O gosto amargo do álcool

O gosto amargo do álcool



Serena despertou de seu cochilo, provavelmente agora os alunos já teriam voltado do jantar no Salão Principal. Ela espreguiçou-se, passou a mão pelos cabelos e saiu do dormitório carregando livros, pergaminhos, pena e tinta. Precisava colocar a matéria em dia, afinal de contas era seu primeiro ano em Hogwarts e já teria que prestar os N.O.M.s no final do ano letivo.

Então pensou em Malfoy. A raiva crescia em seu peito: muita gente sabia sobre o boato de a família Malfoy ser envolvida com as Trevas, ele simplesmente não precisava ter dito que não queria ser um Comensal! Serena odiava mentiras, apesar de estar rodeada por diversas delas. Sua vida toda lhe fora escondida por uma grande calúnia contada por Snape!

Eliza aproximou-se, saindo de perto de Blaise Zabini um pouco corada e ofegante, mas a outra garota nem sequer percebeu. Então acomodou-se no chão, perto da amiga.

‘-Serena! Você não deveria estar descansando?’ – Eliza repreendeu em tom de riso.
‘-Argh, não agüento mais dormir! Passei a tarde toda naquele maldito dormitório. E além do mais tenho uma porção de tarefas para fazer, e matéria atrasada, você sabe, dormir por quatro dias não faz com que as coisas se mexam sozinhas.’ – Serena disse, prendendo seus cabelos lisos e negros em um coque frouxo.
‘-Está bem então’ – respondeu uma Eliza divertida até demais – ‘Você se importa se eu for direto para o dormitório esta noite? Já adiantei minhas tarefas da semana.’
‘-Percebe-se.’ – Serena respondeu, abrindo um sorriso torto, olhando para Blaise, depois para Eliza – ‘Precisa de mais tempo livre agora?’ – ela ergueu as sobrancelhas.
‘-Não!’ – ela sorriu – ‘Não é nada, bem, ainda. Nós ainda estamos nos conhecendo melhor.’

Serena olhou para ela divertida, e voltou a se concentrar nos pergaminhos e livros sobre a mesa.

Havia mesmo muita gente na Sala Comunal da Sonserina naquela noite.

Inclusive Blaise Zabini e Draco Malfoy.

‘-Droga!’ – exclamou o loiro, dando um soco com força demais no centro da mesinha entalhada.
‘-O que foi agora,Draco?’ – perguntou um Blaise sonolento, bocejando – ‘Desde o baile você só faz a socar as coisas. E cara, isso tá me irritando.’
‘-Vá se danar, Blaise. Droga, droga, droga!’ – Malfoy exclamou, colocando a cabeça entre as mãos e bagunçando seu cabelo incrivelmente liso e loiro.
‘-Tá bem, Draquinho, entendi, a coisa é séria. O que está acontecendo?’ – o moreno perguntou, calmo demais para o ver do amigo.
‘-Se você me chamar de “Draquinho” mais uma vez juro que arranjo umas fadas mordentes pra por no seu traseiro idiota.’ –ele suspirou e contou mentalmente até dez – ‘É a Serena. Ela ficou desacordada por quatro estúpidos dias e eu nem sei se ela tá mesmo bem.’ – o tom de preocupação era evidente em sua voz.
‘-Eliza não comentou nada sobre a Snape quando falamos sobre o dia do Baile.’ – ele disse, dando de ombros.
‘-Ela comentaria, se você tivesse soltado a boca dela.’
‘-Tem alguém mal-humorado por aqui...’ – então Blaise reuniu toda a coragem que ele achava que tinha e soltou: ‘-Fala sério, Draco, você estava dando uns amassos na Snape antes do lance da floresta. É por isso que você quer tanto saber dela. Não é mesmo?’ – ele levantou uma sobrancelha, presunçoso.
‘-Por que você está dizendo isso?’ – perguntou um Draco desconfiado.
‘-Porque eu sei, Draquinho, quando alguém deu uns amassos em algum lugar. E você definitivamente deu uns amassos na neve com a Snape.’ – Draco não respondeu, apenas coçou de leve a cabeça – ‘E agora eu queria saber porque ela foi atrás de você na Floresta Proibida.’
‘-Eu saí correndo e Serena foi atrás, eu falei para ela não me seguir, e achei que ela tinha ficado por lá.’ – ele deu um suspiro longo e pesado. Seu cabelo estava todo bagunçado, com fios para todo lado.
‘-Eliza me disse que viu você e a Snape brigando...’
‘-Deve ter parecido a ela que aquilo era uma briga.’ – o rapaz deu de ombros, e afrouxou o nó da gravata verde e prateada, o que só contribuiu com seu visual desleixado.
‘-Draco, sério. Fale com ela. Você está péssimo, e sonserinos não merecem ficar nesse estado.’
‘-Eu não sou um estúpido grifinório corajoso, Blaise!’- ele grunhiu, agitando as mãos – ‘Ela podia ter, sei lá, morrido, por minha culpa! Não vou falar com ela.’
‘-Tudo bem, seja um estúpido sonserino covarde, então.’

