Epilogo



- Petúnia, ande logo! Estamos mais do que atrasados! – ouvi meu pai gritar do hall.


Túnia ainda terminava de se arrumar em seu quarto, rodeada por mim e minha mãe. Apesar de ela ter passado o dia inteiro na manicure, cabeleleira e SPA – o que achei muito exagero – continuava a andar pelo quarto, dando voltas, acrescentando retoques nos lugares já retocados antes, arrumando o vestido sem necessidade.


Ela até que estava bonita: seu vestido era longo e comprido, descendo por seu corpo magro demais, seda branca. Uma tiara, como presente de meus pais, dava destaque a seus cabelos castanhos. A única coisa que me incomodara, porém, fora sua maquiagem exagerada.


- Filha, você está linda. Não precisa de mais nada. Já estamos atrasadas! – minha mãe pressionou; ela pareceu não ouvir.


- Noivas tem o costume de chegar atrasadas ao casamento. – Túnia respondeu despreocupada, aprumando ainda mais a tiara nos cabelos.


- Mas desse jeito vamos chegar muito atrasadas. – comentei. – O caminho até lá não é tão curto.


- Se está reclamando, pegue uma vassoura e vai voando. – ela disse com desdém.


Túnia passara a falar comigo, mas apenas para jogar na minha cara que não me convidara pra ser madrinha. No começo fiquei um pouco magoada, mas depois passei a aceitar. Ela havia chamado uma tal de Guida, irmã de Válter.


- É melhor descerem logo! – meu pai repetiu, ainda gritando do andar de baixo.


- Chega, Petúnia. – minha mãe disse, perdendo a paciência. – Vamos agora.


- Mas...


- Voce já se atrasou demais.


Petúnia desceu indignada, ainda enfurecida por não poder enrolar mais. Meu pai passou o resto do caminho resmungando o atraso.


O casamento seria numa espécie de parque privado; eu já havia visitado o lugar antes: tinha grandes campos, rodeado por várias árvores altas e um lago se estendia por todo o centro.


Demoramos um pouco mais no trânsito, pra felicidade de Petúnia. Eu não estava entendendo muito o porquê dela querer chegar atrasada.


- Eu falei que ia ser difícil depois! – meu pai reclamou, entrando numa rua totalmente lotada por carros.


O trajeto demorou mais uns vinte minutos; circulamos de uma rua a outra, avenida por avenida, até chegar à entrada do local, já ocupada por vários carros na entrada.


Túnia desceu do carro, com a ajuda de minha mãe. Não parecia nervosa, e sim triunfante.


Eu já podia sentir a brisa fresca, açoitando os galhos, fazendo aquele delicioso som das folhas balançando; ouvi um barulho de água, sinalizando o lago.


- Bom, eu vou na frente. – falei, enquanto Túnia insistia em demorar mais um pouco. – Vou ver se Tiago já chegou.


Quando dei as costas, Túnia parecia muito mais confortável.


Caminhei mais apressadamente pela grama; o reflexo do sol das três batia fortemente na pequena parte do lago que eu já podia ver.


Um pouco mais de tempo eu já avistava a tenda branca, perto de alguns quiosques luxuosos. Me perguntei porque eles insistiram eu fazer algo tão exagerado.


À medida que eu chegava, ouvia os cochichos dos convidados. E finalmente pude ver o lago; era longínquo, cercado por varias sebes altas e bem aparadas.


Muitas cabeças se viraram para mim quando adentrei o espaço onde as milhares de cadeiras estavam, já todas ocupadas.


Não foi difícil achar os Potter: Tiago e o Sr. Potter estavam, para minha surpresa, com vestes habituais trouxas; os ternos pretos combinavam exatamente com os cabelos. O que chamou minha atenção foi a Sra. Potter, usando um elegante vestido vinho. Ninguém nunca imaginaria que ela seria bruxa, e sim alguma socialite a julgar por seus acessórios. A meu pedido, meus pais reservaram um lugar para mim ao lado deles, na segunda fileira.


- Olá! – cumprimentei-os, me sentando ao lado de Tiago.


- Lílian! – a Sra. Potter falou com um sorriso. – Que bom que chegou! Achei o lugar lindo.


- Os noivos têm bom gosto. – eu disse com uma risada baixa. – Ah, e Túnia vai chegar em breve.


- Sem problemas. As noivas podem se atrasar. – a Sra. Potter respondeu, e por um momento delirante imaginei ela e Petúnia tornando-se amigas.


- Tenho certeza absoluta que você está mais bonita que a noiva. – Tiago comentou em meu ouvido, baixinho e avaliando meu vestido verde-água.


- Pois acho que você está enganado. – respondi, rindo.


