Elfo Livre



O Elfo Livre


 


- Harry, Harry…- Ginny balbuciou. – Há um basilisk…e eu acho que fui que quem começou os ataques…O Diário….


- O basilisk está petrificado. – Harry suspirou, enquanto se esforçava para conseguir raciocinar – E eu destruí o diário.


A dor da dentada alucinava-o, e o veneno de Basilisk entranhava-se nas suas veias, lentamente.


- Tu estás ferido…- Weasley reparou, horrorizada.


- Veneno de Basilisk. – Harry murmurou. - Se eu morrer, tens de lhes entregar o diário e dizer que a Câmara dos Segredos foi selada. Vai directa para o Gabinete do Snape. Ok?


Ginny acenou. Harry forçou um sorriso e apontou a varinha à própria perna, abriu vários golpes com a varinha e queimou a zona da ferida. Gritou alto de dor. Os seus olhos encheram-se de lágrimas. E a perna tremia a olhos vistos. Ginny levou as mãos à boca, horrorizada.


- A perda de sangue e as queimaduras vão dificultar a subida do veneno e consequentemente o seu efeito. Talvez tenha mais tempo. – Harry explicou numa voz rouca, enquanto atava um pedaço do seu manto em torno da sua perna, para impedir a passagem de sangue. – Tenho pouco tempo.


Ginny estava pálida e a tremer de medo. Harry coxeava apoiado nela. Antes de abandonarem a Câmara, Harry cobriu o Basilisk com uma camada de gelo: era um réptil e o frio acabaria por matá-lo.


Subiram uma escadaria, depois de passarem a porta do alçapão. Harry achou que ia desmaiar. A perda de sangue deixava-o fraco. Sentia o efeito do veneno, matando-o lentamente. Cada passo era incrivelmente doloroso. A visão estava turva e ele sentia-se tonto, mas obrigou-se a continuar. 


Cedo se sentiu esgotado. Suores frios percorriam o seu corpo. A sua respiração tornou-se cada vez mais lenta. Ginny soluçava ao seu lado, e arrastava-o pela escada acima. Ele estava pálido, o seu corpo fraco, e via uma estranha e reconfortante luz para onde quer que olhasse. O mundo parecia cada vez mais distante.


Quando chegaram à Casa de Banho do Segundo Andar deixou-se cair no chão frio. Estava molhado, e ele sorriu. Gostava de água. Morrer parecia menos doloroso do que viver. Fechou os olhos.


- Levanta-te, Harry. Levanta-te. – Ginny soluçou.


- Potter. – Era Theo que se escapulira para ir enviar uma carta e passava à porta da Casa de Banho por mero acaso do destino. – O que aconteceu? Levanta-te, Harry.


Theo agarrou-o pelo colarinho, e tirou-o do chão. Harry viu-se obrigado a abrir os olhos. Theo apoiou um dos braços de Harry no seu ombro. Ginny fez o mesmo do outro lado.


- Aguenta-te, Potter. Vamos. – Theo murmurou.


Harry caminhou e foi arrastado ao longo de corredores desertos, pingando sangue atrás de si. Os músculos ardiam, terrivelmente. Lágrimas saiam dos seus olhos. Gemia de dor.


Entraram no gabinete de Snape. Harry murmurava palavras sem nexo, eram as alucinações do veneno. O gabinete estava cheio. Weasley, Longbottom, Draco e Daphne estavam sentados em cadeiras à frente da secretária. Atrás desta, estava Dumbledore, com Snape e McGonagall em pé atrás de si. O casal Weasley estava de pé à entrada.


- Deitem-no no chão. – Snape foi o primeiro a reagir. Desencostou-se do armário, imediatamente, e agarrou nuns quantos frascos de poções.


- Tens de lutar, Harry. – Daphne murmurou, sentando-se ao seu lado. – Não desistas, Harry.


Mas Harry limitou-se a sorrir. Já não sentia nada. Apenas frio.


Snape ajoelhou-se e despejou qualquer coisa no golpe que o basilisk lhe fizera. Harry gemeu de dor. Os seus sentidos começaram a voltar.


- Potter. Consegues ouvir-me? – Snape sacudiu-o ligeiramente.


Harry pestanejou. O seu cérebro alucinava, a dor era demasiado horrível. Ia jurar que vira os seus pais. Por entre a luz branca, surgiam massas pretas. E a voz de Snape parecia distante.


“Professor” Conseguiu murmurar.


 “Tens de te manter connosco. Começa a descrever o procedimento da Poção Básica de Curar” Snape ordenou.


Deu-lhe a beber um frasco. Harry esforçou-se por engolir. Gemeu de dor. Não conseguia pensar em nada senão na dor.


“A Poção Básica de Curar” Snape repetiu.


“Não consigo” Harry murmurou.


 “Concentra-te” Snape disse, calmamente. Despejou mais umas quantas poções nas suas feridas.


