aguardar por menos de cinco minutos, o portão foi aberto pelo guarda e a ruivinha Weasley saiu por ele:
-Tio Draco!!! –exclamou, animada, pulando no colo dele.
O loiro não pôde deixar de sorrir ao devolver o abraço da garota.Sentia falta dela, já não a via há cerca de dois meses:
-Tá tudo bem com você, Eve? –perguntou enquanto a carregava na direção do carro.
-Sim, mas eu sinto falta da Tia Gina... –murmurou, cabisbaixa.
-Você não viu mais a sua tia? –perguntou, cauteloso.
-Não. – e fez biquinho –E ninguém me diz onde ela tá quando eu pergunto. Apenas dizem que ela foi viajar e volta logo.-afundou a cabeça no ombro do Malfoy.
-Eu também sinto falta dela... -foi o que teve tempo de murmurar antes que alcançassem a porta da limusine.
Draco entrou e ajeitou a garota no banco a seu lado:
-Está feliz em me ver? –perguntou com neutralidade.
-Muito! –e a sinceridade estava estampada no sorriso que ela dirigia a ele.
Malfoy curvou o canto dos lábios em um sorriso quase imperceptível, no qual se mesclavam o impacto que as palavras e gestos puros de Evelyn tinham sobre ele e os pensamentos nostálgicos de um futuro hipotético...do que poderia ter sido e não foi...divagações de como seu filho ou sua filha olharia e sorriria para ele, das palavras doces que nunca poderiam ser ouvidas, da oportunidade de felicidade roubada pelo anúncio da gravidez de Parvati...
Chutou-se mentalmente por estar se martirizando mais uma vez por causa do mesmo assunto. No entanto, parecia impossível não ficar martelando dia após dia o mesmo assunto. Tinha perdido a mulher de sua vida juntamente com a oportunidade de constituir uma família com ela. Aquela perda o perturbava e ele percebeu tarde demais que nenhum maldito acordo passado e nenhum maldito galeão seriam suficientes para que sua consciência ficasse em paz e ele pudesse dizer a si mesmo com toda a certeza que tinha agido da maneira correta e era isso o que importava. Não, não possuía mais qualquer certeza sobre aquele assunto. Se pudesse voltar no tempo, não saberia dizer se tomaria a mesma atitude e isso estando completamente ciente de todas as conseqüências de tal ato...Mas de que adiantava preencher a mente de infindáveis suposições? A escolha estava feita e ele tinha que enfrentar as implicações advindas dela e tentar remediar a situação à sua maneira. Se dissesse que não estava nem um pouco com raiva de Virginia, estaria mentindo. Não se conformava com o fato dela ter sumido sem dar qualquer satisfação. Entendia que ela deveria ter ficado mais do que decepcionada com o pedido dele, mas se ela o amasse de verdade esperaria por ele, era o que pensava.
-Eu falei com a sua mãe pelo celular e ela me disse que eu poderia te buscar e passearmos, o que acha? –perguntou, tentando afastar de si os pensamentos relacionados à advobruxa, o que estava difícil, inclusive pela cor dos cabelos de Evelyn.
-Legal! Eu pensei que você não gostava mais de mim, Tio Draco.
-Oh, lindinha. Eu tava ocupado, não deu pra te ver antes. Mas vamos compensar hoje, está bem? –olhou nos olhos dela com uma expressão terna, acariciando os cabelos da pequena.
Ela postou seus olhos azuis nos cinzentos de Draco:
-Eu te adoro, Tio Draco. Não sei como antigamente a Tia Gina pensava que você era um homem mau. –ela encostou a cabeça no braço do Malfoy.
Ele lançou um olhar rápido ao rolex em seu pulso esquerdo e em seguida desviou o assunto propositalmente, não queria ficar falando na advobruxa:
-Eve, suponho que pelo horário você deve estar com fome. –e a ruivinha fez um gesto afirmativo –O que você gostaria de comer? –perguntou, levando à mão direita à cabeça, pensando que não tinha exatamente muita experiência em passeios com crianças.
-Sorvete, rosquinha de coco, cookies, muffins... –foi enumerando e então Draco cortou-a.
-Sinto muito mocinha, mas não dá pra você comer tudo isso. –a ruivinha fez um beicinho manhoso –Em primeiro lugar com tantos doces você pode acabar passando mal e em segundo lugar a sua mãe iria querer me matar, ela com certeza não aprova esse tipo de refeição.
-Ah, Tio Draco, então eu não sei. –cruzou os braços e encarou-o, como se o desafiasse a ter alguma idéia que a agradasse.
O loiro respirou profundamente, não quebrando o contato visual:
-Façamos assim, vamos a um restaurante e então você pode comer uma sobremesa da sua escolha. O que acha?
A ruivinha deu de ombros:
-Pode ser,Tio Draco. Hum, então acho que vou querer um sorvete bem grande.
-Tá ok. Você terá o seu sorvete. Tem a minha palavra. Depois do almoço podemos decidir o que fazer durante a tarde.
-Você não tem que trabalhar, Tio Draco? –perguntou, focando seus inocentes olhos azuis nos acinzentados do loiro.
-Sim. Mas eu tirei a tardede folga só para podermos passear.-contou em tom confessional e recebeu um abraço afetuoso da menina.
-Você é o máximo, Tio Draco. Queria que fosse meu tio de verdade.
Draco deu um profundo suspiro e devolveu o abraço. Certamente que gostaria que aquilo fosse possível, mas não verbalizaria sua vontade ou seu martírio se daria em maiores proporções. ‘O silêncio e o tempo são sábios.’ O loiro já ouvira falar. No entanto, discordava de tal pensamento. Poderia concordar com o primeiro, mas não com o segundo. O tempo não estava tendo qualquer fator arrefecedor sobre sua paixão por Virginia Weasley.
O almoço correu bem e quando chegou na hora de comer a sobremesa, Evelyn fez questão que o Malfoy tomasse sorvete também. Ela escolheu um com três bolas de sabores diferentes e diversos incrementos como coberturas, caldas, marshmallow e crocantes. Draco escolheu um napolitano com calda de morango. Enquanto o loiro comia com perfeição, Eve se lambuzava consideravelmente. Ver Draco Malfoy limpando com um guardanapo a face de uma criança lambuzada de sorvete era com certeza uma cena no mínimo bizarra. No entanto, ele se prestava a esse papel sem reclamar.
“Afinal eu provavelmente seria um bom pai...” pensou com pesar.