Válter Dursley já estava à frente; não parecia nervoso e nem excitado. Parecia mais entediado. O padre estava ao centro da mesa olhando de um lado para o outro, trajando uma túnica habitualmente branca. A madrinha, como supus, já estava ao lado do irmão. Eles pareciam gêmeos, ambos gordinhos, os olhos quase fechados sobre as bochechas. A mulher parecia ser um palmo mais gorda que Valter, talvez por ser mais velha.


Os convidados pareciam ansiosos, olhando para trás. O Sr. e Sra. Potter, assim como Tiago, pareciam muito curiosos, observando cada detalhe das vestes trouxas, achando tudo impressionante.


O tempo se prolongou por mais uns dez minutos, e fiquei fazendo suposições do que Túnia estava fazendo para se atrasar mais.


- Porque tanta demora? – Tiago disse impaciente. – Quer dizer, as noivas atrasam, mas essa...


- Túnia está querendo enrolar um pouco. – expliquei.


- Bom, uma coisa eu tenho certeza – ele disse, olhando para trás por cima do ombro. – Eu estava com razão quando disse que você está mais bonita que a noiva.


Os convidados se viraram, observando a "carreata" entrar. Túnia desfilava, de nariz em pé, um sorriso de triunfo. Meu pai, um pouco mais baixo que ela, apenas sorria. As duas criancinhas, duas garotas que eu reconhecia como filhas de uma amiga de minha mãe, entravam balançando seus vestidos, sorrindo e mostrando seus poucos dentes de leite. Minha mãe já estava perto do padre, pois se esquivara rapidamente enquanto os dois entravam. Algumas pessoas cochichavam baixinho uma pras outras, talvez comentando o vestido.


A cerimônia se seguiu, os habituais votos e palavras. Uma fungada baixa mostrava minha mãe, na fileira da frente. Tive que cutucar Tiago umas duas vezes, pois ele dava um longo – e alto até demais – bocejo.


- Francamente, quanta enrolação. – ele resmungou. – Os casamentos dos trouxas são muito monótonos.


- Não reclame. Foi você quem quis vir.


- Pensei que ia ser divertido.


- Eu te avisei que esse sairia da sua lista. Ninguém mandou não me escutar.


Ele bufou.


- Bom, espero que no meu casamento as coisas não sejam assim.
Fiquei intrigada com seu comentário, a julgar pela sua expressão. Mas então o padre começou a dar as bênçãos finais.


Tiago reprimiu o riso, quando Túnia e Válter deram o beijo. Túnia era alta e magra demais, Válter o contrário. Foi uma cena meio engraçada, e tive que cutucar Tiago, que disfarçou com uma tossida.


As palmas ecoaram pela tenda.


Os convidados saudaram quando os noivos passaram, em direção ao enorme quiosque que aguardava a festa.


- Muito interessante os casamentos trouxas. – o Sr. Potter comentou, juntando-se a nós.


- E qual a diferença entre um casamento trouxa para um bruxo? – indaguei, enquanto acompanhávamos o resto das pessoas até o quiosque.


- Tem muitos efeitos, se é que me entende. – ele explicou. – Mas o resto é bem parecido.


O quiosque já ecoava com as conversas. Uma banda que eu nunca vira na vida tocava uma música lenta e baixa. Em um canto e outro as longas mesas forradas de pano branco estavam cheias de comida: salgados, doces, cervejas, refrigerante, uísques além de outras completamente desconhecidas; com certeza Válter convidara gente rica para a festa. A mesa principal estava com um bolo de glacê de três andares, com miniaturas de noivos no topo. Garçons andavam pra lá e pra cá, as bandejas tombando de taças e os convidados cumprimentavam os noivos.


- O que é isso? – Tiago perguntou para um garçom que lhe estendera várias taças cheias.


O garçom o olhou confuso.


- Temos uísque e refrigerante. – ele respondeu educadamente.


- Refrigerante? – Tiago perguntou, pegando uma das taças. – Não seria refrigerador?


- É refrigerante, Tiago. Uma bebida. – respondi, rindo e puxando-o para longe do garçom, que coçara a cabeça, sem entender.


- Isso é bom. – ele falou, tomando um gole. – Os trouxas inventam cada coisa.


Mais longe, os pais de Tiago cumprimentavam os noivos. Nos aproximamos para ouvir.


- É muito prazer te conhecer. Somos os pais de Tiago, namorado de Lílian. – a Sra. Potter sorriu para Túnia; ela fez uma careta misturada de incredulidade e espanto. – Estou adorando a festa, estão de parabéns.


Túnia e Válter não responderam. Válter parecia realmente interessado quando viu o terno do Sr. Potter.


- Ah, vocês são os Potter? – minha mãe se aproximou. – Que bom que vieram!


- Muito prazer. – a Sra. Potter a cumprimentou calorosamente. – Sou Mafalda Potter e esse é meu marido, Thales.