Eles ficaram em silêncio por mais algum tempo, enquanto Draco descontava sua raiva em seu normalmente impecável cabelo platinado, e a Sala Comunal ia esvaziando. Agora ele podia avistar Serena concentrada em alguns pergaminhos.

‘-Droga, Blaise. Eu tenho que saber se ela está bem agora.’ – Draco disse, olhando para a garota.
‘-O que você está esperando?’ – Blaise perguntou teatralmente irritado, apontando para a direção de Serena – ‘Vá resgatar o belo dragão, digo, dama.’
Draco sorriu fino e balançou a cabeça: aquilo só podia vir de Blaise Zabini, e então rumou para a direção de Serena. O loiro pode ver o amigo indo para o dormitório deles e lhe dando espaço para conversar com Serena.



‘-Serena?’ – ele chamou, por trás do sofá ao qual ela estava encostada
Ela simplesmente não acreditava que ele tivera coragem de vir até ela. A raiva crescia, de dentro para fora, em tamanhas proporções que ela teve de cerrar os punhos antes de virar para ele, exalando fúria.
‘-O que há, Malfoy?’ – disse, zangada.
Então o rapaz acomodou-se no sofá, ao lado dela, enquanto a morena permaneceu no chão.
‘-Nós nem conversamos depois, você sabe, do baile...’
‘-Certamente que não. Eu estava meio ocupada, sabe, passando um tempo na Enfermaria.’ – ela respondeu irônica e secamente, desta vez sem tirar os olhos do pergaminho.
‘-Eu não queria que nada daquilo tivesse acontecido, OK? Eu falei pra você ficar lá! Não era pra você ter me seguido!’ – ele soltou, exaltado.
‘-Me desculpe, Malfoy. Achei que você tivesse repulsa demais pelo que seu pai fazia para ser também um Comensal. E você estava me usando. Para o quê, eu não sei.’ – ela disse com frieza, dando de ombros, porém deixando escapar uma gota de mágoa.
‘-Droga, Snape! Por que você tem que ser assim tão teimosa e cabeça dura?’
‘-Sinto muito, Malfoy, mas não pedi pra você vir até aqui hoje. Nem hoje, nem nunca. Nós nunca tivemos nada. Alguns beijos e amassos não dizem nada. E mesmo se pra você tivesse havido algo entre nós, isso acaba aqui. Me esqueça, não me procure, finja que eu não existo, se mate, eu não sei, mas fique longe de mim.’ – o olhar de Serena era feroz, e ela segurava a varinha firmemente dentro das vestes. Seus olhos estavam mais gelados e furiosos do que jamais o rapaz vira, e suas sobrancelhas não estavam arqueadas de deboche, e sim de desdém. – ‘Você é um idiota rico e mimado, que mal se conhece e acha que tem poder sobre as outras pessoas só porque é filho de um Comensal! Você não é nada, Malfoy, e vai continuar sendo um nada seguindo os passos do seu pai, como você está. Seu destino é mesmo ser Comensal nojento e repugnante!’
‘-Você é mesmo uma Snape idiota!’ – urrou ele, com o olhar brilhando de desespero.
‘-Sua opinião não me interessa, Malfoy, não se humilhe mais e vá para seu dormitório. Lembre-se do que eu te falei’ – ela deu uma última olhada feroz para o garoto, e voltou para seu dever de casa.

