A SEGUNDA CÂMARA SECRETA




Conforme a primavera avançava, os dias ficavam cada vez menos gelados, embora a neve que derretia deixasse os terrenos externos muito lamacentos. As nuvens ficavam cada vez mais ralas, e o céu azul claro podia ser deslumbrado pelas janelas das salas de aula e pelo teto encantado do Salão Principal. A natureza parecia mais festiva, com folhas novas e verdinhas nascendo nas árvores, flores desabrochando, pássaros e insetos voando pra lá e pra cá, e muito pólen no ar, provocando em vários estudantes uma desconfortável rinite alérgica. Quem parecia se divertir muito com os insetos inquietos era Bichento e Lazúli, que passeavam juntos pelo jardim caçando besouros.


Nada mudara muito nos dias que se passaram. As feridas nas mãos de Harry, Valentina e Cecília estavam quase cicatrizadas e eles tomaram cuidado para não aborreceram Profª. Umbridge de novo, embora ela os aborrecesse muito a cada nova aula que dava. Os times de Quadribol da Grifinória e Sonserina treinavam com todo gás, pois disputariam novamente a Taça, e a rivalidade entre as duas casas permanecia a mesma. As reuniões da AD corriam sem problemas, os alunos cada vez mais aplicados e melhores ao executar os feitiços protetores. Andava tudo tão dentro da normalidade que Harry estranhou o fato de nada macabro ou suspeito ter acontecido naquele ano, ainda.


Para não dizer que nada de suspeito havia acontecido, tinha as vozes misteriosas que Valentina dizia ainda escutar, agora não apenas nos banheiros ou na ala da Sonserina, mas também nos corredores que levavam até o salão comunal. Rony continuava sustentado a história da aparição das pessoas sem rosto que pareciam feitas de pedra no baile de máscaras e tanto Harry, quanto Hermione e Cecília, estavam começando a achar que os amigos estavam ficando birutas.


―Isso deve ser efeito de estudar demais, só pode. Estão tendo alucinações! – Cecília disse uma tarde, enquanto acompanhava Hermione num passeio lamacento ao redor do lago depois de uma aula de Herbologia.


―Você está falando de Tina, certamente. – ela riu, balançando a cabeça. ―Rony não tem esse problema de estudar demais.


As duas passaram ao lado de um arbusto que tremeu, fazendo algumas folhas caírem. Elas pararam para dar passagem a um Bichento encardido e um Lazúli que deixara de ser branco para ficar marrom cor de lama.


―Como vocês estão sujos! – Hemione exclamou, pegando Bichento. ―Vou ter que dar um banho em você.


Cecília pegou Lazúli com um pouco de nojo.


―Tina não vai gostar nada de ver você assim. Eca, você comeu um besouro!


Lazúli miou em protesto, como se soubesse que um banho lhe esperava agora que tinha sido pego em flagrante.


As duas voltaram para dentro do castelo com os gatos. Cecília ficou satisfeita em entregar Lazúli para sua respectiva dona.


―Nem parece o gato requintado que Malfoy te deu de presente.


―Ora, ele só estava se divertindo um pouco. Não é, Lazúli? – Tina falou carinhosamente para o bichano. ―Mas agora vamos tomar um banho.


Ela se despediu das amigas com um "já volto" e saiu carregando o gato pelo cangote. Quando voltou, vinte minutos depois, trazia um Lazúli branco como a neve, cheiroso e com um laço azul amarrado em volta do pescoço. Hermione aproveitara a idéia para dar um trato em Bichento também.


A semana passou e de repente já era tarde de sexta-feira. Harry já vinha anunciando uma nova reunião da AD para aqueles dias, mas sempre tinha que cancelar por causa dos treinos de Quadribol.


Hermione, Fred, Jorge e Cecília aproveitavam o tempo livre daquele fim de sexta-feira sentados num banco de pedra do lado de fora do castelo, relaxados, observando o céu passar de alaranjado para rosa. Valentina estava na companhia de Draco, há alguns metros de distância deles, sentados na grama agora seca, também aproveitando o momento tranquilo. Tudo parecia em seu devido lugar, até que Hermione deu por falta de Rony e de Harry.


―Harry e Rony não disseram que viriam jogar snap explosivo com vocês? – perguntou aos gêmeos.