Pelo resto da festa, as duas não se desgrudavam mais, absortas em suas conversas. O Sr. Potter também conversava com meu pai, ambos falando sobre o Ministério, novamente.


- Pelo visto eles gostaram um dos outros. – Tiago riu satisfeito. – É claro, exceto por sua irmã.


- Espero que o comportamento dela não tenha magoado seus pais.


- Que nada, eles nem perceberam. – ele me tranquilizou.


A festa prosseguiu. À medida que os convidados bebiam de tudo, partiam para o centro do quiosque, dançando. Tentei me esconder de Tiago, mas ele me puxou antes que eu conseguisse tal feito. Depois vieram meus pais e outros casais, que por fim deram espaço para os noivos dançarem a habitual valsa. Tiago se engasgou com o uísque.


Em seguida cortaram o bolo e fizeram o brinde, afinal, todas as características de um casamento normal de trouxas.


- Lílian, vem aqui minha filha. – minha mãe me chamou junto a Sra. Potter. – Eu estava falando para Mafalda que voce comentou comigo que quer ser médica.


- Curandeira, pra falar a verdade. – corrigi, rindo.


- É uma profissão muito interessante essa, Lílian. – a Sra. Potter sorriu. – Ao contrario de Tiago. Auror! Ele só está querendo me matar do coração.


- Eu ouvi isso. – Tiago se aproximou; pelo visto ele viciou em refrigerante. Dei graças por a bebida não ter álcool. – Tenho que aguentar essas duas falando em meu ouvido para eu mudar de opinião.


- Eu já parei. – me defendi.


- E falo mesmo – a Sra. Potter reclamou. – Você sempre foi de bancar o bagunceiro, o espertinho, Tiago, mas ser auror é muito complicado.


- Eu sei de tudo isso, mãe. – Tiago revirou os olhos.


- Bom, só tenho que torcer para que Lilian ponha juízo na sua cabeça. – ela suspirou, mas seu sorriso se alargou. – E então, pra quando vai ser?


- O quê? – perguntei de sobrancelhas erguidas.


- Ora... – ela começou, mas Tiago interveio.


- Vamos dançar, Lílian. – ele me puxou para junto aos outros convidados.


- Não quero dançar. – protestei. – E o que sua mãe estava querendo dizer com aquilo?


- Sei lá. Acho que ela tava falando sobre... você entrar para o curso de curandeiros.


Continuei intrigada, mas Tiago voltara a querer me fazer dançar.


A tarde se estendeu e a festa continuava agitada. A cena me lembrava fracamente as festinhas que Slughorn sempre costumava dar em sua sala.


- Atenção, a noiva vai jogar o buquê! – uma mulher loira gritou em alto e bom som.


- A noiva vai o quê? – Tiago perguntou com ar risonho.


- Jogar o buquê. Tradição de casamentos trouxas. – eu ri baixinho, enquanto milhares de mulheres se aglomeravam em torno de Túnia. – Quem pegar o buquê vai se casar também.


- E você não vai lá?


- Eu não.


- Por quê? – ele perguntou, desconfortável. – Voce não... quer se casar?


- Eu não acredito nessas coisas. – dei de ombros quando Túnia começou: "E é um!".


- Lílian, porque você não vai até lá também? – a Sra. Potter perguntou, olhando a cena e se divertindo. "E é dois!"


- Perda de tempo. – eu ri.


- Deixe de bobeira. – minha mãe me empurrou. "E é três!"


Túnia lançou o buquê para trás. Ele sobrevoou as cabeças desesperadas das mulheres, enquanto o buquê voava.


Houve um grito desapontado e mútuo quando o buquê caiu em minhas mãos, certeiro. Túnia fez uma careta de desprezo.


- Lílian! – minha mãe comemorou. – Não acredito, vou ter mais uma filha casada!


- Superstições. – respondi com desdém.


- Ora, nem sempre. – Sra. Potter riu.


- Bom, com certeza houve magia para ele vir até a mim. – acusei Tiago com o olhar; ele jogou as mãos pro alto.


- Juro que não fiz nada. – ele disse, seus olhos brilhando.


- Às vezes superstições acontecem. – a Sra. Potter riu misteriosamente, enquanto os convidados voltavam ao centro para dançar.


Dessa vez o casal Potter se juntou aos outros na dança; fingi conversar com uma amiga de Túnia para Tiago não me chamar. Não adiantou.


- Lílian. – chamou ele.


- Não vou dançar, Tiago. Você vai acabar me deixando enjoada.


- Não é isso. – ele falou, a expressão repentinamente seria. – Vamos dar uma volta comigo?


- Uma volta? – perguntei desconfiada.


- É. Não vou fazer nada suspeito, eu prometo. – ele sorriu.


- Tudo bem.


