Começando O Trabalho



Capítulo 10: Começando O Trabalho

Acabara de acordar de um sonho. Ou seria pesadelo? Sua respiração estava descompassada e ela suava. Fechou os olhos novamente. Após algum tempo, Virginia ainda revirava-se na cama, tentando dormir, sem sucesso algum. Não conseguia parar de pensar no beijo com o Malfoy e isso a estava perturbando muito seriamente.
Deu seu vigésimo suspiro:
-Ah, não! –reclamou e colocou o travesseiro sobre sua cabeça, tapando os ouvidos –Eu quero dormir! O que há de errado comigo?!?
Bufou e virou-se para o outro lado. Longos minutos passaram-se e o sono não chegava, mas pior que isso eram os seus pensamentos constantes sobre o loiro.
Repentinamente sentou-se na cama e respirou aceleradamente.
“Calma, Gina, não foi nada. Você apenas está com raiva do Malfoy. Só o beijou para descobrir se ele estava armado ou não.” Tentou convencer-se, mas no fundo sabia que era mentira. O beijara num momento de inconsciência e se arrependia por isso. Fora um lapso que não deveria ser repetido. Um lapso que ela não conseguia esquecer. Porém, mais difícil do que esquecer aquele beijo, era esquecer o sonho que acabara de ter. Mas o culpado número 1 desse sonho era o beijo e ela começou a amaldiçoar-se por ter fraquejado e beijado o inimigo. Não, não podia ter feito isso. Aquele sonho parecera bem real. Sentia-se febril e corada só de pensar nele...
“Por que eu continuo a pensar nesse sonho idiota?!?” perguntava-se, mas relembrava as sensações que havia sentido no sonho. Era quase como se tivesse sentido realmente.
Medo. Ela começava a ter esse sentimento. Medo de si mesma com relação ao Malfoy. O que estava acontecendo? Como apenas um simples beijo a levara a ter um sonho daqueles? Bem, não fora um simples beijo e sim um carregado de desejos disfarçados pela máscara da ética, a qual Draco fingia ter e que a ruiva realmente tinha, mas estava tendendo a passar por cima nos últimos tempos. Podia quase sentir os toques e os lábios do Malfoy pelo seu corpo. Ora delicado. Ora exigente. Ora sensual. Amando-a loucamente, deixando-a sem ar. Não, sem palavras...a não ser que se contasse as várias lamúrias ofegadas por ela.
“Não! Eu tenho que parar com isso! No que estou pensando?”
Resolveu levantar-se e dar uma volta. Colocou um robe por cima de sua camisola e amarrou-o frouxamente, calçando os chinelos em seguida e indo em direção à porta, sempre tomando cuidado em não fazer barulho para que Eve se mantivesse dormindo.

***

Draco também encontrava dificuldades para pegar no sono. Sentia-se agitado demais por seus pensamentos se voltarem a todo instante para a Weasley. Possuir a ruiva estava tornando-se uma obsessão. Seu corpo ardia, implorava e Draco não sabia por quanto tempo mais agüentaria suportar essa situação. Depois daquele beijo, tudo piorara.
Quando viu que não conseguiria dormir, ele levantou-se e saiu do quarto com um robe preto por cima de seu pijama. Tencionava apenas andar sem rumo por sua casa, mas seus pés, como se tivessem vontade própria, o levaram até o seu escritório. Havia dois escritórios na casa. Um pertencia a ele, o outro a Lúcio.
Entrou e sentou-se à escrivaninha. Passou a mão pelos cabelos.
-Alorromora. –abriu a gaveta e abriu uma caixa de cigarros mentolados, pegando um –Incendio.-acendeu o cigarro e então o colocou na boca.
[N/A: Quero deixar claro que isso não é uma apologia ao cigarro. Para mim, fumar é um vício horrível]
Deu uma profunda tragada e então molhou uma pena de luxo num tinteiro, pousando-a em seguida sobre um pergaminho. Não era com freqüência que o Malfoy fumava, apenas quando queria muito algo e demorava a obter, o que era bem raro.
Sentiu-se mais calmo, ao experimentar a fumaça passar por suas vias respiratórias. A excessiva ansiedade de Draco consistia em seu ponto fraco, tornava-o impulsivo. Cego, sem muitas vezes conseguir refrear seus impulsos. Na maioria do tempo a frieza era apenas fachada. Quer dizer, costumava fingir muito bem que não se importava seriamente com nada. A verdade era que fora muito mimado quando criança. Conseguia tudo o que queria (bem, tirando o fato de não conseguir derrotar o Harry no quadribol), usando diferentes artifícios. Com o passar do tempo, não largou esse privilégio. Se a natureza fora generosa com ele, provendo-o de uma beleza, inteligência e feeling apurados, ele deveria se mostrar grato utilizando-os bem...
Conjurou um cinzeiro e colocou o cigarro lá, então começou a rabiscar o pergaminho. Aquele seria um rascunho de como faria a Weasley cair em seus braços.
Quem quer que o visse naquele momento, perceberia que estava muito concentrado. Pensava por alguns momentos e então riscava o pergaminho. Uma vez e de novo, e outra e outra, sem nunca se desconcentrar no seu objetivo. Estava decidido a só sair daquele escritório quando tivesse elaborado um plano satisfatório para derreter a advobruxa. E satisfatório para o loiro significava praticamente infalível.

***

“Merde!” Henri pensou ao se levantar no meio da noite para beber água e se dar conta de que a jarra estava vazia “Vou ter que ir até a cozinha.” Pensou preguiçosamente, forçando-se a sair de sua cama aconchegante.
Calçou os chinelos e saiu do quarto, de pijama mesmo.
“O Malfoy não deve estar acordado agora para brigar com isso.” Pensou aliviado, já que Draco não gostava que seus empregados andassem de forma relaxada e sem uniforme.
Os quartos dos empregados ficavam no térreo, na parte detrás da casa. Não havia elfos na casa, já que freqüentemente trouxas influentes eram recebidos. Havia Pierre, o simpático motorista. Marie era a faxineira e limpava a casa inteira com feitiços úteis. Era jovem e morena, tinha 26 anos e não chegava a ser bonita, mas tinha um corpo atraente. Sophie era uma bruxa de meia-idade, de aparência severa, mas de bom coração. E claro, havia o próprio Henri, o mordomo que poderia perfeitamente sair em capa de revistas.
Ao passar pela porta do quarto de Marie, sentiu-se um tanto tentado a entrar, mas pensou melhor e seguiu reto. Ela servia o mordomo muito bem na cama quando ele queria, mas dificilmente ele pensava em dormir com ela naquele instante. Isso por dois motivos. O primeiro é estar cogitando uma maneira de atrair a mais nova hóspede do patrão para seu próprio quarto. O segundo, Marie era completamente apaixonada por Henri, o que por vezes o incomodava.
“Será que a Marie não vê que eu não quero nada sério?” perguntou-se “Odeio quando ela vira chiclete. É apenas sexo. Por que ela age como se eu fosse um príncipe encantado num cavalo branco? Há muito que não acredito em contos de fadas, ela não deveria também. Agora preciso pensar em como atrair a ruiva para a minha cama.”
Ainda à caminho da cozinha, ele ao mesmo tempo que se surpreendeu, sorriu internamente. Parece que a sorte estava ao seu lado. Do lado de fora do escritório do Malfoy estava Gina, aparentemente espiando por uma pequena fresta da porta.

