DEFESA CONTRA ARTES DAS TREVAS



Lia deixou a sala de Snape um tanto quanto mal humorada. Snape havia perseguido Neville durante toda a aula e ela teve a impressão de que o garoto estava cometendo erros devido à pressão imposta por Snape e sua presença odiosa e não por real incompetência.


—Não se preocupe, Neville. Não estou irritada. – ela continuava a responder, enquanto ele insistia em desculpar-se.


—É que eu fiquei nervoso... Eu já vi minha avó falando sobre esta poção milhares de vezes e cometi um erro tão estúpido... ela vai ficar muito irritada quando descobrir...


—E quem vai contar para ela? – perguntou Lino Jordan.


—As notícias correm. – Neville respondeu, de cenho franzido. – Minha avó sempre descobre tudo o que eu faço de errado nesta escola.


Hermione e Valentina se juntaram a eles.


—Alguém deve dedurar você então, Neville. É a única possibilidade... – opinou Tina.


—Minha avó tem muitos contatos... – ele continuou.  – Ela sabe de tudo o que acontece...


Cecília olhou para Hermione, que encolheu os ombros.


—O que teremos agora? Feitiços?


Hermione procurou o horário na mochila. Antes que ela conseguisse encontrá-lo, porém, uma menina de olhos puxados e cabelos negros e lisos respondeu:


—Agora é Feitiços. Quero dizer, para a Corvinal e a Lufa-Lufa, apenas. – ela frisou, olhando com desconfiança para Valentina.


­—Nós temos Defesa Contra Artes das Trevas agora, juntos de novo. – Tina disse um pouco friamente, reparando imediatamente no olhar desconfiado da menina.


—Olá, Cho... O que você faz aqui embaixo? Você não tinha Transfiguração? – perguntou Neville.


—Sim. Eu vim para falar com o Professor Snape. A professora McGonagall pediu que eu viesse para convocá-lo para uma reunião. O professor Dumbledore quer falar com os professores, rapidamente.


Neste momento, Harry e Rony se aproximaram também. Cecília viu quando o olhar de Harry cruzou com o de Cho.


—Ahn, oi. – ele a cumprimentou, um tanto quanto sem-graça. – Er, o professor Dumbledore? O que será que ele quer com Snape?


—Eu estava falando que ele quer reunir os professores... – Cho diminuiu o tom de voz. – E acho que ele quer fazer isso sem a presença da Professora Umbridge. 


—Você já teve aula com ela? – Tina perguntou. – Ela é muito ruim?


Neste momento ouviu-se o ranger de uma porta e o silêncio caiu entre eles. Snape estava parado em frente à entrada da sala de Poções e parecia estar ali já há bastante tempo. Seus olhos negros passearam pela expressão suspensa de Valentina, Cecília, Neville, Lino, Rony, Harry e, finalmente, Cho.


—A srta. veio me trazer um recado, srta. Chang?


—Sim, sr. Eu vim trazer um recado da Professora Mc...-


—Eu sei, srta. Chang. – ele sussurrou. - Eu ouvi. A srta. já passou o recado para todos que estão neste corredor.


Cho parecia não saber o que fazer.


—Vou tirar dez pontos da Corvinal, srta. Chang, pela sua ineficiência e indiscrição. E vou recomendar à Professora McGonagall que escolha outro aluno como mensageiro da próxima vez.


Ninguém ousou dizer nada. O corredor parecia mais desconfortável do que o seu normal. O único que olhava diretamente para Snape era Harry, e Cecília desejou que ele olhasse para outro lugar. Entretanto, era tarde demais para que ela pudesse tentar passar qualquer recomendação para Harry Potter, uma vez que Snape já havia se voltado na direção dele.


—E vou retirar também dez pontos da Grifinória...


—E porque razão? – interrompeu Harry, adotando uma atitude que Cecília e Tina acharam muito estúpida.


—Vou tirar vinte. – rebateu Snape. Seus olhos brilharam com malicia. – Os dez primeiros por você tentar se intrometer nos assuntos do corpo docente e por me chamar exclusivamente pelo nome. Você sabe que deve se referir a mim como Professor Snape, Potter. E eu não quero que você seja um mau exemplo para as novatas – ele fez uma pausa —apesar de saber que você é um mau exemplo em qualquer lugar, a qualquer hora, para qualquer um.