Saí com ele, atravessando a multidão que conversava, ria e dançava. Os jardins exalavam um vento gelado, o que era bom por conta do verão escaldante. O crepúsculo aparecia lá fora, o sol quase sumindo, dando uma cor maravilhosa ao céu. As árvores balançavam, os grilos guinchavam e varias folhas rolavam pelo local.


- Onde o senhor está me levando? – perguntei, rindo.


Tiago continuou sem resposta, ainda me conduzindo pela mão.


Por fim, depois de uma pequena caminhada, paramos perto da beira do lago, onde era rodeado por milhares de sebes altas. Era um dos lugares mais bonitos do parque, e supus, que como em Hogwarts, Tiago dera uma explorada.


Ele se virou pra mim, seu rosto ilegível, e engoliu em seco; uma coisa nova nele.


- Precisamos conversar. – falou.


- Já percebi. – respondi, embora um pouco temerosa. Essa frase "precisamos conversar" nunca demonstrou alguma coisa boa.


Ele respirou fundo, mas então sorriu.


- Lílian, você se lembra do que me disse em Hogwarts? – ele começou. – Sobre estar sempre comigo?


Assenti, confusa.


- Era sério, não era?


- Tiago, dá pra você ser mais claro? – indaguei impaciente e meio trêmula.


Ele suspirou, depois de um tempo prolongado. Deu um sorriso de todos os dentes e falou:


- Lílian Caroline Evans. – ele disse, rouco. – Você aceita se casar comigo?


E estendeu uma caixa, contendo um simples – e lindo – anel com uma pequena pedra que brilhava na noite.


Seguiu-se o silêncio.


Digamos que por essa eu não esperava. Eu esperava que ele dissesse sobre sua carreira de auror, ou a minha de curandeira, mas... isso?


Os grilos continuavam ao redor. Agora a lua nascia, iluminando só uma pequena parte do lago.


Abri a boca, mas não saiu nada.


- Eu... queria fazer do jeito tradicional. – ele falou, como se pedisse desculpas.


Continuei sem respostas, ciente de que meus olhos começaram a lacrimejar e meu coração martelava rápido.


- E-Eu... – comecei, perdida.


- Você?


Suspirei e dei um pequeno sorriso, apesar de ainda espantada.


– É claro que aceito.


Tiago deu um sorriso radiante, seguido pelo triunfo.


- Não precisava disso tudo. – eu ri, enquanto me atirava em seus braços; ele me envolveu da mesma maneira, rindo do mesmo jeito.


- Achei que gostaria. – ele fez um beicinho.


- Eu adorei. Não estou reclamando, estou? – falei, enquanto ele ria. – E então era isso todo aquele mistério? Aquilo que sua mãe estava falando?


- É. Ela nunca consegue se segurar. – ele balançou a cabeça.


Retirou o pequeno anel da caixa, e com os olhos brilhando e sorrindo mais do que nunca, colocou-o suavemente em meu dedo. Curvou-se e beijou minha mão, ternamente.


- Eu te amo. – falei baixinho.


- Eu também, futura Sra. Potter. – ele brincou com um sorriso malicioso.


Tiago me beijou, seus lábios movendo-se levemente nos meus. Quase dava para sentir o sorriso ainda em seus lábios, enquanto as lágrimas que brotaram, finalmente escorriam por meu rosto.


E eu não sabia quanto tempo ficamos ali, aproveitando um ao outro, escutando o barulho calmo das águas, olhando as primeiras estrelas e por vezes escutando gritos sonoros vindo do casamento lá longe.


E agora eu só podia me importar com uma coisa: eu e Tiago íamos nos casar. Essa frase soava estranha; e também deixava as coisas meio insanas. Mas era assim que tinha que ser. Finalmente eu ficaria ao lado dele, junto a ele, como eu sempre quisera. O amor da minha vida, aquele que sempre me fez feliz. Ficaríamos juntos.


E só de pensar que um dia eu o odiei e desprezei o máximo que pude, agora carregava em meu dedo uma aliança de noivado dele. Isso parecia ter pertencido à outra vida. Uma vida totalmente diferente da que estava por vir.


Uma vida, agora e finalmente, ao seu lado.


Fim




Obrigada a todos que leram!

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Comentários (3)

  • Neuzimar de Faria

    Dificilmente alguém vai conseguir escrever uma história tão maravilhosa e doce a respeito deste casal quanto a sua. Você está de parabéns! Não basta escrever bem, tem que se ter sensibilidade para que a história saia perfeita. E isso você tem de sobra. Até a próxima!

    2012-10-21
  • Biatriz Evans

    Escreve mais, por favor! Tua história é maravilhosa!

    2012-06-18
  • Nanda Grint

    Você escreve tão bem! Sua fic é tão linda <3 T.T só falta o casamento u.u 

    2012-05-16
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