Capítulo Quatro



Love Lives Forever


Resumo: Entre escolhas e inseguranças no inicio de uma guerra, a única certeza que reinava nos corações daqueles jovens era que o amor, fosse ele entre parentes, amigos ou amantes, viveria para sempre.


Atenção: Harry Potter não me pertence!


CAPÍTULO QUATRO


Ó doce irmã, o que você quer mais? Eu já arranhei minha garganta toda trás de alguma paz. Agora, nada de machado e sândalo, você que traz o escândalo, irmã-luz. Eu marquei demais, tô sabendo; aprontei demais, só vendo; mas agora faz um frio aqui. Me responda, tô sofrendo.


Caetano Veloso


MMM


James estava prestes a explodir. Não agüentava mais. Não estava mais suportando aquela situação humilhante e os olhares ora de desaprovação ora de desapontamento que todos lhe lançavam. Se sentia num labirinto sem saídas visíveis, num beco sem escape. Nunca em sua vida se encontrara tão culpado e tão aflito como estava no momento. Sua cabeça doía e ele mal dormia, seu cérebro parecia não querer deixá-lo esquecer daquela maldita partida e quando ele finalmente se via quase entregue ao sono, em seus sonhos havia pomos de ouro, a mão do apanhador da Ravenclaw e... os olhos verdes de Lily.


Maldita Lily. Fora por ela, por sua estúpida descrença sobre os sentimentos que ele lhe nutria. Como é terrível está apaixonado. Fazemos coisas absurdas e sem nexo, sem medir as conseqüências, para depois sofrermos pelos atos impensados. E James estava sofrendo; agonizando, transbordando. Já haviam passado dias e ela não o havia procurado, não o havia dirigido sequer uma palavra. O que merda ela queria mais dele? Ele havia se humilhado por ela, havia sido fraco por ela e agora estava sendo injustiçado por ela.


Sim, injustiçado. Todos da Gryffindor estavam pasmos com ele. Se não fosse por sua causa, eles haviam ganhado. Se não fosse por seu egoísmo; por sua insensatez. James sacrificara a alegria dos outros pela sua. Pela sua? E cadê a alegria? Não estava alegre, e não iria estar. Como fora tolo. Como fora estúpido! Ela queria se livrar dele. E apenas isso. Ele não teria uma chance, e nunca iria ter. Fora iludido, ele mesmo se iludiu. Alimentou uma esperança em vão, sonhou que depois da tal prova ela iria se jogar em seus braços, se emocionar com sua conduta, aceitar seus sentimentos. Mas não era isso que ela queria. Ela o queria longe. Ela o detestava, e só ele não via isso, ou pelo menos fingia não ver, tapava seus próprios olhos para esconder uma realidade que todos tinham consciência, que todos sabiam. Ela não o queria. E ele fora estúpido, agira como um babaca.


E agora não havia volta. Ele teria que passar por aquilo; sozinho. Sendo forte, suportando a humilhação, antes que estourasse de vez.


MMM


"Você está louca?" – Lily falava alto enquanto Alice puxava-a para dentro do dormitório e empurrava-a para a sua cama– "O que significa isso, Alice?" – a ruiva indagou quando observou a outra fechar fortemente as cortinas e tirar das vestes da escola a varinha para murmurar um feitiço isolante nas mesmas – "O que há de errado com você?"


"O que há de errado com você, Lily Evans?" – Alice disse alterada, fuzilando a outra com os olhos escuros em chamas. Lily arregalou as íris perante a atitude da tão calma e controlada amiga, abrindo a boca para protestar, mas fora antes interrompida pela morena – "Tem como você me explicar porque está agindo como uma completa idiota?"


"Do que você está falando?" – ela perguntou – "Você que tem que me explicar pra quê tudo isso?" – e gesticulou brandamente indicando a situação que elas estavam: sozinhas no dormitório deserto, enquanto todos os alunos almoçavam no Grande Salão naquele fim de manhã de quarta.


"Não se faça de desentendida" – Alice acusou apontando o dedo indicador para a outra – "Você está fugindo de mim desde sábado! Aonde se meteu ontem depois de Poções? Te procurei o dia inteiro!"


"Biblioteca" – ela deu de ombros.


"Eu vasculhei a biblioteca toda, Lily" – cruzou os braços em desaprovação – "Você não estava lá, você não estava em lugar algum!"


"O que você quer afinal?" – ela indagou – "Estou com fome, quero almoçar"


Alice lançou-lhe um olhar mortífero, medindo-a com atenção.


"Você pensa mesmo que me engana?" – ciciou zangada.


"Porque você está falando isso?"


"Você está fugindo de mim" – esclareceu – "Você sumiu depois do jogo. Sempre quando chego ao dormitório você está dormindo, ou fingindo que estar dormindo, está fazendo de tudo pra não falar comigo!"


"Alice, eu..."


"Você está agindo como uma criança!" – falou – "Como uma criança idiota!"


"Eu não estou agindo como uma criança" – defendeu-se. Mas hesitou antes de prosseguir – "Eu só..."


"Não sabe o que fazer" – Alice concluiu decidida – "Pela primeira vez, você não sabe o que fazer, não é? Seu planinho ridículo deu errado e agora você está fugindo porque sabe que eu vou cobrar as atitudes das promessas que você não tem coragem de cumprir"


"Você está começando a me ofender" – Lily murmurou indignada.