***

Gina andava às cegas pela casa, exceto que sua varinha estava acesa. Desceu até o térreo e estava procurando pela cozinha, talvez tivesse algo que a ajudasse a dormir. Algo como um chá de camomila ou um suco de maracujá. Poção do sono ou até leite quente, ela não se importava. Apenas queria dormir e deixar de ter qualquer tipo de sonho, ainda mais se o seu chefe estivesse nele. De repente viu uma luz por uma fresta de uma porta.
-Nox. –apagou a luz de sua varinha e a curiosidade prevaleceu, levando-a a espiar pelo vão.
A Weasley teve um vislumbre de Draco...
“Fumando? Eu não sabia que ele fumava. Hum, mais um defeito a se acrescentar.” Ela pensou e continuou espiando.
Viu o Malfoy pousar o cigarro no cinzeiro e escrever no pergaminho, com uma expressão das mais concentradas.
“O que será que o Malfoy está aprontando na calada da noite?” perguntou-se, mas não teve muito tempo para pensar sobre isso. Naquele momento, mãos cobriram a sua boca e a puxaram para trás.
A ruiva travou uma luta silenciosa com o oponente, mas logo percebeu que ele era um homem, muito mais forte do que ela. Então ouviu uma voz suave e sensual ao seu ouvido:
-Sou eu, Virginia. O Sr. Malfoy não gosta de ser incomodado quando está em seu escritório.
Ao reconhecer a voz do mordomo, a ruiva deixou-se conduzir por ele, se afastando do escritório. Quando estavam distantes o suficiente, Henri destapou a boca dela:
-Você me deu um susto, Henri. –ela reclamou –O que está fazendo perambulando a essa hora?
-Eu é que deveria perguntar isso à você, Virginia. Eu trabalho nessa casa. Bem, em todo caso, eu saí do meu quarto para ir buscar água.
-Por que você não usou o aguamenti? –ela indagou.
-Putz! É esse mesmo o nome, eu não conseguia me lembrar.
-Hum...Eu estou com insônia, estava dando uma volta pra ver se o sono vinha.
-Por que estava espionando o patrão? Ele odeia que façam isso. O escritório é um local particular para ele. O Sr. Malfoy ficaria muito bravo se eu contasse o que você estava fazendo. –comentou com cara de pensativo.
-Ficaria? Por quê? Ele não vai ficar? –ela perguntou.
-Bem, se eu contar pra ele...Ficará certamente muito bravo. É invasão de privacidade, ele diria. Você poderia certamente ser demitida. Ele demite pessoas por menos que isso, pode estar certa. Uma vez, ele despediu a empregada por parecer feliz demais num dia em que ele estava irritado. Se eu contar pra ele, é isso o que vai acontecer.
-Como assim se você contar? Você não vai contar, Henri, vai? Por favor...
-Não sei...O Sr. Malfoy é meu patrão, eu trabalho pra ele. É meu dever informá-lo se...
Gina o cortou:
-Por favor, Henri. Eu preciso do emprego.
-Não sei, seria arriscado. Se ele descobrir que eu não contei algo que deveria, eu é que irei pro olho da rua.
-Mas isso não vai acontecer. Só nós dois sabemos disso, não é mesmo? Será o nosso segredinho.
-Eu já te disse que esse é o melhor emprego em que trabalhei, Virginia. Não posso arriscar perdê-lo assim, sem nenhuma recom...
-Quanto você quer pra omitir isso? –ela perguntou repentinamente.
-Que isso, Virginia? Ninguém me suborna com dinheiro. Eu ganho muito bem. Mas isso de querer subornar alguém é algo grave, Virginia. Talvez o Sr. Malfoy devesse saber o tipo de funcionária sem escrúpulos que trabalha pra ele. –comentou calmamente, estava ganhando.
Para a surpresa de Henri, a ruiva deu um muxoxo:
-E talvez eu devesse dizer ao Malfoy o mordomo subornável que ele tem.
-Mas eu acabei de dizer que...
A Weasley o interrompeu:
-“Ninguém me suborna com dinheiro”. Foi o que você disse. O que é preciso para subornar você, Henri Le Blanc?
-Está mesmo querendo me subornar, Virginia?
-Quem sabe...? Talvez eu esteja...Você não quer fazer da maneira mais fácil.
-Mais fácil?
-Você não contar apenas por camaradagem. Mas vocês homens são...Bem, muitas mulheres também...Os seres humanos às vezes são tão medíocres e hipócritas que isso me dá náuseas.
Henri respirou fundo e disse:
-Eu cobro caro. Mas de qualquer modo, a escolha é sua. Eu trabalho há mais tempo para o Malfoy. Em quem ele provavelmente acreditaria? Em mim ou em você, que tentou metê-lo na cadeia? Sempre resta a semente da desconfiança. Mas em todo caso, você pode escolher...
Gina ficou vermelha de raiva. Outrora pensara que Henri fosse um cavalheiro, um homem bom, como era o seu Harry, ou melhor, seu ex. Agora estava vendo a outra face do lindo homem de cabelos loiros mate e olhos verde-esmeralda.
“Evelyn tinha razão em não gostar dele.” Pensou se sentindo culpada agora por não ter compartilhado da opinião da sobrinha em relação ao mordomo.
Mas o que ela poderia fazer?
-Qual é o seu preço? –perguntou finalmente.
-Você. –ele respondeu com um sorriso malicioso.
A Weasley piscou por várias vezes, em todos esses anos como advobruxa, nunca sofrera uma chantagem desse tipo e nem subornara ninguém.
-Eu simplesmente não posso. –respondeu.
-Tudo bem. –disse dando de ombros –Mas se depois for demitida, não esqueça de que eu te dei uma chance e você recusou.
-Nem o Malfoy que é o Malfoy me fez uma proposta indecente dessas. E olha que ele é mulherengo de ponta a ponta.
-Não me venha com essa. É tão óbvio que...
-Você está me confundindo, eu não sou esse tipo de pessoa.
-Ótimo. –ele respondeu irritado e virou-se –Diga adeus ao seu emprego, Weasley.
-Não! –ela o segurou.
-Foda-se essa conversinha sobre moral. Se você não quer trepar comigo, me deixa ir embora.
-Por favor... –ela implorou uma última vez.
-Ou é do jeito que eu propus ou simplesmente não tem acordo. Decida de uma vez.
Gina tinha vontade de mandar aquele cara pro inferno! Quem ele pensava que era para propor uma coisa dessas?!? Agora a Weasley perguntava-se se não teria sido melhor desistir de mandar o Malfoy pra Azkaban. Sua vontade de punir quem merecia ser punido tinha que ser tão forte assim? Não deveria nem ter começado a trabalhar para o Malfoy pra início de conversa. Ela estava encurralada. O que mais a preocupava, era que se Henri contasse o que ela fizera, o Malfoy desconfiaria. E se ele desconfiasse que ela estava tentando obter um modo para deixá-lo mofando na cadeia...De certo que dessa vez ele a mataria!
-Quando? –a Weasley perguntou, cerrando os punhos com força e refreando a vontade de socar o homem a sua frente.
Ele sorriu:
-Agora. Vamos para o meu quarto, Virginia. –respondeu e começou a andar.
A ruiva o seguiu:
-Jura que depois vai me deixar em paz e não vai contar pro Malfoy nem que eu me levantei durante à noite?
-Qualquer coisa que quiser, eu juro. Palavra de bruxo.
Logo chegaram ao quarto dele. Não era grande, mas também não era tão pequeno e tinha um banheiro particular.
-Eu acho que você devia tomar um banho, está com a cara amassada de sono. –ela deu uma desculpa, antes que ele pudesse ter a oportunidade de agarrá-la.
-Ok. Por que não toma banho comigo? –tinha o tom de um convite, mas Gina sabia que era uma imposição.
Engoliu em seco, não era sua intenção tomar banho com ele, mas afirmou silenciosamente. Henri entrou no banheiro, logo ela ouviu o barulho do chuveiro ligado.
-Venha, Virginia. –ele chamou.
Gina despiu-se como um robô, meio sem ter noção do que estava fazendo. Era como se aquilo estivesse acontecendo com outra pessoa que não ela. Ao ficar nua, entrou vagarosamente no banheiro. O box estava aberto e Gina teve uma visão do mordomo. Os cabelos molhados tinham escurecido. O rosto dele era realmente muito bonito, mas Gina podia considerar que Harry ainda era mais gostoso que ele, já que Henri era um tanto magrelo.
O francês a encarou:
-Entra logo nesse chuveiro, chèrie.
Gina deu uns passou vacilantes e adentrou o box, o mordomo então o fechou.
A ruiva, procurou um afazer para não ter que encará-lo. Pegou uma esponja e começou a se ensaboar. Henri fez a mesma coisa. Assim que terminaram, ele puxou a ruiva para debaixo do jato de água. Em seguida começou a beijar os lábios dela sensualmente. Gina rapidamente afastou-se:
-Aqui não. Eu vou sair do chuveiro. Quando eu te chamar, você vem.
Ela saiu do box. Secou-se e enrolou-se na primeira toalha que encontrou, em seguida saiu do banheiro. Aparatou em seu quarto e vasculhou sua mala desesperada e silenciosamente. Pegou uma cápsula e um cigarro. Em seguida aparatou de volta no quarto dele.
-Já posso sair? –ele perguntou.
-Não. –Gina respondeu e conjurou duas taças com champanhe.
Pegou uma das taças e colocou a cápsula dentro, que se dissolveu instantaneamente. Depois deixou o cigarro na mesa-de-cabeceira e disse:
-Já pode sair.
Ao entrar novamente no quarto, o mordomo viu que a Weasley estava enrolada na toalha e sentada na beirada da cama. Ele deixou sua toalha cair, revelando seu corpo nu. Foi em direção à Gina:
-Não gostaria de brindar? –ela perguntou.
-Não. –ele respondeu –Provavelmente você fez alguma coisa com a bebida.
Gina aparentou estar descontraída, dando de ombros:
-Gosto de homens precavidos.
Ele abriu a toalha dela:
-Você é mesmo linda, Virginia. O Malfoy realmente tem sorte em trabalhar pra ele.
-Não realizo esse tipo de trabalho. –ela respondeu e ele fez cara de incrédulo –Falo sério. Nunca tive nada com ele.
-Então a sorte é minha. –ele disse beijando a boca dela, e empurrando-a contra a cama.
Quando ele desceu os beijos para o pescoço dela, a ruiva perguntou:
-Importa-se se eu fumar?
-Você fuma?
-Oh, sim. O cigarro me deixa mais ativa. –ela mentiu, pois nunca sequer colocara um verdadeiro na boca.
Gina sentou-se e pegou o cigarro que havia deixado na mesa-de-cabeceira. Na verdade não era um cigarro, apenas tinha a forma de um. Era mais um dos vários artefatos úteis que os aurores possuíam. Ela colocou-o na boca e perguntou:
-Acende pra mim?
Quando ele chegou mais perto para fazer mira com a varinha, Gina soprou o conteúdo do falso cigarro na cara dele. Logo o francês caiu desacordado.
A ruiva vestiu-se rapidamente e antes de ir embora, encostou sua varinha na têmpora do mordomo, fazendo um feitiço não verbal e implantando memórias falsas na mente dele, fazendo com que ele esquecesse que a viu espiando o Malfoy e tudo relacionado a esse fato (a chantagem, por exemplo).
Aparatou direto em seu quarto, aliviada por ter conseguido escapar daquela situação. Sentiu-se cansada e caiu na cama, sem ao menos tirar o robe.

***

Na manhã seguinte, Gina foi acordada por uma voz desconhecida:
-Srta. Weasley. Acorde, Srta. Weasley!
Gina abriu os olhos preguiçosamente, ainda se encontrava sonolenta, e deparou com uma jovem morena que aparentava ter uns 20 e poucos anos. Estava vestida num uniforme de empregada e estava com o longo cabelo preso.
-Onde está a minha sobrinha? –foi a primeira coisa que a ruiva perguntou.
-A Srta. Evelyn está tomando café nesse instante, assim como os Srs. Malfoy e a Sra. Narcisa. –disse rapidamente -A propósito, meu nome é Marie. –respondeu com um sorriso sonhador, enquanto abria a janela do quarto.
A Weasley levantou-se da cama:
-Muito prazer Marie. Diga ao Malfoy que eu já irei descer.
-Qual Malfoy?
-O Draco.
-Sim, Srta. Weasley.
-Virginia, se me faz o favor. –e entrou no banheiro.

