A Rejeição da Noiva



Abri os olhos lentamente. Pisquei uma, duas vezes.


Tentei relembrar o dia de ontem, e não foi difícil. As milhares de imagens vieram como um jato repentinamente em minha cabeça. Tentei me sentar na cama macia, mas com um gemido de dor lembrei que minha perna não estava tão curada assim.


Olhei ao redor, ainda sonolenta; deveria estar de dia, pois uma fraca luz entrava pelas cortinas entreabertas.


Esfreguei os olhos, bocejando, e quando os reabri ofeguei de susto. Uma figura caminhava lentamente na cama, me fitando com seus olhos azuis à claridade.


- Felix! – eu disse, enquanto ele se aconchegava em meu colo, ronronando. – Ah, que bom que voltou.


Ele miou satisfeito quando eu comecei a coçar sua cabeça peluda, e ao mesmo tempo percebi meu malão de Hogwarts a um canto. Tiago tinha razão quanto à chegada das bagagens.


Depois de um tempo, coloquei Felix de um lado e me levantei com dificuldade da cama. Saí mancando até a mala, peguei minha escova de dente e fui até o banheiro.


Como era de se esperar, minhas olheiras estavam mais fundas que o normal, os poucos cortes do rosto já estavam todos curados e meu cabelo recomposto.


- Ei, ei! – Tiago protestou quando cheguei até a cozinha; a Sra. Potter estava servindo a mesa do café, e Sirius e o Sr. Potter lendo o Profeta Diário. – Não deveria ter se levantado, sua perna não está totalmente curada.


- Tiago, eu sei andar. – falei, quando por exagero, Tiago me ajudava a me sentar na cadeira. Sirius riu.


- Lílian, é muito bom te ver novamente. – o Sr. Potter sorriu. – Lamento você ter conhecido nossa casa de um jeito tão desagradável.


- É muito bom revê-lo também. – sorri em resposta, enquanto a Sra. Potter despejava panquecas em meu prato.


- Viu a reportagem do Profeta Diário de hoje, Lílian? – Almofadinhas disse me estendendo o jornal aberto.


A manchete ocupava uma página inteira junto a uma foto da Marca Negra em cima no Cabeça de Javali, em preto e branco:


Hogsmeade novamente atacada


Ontem, aproximadamente às oito horas da noite, um novo ataque ocorreu em Hogsmeade, a vila que rodeia a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Comensais da Morte invadiram o Cabeça de Javali, um dos bares do local, em busca de Percy Butler, funcionário do Departamento de Transportes Mágicos do Ministério da Magia. Os aurores declaram que Butler não tinha relação alguma com atos suspeitos: "Percy nunca se envolvia com nenhum tipo de brigas, ele era totalmente calmo e desprovido de tais características", declara Milena Brown, uma dos aurores que presenciaram o ocorrido. Percy Butler foi encontrado morto no mesmo bar, onde um Comensal o atingiu com a Maldição da Morte, segundo testemunhas. "Dois daqueles homens mascarados entraram no bar e depois murmurou um feitiço estranho, apontando pro céu.", disse um dos presentes, não querendo ser identificado. O feitiço a que ele se referiu foi a conjuração da Marca Negra, conhecida como a marca de Você-Sabe-Quem.


Depois do ocorrido com os dementadores meses atrás, os moradores e visitantes do vilarejo ficaram indignados com a falta de proteção do Ministério: "Muitas pessoas foram feridas, algumas quase mortas, mesmo com aqueles aurores soltos por aí ainda corremos perigo! Isso foi de total irresponsabilidade! Com esses tempos a segurança é essencial!" protesta Madame Rosmerta, proprietária do famoso Três Vassouras.


E pra quem achava que o perigo havia acabado com a chegada dos aurores havia se enganado: momentos depois mais dementadores invadiram o local, causando o terror nas pessoas restantes. Os aurores os repeliram, porém os poucos Comensais da Morte recém capturados conseguiram fugir.


"Havíamos pego dois Comensais que já estavam entre a lista de suspeitos, mais conhecidos como Wilkes e Rosier. Eles se aproveitaram do ataque dos dementadores para escapar.", conclui Alastor Moody, um dos aurores.