***Fim do Flashback***


Malfoy podia lembrar-se daquele dia com perfeição, de como a ruivinha devorou a sobremesa com vontade e de como a face dela se iluminou quando após o almoço ele levou-a a um parque de diversões.
Respirou profundamente. Tudo aquilo fazia parte do passado e ultimamente Draco Malfoy poderia ser considerado um homem que vivia do passado, mas se alguém se atrevia a sugerir tal coisa – mesmo que brandamente – tinha uma resposta nada agradável. Mesmo Blás Zabini já tivera que agüentar sua cota de mau-humor de Draco, era fato. Agora o loiro repassava mentalmente a conversa que tivera com o amigo. Não pensava exatamente no fato de ter sido rude com ele e sim sobre a última misteriosa sugestão dele...
“Ir visitar a Parvati? Eu não quero ver a cara daquela mulher. A maldita gravidez dela arruinou a minha vida.” Pensou amargamente, crispando os lábios “No entanto, não posso dizer que as palavras do Blás não tenham me intrigado. Bem que ele poderia ter sido mais explícito...Melhor checar.”
Finalmente Draco se levantou da cadeira do escritório. Estava dirigindo-se para a porta do cômodo quando ouviu batisdas na mesma. Nem se incomodou em responder, apenas deu mais alguns passos e abriu a porta ao alcançar a maçaneta. Era Sophie, a governanta da casa, com sua expressão usual que rivalizaria a de Mcgonagall:
-Desculpe interrompê-lo, Sr. Malfoy, mas a Sra. Narcisa está solicitando a sua presença na sala de jantar para o almoço que já está servido.
-Está bem, eu já estou indo, diga isso a ela.
A empregada curvou-se numa leve reverência e retirou-se. Draco arrumou alguns papéis e trancou gavetas. Em seguida saiu do escritório. Caminhou vagarosamente, enquanto sua curiosidade quanto às palavras de Blás tomavam grandes proporções. Estava decidido a ir até a Mansão Malfoy de Londres ainda naquele dia. Ao chegar na sala de jantar avistou seus pais, que apenas o esperavam para começarem a refeição:
-Oi. – o loiro mais jovem murmurou aos dois.
Narcisa abriu a boca para dizer algo, mas Lúcio foi mais rápido:
-Até que enfim quis juntar-se a nós. Não sei quantas vezes já te disse para não ficar enfurnado naquele escritório e não dormir direito...
-Não me venha com repreensões, Lúcio. –Draco retrucou, lançando um olhar de quem não adimita ser contestado.
O olhar outrora preocupado e surpreso de Lúcio transformou-se em frio. Narcisa já prevendo o início de uma discussão entre pai e filho, interveio:
-Parem já os dois. Não admitirei discórdias à mesa. Sente-se, Draco, e não responda atravessado ao seu pai.
Draco revirou os olhos, mas obedeceu Narcisa. O almoço transcorreu de maneira fria e um silêncio pesado pairava sobre os três. A loira estava pensativa. Lúcio ainda encontrava-se contrariado pelo modo com que Draco havia falado consigo e o Malfoy mais novo estava com o pensamento bem longe dali...

***Flashback***

Las Vegas, Bellagio, noite seguinte ao aniversário da Weasley

-Strip-xadrez? –ele perguntou, arqueando uma sobrancelha e demonstrando surpresa através desse gesto.
-Sim, por que não? –Virginia perguntou, insegura, mordendo o lábio inferior.
O loiro ofereceu-lhe um sorriso maroto:
-Não esperava que propusesse algo assim, Virginia. Quando eu penso que já não pode mais me surpreender...
A insegurança de segundos atrás desapareceu e ela sorriu, convencida:
-Já sei o que você está fazendo, Draco. Está enrolando para tentar achar uma brecha e tentar mudar de assunto. Sabe que vai perder de mim. Não há ninguém melhor no xadrez do que Weasleys.
-Tsc. Tsc. Faz-me rir. –escarneceu do comentário feito por ela –Não há melhor estrategista que Draco Malfoy.-gabou-se.
-Ah, mas isso é o que vamos ver! –retrucou, conjurando um tabuleiro.
-Eu vou ganhar, Virginia. E você vai ter que me conceder um pedido.
-Ok, quem ganhar tem um pedido, ou seja, eu.
Ambos trocaram olhares sérios. A advobruxa apoiou o tabuleiro sobre uma mesinha. Fora uma partida acirrada. No entanto, duas horas e várias roupas espalhadas pelo chão depois, a vitória tinha sido do Malfoy.
Gina, trajando apenas uma calcinha rosa, perguntou, emburrada:
-O que você vai querer?


***Fim do flashback***

Era desnecessário dizer o que tinha acontecido em seguida. O ato de passar a língua pelos lábios ao lembrar daquela noite era o suficiente para denunciar o ocorrido.
-Draco. –Lúcio chamou o filho, que não pareceu ouvir –Draco! –insistiu e assistiu ao filho sair do transe –No que está pensando?
-Em nada. –respondeu rapidamente.
Lúcio era inteligente o suficiente para não acreditar no que o filho tinha acabado de dizer. No entanto, não desejava discutir novamente. Portanto, fingiu engolir a mentira e revelou o real motivo de o ter chamado:
-O que vai fazer essa tarde? Dois dos clientes VIP do Le Noblesse me convidaram para uma partida de golfe. Eu acho que seria uma boa se você comparecesse. São homens influentes que poderiam ser contatos interessantes para você.
-Não estou no clima. –Draco respondeu –Além do mais, pretendo ir à Londres.
-Ah, então finalmente decidiu parar de fugir da responsabilidade de cuidar da sua mulher grávida? –Narcisa alfinetou e Lúcio escondeu o riso.
Draco revirou os olhos:
-Não falta nada a ela.
Narcisa respirou profundamente:
-E é com indiferença que você vai tratar essa criança, meu filho? Não é assim que...
-Não queira me dar lição de moral, mãe. –levantou-se da mesa e retirou-se.
Foi direto para o escritório.
“Mas que merda! Estou cansado de ser criticado! Por que é que ninguém entende o meu lado? Será que é tão difícil assim?!?” pensou, revoltado, enquanto apanhava um bocado de pó-de-flu e jogava na lareira.
-Mansão Malfoy, Londres. –foi o que disse pouco antes de seu corpo ser lambido pelas chamas esmeralda.