"Estou falando a pura verdade!" – Alice então suspirou, recompondo-se. Seus olhar suavizou e ela encarou a outra atentamente, e prosseguiu com uma voz cansada – "Sabe, eu tentei não forçar a barra durante esses dias. Estava tentando te dar um tempo para assimilar tudo. Mas já é quarta, Lily. Quarta e você não fez nada. Muito pelo contrário, está agindo como se nada tivesse acontecido"


"Alice..."


"E aconteceu. Você estava lá, você viu. Você não pode fingir que não houve nada. E você sabe muito bem o que significava..."


Lily sentiu o coração falhar um batimento e desviou os olhos dos da amiga, concentrando-se nas próprias mãos sobre o colo. Suas bochechas tomaram um tom avermelhado e ela finalmente decidira que não adiantava mais fugir de Alice. Não podia mais. Ela passara sim os últimos dias evitando a amiga o máximo que conseguia. Fazia de tudo para não se envolver com nada que tivesse haver com o jogo ou com sua proposta absurda e insensata. Mas ela não poderia fugir para sempre, mesmo que odiasse admitir, não poderia. E Alice tampouco admitiria; Lily sabia disso.


Ela respirou fundo, voltando a mirar à morena que continuava a espera de uma resposta.


"Eu" – ela começou e vendo que não conseguiria sustentar o olhar de Alice, desviou mais uma vez o seu – "Eu não sei o que fazer" – admitiu por fim, num fio de voz que mal pôde ser escutado.


A morena analisou atentamente a expressão cabisbaixa da ruiva. Ela parecia realmente confusa. Alice sabia que Lily tinha seus princípios e que cumprir sua promessa seria realmente contra o que acreditava. Ou o que ela sempre quis acreditar. Mas não poderia deixar do jeito que estava. Lily teria que tomar uma posição. Fosse a que fosse.


Era completamente visível, pelo menos para a duas que sabiam da tal situação, que James Potter estava perturbado. Desde o final do jogo, quando ele entregou a partida para Ravenclaw, ele estava sim completamente diferente. Estranhamente quieto e triste para o Potter que todos conheciam. Muitos acreditavam que era apenas pelo jogo perdido, mas era só observar as olhadelas singelas que ele lançava vez ou outra para Lily para perceber que não era apenas aquilo. Havia muito mais por atrás. Muito mesmo.


"Eu sei" – Alice disse – "Mas não entendo o porquê... Achei que havia ficado claro, Lily. Você queria uma prova, não queria? Você teve sua prova! Então porque tanta indecisão? Porque tanta...?"


"Você não entende" – Lily voltou a encará-la – "Ele fez isso pra me provocar"


Alice franziu o cenho.


"Não acredito que nessa altura, você vai continuar procurando desculpas para negar o que está bem debaixo do seu nariz. Ele gos..."


"Não diga que Potter gosta de mim de novo. Ele não gosta, Alice. Ele fez isso pra me provocar sim..."


"Lily..."


"Nós brigamos antes de jogo" – contou antes que Alice continuasse. A morena então ergueu uma sobrancelha confusa – "Não foi bem uma briga..." – começou a explicar pausadamente, enquanto a outra escutava em silêncio – "Nós discutimos e ele disse que não valia a pena me provar nada. Que eu não merecia. E então, ele perdeu o jogo. Só pra eu me sentir culpada. Como eu estou me sentindo agora"


Alice suspirou.


"Lily..."


"Você não vê?" – ela indagou baixo, seu rosto numa expressão angustiada e descrente – "Ele não vale nada. Ele fez de propósito"


"E o que faz você acreditar que ele fez isso pra você se sentir mal?"


"Porque ele fez" – ela disse simplesmente - "A Gryffindor não ia perder, estava dando uma lavada. E perdeu, só porque ele deixou o Wakefield apanhar aquele maldito pomo" – Ela então pôs as mechas de seu cabelo acaju atrás da orelha, e respirou fundo mais uma vez antes de prosseguir - "Ele quer me atingir; quer que eu me sinta um trasgo por ver todos chateados"


Alice balançou negativamente a cabeça antes de responder:


"Você é um poço de criatividade" – ela então depositou uma mão em cada ombro da outra, obrigando-a a mirá-la e ouvi-la sem interrupções – "Fracamente, Lily. Você já viu como todos estão olhando para ele? Todos da Gryffindor estão decepcionados. Nós estávamos ganhando e ele perdeu. Ele perdeu! Se ele quisesse que você ficasse mal, ele teria vindo jogar isso na sua cara. Mas não, ele é quem está segurando a barra. Sabe por que eu resolvi te arrastar até aqui?" – e antes da outra responder, continuou – "Porque assim que saí de Herbologia ouvi uns quartoanistas dizendo que ele não deveria ser capitão, que ele deveria até sair do time!" – Lily arregalou os olhos por alguns segundos – "E todos nós sabemos o quanto ele é bom, não é justo ele ser julgado dessa forma... Ele deveria ao menos receber uma resposta sua! Você deveria ao menos conversar com ele! E não fingir que nada aconteceu"


Lily ficou muda, sentindo as mariposas de seu estômago piruetar numa velocidade incrível.


As duas ficarem em silêncio por um instante, até Alice murmurar:


"Do que você tem medo?"


A ruiva não respondeu. As últimas imagens do jogo de sábado passavam por sua mente em fleches nítidos demais, vivos demais.


