Capítulo Seis



Love Lives Forever


Resumo: Entre escolhas e inseguranças no inicio de uma guerra, a única certeza que reinava nos corações daqueles jovens era que o amor, fosse ele entre parentes, amigos ou amantes, viveria para sempre.


Atenção: Harry Potter não me pertence!


CAPÍTULO SEIS


Nunca se vence uma guerra lutando sozinho, você sabe que a gente precisa entrar em contato. Com toda essa força contida que vive guardada, o eco de suas palavra não repercute em nada.


Raul Seixas


MMM


Sua cabeça doía de forma quase até insuportável, martelando-lhe a têmpora sem perdão. Algo na altura das costelas também lhe apertava, dificultando até a respiração. Continuou com os olhos fechados, num estado entre acordado e dormido. Sentia sua bochecha esquerda arder assim como o canto de sua boca. Ao longe, muito longe, podia escutar algumas vozes. Sussurros que pareciam distantes e pertencentes até de outro mundo, e não aquele que se encontrava.


"Não me peça calma. Algo de grave poderia ter realmente acontecido"


"Mas não aconteceu! Por Merlin, não é preciso esse alvoroço todo"


A claridade começou a incomodar-lhe os olhos. E os sussurros ao longe podiam ser escutados e entendidos mais claramente.


"Ah, não? E se eu não tivesse chegado a tempo?"


"Mas você chegou, e eu já lhe agradeci por isso. Porque ficar pensando no que poderia ter acontecido, se eu to aqui e bem?"


"Pra você é tudo muito simples, não é? Poderíamos ter dois Moonies aqui agora! Mas pra você estaria tudo bem, contanto que você tenha falado com tua querida Evans, está tudo ótimo, não é mesmo?"


"Isso não tem nada a ver, Sirius!"


"Ah não? Isso não aconteceria se você tivesse vindo conosco como sempre faz. Ou se tivesse ido direto pra floresta nos esperar por lá. Mas tua cabeça estava muito ocupada pra pensar em qualquer outra coisa, James. Isso lhe custaria muito! Até a vida!"


Remus abriu os olhos naquele instante. Piscou algumas vezes para se acostumar com a claridade, reconhecendo logo em seguida a Ala Hospitalar de Hogwarts. Seu olhar se focou nas figuras de James e Sirius que estavam no pé de sua cama. Peter se encontrava calado, sentado numa cama vizinha a que Lupin estava deitado, com a capa da invisibilidade jogada em seu ombro.


"Que história é essa?" – perguntou com a voz rouca. Tentou recostar-se na cabeceira de metal, mas urrou levemente quando sentiu uma pontada nas costelas.


As cabeças dos outros três marotos viraram em sua direção com expressões de surpresa estampadas em cada uma.


"Moony" – James murmurou. Caminhando rapidamente, assim como Sirius, para mais perto da cama do amigo.


O estado do lobisomem era deplorável. Seu rosto exibia um enorme arranhão que cortava diagonalmente o nariz, havia um hematoma vermelho em sua bochecha e em sua boca havia um pequeno corte.


"Ei, cara. Nem tente levantar" – Sirius avisou – "Ontem vimos o final da tua transformação e não foi nada legal"


"O que aconteceu ontem?" – indagou rapidamente – "Do que vocês estavam falando?" – e mirou de Sirius para James e deste para Peter, como se exigisse respostas.


"Como você está se sentindo?" – James indagou – "Quer que a gente chame Madame Pomfrey?"


"Você está louco?" – Peter murmurou, lançando um olhar para a sala da enfermeira no final do corredor – "Ela não pode nos ver aqui. Não se lembra da última vez? Ela ameaçou nos azarar se..."


"Não mudem de assunto" – Remus interrompeu o outro – "Me contem! Que história é essa de não chegar a tempo? Que história é essa de dois Moonies?"


Prongs e Padfoot se entreolharam. Peter engoliu em seco.


"Esquece, Moony" – Sirius respondeu.


"Nós pensamos que você estivesse dormindo" – Peter completou.


"Não foi nada" – James terminou.


Remus analisou os três por alguns segundos, respirou fundo e sentindo seu tórax doer novamente, murmurou baixo:


"Eu ataquei vocês?"


Silêncio. Nem um deles se atreveu a responder.


"EU ATAQUEI VOCÊS?" – indagou alto. Mais alto que seu tom de voz normal; de uma maneira que ele quase nunca usava.


"Pare com isso. Você não está bem, ainda tem a semana inteira pela frente e ..."


"Me respondam!" – falou, interrompendo Sirius também.


James trocou olhares com os outros dois, e eles concordaram mudamente que não havia escapatória. Remus era muito inteligente de se enganar. Tinham que falar.


"Não foi sua culpa" – assegurou Prongs – "Foi minha culpa"


"O que aconteceu?"


"James não estava transfigurado em animago, você estava saindo do Salgueiro Lutador, eu e Wormtail víamos mais atrás"


"Eu estava distraído. E você veio na minha direção. Mas eu me transformei. Foi só isso"


"Não foi só isso..." – Remus murmurou com amargura – "Quero a verdade"


Silêncio novamente. Sirius bufou, resolvendo contar tudo de uma vez.


"Você foi correndo na direção dele, o prensou e eu tive que te deter, se não..."


Sua voz morreu. E acima das suas olheiras fundas, o olhar de Remus se tornou culpado e transtornado.