***



Gina abriu um sorriso ao ver a mesa de almoço que havia preparado para Gui, Fleur e Evelyn. Sentia tanta falta de sua sobrinha que a ansiedade a estava matando. Sentiu o bebê chutar e a consciência de que estava no fim de sua gravidez assolou-a. Ajeitou-se no sofá da melhor forma que pôde e acariciou a barriga:
-Acalme-se, Alex. –murmurou carinhosamente –Não tenha tanta pressa para vir ao mundo. Nunca mais estará tão protegido quanto está agora... –completou tristemente.
Tombou a cabeça para trás, recostando-a no sofá, e fechou os olhos. Não conseguia desvincular a aparência do bebê de Draco. Talvez aquilo fosse alguma espécie de intuição materna, porque na cabeça de Virginia, Alexander Weasley Malfoy seria a cópia do pai. No entanto, ao mesmo tempo em que isso a orgulhava, também a deixava receosa...Tinha medo de que no futuro as pessoas associassem a semelhança e descobrissem seu segredo. Isso com certeza lhe traria vários problemas...
“Eu deveria parar de me preocupar com isso agora. O Alex nem nasceu ainda. Eu e a minha maldita mania de sofrer por antecipação!”
O rosto de Draco surgiu a sua frente tão nitidamente que ela abriu os olhos, assustada. Ao certificar-se de que ele não estava ali realmente, fechou os olhos mais uma vez. No entanto, como se a imagem estivesse colada em sua retina, apareceu mais uma vez. Gina deu um suspiro pesado e exasperado, mas não abriu seus olhos novamente. Suas pálpebras encontravam-se pesadas, pediam descanso...
“Era natal e ao olhar pela janela a ruiva podia vislumbrar um universo branco. Neve. Espalhada por todo o lugar lá fora. Porém, ali dentro do chalé estava protegida e aquecida. Achara muito boa a idéia quando Draco sugerira que ambos passassem o natal em Bariloche, na Argentina. Nunca estivera ali, no máximo visitara os Alpes suíços, os quais obviamente eram muito mais próximos do que qualquer cidade na América.
Estava sozinha ali. O loiro fizera questão de sair para comprar algumas coisas e não quisera contar exatamente onde iria e o que compraria. Virginia Weasley – impacientemente – esperava o retorno dele. A lareira estava ligada e a ruiva encontrava-se sentada em frente a ela, sentada em um macio tapete e despojada de seu casaco. Após alguns minutos que a ela pareceram uma eternidade, a porta abriu-se. Draco tratou de fechar a porta rapidamente ao entrar, mas não foi rápido o suficiente para impedir que uma rajada de vento gelado adentrasse o lugar. Um arrepio percorreu o corpo da advobruxa quando ela entrou em contato com a corrente de ar:
-Com frio, Virginia? –perguntou num tom recheado de significados que seriam capazes de atiçar as fantasias de muitas mulheres.
Gina abraçou a si mesma, passando as mãos pelos braços, tentando aquecer-se:
-Um pouco. Passa logo.
-Pode apostar nisso. –ele sorriu, nem se preocupando em esconder suas segundas intenções.
-Ah é? E o que vai fazer o frio passar? –perguntou, entrando no jogo.
Draco não respondeu e fez a ruiva ficar curiosa com suas ações. Ele tirou o casaco, pendurando-o em um gancho atrás da porta. Do pacote que trouxe puxou duas garrafas de rum e alguns bombons. A seguir sentou-se ao lado da advobruxa:
-De chocolate eu sei que você gosta, mas e de rum?
-Nem gosto, nem desgosto. Por quê? Quer me embebedar, Draco? –questionou-o, utilizando um tom levemente acusatório.
Ele riu:
-Vai depender de quão bem eu conheço você e vice-versa. Além de obviamente da sua resitência à álcool.
-Como assim? –ergueu uma sobrancelha, desconfiada, numa imitação clássica do Malfoy.
-Já jogou alguma vez “eu nunca”? –quis saber.
-Hum, não. –foi sincera.
-Ok. É assim: Hum, como somos dois, nós podemos decidir quem começa tirando par ou ímpar. Quem ganhar faz uma afirmação iniciada de “eu nunca”. Por exemplo: Eu nunca comi almôndegas. Se eu tiver feito o que afirmei, tenho que beber. Se você tiver feito e eu não, só você bebe. Se nós dois tivermos feito, nós dois bebemos. E então?
-Ah, vamos jogar isso, não é como se eu tivesse milhares opções do que fazer. –deu de ombros.
-Ah, se você não quiser... –falou de maneira neutra, mas a ruiva o conhecia o suficiente para saber que ele não era indiferente a resposta dela e que se não estivesse planejando jogar o tal jogo não teria saído lá fora sozinho num tempo como aquele.
-Eu quero. Pode ser que seja divertido. –ela sorriu, acariciando a mão dele.
Recebeu um sorriso verdadeiro dele em resposta, além de um selinho carinhoso:
-O que vai querer? Par ou ímpar?
-Ímpar.
-Um, dois, três e...já! –exclamou, colocando nos dedos o número dois e vendo que a ruiva havia colocado três –Ok. Você ganhou. Manda ver, ruiva. –falou, descontraído e dando sorriso animado.
-Deixe-me pensar...Eu nunca joguei quadribol no time da Sonserina.
-Uh, isso é golpe baixo. Mas tudo bem, mostra que você apredendeu como funciona o jogo. –falou antes de abrir a garrafa e tomar um gole dela –Minha vez agora. –e deu um sorriso mau –Eu nunca me agarrei com o Potter.
-Ah, deixa o Harry fora disso. –ela clamou, mas tomou um gole da bebida.
-Oh, desculpe tocar num ponto sensível. –revirou os olhos.
-Não seja idiota, Draco. Não há mais nada entre o Harry e eu há muito tempo e você sabe disso. Continuando o jogo...eu nunca fui à festas nas masmorras.
-Virgínia, se ficarmos falando coisas sobre a Grifinória e a Sonserina, é óbvio qual será a resposta. –defendeu-se –Vamos deixar nossas Casas fora disso, o que acha?
-Está bem, mas de qualquer forma você vai ter que beber dessa vez. Porque eu duvido que nas masmorras nunca tenha tido nenhuma festa. E se teve, duvido que você não tenha ido.
-Bem, você está certa. Eu realmente já fui à festas nas masmorras. –rendeu-se e bebeu mais um gole –Minha vez. Eu nunca dei uns amassos dentro de um dos vestiários do campo de quadribol. –falou e bebeu um gole.
Meio sem-graça, Gina estendeu a mão, pedindo a garrafa ao loiro.
-Sabia! –ele riu –Com quem?
-Hey, isso não faz parte do jogo. –reivindicou após tomar outro gole.
-Ah, eu sei disso. Mas eu quero saber. O que custa contar pra mim? Foi há tantos anos...
Ela revirou os olhos, mas cedeu:
-Está bem, eu digo. Com o Dino Thomas e o Harry.
-Hum. –ele resmungou –Sua vez agora.
-É, eu sei. Eu nunca...deixei de comemorar o Natal.
-Haha, e você achava que eu já? –perguntou, em tom supreior e a ruiva não respondeu –Pois então enganou-se, Virginia. Eu apenas mudei a forma de comemorar desde criança até o presente. Formas cada vez melhores, devo acrescentar.
A ruiva estendeu a mão e apanhou dois bombons. Escolheu um deles aleatoriamente e o abriu. Mordeu-o com gosto:
-Hum, que delícia. –e recebeu um sorriso enviesado do Malfoy, que resolveu provar um bombom também.
-Muito bom mesmo. –aprovou -Mas isso já era óbvio, já que fui eu quem os escolheu.
-Sempre convencido. –ela revirou os olhos.
-É assim, é? Eu nunca fiz sexo com o meu chefe. –vingou-se, assistindo Gina ficar cada vez mais vermelha.
A advobruxa bebeu mais um gole da bebida:
-Você é vil e torpe, Draco Malfoy. –disse entredentes.
-Se eu não fosse, eu não seria Draco Malfoy, querida. –respondeu cinicamente –Vem cá com o seu marido mau.
Os olhos de Virginia arregalaram-se e ela nem piscou ao falar:
-COMO ASSIM?!? Nem noivos nós somos!!!
O semblante do loiro tornou-se preocupado. Puxou a ruiva contra si e viu as bochechas avermelhadas e os olhos castanhos meio perdidos. Abraçou-a:
-Vi, acho que é melhor nós pararmos o jogo. Você já bebeu demais. Só vejo esta explicação para esquecer sobre o nosso casamento. Olhe na sua mão esquerda, meu amor. –disse em tom compreensivo.
Gina olhou para sua mão, assim como fora pedido e teve dificuldades para conter um grito. Em seu anelar esquerdo estava a aliança mais linda que já havia visto. Tinha um reluzente dourado, que ela tinha certeza ser ouro e era cravejada com pequenas pedrinhas brancas que ela reconheceu como diamantes.
-D-Draco... –ela murmurou com os olhos marejados de emoção.
-Ah não. Já vai ficar emotiva, Virginia? Não quero choradeira, mesmo você dizendo que é de felicidade.
A advobruxa esfregou seus olhos e em seguida acariciou o rosto e os cabelos de Draco:
-Eu te amo. –falou, focando profundamente os olhos acinzentados.
Malfoy respondeu com um sorriso que era dirigido apenas a ela e em seguida juntou seus lábios com o dela e beijou-a como se fosse a última coisa que faria em sua vida...”