Harry abriu a boca para responder, mas Tina viu quando Hermione beliscou o braço do garoto discretamente por trás das vestes. Ele fechou a boca, antes entreaberta, mas apertou os olhos em direção a Snape, que respondeu da mesma forma. Quando o silêncio chegou a um ponto quase insuportável e Cho mexeu um dos pés em direção às escadas das masmorras, Snape continuou.


—E os outros dez são por você, novamente, sr. Potter, ter questionado as minhas razões. Considere-se beneficiado, eu deveria colocá-lo em detenção. Mas considero que já o tenho sob minhas vistas por tempo mais que suficiente. Agora, se me dão licença, tenho que comparecer a uma reunião e os senhores já me atrasaram também o suficiente.


Snape encarou o grupo com uma expressão de desgosto e se concentrou especialmente em Valentina antes de partir.


—Não me faça retirar pontos de minha própria casa, srta. Alves. Escolha melhor as suas companhias, ou as consequências poderão ser severas.


O mestre das Poções virou-se e saiu, como se levitasse rapidamente por sobre as vestes negras. Cinco segundos mais tarde não havia mais sinal de sua presença perto dali. Ouve um suspiro coletivo, onde todos pareceram respirar aliviados.


—Mas qual é o problema dele?! – Tina perguntou quando já estavam longe dali, estupefata com a última declaração do professor.


Cecília e Valentina não se sentiram no direito de repreender Harry, mas se entreolharam, concordando que ele havia passado dos limites. Lino e Neville também fizeram o mesmo movimento, mas quem tomou a palavra foi Rony:


—É melhor você não fazer isso, cara... É loucura! Snape pode fazer a sua vida mais difícil...


—Eu não preciso do Snape para fazer a minha vida difícil. – Harry respondeu, o deboche estampado em seu rosto.


Professor Snape – corrigiu Valentina, olhando para os lados, como se Snape pudesse estar à espreita, esperando para ouvir se eles estavam ou não citando o seu nome com o devido respeito.


Hermione fez um muxoxo, e ignorando completamente a observação de Valentina, ela continuou:


—Ora, Harry! Faça-me o favor! Você sabe que o Rony está certo... Sem contar que perdemos vinte pontos à toa!  


—Não se preocupe... Você recupera para nós. – Harry continuou, em um humor claramente cortante.


—Não recupero, não. – Hermione rebateu, o tom de irritação atravessado na garganta.


Ouviu-se um risinho e todos se voltaram para Rony.


—Não recupera mesmo, Harry... Ela parou com isso agora, você não viu o que aconteceu há pouco, na aula?


Harry olhou para Rony com uma expressão de quem não havia entendido, mas riu logo depois. Valentina e Cecília não haviam entendido a piada, apesar de sentirem que algo cômico estava acontecendo ali. Elas olharam para Cho e viram a garota também meio perdida, mas com a expressão de quem não estava acreditando no que estava ouvindo. Hermione voltou-se para encarar Rony, que imediatamente percebeu que havia pisado em um terreno perigoso.


—Brincadeira. – ele se apressou em dizer.


—Ahm. – Valentina começou, sentindo que o clima precisava ser amenizado. – Não temos aula agora com a Profa. Umbridge? Melhor nos apressarmos se não queremos perder mais pontos...


—Tem razão. Temos que ir... Er... Tchau, pessoal... Tchau, Harry. Nos vemos... nas aulas da tarde. – Cho respondeu, com um sorriso mal disfarçado no canto da boca.


Eles começaram a caminhar até as escadarias. Cho e Valentina na frente, seguidos por Cecília, Lino e Neville. Harry e Rony vinham logo atrás e Hermione por último.


 —Mas eu não encontrei nada, em livro algum, que comprove que meios-vampiros são mesmo perigosos! O Snape só falou aquilo para me contradizer! – ouviu-se ela dizer, depois de um tempo em silêncio. O tom de voz da garota era o de uma pessoa inconformada.


Lia não aguentou e deixou escapar uma risadinha na frente do grupo. Rony pareceu tomar a responsabilidade de contornar a situação.


—Mione, calma! Você errou uma vez em anos, isso não é motivo para se crucificar! – ele disse, sério, apesar de Lia olhar para trás e reconhecer um brilho de felicidade nos olhos do garoto. – O que eu falei foi só brincadeira... Você sabe que é a melhor...


