Capítulo Cinco



Love Lives Forever


Resumo:Entre escolhas e inseguranças no inicio de uma guerra, a única certeza que reinava nos corações daqueles jovens era que o amor, fosse ele entre parentes, amigos ou amantes, viveria para sempre.


Atenção: Harry Potter não me pertence!


CAPÍTULO CINCO


A insensatez que você fez, coração mais sem cuidado. Fez chorar de dor o seu amorum amor tão delicadoAh, porque você foi fraco assim, assim tão desalmado.Ah, meu coração, quem nunca amou não merece ser amado.


Vinicius de Moraes


MMM


James sentiu seu corpo congelar e a reação que teve foi involuntária: ele soltou o colarinho de Snape, que caiu duramente no chão; o feitiço ainda tomava seu corpo. O rosto de Lily carregava uma expressão de incredulidade e descrença, mas a única coisa que o maroto conseguia se concentrar era no olhar indignado da ruiva.


"Você...?" – ela murmurou abismada, mas notando que o Slytherin ainda jazia no chão petrificado, caminhou rápido em direção aos dois, lançando enquanto isso uma contra-azaração. Os marotos também corriam para perto, mas diferente de Lily cada um parecia ter sentimentos divergentes sobre o fato; Remus parecia decepcionado, Sirius empolgado e Peter encantado.


Assim que o feitiço de Lily atingiu Severus, este se pôs sentado com rapidez, segurando o nariz grande fortemente com as duas mãos, tentando esconder seu rosto de qualquer forma, não querendo mirar nenhum dos que estavam ali, principalmente Lily.


Ela, então, lançou um olhar mortífero para Prongs que continuava estático de pé, antes de ajoelhar-se em frente ao encolhido Snape.


"Deixe-me ver" – ela murmurou, mas antes que pudesse sequer tocar no rosto do outro, ele afastou suas mãos com um movimento brusco e pôs-se de pé.


"Não me toque" – ele disse baixo, sem olhá-la nos olhos – "Não preciso"


"O que aconteceu, James?" – Remus indagou perplexo, segurando o amigo por um dos braços, obrigando-o a encará-lo e fazendo-o despertar de seu transe.


"Eu, eu..." – ele não sabia explicar, sua voz morria em sua boca.


"Você vai me pegar, Potter" – Snape murmurou – "Vocês... Todos" – ele disse, ódio podia ser sentindo em cada palavra. Ódio por ter sido detido daquela maneira, ódio por mais vez ter sido o fraco, coitado, indefeso; na frente dela.


"Espere" – Lily tentou, mas mais uma vez Severus se desvencilhou, lançando um olhar indecifrável em sua direção antes de rumar cambaleante para fora dali, pegando sua varinha no caminho – "Snape" – ele não agüentou mais. Era demais para ele; sentia os olhares de todos sobre si. Queria poder acertar a cara de Potter até se cansar, queria lançar um Sectusempra ali mesmo e vê-lo sangrar até a morte; mas não podia. Estava em desvantagem e não poderia mais ser humilhando na frente da garota; não como há alguns anos.


Ele então correu. Correu para longe, sem dizer mais nada, enquanto Sirius carregava um ar de deboche e Peter mordia os lábios para não rir, ambos ignorando o clima tenso que se instalara naquele corredor, e que apenas Remus notou.


Lily virou-se para James e ambos se encararam por breves segundo, parecendo esquecer que ainda havia os outros três rapazes no local. James pôde ver a decepção em cada fibra do rosto dela, pôde ver a indignação em cada traço de expressão, pôde ver o brilho da raiva em seu olhar. E aquilo o fez querer socar-se, assim como havia feito com Snape. Que grande besteira ele havia feito; que grande idiotice.


"Evans" – ele tentou, avançando um passo em sua direção.


"Nem ouse chegar perto de mim, James Potter" – ela ciciou baixo, recuando para trás – "Não creio que acreditei em cada palavra que você disse" – ela dizia fuzilando-o com o olhar, tentando não engasgar sua voz com o choro que parecia querer lhe tomar naquele momento. Queria chorar, sim. Por ter sido ingênua, por ter sido tola – "Você é um mentiroso. Não mudou nada. E eu achando... achando que..."


Ela então se calou, ao perceber os olhares do outros garotos sobre si.


"Por favor, me deixe explicar" – ele tentou mais uma vez – "Foi culpa do Snivellus, ele... ele..."


"Culpa dele?" – ela o interrompeu, falando mais alto – "Ele mal pode se defender! Eu vi, Potter! Vi você batendo nele! Você não passa de um cretino! Sempre foi e sempre vai ser!"


"Evans..."


"Você me enoja!" – confirmou – "Você não presta!" – disse por fim, lançando um último olhar para ele e saindo rapidamente dali, tentando destruir qualquer sentimento que não fosse asco do maroto. Sentimentos que ela nutrira e aceitara há instantes atrás, quando acreditou de verdade que ele a merecia. Tolice.


James sentiu o chão abrir aos seus pés e um vazio no estômago crescer até atingir sua garganta. Ele tentou segui-la, mais foi impedido por Remus que o segurou pelo braço quando ele ameaçou se mover.


"Moony, eu preciso..."


"Agora não dá mais" – ele explicou – "Não hoje pelo menos"


"Mas eu... eu fui..."


O lobisomem balançou a cabeça negativamente e James pôde constatar o tamanho do desastre que acabara de cometer. Pôde ver no olhar de Moony que sua atitude infantil fora ainda pior do que pensara.


"Brilhante" – Peter completou a frase que ficara no vácuo, com um sorriso amarelo brincando em seu rosto gordo – "É bom as coisas voltarem ao normal"


Mas James não pareceu escutar. Ele apenas se limitou a analisar a silhueta da garota que se afastava velozmente. O arrependimento tomando cada pedaço de seu corpo; a culpa atormentando de forma avassaladora. E agora?


"Certo, dá pra explicar tudo, Prongs?" – Sirius murmurou erguendo as sobrancelhas, depois que Lily finalmente sumiu das vistas deles – "De verdade agora, sem mais enrolação"


MMMM


Estava transtornado. Lágrimas queriam descer sobre seu rosto, mas ele lutava fortemente contra elas. Segurava seu nariz ensangüentado com força, querendo amenizar a dor, não apenas física, mas também psicológica que lhe atingia de forma quase até mortal.


Desceu as escadas correndo, atravessando um corredor com velocidade e entrando no banheiro masculino daquele andar, sem pensar duas vezes, por sorte estava deserto. Caminhou em direção a pia, largando a varinha no encosto de porcelana e abrindo a torneira que despejou água fortemente. Encheu suas mãos trêmulas e vermelhas com o liquido, lavando sua face rapidamente, a água abaixo de si logo se misturou com o sangue que estava sendo retirado, com a vergonha que ele também tentava retirar.