***

Na sala de jantar havia silêncio, exceto pelas eventuais perguntas e comentários de Evelyn. Todos tomavam café-da-manhã. Narcisa Malfoy parecia levemente entediada, mas seus olhos se enterneciam quando se voltavam para Eve. Lúcio Malfoy tinha o semblante inexpressivo, o que escondia a sua curiosidade em ver a Weasley. Draco estava calmo e apesar do cansaço, encontrava-se satisfeito consigo mesmo. Tinha ficado quase a noite inteira acordado, mas finalmente conseguira formular o seu plano, depois disso, era quase certo que a Weasley cederia. Nesse momento Marie chegou perto de Draco e disse:
-A Srta. Weasley disse que vai descer em breve.
-Obrigada, Marie. –o loiro disse.
-Com licença. –a empregada disse e se retirou.
Draco olhou para Evelyn e sorriu cordialmente:
-Não gostaria de comer mais cereal, querida? Fique à vontade para pegar o que quiser.
-Obrigada, Tio Draco. –a ruivinha agradeceu, tornando a encher sua tigela com cereal e leite.
-Vejo que gosta dessa criança, Draco. –Lúcio comentou.
-Sim, a Evelyn é superdivertida. –Draco respondeu.
-E quando é que você e a Parvati vão nos dar netinhos? –Narcisa perguntou esperançosa.
Draco quase engasgou com seu suco de laranja. Ele virou o rosto e tossiu um pouco:
-Mãe! –o loiro exclamou –Eu e a Parvati não queremos ter filhos, pelo menos não agora.
-Draco, não prive a sua mãe disso. –Narcisa reclamou.
Ele revirou os olhos e voltou-se para Lúcio:
-E o que você pensa sobre isso, pai?
Lúcio sentiu-se importante, fazia tempo que o filho não lhe pedia a opinião sobre algo. Tomou um gole de iogurte antes de responder:
-Você é nosso único filho, Draco. Naturalmente tem que continuar a nossa linhagem.
-Sei disso. –ele murmurou, irritado, só de pensar em crianças o aborrecendo.
Instalou-se o silêncio e logo depois, Virginia surgiu no aposento.
Vestia uma saia rosa bebê, um pouco acima do joelho, uma camisa feminina branca com os primeiros botões abertos. Nos pés usava uma sandália branca e sem salto. Seu cabelo estava preso num alto rabo de cavalo. Ela sentou-se à mesa ao lado de Evelyn:
-Bom dia a todos, desculpem-me o atraso.
-Não faz mal. –Draco respondeu, após tirar seus olhos do decote da ruiva –Como deve saber, este é meu pai. –disse apontando Lúcio.
-É um prazer vê-lo, Sr. Malfoy. –Gina disse, sorrindo e fazendo de tudo para não mostrar a hipocrisia desse ato.
-Posso dizer o mesmo, Srta. Weasley. –Lúcio respondeu.
-Dormiu bem, Eve? –Gina perguntou e a garota fez que sim.
A Weasley serviu-se de alguns pães de queijo e um copo de vitamina de frutas. Procurou comer rápido, já que todos tinham começado a comer primeiro que ela. Quando acabou, Draco disse:
-Vamos até o escritório do meu pai.
A advobruxa levantou-se, mas Eve segurou-a pelo braço:
-Não vai, não, Tia Gina. –ela pediu –Brinca comigo.
Virgínia lançou um olhar complacente para a sobrinha e disse:
-Eu entendo que queira brincar, já que é uma criança. E também entendo que queira passar o máximo de tempo comigo, mas eu preciso te lembrar que estou aqui pra trabalhar, Eve. Entende isso? Faz parte do meu emprego.
A garota fez uma cara tristonha e soltou a tia:
-Não fica assim, Evelyn. –Narcisa disse –Eu cuidarei para que se divirta bastante.
Gina então seguiu Draco e Lúcio. O escritório do Malfoy mais velho ficava no primeiro andar, na última porta do corredor. Logo que entraram, Gina foi convidada a se sentar. Draco sentou-se na cadeira ao lado da dela e Lúcio à frente, por detrás da escrivaninha.
-Conte-me o que houve. –Gina disse, olhando pra Lúcio.
-Eu soneguei impostos do meu hotel. –ele respondeu indiferente.
A ruiva revirou os olhos:
-Isso eu sei. Quero saber porque fez isso.
-Porque acho que o dinheiro fica melhor no meu bolso do que no daqueles franceses idiotas do ministério.
-Disse isso à eles? –a ruiva perguntou, franzindo as sobrancelhas.
-Não, eu disse que não ia pagar porque era contra a alta abusiva dos impostos.
-Hum...Qual foi a porcentagem de aumento?
-Cerca de 60%.
-Realmente é abusivo. –ela ponderou –Sabe qual foi a razão dessa alta?
-Não. Disseram apenas que era um terreno muito valorizado para o dinheiro que eu pagava antes de impostos.
-Qual era o preço dos impostos?
-Passavam um pouco de 500 mil francos. –Lúcio respondeu.
Gina não sabia quanto um franco valia em galeões, mas sabia que 500 mil francos era muito dinheiro:
-Agora essa quantia mais que dobrou. –ela comentou –Realmente um absurdo. Qual é o nome do advobruxo que está te processando?
-William Scott Burgoux.
Gina virou-se para Draco. Ele parecia estar desinteressado naquela conversa, mas era apenas aparência. Na verdade estivera pendurado em cada palavra dita:
-Poderia me conseguir a ficha completa dele? –a ruiva perguntou.
Draco balançou a cabeça afirmativamente:
-Isso vai ser moleza.-comentou despreocupadamente.
-Vou tentar chegar a um acordo com ele. É melhor do que ir à tribunal, mas se não tiver solução, será inevitável. –ela explicou –Por enquanto, é somente isso. –e se levantou –Avise-me quando conseguir as informações.
-Pode ficar, Weasley. Dentro de pouco tempo, receberei as informações. A única pessoa que tem horário por aqui, é o meu pai. A não ser que não vá trabalhar hoje, não estaria atrasado para o trabalho, pai?
Lúcio Malfoy olhou no relógio que havia na parede. Marcava 9h e 30min:
-Estou meia hora atrasado. Sorte o negócio ser meu. –disse –Até mais, filho. Passar bem, Srta. Weasley. –e aparatou.
-Vou ligar para um amigo. –Draco informou, pegando o telefone sem fio e discando –Alô. Bonjour, Mademoiselle. Poderia passar para Louis Dusteau do Departamento de Execução das Leis da Magia? Sim, eu espero. –alguns segundos de espera –Louis? Comment allez-vous? Oui. Estou aqui na França e preciso de um favor seu. Quero que me mande um fax com a ficha completa de William Scott Burgoux, é um advobruxo do Ministério. Acha que pode fazer isso o mais rápido que puder? Merci. –e desligou o telefone –Pronto, Virginia.
-É mesmo necessário que eu espere aqui?
-Sim, assim me faz companhia. Mas por que pergunta? Tem medo de ficar sozinha comigo? –perguntou, lançando um olhar inocente à ela.
Gina engoliu em seco:
-Medo nenhum, Draco. O que você quer fazer para passar o tempo?
Draco sorriu.
“Acho que você não iria gostar de saber...”
-Não sei. O que você sugere?
-Hum...Você gosta de ler?
-Sim, por quê?
-Que tipos de livro você lê?
-Vários.
-Mas principalmente o quê?
-Biografias de pessoas que valham a pena ler, alguns livros trouxas. Mas acho que romances policiais são os meus favoritos. É incrível como os crimes são cometidos de maneira que ninguém consegue descobri-los até quando é explicado no final do livro.
“Hum..Então esse é o tipo de literatura que faz a cabeça do Malfoy...Compreensível, ele sendo o que é. Mas me surpreende que ele não leia contos eróticos.” Gina ponderou.
-Mas e você, Virginia? O Que gosta de ler?
-Também leio bastante romance policial, é importante saber como os criminosos pensam. Leio livros sobre a lei bruxa e a trouxa e como distração eu leio histórias de amor.
-Você é romântica? Às vezes não me parece que tenha um coração por trás dessa frieza.
-Eu sou normal. –ela respondeu –Mas não são historinhas água com açúcar que leio.
-É mesmo? Então qual é a sua visão de uma bela história de amor?
-Duas pessoas que se amam, não terem medo de assumir isso e enfrentar todos os problemas em nome desse amor.
-Essa é a sua visão de amor?
-Não. Essa é a minha visão de uma bela história de amor.
“Entre mim e o Harry houve amor, mas não uma bela história de amor. Nós nos separamos. Não enfrentamos os problemas para ficarmos juntos.” Ela pensou meio que melancólica.
-Gosta de filmes, Virginia? –ela fez que sim –De que tipo?
-Os meus preferidos são ação e suspense e de vez em quando, isto é, quando estou meio deprê, assisto comédia romântica. E você?
Ele sorriu de viés:
-Pornográficos. Mas também assisto terror, suspense e ação.
Gina ficou meio sem graça e disse apenas:
-Hum...
-E você sabe por que eu assisto filmes pornô?
-Não. –ela respondeu, mal olhando pra ele.
-Pra lembrar o quanto sou superior. Eu sou muito melhor do que qualquer ator que eu já tenha visto num filme. Os atores fazem tudo mecanicamente. Não, não. Se eu fosse diretor de filmes pornô, eu apenas colocaria casais de verdade atuando. E é claro, eu proporia um teste prático antes, o qual eu assistiria. As pessoas merecem filmes de qualidade, não acha?
-Eu não assisto esse tipo de coisa, como vou saber? –disse com pouco caso.
-Não vai me dizer que o motivo por não se interessar por esse tipo de coisa, é por que é frígida, vai?
“Assim você me decepciona, não faz isso comigo.” O loiro pensou.
A ruiva corou:
-Não que eu tenha obrigação de te dizer, mas eu não sou frígida. –falou o mais rapidamente que pôde –Mesmo que eu fosse, o que isso interessa pra você?
“Muito...”
-Você parece meio tensa, Virgínia. Gostaria de um chá? –ele mudou de assunto.
-Sim, obrigada. –ela aceitou, aliviada por sair daquele tópico.
Draco conjurou um bule com chá de erva-doce e duas xícaras. Serviu as duas e entregou a da Weasley primeiro.
-A quantidade de açúcar está adequada?
-Sim, obrigada. –Gina respondeu, após bebericar a bebida.
Em certo momento, a ruiva ergueu os olhos de sua xícara e o Malfoy a encarava. Aqueles profundos olhos cinzentos postados insistentemente nos seus castanhos. Sentiu-se incomodada com a situação. Era como se ele estivesse a despí-la mentalmente. Quase chegou a perguntar o porque do Malfoy a estar olhando tão atentamente, mas nesse momento, a mensagem de fax estava sendo passada e Draco levantou-se, indo até o aparelho. Esperou a mensagem ser concluída, então a pegou e trouxe até onde Gina estava:
-Tome. –e entregou na mão dela –Se importa de ler pra mim?
Ela suspirou, mas respondeu:
-Não, tudo bem. –e começou a ler.