—Eu não errei, Rony! Eu não errei! – ela continuou, parecendo agora tão descontrolada que Lia não se surpreenderia se ela fosse às lágrimas. – É claro que ele estava mentindo, não estava escrito nada daquilo no livro, e ele pode falar o que quiser! Mas só acredita quem quer! Você confia mais em mim ou no Snape?


—Mas é você quem diz que é pra... – ele diminuiu o tom de voz, mas não o suficiente para que Lia deixasse de ouvi-lo. – ...que é pra não desconfiar dele! 


NÃO nesse sentido! – ela choramingou, indignada, fazendo Rony abandonar todo o fingimento e cair na gargalhada.


—Ele está de onda com você, Hermione! – Harry falou, um pouco mais bem humorado. – Quem, em sã consciência, confiaria mais no Snape do que em você?


Professor Snape... Confiaria mais no professor Snape. – Tina frizou, alarmada.


—Ele não está mais aqui, Tina. Relaxa. – Lia falou. – E acho que ele não ia ficar satisfeito com o que a gente está falando dele, por mais que colocássemos o professor na frente...


Todos riram.


—Porque o professor Snape é um grande mentiroso, vira-casaca! – Harry falou, enquanto eles começavam a escalar as escadas em direção ao salão principal.


—É engraçado, Harry! Mas eu me sentiria agradecido se você deixasse pra brincar assim no salão comunal da Grifinória... – Neville interrompeu. – Se eu for expulso de Hogwarts, minha avó vai me matar... E quando eu digo matar... é matar mesmo... sério.


—Nossa, Neville! Não diga isso, é a sua avó!


—Você não conhece ela, Hermione.


—Quem ouve você, pensa que a sua avó é uma Comensal da Morte, ou algo assim... – interrompeu Lino Jordan, com um sorrisinho.


—Eu garanto que os Comensais da Morte deveriam ter medo da minha avó! – Neville disse sério.


—Então estaria sendo mais negócio se a sua avó me desse umas aulinhas particulares... – Harry disse, fazendo todo mundo rir. – Dumbledore deveria ter me mandado pra sua casa e não para os Dursley, Neville!


 —Você teria sido bem vindo... – respondeu Neville, ao mesmo tempo em que eles chegavam ao Salão Principal. – E treinado para o combate!


O clima ruim já havia se dissipado completamente e a aparição daquela grande sala iluminada, com as quatro mesas de madeira polida brilhando com o reflexo do sol fez com que a lembrança de Snape e dos pontos perdidos se perdessem completamente.


Haviam alguns muitos estudantes sentados ali, incluindo algumas amigas de Cho.


—Vocês não deveriam estar na aula do Flitwick? – a menina perguntou, se dirigindo até uma menina loira, sentada à mesa da casa azul e prata.


—Nós fomos. Mas há um aviso na porta. O professor Flitwick está em reunião e chegará trinta minutos atrasado. Assim com todos os outros professores, incluindo a Professora Umbridge...


Eles se entreolharam.


—Então deve ter sido ela quem convocou a reunião... – disse Hermione, mordendo o lábio inferior. – Será que são recomendações especiais para o primeiro dia de aula? Ordens do ministério para modificar os métodos dos professores?


—Eu não sei... – disse Rony, se espreguiçando. – Mas fico satisfeito apenas em saber que eles estão em reunião. Mais tempo para descansarmos...


Hermione o olhou com um ar de reprovação. Entretanto foi interrompida bem no começo de seu discurso por um barulho de palmas que vinha da porta do Salão Principal. Havia uma roda de alunos em torno do que parecia ser uma apresentação, e vários deles pareciam muito interessados em comprar algum tipo de produto especial.


Hermione suspirou, e Harry e Rony se entreolharam. Foi Neville quem identificou o evento:


—Demonstração das Gemialidades Weasley...


—E o que seria isso? – Lia perguntou, interessada.


—Acho que chegou a hora de vocês conhecerem os outros dois irmãos de Rony. – Hermione disse. —Venham.


—Vocês vão gostar deles. – Rony disse, correndo junto com os amigos até o grupo de alunos —Todo mundo adora o Fred e o Jorge. Eles têm idéias brilhantes!


Hermione forçou passagem por entre o grupo animado de alunos que se deliciavam vendo as demonstrações dos doces que faziam parecer que estava doente. No exato momento em que Tina e Lia conseguiram ficar lado a lado com Mione, Harry e Rony, um aluno do segundo ano começava a cambalear com uma febre muito alta.


