Jantando Com O Inimigo



Jantando Com O Inimigo

Após o banho, Virginia enrolou-se numa toalha e foi direto para o quarto. O abajur estava aceso. Ela ficou de frente para o guarda-roupas, ia abrir pra pegar um pijama, mas algo lhe chamou a atenção no reflexo do espelho. Um vulto vinha se aproximando dela. Gina não se virou e fez mira por cima do ombro, olhando pelo espelho:
-Impedimenta. –e o vulto foi paralisado, ela então se virou e o reconheceu –Malfoy, espero que tenha uma boa explicação.
-E eu espero que você não ataque mais o seu chefe. –ele respondeu.
-Finite incantatem. –ela pronunciou –Eu não sabia que era você, além disso, o que faz aqui no meu quarto? A Adelina deixou...
-Eu pedi pra ela não te contar. Fui eu que coloquei a Eve pra dormir. Não se altere ou ela vai acordar.
-Se você me esperar na sala, podemos conversar.
Draco foi para a sala e sentou-se confortavelmente no sofá. Pensava na hora em que a Weasley entrara no quarto apenas de toalha. Foi automático, era como se um imã o atraísse, foi andando em direção a ela e pego de surpresa pelo feitiço.
“Não é à toa que além de advobruxa é auror.” Pensou.
Graças a Poção Polissuco, Draco sabia como era o corpo inteiro da Weasley, mas sabia também que ela não seria tão dócil as suas vontades na cama como suas prostitutas.
“Pare com isso, Draco!” ele se repreendeu “Ficar imaginando apenas, é pior, só vai te deixar com vontade. Você não pode fazer nenhuma besteira. Conforme-se e controle-se.”
A ruiva apareceu na sala com um pijama e um robe por cima:
-Seja o que for, Malfoy, não demore a falar. Eu quero ir dormir.
-Sente-se. –Draco falou.
Ela sentiu-se estranha por ser convidada a sentar em seu próprio sofá, mas fez o que Draco disse:
-Obrigada por fazer a Evelyn dormir, é uma tarefa um tanto difícil.
-Tudo o que fiz foi contar como é Hogwarts, ela parece bem ansiosa para ir pra lá.
-Quando eu tinha mais ou menos a idade dela, eu também. Desde que o pai dela tinha ido e me contado.
Houve um instante de silêncio, então Draco falou:
-Tenho um caso pra você resolver, na França.
-Na França? Eu não posso, a Eve...
O loiro a interrompeu:
-Ela vai com a gente. É em Marselha, já esteve lá?
-Não, mas qual é o problema que eu tenho que resolver?
-No caminho eu te conto, nós vamos assim que você arrumar a sua mala e a da Eve.
-Mas e a sua mala?
-No porta-malas do meu carro. O Ewan está nos esperando lá em baixo. Eu vou esperar aqui, tudo bem?
-Hum-hum. –Gina levantou-se do sofá –Gostaria de alguma coisa?
“Sim, ir pra cama com você.” Foi o que pensou, mas não o que respondeu:
-Não, obrigado. Apenas não demore muito.
Gina foi para o seu quarto e depois de se trocar, colocou coisas aleatoriamente com mágica em sua mala. De Eve, Gui havia trazido no dia anterior e estava arrumadinha. Pegou as duas malas e ia sair do quarto, quando deu com Draco parado na porta:
-Eu sei que disse que ficaria na sala, mas achei que você talvez precisasse de alguma ajuda.
-Você pode pegar a Eve pra mim? E de preferência, não a acorde.
O Malfoy pegou a garota no colo e enrolou-a no cobertor:
-Lá fora tá frio. –ele disse –De madrugada sempre esfria.
Draco trancou a porta do apartamento da Weasley. Ao saírem do prédio, Gina avistou a limusine e Ewan abriu o porta-malas, guardando a bagagem. O loiro passou Evelyn para os braços da ruiva e todos entraram no carro.
-Ela parece um anjinho enquanto dorme. –o Malfoy comentou.
Gina sorriu abertamente, pela 1ª vez para Draco, e ele percebeu que gostava disso.
-Parece mesmo. –a ruiva concordou –E como eu vou avisar os pais da Eve?
-A Vance avisa, eu disse à ela que iríamos viajar, então não se preocupe.
-E até agora eu não sei o motivo. –ela cobrou.
-Como eu disse, vamos pra Marselha. Eu tenho um hotel lá, mas é do meu pai também. Eu contribuo com o dinheiro e o meu pai administra.
-E qual é o problema? Eu preciso saber.
-O meu pai está com problemas com o Ministério da Magia Francês, ele anda sonegando impostos.
-Você mandou ele fazer isso? –Gina perguntou, desconfiada.
-Não. –Draco respondeu, sinceramente.
-Eu teria que conversar com o seu pai e com o advobruxo que o está acusando. –a ruiva disse, profissionalmente.
Draco sorriu e Gina perguntou qual era a graça. O loiro deu de ombros:
-Nenhuma, Apenas estou satisfeito com a minha mais nova funcionária. Não posso?
-Não antes de eu apresentar resultados. –Gina respondeu.
-Tenho certeza, -Draco disse, levantando o queixo de da Weasley e forçando-a a olhar em seus olhos –que não irá me decepcionar.
Ela não respondeu. Sentiu o rosto esquentar, mas não desviou o olhar.
“Eu não lembrava dos olhos do Malfoy serem tão lindos...Cadê a frieza, a maldade e malícia? Por que não consigo mais enxergar isso?” era o que se passava na mente da ruiva.
Draco passou a ponta da língua pelos lábios e mordeu o inferior.
“Não faça isso, Draco. Você vai estragar tudo. Controle-se.” Draco disse para si mesmo, soltando o queixo de Gina.
Virginia ficou observando a sobrinha dormir, sem querer encarar o chefe.
“Vai ver o Malfoy nem é tão mulherengo assim. Ele não tentou nada até agora.” Pensou e para quebrar o silêncio incômodo, fez uma pergunta:
-Você sempre viaja com os seus advobruxos?
Draco ponderou por alguns instantes, antes de responder:
-Digamos que acompanho os primeiros passos deles de perto.
-E viaja mais a lazer ou negócios?
-Negócios. –Draco respondeu sem hesitar –Quase não tenho tempo pra me divertir, mas de certa forma o trabalho é uma diversão.
-E o que a Parvati acha de ter um marido tão ocupado?
-Ela reclama de eu não ter tempo pra ela, mas sempre se derrete com os presentes que trago. Esse é o jeito de acalmá-la. O que o Potter fazia pra se desculpar com você se pisasse na bola?
-Isso é pessoal, sabia? –Gina perguntou.
-Ah, desculpa. –falou, sem realmente lamentar –Se você ainda é sensível ao fim do seu namoro como Potter, não precisa responder.
-Não é isso. Quer dizer, eu não sei. O Harry sempre foi especial pra mim e fazia com que eu me sentisse especial. Não sei o que me fez dizer isso...
Gina corou e desviou o olhar.
“Eu não posso ser tão transparente assim na frente dele!” ela se repreendeu.
-Você é especial, Weasley. –o loiro murmurou –Se não fosse, eu não a contrataria.
-Como vamos pra Marselha? –Gina quis saber.
-No meu jato.
-Seu jato? Você tem um jato particular?
-Mas é claro. –respondeu como se fosse a coisa mais comum do mundo. -Não posso ficar dependendo a toda hora de vôos comerciais.
-Ah é, eu esqueci. Trabalho para Draco Malfoy, o milionário. –respondeu revirando os olhos.
-Está insinuando que ter um jato particular é supérfluo? Apenas um luxo? –ele perguntou e Gina fez que sim –Quando se tem os compromissos que eu tenho, torna-se uma necessidade. Acredite em mim quando eu digo.
Após uns 10 minutos, a limusine parou e eles saíram de carro. Andaram até a aeronave parada próxima e entraram:
-Boa noite, Sr. Malfoy. –uma aeromoça loira, muito bonita, cumprimentou.
-Boa noite, Cath. Esta é Virginia Weasley, advobruxa. Weasley, esta é Catherine Carter, aeromoça deste jato.
As duas apertaram as mãos:
-Deixe a Eve com a Cath. Ela vai cuidar bem da sua sobrinha.
Meio relutante, mas sem nada dizer, Gina passou Evelyn para a aeromoça:
-Qualquer coisa, pode me chamar. –a Weasley disse.
-Sim, Srta. Weasley.
Draco saiu puxando Gina e sentaram-se à frente:
-Aperte o cinto. –Draco falou para Gina, apertando o seu.
A Weasley o imitou. O silêncio a incomodava, portanto resolveu tentar um diálogo, na verdade uma conversa barra pesada:
-E então, Malfoy? Que outros negócios você tem além de um puteiro, reservas petrolíferas, uma empresa de advobruxia, uma floricultura e um hotel em Marselha? Será que também tráfico e agiotagem?
-Assim você me insulta. –Draco respondeu, fazendo-se de ofendido –Por que é que você só pensa o pior de mim, Weasley? Eu já disse que assim não dá... –falou, balançando a cabeça negativamente.
-Olha pra mim, Malfoy. Nos meus olhos. –Gina pediu, séria e ele fez –Agora nega que você está envolvido em negócios sujos e que não é o Poderoso Chefão da MMVO.
As pupilas dos olhos acinzentados dilataram-se levemente, o único vestígio de surpresa naquele rosto inexpressivo.
“Como essa Weasley vive me surpreendendo. É corajosa...ou então não sabe com quem está se metendo. Se bem que o problema dela é mais não saber do que eu posso ser capaz...Querendo andar em areia movediça, Virginia? Assim você vai acabar afundando...” o loiro pensou, sem desviar o olhar dos olhos dela.
-Hum...MMVO... –e fez cara de pensativo –É já ouvi falar. Talvez tenha lido algo no Profeta Diário. Algo como Máfia dos Magos...não me lembro bem do nome.
-Máfia dos Magos Veladores da Ordem. –a ruiva respondeu rispidamente.
-Você parece saber bastante sobre esse assunto, Weasley. –comentou calmamente, sorrindo de viés.
-Não seja tão cínico, Malfoy. –a ruiva replicou, estreitando os olhos –A MMVO também pode ser chamada de Malfoy Manda Você Obedece.
Draco deu de ombros:
-Foi a Chang que te disse tudo isso, não foi?
Gina estufou o peito e virou-se para ele. A jaqueta branca que vestia estava aberta, o loiro observou os seios médios e redondos dela comprimindo-se contra o tecido vermelho da baby look dela.
-Foi. –a Weasley respondeu, desafiadora –E daí?
Draco forçou-se a desviar seus olhos do decote da advobruxa e deu um suspiro, que demonstrava impaciência:
-E você acreditou na Chang? –ele indagou.
-Mas é claro que sim! –Gina exclamou –Vai negar também que teve um caso com ela?
Draco riu e naquele instante soube por onde tentaria escapar:
-Eu não vou negar que tivemos um envolvimento passageiro.