Draco olhou-a detrás do sofá por mais alguns instantes. Por que ela explodira daquela maneira? Ela achava mesmo que ele a usara?

Quando todas as suas forças esgotaram, ele foi para o dormitório, mais acabado do que estivera desde sua última reunião de treinamento para Comensal, quando o pai o aprisionara em casa para que comparecesse.



Blaise ainda não tinha dormido, estava apenas deitado em sua cama a mirar o teto de pedra do dormitório. Assustou-se ligeiramente quando Draco chegou sem fazer barulho e depois jogou-se na cama, correndo as cortinas.

‘-O que aconteceu, cara?’ – perguntou o moreno, abrindo as cortinas da cama do amigo e vendo-o procurar alguma coisa em sua antiga arca de família. – ‘Achei que você só voltaria mais tarde, cansado de beijar a Snape...’
‘-Se você não percebeu, não foi bem isso que aconteceu.’ – Draco disse, irritado, tirando uma garrafa de firewhisky do baú e conjurando dois copos.
‘-O que aconteceu? Ela te disse pra nunca mais olhar na cara dela?’ – ele disse debochando, e Draco acenou de lado com a cabeça, confirmando – ‘Eliza disse isso pra mim no quarto ano, lembra? Mas veja, voltamos às boas depois de algum tempo, apesar de ela não ter aceitado sair comigo de novo, e eu não ter insistido muito nos últimos dois anos.’
‘-Serena é diferente, você não entende.’ – ele suspirou, enchendo os dois copos até a boca – ‘Ela estava furiosa, e me disse um porção de coisas. E eu simplesmente fiquei lá ouvindo, Blaise! Eu, Draco Malfoy, fiquei sentado esperando uma garota falar o que queria para mim.’ – ele passou a mão nos cabelos e pegou no copo. Virou todo o conteúdo de uma só vez, estremecendo depois.
‘-Mas por que você está fazendo isso mesmo, Draco? Achei que você só beijava ela porque ela é gostosa.’ – Blaise disse confuso, tomando um gole da bebida.
‘-Garota idiota!’ – ele urrou por entre os dentes cerrados – ‘Não sei por que raios te ouvi, Zabini! Deu em uma merda ainda maior!’ – ele tornou a encher o copo e o entornou como se o líquido fosse água.
‘-Você gosta mesmo dela, Draco?’ – perguntou um Blaise Zabini ligeiramente temeroso.
‘-Não, claro que não! Er, ela só me deixa frustrado. Ela não é como Pansy e metade das garotas de Hogwarts.’
‘-Não,’ – Blaise sorriu torto – ‘ela é Serena Snape, o dragão de Hogwarts. Não sei por que você foi se meter com ela, Draquinho.’
‘-Cala a boca, Blaise.’ – ele disse, virando mais um copo.

Eles então passaram a conversar sobre assuntos mais amenos e descontraídos, enquanto o loiro não parava de encher o próprio copo.

‘-Hum, Draco, já não está na hora de parar de beber? Achei que esse fosse o firewhisky para emergências.’
‘-Não, não está, Blaise, e foda-se o firewhisky, pego outra garrafa em casa durante o feriado de Natal, isso não é problema.’ – Draco sorriu de embriaguez e tornou a encher o copo – ‘À mim, e aos meus estúpidos erros.’ – e o rapaz ergueu a taça no ar, sendo observado por um Blaise embasbacado.
‘-Chega, Draco. Já passou da hora de irmos dormir, para não acordarmos atrasados para às aulas.’
‘-Blaise Zabini, o que houve contigo? Esse sempre foi o meu papel, controlar bebedeiras e horários.’ – ele gargalhou, como se aquilo fosse extremamente engraçado.
‘-É seu papel só quando você não tá bêbado e aparvalhado dessa maneira. Vamos, Draco, vá para a sua cama.’ – Blaise amparou o loiro e deixou-o na cama, partindo assim para a sua.


Draco simplesmente não conseguia dormir. O efeito da bebida foi passando e lá estava ele, ainda em suas vestes de escola, usando meias, deitado encarando o teto. Por que a Snape, justo ela, o fizera sentir daquele modo? Vivo e feliz, como há muito não era.