"Não foi sua culpa" – James falou outra vez ao observar a expressão angustiada do amigo – "Eu estava atrasado. Eu fui o culpado"


"Eu sabia que isso ia acontecer" – Moony murmurou melancólico, como se não houvesse escutado o que Prongs falara – "Eu sabia..."


"Moony, você..."


"Eu ia te morder, James!" – ele falou alto – "Eu ia te atacar! Eu sempre soube que era arriscado demais. Nunca deveria ter deixado vocês me acompanharem. É loucura!"


"Você não está escutando o que estamos dizendo?" – Sirius indagou – "Vocênãoteveculpa" – falou pausadamente – "Foi culpa do James e ele sabe disso" – Prongs assentiu com a cabeça.


"O que há na cabeça de vocês?" – Remus rebateu revoltado – "Isso não é diversão! É coisa séria, muito séria!"


"Nós sabemos" – Prongs falou – "Sempre soubemos. E nós quisemos correr esse risco, Remus. Nós estávamos lá porque quisemos estar. Porque sempre estivemos e sempre estaremos!"


O rapaz pôs-se sentado com dificuldade, encostando-se na cama.


"Vocês não sabem como é" – ele disse - "Vocês não sabem como eu me sentiria se..." – ele hesitou, mirando os amigos com pesar – "Se..."


"Não vai acontecer de novo" – James contrapôs – "E não foi sua culpa. Eu fui o irresponsável.Eu não prestei atenção"


Remus não respondeu. Passou a analisar novamente o rosto dos marotos, sua cabeça ainda doía, seu rosto ardia, sua respiração cortava. Imagens dos outros três marotos atacados com mordidas e arranhões largados entre as árvores da floresta materializaram em sua mente.


"Não quero que vocês me acompanhem mais" – sentenciou decidido.


James, Sirius e Peter arregalaram os olhos.


"Como é que é?" – Padfoot indagou descrente.


"Você escutou bem, Sirius." – respondeu.


"Sem chances" – James contrapôs.


"Eu não quero mais"


"Você não pode nos impedir" – Sirius argumentou – "Isso está além de sua vontade, Remus"


"Não é minha condição que está em jogo. É a vida de vocês três. Eu não quero carregar um fardo pelo resto da minha vida de ter feito alguma coisa,qualquercoisa, contra vocês"


"Moony..." – Peter tentou começar.


"Vocês são normais! Por Merlin, não precisam fazer isso! Eu passei minha vida quase toda convivendo com minha maldição sozinho. Vocês não têm de se arriscar"


"Nada que você fale vai mudar" – James disse por fim – "Você querendo ou não, nós vamos continuar"


"Isso mesmo" – Sirius concordou. Peter assentiu com a cabeça.


Remus ergueu o queixo. Procurando em seu intimo forças para dizer que o viria a seguir:


"Saiam" – ordenou, num tom incomum a ele. Num tom frio. Num to ameaçador – "Me deixem sozinho"


Os três se miraram novamente. Não se moveram do lugar.


"EU QUERO FICAR SOZINHO!"


O grito ecoou pela enfermaria deserta e num segundo Madame Pomfrey saiu de sua sala. Ela expulsou os três dali, reclamando por perturbarem seu paciente e ameaçando entregá-los a Professora MacGonagall.


Assim que a porta se fechou atrás deles, Sirius lançou um olhar assassino na direção de James, o clima tenso se instalou no ar, o desconforto tomou conta dali.


"Parabéns" – foi o que Padfoot murmurou azedamente, e sem dizer mais alguma palavra, caminhou na direção das escadas. James bufou contrariado, murmurando algo incompreensível e rumando para a direção oposta. Peter ficou estancado no mesmo lugar, perdido em pensamentos.


MMMMM


"E além do mais..." – Mary dizia brincando com o garfo em sua mão – "Eu nunca usaria uma saia tão curta como á dela. Digo, estamos no outono, quase inverno. Não há explicação para isso. Isso é necessidade de se amostrar"


Alice abafou uma risada, enquanto Lily e Marlene trocavam olhares divertidos.


"Estou detectando um certo tom de inveja, ou é impressão minha?" – Marlene brincou, bebericando seu suco de cenoura.


"Eu? Com inveja da Lauren Coffman?" – Mary fez uma expressão de ofendida – "Nem em sonhos"


Lily sorriu levemente.


"O que já te disse sobre autovalorização?" – indagou a ruiva, pousando os talheres em seu prato vazio do almoço.


"Tudo o que poderia dizer" – A loira rodou os olhos – "Que tal agora conversar com a Coffman sobre Atentado ao Pudor?"


"Atentado a quem?" – Alice franziu o cenho, após engolir uma colherada de sua sobremesa.


Mary e Lily riram. Marlene ergueu as sobrancelhas também sem compreender.


"É uma lei trouxa" – Lily explicou – "Exibicionismo, na verdade"


As duas morenas ergueram a sobrancelhas interrogativas.


"Vocês sabem, andar pelado por aí é crime" – Mary riu.


"E quem faria isso?" – Alice indagou incrédula.


"Trouxas" – Mary deu de ombros – "E Lauren Coffman"


As quatro gargalharam com vontade.


"Nunca ouvir falar de bruxos andando pelados por aí" – Marlene comentou entre risadas – "Essa é definitivamente nova!"


"É interessante saber que existe um mundo completamente diferente do nosso aí fora" – Alice comentou.


"É" – o sorriso de Mary morreu – "Pena que nem todos pensem assim"


Marlene parou de rir, mirando com uma expressão angustiada as duas amigas nascidas-trouxa sentadas na frente delas. Alice pegou uma mexa negra de seu cabelo para remexer inquietamente, enquanto Lily suspirava resignada.