Gina deu um muxoxo:
-Sabia que você não é homem de uma única mulher, desde Hogwarts você é assim. Pobre Parvati, quantas vezes deve ter sentido um peso a mais na cabeça sem saber o que era...
-Ela sabe. –Draco respondeu, seco.
-Como assim sabe?!? Então ela aceita que você tenha outras mulheres? –Gina perguntou, não acreditando que alguma mulher se sujeitasse a isso.
Draco fez pose:
-Ela diz que me ama e que de qualquer forma quem é a mulher legal é ela. Além do mais, eu não deixo margens para que suspeitem da minha fidelidade. Todas acham que eu sou o homem ideal. Lindo, fiel, rico e politicamente correto.
-Nem todas acham isso, Malfoy. –Gina respondeu, olhando pela janela.
-Quem por exemplo? –perguntou debochadamente.
-Eu. –e olhou pra ele –Não generalize, por favor. Eu não sei o que as mulheres vêem em você. –murmurou, desviando novamente o olhar.
Draco fez com que Gina olhasse diretamente em seus olhos, levantando seu queixo:
-Tem certeza que não sabe, Weasley? As mulheres não resistem a um homem atraente, charmoso, cavalheiro e bem sucedido. –e sorriu –Ah, e quando descobrem que eu também sou bom de cama...Aí é que não querem largar do meu pé. Já ouviu boatos a esse respeito também, Weasley?
-Já. –respondeu, irritada –Mas não acredito neles. Acho que você se acha demais.
“Eu não me acho demais, eu sou demais.” Ele pensou, mas o que disse foi:
-Não acredita, é? Não gostaria de provar antes de falar isso? Não é justo fazer um pré-julgamento do que não conhece, Weasley. Como advobruxa deveria saber muito bem disso.
Gina ficou da cor de sua baby look e não sabia se era de vergonha ou fúria. Queria xingá-lo até perder a voz, mas ele era seu chefe.
“Eu não posso fazer isso...” pensou, cerrando os punhos.
-Nunca, Malfoy. –ela disse entredentes –Nunca mais faça insinuações desse tipo, entendeu? Eu não serei mais uma das suas amantes. Eu me prezo, não fico correndo atrás de homens igual às sirigaitas com que você sai, principalmente se forem casados. Eu quero distância de problemas.
Draco sentia uma emoção crescer dentro dele, mas não era de raiva. Não tinha certeza do que era, ou se gostava. Acostumara-se a usar as mulheres por toda sua vida, sua bela aparência e charme inato haviam lhe proporcionado mais parceiras de cama ansiosas do que podia se lembrar.
Essencialmente, Draco menosprezava as mulheres. Elas eram moles demais. “É o caso da Parvati. Ela é como um cachorrinho de estimação que faz tudo o que lhe mandam”, pensou o Malfoy “Cuida da minha casa, organizando as tarefas entre os elfos domésticos. Cozinha pra mim se eu quiser, trepa comigo quando estou com vontade, cala a boca quando a mando calar.”
Draco jamais conhecera uma mulher determinada, uma mulher que tivesse a coragem de desafiá-lo. Virginia Weasley tivera a coragem de fazer isso. O que ela dissera? “...Eu não serei mais uma das suas amantes.” Draco Malfoy ficou pensando nisso e não pôde conter um sorriso. Ela estava enganada. E ele iria mostrar-lhe como estava enganada.
“Aposto que não fica mesmo se preocupando com correr atrás de homens. Eles é que devem correr atrás de você.” Foi o que se passou em seguida na mente dele.
-Você leva as coisas à sério demais, Weasley. Eu estava apenas brincando com você. E sou menos galinha do que você pensa. –disse soltando o queixo dela.
-Duvido. Aposto que já testou pessoalmente todas as prostitutas do seu puteiro. Isso sem contar as secretárias e outras subordinadas que trabalham pra você.
Draco revirou os olhos:
-Não é puteiro, Weasley. É uma boate. E até parece que eu já transei com todas as minhas funcionárias.
“Só com as que eu quis e nem foram muitas. [N/A: Pro Draco é que não são muitas] Não tem muita graça pegar prostitutas, são iguais a minha mulher, fazem qualquer coisa que eu quiser. Mas a Vick com a aparência da Weasley foi demais...Se bem que todas fazem o que quero...Mas as que não são prostitutas costumam impor alguns limites.” Completou mentalmente “De qualquer forma, ela cairia pra trás com o número de prostíbulos que eu tenho espalhados por aí.”
-Está assumindo que tem um estabelecimento desses, com garotas se prostituindo?
-Mas que droga, Weasley! Você entende tudo errado mesmo. Não são prostitutas, são dançarinas. Elas apenas dançam para os clientes, enquanto eles bebem uns drinks. Podem até falar com elas, mas não é permitido contato físico, entendeu?
Gina viu que não conseguiria por aquele lado, então respirou fundo e passou as mãos pelos cabelos. Em seguida mudou de assunto:
-Mas e a Chang? –a ruiva perguntou –Ela disse que era a sua principal amante. Conhecia-te muito bem pra ter mentido.
“Não, Weasley. Ela podia saber muito sobre os meus negócios e a Organização, mas não sobre mim. Se ela me conhecesse bem, não me trairia, saberia muito bem que o destino que reservo para os traidores é a morte.” Ele pensou, sorrindo malevolamente.
-A Chang me amava. –Draco respondeu simplesmente, como se o amor fosse uma coisa qualquer que não merecia atenção e o enojava –Mas eu não a queria mais. Eu queria ficar numa boa com a Parvati. A minha mulher andava histérica demais, dizendo que eu estava dando importância demais para a Chang. Além do mais, a Chang queria que eu assumisse o nosso relacionamento. Eu recusei terminantemente e acabei tudo.
-Como você é cruel. Se a Cho Chang te amava, foi porque você a iludiu. Deu esperanças de que poderia tornar-se a única em sua vida.
-Você não ouviu nada do que te disse antes, não é, Weasley? –e Gina ergueu as sobrancelhas interrogativamente –Eu sou irresistível, é isso.
A ruiva bufou:
-Pare de ser convencido, Malfoy. Você apenas é um estraçalhador de corações. Eu vejo em seus olhos, você nunca conheceu o amor e faz pouco caso dele. Não, você tem um único tipo de amor, o egocêntrico. Narciso até o último.
-Papinho mais enfadonho, Weasley. Aonde quer chegar com isso?
-Não satisfeito em destroçar o coração da Chang, você a matou.
-O quê? Eu não fiz isso! –ele negou e era verdade.
-Ah, desculpa. Eu me expressei de maneira errada. Você não fez isso com as próprias mãos, mas é o responsável pela morte dela.
-Concordo. Você está certa. –Draco disse calmamente.
-Concorda? –Gina perguntou, mal acreditando e sorrindo vitoriosa –Está finalmente confessando que mandou matá-la?
-Weasley, é você quem nunca deve ter amado. Não sabe o que uma mulher apaixonada é capaz de fazer? Ainda mais sendo rejeitada. Ela se suicidou. Disso eu fui culpado, já que ela me amava. Suicidou-se por eu não ter correspondido o amor dela. Mas o que eu podia fazer? A Parvati sempre foi a minha prioridade.
Gina respirou fundo, tentando se acalmar e resolveu desistir por um tempo, até pensar em outra maneira de cercá-lo.
“O Malfoy é muito bom. Consegue virar o jogo a seu favor. Por mais que eu o encurrale, ele consegue achar uma maldita brecha. Daria um bom advobruxo.”
-Por que não se tornou um advobruxo, Malfoy? –ela perguntou.
-Pra ganhar um bom dinheiro é preciso defender os poderosos. Eu prefiro eu mesmo ser o poderoso. –ele respondeu, o que deveria ser a primeira resposta inteiramente sincera que ele dava pra ela desde que entraram naquele jato.

***

Quando o jato pousou, Catherine Carter foi até onde Draco estava, carregando Evelyn ainda adormecida. O Malfoy estava dormindo. Gina também dormia e tinha a cabeça apoiada no ombro do loiro:
-Sr. Malfoy. –a aeromoça chamou e ele abriu os olhos –Chegamos e um táxi está esperando o senhor e as senhoritas Weasley. A garota dormiu a viagem inteira.
-Obrigado, Cath. –e tirou o cinto –Me passe a garota.
Draco ajeitou Evelyn em seus braços e chacoalhou Gina:
-Ainda é cedo, Harry, eu sei que o despertador ainda não tocou. –Gina murmurou ainda de olhos fechados e com uma voz grogue de sono.
O loiro indignou-se ao ser chamado de Harry, ia tirar satisfações com a ruiva, quando Eve acordou:
-Tio Draco? –e deu um beijo na bochecha do loiro –Onde estamos? E por que a Tia Gina tá dormindo?
-Estamos no meu jato e viemos com ele até a França. A sua tia está dormindo porque deve estar cansada. Não gostaria de acordá-la?
-TIA GINA, ACORDA! –Eve gritou e finalmente Virginia abriu seus olhos.
Logo que percebeu que estava com a cabeça no ombro de Draco, tratou de se afastar dele.
-Desculpa, Malfoy. Eu acabei adormecendo. Dormiu bem, Eve?
-Sim, Tia Gina. Acordei agora.
-Me dá ela, Malfoy.
-Ah, Tia Gina. –Evelyn reclamou –Deixa eu ficar com o Tio Draco um pouco.
-Evelyn, pare de incomodar o Malfoy.
-Não é incômodo nenhum, Weasley. Está tudo bem eu carregar essa ruivinha linda.
Evelyn mostrou a língua para Gina e disse:
-Te adoro, Tio Draco.
Já dentro do táxi, Gina reclamou:
-Resolveu roubar a minha sobrinha, Malfoy? Se gosta de crianças, por que não tem um filho com a sua mulher?
-Eu não disse que gosto de crianças. Gosto de crianças que gostam de mim e a sua sobrinha parece ser a única. Além disso, eu e a Parvati não pensamos em ter filhos.
-Não fica com ciúme não, Tia Gina. –Evelyn falou –Eu também adoro você, Tia Gina. E o Tio Draco também, não é?
-O quê? -o loiro perguntou.
-Você adora a Tia Gina. –a garota respondeu alegremente.
-Vou adorar quando ela me mostrar o grande potencial que tem como advobruxa. –o loiro respondeu.
-Não preciso que me adore, Malfoy. –Gina falou séria –É suficiente que deixe que eu faça o meu trabalho e pague o meu salário.
-Você é sempre assim, Weasley? Irritada e durona?
-Que nada! –Evelyn exclamou –Com o Tio Harry era a maior melação e a Tia Gina é toda atenciosa com as pessoas que gosta, principalmente com o meu herói de quadribol.
-Arrumou outro namorado famoso, Weasley? Você gosta de heróis, hein? –o Malfoy comentou.
-Olívio Wood é apenas meu amigo. –ela explicou –Não invente coisa, garota sapeca. –falou fazendo cócegas nela, que estava no colo de Draco.
-Ai, Tia Gina! Dá cócegas! –Eve reclamou, rindo e tentando afastar as mãos da tia de sua barriga.