BLÉEM! BLÉEM! A campainha tocava insistentemente e Virginia acordou assustada e confusa. Instintivamente olhou para sua mão esquerda. Não havia nada lá. Olhou a sua volta. Estava novamente em sua casa em Dover e rapidamente percebeu que havia sido apenas um sonho o que tinha acontecido:
-Já vai! –gritou para a porta, uma vez que a campainha continuava a tocar.
Com alguma dificuldade Gina chegou até a porta e abriu:
-Não faça mais isso! -Fleur bradou e automaticamente abraçou a cunhada.
A ruiva olhou confusa para o irmão mais velho, que carregava no colo sua sobrinha, que estava vendada.
-Acho melhor entrarmos. –foi tudo o que o ruivo disse.
Gina, já livre do abraço -digno de Molly Weasley – que tinha recebido, abriu espaço para que seus familiares entrassem e em seguida fechou a porta:
-Alguém pode me explicar o que eu fiz de errado? E por que a Eve tá vendada?
Gui tirou a venda dos olhos da sobrinha que automaticamente correu para a tia:
-Tia Gina!
-Eve! Senti tanto a sua falta! Mas não posso te carregar, lindinha.
-Sua barriga tá enorme, Tia Gina. Posso passar a mão nela?
-Sim, querida. Apenas deixe eu sentar primeiro no sofá. –e o fez.
Eve sentou-se ao lado da tia e acariciou-lhe a barriga com uma expressão concentrada. Enquanto isso, Fleur se pronunciou:
-Quase nos matou do coração, Virginia. Você sabe que só você pode abrir aquela porta. O fato de ter demorado tanto...Pensamos que alguma coisa tinha acontecido com você! Já disse que sou contra você ficar sozinha por aqui...Por que você não deixa eu ficar aqui com você? Eu já te pedi tantas vezes...
-E como das outras eu digo não. Fleur, eu estaria sendo egoísta ao privar o Gui e a Eve de te terem por perto. Eu estou bem, sou uma bruxa. Uma bruxa independente, diga-se de passagem.
-Eu diria uma bruxa bem cabeça-dura, maninha.
Gina dirigiu uma careta ao irmão:
-Nem pense em começar aquela conversa de só querem o melhor pra mim. Eu já sou bem crescidinha.
-MEXEU! –Evelyn gritou, abismada.
Todos voltaram a atenção para a ruivinha:
-É o bebê. –Gina respondeu, sorrindo.
-Como vai chamar? –ela quis saber.
-Alexander. Vai ser seu primo. Vai poder chamá-lo de Alex.
-Hum...e... –fez cara de incerta.
-E..? –Gina incentivou, enquanto os pais apenas prestavam atenção à conversa de ambas.
-Bem, é que agora você não pode dizer que não sabe como se fazem os bebês, Tia Gina, então...
-Eu já disse que você não tem idade pra saber disso! –Fleur cortou a filha, enquanto Gui, segurava as risadas, porque era um tanto constante aquele tipo de discussão.
-Eu também já disse isso a ela, Fleur. –Gina defendeu-se.
Eve fez biquinho:
-Vocês adultos sabem ser muito chatos quando querem. –e cruzou os braços.
-Sabe o que está te esperando na cozinha, Eve? Lasanha, panquecas, sorvete e vitamina de frutas.
-EBA! –exclamou, dando um salto e correndo pra cozinha.
-Virginia, você mima demais a minha filha.
-Deixa ela, amor. A Gina não a vê a tanto tempo...É natural. –defendeu a irmã.
Fleur sorriu, concordando e dando um selinho no marido:
-Você tem razão, Gui.
Os três se dirigiram para a cozinha. A despeito do olhar desejoso e faminto, Evelyn não tinha avançado na comida. Esperava comportadamente:
-Essa é a menininha da mamãe. –a loira disse, orgulhosa, enquanto acariciava o topo da cabeça da filha.
“Depois ainda falam que eu é que sou a mimadora master da Evelyn...” Gina pensou.