A comunidade bruxa não podia estar mais assustada com esses fatos, e mais uma vez solicitamos cautela em todas as casas incluindo feitiços de proteção, atualmente muito importantes (Veja o artigo "Protegendo seu lar", pág. 9).


- Tanto rebuliço pra nada. – a Sra. Potter balançou a cabeça.


- O Ministério deve estar um caos hoje. – o Sr. Potter disse, tomando um gole de seu chá.


- Esse Butler não tinha família? – questionei, comendo panquecas; admito que a Sra. Potter tinha um grande dom pra cozinhar.


- Pelo que eu saiba não. Nem filhos, nem pais. – a Sra. Potter comentou.


- Coitado. – murmurei.


- Coitado? – Sirius disse. – Se os Comensais foram atrás dele quer dizer que ele aprontou alguma.


- Nem sempre. – Tiago discordou. – Nem todas as vítimas. Às vezes ele estava sendo chantageado ou coisas do tipo.


Pelo resto do café Tiago e Almofadinhas passaram a discutir as chances de Butler ter se envolvido com os Comensais. E, depois de terminado, a Sra. e o Sr. Potter partiriam para o Ministério.


- Lílian, tem certeza que não quer passar mais dias aqui? – o Sr. Potter convidou.


- Obrigada, mas meus pais devem estar realmente preocupados.


- Entendemos você, querida. – a Sra. Potter disse. – Somos pais de Tiago Potter.


Tiago e Sirius me acompanharam nas risadas.


- E espero que você volte logo. – ela continuou. - Com tudo isso que aconteceu nem tivemos tempo para nos conhecermos melhor.


Ela deu uma piscadela, mas antes que eu respondesse, Tiago disse:


- Com certeza ela vai voltar.


- É. – confirmei. – Sempre que puder.


A Sra. Potter nos deu um último abraço, o Sr. Potter nos cumprimentou, e juntos, os dois entraram na lareira e sumiram na nevoada de pó verde.


- Bem, agora eu vou indo. – eu disse.


- Eu te levo. – Tiago se adiantou. – Já avisei meus pais.


- Porque você precisa me levar? – eu protestei de sobrancelhas erguidas. – Eu sei aparatar muito bem.


- Lílian, você está com a perna machucada. Sem falar que você já tem estrunchamento o bastante para correr o risco de conseguir mais um.


- Mas agora não tem nenhum Comensal da Morte por aqui, tem?


- Não. Mas vou te levar. Garantir que estará segura.


Eu suspirei; Tiago tinha a péssima mania de ser autoritário quando estamos machucados.


- Certo. – falei por fim. – E você Almofadinhas?


- Bom, eu vou pra minha casa pegar minhas últimas coisas. - ele respondeu mostrando desânimo. – É claro, vou deixar algumas coisas pro meus queridos pais nunca se esquecerem de mim.


Sirius foi o primeiro a aparatar, dizendo que me encontraria em breve. Tiago e eu, depois de estarmos firmemente juntos ao malão e a Felix, fomos em seguida.


Aquela sensação nauseante e detestável voltou enquanto girávamos. Fiquei com o receio de sentir uma dor novamente, então nossos pés bateram no chão.


- Tudo inteiro? – Tiago perguntou, rindo.


- Acho que sim.


Minha casa estava do seu jeito habitual, o jardim aparado, o Fiat vermelho do meu pai estacionado em frente à garagem. Um burburinho indicava que a televisão estava ligada. Tiago parecia observar a casa com certa curiosidade.


Toquei a campainha. Esperei que fosse Túnia que atenderia a porta, pois durante as férias, como percebi, ela corria a toda velocidade para atender qualquer um que batesse, receando que seria o namorado. Porém, a pessoa que atendeu foi minha mãe.


- Lílian! – ela exclamou, me puxando para um abraço.


- Ai! Cuidado, mãe!


- Com o quê? – ela se afastou pra me avaliar, então viu minha perna enfaixada. – O que aconteceu com sua perna?


- Longa história.


- Você não nos mandou nenhuma carta. Ficamos preocupados e indecisos se íamos até a Estação te buscar.


- Longa história. – repeti, enquanto ela observava Tiago atrás de mim.


- E esse é...?


- Ah. É. É o Tiago, meu namorado.


Ela sorriu.


- Muito prazer em te conhecer. – ela disse, apertando sua mão.