Encarou por alguns segundos seu reflexo no espelho, mirando os olhos vermelho e o nariz deslocado e torto. Seu rosto tomou uma expressão de fúria e agilmente ele pegou sua varinha concertando o malfeito daquele ser que ele odiava com todas as suas forças.


Urrou de dor, quando em um clic seu rosto voltou ao normal.


"Maldito" – ele sussurrou, para seu igual, do outro lado do espelho – "Maldito Potter"


Queria matá-lo. Queria esfolá-lo. Queria...


Num segundo, sua expressão suavizou quando a imagem dos olhos verdes de Lily se materializou em sua mente. Mais uma vez, sentiu vontade de chorar. Mas não o fez.


Como sentia sua falta. Nunca mais haviam sequer trocado uma palavra, e a situação que os uniu fora aquele catastrófico incidente. Onde mais uma vez ele fora o coitado, onde mais uma vez ela tivera que protegê-lo, mesmo ele tendo-a afastado sem querer há anos atrás. Mesmo eles não sendo mais amigos. Lily era um anjo; ele não tinha dúvidas.


Fechou a torneira, num suspiro, procurando se acalmar e reprimir a vontade de voltar lá e acabar com aquele infeliz.


Seu corpo estava sendo tomado por sensações distintas; de raiva á saudade, de ira á humilhação. Encarou, novamente seu reflexo, juntando toda a estima que ainda lhe restava para sair dali e voltar para as masmorras. Mas não sem antes se prometer que iria se vingar. Ah, se iria...


MMMM


"Inacreditável!" – Sirius esbravejava, após ouvir todo relato de James, enquanto caminhavam lado a lado, junto com os outros dois parceiros, nas ruas escuras e vazias de Hogsmeade – "Essa garota é louca! Insana!"


"Menos, Padfoot" – Remus, murmurou, respirando fundo e olhando para os lados, certificando-se se realmente não havia ninguém por ali – "Mas devo admitir que Lily extrapolou pedindo uma coisa dessas"


"O pior de tudo foi você ter aceitado, Prongs. E perdido. E brigado com o time ainda por cima. Droga!" – Exclamou, quando passaram pela loja Dedosdemel, que se encontrava fechada.


"Eu sei que fui um idiota, tá legal?" – James bufou, com as mãos no bolso e mirando os próprios pés enquanto caminhava – "Eu só queria tanto sair com ela que... que não pensei direito"


"Não pensou mesmo" – Remus concordou – "Sabe, James, você consegue ser insano, correto, egoísta, sensato e irresponsável, tudo isso ao mesmo tempo"


"Obrigado, Moony" – ele disse, rodando os olhos – "Dá pra explicar?


"Não é obvio?" – o lobisomem indagou, franzindo o cenho.


"Quando você vai entender que o que é obvio pra você não faz o menor sentido pra a gente?" – Peter murmurou.


"Ok. Prestem atenção. Foi loucura você ter entregado o jogo por um assunto pessoal, embora eu acredite que a Lily pensou que você nunca entregaria, e foi por isso que ela pediu"


"Lixo. Ela foi cruel isso sim!"


"Posso continuar, Sirius?" – Remus indagou num tom cansado – "Eu tenho quase certeza que ela achou isso, Lily não faria uma coisas dessas. Mas quando você James, disse que só queria que ela gostasse de você, aí sim, você ganhou uma chance com ela. Uma chance que você arruinou totalmente por ter sido idiota o bastante para socar o Snape, sem motivo nenhum"


"Sem motivo nenhum?" – James indagou perplexo – "Já não basta o que eu passei nessa semana inteira? Eu ainda tinha que agüentar o Snivellus tirando uma com minha cara?"


"Fez muito bem" – Sirius concordou, sorrindo de lado.


"Passou porque você quis" – Moony deu de ombros – "Na minha opinião, você não deveria ter entregado o jogo"


"Mas você acabou de dizer que eu ganhei uma chance com ela por causa disso"


"Você ganhou uma chance com ela por ter sido sincero e falado o que ela queria ouvir"


"Na boa" – Peter disse – "Como você entende tanto as mulheres e não tem uma namorada?"


"Eu só sou lógico, Wormy" – explicou – "E a lógica é que o Prongs acabou de estragar qualquer chance que ele poderia ter tido com Lily por não conseguir se controlar"


"Isso tudo é idiotice" – Sirius comentou – "Eu continuo com a mesma opinião que sempre tive. Você não é pra ela, e ela não é pra você. E tudo isso que aconteceu comprova que eu estou certo"


James ergueu a cabeça, suspirando derrotado.


"Sabe" – Remus começou – "Eu não queria dizer, mas... Isso talvez faça algum sentido"


"Totalmente" – Wormtail concordou – "Você é um maroto, e sempre será um maroto"


James suspirou mais uma vez; os olhos esmeraldas de Lily atormentavam seus pensamentos e a sensação de vazio ainda consumia seu corpo.


"Agora dá pra alguém me explicar porque está tudo fechado?" – Peter continuou, enquanto viravam a esquina da Zonko's – "Digo, não é tão tarde assim. Eu sabia que deveríamos ter pego a passagem que dá para a Dedosdemel!"


"As lojas fecham cedo, você sabe" – Remus explicou, todavia franziu o cenho pensativo, observando a rua ao seu redor – "O que me admira é o Três Vassouras já ter fechado" – lembrou-se que eles haviam passado pelo bar e este estava também deserto.


"Uma pena!" – Sirius disse – "Queria dar um Oi para Madame Rosmerta"


Um uivo pôde ser ouvido ao longe no alto das montanhas; a lua foi sendo coberta aos poucos por nuvens, deixando o vilarejo ainda mais escuro. Peter tremeu e com uma expressão de espanto, murmurou com a voz engasgada:


"Não foi um lobisomem, foi?"


Remus rodou os olhos, enquanto James e Sirius se encararam descrentes.


"Diga que foi brincadeira" – Padfoot murmurou – "Eu lhe imploro. Você não pode ser tão tapado!"


Outro uivo cortou o ar, enquanto uma manada de ratazanas atravessou a frente do quarteto, obrigando-os a parar de caminhar em uma pequena encruzilhada. A frente estava o caminho para a Casa dos Gritos, dos outros dois lados, ruas estreitas e tortas inundadas num breu total.


"Estão ouvindo isso?" – James sussurrou, mirando os lados rapidamente.


"É lógico que estou ouvindo" – Wormtail exclamou – "Lobisomens!"


"Não isso, Wormy!" – o maroto de óculos revidou – "Shhhh!"


Os quatro aguçaram seus ouvidos, olhando para todas as direções. Vozes começaram a ser escutadas.