 Harry começou a dizer o conteúdo, inseguro. Snape ia acenando em aprovação, principalmente, quando Harry mencionava os pormenores mais rebuscados. Concentrar-se em alguma coisa ajudava a ignorar a dor.


Percebeu que Snape colocara lágrimas de Fénix na sua ferida, e o obrigara o meu conteúdo. O veneno começava a abandonar o seu corpo. Harry começava a sentir-se mais lúcido e o procedimento da poção tornava-se cada vez mais claro no seu cérebro.


- Salamandras? – Snape perguntou. Harry hesitou. Parecia que tinha levado um tiro. Os sentidos voltavam lentamente. A dor de cabeça, a dor nas pernas, a falta de sangue…


- Iguanas. – Harry corrigiu-se. – Coração de Iguanas.


Snape acenou em aprovação. E Harry continuou a debitar o procedimento. O seu cérebro faiscava com o esforço. Snape obrigou-o a engolir mais meia dúzia de poções. Harry reconheceu a Poção de Transfusão de Sangue e a Poção Revigorante.  Com a ponta da varinha, Snape fechou os golpes e curou as queimaduras.


 Sentia-se melhor. Cansado, mas vivo. Na sua perna, só restava uma cicatriz, onde o dente de basilisk o esfaqueara.


- Obrigado, senhor. – Harry murmurou, quando Snape curou a última queimadura.


- Estás bem, Harry? – O Professor confirmou. Todos os presentes ficaram espantados pelo uso do seu primeiro nome, Harry inclusive.


Naquele momento, Severus Snape temera pela vida de Harry Potter. Daphne respirou fundo e afundou a cabeça no tronco de Harry, que sentiu as suas lágrimas e pôs um braço à sua volta.


Snape ajudou-o a levantar-se e sentou-o na cadeira de Daphne.


Durante um quarto de hora, Harry falou sobre o seu confronto com Lord Voldemort. Todos os presentes o ouviram num profundo silêncio. Molly Weasley chorava baixinho, e abraçou Harry, no final.


- Muito inteligente. – Sibilou Snape, quando Harry contou como queimara e esfaqueara a própria perna para retardar os efeitos do veneno.


Longbottom e Weasley pareciam ambos bastante embaraçados. Harry soube mais tarde que eles haviam denunciado Daphne como Herdeira de Slytherin, e não tinham acreditado na história que Draco contara a Snape.


- Longbottom, Weasley, creio que a vossa presença aqui não é mais necessária. – McGonagall sentenciou – Apesar de terem quebrado umas quantas regras da escola na vossa inútil investigação, vou ignorar dadas as circunstâncias. Considera-te cheio de sorte, Weasley. Podem sair.


McGonagall saiu atrás deles.


- Molly, Arthur, tenho a certeza que a Ginny precisa de descansar. Porque não a levam para a enfermaria? – Dumbledore sugeriu. – Ela não será acusada de nada, não se preocupem. Feiticeiros mais velhos e experientes viram-se manipulados por Lord Voldemort.


Os três Weasley acenaram, e abandonaram o gabinete. Dumbledore parecia ter muito para dizer, mas Snape antecipou-se.


- O que é suposto fazer com vocês os três? – Suspirou o Chefe de Slytherin. – Dificilmente conseguiam ter quebrado mais regras da escola, não acham? Principalmente, tendo em conta que estavam em risco de ser expulsos, Potter e Malfoy.


- Senhor, o que teria feito de maneira diferente? – Harry arriscou perguntar.


Dumbledore sorriu. Os olhos de Snape fixaram-se em Harry por um momento, depois, acenou.


- Nada. Mas isso não quer dizer que esteja certo. – Snape disse, devagar. – É a segunda vez que te expões a perigo desnecessário, Potter. Descer pela Câmara dos Segredos foi praticamente suicídio.


- Eu disse que vos expulsava a ambos. O que só mostra que, por vezes, temos de engolir as nossas próprias palavras. Cada um de vocês os três vai receber 200 pontos por serviços prestados à escola.


Snape sorriu. Eram seiscentos pontos para os Slytherin. A Taça da Equipa ficava, novamente, garantida.


- Obrigado, senhor. – Agradeceu Draco.


- Malfoy, Greengrass, desapareçam. – Snape ordenou.


Harry franziu ligeiramente as sobrancelhas. Snape saiu atrás deles, deixando Harry e Dumbledore a sós no gabinete. Harry detestava o olhar penetrante de Dumbledore, era o mesmo que ele lançava a Tom Riddle, aquela percepção que o Director sabia mais do que eles se atreviam a dizer.


- Então, encontraste Tom Riddle, um dos mais brilhantes alunos que já passou por este castelo. Calculo que ele estava muito interessado em conhecer-te.


- Ele queria saber como é que eu morri. – Harry resumiu. – Eu contei-lhe que a minha mãe morrera por mim.


- Estou a ver… - Dumbledore suspirou – Só isso?