"Desculpe" – a loira murmurou – "Não queria quebrar o clima desse jeito. É só que, às vezes, eu..."


"Isso vai acabar" – Marlene garantiu – "Essa loucura não vai pra frente. Não pode ir pra frente"


Lily acenou com a cabeça e Alice sorriu levemente em forma de consolação.


"Evans?" – uma voz grave chamou atenção das quatro, obrigando-as a virar a cabeça para o lado esquerdo para encarar a figura altiva de Matthew Green, monitor da Ravenclaw, vestindo um jeans desbotado, um moletom azul-marinho e com seus cachos castanhos impecáveis – "Garotas" – ele cumprimentou as outras sorrindo levemente.


Todas responderam educadamente.


"A professora McGonagall quer falar com você e com o Potter, disse para ir á sua sala assim que pudessem" – ele passou o recado.


"Ah... Ok" – Lily respondeu.


"Eu procurei o Potter em todos os lugares, mas não achei, se você conseguir encontrar..."


"Pode deixar. Obrigada, Green"


Ele sorriu em resposta, abandonando a mesa da Gryffindor para rumar em direção a da sua casa.


"Se meu cabelo ficasse tão ajeitado quanto o dele minha vida seria outra" – Mary comentou sonhadora, acompanhando o rapaz com o olhar – "Eu não sei quanto a você, mas isso que é um Atentado ao Pudor"


Marlene rolou os olhos, enquanto Alice balançava a cabeça negativamente, e Lily terminava seu suco.


"Vou ver o que a McGonagall quer. Não vou ficar procurando o Potter por aí" – Lily disse, levantando-se – "Encontro com vocês depois" - e saiu para fora do Grande Salão.


MMMMMM


Sirius caminhava pelos corredores do castelo sem nenhum rumo planejado. Sua cabeça martelava-lhe a mil com dezenas de pensamentos e a raiva ainda o consumia. Não de James, muito menos de Remus, mas raiva da situação em si.


Embora fosse um rapaz rebelde, constando os fatos de sua infância e adolescência em relação a sua família, ele odiava mudanças. Gostava de desafios, de adrenalina, de emoção, mas mudanças não. Não queria que sua rotina mudasse, e muito menos que seus amigos mudassem. Talvez fosse egoísmo de sua parte sim, talvez tivesse exagerado ao brigar com Prongs pelo pequeno deslize do outro maroto, mas a verdade era que não queria que a relação que tinha com os amigos cambiasse para algo fora de seu controle.


Hogwarts sempre fora sua casa no final das contas. Desde que pisara pela primeira vez naquele castelo se sentia como se ali fosse seu lugar, e por mais que negasse, odiava admitir que tinha receio sim do que viria a seguir. Era seu último ano afinal e a escola não seria mais parte de sua vida.


Suspirou, colocando as mãos no bolso, afastando com um movimento de cabeça os cachos negros que lhe caiam sobre a face.


A verdade era que odiava pensar que depois que se formasse, sua vida teria que tomar um rumo e que provavelmente não tomaria o mesmo que a de seus amigos. Aquilo sim era um terror para ele. Não poderia viver com os Potter para sempre. Eles eram bons, acolhedores, e James era sem dúvida alguma seu irmão, mas não podia depender deles a vida toda. Já era legalmente adulto, tinha que seguir em frente.


Mas seguir em frente é difícil, não é mesmo? Era bom do jeito que estava, do jeito que sempre foi. Ele e os três inseparáveis amigos, fazendo marotagens pela escola, conquistando fãs e garotas, aprendendo a conviver um com o outro, aceitando suas diferenças. O significado de família para ele, sempre fora tão vago e tão miserável no passado, mas desde que conhecera os marotos, aquilo se tornou sua família. Aquilo fazia parte dele.


Não estava suportando ver James de certa forma se transformar aos poucos, não estava conseguindo imaginar seus meses sem ter que acompanhar Remus durante as luas cheias e até não agüentaria não implicar com Peter por besteiras.


Não. Ele não queria que mudasse. Queria que fosse como sempre fora. Não queria que terminasse. Pois por mais que soubesse que seus amigos nunca o deixariam de verdade, ele tinha medo de ficar sozinho. Não queria começar uma nova vida sem sua família por perto, fazendo tudo que sempre vaziam, pois aqueles, aqueles sim, foram os melhores momentos de sua vida. Ele sabia que enquanto pudesse acordar no dormitório de Hogwarts e olhar para os rostos de cada um de seus amigos, ele nunca estaria sozinho.


Suspirou mais uma vez, pensando o quão patético era se sentir daquela maneira. Era até engraçado ele, Sirius Black, passar por um dilema de aceitação tão grande e se ver em meio a medos e inseguranças que nem combinavam com sua personalidade. Afinal, todos o viam como o forte, o rebelde e até o maioral. Mas ele só conseguia ser assim graças à segurança que sentia ali dentro, mas e depois? E se Remus realmente não quisesse mais a companhia deles e sumisse de uma vez para bem longe? E se James se acertasse com a Evans e fosse viver sua vida, deixando-o de lado? E se Peter se cansasse daquilo tudo e também tomasse um rumo inesperado? Aí não havia mais fortaleza; sem seus pilares, tudo se desmorona. E os marotos eram seus pilares. E por mais que ele tentasse se convencer de que ele também poderia arrumar um caminho como qualquer outro, ele sabia que nunca iria se sentir tão forte e tão bem quanto se sua família estivesse por perto.