―Disse. Mas pelo visto eles se perderam pelas escadas. – Fred disse.


―É, as escadas devem ter se movido e eles foram parar no sétimo andar. – Jorge completou, cutucando um caramujo com a ponta da varinha e jogando-o para fora do banco.


Hermione franziu a testa, desconfiada. Harry e Rony nunca sumiam sem um motivo. Talvez tivesse acontecido alguma coisa.


A desconfiança de Hermione se provou quando ela sentiu o galeão esquentar dentro do seu bolso. Ela pegou o galeão e estudou, pensativa. Naquele mesmo momento, Lia, Jorge e Fred sentiram seus galeões esquentarem seus bolsos também. Lia viu quando Tina se moveu ao lado de Malfoy, levando a mão ao bolso. Pelo visto ela também notara o aviso.


―Ele está convocando a AD para daqui ha quinze minutos? É isso mesmo? – Fred cochichou.


―Estranho... – Hermione murmurou, ainda encarando seu galeão.


Então se levantou decidida.


―Vou procurar Harry e saber o que está acontecendo.


―Eu vou com você. – Lia disse, se levantando também.


Fred e Jorge disseram para elas esfriarem a cabeça, que Harry deve apenas ter acionado o galeão por engano. "Vai ver ele foi ao banheiro e a varinha encostou no galeão na hora em que ele..." mas Jorge não completou a frase porque Cecília mandou ele ficar quieto.


Hermione e Cecília foram até Valentina e Draco e, fingindo que o garoto não estava ali, perguntaram se Tina não poderia ir com elas. A menina se levantou, deixando Draco com uma cara muito carrancuda, e seguiu as amigas.


―O que está acontecendo? Reunião daqui a pouco? – Tina perguntou quando já estavam dentro do castelo, tirando seu galeão no bolso e examinando-o.


―É isso o que eu estou achando muito estranho. – Hermione falou, enquanto subiam as escadas em direção à torre da Grifinória. ―Harry não falou nada quanto a ter aula hoje de noite. E mais, ele e Rony não vieram encontrar com a gente e já fazia um tempão que estávamos lá fora.


Completamente alheias de que Valentina não pertencia à mesma casa que elas, Lia e Mione continuaram o caminho até torre. De repente encontraram Neville com o rosto muito corado indo na direção delas.


―Neville! – Valentina exclamou. ―Você viu o Rony e o Harry?


―Não. – garoto respondeu, confuso. ―Eu estou procurando por ele também. Estava no salão comunal quando Simas disse que o galeão tinha aquecido e mostrado a data de hoje, mas nem ele e nem Rony estavam por lá. E eu perdi o meu galeão, sabe. Acho que deixei cair em algum alugar... Acho que foi quando fui ao banheiro.


Sem dar atenção à última declaração de Neville, Hermione bateu o pé, nervosa.


―Mas onde é que eles se meteram?


―Já estão todos indo para a Sala Precisa. – Neville se apressou em informar.


―Bem, vá para lá também, Neville. – Hermione disse. – Fiquem dentro da Sala Precisa enquanto nós vamos atrás dos dois.


As três desceram até o segundo andar e se separaram de Neville, indo em direções opostas.


―Você tem alguma idéia de por onde devemos começar a procurar? – Valentina perguntou, incerta, à Hermione.


―Não. Mas vamos fazer uma ronda pelos lugares mais prováveis. Vai ver Pirraça encurralou os dois e Filch os pegou.


Tina, Lia e Mione andaram sem rumo até chegarem a um corredor vazio, de onde água escorria pelo chão vindo do banheiro feminino.


―Murta está encharcando o banheiro de novo. – Lia observou.


―Alguém deve ter vindo perturbar ela. – Tina sugeriu.


―Vamos até lá. Quem sabe... Mas não, não poderia ser... Não de novo... – Hermione falou consigo mesma.


Elas entraram no banheiro e se depararam com uma cena alarmante: além do chão cheio d'água, a passagem que levava à câmara secreta estava completamente aberta.


―Mas que diabos é isso? – Valentina perguntou, esticando o pescoço para olhar a passagem sem se obrigar a chegar muito perto.


―Não dá pra acreditar que eles realmente resolveram se juntar lá embaixo! – Hermione exclamou, alarmada. —E por qual motivo eu também não entendo!