Nome: William Scott Burgoux
Apelido: Bill
Idade: 35
Data de aniversário: 20 de fevereiro
Nacionalidade: Francesa
Origem: Marselha
Cor da pele: branca
Cor dos olhos: azuis
Cabelo: Loiro
Cargo: Advobruxo e Chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia
Estado civil: divorciado
Hobby: Ler e jogar quadribol
Virtudes: Paciência e poder de persuasão
Defeitos: Arrogância, egoísmo e ganância
Vícios: Competições de Xadrez Bruxo e investir em mulheres que não lhe dão bola
Idiomas que fala: Francês, inglês e espanhol
Países em que já esteve: EUA, Inglaterra, Espanha
Mãe: Isabelle Marie Scott
Pai: Charles Burgoux
Irmão (a): Alicia Scott Burgoux (26 anos, solteira, sem filhos) e Alan Scott Burgoux (38 anos, casado, 2 filhos)
Filhos: Não tem
Residência: Hotel Louis XIV, quarto 186. Obs.: Reside lá desde que se divorciou da mulher
Comida: Chinesa
Bebida: Vinho branco e champanhe
Classe social: Média alta
Carro: Um Jaguar preto (que comprou há alguns dias)

Nesse momento, Draco pediu que ela parasse:
-Pode parar por aí. Depois você lê o resto. Mas já descobriu algo interessante entre essas informações?
A ruiva ergueu seus olhos do papel e encarou o loiro.
“O Malfoy não deixa passar nada, é esperto. Preciso tomar cuidado com ele. Pensei que só eu havia percebido.” Ela pensou e balançou a cabeça afirmativamente.
-O que então? –ele quis saber.
Virgínia abriu a boca para começar a falar, mas nesse instante ouviram-se batidas na porta. Draco bufou por ser interrompido e disse num tom seco:
-Pode entrar.
Era Marie, a empregada:
-Com licença, Sr. Malfoy, Srta. Weasley. Mas é que tem 5 pessoas querendo falar com o senhor.
Draco suspirou:
-Ok. Falaremos mais tarde, Weasley. Traga as pessoas até aqui, Marie.
-Sim, senhor Malfoy. –a empregada disse se retirando e Gina foi atrás dela.
-Ei, Marie. Quem são essas pessoas que querem ver o Malfoy? –perguntou, assim que estavam no corredor.
A empregada virou-se:
-Isso acontece freqüentemente. Quando o Sr. Draco vem pra cá, muitas pessoas o visitam. Essas pessoas por exemplo são uma família pobre. Vieram pedir ajuda a ele, provavelmente, isso acontece muito, já que todos sabem que o Sr. Draco tem muito dinheiro.
-Mas o Lúcio também tem bastante. –a ruiva contrapôs.
-Mas o Sr. Lúcio não faz nada que custe o seu dinheiro a não ser que tenha garantias de lucro.
-E o Draco faz? –Gina perguntou confusa –Ela empresta dinheiro?
-Não, ele dá. –Marie disse e a boca da Weasley se abriu em surpresa –Financia os sonhos das pessoas.
-E o que ele pede em troca? 70% dos lucros?
-Não. Dinheiro nenhum. Afinal, isso ele tem de sobra.
-O que então?
-Nada pelo que eu saiba.
-Está me dizendo que o Malfoy tira dinheiro do próprio bolso para dar pra outros sem exigir nada em troca?
-É. O Sr. Draco pode parecer às vezes chato, mas eu sei que ele tem um bom coração. –Marie disse sorrindo –Ao contrário do Sr. Lúcio. Mas pelo menos o Sr. Lúcio nos paga bem e não nos trata tão mal, a não ser que esteja realmente zangado.
-Você viu a minha sobrinha?
-Sim, está com a Sra. Narcisa na piscina e parecem estar se divertindo.
Mais uma vez a ruiva mostrou-se surpresa. Era difícil imaginar Narcisa se divertindo com uma criança. Talvez os dois homens da sua vida (seu marido e seu filho) não lhe dessem afeto suficiente.
-Como é a relação do Draco com a mãe dele?
-Bem, o Sr. Draco gosta da mãe dele, mas acha que ela é sentimental demais ao cobrar mais carinho dele.
-Ele lhe disse isso?
-Ah, você deve estar brincando. O Sr. Draco falar dos sentimentos dele? Impossível. Mas eu observo isso.
-Ah... –Gina anotou mentalmente o poder de observação da empregada –E Lúcio com a Narcisa?
-Bem, acho que eles são formais demais na presença de outras pessoas, mas já os vi se beijando, quando pensavam que ninguém estava vendo.
-E o que pode me dizer sobre o Henri?
A empregada ficou séria:
-Por que quer saber dele?
Virgínia anotou isso também. Era uma óbvia reação de ciúme.
-Não estou afim dele, pode ficar tranqüila. –a ruiva garantiu.
A expressão de Marie suavizou levemente e seus ombros relaxaram:
-Ele é um bom empregado. –disse por fim.
-Hum... –decidiu não perguntar mais nada por hora –Vou para o meu quarto, até mais Marie.
-Até.
Quando chegou no quarto, Gina sentou-se em cima da cama. Leu e releu a ficha de William.
“É estranho ele comprar um carro caro daqueles justo agora que está acusando o Lúcio Malfoy. Ele mora num hotel. E se esse hotel for concorrente do Le Château? Então o Burgoux está fazendo isso por dinheiro e o carro foi provavelmente um presente do Louis XIV. Vou averiguar umas coisas. ” ela pensou, pegou sua bolsa e saiu do quarto.
Cruzou com Henri pelo caminho:
-Bom dia, Virginia. –ele disse, sorridente.
“O meu feitiço da memória é bom mesmo.” Ela orgulhou-se.
-Bom dia, Henri. Será que poderia me fazer um grande favor? –fez uma cara aflita.
-Mas é claro que sim. –respondeu com um sorriso ainda maior.
-Preciso que chame um táxi pra mim.
A expressão do mordomo tornou-se séria:
-O Sr. Malfoy sabe que vai sair? Ele poderia emprestar a limusine para você, tenho certeza.
-Não, ele não sabe. –a ruiva confessou –Mas agora ele está ocupado, atendendo umas pessoas. Não quero incomodá-lo. Além do mais, uma limusine chama muita atenção. E então? Pode fazer esse favor por mim? –juntou as mãos na frente do peito, pedindo.
-Sim, eu farei isso. Espere no saguão de entrada, o táxi buzinará quando chegar. –disse e se retirou.
Virginia então seguiu para o saguão de entrada, mas não ficou nele. Saiu pra fora da casa. Foi andando pelo jardim e se encantou com as flores e arbustos ornamentados que ali havia, além do chafariz no meio.
-Olá, Srta. –ela ouviu uma voz atrás de si, então se virou.
Era um homem que aparentava ter mais de sessenta anos. Era baixinho e franzino, de aparência simpática:
-Olá. –Gina respondeu, imaginando quem poderia ser o homem.
-Sou o jardineiro daqui. –disse, como se tivesse lido seus pensamentos e mostrando a tesoura de jardinagem que segurava.
-Ah... –a ruiva sorriu –Faz um trabalho muito bom aqui. Adorei esse jardim.
-Que bom. Então a senhorita aprecia flores, não?
-Sim. –a ruiva concordou –São muito bonitas.
-Pegue uma de sua escolha. –ele ofereceu.
-Oh, eu não quero me aproveitar da bondade do senhor.
-Imagine, eu estou oferecendo. Não se preocupe, pegue qualquer uma.
Gina sorriu e acenou afirmativamente. Havia cravos, azaléias, copos-de-leite, tulipas e rosas de diversas cores. Mas uma lhe chamou atenção, havia uma única rosa negra no meio das brancas e das vermelhas. Não conseguiu explicar a sua fascinação por aquela flor ímpar, apenas foi até ela e abaixou-se para pegar:
-Não! –o jardineiro exclamou e ela afastou-se –Deixe que eu pego, ou irá se machucar.
Ele estendeu a mão e cuidadosamente puxou a rosa, haviam espinhos afiados, que cortaram sua mão. Virginia olhou para a mão do jardineiro:
-Como uma flor pode ser tão fascinante e tão perigosa? –perguntou.
-Essa rosa é especial. Foi criada por magia, não existem rosas negras feitas de maneira convencional.
-O senhor a criou? –ela perguntou impressionada.
-Não. Foi o jovem patrão. Bem, se me permite dizer, ele colocou toda sua “alma” na criação dessa flor. Combina com ele, entende? Curioso ter escolhido justo essa, não acha?
A ruiva engoliu em seco:
-Realmente. –uma buzina tocou, era o táxi -Será que o senhor pode guardá-la pra mim? –pediu educadamente -Na volta eu pego, agora estou de saída.
-Claro, senhorita. Tenha um bom passeio.
-Obrigada. –a ruiva agradeceu e entrou no táxi.
-Para onde deseja ir moça? –o taxista perguntou em francês.
-Hotel Le Château. –informou e o motorista arrancou.
O Le Château era um hotel de alto nível, Virginia percebeu antes mesmo de entrar:
-Quero que me espere aqui. –disse ao motorista –Não demorarei muito.
Saiu do táxi e subiu as escadas imponentes. À entrada, o porteiro tirou o chapéu quando a viu passar e Virginia adentrou o saguão. Foi até a recepção:
-Quero falar com o Sr. Lúcio Malfoy. –foi direta com a recepcionista.
-E quem é a Srta.? Tem hora marcada? O Sr. Malfoy é um homem muito ocupado e...
A ruiva interrompeu a falação da outra:
-Virginia Weasley. Diga meu nome e ele me receberá.
Meio incrédula e afrontada pela atitude altiva que a advobruxa demonstrara, a recepcionista pegou o telefone e discou para a sala de Lúcio Malfoy:
-Sr. Malfoy. Eu sei disso. Mas uma tal Virginia Weasley diz que está aqui para falar com o senhor. Sim, senhor. –e desligou –Ele vai recebê-la, te levarei até lá.
Enquanto estava dentro do elevador, Virginia abriu a bolsa e tirou de dentro o celular que Draco havia lhe dado. Desligou-o e voltou a colocá-lo dentro da bolsa, fechando-a em seguida.
A recepcionista tinha uma expressão entre o tédio e a irritação, a ruiva achou melhor não tentar puxar conversa. Ao descerem do elevador, caminharam por um longo e bem iluminado corredor que tinha o chão coberto por um tapete vermelho. As paredes tinham alguns quadros e havia alguns vasos com plantas há certos intervalos.
Quase no fim do corredor ficava uma porta de madeira lustrosa. A recepcionista adiantou-se, batendo à porta e abrindo-a em seguida. Gina passou pelo batente e ouviu a porta ser fechada atrás de si. Lúcio Malfoy erguera a cabeça. Usava óculos, com aros finos e pretos, para leitura, já que estivera obviamente lendo os papéis que estavam apenas com metade dentro da pasta. Tirou os óculos e pousou-os sobre a mesa. Fitava a advobruxa com curiosidade:
-O Draco a mandou aqui? –perguntou cautelosamente, vendo que a Weasley não explicava sua repentina visita.
-Posso me sentar? –foram as primeiras palavras a saírem da sua boca.
Nos instantes interiores, Virgínia observava a sala rapidamente. O vidro era fumê e as cortinas estavam abertas, permitindo a entrada da luz solar. Não se via paredes e sim estantes cobertas de livros. Havia uma arrumação perfeita e harmoniosa naquela sala, apesar de séria e retrógrada, já que não havia computador algum ou outra coisa trouxa, exceto o ar-condicionado. Apenas um IB, era algo de ponta na mesa do Malfoy.
-Claro. Fique à vontade, Srta. Weasley.
Gina avançou até a cadeira giratória em frente a escrivaninha e sentou-se:
-Obrigada. –agradeceu.
-Ainda não respondeu à minha pergunta. –cobrou.
-Não, o Draco não me mandou aqui, Sr. Malfoy...
O loiro a cortou:
-Lúcio.
Gina assentiu, enquanto pensava na vez na livraria Floreios e Borrões, em que aquele mesmo homem colocara, de propósito, entre seus livros o diário de Tom Riddle. Piscou e expulsou aquela lembrança de sua mente. Não era hora de ressentimentos, aquilo era passado.
-Diga então a que veio.
A ruiva estudou o homem à sua frente. Indiscutivelmente era pai de Draco. O cabelo claro estava mais curto que antigamente e agora preso em um rabo de cavalo. A boca tinha o mesmo trejeito de riso debochado. Mas foram os olhos que fizeram Gina lembrar-se de Draco. Cinzentos e parecia passar por eles um brilho de divertimento.
“Ora, ele está se divertindo as minhas custas? Pois deixarei claro porque sou ‘A Dama dos Tribunais’.”
-Vim por conta própria, porque preciso lhe fazer mais perguntas. Coisas que só me passaram pela cabeça após ler a ficha de Burgoux.
-E o que seriam tais coisas? Descobriu algum podre?
Virgínia ignorou as perguntas dele:
-Tem um belo hotel, Lúcio. –elogiou e ele sorriu –Com um hotel desse padrão não tem pra ninguém, não é? Os outros hotéis são tão bons quanto esse?
-A maioria nem chega perto. –respondeu orgulhosamente –Mas o Louis XIV é meu concorrente direto. O dono do hotel não vai com a minha cara, já que o meu hotel faz o dele perder clientes.
-Como assim?!?
-Eu ofereço serviços especiais aos meus clientes e por um bom preço.
-Que tipos de serviços especiais? –quis saber.
Ele levantou as sobrancelhas:
-Isso não vem ao caso.
-Ah...vem sim, esteja certo. Conte-me tudo. Eu sou sua advobruxa nesse caso, tem que me contar tudo.
Ele suspirou:
-Números de dança, bingos, massagistas. Esse tipo de coisa, entretenimento para os clientes. É claro que Raul Bourbon, o dono do Louis XIV, fica puto e tenta copiar tudo. Mas nunca consegue tão bons resultados quanto eu.
“Tá certo que parte do sucesso inclui a influência do Draco. Mas eu não vou dizer isso a ela.” Lúcio pensou.
-Então ele tem sérios motivos para querer prejudicar o seu empreendimento.
-Sim.
-Acho que ele está por trás desse excesso de aumento de impostos. –declarou.
-Você não tem como provar isso, Srta. Weasley.
-Ainda não. Se tiver certeza, arrumarei um jeito de provar, pode estar certo. Penso que Burgoux está sendo subornado para te processar.
-Como pode...
-Estou apenas deduzindo. –e levantou-se –Em breve terei provas. –e estendeu a mão para Lúcio, que apertou-a –Tenha um bom dia, Lúcio.
-Igualmente.