Evelyn acabou empurrando uma mão de Gina em cima de uma de Draco. Como se tivesse levado um choque, a ruiva retirou a mão e afastou-se:
-Desculpa, Malfoy. –murmurou, meio sem graça.
-Eu não mordo, Weasley. –o loiro respondeu.
“A não ser que você deixe.” Completou mentalmente.
Virginia nada disse, sentira algo, uma sensação excitante ao tocar a mão de Draco.
“Por que o Malfoy tem que ser tão atraente? Ele não presta, Gina! Não se deixe enganar pela fachada.” Ela pensou ao ver o loiro sorrindo amavelmente para sua sobrinha.
-Pra onde estamos indo, Tio Draco? –Evelyn perguntou.
-Para minha casa de veraneio. –ele respondeu.
Por um instante, Gina se perguntou quantos imóveis o Malfoy tinha, mas logo pensou em outra coisa. Lembrava da hora em que o encontrara em seu quarto e recordava-se melhor ainda do olhar que ele tinha...Não era raiva. Não era surpresa. O olhar que Virginia havia flagrado em Draco naquele momento, ela só podia classificar como desejo.
“Não, eu estou imaginando coisas. Em várias situações o Malfoy podia ter me beijado, mas no entanto, não o fez. O Malfoy não se interessa por mim como mulher e sim como advobruxa” ela tentou se convencer, talvez tivesse medo de pensar o oposto.
-Malfoy...Posso saber o que fazia no meu quarto quando cheguei? A Eve já tinha dormido. Por que não me esperou na sala?
-Eu estava velando o sono da Evelyn. Ela me fez prometer que não a deixaria sozinha. Eu apenas cumpri a promessa.
-Obrigada, Tio Draco. –a garota disse e o abraçou.
Draco ficou surpreso por receber um abraço tão sincero e puro. Era um gesto de tal modo singelo, que sua mente ficou em branco e suas defesas desapareceram por alguns momentos, em que ele devolveu o abraço e afagou os cabelos dela de maneira paternal.
Ao observar isso, Gina ficou sem palavras. Pensou que era uma bela visão, que afinal, Draco não era de todo um monstro e que acabaria por dar um bom pai. Porém, logo afastou esses pensamentos de sua mente. O que estava se passando com ela? Por que de repente o Malfoy não lhe parecia tão mau?
Conscientemente, ou não, Draco encontrara um jeito de penetrar a muralha que Gina havia construído ao redor de si e a ferramenta a ser usada nessa tarefa era Evelyn. Ao olhar o sorriso bobo nos lábios de Virginia, o loiro percebeu que “achara ouro”.
“Hum...Interessante, descobri o ponto fraco da Weasley...Mas o que eu posso fazer com essa informação? Por que tinha ser essa garota?” ele pensou, não muito satisfeito com a descoberta.
O Malfoy não tinha experiência em conviver com crianças e isso o preocupava um pouco. Para agradar Gina, teria que agradar Eve...Mas ele não tinha certeza se saberia lidar com as teimosias, choros e vontades da sobrinha da Weasley.
-Por que não ligou antes, avisando que ia no meu apartamento? –Virginia quis saber.
-Eu liguei, mas você não estava.
-Ela tava num encontro. –Eve declarou.
Gina corou levemente e Draco deu de ombros:
-A sua vida particular não é da minha conta. –ele comentou e a ruiva concordou – Desde que não atrapalhe o seu trabalho. –acrescentou em tom de aviso –Você não tem um celular, não é mesmo, Weasley?
-Não, não tenho. –ela confirmou -Nunca senti real necessidade de ter um.
Draco fuçou o lado interno de seu terno e tirou o que procurava:
-Pois agora tem. –ele disse, estendendo a mão com um celular –Só precisa habilitar. Sabe fazer isso?
-Sei, o meu pai me ensinou...mas eu não posso aceitar um presente seu...
-Por que não, Tia Gina? -Evelyn perguntou, dengosa.
-Era um presente pra Parvati, ela estava querendo um modelo novo, mas eu posso comprar outro pra ela. Aceite, Weasley.
-Não, Malfoy. Eu já disse que não vou aceitar presentes seus.
-Mas se for pra você não será presente. Considere uma ferramenta de trabalho. É sério, Weasley, eu preciso de você disponível pra mim. –ela fez uma cara desconfiada, então o loiro corrigiu rapidamente –Eu quero dizer, você não fica só na sua casa. Eu preciso poder entrar em contato com você se eu precisar. Não acha que seria importante?
Gina suspirou e pegou o celular da mão do Malfoy:
-Tudo bem, eu aceito. Para ligações estritamente profissionais.
-Pode ligar pra quem quiser, Weasley, é você quem vai pagar mesmo.
-É claro que eu mesma irei pagar. Eu não falava disso, Malfoy. Eu me referia a você não me ligara à toa, entendeu?
-Eu sou um homem ocupado demais pra perder tempo. Não tem com o que se preocupar, Weasley.
Cerca de meia hora depois, chegaram a já mencionada casa de veraneio do Malfoy. Era menor que a mansão da Inglaterra, mas ainda assim bem grande. A cor das paredes externas era salmão (idéia da Narcisa). Havia um portão imponente e um jardim bem cuidado. A casa, que tinha um ar agradável e ao mesmo tempo altivo, estava localizada em uma encosta e olhando em direção ao horizonte podia-se ver o mar.
Saíram do táxi após Draco entregar umas notas na mão do motorista e pegarem as malas.
-Nossa! –Eve exclamou –É linda!
-Seus pais moram aí? –a Weasley perguntou.
Draco fez que sim:
-Vieram morar aqui depois que me casei. Eu não avisei que viríamos hoje, mas acho que ficarão satisfeitos.
Subiram as escadas de mármore e ao chegarem à frente da porta, o loiro tocou a campainha e esperou:
-É uma casa trouxa? –a ruiva perguntou.
-Sim, por aqui não tem casas construídas por bruxos. Mas há alguns feitiços nessa casa e a lareira está ligada à rede de flu, é isso o que importa. –respondeu.
A porta foi aberta por um homem muito bonito. A pele pálida se encontrava levemente bronzeada. Os cabelos eram de um louro escuro e brilhante e estavam cuidadosamente penteados para trás com gel. Seus olhos eram verde-esmeralda, o que fazia Gina lembrar de Harry, e seu corpo esguio estava coberto por um uniforme.
“Quem é esse homem?” Virginia se perguntou, enquanto o admirava.
-Esse é o mordomo, Weasley. O nome dele é Henri Le Blanc. Henri, ela é Virginia Weasley e a garota é sobrinha dela e chama-se Evelyn.
Henri abriu um sorriso caloroso para Eve, mostrando seus dentes brancos e perfeitos. Em seguida voltou-se para Gina :
-É um prazer conhecê-la, Mademoiselle Weasley. –e beijou uma mão dela.
-Merci. –a ruiva agradeceu –Também é um prazer conhecê-lo, Monsieur Le Blanc.
Draco não gostou nem um pouco do jeito que os dois estavam se olhando e logo perguntou secamente:
-Onde está o meu pai?
Henri deu espaço para que todos entrassem, fechou a porta atrás de si e respondeu:
-O senhor Lúcio foi resolver uns assuntos sobre o Le Château no Ministério da Magia.
-Droga! Custava ele esperar ? Eu disse que ia ajudá-lo.
-Convocaram-no urgentemente. –Henri disse.
-Hum... –o loiro murmurou e tirou o paletó –Pendure pra mim.
Henri o pegou e perguntou:
-Gostaria de tirar a jaqueta, Mademoiselle?
Gina tirou sua jaqueta. Henri pendurou-a junto com o paletó do Malfoy.
-Como essa garota é quieta. –o mordomo comentou –Isso é realmente raro.
Evelyn olhou pra ele emburrada:
-Eu não tenho nada pra falar com você. –a garota respondeu secamente.
-Evelyn! –Gina a censurou –Você não é mal educada, não é essa a educação que aprendeu com seus pais, certo? Desculpe, Monsieur Le Blanc, ela deve estar cansada pela viagem.
Evelyn nada respondeu. Antipatizara a primeira vista com o mordomo, ao ver o jeito como ele olhara para sua tia. Não! Se fosse para sua tia ficar com alguém, tinha que ser aprovado por ela. A garota apenas apoiava que ela ficasse com Harry (porque gostava dele e sabia que Gina também), Draco (porque gostava dele também e o achava demais) ou Olívio (porque era o seu herói do quadribol e isso era incrível). Não iria permitir que um francês idiota se tornasse seu tio oficial.
“Não vou deixar esse cara ficar com a minha tia!” pensou resoluta.
Ao ouvir a sobrinha da Weasley falar daquele jeito, Draco sentiu-se vingado.
“Pelo jeito a garota está do meu lado. Isso é bom.” Pensou e nesse instante Narcisa apareceu:
-Draco, meu filho! –ela exclamou e correu até ele –A mamãe sentiu tanto a sua falta. –disse emocionada, dando-lhe beijos pelo rosto e o abraçando com força.
-Mãe! –o Malfoy reclamou –Quantas vezes eu tenho que dizer...
Narcisa soltou-o imediatamente:
-Desculpa... –e olhou em volta, vendo Gina e Evelyn –Quem são vocês?
-Eu sou Virginia Weasley e sou advobruxa, vim para ajudar o seu marido, Sra. Malfoy. Essa é a minha sobrinha Evelyn.
-Muito prazer. –Narcisa disse –Você é uma linda garotinha, Evelyn.
-Leve as malas, Henri. A minha para o meu quarto e a delas para o melhor quarto de hóspedes.
-Sim, Sr. Malfoy. –respondeu e se retirou com as malas.
-Você deveria vir mais aqui, Draco, seu filho ingrato. Só aparece por causa de negócios.
-Não faça drama, mãe. Eu sou muito ocupado e sabe disso. Além do mais, não te falta nada.
-Falta sim! –a loira exclamou e Draco fez uma cara confusa –O amor do meu único filho.
-Mãe! É claro que eu te amo, mas tente entender, eu realmente não tenho tempo de vir aqui mais freqüentemente. –ele respondeu –E pare de me dar bronca em frente às visitas. –reclamou, vendo Gina e Evelyn os olharem de modo estranho –Poderia mostrar a casa para Evelyn, enquanto trato de negócios com a Weasley?
-Claro. Mas espero que sejam negócios profissionais, Draco...
-Mas é claro que são profissionais! –Gina exclamou –Não se preocupe, Sra. Malfoy, o seu filho não faz o meu tipo. –respondeu seca, mas com um sorriso polido.
-Siga-me, Weasley. Iremos até o meu escritório. –o loiro informou e começou a andar, Gina o seguiu.
Pouco depois chegaram a uma porta:
-Alorromora. –o Malfoy disse, abrindo a porta e entraram no escritório –Sente-se, Weasley. –apontando não a cadeira na escrivaninha, mas sim uma espécie de divã.
Gina sentou-se, quieta.
-Aceita algo para beber?