Bufou, ao virar uma esquina, sentindo raiva de si mesmo por estar sendo tão ridículo, quando parou de caminhar ao deparar-se com alguém.


Mirou enigmático os orbes cinzentos que o encarava, quando o outro também parou de andar.


Regulus Black segurava com firmeza um livro grosso em uma das mãos e estancou no meio do corredor assim que viu seu irmão mais velho. Os olhos de ambos estreitaram ao mesmo tempo, como se ensaiado, iguais não apenas na cor, mas também no formato e na intensidade. Não apenas os olhos eram os mesmos, mas os cabelos, o nariz, algumas partes do rosto... Eram muito parecidos. Fisicamente. Almas distintas, pelo que sempre souberam e sempre acreditaram.


Sirius adiantou alguns passos, erguendo o queixo levemente para o menor, que não saiu do lugar, sem se intimidar. O Gryffindor caminhou com cautela, observando que nenhuma fibra de expressão do rosto do irmão se moveu.


"Treinando maldições imperdoáveis, Regulus?" – disse sarcástico quando se pôs a um metro do rapaz.


Regulus crispou os lábios, sua face ficando levemente vermelha.


"Não me dirija à palavra" – ele respondeu, analisando Sirius de cima a baixo parecendo enojado – "Traidor" – completou cuspindo a palavra com ódio.


Sirius ficou em silêncio, observando-o com atenção. Segundo depois gargalhou caninamente, tombando a cabeça levemente para trás. Regulus se irritou, sentindo a ira subir-lhe a cabeça.


"Do que diabos está rindo?"


Sirius continuou a rir descontroladamente. Regulus murmurou xingamentos inaudíveis, rumando para frente sem paciência, dando um encontram de ombros com o mais velho.


"Você é um idiota" – Sirius murmurou, sem se virar, assim que o Slytherin passou por ele. Regulus se virou no mesmo segundo, apertando o livro com força e controlando a vontade de sacar sua varinha do bolso.


"Como é?" – indagou alto. Padfoot se virou para ele, mais uma vez; dessa vez ele analisou-o de cima a baixo.


"Eu tenho pena de você" – ele respondeu – "Não passa de um fantoche"


Regulus avançou alguns passos decididamente, ficando cara a cara com o irmão.


"E você é uma vergonha" – ele disse – "Seu nome foi queimado da tapeçaria, sabia? Você é um vexame; um ninguém. Está sozinho agora".


Sirius sorriu sarcástico.


"Não sabe como isso me deixa feliz" – murmurou irônico – "Melhor ser ninguém do que ser uma marionete sem vontade ou voz alguma nas mãos daqueles canibais" – Regulus recuou um passo, sua face pela primeira vez exibiu um quê de hesitação perante a decisão que Sirius transmitia – "Eu finalmente estou livre, Regulus" – ele disse, seu rosto se tornou indecifrável – "Eu morro de pena de você" – repetiu e lançando um último olhar para o caçula, virou as costas e saiu caminhando calmamente dali, sem saber explicar porque sua mente ficara mais tranqüila e porque sua raiva parecia ter se dissipado.


MMMMMM


"E então?" – Mary indagou de sua cama, enquanto pintava suas unhas dos pés de amarelo berrante – "O que Minerva queria?"


Lily fechou a porta atrás de si, sentando-se na cama de Marlene que estava deitada de barriga para baixo folheando uma revista de moda trouxa.


A ruiva suspirou, observando Alice sentada no chão, alisando o dorso peludo de Marshmallow.


"Coisas da monitoria" – respondeu vagamente, ainda raciocinando sobre sua conversa com a professora.


"Jura?" – Mary respondeu, analisando as unhas amarelas das mãos e dos pés – "Nem havia pensado nisso..." – ironizou – "Droga, borrou!" – exclamou, ao constatar a pintura de seu dedão do pé.


Marlene fechou a revista calmamente, observando a loira pegar a bolsinha rosa que estava em seu colo e tirar de lá um algodão e um frasquinho de acetona.


"Não consigo entender isso, mas é o máximo" – a artilheira murmurou mirando os movimentos de Mary – "Apesar de que... você não acha essa cor...exagerada demais?"


"Há certo hábitos trouxas que não mudam" – Mary respondeu, repintando o dedão – "E esse amarelo combina com meu cabelo"


"Está se valorizando afinal..." – Alice brincou, fazendo cafuné na cabeça da gata em seu colo que ronronava agradecida. Mary assentiu e Marlene sorriu. Lily, porém, mirava perdida um canto do dormitório alheia a conversa.


"E então, Lily?" – Marlene murmurou, voltando-se para a ruiva distraída – "É assunto ultra-secreto o que a professora conversou com você?"


"Sempre achei que Lily fosse espiã da Macgonagall" – Mary brincou, exibindo um sorriso divertido ao mesmo tempo em que guardava seus esmaltes e materiais.


Marlene e Alice gargalharam com vontade, porém a ruiva apenas sorriu de leve incapaz de rir. As meninas perceberam a falta de humor da amiga e pararam as risadas de súbito. Marlene se sentou na cama também, analisando Lily com atenção.


"Foi algo grave?" – ela indagou, sua expressão agora transmitia preocupação.