—Mas isso obviamente será curado com um doce antídoto! – um dos gêmeos exclamou. —Basta comer esse doce, que vendemos junto com o quite de Doces Febril, que você voltará a ficar saudável como antes!


—É excelente para te fazer cair fora de uma aula chata. – o outro gêmeo anunciou.


—Quem vai querer?!


Várias mãozinhas cortaram o ar, e uma algazarra preencheu o lugar.


—Vocês estão com sorte de que os professores não estão aqui para escutarem uma coisa dessas. – Hermione disse, o distintivo de monitora brilhando em suas vestes negras.


—É exatamente por isso que estamos aqui, tolinha! – os dois falaram incrivelmente juntos.


­—Então, as alunas novas também vão querer um kit?


Um dos gêmeos ofereceu dois kits para Tina e Lia.


—Não, obrigada. – Tina disse, sacudindo a cabeça, porém com um sorrisinho divertido no canto dos lábios.


—Quem sabe mais tarde. – Lia riu.


—Viemos apresentar vocês a elas. – Harry disse —Como se fosse possível elas ficarem muito tempo sem os conhecer. – riu.


—Ah, mas é honra conhecer as duas brasileiras que estudaram no Collegium! – um deles disse, e os dois fizeram uma reverência teatral.


­—Como vocês sabem?! – Lia perguntou, abobada.


—Nós sabemos de tudo. A propósito, eu sou Fred. – disse, estendendo a mão para Lia.


—E eu sou Jorge. – o outro falou, apertando a mão de Tina.


—Somos Valentina e Cecília. – Lia disse, animada.


—Então, essas são as coisas que Neville disse que são as... as... Gemi... – Tina começou, sem saber exatamente como pronunciar aquela palavra em inglês.


—Gemialidades Weasley. – Fred disse, pomposo. —São nossos logros e brincadeiras. Você vai aprender a falar essas palavras mais rápido com o passar tempo.


—Temos outros artigos diferentes, é claro. – Jorge disse —E idéias em andamento também. Queremos abrir uma loja no Beco Diagonal depois que terminarmos o sétimo ano.


—Que ótimo! – Lia pareceu bastante interessada no que eles diziam, e Tina não pôde deixar de reparar um conhecido brilho nos olhos da amiga ao prestar atenção nas palavras de Jorge.


—Quando poderemos conhecer mais das invenções de vocês? – Tina perguntou.


—Ah, eles adoram fazer demonstrações no fim do dia, Salão Comunal. Fica sempre cheio de alunos. – Rony falou.


—E por isso mesmo, obviamente é a melhor hora para uma propaganda. – Jorge riu.


—Estaremos lá hoje então! – Lia disse, como se estivesse fazendo um brinde. —Não vamos, Tina?


—Você esqueceu que eu não sou da Grifinória?


—Ah... é mesmo.


—Uau! Eu mesmo não tinha reparado nas cores do seu uniforme. É tão incomum ver uma Sonserina andando em companhia de gente da Grifinória. – Fred comentou, interessado.


—Ei, eu acabei de pagar por kit de doces que faz vomitar! – escutou-se uma voz esganiçada exclamar em algum lugar e interromper a conversa.


—Ah, não seja por isso. Nós nunca deixamos um cliente na mão. – Jorge disse, indo entregar um kit a algum aluno baixinho.


Em meio a tantos comentários e alunos mais novos querendo comprar os kits de doces especiais, Tina olhou de esguelha para Cecília e um sorrisinho passou invisível pelo seu rosto ao ver o olhar da amiga brilhar diante da figura de um dos gêmeos. Em seguida, Tina olhou para Hermione e o olhar que recebeu em retorno dizia que as duas estavam pensando a mesma coisa.


O clima de entendimentos simultâneos foi quebrado quando Draco Malfoy se aproximou, chispando dali todos os alunos mais novos da Sonserina que estavam assistindo animados e curiosos as demonstrações dos gêmeos e a conversa carregada de sotaque brasileiro.


—Vocês todos, fora daqui! Vão para a mesa da Casa de vocês e parem com essa bagunça.


Os alunos, um pouco ressabiados, se dirigiram para a mesa da Sonserina, mas os cochichos continuavam animados.


—Você viu só aquele doce que faz sangrar o nariz? Maneiro!