James puxou o braço de Peter com força para acompanhar os outros marotos que se moviam apressados para a ruela do lado esquerdo, as vozes se tornando cada vez mais altas atrás deles, vindas da esquina da loja Zonko's, que há pouco tempo, eles mesmos haviam passado. Os quatro se alinharam espremidos atrás de um dos bancos da rua, local onde não podiam ser vistos devido à escuridão, esperando pelos donos das tais vozes.


"Eu quero ir embora" – Peter sussurrava, enquanto ruía desesperado a unha do dedo indicador de uma das mãos – "Vamos correr"


"Quieto!" – Sirius murmurou de volta – "Se for alguém de Hogwarts, voltamos pra casa amanhã mesmo, idiota"


Cinco figuras se revelaram, parando no meio da mesma encruzilhada, ocupada há momentos antes pelos quatro marotos. Estavam encapuzados num sobretudo preto, varinhas empunhadas em mãos, e a energia maligna que os rodeava podia ser sentida a metros de distância.


"Comensais" – Remus sussurrou.


James engoliu em seco, Sirius estreitou os olhos e Peter tremia descontrolado entre eles.


Um dos comensais deu dois passos na direção da rua em que eles se encontraram. Wormtail reprimiu a vontade de gritar, enquanto os outros três buscavam suas varinhas nos bolsos das calças, seus corações palpitavam alarmados em adrenalina, suas respirações cortaram em desespero.


"É por aqui" – um outro encapuzado disse alto, apontando para a rua oposta; eles então caminharam para o lado direito.


"Rodolphus Lestrange" – Sirius disse, depois que o grupo se afastou o suficiente para não escutar, mas sem sair da posição que estava – "Ele é casado com minha prima, ia sempre lá em casa"


"Tem certeza?" – Remus indagou, observando os cinco vultos de preto ao longe.


"Absoluta" – Padfoot confirmou – "Reconheceria essa voz asquerosa em qualquer lugar. Não me admira ele ter se tornado um comensal, Bellatrix provavelmente também é"


"Comensais? Em Hogsmeade?" – James ciciou incrédulo.


"Para onde será que eles estão indo?" – Peter perguntou, sua voz embargada de medo, seu rosto sem cor alguma.


"Vamos descobrir" – Sirius puxou sua varinha e num piscar de olhos um enorme cachorro negro de pelagem brilhante apareceu em seu lugar.


"Você acha isso uma boa idéia?" – Moony indagou – "Eles são cinco!"


"Só vamos ver o que há" – James esclareceu, sacando sua própria varinha do bolso e se transfigurando num elegante e forte cervo.


"Eu não vou!" – o maroto gorducho murmurava – "Vou ficar aqui com Remus"


Padfoot rosnou enraivecido para Peter, Prongs empurrou o cão levemente com sua galhada, tentando acalmá-lo.


"Têm certeza?" – Remus continuava – "Padfoot? Prongs?"


Não houve tempo para resposta. O cachorro e o cervo rumaram cautelosos na mesma direção dos comensais.


MMMMM


A ruiva soluçou, assoando seu nariz num lenço de papel que acabara de conjurar. Seu rosto se encontrava vermelho e seus olhos estavam inchados. Ela estava sentada em sua cama encostada na cabeceira da mesma, sendo mirada por uma atenta Alice. Sentia seu corpo pesado, assim como seus pensamentos. A cena de momentos atrás se repetia em sua mente e doía-lhe o peito. Estava inconformada, decepcionada e o pior, sentindo-se uma completada e total idiota.


"Lily..." – Alice murmurou, tocando gentilmente os cabelos vermelhos da outra de forma confortante. Encontrava-se também sentada na cama da amiga, mas dessa vez sem cortinas e sem feitiços isolantes; não houve tempo para isso quando Lily adentrara o quarto e caíra aos prantos, assustando à morena que havia acabado de sair do banho. A única saída fora contar toda história para Alice, que havia escutado em silêncio até então – "Eu nem sei o que dizer"


Lily assoou o nariz mais uma vez e colocando uma mexa de cabelo atrás da orelha, murmurou baixo:


"Dá pra acreditar?" – sorriu melancólica – "Eu, chorando por James Potter..."


Alice sorriu timidamente.


"Pelo menos você confessou que gosta dele. Finalmente"


"Do que adianta?" – Lily revidou – "Ele é um completo idiota, Alice. Veja o que ele fez. Por isso que eu nunca aceitei. Ele, ele é repugnante"


"É..." – Alice deu de ombros – "Ele pisou na bola mesmo. Por essa eu não esperava"


"E eu achando que ele havia mudado" – ela dizia incrédula – "Que havia crescido. Mas no fundo ele é o mesmo nojento e arrogante de sempre"


"Ele bateu no Snape mesmo?" – Alice indagou, erguendo as sobrancelhas.


"Não só bateu. Severus estava petrificado. Não tinha a menor chance. Atitude de cretino a do Potter. De um verdadeiro covarde" – Lily suspirou – "Sabe, eu não estou assim só por ele. Estou assim por que..." – ela então hesitou procurando melhor as palavras.


"Por quê...?" – Alice tentou incentivá-la.


"Por ter sido tão boba" – murmurou – "Por ter acreditado em tudo, e ter ido toda derretida atrás dele, para me deparar com aquilo"


"Snape deve ter feito alguma coisa, Lily" – a morena assegurou – "O Potter não..."


"Por favor" – ela a interrompeu com a expressão dura – "Não o defenda mais. Tudo o que você falar não vai mudar o que penso dele. Ele é um imbecil, um covarde, um..."


"Eu já entendi... E não concordo com o que ele fez, estou do seu lado"


"Isso é ridículo" – Lily murmurou, após um soluço – "Ele não merece isso. Aquele completo trasgo"


"Lily..."


"Que raiva!" – dizia enquanto enxugava seus olhos com os dedos – "Que ódio!"


"Ódio, não é?" – Alice ergueu as sobrancelhas de forma arqueira – "O fato é que mesmo com tudo isso, você ainda gosta dele, acertei?"


Lily sentiu seu coração pular uma batida e sua respiração falhar por um instante.


"Acertei?" – a morena tentou novamente, mas dessa vez um sorriso travesso brincava em seus lábios.


Lily não pôde responder. A porta do dormitório se abriu e as figuras de Marlene e Mary adentraram o quarto.


"Lily?" – a loira exclamou, deixando os livros que carregava de lado e correndo para a cama da ruiva com Marlene em seus calcanhares – "O que houve?"


Lily encarou Alice, implorando por ajuda. Não conseguia pensar em nenhuma desculpa para dar para as outras duas amigas, e muito menos queria dizer a verdade sobre os acontecimentos. Não era hora ainda.


"Lily..." – Marlene agachou-se ficando de frente para a outra, seus olhos castanhos preocupados – "O que aconteceu? Porque você está chorando?"