―O que tem lá embaixo? – Cecília perguntou, desconfiada.


―A câmara secreta, onde o basilisco ficava escondido. Voldemort abriu-a quando estávamos no segundo ano.


―Ah... – Valentina murmurou.


―E por qual motivo Harry ia querer reunir a AD lá?


―Não acredito que ele queira reunir a AD lá. – Hermione falou, misteriosa. —Se ao menos Murta estivesse por aqui para perguntarmos se ele deixou algum recado...


Mas ao que parecia, Murta-Que-Geme não estava em lugar nenhum. Devia ter mergulhado em um dos vasos sanitários e nadado até o lago.


Hermione olhou de uma amiga para a outra.


―O jeito é descermos até lá.


Que?


Hermione olhou impaciente para Valentina e não pôde deixar de lembrar que, por mais legal que ela fosse, não deixava de ser uma sonserina.


―Nenhum basilisco mora mais lá, não há o que temer. – ela disse.


―Eu já estou nessa. – Lia disse.


As duas olharam para Tina, que não teve muita opção.


―Ah... OK. Eu vou.


―Certo. Eu posso ir na frente para assegurar se está tudo bem. – Hermione disse.


Valentina pensou em perguntar o que elas fariam caso Hermione assegurasse que não estava tudo bem, mas achou que era melhor manter-se calada.


Hermione sentou-se no chão à borda da passagem e jogou o corpo para dentro do buraco escuro. Lia e Tina ficaram em completo silêncio, à espreita de qualquer ruído, até que escutaram o eco da voz de Hermione vindo de um lugar aparentemente muito abaixo de onde elas estavam.


―Podem vir, está tudo bem!


Tina e Lia sentaram-se no chão. Tina decidiu-se por manter a varinha bem segura e à altura da cabeça. Elas se olharam e Lia fez um aceno positivo para Tina.


Elas escorregaram pelo túnel e caíram com um baque forte em algo seco, parecido com palha, que lhes amorteceu o choque com o piso úmido e gelado.


Lumos maxima!


A varinha de Tina emitiu uma luz forte que se somou à luz da varinha de Hermione e foi suficiente para iluminar a visão de todas elas. Lia também acendeu a sua varinha e elas puderam ver o que lhes havia amortecido a queda.


―Pele de basilisco. – Hermione disse.


―Basilisco? – Tina exclamou, aterrorizada. – Mas você não disse que ele já havia sido morto?


―Sim – Hermione disse, pondo-se tranqüilamente de pé ―Mas os restos ficaram. Não me admiraria se encontrássemos o esqueleto gigantesco dele por aí.


―Que nojo... – Lia disse, torcendo o nariz e se levantando.


Lia rapidamente estava de pé, esfregando os braços com nojo da pele de cobra que a lhe havia salvado de uma possível fratura. Hermione, a mais tranqüila de todas, liderou o caminho.


―Por aqui, meninas.


As três caminharam cada vez mais para dentro da câmara, escutando um filete de água escorrer aqui e ali. Seus passos ecoavam por todas as paredes esverdeadas do lugar, dando a falsa impressão de que estavam sendo seguidas. Por várias vezes elas olharam para trás, certas de que realmente haviam escutado passos em algum lugar.


―Você já esteve aqui antes, Mione? – Tina perguntou.


―Não, mas Harry nos contou cada detalhe de como era a câmara. Estou seguindo as lembranças que tenho do que ele falou.


Caminharam bastante e chegaram a uma espécie de salão – um lugar amplo e de teto alto. Não haveria nada de interessante ali se o enorme esqueleto do basilisco não estivesse repousado no chão, na mesma posição que Harry o deixara quando o matou.


―Céus... – Tina murmurou com os olhos pregados no esqueleto.


―Se o basilisco vivia aqui dentro e usava os canos para aparecer pelos corredores da escola... deve haver passagens secretas por aí. – Lia deduziu, seus olhos também presos no esqueleto.


―Há pequenas passagens, parecidas com túneis, ao lado do corredor que passamos, mais lá atrás. – Tina disse. ―Quem sabe se a gente arriscasse...


―Talvez... Porque eu realmente não estou vendo nenhuma pista da AD por aqui. – Hermione ponderou.