***

Draco esperava as cinco pessoas que Marie tinha ido buscar. Quem seriam? Nesse momento pensou que deveria ter trazido Blás consigo.
“O Consigliere é bem útil nessas horas. Ele poderia controlar e agendar quando as pessoas podem falar comigo. Além do mais, é sempre bom ouvir a opinião que ele tem sobre algo.” O loiro pensou e logo depois ouviu batidas na porta.
-Entre. –disse, sentado em sua poltrona.
Cinco pessoas entraram. Todos tinham os cabelos castanhos, olhos esverdeados e roupas gastas. Eram duas mulheres e três homens. Draco convidou-os a se sentarem, o que fizeram um tanto receosos.
-Acho que vieram aqui por que precisam de algo, não?
O homem mais velho fez que sim, tinha um forte sotaque italiano:
-Sr. Malfoy, ouvimos falar de sua bondade e de seu poder.
-Sim, sim. Continue. –Draco incentivou.
-Meu nome é Fabrizio Antonieri. Eu e minha família somos da Sicília. Viemos tentar a vida aqui na França, mas as coisas não têm sido das mais fáceis para nós. Relutei em vir até aqui, mas precisamos da sua ajuda. –declarou o siciliano, ele sabia quea influência e poder de Draco estava ligado com coisas ilegais.
-Que tipo de ajuda?
-A minha filha e a minha mulher –apontou para as duas mulheres -têm uma ótima mão para cozinha. Gostaríamos de abrir um restaurante italiano, mas não temos capital.
-É mesmo? E por que eu deveria ajudar?
Um dos filhos de Fabrizio, o mais velho, respondeu com energia:
-Ouvimos falar que ajuda pessoas necessitadas como nós. O que é preciso para que tenhamos sua ajuda? Apenas queremos viver dignamente. Estamos aqui por não termos mais a quem recorrer. Não queremos ser mais uma escória nesse país. Não quero ver a minha irmã se prostituindo ou os meus irmãos virando bandidos para sustentar a casa.
-Por favor nos ajude. –a mãe pediu.
-Seremos eternamente gratos. –Fabrizio garantiu –Terá toda a nossa lealdade. Até parte dos lucros se...
-Não. –ele interrompeu –Não quero seus lucros tão duramente ganhos. Basta ter a sua amizade.
-Sim, serei seu amigo. –Fabrizio respondeu rapidamente.
-Amigos ajudam um ao outro, são leais um ao outro. Concorda? Sabe o que isso significa? –o homem fez que sim, sabia que se algum dia o Malfoy pedisse que retribuísse o favor, ele teria que o fazer –Eu vou te ajudar. De quanto precisa?
-Cinco mil francos para abrir um lugarzinho que dê e um capital de giro razoável, é isso o que lhe peço.
Draco abriu a gaveta de sua escrivaninha e de lá tirou um talão de cheques de um banco trouxa:
-Vou te dar 10mil. Deve ser o suficiente para abrir um bom restaurante. –e assinou o cheque, entregando-o em seguida para o chefe de família.
Fabrizio sorriu e apertou a mão do Malfoy:
-Muito obrigado, Sr. Malfoy. Nunca esqueceremos a sua bondade.
-Assim espero. –respondeu sorrindo de volta –Já podem ir. Desejo-lhes progresso.
-Obrigado. –o italiano agradeceu novamente e saiu do escritório com sua família.
Logo saíram, Henri entrou, dizendo:
-Há mais pessoas que desejam falar com o senhor.
Draco suspirou:
-Não é nada fácil ser Draco Malfoy. É só isso o que tem a dizer?
-Não. Bem, Virginia Weasley saiu.
-E foi pra onde?
-Não sei.
-Não sabe? Que incompetência, devia ter perguntado.
O mordomo baixou:
-Eu não pensei nisso na hora.
-Mas isso é óbvio...Pode ir chamar quem quer me ver.
-É que são mais que uma pessoa e não são da mesma família. Na verdade são três pessoas. A quem devo chamar primeiro?
-Tem alguém que eu conheço?
-Sim. Uma amiga da sua mãe e Kelly LeCarrier.
Draco disse:
-Chame a Kelly primeiro.
-Sim, Sr. Malfoy. –e se retirou.
Kelly LeCarrier era uma francesa da idade de Gina. Tinha longos cabelos louros escuros e olhos espantosamente azuis. Era trouxa e trabalhava como modelo. Fora Draco que arranjara o emprego para ela, o que não fora difícil devido a beleza dela. Perguntava-se agora o que ela queria. A porta abriu-se e Kelly passou por ela, fechando-a em seguida.
-Bonjour, Mademoiselle Carrier. –e beijou a mão dela – Comment allez-vous?
A loira tirou seus óculos de sol e sorriu, antes de sentar-se. Respondeu em um inglês com um pouco de sotaque:
-Bem, obrigada. Graças a você, Draco.
-Desde quando aprendeu a falar inglês? –o loiro perguntou surpreso.
-Passei os dois últimos anos em Nova York. –ela explicou –Agora sou uma top model muito famosa e rica. Minha família não passa mais fome, vivem bem. Tudo graças a você.
-Eu? Apenas mexi alguns pauzinhos, você e a sua beleza fizeram o resto.
-Mas eu nem sabia desfilar, apesar de meu sonho ser me tornar o que sou agora. Você pagou os melhores fotógrafos para produzir o meu book e os melhores professores para me ensinarem tudo sobre o mundo da moda, inclusive como desfilar.
-Isso não foi nada. Não precisava vir aqui só para me agradecer.
-Não foi apenas para agradecer. –ela revelou, o encarando com os profundos olhos azuis –Eu estou de férias, então voltei para cá. Ouvi falar que você estava aqui, quando cheguei. Resolvi vir aqui.
-Por quê? Além de agradecer...
-Vim confessar. –e ficou vermelha –Sou apaixonada por você Draco, desde que nos conhecemos, há três anos.
Isso era uma surpresa pra ele:
-Não esperava isso. –assumiu.
-Mas sabe por que eu só contei agora? Sabe por que nunca deixei que percebesse? Porque eu queria me tornar digna de você. Eu era pobre e não conhecia nada do mundo. Esses dois anos em Nova York me ensinaram muita coisa, mas não mudara o que sinto por você. Eu te amo, Draco.
-Eu sou casado. –o Malfoy disse –Você sabia desde o começo.
Ela fez que sim:
-Mais um motivo pra eu deixar de ser aquela garota boba de antes. Eu queria melhorar para ser melhor que a sua mulher e fazer você olhar pra mim, consegui?
-Eu estou olhando pra você. Vejo que se tornou ainda mais bela e vivaz. Mas perdeu aquele ar de inocência...
-Sim, Draco. Eu me tornei uma mulher decidida. Decidi que quero você e ninguém mais. Quantos homens quiseram sair comigo em Nova York, nem lembro a quantidade, e eu não saí com nenhum. Sou leal à você, Draco. Se tenho a vida que tenho é tudo por você.
O loiro suspirou:
-Você entendeu tudo errado, Kelly. Ter a sua lealdade não significa me amar como homem.
Ela mordeu o lábio inferior:
-Tudo bem. Já percebi que foi um erro ter vindo aqui. Você não dá a mínima pra mim.
Draco foi cauteloso, não podia perder um contato no mundo da moda. Ainda mais quando “ele” (estava num nome fantasma) era o dono de uma agência e usava os diamantes roubados da África do Sul em suas confecções. Podia usá-la também para descobrir o que os concorrentes estavam planejando por na pista.
“Quando se é um dos privilegiados, o mundo da moda dá dinheiro, enche o seu bolso.” Pensou tranqüilamente.
-Não vá, Kelly. –Draco pediu.
-Eu preciso, estou envergonhada por ter levado um fora.
-Quem disse que eu te dei um fora?
Ainda assim, a loira ficou séria:
-Não brinque comigo, Draco.
O Malfoy foi até ela:
-Eu não estou brincando.
-Não, eu não vou aceitar isso. Eu não vou ser a outra pra você. Milhares de homens me desejam...
-Mas você só deseja à mim. –ele completou e enlaçou a cintura dela.
-Não, Draco. Eu ainda tenho amor-próprio.
-Pensei que você me amasse. –ele disse.
-E eu amo, por isso não posso.
-Vamos mudar isso. –ele disse e beijou a boca dela.
Kelly até tentou escapar, mas ele não dava espaço. Acabou relaxando nos braços dele e correspondendo o beijo:
-Não é isso o que você queria? –ele perguntou.
-Eu amo você. –ela disse, balançando a cabeça negativamente –Isso não está certo.
-Pare com essa coisa de certo e errado. –comentou e soltou-a –Te espero essa noite no Le Château. Quarto 205.
-Mas...
Ele piscou:
-Eu sei que você vai.
Kelly deu as costas a ele e saiu tempestivamente:
-Passar bem também. –disse, divertido.
“Pelo menos arrumei alguém pra passar a noite. Assim não penso tão obsessivamente na Weasley. Apesar de saber como vou conseguí-la, preciso esperar por um tempo...”
Mais batidas foram ouvidas à porta. A pessoa entrou, era a amiga de sua mãe, Miriam Santiago. Era espanhola mas vivia em Marselha desde o casamento com o marido, um francês estivador. Tinha 45 anos, pele morena acetinada. Cabelos castanhos e lisos, olhos negros e espertos. Na opinião de Draco, ela era bem conservada.
-Buenos dias, Sra. Santiago.
-Buenos dias, Señor Malfoy. Cómo estás?
-Muy bien, gracias. Aconteceu alguma coisa?
-Sí. Usted sabe que meu filho gosta de correr com o carro do pai. Yo sei que é errado. Mas o fato é que prenderam meu filho por fazer isso. Estipularam uma fiança bem cara. Eu e meu marido gastamos muito esse mês e não temos dinheiro suficiente para tirá-lo de lá.
-Quanto é a fiança?
-3 mil francos.
Draco assinou outro cheque e entregou a ela:
-Muchas gracias, Señor Malfoy. –ela disse –Por mais este gesto de amizade. Narcisa tem mesmo um filho bondoso. Hasta la vista. –e deixou o escritório.
A próxima pessoa que veio era uma garota que Draco nunca havia visto na vida. Não parecia ter mais de 20 anos. Entrou timidamente no escritório. A roupa que usava, um vestido florido e largo, escondia belas formas. A sandália que usava não tinha salto e seu cabelo castanho estava solto, caindo em seu rosto, já que estava com a cabeça baixa:
-Não tenha medo. Pode se sentar.
A garota sentou-se na cadeira em frente à escrivaninha do Malfoy. Colocou os cabelos pra trás da orelha, mas ainda se manteve de cabeça baixa e em silêncio:
-Fale comigo. –o Malfoy pediu –Ou não poderei ajudá-la. Você fala inglês? Sabe quem eu sou?
Ela fez que sim e levantou seus olhos verdes para Draco:
-O senhor é Draco Malfoy. Eu estou desesperada. –e parecia estar à beira das lágrimas.
Draco pousou suas mãos em cima das dela, num gesto de apoio, mas ela tirou-as dali imediatamente:
-Calma, garota. Eu não vou te fazer mal. Fale-me sobre você.
-Sou Cathia Simpson. Sou de Detroit, EUA. Minha família é pobre e eu precisava arrumar um emprego, tinha acabado o colegial. Então eu vi no jornal o que parecia ser a oportunidade perfeita. Ser babá aqui em Marselha. Eu sempre quis conhecer a França. Liguei para o número e dei vários dados pessoais. Em poucos dias, um cara apareceu em casa, dizendo que estava tudo pronto para que eu partisse. Eu arrumei as minhas coisas e vim com o cara. O nome dele é...