"Porque tanta insegurança? Por Merlin, é só um encontro" – a outra tentou novamente. Lily continuou muda. Alice então respirou fundo, erguendo os braços – "Desisto!" – e pegou sua varinha novamente para retirar o feitiço e abrir as cortinas – "Faça como quiser" – ela então marchou até a porta, de cara emburrada, mas antes de sair murmurou para a outra que continuava inerte sentada na cama – "Só acho que ao menos você deveria acabar logo com isso, e não deixá-lo esperando na expectativa" – e balançando a cabeça, terminou – "Essa está sendo uma grande prova de amor, Lily. Só espero que você não se arrependa depois" – e saiu sem dizer mais nada, enquanto deixava a ruiva absorta em seu emaranhado de pensamentos.


MMM


"E então?" – James ouviu a voz de Remus atrás de si enquanto vestia seu suéter vermelho – "Não quer conversar?"


James suspirou, negando com a cabeça.


Remus lançou um olhar de lado para Sirius que estava largado em sua cama, com a cabeça apoiada nos braços e Baltasar em cima de sua barriga. O moreno deu de ombros, com uma expressão preocupada, enquanto analisava o maroto de óculos.


"James, você está assim há dias" – Remus continuou tentando, falando calmamente. Seu rosto estava pálido e doentio e havia olheiras roxas embaixo de seus olhos; a lua-cheia estava por vir – "Pode falar com a gente"


Ele não respondeu, pegando sua toalha em cima da cabeceira da cama e indo até o banheiro para estendê-la lá.


Peter acompanhou-o com os olhos miúdos do parapeito da janela enquanto mastigava com vontade vários feijões-de-todos-os-sabores.


"Ele está doente com certeza" – sussurrou para que só Moony e Padfoot escutassem.


Remus negou, mas antes que respondesse, James voltou.


"Prongs" – agora foi a vez de Sirius – "Você..." – ele hesitou buscando as palavras, observando o amigo sentar na cama e colocar seus sapatos, sem nem ao menos lhe encarar. Ele pigarreou, antes de prosseguir – "Não foi sua culpa, cara"


"Vocês já falaram isso" – James murmurou finalmente, fazendo um laço em cada cadarço – "Eu já disse que estou bem"


"Não, você não está" – Peter respondeu, após engolir.


"Não mesmo" – Remus falou.


"De jeito nenhum" – Sirius completou. James suspirou mais uma vez. Não agüentava mais, estava se sentindo sufocado; não podia dizer a verdade aos marotos, não podia desabafar com eles – "Você pode falar, somos teus amigos"


"Não há nada, já disse" – respondeu, mirando os três, cada um de uma vez – "Estou bem" – e levantou.


"Pra onde você vai?" – Padfoot indagou, se erguendo, para pôr-se sentado, fazendo com que o gato ruivo saltasse de seu estômago e caminhasse calmamente pelo chão do dormitório.


"Marquei uma reunião com o time"


"James"


"O quê?" – indagou impaciente.


"Você não acha melhor..." - Remus continuou com cautela– "Deixar essa reunião pra depois" – Prongs lhe lançou um olhar interrogativo – "Digo, está tudo muito recente"


"Eu sei o que estou fazendo. Relaxe"


"Não digo por eles, James" – Moony continuou – "Digo por você. Você está de cabeça quente. Sabemos disso. Está se culpando por uma coisa que não foi por sua causa, que simplesmente aconteceu e que pode acontecer com qualquer um"


James bufou. Porque Remus tinha que ser tão sensato? É claro que fora por sua causa. E o fato de ele não saber, o fato de eles não saberem e acharem que fora por deslize, o chateava mais ainda. O consumia mais ainda. Eles estavam tentando confortar o inconfortável. Consolar o inconsolável. Justificar o injustificável. Ele perdera por que quis, merda! Não por deslize, não por incapacidade. Porque ele fora egoísta e não pensara em ninguém. Só em si. Ele tinha que conversar com o time. Tinha que ao menos se desculpar.


"Moony tem razão" – Peter concordou – "Deixa pra semana que vem, você está meio abalado e talvez não goste de saber que..."


Sirius e Remus lançaram um olhar mortífero para o maroto gorducho. Ele imediatamente se calou, pondo as duas mãos na boca. James mirou-o curioso com o cenho franzido e sem compreender.


"Não goste de saber o quê?" – ele indagou rapidamente – "Fala, Wormtail"


"Prongs..." – Remus começou.


"Termine, Wormtail" – ele começou a ir em direção a janela, caminhando até Peter com um brilho ameaçador por atrás de seus óculos.


"Não é nada, James" – Sirius tentou também.


"FALE!" – ele gritou não se contendo mais.


Peter lançou um olhar desesperado para os outros dois que assentiram sem saída, permitindo que ele contasse de uma vez. Wormtail então, respirou fundo pegando um feijão rosa de dentro do saco colorido e brincando com ele nas mãos, evitando mirar James nos olhos.


"Estão querendo colocar o Young em seu lugar" – disse, jogando o feijão em sua boca, e enfiado a mão no saco fingindo procurar mais, já esperando a explosão do outro, que não tardou a vir. Prongs sentiu o sangue subir-lhe a cabeça e a ira saltar e flamejar por todo o corpo. Ele apertou os punhos com força e sua expressão se tornou dura e raivosa.


"É o quê?" – indagou alterado entredentes – "Isso é brincadeira, não é?" – ele se dirigiu para os outros dois que se entreolharam antes de confirmar.


"Não é o time, Prongs" – Sirius explicou – "É a torcida"


James pareceu não escutar, pois começou a andar de um lado para o outro no quarto, mexendo agoniado nos cabelos e quase esbarrando em Baltasar que correu assustado até um canto distante.