Harry não queria que o Director soubesse que ele se achara parecido com Lord Voldemort. “Sim, senhor. Só isso” Respondeu. Mas Dumbledore parecia estar um passo à sua frente.


- Provavelmente, notaste certas semelhanças entre ti e Tom Riddle. Possuem ambos uma extrema desenvoltura e determinação, extremamente reservados e talentosos…e mostram um certo desprezo pelas regras da escola. – Dumbledore sorria. – Se eu não me engano, Lord Voldemort passou alguns dos seus poderes para ti, na noite em que te fez essa cicatriz. Não que quisesse fazê-lo, mas aconteceu.


- É por isso que o Chapéu Seleccionador me pôs nos Slytherin, não foi? – Harry perguntou. – Ele viu parte de Lord Voldemort em mim.


- É muito provável. – Dumbledore acenou - Na minha opinião, enquadravas-te , perfeitamente, nos Gryffindor.


Harry não soube o que dizer. Não se imaginava nos Gryffindor, mas a indecisão do chapéu ainda ecoava na sua mente.


- Voltaste. – Lucius Malfoy entrou no Gabinete. Os seus olhos estavam fixos em Dumbledore. Dobby, o elfo doméstico, atrás dele.


- Pediram-me que voltasse, quando Ginny Weasley foi levada para a Câmara. – Dumbledore explicou, brevemente.


- E, contudo, não foste tu que resolveste a situação. – Lucius Malfoy olhou para Harry.


- É verdade. – Dumbledore reconheceu. – Tratava-se de Voldemort. Mas desta vez, agiu através deste diário. Imagina o escândalo que seria se Ginny Weasley fosse acusada de atacar muggles, a própria filha do Arthur Weasley.


- Imagino. – Mr. Malfoy acenou.


- Foi o próprio pai quem lhe deu o diário. – Harry afirmou. – Ele comprou-o ao Borgin, porque queria informações sobre os ataques aos muggles. Aposto que o Borgin estava desejoso de se livrar do diário, porque sabia que podia ser associado a Lord Voldemort. Mr. Weasley não deve ter visto mais do que páginas em branco, e deu o diário à filha mais nova.


Dumbledore não parecia acreditar nas palavras de Harry. Lucius Malfoy sorriu.


- Dar à própria filha um artigo da Borgin&Burkes é, no mínimo, irresponsável.


Lucius Malfoy saiu com esta deixa. Harry voltou-se para Dumbledore.


- Na realidade, senhor, eu tenho uma coisa para perguntar a Mr. Malfoy, posso ir? – Harry sorriu.


- Com certeza, Harry. Vai lá. – Dumbledore acenou.


Harry correu atrás de Mr. Malfoy. Contou-lhe resumidamente do bilhete em casa dos Dursley, do bloqueio da plataforma e da bludger do jogo de Quidditch.


- Eu acho que alguém sabia dos poderes do Diário e como ele fora parar às mãos de Ginny Weasley. – Harry explicou – E tentou salvar-me a vida, por assim dizer. Eu acho que foi o seu elfo doméstico, senhor.


- O quê? – Lucius pareceu espantado – Dobby?


Dobby tremeu de medo. 


- Quase que mataste Harry Potter, e quase que conseguiste que ele e o meu filho fossem expulsos. – Lucius sibilou. Descalçou uma das suas luvas e deixou-a cair aos pés do elfo – Não voltes a minha casa.


Dobby agarrou na luva. Os seus grandes olhos abriram-se de espanto. Pareceu ficar extremamente feliz, o que era estranho. 


- Pai. – Draco apareceu no corredor, acompanhado por Blaise. – O que estás aqui a fazer?


- Eu sou um membro do Conselho da Escola, preciso mesmo de um motivo para andar por cá? – Lucius retorquiu. – Vim esclarecer uns assuntos com o Dumbledore. O Profeta Diário vai ter um dia em cheio.


- Hum…Vou lê-lo, então. – Draco sorriu.


- Potter, Malfoy, o que estão aqui a fazer? – Perguntou uma voz atrás deles. Era Snape.  – Vão descansar, ou garanto que vos mando a ambos para a Ala Hospitalar. Ah! Olá, Lucius.


Os dois adultos trocaram um aperto de mão casual. Harry e Draco seguiram para o dormitório. Harry adormeceu assim que tocou na cama, nem sequer vestiu o pijama. 

N/A: Quero comentários :( 

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Comentários (2)

  • Guilherme L.

    AInda bem que voltastes,passar 1 semana longe da fic pra quem estava acostumado a lê-la todo dia foi péssimo kkk,continua ótima como sempre =]

    2013-03-28
  • Xandevf

    MUITO BOM OS DOIS CÁPITULOS, SENTI UM POUCO DE FALTA DA FAWKES, MAS ACHO QUE O HARRY SE FEZ DE BOBO, ESSE LIVRO NÃO VEIO DO PAI DA GINA FOI MESMO O MALFOY. E QUE A AVENTURA CONTINUE.

    2013-03-28
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