-Nem perca o seu tempo dizendo, provavelmente é falso.
-Então já sabe que não deu certo o que eu imaginava?
-Claro, só pela sua expressão e atitude já se nota que algo não está bem. Mas enfim, continue...
-Quando cheguei aqui... –e nesse ponto lágrimas rolaram pelo seu rosto –Descobri que tinha sido enganada. Disseram que eu devia o dinheiro do passaporte e da passagem e que não existia o emprego de babá. Eles me obrigaram a...me prostituir. E-e...eu era virgem. Eu n-não queria, mas eles me bateram, me obrigaram. E o dinheiro que ganho fica todo pra eles. Dizem que a minha dívida só aumenta porque eu durmo debaixo do teto deles e eles me alimentam. E-eu ouvi falar do senhor. Consegui fugir ontem à noite. P-por favor, me ajuda!
Draco engoliu em seco. Aquilo era um absurdo! Ele próprio lidava com prostituição, mas não dessa maneira sórdida. Nenhuma das garotas de programa era enganada. Estavam naquilo porque assim queriam, já que ganhavam melhor do que se não estivessem. Ele nunca obrigou que nenhuma mulher entrasse nessa vida e não deixava que seus subordinados fizessem isso. Draco não tinha nenhum bordel em Marselha, para o bem dos nervos de Narcisa, mas sabia quais eram os caras que lidavam com esse tipo de atividade na região.
-Onde você faz programa? E onde você vive?
-Na zona sul. Moro na parte de cima do bordel “Jeune Vie”. Mas se eles descobrirem que...
-A que horas o dono do lugar vai lá? –Draco sabia quem era, mas não eram íntimos.
-Às 2h da tarde.
-Então eu te levarei lá e falarei claramente que te deixem em paz.
-Mas...
-Não confia em mim? Eu posso fazer isso. Tenho poder pra fazer eles te deixarem em paz e posso te arrumar um emprego de garçonete. O que acha? Depois que conseguir dinheiro suficiente, pode voltar para os EUA se quiser. Mas depois de passado o trauma, vai descobrir que é bom viver em Marselha.
-Mas como eu poderei pagar ao senhor tudo o que vai fazer por mim?
-Apenas me considere seu amigo e seja leal a essa amizade.
-Sim, eu serei. –disse enxugando as lágrimas e sorrindo pela primeira vez.
-Almoce aqui. E às 2h eu te levo até lá. Agora vai e procure a governanta, o nome dela é Sophie. É uma mulher de meia-idade.
-Muito obrigada, Sr. Malfoy.
A garota saiu do escritório do Malfoy e em seguida entrou, sem cerimônia alguma, um homem da idade do loiro. Seu nome era Jacques Villepas. Tinha os cabelos castanhos graciosamente desalinhados e os olhos de um azul profundo que escurecia quando se encontrava nervoso. Quando Draco vinha para Marselha os dois costumavam se divertir juntos. Era um playboy bonvivant e morava na propriedade ao lado, mas para a surpresa do loiro, estava em um sério terno cinza com uma gravata de mesma cor por cima da camisa branca. O Malfoy perguntou-se se ele teria “endireitado” pela insistência dos pais:
-Draco, meu velho amigo. Como vai a vida? –Jacques disse, apertando a mão do outro.
-Na mesma. –respondeu –Mas eu é que pergunto, como vai a sua vida?
-Estou trabalhando no negócio do meu velho. Champanhe, lembra-se? Estou trabalhando no setor de exportação, chefio esse departamento. –disse entusiasticamente.
-Vejo que tomou jeito, garoto. –Draco gostava de dizer isso e vê-lo ficar bravo, já que o loiro era apenas alguns meses mais velho.
Porém, dessa vez não funcionou. O moreno continuava no seu bom humor ao responder:
-Você é que pensa... –e sorriu significativamente.
-Então me diga o que há de tão bom no seu trabalho para aparentar gostar tanto. –cobrou, já com curiosidade.
-As viagens. Muitas vezes eu tenho que resolver pessoalmente os acordos. Sabe como adoro conhecer outros lugares...
-E seus habitantes do sexo feminino. –Draco completou, o conhecendo como conhecia, era de se supor que tinha mulheres no meio. Nisso ele e Malfoy eram parecidos.
-Exatamente. –concordou o francês –E a Parvati, como vai? Consegue passar pela porta com tanto volume na cabeça?
Draco fechou a cara ao entender a anedota. Uma coisa era ele trair a mulher, outra era permitir que fizessem piadinhas com isso:
-Grande vai ser o galo na sua cabeça, Villepas.
-O mesmo estressado de sempre. Eu vivo dizendo que você ama a Parvati, mas você nunca me ouviu...
-Isso não tem nada a ver. –o loiro disse veemente.
-Ah, é? Então se você amasse a Parvati não a trairia? Está dizendo que acha amor e fidelidade indissolúveis?
-Eu não disse isso. Além do mais, acho que sou um galinha incorrigível. Eu até tento. –ao que o francês fez cara de incredulidade –É sério, Jack. Às vezes eu tento ser fiel. Mas eu não consigo. Eu acabo me sintindo culpado depois...
-Então você se arrepende? Está amolecendo, Draco? –perguntou zombeteiro.
-Não é arrependimento, eu acho. Eu apenas sinto a necessidade de dar algum presente para a Parvati. O que no fundo é uma idiotice, pois assim ela fica sabendo cada vez que eu a traio. E o pior, ela exige saber com quem foi.
-E você diz?
-Algumas vezes sim, outras eu a enrolo. Mas e você? Ainda mora aí do lado? [N/A: Entenda-se por morar na casa dos pais]
-Sim. Não te contei ainda, agora eu tenho uma Ferrari vermelha.
-Ah, legal... –comentou sem animação.
-Ah, esqueci, você não gosta muito de dirigir.
-Isso mesmo, que dirijam pra mim. Eu tenho dinheiro, posso pagar por isso. Mas além do mais, sinceramente, Ferrari não é o tipo de carro que mais aprecio. Sabe que prefiro BMW ou Jaguar. É mais o meu estilo.
-E então? Quem é aquela garota que acabou de sair daqui? Está virando pedófilo?
-Aff, não seja idiota, Jack. Pra começar, ela não é mais criança. É apenas uma moça que precisa da minha ajuda.
-Que ajuda? Que você a leve pra cama?
-Não! Nada disso.
-Então é o quê?
-Assunto particular. Não gosto de falar dos pedidos que concedo às pessoas. –falou seriamente.
Jacques entendeu como terminado aquele assunto, começou outro:
-O que acha de sairmos hoje à noite? Em homenagem aos velhos tempos.
-Não vai dar. Já tenho um compromisso essa noite...
-Quem é ela? –o moreno foi logo perguntando.
Draco sorriu:
-Já ouviu falar dela, de certeza.
-Alguma beldade famosa. Draco, seu pervertido.
-Se eu sou pervertido, você é o quê? Maníaco sexual?
Os dois permitiram-se rir e em seguida, o moreno insistiu:
-Vai, me conta. Quem é ela?
-Kelly LeCarrier.
-O quê? A top model? Nossa, meus parabéns.
-Mas e você? Está sozinho esta noite?
Jack fez que sim:
-Cheguei ainda ontem de uma viagem a Portugal.
-Fique por aqui, então. Podemos almoçar juntos.
-Ótima idéia, Draco. Mas sabe que você ainda não me falou o que o fez deixar o seu “QG” na Inglaterra.
-Negócios.
-Sempre negócios...Você às vezes é tão antiquado.
-Eu antiquado, Jack? Quem de nós dois ainda mora com os pais?
Os olhos azuis do francês estreitaram-se:
-Ora, Malfoy, isso é golpe baixo.
Draco deu umas palmadinhas no ombro do outro:
-Não leve a mal. Se você gosta da vida que leva...
-Sim, eu gosto. –respondeu, ainda um pouco menos calorosamente –Ao contrário de certas pessoas, eu não mantenho um casamento de aparências.
-Não é totalmente de aparências e você sabe disso. A única coisa é que eu não amo a Parvati.
-A sua mulher é bonita. –disse neutro.
-Obrigado. –o Malfoy respondeu –Mas não e não. Ela não está aqui e não vou permitir que ela passe pelas suas mãos ou de qualquer outro.
-Mesmo? Você sai e viaja tanto...O que acha que...
Draco interrompeu:
-A Parvati me ama.
-Você mesmo disse que não acha que amor e fidelidade são indissolúveis. E se ela achar o mesmo?
-Ela nunca me traiu. –disse com convicção.
-Como pode ter certeza?
-Meus empregados a vigiam. Se um dia ela fizer isso, ficarei sabendo. E garanto que ela terá o mesmo fim que a Chang.
-Fiquei sabendo da Chang, achei mesmo que tinha sido você.
-Não pessoalmente, é claro.
-Claro que não. Para você, os outros é que devem arregaçar as mangas e fazer o trabalho sujo. –Draco deu um sorriso, ao que Jacques continuou –Se a Parvati não veio, você veio sozinho?
-Não. –o loiro respondeu e nesse instante a porta se abriu.
Evelyn veio correndo. Usava um vestido azul e branco e seus cabelos ondeavam como os da mãe:
-Tio, Draco! –e pulou no colo dele.
-Por que não me disse que tinha uma filha?!? Quem é a mãe?
-Não é minha filha. Não ouviu ela dizer ‘Tio Draco’?
Eve virou-se para o francês:
-Quem é ele? –indagou.
-Um amigo. O nome dele é Jacques Villepas, mas eu o chamo de Jack. –informou-a -Ela pode te chamar de Tio Jack? –perguntou por ela.
-Claro. –o moreno deu de ombros –Mas me esclareça quem exatamente é ela.
-Sobrinha de uma funcionária minha. Acho que já ouviu falar dela. Virginia Weasley, advobruxa e auror. Encheu muitas celas de Azkaban desde que entrou no Ministério da Magia.
A mãe de Jacques era bruxa, mas o pai era trouxa e infelizmente ele não havia herdado muita mágica, não o suficiente para ter freqüentado Beauxbatons.
-Ouvi falar dela. Mas o que você tem na cabeça para contratá-la.
Draco deu um sorriso enigmático. Eve disse:
-A Tia Gina não está aqui. Onde é que ela foi, Tio Draco?
O loiro virou-se para a menina:
-Também não sei. Mas logo ela deve estar de volta, não tem com o que se preocupar. E a minha mãe, ela não estava com você?
-A Tia Narcisa foi num clube sei lá das quantas.
-Ah, é. Ela faz parte do Clube das Bruxas Modernas. Tem uma reunião por semana, se não me engano.
Ouviu-se uma voz:
-Ah, então é aí que está você. Não pode ficar importunando o Sr. Malfoy. –era Marie falando com a criança –Com licença. –e entrou no escritório.
-Ela não está me incomodando. –o Malfoy negou.
Jacques sorriu ao ver o corpo da empregada bem delineado contra o uniforme que esta vestia:
-Eu estava de olho nela, Sr. Malfoy. Mas de repente ela sumiu.
-Não precisa se explicar. –Draco disse –Você quer conhecer os arredores, Evelyn? -ela fez que sim –Então a leve, Marie.
-Sim, Sr. Malfoy.
-Eu poderia ir junto, não poderia, Draco? Dois adultos olhando uma criança peralta é melhor que apenas um. –o francês comentou.
Draco sabia que ele só estava falando isso por causa de Marie, mas deixou:
-Tudo bem. Mas voltem para o almoço.
Evelyn deu um beijo em Draco antes de sair acompanhada pelos dois.