***




Draco saiu da lareira principal da Mansão Malfoy e fez um feitiço de limpeza. Ia pisar o primeiro degrau em direção ao piso superior quando ouviu uma voz chamá-lo:
-Sr. Malfoy! Mas que surpresa! –era a governanta, Amélie Jones, vindo rapidamente ao seu encontro.
-Olá, Jones. Onde está a Parvati?
-A Sra. Malfoy está em seus aposentos. Vou anunciá-lo.
-Não, Jones. Eu não preciso ser anunciado.
-Mas... –tentou explicar que havia recebido ordens expressas da patroa que não deixasse que ninguém fosse até ela sem que fosse anunciado, mas o patrão não deixou.
-Escute aqui, Jones. A casa é minha e eu entro a hora em que eu quiser e no cômodo que eu quiser. –respondeu rudemente.
-Como quiser, Sr. Malfoy. –a governanta respondeu, claramente contrariada.
Draco subiu os degraus da escada principal a passos largos. Andou tempestivamente pelo corredor e seu semblante era sério. No ar pairava uma atmosfera tensa, como que prevendo o que estava prestes a acontecer...
Parou a frente da porta do quarto em que outrora dormira com Parvati. Por um momento a lembrança do sorriso dela no dia do casamento veio à sua mente. Porém, tão repentinamente quanto veio, passou. Respirou profundamente antes de alcançar a maçaneta para finalmente girá-la. Abriu a porta o mais silenciosamente que pôde e entrou. Não havia ninguém à vista. Trancou a porta. Não resistiu lançar um olhar para a cama de casal. Estava desarrumada, indicando que alguém – Parvati, ele sabia – estivera deitado ali a pouco tempo. Foi que percebeu um ruído. Era o som de um secador ligado e vinha do banheiro. Foi até lá e a porta estava entreaberta, por isso não teve dificuldades em adentrar o cômodo. Parvati estava distraída, secando seus cabelos. Parecia ter acabado de sair do banho, além da umidade dos cabelos trajava um roupão. O loiro observou-a de cima abaixo e de repente a raiva começou a queimar dentro de si. Posicionou-se atrás da mulher e ela ao ver o reflexo dele ao espelho junto ao seu, arregalou seus olhos castanhos de uma maneira nunca vista antes. Demonstrava ao mesmo tempo surpresa e medo. Ele arrastou-a para fora do banheiro pelos cabelos e jogou-a no chão do quarto.
Os olhos de Draco Malfoy estavam estreitos e tinham um brilho maligno, o qual não se via há tempos. Ao olhar para Parvati caída a seus pés de maneira humilhante, sentiu um enorme e indiscritível prazer espalhar-se por seu corpo. Sentia-se poderoso. Sentia-se incrivelmente bem consigo mesmo, como se tivesse resgatado uma parte de si que encontrava-se outrora esquecida. Um sorriso mau surgiu em seus lábios finos. O velho Draco Malfoy estava de volta e clamava por vingança:
-Pensou que eu nunca descobriria? –e riu brevemente, um riso que não trasmitia qualquer espécie de calor –Eu fui muito bom pra você, Parvati, fui mesmo. –e encarou-a, como se desafiando a contrariá-lo –Fui condescendente demais e você se aproveitou disso. Se aproveitou da consideração que eu tinha por você.
-Mas Draco... –ela tentou defender-se.
-Cale-se, sua vagabunda ingrata. Eu vou acabar com você e vou começar acabando com o seu psicológico. Eu não perdôo e você sempre soube disso, sempre soube... –falou calma e friamente, girando sua varinha entre os dedos.
-Por Merlin, Draco! –a morena exclamou, já com lágrimas saindo de seus expressivos olhos –Eu posso explicar tudo, juro que...
-EXPLICAR?!? –perguntou, transtornado –Os meus olhos já me explicaram o bastante. Você forjou essa gravidez pra me prender a um casamento morto.
-Foi por amor! –defendeu-se –Eu te amo, Draco! Você tem que acreditar em mim! Eu apenas queria evitar que você cometesse um erro.
Os lábios de Draco crisparam-se, antes de pronunciar com raiva contida em cada sílaba:
-Erro? Você não é ninguém pra me dizer o que fazer ou não da minha vida, Parvati. Não tinha esse direito. Não tinha!
-Aquela traidora Weasley te abandonou, te fez de idiota, Draco. Você deveria estar me agradecendo por tirar aquele empecilho da sua vida.
O loiro enfureceu-se mais ainda, com um gesto duplo de sua varinha arremessou Parvati na porta do guarda-roupa, fazendo-a bater contra este por diversas vezes:
-Ah!!!!!!!!!!!! PÁRA, DRACO!!!!!!
Ele parou e novamente ela estava no chão. Draco aproximou-se dela e ajoelhou-se a sua frente. Parvati mantinha a cabeça baixa, seus cabelos já se encontravam bastante bagunçados e seu choro era audível. O loiro ergueu o queixo dela, forçando-a a encará-lo. Com o semblante neutro e a voz carregada de cinismo, respondeu:
-Parar? Mas eu mal comecei.
-Por favor, Draco...Eu sou sua mulher, você não pode fazer isso comigo.
Ele riu:
-Você nunca mandou em mim, Parvati. Não é agora que vai começar a ser assim.
Ela tentou se arrastar para longe dele, mas o Malfoy não deixou. Empurrou o tronco dela, forçando-a a ficar deitada e então se sentou por cima dela, na altura dos quadris dela, prendendo-a entre suas pernas. Em resposta, Parvati fechou suas mãos e se pôs a socar o tronco do loiro da maneira que podia. Ele, no entanto, conseguiu imobilizar as mãos dela facilmente:
-ME SOLTAAAA!!!!!
-Não vou soltar. –afirmou, apertando com força os pulsos dela.
-Ain! –ela ganiu -Você tá me machucando, Draco. –reclamou.
-Você ainda não sabe o que é machucar, Parvati. –respondeu, saindo de cima dela.
Imediatamente a morena tentou pegar sua varinha que estava em cima da cômoda, mas teve seus planos frustrados pelo Malfoy:
-Accio. –disse preguiçosamente e a varinha dela voou para sua mão.
-Grr. –ela grunhiu de raiva, jogando seus cabelos para trás e levantando –O que vai fazer comigo, Draco Malfoy? Vai ter coragem de matar a sua esposa, aquela que sempre esteve do seu lado e fez de tudo por você?!? Grande covarde e canalha é o que você é!
O loiro revirou os olhos:
-Não vai adiantar tentar fazer chantagem emocional. Eu não caio mais nos seus truques, Parvati.
A morena afrouxou a parte de cima do roupão, deixando boa parte dos seios, cobertos por um sutiã de renda, à mostra e então se aproximou do loiro:
-Ninguém vai te amar como eu te amo ou fazer amor com você como eu faço. Será que você não sente falta? –acariciou o rosto dele, brandamente.
Draco manteve-se sério e afastou a mão dela de sua face:
-Não me toque. Eu não vim aqui para transar com você. –disse rudemente, quase cuspindo as palavras –Será que não compreende a gravidade do que fez? Você fodeu a minha vida ao me impedir de ficar com a pessoa que eu mais quis.
-O que a Weasley tem que eu não tenho, Draco Malfoy?!? –perguntou revoltada.
-Pra começar, caráter. Ela nunca forjaria uma gravidez como você fez. Foi você quem cavou a sua sepultura, Parvati. Eu não confio mais nem um pouco em você, não posso te deixar impune.
A morena tentou correr até a porta do quarto, mas o loiro a segurou pelo braço:
-Aonde você pensa que vai? –ele perguntou –Será que ainda não entendeu que merece tudo isso?
-NÃO! SOCORROOOOOOOO!!! ALGUÉM ME AJUDA, POR FAVOOOOR! –gritou, ficando desesperada, enquanto novas lágrimas rolavam por seu rosto.
Draco riu:
-Você sabe muito bem que esse quarto é à prova de som. Lembra que a idéia foi sua? Que irônico, você não queria que os empregados ouvissem nossos gemidos por trás da porta e agora eles não podem ouvir os seus gritos de socorro. Ah, às vezes a vida parece ser deliciosamente irônica, não acha?