"Isso é ridículo. Ridículo! Eles não podem fazer isso comigo. Eu sou o capitão. Eu sou um dos melhores apanhadores que Hogwarts já teve, eles não podem... Não podem!"


"Nós sabemos disso" – Remus murmurou – "Mas está todo mundo comentando que o time todo se saiu bem, menos você, então... É meio que lógico que..."


"Lógico? LÓGICO?" – James o interrompeu parando de andar, se voltando para o lobisomem – "Eu os treinei, Moony! Eu bolei a tática, eu fiz os planos de ataque! Como agora querem me tirar?"


"Prongs" – Remus tentou.


"É injusto. Eu não posso errar nem sequer uma vez? Não posso me atrapalhar nunca?"


"A vida é assim, cara" - Sirius disse – "As pessoas são assim. Confiança demais gera expectativas demais, e quando você não as cumpre... Sempre te julgam pelo pior caminho"


"Eu sempre dei meu melhor... Sempre fiz o MELHOR"


"Se acalma, James"


"Eu não vou me acalmar, Remus!" – James gritou – "Eu não vou me acalmar nunca!" – ele então respirou fundo por alguns segundos, antes de dizer – "Eu vou tirar essa estória a limpo agora" – e marchou para fora do quarto, sem mais delongas, batendo a porta com força atrás de si.


Um silêncio reinou pelo cômodo por breves segundos, até ser quebrado por Sirius:


"Da próxima vez, é melhor você continuar mantendo sua boca ocupada com comida, ao vez de falar merda, Wormtail" – ele ciciou, lançando um olhar assassino para Peter, que quase enfiou sua cara na sacola para tentar sumir daquela situação.


MMMMM


Lily secava seus cabelos molhados devagar com a toalha, vendo seu reflexo pelo espelho embaçado do banheiro. Seus pensamentos martelavam-lhe a cabeça, impossibilitando-a de fugir de seu dilema. Não parara de pensar na conversa que tivera com Alice mais cedo. E finalmente se conformara que ela tinha toda a razão no final das contas.


Suspirou parando seus movimentos e apenas se limitando em encarar seus próprios olhos verdes. Aquela fora sim uma prova de amor. E mesmo que ela tentasse negar, mesmo que ela fugisse e estivesse numa confusão sem fim com seus sentimentos, não podia fingir que não gostara. Que cara se rebaixaria a tanto? E por ela?


Ela realmente pensara que ele nunca aceitaria perder o jogo, que ele nunca faria e fora exatamente por isso que lhe pediu aquilo. Algo impossível de se fazer, algo cruel de se fazer. Mas ele fizera. E mesmo que tentasse se convencer que ele fizera para lhe atingir, ela sabia no fundo de sua alma que ele havia feito porque gostava dela. E era essa parte, essa parte que ela considerava insana, que estava começando a florescer em seu corpo, dominando-a e mostrando-a que talvez, que talvez ela pudesse sim abaixar sua guarda e dar uma chance a James Potter.


Ele havia mudado. Ele havia amadurecido, e ela não podia mais tentar se convencer do contrário. Ele estava se tornando responsável, estava menos insuportável, estava mais crescido, mais direito.


Ela sorriu timidamente, vendo o espelho retribuir-lhe. Suas bochechas arderam e ela levou as mãos às mesmas, sentindo o rubor ferver-lhe gostosamente e as mariposas em sua barriga dançarem de forma engraçada. Mas seu riso morreu aos poucos, e a insegurança consumiu-a mais uma vez. E se não fosse nada daquilo? E se ela estivesse apenas impressionada? E se ele realmente quisesse atingi-la? Provocá-la? Afinal, ele havia dito que ela não merecia. Que não valia a pena lhe provar. E se no momento que ela o procurasse ele jogasse sobre ela toda a culpa que estava sobre os ombros dele?


"Merlin" – ela murmurou. Que confusão era aquela? O que faria?


"Ele deveria ao menos receber uma resposta sua! Você deveria ao menos conversar com ele! E não fingir que nada aconteceu"


A voz de Alice soou em seu subconsciente. Desde quando ela tinha medo de enfrentar as situações que apareciam em sua frente? Ela era uma Gryffindor, não era? Tinha que ser forte e encarar de peito os obstáculos.


Observou a Lily refletida mirá-la de forma decida, assim como ela começou a se sentir naquele momento. Não podia mais ficar naquela situação. Teria que conversar com ele. Acontece o que acontece. Fosse o que fosse; e encarar aquela realidade finalmente. Sem mais cobranças, sem mais delongas. Tinha que terminar com toda aquela agonia e por um ponto final naquela situação.


Sim, ela pensou antes de sair do banheiro para vestir-se; ela iria procurá-lo.


MMMM


"Que estória é essa de me tirar do time?" – James esbravejou, assim que chegou do lado de fora do castelo, no vestuário da Gryffindor.


Todos os presentes miraram-no assustados. Eles se entreolharam lodo depois. Isso fez com que o maroto enraivecesse ainda mais, seus olhar borbulhando em ódio.


"Me respondam" – ele insistiu perante o silêncio.


"Não fomos nós, James" – Foi Luanda Lee quem se atreveu a dizer, levantando-se de um dos bancos e indo em direção do rapaz – "Nós nunca faríamos isso"


"Então o quê?" – ele continuou, mirando-os suplicante, agonizando por respostas. Michael também se ergueu, caminhando para junto de Luanda.


"Foi o resto dos alunos" – ele explicou – "Eles não estão aceitando muito bem a derrota e..."