"Eu..." – ela começou, agora mirando de uma Mary desesperada para uma Marlene angustiada. Nada lhe vinha à cabeça – "Eu..."


"Cólicas!" – Alice murmurou alto, as outras duas a encararam interrogativas – "Lily está morrendo de cólicas, coitada. Olha só para ela!"


"Cólicas?" – Mary perguntou, voltando-se para a ruiva – "Pensei que havia me dito uma vez que você não tinha..."


"Er..." – Lily começou – "Normalmente não, mas..."


"Mas quando ela tem, só Merlin para ajudar" – Alice murmurou num fôlego só – "Olhem o estado dela!" – A loira e a outra morena analisaram Lily com atenção. Estava meio descabelada, fios ruivos voavam desorientados por sua cabeça e seu rosto se confundia com o tom de suas próprias madeixas.


"Por isso que você saiu correndo do salão comunal mais cedo?" – Mary indagou novamente – "Para ir á enfermaria?"


"Isso" – a ruiva concordou – "Fui pegar uma poção com Madame Pomfrey. Estou esperando fazer efeito" – Mary e Marlene se entreolharam – "Eu... eu vou no banheiro. Com licença, meninas" – terminou, rumando rápido para o sanitário.


"Cólicas, né?" – Marlene disse, erguendo uma sobrancelha na direção de Alice, que a única reação que teve foi dar de ombros e forçar um sorrisinho.


MMMM


"E então?" – Moony indagou já de pé, assim que a figura de James e Sirius humanos tomou o lugar de suas formas animagas – "O que aconteceu?"


Os dois morenos se entreolharam, ambos com expressões indecifráveis em suas faces.


"Difícil dizer" – James respondeu, ajeitando seus óculos – "Mas..."


"O quê?" – Peter indagou; ele ainda se encontrava agachado atrás do banco de ferro, apertando com força o encosto duro e frio.


"Nós vimos de longe eles arrombando uma casa" – Sirius contou devagar – "E alguns lampejos de luz"


"Mas quando chegamos perto, não havia barulho nenhum" – James continuou.


"Esperamos um pouco e resolvemos entrar e..." – o outro hesitou, mirando Prongs. Ambos ficaram em silêncio por alguns instantes.


"E não havia mais nada" – Prongs continuou, bagunçando seus cabelos nervosamente – "Os comensais não estavam mais lá, estava tudo revirado, tudo uma bagunça, mas não havia mais ninguém lá"


A expressão de Remus se tornou angustiada, enquanto Peter se espremia e murmurava coisas sem nexo em seu canto.


"O que isso significa?" – o lobisomem indagou.


"Você é o cara das respostas, Moony" – Sirius disse, depois de engolir em seco.


Remus analisou a expressão dos outros dois, sem saber o que dizer. Todos ali sabiam as possíveis respostas; claro que sabiam.


"É melhor" – ele começou, mirando de James para Sirius e desse para o encolhido Peter – "Voltarmos... pro castelo"


MMMMMM


O dia seguinte amanheceu chuvoso e frio, o céu estava cinzento e a ventania soprava a todo instante sem perdão. Os marotos passaram a noite comentando sobre o acontecimento em Hogsmeade, mirabolando suposições, entretidos em tentar encontrar confirmações para o que havia se passado naquela casa. No intimo de cada um, eles tinham uma idéia concreta sobre o que havia acontecido, mas a questão era quem estaria envolvido dessa vez.


As aulas daquele dia foram tensas e incomodas para James e Lily. O rapaz buscava seu olhar a todo instante procurando uma brecha para conversarem, embora estivesse tomado por um sentimento de vergonha pouco conhecido por ele; os murmúrios sobre o jogo não o incomodavam mais, parecia um passado distante perto do grande problema que arrumara, e que queria de qualquer jeito resolver. A ruiva, em contrapartida, fugia a todo o momento, carregando sempre uma expressão dura consigo, tentando mascarar a verdadeira decepção que sentia, fazendo de tudo para transparecer que aquilo não afetara do jeito que na verdade o fizera.


A noite caiu trazendo consigo uma verdadeira tempestade. O que antes era apenas uma chuva grossa, se transformou num temporal de trovoadas e relâmpagos, que cruzavam o céu escuro atrás dos terrenos da escola, causando um alvoroço nas águas do lago e nas folhas das árvores da floresta.


Lily adentrara a biblioteca com a desculpa de ter de fazer seu dever de Feitiços, mas na verdade querendo se livrar de tudo o que a rodeava. Não agüentava mais as insistentes perguntas de Mary e Marlene sobre sua choradeira na noite anterior, não suportava mais a cobrança excessiva de Alice sobre si e não podia mais tolerar a presença de James Potter; pois por mais que ela tentasse se convencer de que ela fora uma completa tola, por mais que ela tentasse se mostrar de que não deveria ceder; seu coração doía por um sentimento maior que pura decepção.


Enfurnou-se entre as prateleiras distantes, buscando por livros que pudessem ajudar em sua redação, embora seus pensamentos estivessem muito longe dali. A biblioteca estava um pouco vazia, era horário do jantar e a maioria dos estudantes estava no Salão Principal.


Pegou dois livros grossos e um pouco velhos, e levou-os consigo, a procura de uma mesa isolada entre as estantes. Enquanto caminhava, alguém chamou sua atenção, fazendo-a parar.


Severus Snape estava sentando numa mesa entre as prateleiras, rabiscando rapidamente um livro; seu nariz estava a centímetros do mesmo e ele parecia tão entretido no que fazia que mal notou sua presença.


Ela pensou duas vezes antes de se aproximar; ele ainda não a havia percebido, pois continuara na mesma posição, escrevendo com agilidade e empenho.


"Posso me sentar?" – ela indagou e num solavanco de susto e surpresa ele a mirou com os olhos arregalados.


MMMMM


James franziu o cenho, sentindo a ira subir-lhe a cabeça, mordeu seu lábio inferior com força tentando reprimir um xingamento. Sem sucesso.


"Merda!" – exclamou não se contendo, espantando Baltasar que estava aninhado aos seus pés.


"Prongs?" – Remus indagou, virando-se na cama, para encarar o outro que estava sentando na sua própria, encostado na cabeceira.


"Desculpe, Moony. Te acordei?" – ele indagou, observando o lobisomem esfregar os olhos com os dedos e bocejar.


"Na verdade não. Estou me sentindo cansado, mas estou muito enjoado para dormir. Estava tentando, mas não dá. Essa semana vai ser daquelas"


"Bom pra gente então" – James tentou esboçar um sorriso, Remus ergueu uma sobrancelha desdenhosa – "Brincadeira"


O outro sorriu de lado, sentando-se na cama e ajeitando os cabelos castanhos.