Todas as palavras dela machucavam. E o garoto pôs-se a pensar em tudo o que ela dissera. Todas as coisas que ela dissera doíam imenso, latejavam. ‘Um idiota rico e mimado, que mal se conhece e acha que tem poder sobre as outras pessoas só porque é filho de um Comensal’. Talvez ele fosse mesmo aquilo tudo. Talvez Serena estivesse certa. Ele não se conhecia. Vivia à sombra de seu pai, desde sempre.

Talvez fosse por isso que Serena o afastara: ele não a merecia.

Quem ele era? Não o exterior que havia criado para si, não o Draco Malfoy. Quem era Draco, somente Draco, sem o peso de seu sobrenome? Será que se fosse sempre assim Serena não duvidaria de que ele não queria ser um Comensal? Se ele fosse Draco, Serena ainda se interessaria por ele? Mas agora tanto fazia. Ela não o queria de maneira alguma.

Draco, porém, ainda queria. Talvez quando descobrisse quem ele era, procurasse por ela, sustentasse seu olhar e falasse tudo que tinha de falar. Talvez a procurasse quando pudesse contar tudo que teria de fazer, e todo o peso que carregava, quando pudesse mostrar à Serena quem ele realmente era. Mas nesta noite ele ainda era Draco Malfoy, e estava sendo treinado à força para ser um Comensal.

***

Serena, apesar de tudo, também chegara arrasada em seu dormitório. Eliza ainda estava acordada, lendo um livro pequenino, encostada à cabeceira da cama. A morena jogou a capa sobre a cama, e depois as vestes de escola, trocando-as por uma camiseta de sua banda trouxa favorita e um short curto.

Elizabeth apercebeu-se então da presença da amiga. Correu as cortinas da cama de Serena e a encontrou segurando uma taça, e uma garrafa de vinho estava no chão.

‘-Serena? O que houve?’ – perguntou Eliza de olhos arregalados vendo Serena virar a primeira taça de um gole só.
‘-Estou oferecendo um brinde à minha estupidez. Aceita uma taça?’ – ela respondeu, apática, seus fios negros estavam debilmente presos em um coque desleixado.
‘-O que é isso, por Merlim? Por que você está aqui, sentada no chão, bebendo? Serena, estou falando contigo!’ – ela disse, chamando a atenção da outra, que parecia muito concentrada na cortina esverdeada.
‘-Nenhum motivo especial, a não ser eu ser a pessoa mais trouxa da face da Terra.’ – Serena respondeu calmamente, degustando um longo gole da terceira taça de vinho.
‘-Ei, vá com calma na bebida.’ – bradou Eliza, tirando a garrafa de perto de Serena.
‘-Me devolva a garrafa, Elizabeth.’ – o olhar da morena era firme, e não dava chance de uma resposta negativa – ‘Vamos lá, estou dizendo para me dar essa merda dessa garrafa.’
‘-Serena, me escute. Você não deve estar bem, beber não resolverá nada.’
‘-Quem disse que é para resolver? Vamos lá, de cá a garrafa e vá deitar.’ – Eliza olhou afoita para a amiga, e segurou a garrafa mais forte contra o peito – ‘É sério, Eliza, está tudo certo’ – Serena amenizou o tom de voz, tranqüilizando a outra – ‘, eu não vou fazer mais nenhuma estupidez por hoje, te asseguro. Pode ir dormir, vou ficar por aqui mais um pouco.’
Elizabeth calmamente estendeu a garrafa para Serena, mantendo contato visual.
‘-Serena, você tem mesmo certeza que está tudo bem, e que posso ir dormir?’ – perguntou, aflita.
‘-Não está tudo bem, Eliza. Se estivesse, eu não estaria aqui, no chão, bebendo um pouco de vinho.’ – a morena disse calmamente, como se explicasse à uma criança – ‘Mas você pode ir deitar sossegada, já passa.’
‘-Ora, Serena! Fico aqui contigo então, se não está tudo bem. Podemos conversar sobre isso e quem sabe eu possa de ajudar...’
‘-Não, Eliza, fique tranqüila e vá dormir. Eu só preciso ficar um pouco sozinha.’
‘-Está bem, então. Mas qualquer coisa que você precise, sabe que pode me chamar, não é?’
‘-Eu sei, Eliza, eu sei. Boa noite.’

