Sonserina



Eu continuei com meu hábito de ficar sozinho no Salão Comunal tarde da noite. E sabe quem mais adquiriu o hábito? Hermione. Ficávamos apenas os dois, sozinhos, tarde da noite, conversando, sendo apenas nós mesmos. Descobri que ela é muito mais do que uma CDF certinha e irritante. E eu tenho certeza que ela se surpreendeu a descobrir que eu era muito mais do que um fabricante novato de logros e brincadeiras.


Mas também não conversávamos apenas de madrugada. Éramos vistos conversando, na maior intimidade que dois amigos poderiam ter, em qualquer horário do dia, exceto as aulas. É tão bom conversar com Hermione, ela me compreende, me faz me sentir bem, me faz rir.


Certa noite, no dormitório, quando estava me vestindo após o banho, me peguei pensando nela. Pensando que eu queria muito conversar com ela novamente. Sacudi a cabeça, surpreso. Fred se aproximou, encostou-se na parede do outro lado da minha cama, e me olhou. Olhei-o, levantando uma sobrancelha, questionando-o. Ele deu um sorriso torto.


- O que está rolando entre você e a Hermione, Sr. Weasley?


Olhei para ele, e notei que o dormitório inteiro (Lino Jordan e mais dois garotos) estavam nos olhando. Ótimo!


- Amizade.


- Amizade Colorida ou Amizade Amizade?


- Amizade Amizade, idiota.


Senti meu rosto corar. Xinguei Fred mentalmente. Ele sorriu malicioso, levantou as mãos para o alto e saiu, rindo. Aqueles gestos já diziam o que ele pensava. Mas ele estava errado. Não estava?


Terminei de me vestir, e desci. Ela estava lá. Perto da lareira, lendo um livro. Isso não era novidade. Novidade pra mim era que eu estava ficando nervoso e ansioso só de vê-la, ao longe, e que eu tinha uma necessidade de estar perto dela. Me aproximei, sentei na poltrona a sua frente, e puxei o livro de suas mãos. Ela protestou e me olhou séria.


- Você não cansa de ler não? – Perguntei.


- Você não cansa de me irritar não? – Rebateu.


- Não... Você fica tão linda irritada.


- Ei, percebi a ironia!


- E quem disse que foi ironia?


Ela arregalou os olhos, corou e relaxou na poltrona. Devolvi o livro. Começamos a conversar, a conversar. Harry e Rony se juntaram a gente. Harry me lembrou que haveria treino de quadribol no dia seguinte, pois teríamos jogo contra a Sonserina dali a dois dias. Fiquei meio carrancudo, e Hermione sorriu e se limitou a dizer:


- Vai dar tudo certo. Temos o melhor time que Hogwarts já teve. Relaxem.


 


 


Dois dias depois, lá estava eu no vestiário, esperando o tempo certo para entrarmos em campo. Eu estava um pouco nervoso, admito. Eu sempre ficava com certo frio na barriga, porém algo fazia com que ele aumentasse hoje. Não faço idéia do por que, mas que aumentou, aumentou. Ouço Madame Wooch anunciar nosso time. É agora.


Entramos sob o berreiro da Grifinória, Lufa-Lufa e Corvinal. O time da Sonserina já nos esperava. Avistei Hermione nas arquibancadas, e ela acenou para mim. Senti uma pulsação na região abaixo do umbigo que nada tinha a ver com nervosismo, ao mesmo tempo que meu coração acelerou mais.


Angelina, a nova capitã, cumprimentou o capitão da Sonserina com certo desagrado. Madame Wooch soou o apito, e fomos todos para o ar, sob o coro “Vai,vai, Grifinória!”.


A disputa se mostrou acirrada. Os artilheiros da Sonserina marcavam um gol ao passo que os artilheiros do meu time também marcavam. Nesse exato momento, estava 60 para a Grifinória e 50 para Sonserina. Eu e Fred nos desdobrávamos para evitar que os balaços (ou os bastões) acertassem nossos jogadores. Eu estava cuidando de um balaço enviado para Katie, quando ouço um grito feminino.


- GEORGE, CUIDADO!


Era Hermione. Me virei e olhei para seu rosto aflito, um segundo antes de um balaço me atingir nas costas. E é a última coisa que eu me lembro de antes de cair.


 


Sussurros. Vários sussurros, de várias vozes. Uma voz feminina. A voz dela. Abro os olhos, meio fraco. Tudo desfocado. Várias silhuetas. Cabelos castanhos, ruivos, negros. Minha visão entra em foco. Hermione, Harry, Rony, Fred, Angelina, Katie, Lino. Todos eles ao redor da minha cama na Ala Hospitalar.


- George! Que bom que você acordou. Como ‘cê tá cara? – Fred perguntou.


- Todo dolorido. O que aconteceu comigo? – Perguntei, ajeitando-me na cama e olhando todos.


- Você foi atingido por um balaço nas costas, caiu de uma altura de mais ou menos quatro metros, e quebrou o braço. – Harry disse.


Então reparei que eu estava com uma tipóia.


- Tá, e quem ganhou?


- Então, Harry apanhou o pomo enquanto você caía. Ganhamos por 210 à 50. – Disse Rony.


- O que nos deixa na frente no campeonato das casas. – Angelina completou. Sorri.


E nesse exato instante, Madame Pomfrey apareceu e expulsou todos dali. Hermione relutou e a enfermeira por fim deixou.


- Então, como você está? Você me deu um grande susto, mocinho.


- Estou bem... Obrigado por tentar me avisar do balaço.


- Ah, de nada. – Ela sorriu, constrangida. – Não que eu tenha sido muito útil.


- Não tenha sido? Essa menina lançou um feitiço que desacelerou a sua queda, garoto! – Madame Pomfrey falou de longe, do leito de um garotinho.


- Sério, Mione, você fez isso?


- Fiz, precisava fazer alguma coisa.


- Nossa, muito obrigado mesmo, como vou poder te agradecer.


- Vai agradecer depois, quando você acordar. Você vai tomar essa poção e vai dormir. Já a senhorita, vai embora.


- Mas, Madame, eu já dormi. – Tentei argumentar.


- Sem, mas. Agora, toma essa poção.


A contragosto bebi a poção. Em um minuto, eu já me sentia sonolento. Hermione me ajudou a ajeitar-me na cama, e eu fechei meus olhos. Sentia minhas pálpebras pesando. Hermione bagunçou de leve meus cabelos, sussurrou um cuide-se, e senti seus lábios tocarem os meus.


 


Só acordei no dia seguinte, e acordei com a sensação de ter tido um sonho bastante real. Hermione havia me beijado? Depois de bagunçar meus cabelos e dizer “cuide-se”? Estou delirando, não é?


Depois de Madame Pomfrey fazer um último check up, ela me liberou. Andei até a Torre da Grifinória, onde eu esperava encontrá-la, já que fazia frio e estava começando a nevar. Disse a senha para a Madame Gorda, e entrei. Logo fui assediado por meus amigos, que queriam me falar detalhes de como os sonserinos ficaram com cara feia depois da derrota, de como foi a comemoração, de como havia umas meninas da Lufa-lufa, Corvinal e umas da Grifinória morrendo de aflição para saber se eu estava bem. Mas eu não estava nem um pouco prestando atenção. Meus pensamentos estavam ocupados com aquele sonho, ou será realidade? O fato é que eu havia ficado muito mexido com aquilo, mais do que eu queria admitir, e que eu queria falar com ela sobre isso mas eu não fazia idéia. E se fosse verdade, o que eu faria? E se fosse apenas sonho, como eu iria explicar para ela?

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