-Sim, obrigada.
Draco encheu até a metade dois copos com vodka e entregou a ela:
-Não ligue para a minha, mãe. Essa tal menopausa está deixando-a muito sentimental.
-Hum... –a ruiva murmurou e bebericou um pouco de sua bebida.
“Devo estar louca, bebendo logo de manhã..” ela pensou.
Draco sentou-se ao lado dela e Gina afastou-se ligeiramente:
-Vou dizer o que irei fazer. –Draco disse –Vou marcar um jantar essa noite num restaurante. Assim você poderá fazer as perguntas necessárias ao meu pai sem a interrupção da minha mãe ou da Eve. Está de acordo? Você mesma disse que teria que falar com ele.
-Tudo bem. –Gina respondeu –Você vai junto?
-Vou, quero ver você na prática. –ele respondeu, tomando um gole de sua bebida.
-Já me viu na prática, Malfoy. Eu estava acusando você, lembra-se?
Draco tomou mais um gole e então pousou seu copo na mesinha:
-Como poderia esquecer? –perguntou, lançando um olhar penetrante e ilegível -Tem medo que eu vá? Ou será que tem medo de mim? Eu não vou fazer nada de mal com você, mas não posso garantir que o meu pai não vá.
Gina engoliu em seco:
-Ele não se atreveria, eu vim até aqui para ajudá-lo...
-É, sabemos disso. –disse lenta e arrastadamente, o que Gina odiava -Você me acha imprevisível? –ele perguntou e Gina fez que sim –O meu pai é mais, eu nunca consegui entendê-lo completamente. Veja só isso dos impostos sonegados, eu não pensaria que ele fosse fazer isso...
-Tudo bem, Malfoy. Já me convenceu, é melhor que você vá junto.
-Ótimo, que bom que estamos nos entendendo, Weasley. –e sorriu afavelmente, pegando o celular e discando –Vou ligar pra ele agora.
Gina pousou seu copo, mal tocado, ao lado do copo Malfoy e observou-o falando ao telefone:
-Pai. Eu estou aqui em Marselha, na nossa casa. Sim, entendo que esteja ocupado e preocupado com o que irão fazer com isso. Sim, é claro. Eu trouxe a Weasley. Sim, ela mesma. Eu sei o que estou fazendo, ela vai te tirar dessa. Não. Nem pense nisso, Lúcio. Já pensei em tudo. Podemos tratar disso no seu restaurante, pai. Hoje às 8h da noite. Sim. Não se atrase. Até lá. –e desligou.
-Ele disse que tudo bem.
-Mas seu pai não mora aqui? Por que você disse até lá? Ele não vai chegar antes aqui?
-Não, hoje ele está muito ocupado. –o loiro respondeu –Agora se me dá licença, eu preciso assinar uma papelada. Sinta-se à vontade. –e apontou para a porta, que se abriu.
Gina se tocou de que ele estava querendo ficar sozinho e se levantou, dirigindo-se até a porta.
“Mas sozinho pra fazer o quê? Será que irá mesmo assinar papéis? E se for, será que são coisas ilegais?” não pôde deixar de se perguntar, mas não teve alternativa a não ser se retirar.
Ao ver Gina fechar a porta atrás de si, Draco novamente pegou o celular e discou:
-Alô. É o Draco de novo. Esquece o que eu disse sobre o restaurante e não apareça por aqui antes das 8h da noite. Sem mas nenhum. É claro que vou resolver, não precisa se preocupar. Amanhã de manhã, a Weasley pode falar com você. Não quero saber se você tem reunião marcada, desmarque, falte. Ou é do jeito que eu quero ou eu vou deixar você ir pra cadeia. Sim, eu seria. Sim, com o meu próprio pai. Não se faça de sentimental, Lúcio, isso é pra minha mãe. Não vou não, eu realmente não mandei que você sonegasse impostos. Se eles usarem veritasserum em mim, o que eu sugeriria, eu estaria limpo. Sim, eu sei que sou foda. Você não tem alternativa, pai. Se não for do meu jeito, não...Sabia que iria ceder. Lembre-se que não quero ver nem a sua sombra por aqui antes das 8h da noite. Fui claro? Ótimo. –e desligou.
“Consegui. Uma oportunidade de passar um tempo à sós com a Weasley...Mas o problema é: O que eu vou fazer com esse tempo?”

***

Gina dava um sorriso vitorioso e colocava suas orelhas extensivas de volta no bolso.
“Como o Malfoy é idiota! Nem colocou um feitiço de imperturbabilidade na porta. O que ele pretende com isso? Será que ainda vai me levar ao restaurante ou dirá que foi cancelado? Conhecendo o Malfoy, vai me levar. Eu tinha acabado de sair e ele ligou cancelando tudo. É óbvio que ele quer se encontrar à sós comigo. Mas por quê? Até agora ele não tentou me seduzir. Será que tentará hoje à noite? Não, ele sabe que eu pediria demissão. Eu nunca irei pra cama com o Malfoy!!! Me recuso terminantemente a fazer isso. Tenho que tirar informações dele de outro modo. E se eu fingisse...” sua linha de pensamentos foi quebrada por uma voz.
-Mademoiselle Weasley. –era Henri, o lindo mordomo –Está perdida?
-Oh, Monsieur Le Blanc, pode me chamar de Virginia. –falou, sorrindo e pensando rápido –Sim, estou perdida.
-Me chame de Henri, Virginia. Onde gostaria de ir? Eu posso levá-la.
“Se bem que eu gostaria é de levar pra minha cama. Tenho que arrumar uma forma de fazer isso. Afinal, o Malfoy pode não saber, mas eu já comi várias das funcionárias que ele trouxe pra cá. Às vezes penso que esse é o melhor emprego do mundo.” Pensou, sorrindo internamente.
-Onde a minha sobrinha está? Eu gostaria de ir até ela.
“Ah, não. Aquela garota chata! O que eu fiz de mal pra ela? Geralmente as crianças gostam de mim.” Ele pensou com raiva, mas abriu um sorriso encantador para Gina.
-A sua sobrinha está com a Sra. Narcisa. Elas estão na sala de estar. Vou levá-la até lá, Virginia.
“Como ele é simpático, lindo e prestativo. Conseguiu se manter assim mesmo trabalhando para os Malfoy, devo reconhecer que é uma árdua tarefa.” Gina pensou.
-Há quanto tempo trabalha aqui, Henri?
-Dois anos. É o melhor emprego em que já trabalhei.
-É mesmo?
-Sim. Eu trabalhava no Ministério da Magia, mas larguei lá, não gostei do ambiente de trabalho.
“Na verdade fui demitido. Foi muito azar o chefe do departamento me pegar no ato com a filha dele.”
-Onde estudou?
-Beauxbatons.
-Hum...Fleur Delacour é minha cunhada, a conhece? A Eve é filha dela?
“E como não conheceria? Aquela veela era o meu sonho de consumo nos meus tempos de escola, mas só queria saber de caras mais velhos. Disse que eu era muito bonito, mas muito ‘enfant’...Isso porque eu sou 1 ano mais novo que ela. Mas eu não acredito que aquela pestinha é filha daquela beldade. Bem, pelo menos o gênio ela puxou.”
-Sim. Ela é um ano mais velha que eu.
“Hum...ele não comentou nada de achar a Fleur bonita. Será que finalmente existe um homem que vê o quanto ela é superficial? Se bem que ela melhorou, mas quando ele a conheceu, ela era MUITO chata!”
-E você trabalha aqui de dia e volta à noite para sua casa?
-Sou órfão. Meus pais morreram na época D’aquele-que-não-deve-ser-nomeado. Eu moro aqui. Hum...desculpe, perguntar. Mas você não seria aquela advobruxa que estava acusando o Sr. Malfoy de um monte de coisas?
“Nossa, coitado, é órfão. Assim como o Harry. E é tão educado.”
-Sim, eu estava. –confessou -Mas me enganei, o Sr. Malfoy é inocente. –a ruiva mentiu.
“Hum...Aposto que foi pra cama com ele, Virginia. Se ela deu pro Malfoy, provavelmente vai dar pra mim também, é só eu impressioná-la com o papo de bom moço.”
-É verdade que você e o Harry Potter romperam?
-Sim. Vocês aqui na França são bem informados, não?
-Sabemos o que a imprensa divulga. Mas sabe como a imprensa é sensacionalista, não? Agora está solteira?
“Ele tá interessado...Lógico, homem só é atencioso quando tá interessado. Tá bom, o Harry e o Olívio não são assim. Quem sabe ele só está curioso.”
-Sim. Estou casada com o meu trabalho apenas.
-O Sr. Malfoy tem sorte de ter uma advobruxa tão talentosa trabalhando pra ele.
“Na verdade ele tem sorte mais sorte ainda de transar com ela.”
-Obrigada, eu apenas faço o que posso.
“E aposto que o que você pode não é pouco não...”
-Chegamos, Virginia. –Henri anunciou.
-Foi um prazer conversar com você, Henri.
-Igualmente. Com licença. –e se retirou.
Gina entrou timidamente. Narcisa parecia mostrar um livro para Eve e então avistou Gina:
-Olá novamente, Virgínia. Eu estou mostrando um álbum de fotografias para a sua sobrinha. Não gostaria de ver?
-É do Tio Draco! –Eve exclamou.
-Ela chama muita gente de tio e tia. –a ruiva explicou para Narcisa e então e se sentiu curiosa –Sim, eu quero ver. –respondeu e foi se sentar com elas.
Gina descobriu que as fotos eram TODAS de Draco. Havia fotos desde que ele era apenas um bebê, até a idade adulta. Achou-o um bebê muito lindo e simpático. E uma criança mimada e travessa. Um adolescente arrogante que a cada foto ficava mais bonito. Até finalmente se transformar num adulto atraente, sedutor, perigoso, rico, com nariz empinado e metido a dono do mundo.
Ela se culpava por achá-lo atraente e sedutor, mas era verdade. Quanto ao perigoso, rico, com nariz empinado e metido a dono do mundo...ela não podia culpá-lo. Ser um Malfoy significava isso. Do mesmo modo que ser um Weasley significava ser honesto, digno, ter caráter, ser teimoso e ter cabeça quente.
“Mas o Percy fugiu à regra e eu também ando fugindo...Mas eu só quero fazer justiça. Será que fiz a coisa certa ao me aproximar do Malfoy? Não posso me culpar, eu sou teimosa, quero ir até o fim.” Pensou, tentando achar uma justificativa de que o que estava fazendo era o certo.

***

A tarde passou num piscar de olhos e logo chegou a noite. Gina decidiu que estaria deslumbrante.
“Não pelo Malfoy!” teimava em pensar “Mas por mim mesma, desde que o Harry foi embora eu não tenho sido tão vaidosa. Preciso voltar a cuidar mais de mim. Além do mais, quem sabe eu descolo umas informações preciosas.”
Tomou um banho demorado. Ao sair do banheiro e entrar no quarto, Eve assistia televisão. A garota perguntou:
-Aonde vai tão cheirosa, Tia Gina?