"É inacreditável como vocês se divertem" – comentou – "Pra mim é um terror. Mas devo confessar que mesmo não lembrando de nada, é bom saber que estão por perto"


"Sempre" – James garantiu – "E nós nos divertimos. Pode acreditar"


Remus riu.


"Não duvido" – ele então se levantou – "Onde estão os outros?"


"Jantando"


"E o que você está vendo aí?" – perguntou apontando para o Mapa do Maroto nas mãos do amigo. James suspirou, voltando sua atenção para os dois pontinhos estáticos no pergaminho.


"Lily" – disse simplesmente. Remus o analisou por alguns instantes.


"Você está começando a ficar paranóico, sabia?"


"Ela está com o Snivellus" – contou, estreitando os olhos para o ponto Severus Snape ao lado de Lily Evans. Moony ergueu as sobrancelhas – "Na biblioteca" – e um segundo depois sua expressão voltou a ser raivosa – "Droga!" – exclamou, ameaçando amassar o pergaminho.


"James!" – o outro o repreendeu. Ele parou, respirando fundo, e abrindo o mapa novamente, antes que o amassasse de verdade – "Você tem que se controlar..."


"Me controlar?" – ele indagou, encarando-o de forma incrédula, empurrando o mapa de qualquer jeito no criado-mudo – "Eu não posso me controlar, Remus. Aquele seboso gosta dela. Ele gosta dela. Eu sei disso. Ela não estava falando com já fazia mais de um ano e agora ele estão andando juntos de novo? São amigos de novo?"


Remus respirou fundo, buscando as palavras antes de responder, enquanto o outro ainda esbravejava ofensas sobre o Slytherin, erguendo-se por fim, e dizendo que iria para a biblioteca naquele exato momento.


"Não vá. Não adianta. Você provocou isso" – James parou no seu caminho á porta, virando-se para o outro – "Será que você não vê?"


"Vê o que?" – disse interrogativo.


Remus suspirou, rodando os olhos.


"Eu não quero me meter nisso" – ele murmurou, rumando para o banheiro – "Preciso de um banho e depois vou na enfermaria pedir uma poção para Madame Pomfrey"


"Não, Moony" – James falou – "Me fale!"


Remus hesitou.


"Por favor" – James suplicou. O lobisomem analisou a expressão angustiada do amigo e noutro suspiro disse por fim:


"Sua atitude de ontem talvez tenha reaproximado eles, James"


Prongs piscou confuso.


"Como reaproximado? Mesmo depois de eles deixarem de ser amigos, eu continuei perturbando o Snivellus e ela não falava nada"


"Você nunca tinha o batido pelo que me lembro" – ele respondeu – "E não antes de fazê-la acreditar que mudou e cometer uma burrada dessas"


"Ele a chamou de Sangue-Ruim. Você lembra? Ele está metido nesse negócio de Comensal e logo estará junto daquele bando que vimos ontem à noite! Você sabe! Como ela pode está se reaproximando dele? Como?"


"Estou supondo" – Remus esclareceu rapidamente– "Só sei que não adianta de nada você ir lá agora e procurar briga"


James bufou passando a mão nervosamente nos cabelos.


"Eu não posso" – ele disse baixo – "Eu não consigo vê-los andando juntos de novo. Conversando de novo"


"Você gosta mesmo dela, não é?" – indagou, sorrindo de canto. James o mirou e depois de alguns segundo assentiu timidamente. Remus ficou em silêncio alguns instantes, acompanhando Prongs sentar na cama novamente, pegar sua varinha do bolso e murmurar um Malfeito Feito sem nem ao menos olhar para o pergaminho novamente – "Você tem que concertar isso"


"Como?" – indagou – "Me diz. Como? O que diabos eu faço pra ela me perdoar?"


Remus deu de ombros. E num tom de brincadeira falou:


"Não levo nenhum jeito com garotas. Sou tímido demais e minha condição não ajuda"


James rodou os olhos.


"Você é brilhante" – disse com ironia – "Me diz para concertar, mas não sabe como!"


"Ah, definitivamente, você tem que concertar tudo com ela" – Remus murmurou sorrindo maroto – "Mas não era dela que eu estava falando agora"


Prongs franziu o cenho outra vez confuso.


"Isso tudo começou por causa de uma coisa. E você talvez deva concertá-la, enquanto pensa em como fará para Lily te perdoar" – ele terminou, piscando um olho para o amigo e rumando para o banheiro.


Depois de uns segundos James finalmente sorriu, entendendo o que o outro queria dizer.


MMMMM


"Você está bem?" – ela indagou mirando o outro com atenção, depois de um certo tempo.


Severus abriu a boca para respondeu, mas nada saiu. Estava quase que em choque por vê-la tão perto de si novamente; como quando eram amigos.


"Snape?" – ela o chamou, fazendo-o despertar. Sua voz lhe suave pura e cristalina, como o canto de sereianos.


"Estou" – ele respondeu rapidamente. E lembrando-se do que escrevia, fechou rápido o livro de Estudo avançado no preparo de Poções do ano anterior – "Não foi nada" – assegurou, tentando não gaguejar.


"Claro que foi" – ela rebateu com pesar e suspirou – "Foi horrível"


"Ele vai ter o que merece" – falou baixo, mais para si do que para outra.


"O quê?" – ela disse sem compreender.


"Nada" – Respondeu, apertando com força a capa de seu livro. Estava nervoso, seu coração palpitava desenfreado e suas mãos suavam – "Ele é asqueroso" – balbuciou por fim.


Lily abaixou seu olhar, sentindo um vazio no peito.


"Ele é..." – concordou baixo, mas logo voltou a encarar as iris negras do rapaz a sua frente.


Snape sentiu o ar fugir dos pulmões. Não sabia o que dizer. Não sabia o que fazer, estava desnorteado e hipnotizado por estar mais uma vez sendo mirado por aqueles orbes esmeralda.


"Eu..." – ele começou; ela não se moveu esperando – "Eu e-estou bem" – terminou não sabendo nem porque dissera aquilo.


"Certo. Que bom." – ela disse e se ergueu, a cadeira arrastou para atrás fazendo um ruído estridente enquanto ele a acompanhava com o olhar – "Eu vou indo" – esclareceu, mas antes de sair dali, completou com um certo tom melancólico – "Nada mudou, Snape" – e deixou um frustrado e amargurado Severus ali, sentado. Ele queria erguer-se e segui-la, queria tentar novamente desculpar-se pelo erro que cometera no quinto ano, mas não conseguiu. Mais uma vez ele não fora forte o bastante, e mais uma vez, ele pegou seu material e saiu dali. Para longe.


MMMM


Já era sábado, as nuvens pesadas finalmente deram uma trégua para aquele final de semana, deixando o sol aparecer timidamente por entre as nuvens e iluminando os terrenos úmidos de Hogwarts. O jogo entre as casas da Slytherin e Hufflepuff transcorreu demorado e violento demais. Foram três jogadores da casa amarela machucados pelos inescrupulosos batedores do outro time e no final o pomo fora capturado com facilidade pelo apanhador da casa esverdeada.