—Vou querer umas três caixas depois.


—Eu também!


Draco lançou um olhar mortal aos alunos mais novos e depois se virou para Valentina, que não parecia ter percebido a presença dele ali.


—Quanto a você, Alves...


Valentina se virou, seguida pelos gêmeos, Rony, Harry, Hermione e Lia.


—Não ouviu sequer uma palavra do que Prof. Snape acabou de te dizer?


—Desculpe?


—Você não deveria estar no meio dessa algazarra, Alves, muito menos na companhia desses...


Draco olhou para os outros com a cara de quem estava sentindo um mau cheiro bem debaixo do nariz. Eles sustentaram o olhar dele com agressividade.


—O que você ia dizendo mesmo, Malfoy? – Fred perguntou, perigoso.


—Alves, vá para a mesa da sua casa.


—Não vou não. E não preciso que ninguém escolha os meus amigos, eu tenho capacidade de fazer isso sozinha.


—Qual é a tua, Malfoy? Vai ficar perseguindo aluno novo agora? – Harry perguntou.


—Cala essa boca, Potter.


—Se manda, cara. – Rony disse, displicente.


—Não fique triste, Malfoy, sabemos que você quer uma companhia, mas a Tina pode de dar atenção depois. – Lia soltou, fazendo alguns alunos que ainda estavam ali, darem risadinhas abafadas.


Draco olhou de jeito assassino para os outros.


—E vocês, dêem o fora também! Não vão querer que eu chame os diretores das suas casas!


Os alunos foram embora, ainda rindo. Hermione não pôde deixar de rir também.


—Boa, Lia. – Harry disse ao ouvido da garota, com um riso.


Mas a alegria deles em brincar com Malfoy se acabou quando os professores voltaram da reunião, e pouco a pouco iam se dirigindo para as suas salas, fazendo com que grupos de alunos os seguissem para as aulas. Profa. Umbridge passou e lançou um olhar ao grupo parado perto da porta.


—Quinto ano, siga-me, por favor.  – disse, com aquela voz que era doce em demasia.


—Nos vemos na hora do almoço então. – Lia disse, direcionando seu olhar mais atentamente a Jorge e recebendo um sorriso em retorno.


—Satisfeito? – Tina rosnou por entre os dentes, ao lado de Malfoy.


—Ficarei mais satisfeito quando chegarmos à sala de aula e ver você se sentar com os alunos da sua Casa, e não com eles.


—Você ainda me deve uma explicação para tanta implicância. – ela disse ainda com raiva, e saiu do lado dele para se colocar ao lado de Hermione.


—Tenho pena de você, Tina. – a menina disse, rindo.


—Deixa ele pra lá. – Tina disse, sacudindo a cabeça. —Há uma coisa que eu queria falar com vocês depois.


—Sobre o que?


—Alguma vez você escutou sussurros estranhos no banheiro da Grifinória?


Hermione olhou para ela sem entender.


—Não, nunca. Por que?


—Escutei coisas estranhas ontem, quando fui tomar banho. Era um som estranho, como se pessoas estivessem conversando dentro dos canos.


—Fantasmas?


—Eu dei essa sugestão a ela, mas Tina a ignorou completamente. – Lia falou, pois escutava toda a conversa.


—Já disse que não são fantasmas. Eu conheço muito bem o som que eles fazem, o Collegium era cheio deles!


—O que poderia ser então? – Hermione perguntou, com um olhar muito interessado.


—Depois do almoço falamos sobre isso. – Tina disse apressada, pois haviam acabado de chegar à sala de aula e Draco já a olhava de modo acusador, como se a mandasse sentar-se com os outros alunos da Sonserina.


Todos escolheram seus lugares e se sentaram. Tina escolheu uma mesa que era ao lado da mesa onde Hermione e Lia se sentaram, pois assim ficava mais fácil de transmitir alguma mensagem. Para felicidade de Tina, Draco não sentou a lado dela, mas manteve o olhar como se estivesse tomando conta de uma criança muito indisciplinada. No lugar dele, sentou um rapaz muito bonito da Sonserina, alto, moreno, de rosto quadrado de cabelos castanhos muito lisos. Tina olhou-o de esguelha e achou que ele tinha um verdadeiro porte de príncipe.