- Igualmente. – Tiago disse, se divertindo.


- O que estamos fazendo aqui fora? – ela instigou. - Vamos entrando.


A casa estava completamente arrumada, pois minha mãe tinha o hábito de limpar quaisquer sujeiras ou pó que pousasse em algum móvel.


Tiago parecia encantado com o que via. Seu olhar se deteu demoradamente no liquidificador quando passamos pela cozinha.


- Fique a vontade. – ela disse, nos levando até a sala de estar. Eu tinha razão quanto a televisão; um musical passava animado na tela.


Meu pai se encontrava lá; por coincidência hoje era seu dia de folga no trabalho.


- Lílian! – ele exclamou com mesma surpresa que minha mãe. – Estávamos preocupados com você.


- Estou bem. – eu sorri, enquanto ele me abraçava.


- Que bom, que bom. – ele disse e seu olhar se deteve em Tiago. – E você deve ser o namorado dela, suponho?


- É, sou. – Tiago disse se adiantando. – Tiago Potter, senhor.


- Muito prazer. – meu pai sorriu em resposta.


Tive que narrar toda a história para eles; Tiago me ajudou em nada, continuava a admirar a televisão. Minha mãe e meu pai pareciam não entender nada também, mas ficaram assustados quando eu deixava as coisas mais "claras".


- Isso é horrível! – minha mãe comentou, espantada. – Graças a Deus você está bem, filha!


- Mas está tudo bem, mãe. Não se preocupe.


- Tudo bem. Você está aqui, não é? – ela suspirou, acariciando o peito. – Bem. Vou trazer um café para nós.


Ela se levantou e foi até a cozinha.


- Então, Tiago. – meu pai começou. – Que profissão está pretendendo seguir?


- Estou querendo me tornar um auror. – ele falou com certo orgulho na voz.


- Aurores são pessoas que capturam bruxos das trevas. – expliquei, quando ele parecia não ter entendido.


- E isso é perigoso, não?


- Um pouco. – Tiago respondeu. – Lílian vem tentando me impedir.


- Eu já concordei. – retruquei. – Mas não deixa de ser perigoso.


Minha mãe agora já voltava com a bandeja nas mãos. Eles passaram o resto do tempo conversando; mesmo sem entender absolutamente nada sobre o mundo bruxo, meus pais pareciam fascinados. E por suas expressões, pareciam, pro meu alivio, se simpatizarem com Tiago.


- Mãe, onde está Túnia? – perguntei, quando o assunto sobre o departamento em que os pais de Tiago trabalhavam havia acabado.


- Saiu com aquele noivo dela. – ela respondeu com desagrado.


Logo mais tarde Tiago me ajudou a levar minhas coisas pro meu quarto no segundo andar. Minha mãe sempre mantivera sua limpeza e organização, já que eu passara os dias em Hogwarts. Eram as habituais cortinas damasco, a cama, o guarda-roupa e a televisão, que uma vez meu pai me dera de aniversário.


Depois de depositar o malão a um canto, Tiago virou-se pra mim.


- O que é aquilo? – Tiago apontou para a TV.


- Uma televisão.


- Ah. A vetelisão que o Almofadinhas disse.


- Não, Tiago. – eu ri. – É televisão. Te-le-vi-são.


- E aquilo?


- Uma tomada.


- E pra que serve?


- É dela que sai energia elétrica.


- Incrível. – seus olhos brilharam. – Os trouxas sabem mesmo se virar.


- É claro que sabem.


- E aquele tanto de coisa na cozinha?


- São eletrodomésticos.


- Precisa de tudo aquilo? – ele indagou, surpreso.


- Os trouxas não tem varinhas, Tiago. – lembrei.


Ele continuava a observar o quarto, o que me fez pensar que o dele estaria no mesmo estado que seu dormitório em Hogwarts.


- Gostei dos seus pais. – ele comentou. – E da sua casa.


- Eles também gostaram de você.


Ele sorriu, satisfeito.


Escutamos um barulho de carro no andar de baixo. Sinal que Túnia chegara.


Quando chegamos ao hall, a cara de Petúnia não pode ser pior quando nos viu. Desagrado, nojo, desprezo, antipatia, constrangimento e surpresa, tudo ao mesmo tempo.