-Você gosta de assistir tv, hein, Evelyn? Chega a ser um vício.
-Tia Gina! Responde!
Gina suspirou, enquanto procurava em sua mala o que vestir.
“Deixe-me ver. O Malfoy provavelmente vai me levar a um lugar chique. Então acho que usarei um vestido.”
-Eu vou sair, Eve. Um jantar de negócios?
-Sozinha? Posso ir junto? –perguntou, olhando esperançosamente para Gina.
A ruiva mordeu o lábio inferior ao virar-se e ver a cara de “cão-sem-dono” que a sobrinha fazia:
-Desculpa, minha lindinha, mas a titia não pode te levar. É assunto de adultos, o meu trabalho. Tudo bem? Fica com a Sra. Malfoy, ela parece que gostou de você.
-A Tia Narcisa é muito legal!
“A Eve tem sérios problemas mentais...Não é possível. De outra forma, como alguém poderia gostar tanto de Malfoys?” Virgínia perguntou-se.
Virou-se de novo para sua mala e escolheu. Um vestido preto tomara-que-caia que ia até um palmo abaixo mais ou menos da metade de suas coxas. Calçou uma sandália plataforma e resolveu deixar os cabelos soltos. A maquiagem era apenas um lápis preto, para realçar seus olhos e um gloss transparente nos lábios. Colocou uma gargantilha de strass, que combinava com seus brincos e com detalhes em seu vestido. Por cima colocou um sobretudo preto e fechou-o.
“Efeito surpresa. Não dá pra saber o que estou vestindo por baixo.”
-Chata! –Evelyn exclamou e Gina olhou espantada –Era tão legal aquele vestido, Tia Gina! –ela explicou.
-Querida, você ainda é muito nova pra falar sobre roupas. Vem, que eu te levo até a Sra. Malfoy.
A ruiva pegou uma bolsa preta de couro e saiu do quarto levando Eve pela mão.
-Sabe onde a Sra. Malfoy está? –Gina perguntou ao encontrar Henri pelo caminho.
“Nossa! Como ela é linda!” ele pensou.
-Hum...Eu não sei, mas posso ajudar a sua sobrinha a encontrá-la, não é isso o que quer? O Sr. Malfoy a está esperando na entrada da casa.
-Eu não quero ir com ele, Tia Gina! –Evelyn reclamou.
-Ora, Eve, seja uma boa menininha. O Henri é legal. –e Evelyn fez um muxoxo em discordância –Por favor, Evelyn. Faz isso por mim, tá?
Relutantemente a garota fez que sim e seguiu Henri. Gina desceu as escadas e foi até a entrada. Postado em frente à porta estava Draco, de terno, todo de preto. Ela aproximou-se dele:
-Desculpe a demora, a Eve...
-Não faz mal. –respondeu e beijou a mão dela e Gina sentiu as faces esquentarem ligeiramente –Belo sobretudo.
Draco abriu a porta e conduziu-a pra fora. A limusine os esperava depois das escadas de mármore. O vento soprava e com isso, conseguiam sentir o cheiro um do outro.
“Os cabelos da Weasley tem um cheiro delicioso.” Ele pensou e sequer imaginou que fora esse fora o propósito de Gina manter os cabelos soltos após lavá-los.
No entanto, os pensamentos da ruiva não estavam nada atrás dos de Draco. Virginia se sentia inebriada pelo perfume dele, um cheiro tão envolvente que fazia com que quisesse agarrá-lo.
“Epa! Alto lá! Agarrar não! Eu não me rebaixaria a esse ponto...Nem pensar. E daí que o perfume do Malfoy é tão bom? Mantenha a cabeça no lugar, Virginia.” Tentava se policiar.
-Não sabia que também tinha uma limusine aqui na França. –comentou, pra ver se afastava pensamentos indesejáveis de sua mente.
-Agora sabe. –ele respondeu, entrando na limusine seguido da ruiva –Bonsoir, Pierre. –o loiro deu boa noite para o motorista, que parecia ter uns 50 anos e era simpático.
-Bonsoir, Monsieur Malfoy. –ele respondeu –Comment allez-vous? –perguntou.
-Bien, merci. Le Noblesse, Pierre, s’il vous plaît. –o loiro disse para onde queria ir e apertou o botão para subir a divisória entre o motorista e eles.
-Então esse é o nome do restaurante, Le Noblesse ? –a ruiva perguntou.
-Oui, Mademoiselle, Weasley. –Draco respondeu, fazendo um gesto afirmativo.
-Será que você poderia parar de falar em francês? –ela perguntou.
-Porquoi? –perguntou, provocando-a.
Gina respirou fundo. Não, não iria se descontrolar com o Malfoy, não naquela noite ou poderia arruinar suas chances de fazê-lo abrir o bico nem que fosse um pouquinho.
Ela sorriu simpaticamente ao responder:
-Não que eu não goste de francês, Malfoy. Longe disso. Mas eu me sinto mais confortável conversando na minha língua mãe. –e era verdade -Se importa?-perguntou, olhando profundamente nos olhos dele.
“Malditos olhos!” praguejou mentalmente, pois estava ciente de que mesmo relutantemente estava a admirar aquele belo par de orbes azul gelo.
Draco engoliu em seco ao sentir o profundo olhar da Weasley sobre si, pois percebeu que não era o usual olhar frio e indiferente que ela sempre lhe reservava. Tinha algo diferente, mas ele não sabia dizer o que e também não sabia de gostava ou não disso.
-Patriota, não, Weasley? –e ela sorriu -Como quiser. –respondeu por fim.
“O que essa mulher está planejando?” perguntou-se.
O cérebro da Weasley trabalhava freneticamente, pensando no movimento seguinte e descobriu por onde começaria:
-E então, Malfoy? –perguntou e Draco fez uma cara de “Então o quê?” –O que fez depois que deixou Hogwarts? –acrescentou, mas não era o tom acusatório que costumava usar com ele.
“Hum...Aí tem coisa.” Foi o que passou pala mente do Malfoy.
-Por que é tão importante saber sobre o meu passado, Weasley? –perguntou na defensiva -É o presente e o futuro que importam. –murmurou concisamente.
“Tentando desviar do assunto, Malfoy, eu não vou deixar.” Ela pensou e fez cara de decepcionada pra ele.
-Desculpe, Malfoy. Eu estava apenas tentando manter uma conversa civilizada com você. Queria que nos déssemos bem. –silêncio da parte dele, então continuou –Acho fundamental saber sobre o passado das pessoas próximas à nós. –e colocou a mão sobre a dele –Não acha?
Draco olhou para ela sinceramente espantado, mas logo vestiu sua máscara inexpressiva e não fez menção de tirar sua mão da dela.
“O que ela está aprontando?!? Cuidado!” sua mente avisava, mas tornara-se mais difícil pensar sobre isso ao sentir o calor e a maciez da mão dela.
-Aonde quer chegar com isso, Weasley? Eu sou o seu chefe e não lhe devo satisfações. Além do mais, quem vive de passado é museu.
Gina tirou sua mão de cima da dele e fez um gesto negativo com a cabeça:
-Não, não. Assim não dá. Eu estou aqui tentando me dar bem com você e você não deixa. Depois ainda pergunta por que sou tão rude com você. Em primeiro lugar, você é mais rude comigo. Não dá pra nos aproximarmos desse jeito. Não acha que tenho razão?
Draco viu a ruiva passar a língua provocantemente pelos lábios e novamente engoliu em seco, começando a se sentir quente.
-Se quer se aproximar de mim, pode me chamar de Draco. As pessoas próximas à mim costumam me chamar pelo primeiro nome. –ele respondeu, afrouxando a gravata.
“Isso, sinta calor. Tira esse terno, querido. Aí eu me ofereço pra segurar e checo se você não tem nenhuma arma nele.” Ela pensou ao vê-lo mexer na gravata.
-Ah...mas se eu te chamasse de Draco, as pessoas iam pensar coisas, sabe? –perguntou inocentemente –E eu não quero que elas pensem isso... –e desabotoou alguns poucos botões de seu sobretudo.
Draco mordeu o lábio inferior e sentiu o calor e o desejo crescerem dentro de si.
“Não é possível! Ela tem que estar fazendo isso de propósito! Deve querer que eu a agarre, mas eu não vou fazer isso. Não irei cooperar com ela, seja o que for que esteja planejando.” Pensou e abriu o terno, tentando espantar o calor.
-Então pode me chamar de Draco quando estivermos à sós.
-Mas então, Draco. –ela pronunciou bem o nome dele –Não seja tímido. –silêncio –Bem, já que não quer falar primeiro. Pode me perguntar sobre o meu passado.
-Hum...O que fez você querer ser auror e advobruxa?
-À vontade de zelar pela justiça.
“Tira esse terno de uma vez, Malfoy, seu idiota!” pensou, perdendo a paciência.
-É verdade que o Potter foi o seu único homem? –Draco perguntou, com um sorriso matreiro.
Gina corou furiosamente, mas logo se recompôs. Vergonha não a ajudaria no que tinha que fazer:
-Verdade. –respondeu com cara de anjo –Mas pretendo mudar isso. –disse insinuante.
-Ah, é? –Draco perguntou e ele teve que cerrar os punhos para não fazer o que seu corpo pedia.
Gina viu Draco cerrar os punhos e percebeu que ele estava se contendo.
“O imbecil me quer, mas não vai fazer nada. Não vai tirar esse terno, seu Malfoy inútil?!? Pois então eu mesma vou descobrir se você está armado.” Gina pensou odiando o modo com que descobriria.
Ela respirou fundo e o puxou pela gravata. Por um momento olharam-se nos olhos, então Gina abraçou Draco e forçou seus olhos a se encherem de água, fingindo que chorava.
-Draco...o que é que eu faço? O Harry me dei-i-xou... –Gina murmurava, fungando.
O Malfoy devolveu o abraço e passou a acariciar os cabelos rubros dela.
“Como essa Weasley é problemática!” ele pensou.
-Calma, Virginia, vai ficar tudo bem. Você tem que esquecer o Potter.
-E-eu sei...Mas eu n-não consigo! Me ajuda, Draco... –ela disse e começou a apalpá-lo, à procura de armas.
“O que a Weasley está fazendo?!?” ele perguntou ao sentir as mãos hábeis dela percorrerem o seu tronco.
-Passar a mão em mim é a sua idéia de “me ajuda, Draco”? –ele perguntou –Porque se você pensa... –ele parou quando viu que Gina afastara a cabeça de seu ombro.
Olharam-se mais uma vez. Gina realmente chorava e não sabia mais se era pela farsa ou se era de verdade. Seus olhos estavam vermelhos e sua expressão facial era de desconsolo. Sentiu-se sozinha. Carente de um gesto de carinho, de um abraço quente...De estar nos braços de alguém que lhe desse conforto. Perguntou-se o que Harry fazia naquele instante em Washington e não obteve resposta.