James assistira o jogo com total atenção ao lado de seu time, sinalizando as estratégias de ambas as equipes. Ele fizera o que Remus sugerira e concertouo que deveria ser primeiramente concertado. Pedira desculpas á todos do time e mesmo a contragosto à Haward Young por não ter feito uma boa partida e por ter sido rude e agressivo na última reunião. Alegou não estar se sentindo bem no jogo da Gryffindor (Por Merlin, ele não podia dizer o motivo verdadeiro, se não estaria realmente encrencado com os alunos da sua casa) e que da próxima vez convocaria o apanhador reserva para ocupar seu lugar se sentisse inseguro, todavia pedira mais uma chance no próximo jogo que seria contra a sanguinária equipe da Slytherin. Todos aceitaram compreensivos dando um voto de confiança para talentoso capitão. A Gryffindor se encontrava na terceira posição por saldo de pontos, atrás da Hufflepuff, Slytherin era a primeira colocada seguida pela Ravenclaw. Tinham que vencer a Slytherin para garantir uma boa posição e continuar na competição pela taça de Quadribol daquele ano.


Os alunos tiraram à tarde para relaxar. Alguns estudavam ou faziam seus deveres atrasados, mas a maioria estava desfrutando dos terrenos de Hogwarts ou perembulando pelo castelo.


Os marotos, com exceção de Moony, estavam encostados numa árvore que dava a vista perfeita do lago. A Árvore Marota, como apelidaram no terceiro ano, pois eles sempre descansavam por ali, batendo papo ou mesmo fazendo deveres quando o tempo estava bom. Peter tagarelava sem parar sobre o jogo de mais cedo, enquanto Sirius que estava deitado na grama molhada, de olhos fechados e apreciando a brisa que passava por seu rosto, apenas concordava ou descordava dos comentários do gorducho. James que se encontrava encostado no tronco retorcido da árvore, mal participava da conversa. Estava entretido pensando em seus problemas, brincando desinteressado com um graveto seco, rodando-o em sua mão. Bastou uma olhada para o lago para fazê-lo despertar, quando reconheceu uma das garotas de um grupo que caminhava calmamente a beirada do lago, porém devidamente agasalhadas, preparadas para as frias rajadas de outono.


James suspirou, voltando sua atenção para o graveto, tentando ignorar a ruiva distante.


"Aí estão vocês" – Remus apareceu na frente deles. Seu rosto estava ainda mais pálido do que dias atrás, parecia abatido e enfermo e até sua voz havia mudado para um tom arrastado e cansado – "Procurei vocês por toda a parte. Aonde diabos está o mapa?"


"No meu bolso" – Padfoot respondeu, erguendo-se e pondo-se sentado – "Você não deveria estar na enfermaria, Moony? Hoje já é..."


"Eu sei" – ele o interrompeu – "Mas vocês precisam ver isso" – e estendeu o que havia em sua mão para os outros.


Peter pegou o exemplar do Profeta Diário da mão do lobisomem, abriu e leu em voz alta a manchete principal:


"Mais um desaparecido no Ministério: Onde estará Lafayette Whitehouse?"


"Isso é terrível" – James comentou – "Os Whitehouse são amigos dos meus pais" – completou mirando um Sirius de olhar penoso.


"Veja o final, Wormtail" – Remus pediu. Peter se apressou, dobrando o jornal para ler as últimas linhas.


"...Este, porém, não foi o único desaparecimento constatado durante a semana. Moradores do povoado de Hogsmeade alertaram para nossa edição que os irmãos Roger e Rodrick Smith, donos da loja Artefatos Trouxas para Magos no Beco Diagonal, não são vistos há três dias..."


Peter parou sua leitura para encarar aterrorizado os outros três marotos que o miravam com atenção. Ele voltou-se para o jornal, mas sua voz trêmula fora tomada pela gagueira e suas mãos chacoalhavam de tal maneira que o impossibilitava de continuar. Ele não conseguia terminar. James então puxou o papel de sua mão, continuando rapidamente:


"... Os informantes, que não quiseram se identificar, relataram que os irmãos se mudaram para o vilarejo há pouco tempo. A loja se encontra fechada desde o mês passado. Estariam eles fugindo? Se sim, de quem? É de relevante importância ressaltar que os Smith são nascidos trouxa. E que a família Whitehouse é conhecida por defender os direitos das pessoas não mágicas."


Prongs terminou sua leitura. Um silêncio mortal reinou sobre o quatro. As vozes dos estudantes à volta pareciam distantes e até inaudíveis, eles apenas se limitarem em se encarar por aqueles segundos, trocando com o olhar a confirmação do que passava por suas cabeças naquele exato instante.


"Merlin" – Sirius foi o primeiro a falar – "Então, quer dizer..." – ele então se voltou para Remus que continuava de pé, estático. O lobisomem assentiu levemente.


"Isso é terrível" – Peter murmurou baixo, sua expressão de puro terror.


"Nós temos que falar com Dumbledore" – James disse, erguendo-se bruscamente – "Temos que contar o que sabemos, o que vimos!"


"Você está louco?" – Sirius também se levantou, pondo-se na frente do amigo – "Você tem idéia do que acabou de dizer?"


"Não podemos ficar calados, Sirius. Sabemos quem os pegou. Você mesmo disse que reconheceu o Lestrange!"


"Reconheci" – ele confirmou – "Mas não podemos falar, James. Não mesmo!"


"Nós sabemos o que aconteceu" – Prongs continuava – "Os comensais os levaram. Nós temos que contar"


"Ah, claro. E falamos também que estávamos em Hogsmeade, não é mesmo?" – James se calou, adotando uma expressão angustiada – "Porque não entregamos também o Mapa do Maroto pra ele? Melhor ainda, porque não falamos que eu, você e Peter somos animagos?"


"Sirius tem razão" – Remus concordou – "E eu acho que Dumbledore, assim como todo mundo, sabe o que está acontecendo"


"Lógico que sabe" – James disse – "Mas nós sabemos quem foi"


"Não adiantaria" – Peter murmurou de seu canto, encolhido ao lado do tronco da árvore – "Quem acreditaria na gente?"


"Verdade" – Moony murmurou – "Não temos provas..."


"Que droga!" – James exclamou nervoso. Silêncio novamente. Cada um estava absorto em seus pensamentos.


Era real. Estavam realmente imersos naquilo. Havia uma guerra de verdade lá fora.