Vestida com aquele odioso casaquinho rosa-bebê, Umbridge começou a aula exigindo silêncio e fazendo um discurso muito monótono sobre as regras da escola e das novas medidas de segurança e ensino criadas pelo Ministério da Magia.


Lia, que não tinha muita paciência para discursos inúteis, rapidamente decidiu-se por escrever um bilhetinho para Tina, que a menina também já muito entediada, recebeu por debaixo da mesa.


A troca de bilhetes não durou muito, pois Umbridge viu claramente quando Tina estava devolvendo a resposta para Lia.


—As senhoritas... – ela começou, numa vozinha melosa. - ...trocando mensagens paralelas durante a aula. Parem já com isso.


Tina amassou o bilhete e o jogou na mochila.


—Desculpe, professora.


—Que seja a última vez, não irei tolerar este tipo de comportamento durante a minha aula. – ela fez uma pausa —Menos dez pontos para Grifinória e Sonserina. – sorriu.


Tina e Lia abriram a boca, alarmadas, mas não puderam falar nada. Estavam erradas, sabiam disso, mas será que era motivo para tirar pontos das duas casas? O menino bonito ao lado de Tina se mexeu na cadeira, incomodado.


Dolores Umbridge manteve o olhar sobre as duas por mais cinco longos e desagradáveis segundos. Ela parecia estar analisando cada detalhe referente às alunas e em dúvida a respeito de algo.


—As senhoritas são estrangeiras? – ela perguntou.


—Somos. – Lia e Tina disseram juntas, ambas sentindo o desconforto da pergunta.


Umbridge ficou em silêncio por mais um momento.


—De que país as senhoritas vêm? – ela perguntou novamente, o mesmo tom de professora primária em sua voz.


—Do Brasil, Profa. Umbridge. Do Collegium. – respondeu Cecília, o peito estufado por um orgulho evidente.


—Bom colégio, Srta. Monfort...


Cecília sorriu, e Tina também.


—Sim, eu conheço o Collegium. Uma escola liberal em um país de educação e cultura liberais. Espero que se adaptem às suas novas condições, Srta. Monfort e Srta. Alves. Espero mesmo.


O sorriso desapareceu do rosto das duas e também da professora.


—Eu estava aqui falando justamente sobre a importância de regras. De ordem, obediência, observância das tradições. Por isto eu estou aqui, classe. Para adicionar um pouco mais desses valores ao cotidiano de vocês, amados estudantes de Hogwarts!


E o discurso continuou, mergulhando não apenas Cecília, mas a todo o resto da classe, em um torpor absoluto. Cecília olhou para Tina de relance e viu a amiga totalmente dura em sua cadeira, apertando os dedos em cima da mesa evidentemente controlando a mesma raiva que ela, Cecília, estava sentindo. Horas, dias pareceram se passar até que Umbridge fechou com um estrondo a sua cópia do livro aprovado pelo Ministério da Magia. Um livro que, na opinião de Lia, não pagava sequer as folhas de papel nas quais havia sido impresso. Sua opinião era compartilhada por Tina.


—Finalmente, hora do almoço! – disse Tina, saindo da sala de Umbridge acompanhada por Lia e seguida de perto por Draco Malfoy, que parecia estar espumando mais que chocolate quente atrás dela.


—Perdendo pontos para a Sonserina já no primeiro dia de aula!


Valentina se virou, parecendo tão lívida quanto Lia.


Caso você não tenha percebido, nós fomos seriamente ofendidas pela professora na frente de todo mundo! – Tina disse, perdendo muito do seu ar contido.


—Mulher xenofóbica, aquela professora! O que você achou pior, Malfoy: o bilhetinho ou o preconceito depravado dela? – Lia se esganiçou.


Draco abriu a boca, mas não saiu nenhuma palavra em resposta.


—Ótimo. – Tina disse, respirando fundo.


—Vamos conversar um pouco antes de irmos para o Salão Principal. Você vai ter que se sentar com seus colegas de casa e vamos acabar sem trocar nenhuma idéia antes das aulas da tarde.


Ela segurou Lia pelo braço e rumou para os jardins. Antes de serem perdidas de vista em meio ao sol do meio-dia, Lia ainda falou alto o suficiente para Draco escutar:


—E não será necessário nos seguir!


Hermione, Harry e Rony passaram aos tropeços por Draco, para alcançarem Lia e Tina. Rony ainda deu um esbarrão do garoto, propositalmente.