"E inventaram esse absurdo" – Otto ajudou o irmão – "Nós tentamos controlar mais a maioria está com essa idéia na cabeça"


"Nós não concordamos com isso, James" – Marlene murmurou do seu canto – "Sabemos o quanto você é bom, sabemos que foi apenas um..." – ela hesitou quando James a mirou transtornado.


Ele respirou fundo, tentando se acalmar.


"Eu não acredito que isso está acontecendo" – confessou num tom baixo, remexendo os cabelos nervosamente.


"É normal" – Charles Pelegrin murmurou – "Logo logo eles vão abaixar a bola, você vai ver..."


"Eles não vão abaixar a bola" – James murmurou – "Vocês sabem disso"


O resto do time se entreolhou novamente, como se tentassem escolher quem falaria a seguir, a tensão reinava no ar, e aquele silêncio incomodava o maroto mais do que qualquer coisa.


"James" – Foi o goleiro Logan Owen quem resolveu intervir – "Nós queremos te dizer uma coisa" – O apanhador esperou até ele prosseguir com uma expressão de quem tenta decidir o melhor jeito de falar – "Nós somos um time" – começou hesitante, tentando ao máximo sustentar o olhar duro de James – "E como um time, às vezes temos que cometer sacrifícios para o bem da partida"


James franziu o cenho.


"Como assim?" – ele indagou sem compreender.


"É melhor ir direto ao assunto" – Charles disse – "Por mais que você seja capitão, às vezes é preciso fazer substituições, James. Não estamos querendo que saia do time ou que perca seu posto de titular, só que às vezes, quando você não está se sentindo bem no jogo ou está deslocado, temos que mudar"


James não conseguia mais suportar aquilo. Iria explodir e não havia mais como controlar. Já agüentara demais.


"Onde vocês querem chegar?"


"Nós..." – Luanda começou.


"Queremos que da próxima vez, você me ponha no lugar se não estiver bem" – Haward Young, o apanhador substituto, a interrompeu, dizendo tudo de uma vez, irritado com aquela ladainha – "Era visível que você não estava bem, então porque insistiu em ficar?"


"Como podem saber que eu não estava bem?" – ele indagou confuso.


"Nós te conhecemos. Já vimos você jogar dezenas de vezes" – Marlene explicou.


"Você olhava o tempo todo para arquibancada" – Logan lembrou.


"E quando o Wakefield viu o pomo, ficou parado um tempão" – Otto completou.


"Você não estava nem procurando" – e Haward terminou erguendo as sobrancelhas – "Se eu estivesse jogando, talvez tivéssemos ganhado" – completou maldosamente.


Todos prenderam a respiração, já prevendo o que viria a seguir.


"Você está adorando muito tudo isso, não Young?" – James indagou alterado, fuzilando o loiro com o olhar – "Era tudo o que você queria, não é mesmo?"


"Não estamos discutindo isso" – Luanda tentou intervir, mas já era tarde demais. James já havia transbordado e agora não tinha volta.


"Do que você está falando?" – Haward indagou erguendo-se de seu banco – "Estou pensando no melhor para o time"


"Ah, qual é?" – o outro falou enraivecido – "Desde o ano passado que você está querendo o meu lugar. Está feliz agora? Você está quase conseguindo!"


"Rapazes, por favor" – Marlene tentou, mas eles nem pareciam escutar.


"A culpa não é minha se você deixou todos na mão, Potter" – Young falava eriçando-se em direção do maroto – "Se você fosse menos egoísta e me chamasse pra resolver a partida com certeza teríamos ganhado. Essa era atitude que um verdadeiro capitão teria"


"Ora seu..." – James voou para cima do loiro e a confusão se instalou no vestuário. Michael e Otto seguraram o moreno, enquanto Logan se pôs na frente dos dois e Charles e alguns outros substitutos tentavam controlar Haward que avançava para cima do outro rapaz.


"Me soltem!" – o apanhador loiro gritava – "Você é um incompetente, Potter!"


"Idiota, filho de uma mãe" – James xingava, tentando se soltar dos rapazes que lhe seguravam.


O resto do time gritava e imploravam por calma, mas ambos não pareciam querer parar e continuaram a se ofender maldosamente.


"Você tem que sair do time mesmo! Seu tempo acabou!"


"Você vai ver quem vai sair do time!"


"Parem os dois!"


"PAREM!"


"Filho da mãe egoísta! ME SOLTA!"


"Fedelho idiota!"


"JÁ CHEGA!"


"PAREM AGORA!"


"QUER SABER DE UMA COISA?" – James se soltou bruscamente do aperto dos colegas empurrando os dois irmãos com força e caminhou dois passos para trás de costas – "FAÇAM COMO QUISER" – disse erguendo os braços – "EU CANSEI DISSO TUDO" – e saiu dali, deixando todos os outros para trás.


MMMM


"Remus?" – Lily indagou timidamente para o maroto que lia um livro sentado numa das poltronas do salão comunal. Ele ergueu os olhos encarando-a com um pequeno sorriso.


"Olá, Lily" – respondeu.


"Você está bem?" – ela indagou ao observar o rosto anormalmente branco e enfermo do rapaz.


"Estou" – ele respondeu rapidamente – "Só um resfriado" – e pigarreou antes de continuar – "Posso ajudar?"


"Sim" – ela respondeu meio hesitante – "Você... Você sabe onde está o Potter?"


Remus franziu a testa e Lily sentiu as bochechas arderem levemente.


"Bem" – ele começou – "Ele saiu pra uma reunião com o time depois do jantar e ainda não voltou"


"Não voltou?" – ela indagou – "Mas eu vi a Marlene subir para o quarto já faz um tempo..."