"Artefatos Trouxas para Magos" – Padfoot murmurou amargurado – "Eu fui lá pedi informação nas férias passadas" – Os outros três o encararam – "Assim que eu consegui a moto. Para reformar" – explicou – "Eles me deram várias dicas. Eram uns gênios"


Silêncio outra vez. James se largou novamente, sentando-se contrariado. Sirius e Remus acompanhavam seus movimentos com pesar, enquanto Peter usava seus dentões para roer o que ainda lhe sobrava de unhas.


"Eu vou pra enfermaria" – o lobisomem anunciou – "Não estou me sentindo bem" – os outros três concordaram mecanicamente. Nenhum estava realmente ali.


MMMM


Padfoot mirava o pôr-do-sol do parapeito da janela do dormitório. Observava atentamente o astro sumir por detrás do lago e a noite escura tomar o lugar do céu mesclado em tons de laranja, as primeiras estrelas apareciam timidamente, e em breve a lua-cheia reinaria esplendorosa lá em cima. Suspirando, deixou a janela, virando-se para os outros dois marotos que ocupavam o quarto.


"Como você consegue comer tanto?" – indagou com o cenho franzido na direção de Peter. Este, sentado em sua cama, deu de ombros enquanto jogava em sua boca alguns doces que pegara da cozinha mais cedo.


"Estou me preparando. Tenho que ter energia para encarar essas noites" – respondeu de boca cheia.


Sirius rodou os olhos, muxoxando alguma coisa incompreensível e logo se voltou para o outro rapaz.


"E o que você tanto olha aí, hein Prongs?" – perguntou, observando o outro desprender finalmente os olhos do Mapa do Maroto.


"Filch" – mentiu rapidamente, enquanto dobrava o mapa para Sirius não perceber que na verdade este estava mostrando o salão comunal da Gryffindor.


Sirius estreitou os olhos desconfiado. Mas preferiu não rebater nada. Lançou outra olhadela para janela, constatando que o astro dourado já estava quase desaparecendo no horizonte.


"Está na hora" – anunciou. Peter ergueu-se rapidamente, colocando de uma vez o que restara de suas guloseimas na boca. Sirius pegou a jaqueta jeans de sua cabeceira, vestindo-a com agilidade, enquanto Wormtail batia em sua calça para afastar alguns farelos agarrados na mesma.


"Er..." – James começou, após pigarrear ruidosamente – "Vão indo na frente. Eu já alcanço vocês" – o outro moreno ergueu uma sobrancelha, enquanto ajeitava a roupa – "É sério, estou indo logo atrás" – assegurou, puxando de debaixo da cama capa da invisibilidade e estendendo-a para o amigo.


Padfoot e Wormtail se entreolharam.


"Não vou nem perguntar o que vai fazer" – Sirius murmurou com uma expressão de poucos amigos, ao mesmo tempo que se dirigia para a porta com a capa já em mãos e Peter vindo logo à suas costas – "Já tenho uma leve idéia" – terminou. E ambos deixaram o local, com Wormtail perguntando em seu ouvido qual é a idéia? e o outro dizendo-lhe para esquecer.


James respirou fundo, e resolveu esperar alguns minutos dentro do dormitório, até se certificar que os outros dois amigos não estariam rondando o salão comunal atrás de conversinhas com garotas, no caso de Sirius, ou de novidades eletrizantes, no caso de Peter. Concluiu, analisando o Mapa do Maroto, que ambos rumaram para fora do salão, pegando o primeiro atalho daquele andar para o portão principal do castelo. O pontinho que marcava Argus Filch, estava na verdade caminhando pelo hall de entrada, ao mesmo tempo em que os dois passavam por ele, provavelmente encobertos por sua capa.


Ele dobrou o mapa rapidamente, depois de dar outra checada no salão comunal, vendo que aquela era uma boa hora para descer. Ergueu-se da cama, enquanto colocava o pergaminho no bolso junto com a varinha. Foi ao espelho, consertou rapidamente suas sobrancelhas e tentou abaixar alguns fios levantados no alto de sua cabeça, sem sucesso. Resolveu, deixá-los daquele jeito mesmo, rumando finalmente para fora do dormitório.


Desceu as escadas com agilidade, pulando dois degraus de cada vez, até chegar ao salão. Estava nem muito cheio, nem muito vazio. Havia estudantes fazendo de tudo: de jogar xadrez de bruxo à dar alguns amassos em um ponto escondido do salão ou até mesmo bater um papo descontraído, como era o caso de Lily Evans. A ruiva se encontrava sentada numa cadeira de frente para uma das mesas de mogno que havia no local; estava entretida numa conversa animada com Frank Longbottom que se encontrava logo ao seu lado; ambos no mesmo local que o mapa havia mostrado para o rapaz de óculos há momentos atrás.


James respirou fundo antes de se aproximar, pigarreando para chamar a atenção de ambos assim que se pôs de pé na frente deles.


"Boa noite" – ele murmurou esboçando um sorriso. Assim que Lily o encarou, a expressão da garota se tornou dura e decidida. Ela ergueu o queixo levemente, crispando os lábios rosados, como se desaprovasse o simples fato do rapaz estar ali.


"E aí, James?" – Frank murmurou sorridente.


"Frank. Evans." – ele os cumprimentou; recebendo de um lado um sorriso amigável e do outro uma sobrancelha erguida como resposta. A vontade de Lily era sair dali o quanto antes, desaparecer, sem nem ao menos ter que olhar para a cara daquele arrogante. Mas Frank ainda estava ali, não poderia ser mal educada com o outro rapaz. Resolveu apenas ignorar o maroto; não dirigir a palavra a ele.


Frank encarou os dois, sentindo o clima tenso que se instalou no local.


"E então? O que achou do jogo?" – perguntou para James, tentando amenizar a estranha situação – "A Slytherin é osso duro, mas tenho certeza que ganhamos fácil-fácil. A propósito, eu não concordo com nada que estão dizendo por aí sobre..."


"Tudo bem" – o maroto o interrompeu dando de ombros – "Obrigado, Frank" – disse sorrindo para o colega – "É bom saber que alguém está do meu lado"


Frank sorriu. Mas o silêncio reinou entre o trio mais uma vez. Ambos estavam parados na mesma posição. Lily encarando James de forma indecifrável, James mirando-a intensamente, e Frank observando ora um, ora o outro, sem saber o que fazer.


"Bom, eu..." – Frank começou – "Vou começar minha redação de Feitiços" – disse rapidamente a primeira coisa que lhe veio em mente – "Acho que todo mundo já fez, menos eu..." – brincou, soltando uma risadinha pelo nariz – "Vejo vocês depois" – e saiu dali, o mais rápido possível.


James assumiu seu lugar sentando ao lado da ruiva. Ela bufou, ameaçando levantar-se, mas fora impedida por ele que segurara seu pulso.