―Vamos voltar, então. – Lia afirmou certeira.


As três voltaram o caminho reto que fizeram até ali e logo estavam de volta na passagem estreita que as levaria de volta ao banheiro feminino.


―Proponho que nos separemos. – Tina falou, para o espanto de Mione e Lia. ―Podemos soltar faíscas vermelhas com a varinha se nos perdermos, ou emitir algum som.


Hermione não parecia muito certa se aceitaria a idéia.


―Ah, não sei não...


―Tina tem razão, afinal o que poderia nos acontecer de mal? O basilisco já era, não?


―Bem, sim... Mas não se esqueçam de um detalhe: Dumbledore concorda que aquelas vozes que são ouvidas na ala da Sonserina estejam vindo daqui. E elas não podem ser de nenhum fantasma, estão vindo de criaturas vivas. Será que seria prudente...?


―Não há o que dar errado. Somos parte da Armada de Dumbledore, certo? – Tina disse, repentinamente cheia de coragem.


Lia estufou o peito e tomou um ar solene.


―Somos os alunos mais bem treinados de Hogwarts, Harry nos ensinou todas as magias defensivas que o ajudaram a derrotar Voldemort quatro vezes. E também...


―Está bem. – Hermione disse, convencida. ―Vamos nos separar então, se nos perdermos ou encontrarmos algo...


―Soltamos faíscas vermelhas e emitiremos som. – Tina completou. Estava ávida por explorar as passagens da câmara.


Assim combinado, as três escolheram suas passagens e envergaram por elas. Eram caminhos estreitos e muito úmidos, com musgo nas paredes de pedra alguns ratos no caminho.


A passagem que Hermione escolhera não a levara muito longe. Ela andou, andou e andou para dar-se com um cano que não devia funcionar há alguns consideráveis anos. Então ela retornou, iluminando as paredes ao seu lado para ver se encontrava alguma coisa que poderia ser uma passagem secreta, mas não achando nada de interessante, enveredou por outro caminho para continuar com sua exploração.


Lia fazia o mesmo. Em sua exploração, encontrou canos enormes que tranqüilamente eram usados pelo basilisco para se locomover pela escola. Alguns deles pingavam água aparentemente limpa, outros emitiam um cheiro de podridão, e destes obviamente Lia evitou se aproximar. Contudo, não encontrou nada que pudesse ser uma passagem secreta e voltou frustrada para outro corredor que surgia ao lado esquerdo do que ela estava seguindo.


De repente, ela escutou um som de vozes murmurando por dentro das paredes e deu um sobressalto. Lembrou-se de Tina e de todas as vezes em que a amiga alegara escutar vozes como se houvesse pessoas conversando dentro dos canos Ali na câmara, as vozes pareciam muito mais altas e próximas, e ecoavam por todos os lados nas paredes de pedra.


―Tina? Hermione?


Nenhuma das meninas respondeu. Lia olhou para os lados e, um pouco trêmula, continuou seu caminho rumo ao corredor escuro na sua frente. Esperava encontrar Tina ou Hermione em algum momento. Esperava que aqueles corredores se cruzassem e a salvassem de continuar ali sozinha.


Mas isso não aconteceu nos minutos que se seguiram. Tina já havia percorrido corredores que serpenteavam aqui e ali, acompanhada dos mesmos canos úmidos e mal cheirosos. Ela também havia escutado as vozes e se sobressaltado, mas já acostumada com os sons, apenas ficou ainda mais decidida em encontrar alguma coisa dali pra frente, mesmo que não fosse nada relacionado a AD. Caminhando a passos largos, ela iluminava as paredes com a luz da varinha à procura de alguma inscrição ou alguma porta disfarçada. Virou num corredor a direta e as vozes de repente murmuraram novamente.


Mas o que envergava para a direta não era um corredor: era uma escada razoavelmente limpa se comparada com o resto da câmara, que levava para níveis mais profundos.


―Finalmente!


A exclamação viera de Lia, que correu na direção de Valentina, vindo do corredor oposto. A menina tinha a testa suada e a expressão de quem acabara de levar um grande susto.


Tina olhou para trás e sorriu para a amiga, depois voltou o olhar para a escada à sua frente e ergueu a varinha para iluminar o caminho.