Lily suspirou, encarando as três por alguns segundos até dizer:


"Os professores estão preocupados" – ela começou. Mary ergueu as sobrancelhas como se pedisse para ela continuar – "Dois irmãos trouxas desapareceram em Hogsmeade, sabiam?" – sua voz saiu hesitante e rouca.


Marlene e Alice se entreolharam. Mary encarou as unhas dos pés recém pintadas com uma expressão indecifrável.


"Nós vimos no Profeta diário de ontem" – Alice respondeu baixo, deixando a gata de lado, agora totalmente desinteressada em fazer caricias no animal.


"Não é surpresa nenhuma concluir que isso tem haver com Vocês-sabem-quem. E foi muitoperto. Hogsmeade é logo ao lado" – comentou Lily, estalando os dedos nervosamente.


As outras três concordaram com movimentos: Marlene assentiu com a cabeça, enquanto Alice ergueu as sobrancelhas negras e Mary crispou os lábios levemente, mas sem desviar seus olhos dos pés.


"Ela me disse que eles estão apreensivos com a segurança dos alunos" – Lily continuou – "Até porque nós vamos passear em Hogsmeade. Alguns professores sugeriram cancelar as visitas, mas outros opinaram por tentar reforçar a segurança. Ir a Hogsmeade é uma distração de tudo no final das contas"


"É verdade" – Alice disse – "Não é justo não podermos sair do colégio, mas..." – ela hesitou, calando-se.


"Talvez seja perigoso sair" – Marlene concluiu.


Lily concordou antes de murmuram:


"Ela me disse que já recebeu cartas de alguns pais proibindo a ida de seus filhos aos passeios"


Mary finalmente levantou a cabeça, mirando Lily seriamente, numa expressão que era raramente vista no rosto da loira.


"E o que eles vão fazer Lily?" – ela indagou.


"Professores vão nos acompanhar nos passeios e os monitores terão que fazer rondas pelo vilarejo pra ficar de olho nos alunos e avisar aos professores qualquer movimento..." – ela hesitou por uns segundos – "Suspeito" – disse e depois suspirou – "Dumbledore irá conversar conosco amanhã no jantar. Dar recomendações extras"


Mary bufou.


"Isso é inaceitável" – ela disse contrariada – "O que eu terei que fazer? Conjurar uma bolha pra viver dentro dela?"


"Mary..." – Alice tentou.


"Estou cansada disso" – ela murmurou – "Estou farta!"


"Mary não fique assim. Nós também estamos cansadas e..."


"Não vocês não estão!" – Mary argumentou, interrompendo a fala de Marlene – "Não mesmo! Lily sim, mas você e Alice não. Vocês são sangue-puro! Não sofrem nenhuma ameaça de morte. Nenhum aspirante á comensal idiota¹ tentou lançar uma maldição imperdoável em vocês!'


"Mary?" – Lily exclamou indignada.


"O que diabos você está dizendo?" – Marlene indagou incrédula com as acusações.


"É verdade, Marlene" – a loira continuou, gesticulando brandamente – "Me diga, vocês se preocupam em olhar para os lados para andar nos corredores? Vocês observam quem está sentado do lado de vocês? A causa de você-sabe-quem é acabar com os trouxas, então não me diga que você sabe como é, que você está sentindo o mesmo que eu, pois você não está! Você não é trouxa!"


Marlene se ergueu da cama irada. Alice prendeu a respiração, enquanto Lily bufava frustrada pela discussão formada.


"Você está sendo injusta e insensível" – ela acusou, apontando o dedo indicador para Mary, como uma mãe briga com um filho mal-criado – "Se você não percebeu ainda, não só nascidos-trouxas estão desaparecendo. Mestiços e sangues-puros que se opõem a ele também estão sumindo. E advinha só, Mary? Eu não concordo com ele e não sou covarde para ficar em cima do muro, sendo uma bruxa neutra, só para não sofrer com as conseqüências. Porque se eu não quisesse correr risco algum, era só me afastar de você e de Lily. Mas eu fiz isso? Não, eu não fiz! Porque vocês são minhas amigas e eu estou com vocês!"


Um silêncio incômodo se instalou no quarto. Mary não se atreveu a responder. Alice mirava de uma para outra angustiadamente. Lily procurava as melhores palavras para amenizar o clima tenso. Segundos depois, Marlene voltou a se sentar. Nada foi proferido. Nenhuma sabia o que dizer perante aquela situação.


"Me desculpe" – foi o que Mary murmurou, mirando Marlene angustiada e um pouco envergonhada.


Marlene assentiu logo em seguida, exibindo um leve puxar de lábios.


"Acreditem" – Alice se atreveu a falar finalmente mirando de Lily para Mary– "Nós sabemos o que estão passando; nós também estamos."


"Obrigada" – Lily proferiu. Silêncio novamente.


"Borrou de novo" – Mary murmurou baixo, pegando sua bolsinha novamente, encharcando um algodão com acetona e tirando o esmalte de todas as unhas. Nenhuma resolveu comentar sobre aquilo. Embora todas sabiam que o esmalte não estava borrado. Nem um pouco.


MMMMMM


Peter se encontrava sentando em frente a ÁrvoreMarota. Observava sem interesse as águas negras do lago, sentindo a fria rajada de vento congelar-lhe as bochechas saliente. Alguns alunos se encontravam também do lado de fora do castelo, aproveitando, assim como na tarde anterior o descanso do fim de semana, mas naquele dia, diferente do outro, estava sozinho.