- Olá, Túnia. – cumprimentei; eu ia abraçá-la, mas vendo sua expressão deixei de lado. – Olá Válter.


O noivo de Petúnia parecia ter engordado mais ainda desde a ultima vez que eu o vi; não era pra tanto, já faziam quase sete meses. Ele apenas deu um aceno de cabeça, balançando sua cabeça gorda, que tampava metade do pescoço.


- Túnia, esse é o namorado de Lílian, Tiago. - minha mãe disse, apesar de não ser preciso. Ela avaliara Tiago de cima a baixo e torcera o nariz com certa incredulidade.


- Oi. – falou simplesmente, seu rosto ficando vermelho.


- Prazer. – Tiago respondeu e notei que estava visivelmente reprimindo o riso.


- Bom, já que Tiago está aqui, temos um convite a fazer. – meu pai anunciou, contente.


Petúnia arregalou os olhos, parecendo prever o que viria a seguir.


- Como sabe, Petúnia vai casar daqui alguns dias – ele começou; se é que podia, Túnia ficou ainda mais ruborizada. – E se quiser comparecer e trazer seus pais, está convidado.


- Pai! – Túnia guinchou. Fiquei com receio de Tiago se sentir ofendido, mas mantinha a expressão risonha de antes.


- Ora, Túnia, seu pai está certo. – minha mãe interveio. – Ele é namorado de Lílian, tem que comparecer e trazer seus pais para nos conhecermos.


- Mas o casamento é meu! Eu que escolho os convidados!


- Você já escolheu o bufê, a decoração, o local e os garçons a dedo. – meu pai suspirou, embora sorrisse. – Temos que optar em alguma coisa, não?


- Mas...


- Então, Tiago – minha mãe a interrompeu –, aceita o convite?


- Ah, é claro. – Tiago assentiu sorrindo.


Petúnia bufou e puxou Válter para o corredor e depois pra escada acima, os passos ecoando em grande altura.


- Não ligue pra ela. – minha mãe balançou a cabeça. – Ela está muito estressada por esses dias.


- Sem problemas. – Tiago respondeu e então consultou o relógio. – Bom, já está na minha hora. Passei muito tempo aqui, minha mãe com certeza já apareceu lá em casa.


Meus pais insistiram pra ele ficar, com certeza interessados em ouvir mais sobre o Ministério, mas Tiago dizia precisar ir.


- Bom, então até mais ver, Tiago. Adorei conhecê-lo. – minha mãe o cumprimentou novamente.


- Queria que ficasse pra almoçar, rapaz. – meu pai apertou sua mão. – Mas nos veremos no casamento de Petúnia. Lílian te informará o local e a data.


- Estarei lá. – Tiago respondeu. – Prazer em conhecê-los também.


- Vou te levar até a porta. – falei.


Ainda meio manca, fui até a porta com ele, apesar de o acompanhar até o jardim.


- Vai ser uma perda de tempo esse casamento. – comentei.


- Se eu fui convidado, estarei lá. – ele riu. – E por falar nisso, sua irmã não pareceu gostar muito de mim.


- Acho que nem de mim ela gosta direito. – suspirei.


- Eu confesso que fiquei surpreso. – ele disse, a testa franzida.


- Eu sei. – suspirei novamente. – Ela anda esquisita mesmo nesses últimos dias e...


- Não é disso que estou falando. – ele balançou a cabeça. – Quero dizer que comparando sua beleza com a dela, eu nunca imaginaria que vocês são irmãs.


Eu ri, ruborizada.


- Bom, então não deixe de me avisar. – Tiago falou com um certo brilho nos olhos. – Casamentos sempre são divertidos.


- Talvez você vai excluir esse da lista.


Tiago voltou a fitar minha perna enfaixada.


- Cuide-se bem, ok? Quando puder venho te visitar.


- Vou sentir sua falta. – eu sorri.


- Eu também. Mais um motivo pra mim te visitar quando puder.


Ele se aproximou e me beijou, demoradamente, aproveitando que estávamos a sós.


- Até mais. – retribui seu sorriso. Ele se afastou, e com um estalo desapareceu.


Quando voltei pra casa, Túnia já estava descendo de volta com Válter nos calcanhares; me perguntei se estariam observando eu e Tiago pela janela e pensei na cara que ela talvez tenha feito quando o viu desaparatar.