Algo cortou os pensamentos que Gina estava tendo sobre Harry. E esse algo era o que Draco estava fazendo. Ele estava limpando as lágrimas dela:
-Vai ficar tudo bem. Não precisa se preocupar. Vai passar. Não pode ficar sofrendo pelo Potter a vida inteira, não é mesmo? Se você precisar de alguma coisa conte comigo, está bem?
O jeito com que os dedos de Draco tocaram seu rosto e limparam suas lágrimas, foi o gesto carinhoso de que ela tanto precisava. Naquele instante não pensou que era Draco Malfoy, o líder da MMVO, a quem ela queria desesperadamente meter na cadeia, que estava a sua frente. Naquele momento não o viu como um assassino ou criminoso. Viu-o apenas como o homem que estava lhe dando conforto e dizendo que podia contar com ele. Simplesmente esquecera-se de tudo de ruim sobre Draco e perdeu-se naqueles lagos acinzentados. Então lhe subiu pelo corpo um desejo de tocá-lo e beijá-lo. Não podia fazer isso, mas a parte de si que lhe dizia isso, se encontrava adormecida. Desprovida de toda sua sensatez, ela levou seus lábios aos dele. Draco ficou mais do que surpreso.
“O que a Weasley está fazendo?” ele perguntou-se.
“...” era o que Gina pensava, ou seja, nada.
Quando seus lábios se tocaram, Draco pensou que logo a ruiva iria se afastar, mas se enganou. A língua dela pediu passagem e o Malfoy entreabriu seus lábios e correspondeu o beijo dela. Afinal, há muito era o que ele queria. Fragmentos de memória fizeram-na lembrar que aquele beijo não era o mesmo do Harry, mas ela já havia beijado alguém daquele jeito...E então caiu a ficha de que ela estava beijando o Malfoy. Não parou.
“Eu não devia estar fazendo isso! Aonde a minha consciência estava escondida até agora? Mas já que estou...ao apalpar o terno dele por fora, descobri que ele carrega algumas coisas, tenho que saber o que é.” Ela pensou e suas mão foram para dentro do terno de Draco.
“Como a Weasley gosta de apalpar...Eu sei que sou gostoso, mas assim eu vou acabar perdendo o controle sobre mim mesmo. Eu sei que ela não iria tão longe comigo...e também sei que aí tem coisa.” Pensou.
O Malfoy logo percebeu que Gina procurava algo, mas deu corda para ela, não queria parar de beijá-la assim tão cedo, puxou-a mais ainda contra si.
Virginia descobriu que Draco carregava sua varinha, uma adaga e uma arma trouxa. Então desceu suas mãos para as calças dele, mais precisamente para os bolsos.
Draco tentava se controlar, mas estava cada vez mais impossível. Ele queria arrancar aquele sobretudo dela naquele instante, mas tinha receio do que aconteceria se fizesse isso. Por sua vez, Gina descobriu que em um dos bolsos da calça, o loiro guardava um canivete multiuso. Como estava com os olhos fechados, ainda beijando-o, Gina encostou sem querer no membro dele, ao tirar sua mão do bolso. Percebeu que estava ereto e duro. Sentiu um leve arrepio e Draco deu um leve gemido e parou de beijá-la.
-Será que encontrou o que procurava, Virginia? –sussurrou ao ouvido dela e fez a ruiva se arrepiar novamente.
Ela corou ao entender o duplo sentido:
-Desculpe, Malfoy...-e ele ergueu a sobrancelha –Draco. –Gina corrigiu –E-eu não sei o que me deu...Eu me sinto tão sozinha às vezes... –e olhou para o outro lado.
Draco virou o rosto dela de volta e fez com que ela o encarasse:
-Sabe muito bem que sou casado. Sabe muito bem que sou seu chefe. Sabe muito bem que não gostaria de se envolver desse jeito comigo.
“E sei que sabe também que sou o líder da MMVO.” Acrescentou mentalmente.
-Hum... –Gina resignou-se –Eu vou entender se você me demitir, seria justa causa. Isso ficou parecendo assédio sexual. –ela murmurou envergonhada.
-Quem aqui falou em demissão? –o Malfoy perguntou –Em parte você estava meio desequilibrada emocionalmente. Afinal, você e o Potter namoraram por anos, é normal que se sinta assim. Mas como eu disse antes, você precisa esquecer o Potter se não quiser continuar sofrendo. E também mantenho a minha oferta. Se precisar de alguma coisa, qualquer coisa, não hesite em me pedir. Quero que conte comigo.
“Isso mesmo, Weasley. Conte comigo, confie em mim. Depois que eu tiver te usado o suficiente, eu te descarto.” Ele pensou maquiavelicamente, mas o que se via em seu rosto era uma expressão solícita.
Gina não sabia o que pensar, então não pensou, apenas respondeu:
-Tudo bem, Malfoy.
-Draco, Virginia.
-Draco.
-Não vai me dizer o que procurava enquanto me apalpava? –cobrou, fingindo não saber qual era a intenção dela –Eu posso ter o ego elevado, mas não sou burro, sabia?
-Por que você anda armado? A varinha não é o suficiente?
“Como se eu quisesse arranjar problemas com o Ministério da Magia todas às vezes que me ‘acerto’ com trouxas ou em lugares onde têm trouxas.” Pensou revirando os olhos.
-Sou um homem precavido, Virginia. Nunca se sabe quanta proteção será necessária. Mas calma, eu não trouxe só dessa vez. Eu não vou te matar. –“Pelo menos não agora” acrescentou mentalmente –Eu costumo andar armado.
Gina não respondeu, evitou encará-lo, mas não pôde igualmente evitar os pensamentos que vieram à sua mente. Relutantemente, uma parcela de si aceitava que gostara de beijar o Malfoy. Mas estava louca! Nem uma ínfima parcela deveria ter gostado de fazer isso. O Malfoy era um criminoso, um assassino, foi um agente duplo na época de Voldemort. Era alguém egoísta que jogava apenas para o seu próprio bem. Ela não podia ter gostado de beijar alguém assim, que além do mais, era um massacrador de corações.
“Nunca! Nunca mais em minha vida farei isso! Nunca mais devo beijar Draco Malfoy!” ela prometeu a si mesma.
Draco sentia-se meio que satisfeito. Sentiria-se mais se tivesse ido até o fim, mas sabia que precisava ter paciência quando se tratava da Weasley. Recordava-se agora do beijo. As línguas se explorando mutuamente, numa dança sensual. A maior parte do tempo, ele quem comandara, mas ela correspondera. Tão ávida quanto ele. Cerrava os punhos para se conter, pois seu desejo de possuí-la estava ultrapassando a raia do suportável.
“Nunca mais eu beijo a Weasley se não puder ir até o fim.” Draco prometeu a si mesmo “Ela não poder me deixar assim! Eu ainda pego essa mulher.”
Logo depois, chegaram ao restaurante. Gina não pensava mais que seria uma boa idéia ficar na companhia do Malfoy, nem que fosse para conseguir algumas informações importantes. Ela se sentia confusa sobre aquele beijo. Teria sido por carência ou parte de seu plano para descobrir as armas que Draco carregava? Ela não sabia mais o que pensar.
O Le Noblesse era lindo. Seu sobretudo foi deixado com um funcionário à porta. A decoração do lugar era romântica, nas cores branco e vinho. Gina olhava encantada:
-Gostou do restaurante do meu pai? –o loiro perguntou pra ela.
-Sim. –ela admitiu, apesar de não considerar que aquele lugar tinha a cara de Lúcio Malfoy, talvez Narcisa tivesse decorado.
Draco era tratado com toda deferência pelos funcionários e até mesmo pelos clientes. O restaurante era claramente freqüentado apenas por aqueles que podiam pagar por esse luxo. Draco e Gina foram levá-los pro um maître atencioso para o piso superior. Se possível era mais requintado do que embaixo. A mesa em que se sentaram era ao lado de um vidro que dava uma clara visão do mar. A paisagem podia ser vista até mesmo de noite, pois as luzes do lado de fora do restaurante e da cidade eram numerosas. Draco dispensou o maître, dizendo que pediria depois o jantar.
-Vamos esperar o meu pai. –o loiro explicou para Gina.
“Que eu sei que não virá.” A ruiva pensou, mas nada comentou.
Durante o tempo em que estiveram lá em cima, esperando supostamente a chegada de Lúcio, Gina foi apresentada a diversas pessoas influentes e famosas, que vieram apresentar seus cumprimentos a Draco. Eram executivos, atores, um advobruxo, alguns funcionários de alto escalão do Ministério da Magia Francês. Era o poder prestando tributo ao poder. Virginia começou a ter um vislumbre de quanta influência aquele homem dispunha.
Draco pediu dois drinques após algum tempo.
-Eu não entendo. O meu pai não costuma se atrasar, Virginia. –e parecia estar falando a verdade –O que será que aconteceu?
“Cínico!” ela não pôde deixar de pensar.
-Está preocupado? –Gina perguntou, tentando deixar de lado a rispidez que gostaria de por em seu tom ao se dirigir à ele.
-De certa forma. Mas meu pai já é bem crescidinho e sabe se virar sozinho. Bem, nem tanto. Já que ocasionalmente ele precisa de mim.
Tomaram os drinques em silêncio. Virginia podia sentir os olhos de Draco Malfoy fixados nela e sentiu-se constrangida. Ele não dizia nada quando seus olhos se encontravam, tampouco os desviava da Weasley. Porém havia algo de fascinante naqueles misteriosos silêncios.
Draco Malfoy era um homem de silêncios profundos. Sabia muito bem se utilizar de palavras, mas era nesses momentos de silêncio em que ele arquitetava tudo o que deveria falar. Usava as palavras como armas de manipulação. Procurava dizer as coisas certas nos momentos certos e assim conseguir o que cobiçava. Se houvesse alguém que admirava o poder que as palavras tinham, era ele. Por isso dava a maior importância à reflexão de possíveis diálogos e seus conseqüentes resultados.
-Nunca me viu? –perguntou secamente, após algum tempo, ele estava deixando-a nervosa com aquele silêncio e o olhar fixo e penetrante.
Um pequeno sorriso surgiu nos lábios do Malfoy. Draco Malfoy era um homem que estava acostumado a conseguir o que queria; e quanto mais Gina o repelia, mais ele estava determinado a conquistá-la. Agora, sentado à frente dela, Draco contemplou-a e pensou:
“Um dia ainda vai me pertencer, querida...totalmente.”
-Em que está pensando? –Gina fez uma nova pergunta, vendo que ele não respondera a anterior.
Draco presenteou a Weasley com um sorriso descontraído, e ela imediatamente se arrependeu da pergunta. Ao ver que Gina tinha ficado constrangida, o loiro resolveu chamar o garçom e então pediu comida pelos dois:
-Acho que o meu pai não vem mais. –ele comentou, após o garçom se afastar.
-Mesmo? Eu tenho certeza. E agora?
-Conversará com ele amanhã após o café-da-manhã. –informou.