Suspirou fundo, remexendo a capa da invisibilidade de James em seu colo, brincando com a seda, pensando o que poderia fazer. Sentia-se completamente desorientado e sem motivação alguma. Mal se lembrava da última vez que se sentia daquela maneira.


Não ter os outros marotos por perto era realmente inquietante. Peter nunca soube dizer o porque de os outros terem aceitado-o no grupo, afinal de contas, ele não tinha nenhuma qualidade que pudesse chamar a atenção dos outros alunos: Ele não bonito como Sirius, não era talentoso como James e muito menos inteligente como Remus. Às vezes se sentia como um intruso no meio dos três, como uma peça qualquer que apenas estava onde estava porque era mais interessante ser um quarteto do que um trio. Apenas um seguidor deles e nada mais. Ele não sabia ao certo explicar, mas a verdade era que, sem os outros três, ele não tinha direção alguma, quem seria Peter Pettigrew se não fosse conhecido por ser amigo de James Potter, Sirius Black e Remus Lupin?


Seria ninguém. Era isso que seria. Pelo menos era o que pensava. Ele tinha sorte dos outros três tê-lo agregado, tê-lo acolhido.


Suspirou mais uma vez, sentindo-se minúsculo, como se tivesse acabado de se transformar em sua forma animaga. Ele não era ninguém sem os marotos, e essa era verdade. E tinha medo, medo de aquela situação toda acabar num desastre, que acabasse por destruir os tão famosos Marotos. O que ele faria se aquilo acontecesse? O que sempre fora sua bússola desapareceria e ele estaria perdido, desprotegido e sozinho.


Não aquilo não poderia acontecer. E ele tinha que fazer algo para impedir. Ele tinha que...


"Ora ora ora. O que temos aqui?" – Peter escutou uma voz sarcástica soar em sua direção e ao virar-se rapidamente ficando de pé, encarou as figura de Avery e Mulciber – "O que faz aqui sozinho gorducho?" – Avery continuou.


Peter arregalou os olhos, sentindo o sangue correr mais rápido nas veias.


"Aonde estão seus amiguinhos, Pettigrew?" – Mulciber indagou com um sorriso irônico – "Cansaram de você, foi?"


"Talvez tenham ido procurar um novo mascote..." – Avery caçoou maldosamente – "Devem ter ficado de saco cheio do cachorrinho babão deles..."


"Cala a boca" – Peter rebateu num tom áspero, que segundo depois até ele mesmo não soube de onde saiu.


Avery franziu o cenho devagar, chegando mais perto de Wormtail com um olhar mortífero e ameaçador fuzilando o maroto como um inseto.


"O que você disse? Não tem medo?" – ele ciciou, Peter recuou três passos, colocando discretamente uma das mãos no bolso detrás da calça para segurar a varinha. Avery sorriu sardonicamente ao notar a hesitação estampada na cara do rapaz – "Ah, tem sim, não é? Tem sim... Cadê aquela sua pose agora? Cadê sua pose como quando você está desfilando por aí com seus amiguinhos?" – Peter tremeu levemente e o outro gargalhou – "Aqueles imbecis não estão aqui pra te proteger. Você está sozinho, seu verme. Eles te deixaram sozinho, não foi?"


Peter engoliu em seco, sentindo seu corpo soar frio, vendo que não teria chance alguma contra dois.


"Esquece ele, Avery" – Mulciber ciciou atrás– "Esse aí é um inútil. Não serve pra nada"


Avery se moveu alguns segundos e antes de sair dali com o outro sonserino, proferiu:


"Sua hora vai chegar, gorducho"


Peter ficou petrificado no mesmo local, sentindo-se ainda menor que antes. Sentindo-se um verdadeiro ninguém.


MMMMM


A tarde começou a findar e a noite logo estaria tomando o céu. Remus caminhava lado a lado com Madame Pomfrey pelo gramado da escola em direção ao Salgueiro-Lutador. Seu estomago embrulhava e ele sentia uma enorme anseia de vomitar; não sabia se era efeito das poções ou o simples fato de sua transformação estar próxima.


Lançou um olhar para trás, observando rapidamente o castelo. Não viu nenhum dos amigos o dia inteiro. Nenhum deles se atreveu a visitá-lo depois de ele ter os expulsado. Melhorassim. Ele pensou voltando a mirar em frente, encarando a enorme árvore ao longe que se aproximava à medida que caminhavam.


Eles nunca iriam entender. Nunca iriam saber como era ser oque ele era. Quando era pequeno nunca imaginara que um dia poderia realmente estudar magia em Hogwarts, nunca pensara que poderia ter uma vida quase normal como a que ele tinha. Era sem dúvida maravilhoso para alguém como ele. Quantos lobisomens tiveram aquela oportunidade? Nenhum pelo que ele sabia. Não há oportunidades para lobisomens. O único destino é a exclusão, o isolamento, a solidão. E era isso que ele esperava; era isso que ele já havia até aceitado antes de conhecer Dumbledore. Antes de uma porta milagrosa se abrir para ele, e que ele agarrou com todas as forças.


E depois dessa porta, vieram outras. Outras três na verdade. James, Sirius e Peter. Outra surpresa para um garoto em sua condição. Embora tivesse medo de ser rejeitado no inicio e escondera como pôde seu verdadeiro problema, nada foge da curiosidade e da inteligência dos marotos. Claro que eles descobriram, o que alguém conseguia esconder daqueles três?


Ele sorriu de leve.