Elizabeth saiu correndo as cortinas, deixando Serena lá, no chão, encostada à cama. Ela agora apreciava o vinho, ao invés de engolir tudo de uma vez. O sabor doce da uva que se tornava o gosto amargo do álcool e queimava de leve a garganta da garota.

Talvez tivesse uma ressaca no outro dia, mas não ligava, sua vida já era uma merda, uma grande merda.

Não imaginara que falar com Malfoy a afetaria desse jeito; talvez o que a deixara daquele jeito fora o que ela falara para ele. Mas ela não se importava. Agora que estava sozinha podia abraçar os joelhos e notar que seus olhos estavam lacrimejados.

Passara algumas semanas beijando Malfoy, e só. O que havia entre eles era físico, não emocional. Nunca houvera nenhum diálogo propriamente dito, ou algum carinho. Não havia nada.

É impossível ter saudade do que nunca se teve!, pensava Serena.


Talvez Serena estivesse errada.

Pois Severo Snape, naquela fatídica noite também sentia saudade de alguém que nunca teve.

Pensava em Serena, e como falar com ela sobre o feriado de natal. Era tudo o que ocupava sua mente, mesmo durante as aulas que ministrava. E ele acabou por perceber que era tudo o que mais queria.

Queria Serena em sua casa, olhando o jardim. Queria ver todos os dias as sobrancelhas arqueadas em desafio. Queria que ela tentasse desvendar cada canto do lugar. E queria ela lá no Natal, fazendo companhia a ele e a sua solitária árvore natalina.

Mas ele não tinha nada disso. Não tinha Serena.

O que ele faria se ela dissesse um simples, puro e grotesco não? Ele não estava preparado para isso.
Severo suspirou e levou a taça à boca. Nesta noite ele também bebia à sua estupidez.

Ele estava ficando velho, e tonto, pensava. Como poderia Serena aceitar, ou ao menos ponderar o que ele lhe pediria? Ele estava imaginando coisas demais e tendo esperanças demais.

Era melhor beber mais uma taça.



Draco, trôpego, se estirou na cama, de uniforme e meias, e xingou mentalmente Serena. Ela o fizera se sentir um lixo. E fizera-o secar uma garrafa quase completa de firewhisky. Maldita menina! Maldita, petulante, intrometida, gostosa, bonita, cheirosa sonserina!
Por que Serena tinha que ser essa mistura que tanto o tentava? Era boa e má, intrometida e indiferente, o desejava e o desprezava.

O garoto normalmente já não entendia, e bêbado como estava não conseguia pensar sobre isso. Era o tipo de pensamente que fazia sua cabeça ficar tão à roda que tinha vontade de gritar pela mãe.

Maldito firewhisky!



Serena bebera pouco mais da metade da garrafa, em pequenos goles, saboreando a bebida. Sentia-se tonta, mas estava sóbria demais para o tanto que bebera.

Não queria levantar daquele canto quente no chão de pedra. Por que tudo tinha que ser tão complicado? Por que o menino que ela desejava tinha que ser filho de um Comensal? E por que ele tinha que estar se tornando um Comensal? E por que seu pai tinha que ser um Comensal?

Se Snape não tivesse se aliado ao Lord das Trevas, sua vida teria sido normal. Talvez tivesse uma mãe, e talvez tivesse também um pai. Talvez tivesse uma vida normal, e gostasse de um garoto normal.

Tudo girava em torno de Lord Voldemort. Ele acabara com sua felicidade e com a de sua mãe. Alexia e Snape poderiam ter sido felizes se Voldemort não existisse. E então Serena poderia ter tido uma família.

Era esse o inimigo maior: Voldemort; não era Snape, nem Lúcio, e muito menos Draco. Havia uma pessoa a ser aniquilada para quem sabe Serena pudesse ser feliz algum dia.

E não havia nada que ela não fizesse para ter que volta o que roubaram dela assim que ela nasceu.


Então o quarto começou a ficar à roda, e Serena dormiu ali, escorada à cama.

Maldito vinho!


 

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