Remus deu de ombros.


"Não sei, desculpa. Mas daqui a pouco ele deve está chegando"


"Ok, obrigada" – ela respondeu, sorrindo levemente e voltando para sentar-se em um dos sofás. Marshmallow logo pousou em seu colo e ela começou a fazer caricias no dorso macio da felina, enquanto mirava vidrada a passagem da Mulher Gorda. Seu coração palpitava forte contra o peito, ela sentia um formigamento incomum por todo seu corpo e suas mãos até suavam por ansiedade. Aonde diabos ele se metera?


"Aí está você!" – Lily ouviu a voz esganiçada de Mary atrás de si. A loira rodeou o sofá e sentou-se ao seu lado, pegando uma almofada dourada para colocar nas pernas – "Lene já te contou?"


"Contou o quê?" – indagou curiosa.


"Rolou um maior barraco com o time" – Mary sussurrou para que só a amiga ouvisse – "Mas não espalha"


Lily reprimiu a vontade de rodar os olhos, ao ver quem estava pedindo para ela não espalhar uma fofoca.


"E por quê?"


"Por causa do lance do jogo, claro" – esclareceu – "Estão todos querendo trocar o Young pelo Potter, então..."


"Estão o quê?" – Lily arregalou os olhos, parando seus movimentos na gata, que protestou num miado.


"Você não sabia?" – Mary indagou com descrença. A ruiva negou com a cabeça – "Ninguém no time quer, mas parece que o Potter e o Young discutiram"


Lily engoliu em seco, e não deixou de se sentir culpada.


"Mas o que resolveram?" – quis saber.


"Nada. Mas eles não vão tirar o Potter" – Mary assegurou – "Ele é o melhor. Mas parece que estes patetas que têm por aqui, nunca aceitam uma derrota e querem sempre culpar alguém. Digo, o Potter sempre foi brilhante e na única vez que ele vacila todos querem crucificá-lo. Por Merlin!"


"É mesmo" – Lily respondeu, procurando mirar a gata em seu colo e não a amiga ao seu lado; seu corpo pareceu um balão que esvaziava aos poucos, murchando cada vez mais e mais.


Mary começou a tagarelar ao seu lado algo que ela não vazia a mínima idéia de que se tratava. Seus pensamentos apenas meditavam sobre aquela situação medonha na quão se encontrava.


Alguns minutos depois observou dois garotos aparecerem nas escadas dos dormitórios. Sirius Black descia calmamente os degraus, colocando no bolso da calça jeans algo que parecia um pergaminho surrado e Peter Pettigrew vinha logo atrás enchendo sua boca de amendoins-quase-gigantes.


"Eu tenho que resolver uma coisa, Mary. Já volto" – ela murmurou para amiga que ainda continuava a falar, colocando a bichana siamesa em seu colo e levantando-se sem esperar uma resposta.


"Black" – ela o chamou, assim que ele terminou de descer o último degrau. Sirius a mirou com descaso, como se apenas esperasse que ela desembuchasse logo o que tinha pra dizer – "Oi, Pettigrew" – cumprimentou o outro que parou ao lado do moreno.


"Oi, Evans" – ele respondeu e depois levou alguns amendoins a boca. Ela então se voltou para Sirius que mantinha as mãos no bolso e continuava a aguardar.


"Vocês..." – ela começou, mas parou sem conseguir sustentar o olhar de Padfoot – "Vocês sabem onde o Potter está?"


Sirius e Peter se entreolharam desconfiados e miraram-na ao mesmo tempo de forma quase descrente.


"E o que você quer com ele?" – Black indagou, com uma de suas sobrancelhas negras erguida.


"Nada" – Lily falou sem pensar. Sirius, então franziu a testa – "Coisas da monitoria" – e antes que ele revidasse algo ela acrescentou - "Coisas urgentes da monitoria"


Os outros dois se encararam mais uma vez com um quê de interrogação. Ambos mediram a ruiva por alguns segundos, antes de Peter murmurar:


"Ele está na Torre de Astronomia"


"Ok" – ela respondeu – "Obrigada" – e caminhou para fora do salão comunal sem dizer mais nada.


"Estranho" – Peter comentou, enquanto ambos caminhavam para perto de Remus.


"O que é estranho?" – o lobisomem quis saber, abaixando seu livro, enquanto os outros dois se sentavam no sofá ao seu lado.


"A Evans perguntando pelo Prongs" – Sirius respondeu.


"É, ela me perguntou também" – contou.


"O que diabos ela quer?" – Padfoot murmurou curioso.


"Coisa da monitoria, ela não disse?"


"E você comeu essa, não é Wormy?" – Sirius rodou os olhos – "Pode ser tudo menos coisa da monitoria..."


Remus deu de ombros voltando para seu livro.


"Vocês acham que esse mau humor do James tem só haver com o jogo?" – Sirius indagou pensativo, coçando seu queixo e sua barba por fazer.


"Ele já estava assim antes do jogo" – Peter lembrou – "Na verdade ele está assim desde aquele lance com o Baltasar e a gata da Evans" – e apontou para a felina que miava em cima do colo de Mary Macdonald á dois metros deles.


Moony abaixou seu livro mais uma vez para encarar os outros três com uma expressão vacilante. Uma ruga se formou na fronte de Sirius e Peter parou de mastigar encarando os outros dois com os olhos questionadores.


"Vocês não acham que...?"


Silêncio. Os três continuaram a se encarar hesitantes, com seus pensamentos a mil.