E o mais surpreendente de tudo fora que eles não o rejeitaram. Eles o aceitaram, do jeito que era. Com seu pequenoproblemapeludo, como James falava. E ainda encontraram uma forma, mesmo que ilegal, de acompanharem-no. De não deixá-lo sozinho. Incríveis, sem dúvida. Loucos, com certeza.


Remus sempre soubera que era loucura, mas como iria dizer não? Nunca cogitara a hipótese de ter amigos, e ainda por cima amigos que queriam apoiá-lo em qualquer hora, qualquer momento. Mas aquilo que acontecera na noite anterior era inaceitável. Ele não suportaria saber que ferira alguém, muito menos um deles. Ele não se perdoaria.


Sentiu o estômago revirar mais uma vez, observando a enfermeira paralisar o Salgueiro e este parar de se movimentar. Um aperto no peito o atormentou. Eles não estariam com ele daquela vez. E isso o incomodava mais do que ele previra. Saber que os marotos estavam com ele sempre o acalmava, o tranqüilizava, o confortava, o fazia enfrentar aquela transformação.


"Cuide-se" – Madame Pomfrey se despediu com um leve sorriso. Ele retribuiu o gesto e entrou na passagem de uma vez.


Ele estava sozinho agora, do jeito que pedira aos amigos. E ele sabia que aquilo era o certo a fazer. Mas porque parecia ser tão errado?


MMMMM


Andava pelos corredores apressado. Nenhum sinal de Sirius e Peter desde a breve briga daquela manhã. Ele realmente esperava que ambos estivessem no dormitório, prontos para uma conversa depois de passarem o dia inteiro refletindo sobre a exigência de Remus. Ele sabia muito bem que nenhum dos amigos iria dar para trás sobre as noites de lua-cheia e deixar aquela completa idiotice que fizera realmente afetar ospasseios com Moony. Ele tinha certeza que nem Wormtail e muito menos Padfoot deixaria o amigo lobisomem sozinho, por mais que ele mesmo tivesse exigido aquilo na enfermaria. Não. Eles iriam continuar acompanhando-o, quer ele querendo ou não. Ele tinha absoluta certeza daquilo.


Ou ao menos pensava que tinha. O fato era que Sirius e Peter não estavam no dormitório como ele pensava. E o bendito Mapa-do-Maroto, ele dera a Padfoot naquela manhã. Não fazia a menor idéia onde aqueles dois haviam se metido.


Respirou fundo, dobrando uma esquina que o levaria as escadas. Não. Não era possível. Será mesmo que os outros dois marotos realmente deixariam Remus? Será que eles não iriam mais ajudá-lo?


Ele fechou os punhos; uma certa raiva crescendo dentro de si. Que se danassem os dois. Ele iria. Sem Sirius e sem Peter. Ele estaria lá para Remus. Como um verdadeiro amigo deveria estar.


"Potter!" – ele escutou atrás de si, antes de chegar a um metro do primeiro degrau das escadas. Virou-se e deparou-se com Lily Evans, que se aproximava de si em passadas largas – "Estive procurando por você a tarde inteira!" – ela murmurou – "Quando cheguei no salão comunal, Frank me falou que você tinha acabado de sair"


James olhou para o final do corredor por onde Lily viera, observando da enorme janela de vidro ao longe que a noite já caíra.


"Desculpe" – ele disse, voltando-se para ela – "Mas eu tenho que ir, estou atrasado"


Lily estreitou os olhos.


"O quê?"


"Depois nos falamos, Evans" – ele disse ameaçando caminhar em direção as escadas – "Preciso ir antes que as escadas mudem"


"Potter" – ela murmurou, incrédula adiantando o passo para puxá-lo pelo ombro obrigando-o a mirá-la – "Eu tenho uma coisa muito urgente para falar com você, da monitoria"


Ele bufou.


"Sinto muito. Mas eu estou realmente atrasado! Amanhã, você me fala o que é, ok?"


"Amanhã? Amanhã?" – ela mirou-o de forma assassina, fuzilando-o com seus olhos esmeralda e empinando o nariz na direção do maroto – "Será que você não pode deixar seu compromisso esperar nem sequer um minuto para tratar de algo realmente importante?" - James sentiu o sangue ferver. Algo realmente importante? Era irônico ouvir aquilo de Lily, já que fora justamente por causa dela que toda aquela confusão com os outros marotos começara. Fora exatamente por ele ter sido tolo suficiente para desperdiçar um minuto de seu tempo para tentar, em vão, concertar as coisas com ela. Quem ela pensava que era para julgar seu compromisso desimportante afinal? Seu compromisso era concertar as coisas com Remus agora. Concertar algo que ele fez por causa dela - "Você não passa de um irresponsável, Potter. Eu sempre soube que ser monitor não era para você! Você não tem nem um pingo de senso nessa sua cabeça cheia de..."


"Chega!" – ele falou alto, obrigando-a a se calar. Não agüentando mais ouvir nada daquilo – "Quer saber de uma coisa, eu estou farto!" – Lily arregalou os olhos perante a reação do rapaz – "Não precisa gastar sua saliva dizendo o quão irresponsável eu sou, o quão cretino, o quão arrogante, o quão imbecil. Você já falou isso milhões de vezes, Evans. Eu já sei tudo o que você vai falar de có!"


Lily abriu a boca para contrapor, mas James não permitiu:


"Já disse que estou atrasado. E irresponsabilidade, até onde eu sei, é não chegar para os compromissos. Que por sinal você nem faz idéia do que se tratam, não é?" – ele disse azedamente, e num tom de pura frieza concluiu – "Eu cansei de perder tempo com você" – e saiu, chegando nas escadas segundos antes de elas mudarem e levarem-no para o quinto andar, onde ele sabia que havia um atalho para os terrenos do castelo, e deixando para atrás uma atônica e incrédula Lily.