-Draco, eu faço qualquer coisa por você. –ela apelou, abrindo o roupão.
-Eu já disse que não quero sexo. Feche esse roupão, você me enoja sendo tão oferecida.
-Mas, Draco... –tentou argumentar.
O loiro apontou sua varinha para ela:
-Você vai fechar esse seu roupão ou eu vou ser obrigado a fechá-lo? –perguntou, deixando subentendido que a segunda opção teria suas conseqüências e elas não seriam nada agradáveis para a morena.
Contrariada, Parvati obedeceu-o. Respirou fundo e falou:
-Draco, você tem que acreditar que foi por amor. Eu queria te dar um filho, para seguir os seus passos e um dia tomar conta dos seus negócios. Mas eu não pude e não posso...eu sou estéril, Draco.
Ele cruzou os braços em frente ao peito:
-Isso não é mais problema meu. Não pense que vai conseguir me comover com essa ladainha, mesmo se for verdade...
-Mas é verdade! –ela interrompeu-o, indignada –Você tem que acreditar em mim!
-Isso não muda nada, nem apaga o que você fez. Eu já disse que não é problema meu.
-Draco, eu...
-Cale-se! Crucio.
O corpo de Parvati começou a se contorcer. Draco soltou-a e ela tombou no chão, gritando de dor. Ele bem sabia como era a sensação da maldição cruciatus, uma vez que já a sentira todas as vezes que era castigado pelo Lord das Trevas. Não teve pena da mulher e sabia que era por isso que seu feitiço estava tão potente. Quando parou, a morena ficara deitada no chão, respirando aceleradamente.
Parvati não queria se mexer. Seus músculos doíam e ela temia que se o fizesse, o gesto aborrecesse o loiro e ele mais uma vez lançasse a imperdoável sobre ela.
-Haha. O que aconteceu, Parvati? Estava tão falante há uns minutos atrás. O que houve, o pufoso comeu sua língua? –zombou.
-Você ainda vai se arrepender... –ela murmurou, mas alto o suficiente para que Draco ouvisse.
Ele a puxou de maneira brusca, fazendo com que se sentasse no chão:
-O que foi que você disse? –perguntou de modo ferino.
-O que você ouviu. –retrucou.
-Ainda petulante, Parvati?
Ela ignorou o comentário dele:
-Ela não vale tudo isso. Se ela te amasse como você pensa, ela não ia te abandonar. Você ainda vai descobrir que aquela Weasley é uma traidora. Eu gostaria tanto de rir da sua cara quando isso acontecer.
Os olhos de Draco escureceram:
-Crucio. –e mais gritos foram ouvidos.
Dessa vez, quando o loiro resolveu parar, a garganta de Parvati já estava ardendo e a respiração dela era falha, além de estar sentindo o corpo moído e como se o crânio estivesse rachado:
-Draco... –murmurou vagamente, tateando até encontrar a barra da calça dele e agarrá-la.
-O que é? –perguntou, revirando os olhos –Já vai começar a implorar pra eu não te matar? Justo agora que eu estava começando a me divertir?
-Não...A Weasley não...te ama. –e tossiu, contorcendo o rosto numa careta de dor ao sentir sua garganta arder mais ainda –Ela sempre quis...te ver em...Azkaban.
-Você sabe de alguma coisa que eu não sei? –perguntou, desconfiado e ela não respondeu.
O loiro então sacudiu o corpo dela:
-Pára. –murmurou vagamente, os olhos girando nas órbitas –Eu apenas...sei...
-Você está mentindo! Vai ver eu ainda estou sendo muito mole com você.
-Não. –ela implorou.
-Crucio.
Draco prolongou o feitiço por mais tempo do que das outras vezes. Estava preparando-se para parar quando percebeu que ela tinha ficado inconsciente. Cessou o feitiço imediatamente:
-Parvati? Parvati, acorda. –ele chamou e ela nem se mexeu –Aguamenti. –e um jato de água caiu sobre ela.
A mulher se mexeu e tossiu fracamente:
-Mamãe...Não quero ir pro chá...Me deixa dormir...
Draco olhou dentro dos olhos dela:
-Parvati Patil, pare de fingir que não sabe onde está.
-Quem é você? O papai te contratou pra me vigiar? Eu já disse...cof, cof...eu não preciso de babá.
“Merda!” o loiro pensou “Talvez eu tenha exagerado. Assim eu não vou conseguir arrancar nada de coerente vindo dela.”
Draco respirou fundo:
-Eu sou Draco Malfoy e sou seu marido, não se lembra?
-Ah!!!!!!!!!! Eu não sou casada. Eu tenho 8 anos de idade. E o que eu tenho? Eu to doente? Não tô bem...
-Estupefaça! –e o jorro vermelho do feitiço acertou Parvati em cheio, fazendo-a ficar novamente desacordada.
Ele carregou-a no colo até a lareira da sala, onde usou a rede de flú:
-Hospital St. Mungus.
Foi imediatamente atendido, sendo que levaram a mulher para uma bateria de exames enquanto ele preenchia papéis. Estava sentado na sala de espera há um tempo considerável, quando um medibruxo pediu que se dirigissem a sala dele:
-Boa tarde, Sr. Malfoy. Sou Dennis Belsky. Preciso de dar uma palavrinha em particular com o senhor, venha até a minha sala.
Draco aquiesceu e seguiu o outro. Ambos sentaram-se e após uns dois segundos em silêncio, o medibruxo começou seriamente:
-Sr. Malfoy, eu preciso saber a verdade de como a sua esposa ficou naquele estado.
O loiro respirou profundamente e então pronunciou a desculpa pronta em que pensara ainda na sala de espera:
-Eu e a minha esposa estávamos discutindo muito ultimamente, então eu percebi que não poderíamos continuar assim. Eu anunciei publicamente que pretendo me divorciar dela e depois contei a ela o que tinha dito à imprensa. Ela ficou louca e tentou acertar diversas azarações em mim, gritando impropérios. Eu tive que me abrigar atrás da penteadeira e me defender com feitiços escudo. Até que ela voltou a raiva para si mesma, dizendo que não queria mais viver e etc. Eu tentei impedi-la, mas não consegui ser rápido o suficiente. Ela atirou um feitiço contra si mesma e o corpo dela foi arremessado contra a parede. Eu acho que ela bateu a cabeça, porque quando eu a reanimei, não estava falando coisas coerentes. Ela não sabia nem quem eu era.
-Hum, e qual foi o feitiço que ela lançou contra si mesma? –perguntou.
-Não sei. Foi um não verbal. –deu de ombros –Mas diga-me, doutor, o que a minha mulher tem? Ela vai ficar bem? –fez cara de preocupado, mesmo que não sentisse esse sentimento.
-Hum, o caso da Sra. Malfoy é complicado. Ela parece ter desenvolvido uma espécie de seqüela pós-traumática. Ainda não sei dizer se essa situação será temporária ou permanente, mas julgo necessário que ela seja internada na ala psiquiátrica do hospital, onde terá acesso a especialistas e enfermeiras experientes nesses casos.
Draco enterrou o rosto nas mãos. Não esperava, ou ao menos não havia parado para pensar na hora, que aquilo poderia acontecer. A raiva o cegara e agora ele não tinha como saber o que as insinuações dela sobre Gina significavam. No entanto, não podia dizer que estava arrependido. Sentia-se muito mais leve ao descontar a raiva que sentiu por Parvati.
-Apesar de tudo, eu não queria que isso acontecesse com ela. Foi e está sendo um choque para mim. Eu apenas queria sair do casamento, não esperava que ela fosse reagir da forma que reagiu. –falou com a voz convincentemente pesarosa.
O medibruxo colocou uma mão sobre o ombro de Draco, como que para consolá-lo:
-Coisas assim acontecem ás vezes, Sr. Malfoy. Não se sinta culpado.
Ainda com o rosto escondido entre as mãos, Draco deu um sorriso satisfeito por sua atuação bem feita.