—Esperem a gente! – Mione exclamou, correndo atrás das duas.


O grupo se reuniu nos jardim, e Lia e Tina se sentaram num banco de pedra sob o sol.


—Ah, o sol! Ele me faz tão bem! – Lia suspirou.


—O que aquele idiota do Malfoy andou falando para vocês? – Harry perguntou.


—Não podia ser nada mais idiota do que aquela mulher horrível disse sobre o Brasil durante a aula. – Hermione falou, indignada.


—Ele estava enchendo o saco, como sempre. – Rony disse, quando Hermione se sentou ao lado das meninas. —Pelo visto ele vai parar de pegar no seu pé, Harry. Parece que ele encontrou outra vítima.


Valentina não emitiu opinião.


—Temos alguns minutos antes do almoço. Conte melhor pra gente sobre os sons estranhos no banheiro, Tina. – Hermione pediu.


Valentina contou detalhadamente sobre o ocorrido e todos escutaram atentamente. Ao final, Harry e Hermione se entreolharam e concordaram silenciosamente com a cabeça.


—Alguma chance de você ser ofidioglota, Tina? – Harry perguntou, sério.


Nããão! – Rony exclamou, exasperado. —Não pode ser! Outro basilisco?!


Valentina olhou assustada de um rosto para o outro.


—Não... Não mesmo – ela sacudiu a cabeça —Nunca tive o condão de falar com as cobras. Ao contrário, sempre fiz questão de me manter distante delas.


—Que ironia. – Cecília riu.


—Bem, então nenhuma chance de ser um basilisco. – Harry concluiu.


—Mas que história é essa de basilisco?! – Tina perguntou, parecendo preocupada.


—Depois a gente te conta. – Rony falou. —Mas é como eu digo, nunca é bom escutar vozes que outras pessoas não escutam. – disse, sombrio.


Pesados segundos de silêncio se abateram sobre eles.


—Vamos ficar atentos sempre que formos ao banheiro, e prestar atenção se escutamos alguma coisa de diferente. – Lia sugeriu, percebendo que os outros estavam dando real atenção ao assunto, e começando a ficar preocupada também.


Todos concordaram com sinais afirmativos da cabeça.


—Muito bem, vamos comer então? – Rony disse, batendo palmas —Estou morrendo de fome!


Rony não poderia ter sugerido nada melhor. Com a barriga roncando de fome, todos subiram novamente as escadas e se dividiram para as mesas de suas Casas correspondentes.


A primeira semana de aula transcorreu cheia de novidades e amigos novos. Valentina e Cecília rapidamente se viram acolhidas por todos os alunos da Grifinória, e aqueles que ainda mantinham alguma reserva quanto à Tina por ela pertencer à Sonserina, aos poucos iam ganhando confiança naquela personalidade observadora e silenciosa, porém muito sincera e amiga. A única pessoa que não parecia ter se convencido de que ela era responsável e digna de confiança era Draco Malfoy, que volta e meia andava atrás dela reclamando de erros frívolos ou implicando com alguma coisa.


Ao contrário de Valentina que tinha poucos amigos dentro da sua própria Casa, Cecília passou agradáveis momentos nos fins dos dias, no Salão Comunal em companhia de Harry, Rony, Gina e os gêmeos. Jorge parecia ter simpatizado bastante com a menina e fingia que compreendia absolutamente tudo o que ela dizia, mesmo quando ela pronunciava alguma palavra ou alguma frase de modo totalmente enrolado e carregado de sotaque brasileiro.


—Você entendeu o que eu disse? – Lia perguntou um dia quando estava sentada numa poltrona perto da janela, conversando com Jorge, que estava sentado no chão na frente dela. Ele tinha um olhar um pouco perdido enquanto prestava atenção do que ela contava sobre as férias de verão no Rio de Janeiro.


—Claro que entendi! – ele disse, ficando com as orelhas um pouco vermelhas, o mesmo que acontecia com Rony quando ficava nervoso ou sem graça. —Você estava falando sobre como a praia fica... er... vazia?


—Cheia. – ela corrigiu, rindo.


—Isso, como a praia fica cheia nos finais de semana de sol.


E foi nesse clima gostoso de novas amizades que a semana terminou, deixando um bocado de deveres de casa e um final de semana cinzento que anunciava o início do outono.Defesa Contra Artes das Trevas e mais novos amigos

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