Ela passou por mim, como se não me visse e levou o noivo até a porta; meus pais voltaram a assistir TV. Me juntei a eles, e Túnia logo estava de volta.


- Ele já foi embora? – minha mãe perguntou a ela, despreocupada.


- Foi. – Túnia disse com rispidez. – Mãe, eu não quero aqueles... aquelas pessoas no meu casamento. Eu não admito. Eu escolho quem vai ou não.


- Petúnia, está decidido. – meu pai cortou. – Eles são nossos convidados. Queremos conhecer os pais do namorado de sua irmã.


- Ela não tem nada a ver com isso. – ela respondeu com desdém, visivelmente fingindo não notar minha presença na sala.


- Pai, mãe, não precisam insistir. Tiago não precisa comparecer. – comecei, mas minha mãe balançou a cabeça.


- O convite está feito. Não podemos simplesmente dizer a eles pra não vir. – ela disse, e virou-se pra Túnia. – Filha, pare com isso. Seja legal pelo menos uma vez na vida.


- Voce sabe que qualquer coisa pode acontecer, não é? – ela insistiu. – Sei lá, com eles na festa é possível até explodir as coisas.


- Bruxos não são monstros para sair causando explosões. – reclamei, ofendida.


- Se quiser, eles são. – ela retrucou sem olhar pra mim. – Eles devem ser loucos.


- Bruxos não são loucos. – respondi irritada. – E pare com isso, Túnia. Eu não tenho culpa de eles terem sido convidados, mas quando vierem garanto que são boas pessoas.


- Portanto, assunto acabado. – minha mãe respondeu, se levantando. – Teremos a família Potter em seu casamento, será bom conhecê-los. Vou preparar o almoço.


Túnia bateu o pé no chão, enfurecida e indignada, e, ainda bufando, subiu apressada a escada. Ouvimos um baque alto de porta se batendo.


- Não precisavam... – comecei.


- Petúnia tem que aprender que nem tudo é do jeito que ela quer. – meu pai respondeu, voltando a atenção pra TV.


- Posso falar com Tiago. Ele vai entender que Túnia não está acostumada com isso.


- Você parece concordar com ela. Parece não querer que eles venham.


- Não é isso, pai. – suspirei. – Só não quero causar confusão. Túnia estava muito entusiasmada com esse casamento.


- A presença deles não vai afetar a festa. Fique sossegada, Lílian.


Eu estava sossegada, ao contrário de Túnia. Pelo resto do tempo ela parecia esquecer de minha presença; e também parara um pouco de falar apenas no casamento: parecia não querer lembrar dos novos convidados.


E eu esperava que essa sua rispidez, sua indignação, não chegasse a magoá-los. Mais do que nunca, eu queria paz.


Naquela noite finalmente parei pra pensar, enquanto dormia novamente em meu quarto, observando a claridade clara dos lampiões da rua entrar por minha janela.


Depois de todo aquele rebuliço dos ataques de dementadores e Comensais, parei e refleti. Eu havia terminado Hogwarts. Começaria uma nova vida, um novo caminho. Isso era revigorante, e também preocupante. Mais preocupante do que revigorante.


O que seria daqui pra frente? O que aconteceria? Em que ponto chegaria minha relação com Tiago? Eu ia realmente me tornar uma curandeira? O mundo bruxo começaria a ter, finalmente, paz?


E minha cabeça fervilhava de perguntas, junto às lembranças boas e sombrias.


A única coisa que eu devia fazer agora é esperar; esperar para o que vier. Enfrentar o que está por vir. Deixar o tempo decidir.


E assim, me lembrei de uma frase que um dia eu dissera a Tiago, enquanto comemorávamos meu aniversario na Sala Precisa: Não é pra pensar nisso, Tiago. Esqueça do futuro e viva o presente.


Já estava na hora de eu seguir meus próprios conselhos. E junto a essa, lembrei de outra coisa que uma vez Maria me falou: Bola pra frente.


E é assim que tinha que ser: esquecer do futuro e viver o presente. Isso caia bem agora.


Tudo daria certo e tudo se resolveria. E eu iria torcer para que o destino finalmente trouxesse algo bom para se aproveitar.


E então dormi pensando nisso. A vida continuava, e tínhamos que aceitar e enfrentar tudo o que estava por vir.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.