"Espera um pouco" – ele pediu. Lily puxou seu braço de forma brusca, ameaçando mais uma vez se erguer, enquanto ele novamente a impedia – "Por favor"


"Eu não tenho nada a dizer pra você, Potter" – ela sussurrou, após perceber que três quintoanistas da outra extremidade da mesa, os observavam de esgoela.


"Você não precisa falar nada. Só me escute"


"Pra quê?" – ela indagou, abaixando a cabeça, desviando dos olhares das outras garotas que ainda os encaravam desconfiadas e mexericando alguma coisa entre si – "Eu não vou mais acreditar em nada que você diz. Eu não quero nem mais que me dirija à palavra"


"Não quero que acredite" – ela então o mirou confusa; seu cenho franzido – "Não vim aqui te convencer, só vim te falar algumas verdades"


"Verdades?" – ela sorriu de forma cínica – "Isso sim é novidade. James Potter falando verdades"


James estreitou seus olhos por detrás das lentes redondas antes de sussurrar de volta para garota:


"Olha só quem está falando. A Srta. Certinha" – desdenhou – "Não preciso lembrá-la que se você não tivesse me colocando numa situação tão absurda, aquilo tudo não aconteceria, não é?"


"Agora a culpa de seus malfeitos é minha?" – ela revidou, ciciando baixo – "Sua criatividade me surpreende cada vez mais, Potter"


James respirou fundo, buscando calma no fundo de seu ser.


"Eu não vim aqui discutir com você, Evans" – ela ameaçou responder, mas ele não permitiu – "Você mesma falou que não queria falar comigo, então só peço que me escute" – ele fez uma pausa, observando o rosto da ruiva com atenção – "Eu vim aqui te pedir desculpas" – murmurou num sussurro – "Não precisa aceitar, só quero que saiba que estou arrependido e que sei que extrapolei" – James observou a expressão da outra suavizar por alguns instantes, vendo que seria bom continuar – "Eu estava sobrecarregado com tudo aquilo, e explodi. Foi isso que aconteceu" – ele então acariciou suavemente sua mão – "Eu sinto muito"


Lily sentiu como se uma corrente elétrica tivesse passado por sua espinha. O calor que começou onde a mão macia do apanhador a tocou, foi tomando cada parte de seu corpo de forma incrível e até assustadora. Ela reprimiu um suspiro, quando abaixou o rosto até suas mãos e pôde ver os movimentos leves que a dele fazia no dorso da sua.


Ela enrijeceu, quando se viu mais uma vez, quase entregue aqueles malditos encantos do maroto. E foi com raiva de si mesma, que afastou sua mão da dele e o mirou com dureza.


"Acabou?" – perguntou com frieza.


James suspirou derrotado, concluindo que concertar aquilo seria mais difícil que imaginara. Ele confirmou levemente com a cabeça a contragosto. E ela simplesmente se levantou, deixando apenas o vazio ao seu lado, rumando como uma flecha para os dormitórios.


Ele observou as três garotas do outro lado da mesa cochichar sem parar. E se perguntou se elas teriam ouvido alguma coisa. Era só o que faltava. Mais fofocas e murmúrios com seu nome. Ergueu-se bruscamente, rumando para fora do salão comunal. Pegou o mapa em seu bolso, escolhendo o melhor caminho para chegar ao Salgueiro Lutador. Em poucos minutos estava do lado de fora do castelo, caminhando rapidamente em direção a enorme árvore; seus pensamentos a mil por hora martelando fortemente seu cérebro com a imagem e a voz de Lily, raciocinando em maneiras de corrigir suas besteiras e conquistá-la de uma vez. O que Sirius e Peter falavam sobre eles não combinarem de jeito e maneira, talvez fizesse sim algum sentindo, mas ele a gostava demais para desistir. Não aquilo. Não desistiria nunca. Ela seria sua, como sempre quis. E ele conseguiria. Mostraria a ela, que mesmo com suas tolices, ela se apaixonaria por ele.


Ele sorriu de lado, avistando a enorme árvore ao longe. E foi quando estava a poucos metros do salgueiro e totalmente perdido em seus pensamentos, que escutou um uivo seco; num piscar de olhar o Remus-lobisomem saiu pela passagem oculta nas enormes raízes da planta. James encarou desesperado os olhos amarelos do lobo, que corria em sua direção, puxou sua varinha rapidamente, mas não deu tempo de se transfigurar. O lobo pulou em cima de si, segurando seus braços com as patas. Seu coração quase saiu pela boca quando o animal rosnou para si, e a única reação que teve fora fechar os olhos fortemente, esperando pelo pior.


Noutro segundo Padfoot apareceu, jogando fortemente o lobisomem para o lado e ambos rolaram pela grama molhada. Fora a brecha. James num segundo já era Prongs. Lobo e cachorro se ergueram, rosnando raivosamente um para o outro, preparando seus ataques a qualquer momento. O cervo então se pôs entre eles, empurrando levemente com sua galha um para cada lado, trotando entre os dois até que se acalmassem. Padfoot caminhou timidamente até Moony, apontando seu focinho para cima, fungando com vontade. O lobo abaixou sua cabeça, tocando suas narinas como num selo de paz. Wormtail apareceu entre as folhas da grama, deixando seu esconderijo.


Os quatros animais se entreolharam, e num acordo silencioso, rumaram para a Floresta Proibida.


MMMMMM


N/A: Dessa vez demorou um pouco mais saiu. A história começa a se desenrolar e o enfoque se desliga um pouco de apenas Lily/James. Os próximos capítulos provavelmente terão mais dos outros marotos, de Snape, e outros personagens. Sempre imaginei a época dos marotos diretamente ligada ao inicio da guerra, e não como se ambas as coisas acontecem em universos diferentes, porém ao mesmo tempo. Sn


De qualquer forma, espero que tenham curtido o capitulo. Agradeço imensamente aos comentários anteriores e imploro por novos!


Um beijão,


Cath.

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Comentários (3)

  • Mallow Krum

    Adorei. Cabuloooso! KK sério, sua fic ta ncrível. Aguardo o próximo ANSIOSAMENTE

    2011-09-12
  • Kika.Cerridween

    Concordo com vc qndo disse sobre a época dos marotos e aguerra ..tenho essa idéia de que tudo foi acontecendo junto....em um dos livros da saga JK narra a fascinação de Regulo o irmâo mais novo de Sirius , sobre informações no profeta diário sobre os ataques dos comensais a trouxas ,recortes de jornais colados na parede etc.... Então acredito que enquanto estavam na escola ...acontecia os desaparecimentos e os ataques a trouxas ...enfim ....Estou gostando muito da fic....esse capítulo me surpreendeu ,,,,,,vlw 

    2011-07-29
  • Bianca F.

    maravilha de capitulo!ah q pena q a historia vai se desviar um pouco de james e lilian mas se é necessario ne? bom, se der, da uma passadinha na minha fic, cecil wendel e os marotos!

    2011-07-28
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