***

Ao entrar novamente no táxi, o motorista perguntou:
-Para onde agora?
-Hotel Louis XIV. –Virginia respondeu, decidida.
Gina nem prestou muita atenção ao caminho, imaginava como seria o tal Burgoux.
Ao chegar em frente do Hotel, percebeu que era tão chique quanto o dos Malfoy. Mais uma vez pediu que o motorista a esperasse. Ao chegar na recepção, Gina disse:
-Poderia me informar em que quarto está hospedado o senhor William Scott Burgoux?
-Sinto muito, senhorita. Mas isso não será possível.
-Eu preciso falar com ele. Será que poderia avisá-lo que estou aqui? –a recepcionista fez uma cara de que não adiantaria, mas concordou –Qual é o seu nome?
-Virginia Weasley.
Discou alguns dígitos:
-Bom dia senhor, Burgoux. Está aqui na recepção uma mulher que deseja vê-lo, o nome dela é Virginia Weasley. Está bem. –e desligou.
-O senhor Burgoux disse que vai recebê-la. –informou –Pegue o elevador a sua frente. É no 10° andar, quarto 186.
-Obrigada. –a ruiva agradeceu polidamente e dirigiu-se ao elevador.
Quando chegou a porta do apartamento, Gina respirou fundo, e então bateu à porta. Alguns segundos depois a porta se abriu e Burgoux surgiu, dizendo polidamente:
-Bom dia, Srta. Weasley. É uma honra conhecer uma advobruxa de tamanha fama e competência. –e apertou a mão dela.
-Obrigada. –a ruiva agradeceu vagamente.
Virginia encontrava-se estupefata no momento. William Scott Burgoux não era exatamente o que ela tinha imaginado. Na verdade, sua aparência não se parecia em nada com o que a ruiva esperava encontrar: Um homem sedentário e franzino, com óculos de grau elevado, que usava as calças lá em cima com suspensórios.
Foi uma surpresa ver como ele parecia ser do tipo que praticava exercícios. Usava uma calça jeans e uma blusa pólo amarela, não parecia muito com um advobruxo. O cabelo loiro era mais escuro que o de Draco, mas também lhe caia nos olhos. Os olhos eram tão azuis, que eram capazes de fazer alguém se perder por tamanho fascínio.
“Muito bonito.” Ela não pôde deixar de pensar.
Como Gina apenas o encarava, William perguntou:
-Gostaria de entrar, não?
-Ah...sim, claro. –e entrou.
William conduziu-a até sua sala, ricamente mobiliada:
-Sente-se. Devo servir-lhe alguma coisa? –perguntou, como se estivesse entediado.
Gina mudou sua atitude de abobada para indiferente e respondeu:
-Não, muito obrigada.
-E o que lhe traz aqui, Srta. Weasley? Creio que não veio da Inglaterra apenas para me ver, estou errado?
-Está absolutamente certo. Essa não é uma visita de cortesia, Sr. Burgoux. Está acusando o Sr. Malfoy de sonegar impostos.
-Sim, isso é verdade e não é apenas uma acusação, é um fato. Mas o que isso...-e então compreendeu, apesar de ficar surpreso –É advobruxa de Lúcio Malfoy, não é mesmo? Como é que ele tem dinheiro para pagar uma advobruxa como você e não tem para pagar os impostos.
-O Sr. Malfoy não sonegou esses impostos por nenhuma razão leviana, Sr. Burgoux. O aumento que houve foi deveras abusivo.
-Muito me surpreende que esteja nesse caso, Srta. Weasley. Ouvi falar que acusou o filho dele de ser o chefe da MMVO.
Suas orelhas se avermelharam e ela amaldiçoou esse fato, não queria parecer nervosa:
-Draco Malfoy foi considerado inocente por falta de provas concretas. –respondeu calmamente, mas um brilho raivoso queimava em seus olhos –Fui induzida a acusá-lo por provas falsas que foram muito bem arquitetadas. –mentiu.
-Hum...-pareceu pensativo –O que posso dizer? Parece-me um tanto estranho...
-Mesmo? Pois à mim parece-me suspeito também o fato de só agora ter adquirido uma BMW.
-Foram muitos anos de trabalho duro, Srta. Weasley. –disse, trocando o pé que estava sob seu joelho.
“Eu não acredito que ele me deu esse mole, aposto que nem percebeu. Mudar de posição ou coisas assim denunciam quando uma pessoa está mentindo ou não se sente confortável com um assunto.”
-Verdade? Pois não acha uma incrível coincidência que cada vez que trabalha em casos de pessoas poderosas ganha algo? Esse apartamento por exemplo. Muito bonito, diga-se de passagem, mas adquiriu-o logo que se separou de sua mulher e isso foi quando estava trabalhando no caso de um renomado corretor de imóveis que estava envolvido em fraudes imobiliárias. Será que ela se separou de você por perceber que a sua ambição o levava a optar algumas vezes por aceitar subornos e coisas do tipo?
O advobruxo deu uma risada amarga:
-Você não conheceu Rose. Eu e ela vivíamos brigando por causa dos excessivos gastos dela. Ao me separar dela, livrei-me de muitas despesas e com isso comprei esse apartamento.
-E a fazenda que tem no sul da Itália? Também é fruto do seu trabalho, ou será que foi porque salvou o nome da família do Ministro da Magia Italiano? O filho primogênito dele se encontra afastado do emprego em férias agora, sob o pretexto de sofrer dos nervos e ter gritado com pacientes, porque você arrumou para que isso acontecesse, abrandar a culpa. O desgraçado merece apodrecer na cadeia! –indignou-se –Ele estuprou, sodomizou e assassinou à sangue-frio dezenas de pacientes, não poupando nem as crianças. Quantas pessoas você teve que chantagear e ameaçar para que não depusessem contra o seu cliente. Ele é uma vergonha para a Medibruxaria. Assim como você é uma vergonha para a Advobruxia.
“Como ela conseguiu ter acesso a esse tipo de informação confidencial?” impressionou-se.
O loiro não pareceu abalado:
-O que está dizendo é muito sério, Srta. Weasley. Tem como provar qualquer dessas coisas?
-Está duvidando? Eu posso provar. –disse passando firmeza.
-Então prove.
-Provaria no Tribunal, Sr. Burgoux.
-Onde está querendo chegar, Srta. Weasley? Fica aí sentada, despejando acusações aos montes em cima de mim, mas olhe para si mesma. Sabe o que ouço por aí? Há boatos de todos os tipos sobre o envolvimento de Draco Malfoy em coisas ilícitas e você trabalha para ele. Já ouvi até dizer que você é a mais nova amante dele, ou seja, não tem muita moral para falar de mim.
Gina não pôde conter a fúria. Estreitou os olhos e cerrou os punhos:
-Isso é um ultraje, Sr. Burgoux. Eu não tenho nada fora do campo profissional com nenhum Malfoy. Eu e o Harry nos separamos pacificamente, eu não correria para os braços do inimigo dele. Isso tudo é apenas sensacionalismo da imprensa.
-O que quer de mim, Srta. Weasley? Será que veio aqui apenas para termos esse tipo de conversa hostil?
-Estou defendendo minha honra e meu cliente, apenas isso. Mas o que quero é um acordo, seria melhor não ter que levar isso aos tribunais.
-Eu não acho.
Gina deu de ombros:
-Como quiser, mas o meu tempo custa caro. Minha permanência aqui será maior e tenha certeza de que farei a sua caveira. Passará de advobruxo com a carreira decolando, para advobruxo fracassado no fundo do poço.
-Devo encarar isso como uma ameaça?
-De forma alguma, Sr. Burgoux. Apenas estou dizendo que eu tenho a razão ao meu lado. Qual é? Quem é que aumenta os juros em 60%? Vão abrir um inquérito sobre isso no Ministério e garanto, cabeças irão rolar.
-Eu vou pensar sobre isso. –respondeu sério –Não gostaria de jantar comigo amanhã? –perguntou, mudando o tom para um galante.
Gina lembrou-se que ele costumava correr atrás de mulheres que não lhe davam bola. É, pelo visto ela fora colocada por ele nessa categoria. Virginia pôs de lado o fato dele ser extremamente atraente, mas também não podia não levar em conta que preferia um acordo com o advobruxo:
-Não sei, Sr. Burgoux. Talvez eu esteja ocupada. O que acha de me passar o seu telefone para que eu ligue?
Ele concordou e escreveu em um pedaço de pergaminho. Gina pegou-o e levantou-se do sofá:
-Até mais, Sr. Burgoux. –e saiu porta afora.
“Que mulher!” o advobruxo não pôde deixar de pensar.