MMMMMM


James caminhava decidido em direção ao Salgueiro Lutador. Um misto de raiva e alívio tomava seu corpo naquele instante. Sabia que havia feito a coisa certa, afinal Remus precisava muito mais dele naquele momento do que os assuntos da monitoria com Lily, e ele se sentia até como se tivesse dado o troco a ela por toda aquela confusão. Estava cansado de ser julgado o tempo inteiro pela ruiva; se era para ela julgá-lo, pelo menos dessa vez fora por um real e nobre motivo. Pensaria naquilo depois, o que importava naquele momento era mostrar para Moony que ele estaria com ele.


Chegou perto da enorme árvore. Respirou com frustração perguntando-se como afinal iria fazer aquilo. Era sempre Wormtail quem paralisava o Salgueiro. Transformado em rato era muito mais fácil chegar a tal raiz que fazia com que a árvore parece de se mexer. Como um cervo, com todo aquele tamanho, faria para desviar das ricocheteadas dos galhos da planta? Ele era ágil, mas não o bastante para sair ileso. Todavia nunca haviam tentado um feitiço. Sempre fora mais divertido ver Peter se esquivar desesperado das galhadas. E agora sozinho, será que algum feitiço funcionava contra aquela árvore?


Foi quando sentiu a presença de mais alguém ali. Virou para trás e se deparou com Sirius á dois metros de distância dele. O maroto nada disse, apenas se limitou a encarar James de forma indecifrável; uma rajada de vento gélida cortou o ar e assobios da floresta puderam ser escutados. Padfoot desviou o olhar para encarar o céu escuro, James imitou seu movimento; a lua-cheia estava encoberta por nuvens pesadas.


Num piscar de olhos Peter apareceu logo atrás de Sirius, se descobrindo da capa da invisibilidade de Prongs enquanto caminhava ao encontro dos outros dois. Os três se encaram por breves segundos em silêncio como numa conversa muda.


Nada precisava ser dito afinal.


Sirius apenas puxou os lábios num meio sorriso, ao que James também o fez, enquanto Peter exibia seus dentões. Não precisavam de palavras. Tudo estava bem. E era aquilo que importava para eles.


Wormtail entregou a capa para Prongs, se transfigurando num segundo. Logo, o Salgueiro Lutador estava imobilizado, e os outros dois se adiantaram para dentro da passagem por entre as raízes, Padfoot pegando Peter nas mãos no caminho.


Caminharam por entre a passagem úmida e escura. Atentos a qualquer movimento. James abriu o alçapão da Casa dos Gritos com cuidado e os dois subiram as escadas de degrau em degrau, chegando até um dos quartos revirados.


Lá estava Remus.


O maroto se virou para mirá-los com um quê se surpresa. Encarando Sirius, James e Peter em sua forma animaga como se nunca os tivessem visto antes. Sua respiração estava alterada, seu rosto pálido e ele suava frio.


"Não adianta dizer nada" – Sirius murmurou cortante.


Para a surpresa dos outros, Moony esboçou um pequeno sorriso.


"Eu não ia" – ele disse com dificuldade – "Obrigado"


Era incrível como aquela simples palavra poderia significar tantas coisas. Por isso que os trouxas a chamavam de palavra-mágica, afinal. Aquilo obrigado não era apenas para o momento, era por tudo. Era também umdesculpa, era um porfavor, era um fiquem.


E eles ficaram. Eles ficariam mesmo se Moony dissesse que não.


James deixou a capa num canto, enquanto Sirius depositava Wormtail no chão. Um cachorro e um cervo deram lugar a eles.


Naquele exato momento a lua saiu de seu esconderijo e sua luz invadiu o quarto por entre a janela. Aquilo era o certo no final das contas. Aquilo sempre fora o certo.


MMMMMMM


1 – Mary se referiu a Mulciber, que tentou azara-la uma vez, como relatado por Lily no sétimo livro da série.


Noras da autora: Quem quer me matar essa é a hora. Desculpem pelo atraso, mas aconteceram seguidos episódios que comprometeram minha atualização: O laptop quebrou com o capitulo inteiro nele, a internet deu a louca, prova na faculdade toda semana, contratempos normais, etc. Mas de qualquer forma voltei e prometo não atrasar tanto nunca mais. Espero que tenham gostado do capitulo, como disse da outra vez foquei nas relações interpessoais durante a guerra dessa vez.


De qualquer forma, o capitulo seguinte não tarda a vir e peço desesperadamente que comentem neste aqui para eu retomar meus ânimos.


Obrigada.


Cath Black.

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Comentários (2)

  • Kika.Cerridween

    Um dos melhores capítulos que li até agora ....vc demora pra postar mas capricha então vale a pena esperar ....adorei os conflitos paralelos e a parte de Peter ...o pessoal esquece um pouco ele e na minha humilde opinião, é um personagem interessante ....tem o Régulo que eu gosto também ...de alguma forma eles acabam se redimindo no decorrer da história ...enfim saiu do foco do romance então curiosa pra ler o próximo capítulo ......xD  vlw

    2011-11-03
  • Sah Espósito

    Uhull adorei mesmo o capitulo... emocionante tenta nao demorar muito fico ansiosa Parabéns mesmo! bjs!

    2011-10-31
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