―Acho que estamos no caminho certo. – Tina murmurou, descendo um degrau.


―Que? Você acha que tem alguém da AD aí embaixo?


―Não. – Tina tinha a expressão gananciosa ―Mas com certeza alguém aqui embaixo.


Lia olhou para a amiga que ainda tinha os olhos presos na escuridão à frente ―Melhor avisar Mione.


Com um aceno da varinha, Lia expeliu faíscas azuis que serpentearam pelos corredores indo encontrar Hermione que não estava muito longe dali. A menina seguiu as faíscas azuis que faziam o caminho até Lia e Tina e apareceu correndo pelo corredor, a varinha em punho.


―Vocês encontraram alguém?


―Encontramos alguma coisa. – Tina disse, e percebendo a incerteza das duas, perguntou: ―Então, quem vem?


Hermione e Lia desceram as escadas, lideradas por Tina. A única fonte de luz vinha de suas varinhas. Elas olharam ao redor, era tudo limpo e seco.


Os degraus então terminaram, e elas se viram de frente para uma porta de pedra muito lisa e limpa. Erguendo as varinhas, a luz desvendou imponentes inscrições em runas e um desenho estranho que lembrava uma árvore genealógica.


―Er... Precisamos que a nossa expert em runas desvende o que está escrito. – Lia disse, sem tirar os olhos das inscrições e do desenho, parecendo um pouco alarmada.


Hermione se colocou mais a frente e correu os olhos pelas runas.


―"Aqui jaz o elixir da eternidade." – ela leu em voz alta.


As três ficaram em silêncio, refletindo sobre a frase, sem conseguirem chegar a nenhuma conclusão convincente. Elas apertaram os olhos em direção ao desenho que parecia uma árvore genealógica e concluíram que aquilo era uma árvore genealógica de fato, com a gritante diferença de que nenhum dos nomes precisou se unir a outro nome para gerar um descendente.


―Apenas um nome está em runas...


―Sim – Hermione disse ―Talvez seja o nome do mais antigo deles.


Tina e Hermione se entreolharam, preocupadas. Elas estavam pensando a mesma coisa.


―Não pode ser possível. Uma linhagem de...– Lia disse, pois de repente ela chegara à mesma conclusão que as duas amigas. ―Não dentro de Hogwarts! Como Dumbledore poderia permitir...?


―Será que tem alguém da AD aí dentro? – Tina perguntou pressentindo a gravidade da situação.


―Não pode ser. – Hermione murmurou. ―Não, não, não.


De repente, como uma brisa que pegou todas de surpresa, murmúrios muito baixos foram ouvidos, e decididamente eles vinham do lugar que estava atrás daquela porta.


―Temos que entrar para verificar. – Valentina disse com os olhos azuis brilhando de expectativa. ―Venho escutando isso desde que cheguei a esta escola, e não posso desistir de descobrir agora que estamos tão perto.


Silêncio pairou entre as três, então Hermione concordou com um aceno da cabeça.


―Além do mais, precisamos nos certificar se não tem nenhum aluno aí dentro. – ela disse. ―Muito bem, fiquem atrás de mim.


Cecília e Valentina se colocaram atrás de Hermione enquanto a menina apontou decidida a varinha para a porta.


―Não tenho certeza se isso vai funcionar, mas... Alohomorra.


Para o espanto das três, a porta se abriu com suavidade diante do feitiço de Hermione, revelando um aposento totalmente escuro e com as mesmas paredes de pedra que compunham a câmara, porém totalmente secas e sem musgo. Hermione foi a primeira a entrar, com a varinha em punho e emitindo a tênue luz prateada que as varinhas das duas amigas também projetavam. Tina e Lia a seguiram.


No exato momento em que as três entraram, uma suave claridade tremeluzente tomou conta do lugar, revelando um salão de pedra redondo muito limpo e amplo. Olhando com mais atenção depois da vista ter acostumado com a inesperada claridade que vinham de archotes, elas puderam ver estátuas que pareciam ser feitas de mármore.


Eram estátuas com formas humanas de homens e mulheres, todos muito belos e vestidos com roupas de diferentes épocas passadas e distintas. Estavam sentadas em tronos de pedra dispostos ao redor do salão. A cena era, sem dúvida, espetacularmente tosca. O que aquelas estátuas de mármore estavam fazendo dentro daquela sala escondida nas profundezas de Hogwarts?