"Nãããããão..." – eles responderam em coro, tentando afastar aquela idéia absurda de suas cabeças.


MMMM


O vento soprava gelidamente, afagando-lhe as bochechas e os cabelos. Estava debruçado sobre a sacada e observava sem interesse os terrenos do castelo, contemplando a ventania do outono levar as folhas velhas e marrons para longe e balançar levemente as águas do Lago Negro. Estava completamente absorto na confusão de seus pensamentos e no emaranhado de sensações que lhe consumia. Raiva, culpa, angustia, ansiedade... tudo lhe desconfortava, produzindo-lhe sensações incomuns por todo corpo. Estava cansado de tudo aquilo, estava saturado. Queria desaparecer dos olhares, fugir dos comentários. Não queria ver mais o time, não queria ter que conversar com os marotos e muito menos queria ter que cruzar com...


"Potter?" – a voz cristalina lhe chamou a suas costas de forma hesitante.


... Com ela.


Ele não se virou, apenas se limitando a suspirar e mirar o céu estrelado e a lua crescente, que lhe sorria de forma irritavelmente animada.


Ouviu os passos suaves e logo Lily Evans estava ao seu lado, com seus cabelos soltos emanando um perfume cítrico e sua presença preenchendo a torre.


Lily apoiou-se no corrimão também, contemplando a mesma vista que ele. Suas idéias confusas não a permitiam proferir algo ainda. Ela engoliu em seco, sentindo uma rajada fria passar por eles. O que falaria? Como começaria?


"O que você quer?" – ele indagou, mas sua voz não saiu fria e muito menos cortante. Saiu cansada e até mesmo melancólica.


A ruiva virou-se para ele encarando-o e observando seu perfil, que não se moveu da posição que estava desde que ela chegara ali.


"Vim conversar" – a voz saiu baixa, quase inaudível. James suspirou mais uma vez, voltando a encarar o lago escuro.


"Sobre o quê?" – disse também baixo.


"Por favor, não torne isso mais difícil"


James finalmente a mirou, analisando-a por alguns instantes.


"Você realmente falou isso?" – perguntou com descrença – "Só pode ser brincadeira"


Lily desviou seu olhar, encabulada com a ironia que proferiu sem perceber. Ela pôs uma mexa de seu cabelo que esvoaçava, atrás da orelha enquanto suas bochechas ardiam sem perdão.


"Não quis dizer isso" – desculpou-se – "Vim aqui em paz, juro"


James respirou fundo, mudando sua posição e ficando de costas para a sacada com suas mãos ainda apoiadas na mesma.


Eles ficaram em silêncio por alguns instantes. Lily sentia seu corpo quente e seu coração não parava de bombear nervosamente em seu peito. Ambos pareciam incomodados com a situação; ambos pareciam transtornados e inconformados. Nada saíra como planejado, nada fora como deveria ter sido.


"Me desculpe" – ela sussurrou, conformando-se que suas teorias sobre ele acusar-lhe estavam provavelmente erradas – "Foi minha culpa. Eu não imaginava que..."


"Pare com isso" – ele disse duro cortando-a e sem mirá-la – "Não foi sua culpa"


Ela mirou-o interrogativa.


"Você não me obrigou a nada, Evans" – esclareceu mirando seus sapatos, enquanto sentia o olhar da ruiva sobre si – "Eu fiz porque quis"


"Mas eu..."


"Você não estava com uma varinha apontada pra minha cabeça, estava?" – ele finalmente a mirou, e ela pode observar um brilho diferente em seus olhos. Um brilho raro de aparecer entre o tom castanho de suas íris. Seria tristeza? Seria raiva? Chateação? – "Eu perdi o jogo porque quis perder... Sabia muito bem o que aconteceria se fizesse..."


"Mas se eu não tivesse pedido que você..."


"Sabe, porque eu perdi?" – James a interrompeu. Lily ficou muda, fazendo de tudo pra encarar o olhar intenso que ele a dirigia sem desviar – "Eu me senti desafiado"


Lily estremeceu. Algo murchou dentro de si aos poucos.


"Eu disse que faria qualquer coisa..." – ele continuou – "E qualquer coisa é qualquer coisa. Não há exceções"


Ela ameaçou falar algo, mas ele não permitiu.


"Sabe, eu realmente queria que você saísse comigo. Queria mesmo... Sempre quis" – ele então sorriu de forma melancólica – "Mas não vale a pena"


Algo pareceu desmoronar no corpo da ruiva. Suas pernas ficaram bambas e a boca seca, evidenciando sua decepção ao escutar aquelas palavras. Toda a coragem que reunira para ir até ali e o tempo que levou para se convencer de que ele não a culparia, fora por água abaixo. Ele estava fazendo-a se sentir pior do se a acusasse, pior do que se jogasse a culpa em seus ombros. Ele estava descartando-a.


Ela mais uma vez abriu a boca para lhe rebater e mais uma vez ele não deixou:


"Sabe porquê não vale?" – Lily não teve tempo de responder – "Por que eu quero que você goste de mim"


Ela prendeu a respiração, sem compreender o que aquilo significava. O que havia de errado com ele? Ele a destratava e depois... depois dizia aquilo?


"Eu andei pensando muito estes dias e cheguei à conclusão de que eu não quero que você saia comigo porque prometeu fazer se eu perdesse o jogo. Eu não quero que saia comigo só para cumprir sua palavra ou por pena. Quero que saia comigo por querer de verdade. Por desejar de verdade"


Lily ficou sem reação.