***

Draco disse aos empregados que informassem a Virginia, quando ela chegasse, que ele desejava falar com ela.
Estava falando ao telefone com Blás, quando a ruiva adentrou o escritório:
-Depois a gente se fala, Blás. Tchau. –e desligou –Feche a porta. –acrescentou para ela.
-O seu mordomo me disse que queria falar comigo.
-Sente-se. –e ela sentou-se de frente para ele, separados pela escrivaninha –Não acha que seria melhor se me avisasse quando vai sair e para onde vai?
Gina suspirou. Não podia deixar de entender que ele tinha uma certa razão. Aquele era o território dele e ela estava ali para trabalhar:
-Sim, me desculpe. Não pensei nisso.
-Ok. –relevou –Mas onde foi? –quis saber.
-Fui até o hotel do seu pai e fiz algumas perguntas a mais. O Hotel Louis XIV é o maior concorrente do Le Château. Penso que o dono do hotel pretende prejudicar o Lê Château com esse processo e deu a Burgoux a BMW para que ele aceitasse acusar o seu pai desconsiderando o aumento exagerado nos impostos. E esse aumento deve ter sido armado pelo dono do Louis XIV. Estou certa em dizer que ele tem influência no Ministério, não?
-Sim. Raul Bourbon sempre foi um empecilho nesse negócio, mas acho que podemos contornar a influência dele, não acha?
-Claro. Burgoux é ambicioso. Lendo o relatório descobri que o caso do “Medibruxo psicopata” (como ficou conhecido) foi defendido por ele. Sabe quem era o acusado? O filho do Ministro da Magia Italiano. O caso foi abafado e o nome da família do Ministro não foi pra lama. Também tenho o endereço da ex-mulher de Burgoux, pretendo conversar com ela essa tarde. –Draco fez menção de falar, mas Gina continuou –Também falei com Burgoux. Disse que queria um acordo. Ele disse que iria pensar e me convidou para jantar.
Draco encarou-a, como se a avaliasse, então disse arrastadamente:
-Você não vai pra cama com ele.
Virginia ficou vermelha. O que ele tinha a ver com isso? E se ela quisesse ir pra cama com Burgoux? Ele não tinha o direito de impedi-la. Era apenas seu chefe e não tinha nenhum compromisso emocional com ele. O que é que ele estava pensando? Que tinha comprado uma escrava? Não, a ruiva era livre para fazer o que bem entendesse e não deixaria de gozar de sua liberdade:
-Escute aqui, Malfoy...
Ele a interrompeu:
-Já disse pra me chamar de Draco, Virginia.
-Draco. –ela frisou e continuou –Eu não sou sua escrava, apenas advobruxa da sua firma. Você não tem nada a ver com a minha vida pessoal. Você não manda em mim.
-Eu sei disso, Virginia. –respondeu, aparentemente calmo e encarando-a profundamente com seus lagos acinzentados –Mas não pensei que para ganhar uma causa vende-se seu corpo. Não precisa fazer isso, é o que estou dizendo.
-Mas...eu... A vida é minha.
-Ele é tão atraente assim? Mais do que eu? –perguntou com uma expressão marota.
Mais sangue subiu e as faces dela tornaram-se ainda mais afogueadas:
-Eu não estou dizendo que vou dormir com ele. E nunca fiz isso para ganhar um caso. –se defendeu.
-Não respondeu o que perguntei. –ele cobrou.
-E por que eu deveria? Isso é pessoal.
-Porque eu quero saber e não vou te deixar sair daqui enquanto não responder. Eu costumo ser bem teimoso quando quero, sabe? –disse em tom de confissão.
Gina suspirou:
-Ele é bonito sim, mas beleza não se põe na mesa.
-Mais do que eu?
-Que necessidade é essa de saber disso? –e ele continuou encarando-a –Sim, Draco, você é mais do que ele. Será que já inflei o seu ego o suficiente?
Ele riu zombeteiro:
-Você fica irritada em assumir.
-Assumir o quê? –ela revirou os olhos.
-Que me acha atraente. –respondeu displicente.
“Eu seria cega se não percebesse isso.” Foi o que passou por sua mente.
-Sim. Por que eu não vejo a mínima utilidade nesse tipo de conversa. Você é o empreendedor e eu a advobruxa. Nada mais que isso.
“Porque você não quer.” O loiro pensou “Ou pelo menos pensa que não quer. Em breve descobrirá o contrário.”
-Quero a sua amizade. –o loiro disse –Será que é muito pedir isso? –Gina não respondeu –A sua sobrinha reconhece que eu tenho qualidades, Virginia. Por que você não?
-Eu por acaso já te disse que não possuía qualidades? Você é esperto, inteligente, astuto, tem macro visão dos negócios. Uma lábia muito boa, devo dizer. É por isso que perguntei porquê não se tornou advobruxo, já que possui um ótimo poder persuasivo.
-E será que mesmo assim eu não vou te convencer que as minhas intenções com você são as melhores, Virginia?
Gina olhou para ele. Os lábios crispados num leve trejeito de desdém. Os olhos cinzentos ilegíveis e intensos. Os fios loiros desalinhados graciosamente, cujas algumas mechas lhe caiam nos olhos. Draco fez um movimento com a cabeça para tirá-lo dos olhos e poder mirar a advobruxa de maneira mais eficaz. Ela tinha que admitir que ele era uma maçã do Éden ambulante, o pecado em forma de homem. O tipo de anjo mau que Lúcifer fora outrora, antes de se tornar o diabo. Isso é, se Draco ainda não havia se tornado um.
A ruiva sacudiu-se mentalmente, para afastar aqueles pensamentos proibidos de sua mente e subitamente lembrou-se o que ele havia perguntado. Respirou fundo e respondeu:
-Tudo a seu tempo, Draco. Ainda precisa me fazer acreditar que não é a pessoa da qual eu tenho uma imagem formada.
“O que será impossível, é claro.” Ela acrescentou mentalmente.
“Sim, Weasley, você acreditará...Você me pertencerá inteiramente. Corpo, alma e coração. Não vai escapar da minha tortura, querida Weasley.” Draco pensou maquiavelicamente.
Ele se sentia bem consigo mesmo. Era uma questão de tempo para pôr seu plano em prática. O resultado seria formidável, exatamente o que ele queria. De repente a espera não pareceu tão longa assim. A vingança era um prato que se comia frio e disso ele entendia muito bem. Era um Malfoy. Era um sonserino. Era um ex-Comensal da Morte. E agora era o chefão da MMVO. A Família Malfoy era reconhecida pelas outras Famílias, mas fora muito difícil para Draco conseguir aquele reconhecimento. Tivera de executar planos engenhosos e arquitetados com a precisão de um cirurgião plástico. Usara de sua destreza para galgar até o pedestal em que se encontrava e dali não pretendia despencar. Assim como os fins justificaram os meios para que Draco chegasse ao poder, justificariam os meios para que se mantesse nele.
Permitiu-se mostrar seu sorriso mais atraente e confiável para Gina:
-Nós temos tempo de sobra para que confie e mim e eu sei que você irá. –disse e beijou-lhe uma mão.

[N/A: Desculpem pela demora. O que acharam? Plz, comentem! O que será que o Draco está aprontando?!? Hehehe, num conto não... Vcs acham que a Gina vai dormir com o William? E a Kelly vai mesmo no hotel? Jack conseguirá uma transa com a empregada Marie? Como será o almoço? Na mesa haverá Draco, Gina, Jack, Cathia Simpson, Evelyn, Narcisa e talvez Lúcio (ainda não decidi se ele almoçará em seu hotel). Bem, o que posso dizer é que o Draco vai ficar com ciúmes da Gina...]

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.