***

Gina estava dormindo pesadamente quando sentiu o bebê chutar dentro de seu ventre, o que a fez acordar. Passou a mão sobre sua barriga:
-Calminha, Alex. Eu sei que tá chegando a sua hora de nascer, mas não precisa querer ser tão apressadinho. Fica quietinho e deixa a mamãe dormir. –ela falou carinhosamente e como que se a obedecendo, o bebê parou de se mexer.
Tentou dormir, mas não conseguiu. Depois de cerca de uma hora tentando, desistiu. Olhou no relógio de cabeceira e viu que era 5h da manhã. Levantou-se mesmo assim. Fez chá e enquanto o tomava, assistiu à TV. Quando deu 7h da manhã, ouviu um tec tec na janela. Foi até lá e descobriu ser a coruja de Rony e Hermione. Abriu a janela, convocou um biscoito para dar para a coruja e em seguida apanhou o que ela trazia. Era um exemplar do Profeta Diário e um bilhete aparentemente escrito às pressas. Primeiro resolveu ler o bilhete:

Gina, o que é isso? Eu pensei que você tinha desistido de mandar o Malfoy para a cadeia, pelo visto me enganei. Assim que der (na hora do almoço) eu passo aí para você me explicar direito. Agora tenho que ir para o trabalho.

Com carinho,

Mione


A advobruxa ficou confusa, não tinha idéia do que a cunhada estava falando. Resolveu então pegar a edição do jornal e quase deu um salto ao ler a manchete: “SÃO REVELADAS LIGAÇÕES DE DRACO MALFOY COM O FAMOSO TRAFICANTE DE POÇÕES, DIEGO DE LA TORRE. Matéria completa nas págs. 6 e 7.”
-Eu não posso acreditar nisso. –Gina falou consigo mesma –Quem pode ter denunciado o Draco?!? Eu queimei aquele dossiê. Será que assim como a Mione, o Draco vai pensar que fui eu...Bem, muito provável, ainda mais por eu ter fugido sem dar nenhuma satisfação pra ele...Oh, Merlin...Mais um problema para a minha cabeça. Mas eu não devo temer, se o Draco não me achou até agora, devo estar segura.