Gina fez que sim. Descobriu-se a estudá-lo. Era um homem atraente, de uma maneira perigosa e excitante. Ela não sabia explicar porque, mas estar em companhia daquele homem fazia-a sentir-se como uma mulher. Talvez fosse pela maneira com que os olhos, no momento muito azuis, a contemplavam, de maneira calculada, como se temessem revelar muita coisa. Virgínia compreendeu que fazia muito tempo que não pensava em si como mulher. Desde o dia em que perdera Harry. “É preciso um homem pra fazer uma mulher sentir-se fêmea”, pensou Gina “para fazê-la sentir-se bela, para fazê-la sentir-se desejada.”
Ao ver as olhadelas discretas que o Malfoy dava para o seu decote e vê-lo passar a língua pelos lábios ocasionalmente, sentiu-se grata por não ser capaz de ler os pensamentos que se passavam na mente dele.
A ruiva estivera tão ocupada em admirar Draco e pensar em como penetrar sua carapaça, que se surpreendeu ao ouvir música clássica:
-De onde vem essa música? –indagou curiosa –Começaram a tocar do nada.
-Faz tempo que está tocando. Vem do piso inferior. Não tinha percebido antes?
Balançou a cabeça negativamente e sentiu-se idiota por ter estado tão distraída, mas não teve muito tempo para sentir-se idiota, pois logo a comida chegou. Estava deliciosa, a ruiva tinha que admitir. Após terminarem a refeição, Gina disse:
-Pronto. Eu já fiz papel de idiota esperando o seu pai e jantamos. Já podemos ir embora?
-Não, ainda não. –e chamou o maître –Queremos duas porções de manjar de papaya com cassis.
-Mais alguma coisa, Sr. Malfoy?
Draco fez que não e o maître se retirou:
-Verá como é uma delícia.
-Eu não estou a fim de ficar mais um segundo nesse lugar.
Ele examinou-a:
-Como você mente mal, Virgínia.
Ela suspirou:
-Foi uma noite inútil.
-Isso não é verdade...
Após comerem a sobremesa, se dirigiram para fora do restaurante. A limusine os esperava.
-Espere aqui um pouco. –Draco disse para Virginia e foi até o motorista.
Ela observou-os conversarem por alguns instantes e então Draco voltar e abrir pessoalmente a porta da limusine para que ela entrasse. Já devidamente acomodados no veículo, a Weasley não se atreveu a olhar para o Malfoy. Não depois de beijá-lo exatamente naquela limusine.
-Está muito quieta, Virginia. –comentou em tom casual -O que houve? O gato comeu sua língua?
Ela encarou-o. Apesar do semblante inexpressivo, podia jurar que havia um brilho de divertimento nos olhos azuis.
-Sabia que você é um piadista, Malfoy? Hum...Draco? Eu não conhecia esse seu lado humorístico. –respondeu sarcástica.
-Ainda tem muita coisa que você não sabe de mim, Virginia. –Draco disse, mas se arrependeu quase no mesmo momento.
-O quê, por exemplo? –ela perguntou, aproveitando a deixa.
-Esquece isso. O céu não está lindo? –tentou mudar de assunto.
-Tão misterioso quanto você, Draco. Por que não me deixa saber mais sobre você? –indagou tristemente –Não confia em mim? –arriscou perguntar.
Draco encarou-a, ela estava parecendo chateada com a atitude dele. Ainda assim, não hesitou em responder:
-Não. –curto e seco, pra ver se ela mudava de assunto ou ficava quieta.
Mas isso não aconteceu:
-Olha... –e fez cara de compreensiva –Você tem toda razão de ficar com um pé atrás comigo, já que o eu envolvi em todo aquele episódio vergonhoso, mas eu sei que errei.
“É claro que errei, não posso concentrar minhas provas em uma testemunha. Preciso de outros tipos de provas também. Não pretendo cometer o mesmo erro por duas vezes.” Pensou e Draco nada disse, então continuou:
-Não acredita que as pessoas merecem uma segunda chance?
-Não é isso, Virginia. Eu não confio em ninguém.
“Mas eu ainda vou fazer você confiar em mim, Malfoy.” Resolveu.
-E por que isso, Draco? –perguntou com real interesse na resposta dele.
Ele suspirou:
-Porque assim é melhor. Não se confia, não se torna dependente, não se sofre.
“Apenas se pensa em vingança quando alguém trai a sua ‘suposta’ confiança.” O loiro pensou.
Ela então olhou para janela e subitamente percebeu que o caminho que estavam tomando não era o mesmo de onde tinham vindo.
-Pra onde estamos indo, Draco? –perguntou, tentando não soar preocupada.
-Então já percebeu. –ele comentou –Eu quero te mostrar um lugar. –revelou.
-Que tipo de lugar? –insistiu em saber.
-O tipo de lugar que acho que você vai gostar. Não posso contar, Virgínia. Isso estragaria a surpresa.
-Devo dizer que não gosto de surpresas.
-E por que não?
-Porque nem sempre elas são boas e porque eu não posso saber o que é antes de acontecer.
-Hum...Mas vai ser uma boa surpresa. –ele disse veemente –Confie em mim.
-Por que eu deveria? Você não confia em mim. –ela disse inquisidoramente, encarando-o.
“Boa, Weasley. Como você gosta de jogar as pessoas contra seus próprios argumentos...” Ele pensou.
-Tudo bem, Virgínia. Não confie, se assim quiser. Mas do mesmo modo vamos pra lá.
-Mas...vai ficar tarde, a Eve precisa dormir. –tentou achar uma desculpa.
-A minha mãe está se dando muito bem com ela. Se sente sozinha, o meu pai sempre está ocupado.
-Deve ser assim que a Parvati se sente, não?
Ele estreitou os olhos, era sempre delicado falar de sua mulher:
-A Parvati tem por companhia os muitos presentes que eu dou pra ela. Além do mais, ela tem amigas com que pode conversar e sair.
-Você não tem mesmo o mínimo tato, não é, Draco? Uma mulher espera que seu marido seja atencioso, carinhoso. Espera que lhe dê amor. Demonstrado em gestos e palavras e não somente em presentes.
“Ah, a Weasley é a única que tem coragem suficiente para me criticar. Aff...que mulher decidida.”
-Bem se vê que você não conhece a Parvati. –ele disse calmamente.
-E bem se vê que você não conhece a mente das mulheres. Pode conhecer como ninguém o corpo, mas não como pensamos. –falou convicta.
-Adoro conversar com você, Virgínia. –ele confessou.
A pose de Gina desmoronou, mostrando o quanto ela estava confusa pelo comentário dele:
-Por quê? –perguntou após alguns segundos.
-Porque você é a única que me contradiz. Podemos ter um verdadeiro diálogo, já que argumentamos. A maioria das pessoas com que falo concordam comigo em tudo. De vez em quando é muito chato, uma espécie de monólogo.
-Não sabia que se sentia assim. –ela murmurou –Mas pode contar comigo pra te contradizer, é um prazer. –e sorriu –Eu não estou acostumada a não dizer para as pessoas quando penso que elas estão erradas. Por isso sou advobruxa. Tomo um partido e argumento até todos estarem convencidos de que estou certa.
“Ela é esperta e inteligente. Um grande trunfo, não só para a M Corporation, mas também para os meus outros negócios. É uma questão de eu aprender a manipulá-la a favor dos meus interesses.” Pensou, sorrindo agradavelmente para ela.
-Tenho certeza que será uma das minhas melhores funcionárias, se não a melhor. Eu acredito no que você diz. Quando se trata de advobruxia, você é imbatível.
-Quase. –ela murmurou, com um tom de mágoa em sua voz e em seus olhos.
Draco percebeu isso.
-Você só perdeu uma vez, não vai mais perder. Eu garanto. –disse com uma convicção incrível.
-Como pode saber? –ela perguntou, com uma expressão desdenhosa.
-Eu não costumo errar. –respondeu calmamente e com um ar arrogante que fez a ruiva ter ganas de esganar o Malfoy.
Respirou fundo. A última coisa que queria era se descontrolar na frente dele e parecer desequilibrada. Permaneceu quieta e pouco depois a limusine parou:
-É aqui. –Draco anunciou –Vamos descer.
Saíram e o motorista deu partida no carro:
-Hey! O seu motorista está indo embora, não vai fazer nada? –ela perguntou abismada–Como iremos voltar?
-Calma, Virginia. Eu disse para ele fazer isso. Podemos voltar aparatando.
Gina sentia-se grata por ter a bolsa junto a si, mas...
-Eu deixei o meu sobretudo no carro.
-Está com frio? –perguntou –Eu posso emprestar o meu paletó.
O vento estava um pouco frio, mas não fazia mal. O seu orgulho era maior que a temperatura.
-Não é necessário. –ela disse –Nem está tão frio assim. Por que me trouxe aqui?
-Olhe bem.
Ela olhou. Só agora percebia que estavam numa espécie de calçadão e mais à frente estendia-se a praia.
-Eu não entendo. A Inglaterra é cercada por mar. Eu já vi o mar.
-Já andou pela praia à noite? –o loiro perguntou.
-Bem, não. Mas o que...
-Então vamos. –ele disse e estava tirando os sapatos e meias.
-Andar na praia? Mas por quê?
-Você realmente precisa de uma resposta para todas as suas perguntas?
Ela sorriu:
-Sou advobruxa, lembra-se? Faço perguntas e exijo respostas convincentes.
-Tire as sandálias, Virginia. Sem mas nenhum. E se precisa mesmo saber...andar de noite na praia é bom, é relaxante.
A ruiva deu um suspiro cansado:
-Tá bom. –e tirou as sandálias –Vamos ver se está certo mesmo.
Eles se encaminharam para a areia fofa e fria. Draco foi para a direita e Gina então o seguiu. O loiro parecia estar pensando sobre algo importante, mas ela não queria ficar em silêncio. Aquele lugar estava praticamente deserto e as poucas pessoas que por ali se encontravam eram casais, sentados na areia, aos beijos, provavelmente turistas.
-É agradável. –ela assumiu e ele deu um pequeno sorriso.
-Gosta do mar?
-Depende do meu humor. –respondeu.
Draco parou abruptamente de andar e sentou-se na areia, em seguida puxando Gina, para que se sentasse ao seu lado. Ficaram observando o céu, que se encontrava estrelado:
-Fale o nome de algum animal ou objeto.
-Hum...uma flecha.
-Ora, isto é muito fácil. –ele disse –Sente-se na minha frente.
-O quê? –perguntou, surpresa.
-Faça o que estou dizendo, Virginia. É legal, vai logo.
Ainda meio ressabiada, Gina fez o que ele estava pedindo.
Ele então pegou a mão da ruiva e fez o dedo dela indicar um formato de flecha, formado por estrelas:
-Que legal! –Gina exclamou –Mas duvido que dê certo pra outras coisas. Que tal um pentágono?
Draco esquadrinhou o céu por alguns momentos e então ergueu a mão da ruiva mais uma vez, desenhando um pentágono.
-Eu vou te derrotar. Uma cruz.
-Fácil. –e em poucos segundos, já mostrava à ela.
-Ah, não. É impossível isso. Duvido um peixe.