Hermione, Valentina e Cecília trocaram olhares preocupados. O instinto de sobrevivência as estava mandando saírem imediatamente dali e voltarem para a segurança e o conforto da escola, mas algo em todas elas, uma sedução inexplicável que pairava em torno daquelas estátuas, as estava forçando a ficar.


Sem mencionarem uma só palavra, elas se dividiram em direções opostas para explorarem as estátuas mais de perto. Ainda nutriam o raciocínio lógico de manterem as varinhas firmes à frente, prontas para se defenderem de qualquer ataque inesperado.


Tina se aproximou de uma estátua de um homem que provavelmente viveu na mesma época de Maria Antonieta. A sua blusa de linho com muitas rendas nas bainhas das mangas bufantes, as calças justas e as botas de cano longo não deixavam muitas dúvidas. Os cabelos eram cacheados como os de um querubim e pareciam assanhados; a boca era carnuda e os olhos tinham formato amendoado. Valentina achou-o adoravelmente belo, por isso aproximou-se mais para observar melhor. Seu rosto ficou muito próximo do dele e, repentinamente, ela teve a sensação de escutar o som abafado de batidas de coração.


Ela olhou para trás, à procura de Cecília e Hermione, mas as amigas estavam tão hipnotizadas quanto ela, observando diferentes estátuas. Tina constatou, com um pouco de diversão, que elas estudavam também esculturas masculinas, embora as femininas fossem igualmente graciosas. Ela pensou em perguntar se o mármore das outras estátuas também pareciam estranhamente esconder pequenos vasos sanguíneos, como uma pele muito pálida e seca, mas ela não teve tempo de fazer esta pergunta. Algo chamou a sua atenção e ela voltou a encarar a escultura a sua frente – podia jurar que o canto do seu olho a vira mexer a cabeça.


Cecília também estava compenetrada na escultura do homem à sua frente. Assim como a maioria, ele estava elegantemente vestido com calças justas, botas, uma blusa de linho de mangas largas e uma bela capa jogada em cima dos ombros. Sentava-se com a mesma arrogância de jovens nobres de época, e tinha os cabelos muito lisos e longos caídos pelos ombros e pelo peito. Chegando mais perto, ela também teve a impressão de escutar o som abafado de batidas de coração, mas logo jogou esse detalhe na conta de que tanto ela quanto as amigas estavam com os nervos à flor da pele.


Cecília olhou para Hermione, que agora passava pela estátua de outro homem cujos cabelos eram curtos. Hermione não estava satisfeita em observar apenas a beleza de seu rosto de traços quadrados e de suas roupas um pouco mais simples. Ela agora se dirigia para um canto mal iluminado do salão, onde parecia existir uma passagem para outro aposento.


No exato momento em que Hermione foi engolida pela escuridão, os murmúrios recomeçaram, desta vez muito altos e claros, inegavelmente vindos diretamente dos interiores das estátuas. Cecília e Valentina se sobressaltaram, saindo do transe e olhando em volta, com as varinhas acima da cabeça.


―Mione? Onde você está? – Tina perguntou.


―Aqui! – A menina disse, voltando um passo e deixando-se ver. ―Acho que descobri uma passagem para outro lugar. Acho que... AAAAAAH!


Alguma coisa puxou Hermione para a escuridão e ela sumiu por onde provavelmente havia a passagem recém descoberta. Cecília e Tina gritaram ao mesmo tempo, mas Cecília foi silenciada primeiro. Ela sentiu alguém abraçá-la com muita força e uma dor aguda em seu pescoço, como se duas agulhas estivessem lhe furando a pele. Cecília sentiu seu sangue quente começar a deixar seu corpo e não viu mais nada.


Horrorizada com a cena que presenciara, Valentina quis gritar, mas antes que ela pudesse emitir qualquer som, ela também foi abraçada. Sentiu um hálito gélido em seu pescoço e uma mão cobriu seus olhos, fazendo cair em sono profundo antes mesmo de sentir a mesma dor que Cecília e Hermione sentiram: a de presas afiadas rasgando sua carne e sugando seu sangue diretamente da veia jugular.


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