***

-DRACO! ACORDA, HOMEM! –Blás Zabini gritou, saindo da lareira que havia dentro do quarto do loiro na casa de veraneio dos Malfoy.
Draco abriu os olhos preguiçosamente, tinha demorado pra dormir na noite anterior. Manifestou então seu maravilhoso humor matinal:
-Mas que porra você acha que está fazendo gritando a essa hora da manhã, Zabini?!? Pensa que aqui é a casa de Morgana?!? –e puxou o edredom para cima de sua cabeça.
O consiglieri revirou os olhos pela birra do amigo:
-Draco Malfoy, levanta a bunda dessa cama agora mesmo! –e não obteve resposta –Mas que inferno! É importante, caralho. –e respirou profundamente –Veja a matéria que saiu no Profeta.
-Afff, ontem à noite eu concedi uma entrevista ao Semanário das Bruxas dizendo que vou me divorciar da Parvati. Não sabia que o Profeta dava atenção a fofocas da alta sociedade e não acredito que você me acordou só pra isso.
-Não é nada disso. Saiu uma matéria que te acusa e o pior: que tem provas de que você possui ligações com o de La Torre. Você tem idéia de quem foi que deu com a língua nos dentes?
Draco descobriu-se e enterrou o rosto nas mãos para depois dar um soco contra o colchão ao pensar nas palavras de Parvati “-Você ainda vai descobrir que aquela Weasley é uma traidora. Eu gostaria tanto de rir da sua cara quando isso acontecer.“
-DESGRAÇADA! Como eu pude ser tão estúpido e tão cego?!?
-Draco, do que você está falando? De quem você desconfia?
Ele ergueu os olhos cinza-chumbo e Blás enxergou puro ódio:
-Foi a Weasley. –Draco respondeu, como se estivesse cuspindo veneno –Eu contei a ela sobre o de La Torre, ela foi comigo até San Andres. Agora as coisas fazem sentido. Primeiro ela foge, depois deixa a poeira baixar para por fim me delatar, mas é uma piranha mesmo. E o pior de tudo foi que me enganou direitinho. Como eu pude me deixar enganar?!?
-Porque você ama a Weasley, cara. –respondeu como se fosse óbvio.
-Não, não amo mais. –teimou.
-Draco, amor não é algo que passa de uma hora pra outra. –disse sabiamente.
-Não importa. Eu vou encontrar a Virginia ou não me chamo Draco Malfoy e vou fazer ela pagar. Ninguém me engana e fica impune. Ela não será exceção. –falou sombriamente.

***

-Tchau, Ed. –Hermione despediu-se do filho, dando um beijo na bochecha e colocando-o de volta no berço –Tchau, meu amor. –falou a Rony, que a beiju longamente em resposta.
-Bom trabalho, Mi.
-Igualmente. –ela sorriu e saiu pela porta de seu apartamento.
Chegara a dobrar um corredor quando alguém ás suas costas pronunciou:
-Estupefaça.-e a morena, sem qualquer chance de defesa, caiu no chão.
Um sorriso frio cruzou os lábios finos de Draco Malfoy. Arrastou Hermione até o elevador mais próximo e chamou-o. Alguns segundos depois o elevador parou no andar, vazio. Ele entrou e carregou-a consigo. Antes de acordá-la, tirou a varinha dela e fez mágica para que o elevador ficasse parado e com as portas fechadas:
-Enervate.
Hermione abriu os olhos e afastou-se de Draco, assustada, ainda mais ao perceber-se desarmada:
-Malfoy, o que você quer comigo?
-O de sempre, saber onde a Virginia está. –respondeu, olhando intensamente nos olhos castanhos da morena.
Hermione percebeu que alguma coisa tinha mudado no Malfoy e ele não parecia estar de brincadeira, ainda assim mentiu:
-Eu já disse que não sei onde ela está, por que é que você continua insistindo?
-Porque você é bem capaz de encobrir a sua amiguinha. A diferença é que agora eu não vou pegar leve com você. Vai me dizer por bem ou por mal onde ela está?
-Eu já disse que não sei...
-Não brinque comigo, Granger. Imperio.
Hermione tentou resistir ao feitiço dele, mas não pôde. Assim que os olhos dela ficaram desfocados, Draco cobrou:
-Você vai me dizer onde a sua cunhada, Virginia Weasley está. Diga-me de uma vez.


***


BLÉEM! Gina, que estivera bem acomodada – ou ao menos o quanto aquela barriga de grávida em final de gestação permitia – no sofá assistindo à TV, respirou profundamente e então se levantou. Deveria ser Hermione.
“Atrasada...A Mione não é de se atrasar. Será que aconteceu algo? Ah, não quero saber! Vai ganhar uma bronca. Eu fiquei bem cansada de preparar os pratos favoritos dela e ela ainda se atrasa...Mas que falta de consideração!” pensou com indignação ao andar em direção à porta.
Nem se deu ao trabalho de olhar pelo olho mágico para ver quem era e girou a chave na maçaneta, escancarando a porta e pronta para reclamar pelo atraso da cunhada. No entanto, nada poderia tê-la preparado para o que ela via a sua frente. A boca da ruiva abriu-se em surpresa e o susto encontrava-se estampado nos olhos castanhos que haviam se arregalado. À distância aproximada de 1 metro estava o dono de seu coração, a razão de seu tormento: Draco Malfoy. Estava elegante em seu traje social totalmente preto, com exceção da gravata que era prata e combinava com seus olhos. O semblante dele encontrava-se inexpressivo, mas os olhos estavam menos frios do que ele desejaria. Sentimentos contraditórios disputavam espaço em seu âmago. Encarou os surpresos olhos castanhos da advobruxa e a cólera pareceu correr em suas veias como veneno. Não se atreveu a mover nenhum músculo e por alguns momentos os dois apenas miraram um ao outro, como se suas vidas dependessem disso:
-Virginia... –ela fora o primeiro a quebrar o silêncio, degustando a sensação de pronunciar aquele nome depois de tanto tempo de ausência.
Gina recobrou seus movimentos ao ouvir a voz dele a chamá-la de modo tão frio. Olhou-o seriamente e descobriu que não gostava da maneira como ele estava agindo. Parecia contido demais e ela temia o que aconteceria se ele explodisse...Não sabia o que dizer, então apenas disse o nome dele à guisa de cumprimento:
-Draco. –e seu tom, ao contrário do dele, era caloroso e repleto de sentimentos nostálgicos.
Mal sabia Virginia que o que o havia trazido ali não eram simples saudades e sim profunda sede de vingança...Porém, estava prestes a descobrir.

N/A: Façam uma autora feliz e comentem, apesar d eu ter demorado um século pra atualizar...

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