Ele olhou pra cima e ficou procurando:
-Você não vai achar. –a ruiva disse após alguns minutos.
O Malfoy não desistiu e pouco de pois falou:
-Achei. Veja só. –e desenhou o peixe com o dedo dela.
-É assim? Uma borboleta. Duvido que consiga uma borboleta.
Draco mais uma vez estava olhando para o céu e estava mesmo muito difícil achar uma borboleta. Não se deu por vencido. Após cerca de meia hora, em que Gina já dissera no mínimo uns dez “Desista!”, ele encontrou e deu um sorriso vitorioso. Pegou mais uma vez a mão dela:
-Aí está a sua borboleta.
-Como é que você consegue? –ela perguntou.
-É uma questão de paciência, determinação e imaginação.
-Já teve algo que não conseguiu achar?
-Sim. Coisas muito complicadas.
-Como o quê?
-Já nadou no mar à noite? –ele mudou de assunto.
-Hum...Não, eu tenho medo. É muito escuro.
Ele levantou e a puxou pela mão. Em seguida, pegou-a no colo:
-O que está fazendo?!? Me ponha no chão já!
Draco foi andando com ela em direção ao mar:
-Vai ser divertido.
-Não, Malfoy. Por favor! Eu não nado muito bem. E se eu me afogar?!?
-Eu faço respiração boca-a-boca. –respondeu despreocupadamente.
-Me solta agora! Ou então eu vou gritar! –ela ameaçou e a água já estava pela cintura do loiro.
-Tudo bem, você que pediu. –ele disse e soltou-a.
Gina caiu na água. Por vários segundos, ela não retornava à superfície.
“A idiota da Weasley não pode ter se afogado com essa profundidade.” Pensou, apesar de ter consciência que as ondas não estavam das mais fracas.
Quando já estava começando realmente a se preocupar, Gina emergiu e pulou em cima de Draco. Foi a vez dele afundar, mas ele agarrou-a, puxando-a junto para o fundo. Como Gina tinha ficado um bom tempo sem respirar dentro da água para poder dar um susto em Draco, agora não poderia ficar muito mais, mas ele não a soltava e nem subia.
Gina começou a se debater freneticamente, pra ver se ele a soltava, mas ele não fez isso.
“Malfoy, seu filho da puta! Você vai me matar desse jeito! Eu vou morrer afogada! Não consigo mais prender a respiração.” Quando estava quase engolindo água, ele puxou-a para cima.
Ela tossiu e tentava respirar. Foi saindo do mar, toda encharcada. Draco estava logo atrás. Ao alcançarem a parte seca da areia, ele perguntou:
-Você está bem, Virginia?
-Bem? Seu cínico! –e foi avançando na direção dele com uma fúria mortal e ele ia se afastando –Você quase me matou, Malfoy!
Draco saiu de perto dela, andando depressa:
-Fugindo de mim, seu miserável? Eu te pego, seu covarde! –e saiu correndo atrás dele.
O loiro também saiu correndo, para que ela não o alcançasse. Não, isso ele não queria. Não enquanto ela estivesse furiosa com ele.
-Volta aqui, Malfoy!
-Não mesmo. –ele respondeu e só pra provocar começou a correr de costas, de modo que pudesse ver a expressão de raiva no rosto dela.
-Está me fazendo de palhaça, Malfoy? Você vai ver! Vai cair se continuar correndo de costas e vai ser muito bem feito. Você vai tropeçar e vai voar metros.
O tropeço realmente aconteceu, mas foi com Gina. Ela tropeçou numa pedra e voou metros à frente e conseguiu, por incrível que pareça, derrubar Draco com isso. Ela caiu por cima dele. Os dois estavam ofegantes. Por alguns instantes, apenas se encararam:
-Acho que o fato de ter amortecido a minha queda e evitado que eu caísse de cara na areia, ameniza a minha raiva. –ela disse após regularizar sua respiração.
-Por acaso eu tenho cara de almofada? –ele perguntou.
-Você sempre foi um almofadinha.
Foi então que a ruiva sentiu algo duro e pulsante contra sua coxa, e saiu de cima dele.
“Homens!” ela pensou revoltada e com o rosto todo vermelho.
Draco sentou-se ao lado dela, Gina comentou:
-Estou encharcada até os ossos, Malfoy e a culpa é toda sua.
Havia alguns casais por ali, então ele não poderia sacar sua varinha. Amaldiçoou os trouxas por isso. Tirou seu paletó e colocou-o em volta dos ombros de Virginia:
-Assim está melhor? –perguntou.
-Nem tanto. A minha bolsa e os nossos calçados ficaram onde estávamos antes.
Draco suspirou:
-Está vendo lá mais adiante? –e apontou.
-Sim.
-É a marina daqui. Vários iates são guardados lá.
-Hum. –a ruiva murmurou, não entendendo o porque dele começar aquele assunto.
-Já andou de iate?
-Não, por quê? –mas a essa altura ela já entendera.
-Eu tenho um. Gostaria de conhecê-lo?
-Certamente hoje não. –ela respondeu depressa.
-E Por quê não?
“Porque eu simplesmente não acho uma boa idéia ficar sozinha com você dentro de um iate luxuoso, Malfoy.” Pensou na lata.
-Está tarde. Preciso dormir para poder me concentrar inteiramente no caso do seu pai. Terei um dia cheio amanhã. –Virginia respondeu.
-Entendo. Você tem razão. –murmurou, “O que me deu pra convidar a Weasley pra conhecer o meu iate agora? Com certeza perderia totalmente o controle. Eu quero essa mulher na minha cama. Calma, Draco. Um dia ela será sua.” Pensou e tentou sorrir –Mas que tal uma outra vez? Antes de voltarmos para Inglaterra.
-Hum...Não sei. Você é meu chefe, Draco. Você sabe como as pessoas são. Não gostaria que pensassem que sou mais uma das suas amantes.
-E por que você liga pra um bando de fofoqueiros? Eu te respeito, Virginia.
-Então por que correspondeu o meu beijo? –ela perguntou sem pensar.
-Para fazer você se sentir melhor, não se sentir rejeitada e envergonhada. –ele respondeu rápido, rápido demais.
“Por pena? Não pode ter sido apenas por isso...Ou será que pode? Eu sou digna de pena?” a ruiva perguntou-se.
-Não preciso da sua pena. –disse, ríspida.
-Não é pena. Eu quis apenas te ajudar. Você estava precisando. Quando você me beijou, eu achei que se correspondesse estaria te ajudando. Falei sério quando disse que podia contar comigo. –falou e a ruiva ficou em silêncio –E então? Eu acho que a Eve adoraria o meu iate...
-Depois conversamos sobre isso. –ela o cortou –Eu quero ir embora, vamos pegar a minha bolsa e as minhas sandálias.
Draco concordou e eles andaram de volta ao lugar onde haviam deixado suas coisas. Caminharam de volta para o calçadão. Gina calçou suas sandálias. Draco suas meias e sapatos.
-Estamos cobertos de areia e a culpa é toda sua. –ela disse, com uma expressão que mostrava claramente como isso a incomodava.
-Não pode negar que foi uma maneira diferente de se descontrair. –respondeu na defensiva, fazendo Gina estreitar os olhos e abrir a boca para censurá-lo, mas ele não deixou –Vamos, Virginia, não pode dizer que não tenha sido uma experiência interessante.
A Weasley nem se deu ao trabalho de responder. Quando chegaram a um lugar mais deserto, Draco pegou sua varinha dentro do terno que envolvia os ombros nus da ruiva e realizou feitiços que fizeram a areia desaparecer e secaram seus corpos e roupas.
-Satisfeita, Virginia? –perguntou com um sorriso zombeteiro.
-O que você acha, Draco?
-Vamos aparatar. Em frente a porta de entrada da minha casa, certo? –ele perguntou e ela fez que sim.
Com dois *pop* eles aparataram e com mais dois, chegaram ao destino. Draco bateu duas vezes na fechadura com sua varinha e a porta então se abriu. Fez um gesto para que Gina passasse, passou depois e em seguida trancou-a novamente.
A casa estava silenciosa e escura, mas a luz que entrava pelas grandes janelas de vidro fazia com que eles conseguissem enxergar um pouco ao redor.
-Agora vamos pra cama. –Draco disse naturalmente.
-O quê? –Gina perguntou surpresa, o encarando.
Um brilho de divertimento passou pelos olhos do Malfoy antes que ele risse e esclarecesse:
-Quis dizer que é para irmos dormir agora. Em nossos respectivos quartos.
-Ah... –a ruiva murmurou –Bem, é que eu não lembro muito bem o caminho para o meu quarto. –confessou –A casa é bem grande.
-Sem problemas. Eu te levo.
Subiram as escadas e viraram à direita, seguindo num corredor. Depois viraram a esquerda e novamente à direita, até que pararam em frente à terceira porta do lado esquerdo daquele corredor.
Gina testou a maçaneta, a porta estava aberta:
-Obrigada, Draco. –ela disse baixinho e ia se virar para entrar, mas o loiro segurou-a pelo pulso.
Virginia então o encarou e perguntou-se se ele iria beijá-la, provando que não era por pena que correspondera ao seu beijo. Inconscientemente, ela via-se a desejar que ele realmente fizesse isso. Aqueles olhos cinzentos profundos a estavam deixando entorpecida. Lembrava-se do que sentira enquanto o beijara. Um fogo, um desejo desconhecido e insano. Ele era sexy, Gina tinha que admitir. Todo aquele charme, combinado com a solicitude que mostrava para com ela, estava deixando-a confusa. Tão confusa aponto de imaginar como seria ir pra cama com ele. O corpo atlético colado ao seu, os braços fortes a segurá-la, levando-a ao delírio...
Draco então, para o alívio de Gina, quebrou aquela linha perigosa e incontrolável de raciocínio, dizendo:
-O meu paletó.
-Ah. –ela se tocou, tirando o paletó dele –Desculpe, tinha esquecido.
Ele sorriu indolente:
-Foi maravilhosa a noite de hoje, Virginia. Você é uma ótima companhia. Espero que você não falasse sério ao dizer que tinha sido um desperdício.
Ela corou levemente e sorriu sem-graça:
-Obrigada, Draco. Boa noite.
Ele beijou as mãos dela:
-Boa noite, Virginia. Durma bem.
A ruiva acenou afirmativamente e entrou no quarto, trancando aporta atrás de si. Havia uma luz acesa, a de um abajur. Evelyn não conseguia dormir sem uma luz acesa. Olhou para a cama e percebeu que Eve dormia, mas não era na sobrinha que pensava agora. Olhou para suas mãos, onde os lábios quentes e sensuais do Malfoy haviam tocado, fazendo-a se arrepiar.
“No que eu estou pensando? Acho que são os drinques que tomei no restaurante. O Malfoy é problema! Tudo o que quero é metê-lo na cadeia e ponto final. E daí se ele é atraente? Não vou cair na mesma armadilha que a Chang. Isso é uma promessa. Não há nada que me faça cair nos braços do Malfoy.” Ela pensou convicta.

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