"Quero que você goste de mim de verdade. Você queria uma prova? Eu te dei uma prova. Mas não quero de hipótese alguma que você seja obrigada a estar comigo só por causa dela. Basta só você saber que eu realmente faria tudo por você. Que eu realmente gosto de você"


"Potter..."


"Não quero nada que você não possa realmente me dar" – ele a interrompeu novamente.


"Potter, eu..." – mas ela não conseguiu terminar. Sua voz morreu em sua garganta e por mais que tentasse não conseguia processar nada em sua cabeça para responder aquela atitude do rapaz. Estava anestesiada; petrificada.


James então sorriu levemente de lado.


"Boa noite, Evans" – disse simplesmente e saiu dali, deixando uma atordoada e ainda mais confusa Lily para trás.


MMMM


O que diabos dera nele? Quanta tolice fora aquela? Ele havia acabado de perder a única oportunidade concreta que provavelmente teria na vida com Lily Evans. Acabara de deixar escapar por suas mãos a única chance que por anos sonhou em ter de poder finalmente mostrar a ela quem realmente era, de mudar os conceitos que ela tinha sobre si. Que idéia fora aquela de dizer-lhe aqueles... sentimentalismos tão atípicos para um cara com ele, James Potter, um maroto que era de certa forma exibicionista e autoconfiante?


Embora no fundo de seu ser, ele realmente quisesse conquistá-la de verdade, fazer com que ela se apaixonasse por ele, ele nunca pensou em externalizar estes sentimentos, nunca planejou compartir com ninguém aqueles desejos; muito menos com ela. Então o que acontecera para de repente ele simplesmente tomar aquela atitude de desistir de cobrar a promessa que ele mesmo ralara tanto para conseguir, seria um prêmio pela humilhação que ele passara durante todos aqueles dias, seria uma dádiva por seu esforço e sua força de vontade por estar agüentando toda aquela maldita pressão.


Caminhava pelos corredores com seus nervos a flor da pele. Estava realmente irritado e dessa vez, se fosse possível, ainda mais irritado do que antes. Mais irritado do que no momento que entregara a partida, mais irritado do que nos momentos que ouvira sussurrou e comentários sobre ele vindos dos outros alunos, mais irritado do que durante as insistentes terapias que tivera aqueles dias com os marotos e mais irritado do que quando fora conversar com o time e acabara por brigar com o apanhador substituto.


Mas a irritação dessa vez era consigo. Era com ele próprio. Por ele ter sido tão burro. Durante aqueles dias infernais ele pensara que Lily continuaria agindo como se nada tivesse se passado e se sentiu um tolo por pensar que ela falaria com ele. Mas para sua surpresa ela falara e fora aberta a dialogar, desculpar-se e cumprir sua proposta. E então o que ele faz? Ele simplesmente joga para o alto aquilo que mais queria. Aquilo que mais almejava.


E sabe o que era pior nessa maldita estória? O pior de tudo era que por mais que ele estivesse a ponto de quase se estrangular de tanta raiva de si e dos outros, ele sentia no fundo de sua alma que havia feito a coisa certa. Que havia agido da forma que deveria agir, que havia conduzido aquela situação infernal da melhor forma que poderia.


"Merda!" – exclamou alto reprimindo a vontade de chutar uma armadura antiga próxima a esquina que virara para um corredor.


Estava completamente cheio agora. Estava a ponto de literalmente acabar com qualquer coisa que estivesse perto de si. Queria descontar sua ira, queria aliviar seu peso que quase até lhe doía às costas. Queria uma válvula de escape para aquilo tudo. E como queria. Se não explodiria, se não sucumbiria.


Estava tão perdido em sua confusão que mal notava um palmo a sua frente, estava decididamente entretido por completo em suas sensações e idéias.


E foi quando ao dobrar uma esquina que trombou de frente com alguém.


MMMM


"Sério" – Peter murmurou – "Agora tudo faz sentido" - Remus rodou os olhos, levando uma mão a boca para abafar um bocejo – "O James a chamou para sair de novo, ele levou o maior fora da vida dele e ficou tão mal, mas tão mal que não conseguiu se concentrar no jogo e perdeu. Agora ela está indo atrás dele, provavelmente para se desculpar"


"Brilhante, Wormtail" – Sirius disse com alegria fingida – "Tirando o fato de que o Moony propôs essa teoria há uns quinze minutos atrás, foi realmente muito eficaz da tua parte"


Peter suspirou com derrota.


"Acho melhor deixarmos para lá" – Moony murmurou – "James tem os assuntos dele e tem certas coisas que não devemos nos meter"


"Ah, qual é, Remus?" – Sirius esbravejou – "Desde quando James não conversa com a gente sobre os assuntos dele?" – e coçando o queixo, concluiu com voz desconfiada – "Aí tem coisa. Se fosse um fora, ele teria falado com certeza. Foi algo mais..."


"Grave?" – Remus completou, erguendo uma sobrancelha – "Não vejo nenhuma outra alternativa além dessa"


"Será que a Evans ameaçou matar o Baltasar caso ele não deixasse a gata dela em paz, daí eles brigaram feio e por causa disso o Prongs ficou doente e não conseguiu pegar o pomo?"


"Aceitável para alguém como você, mas não para o James" – Sirius respondeu – "Ele não está doente, Wormy, e não ficaria por causa disso"


"A questão é que seja o que for devemos deixá-los se resolverem sozinhos" – Remus contrapôs – "De repente eles estão só discutindo coisas da monitoria mesmo..." –


"Sei" – Sirius disse descrente – "Mas o fato é que ele está realmente demorando..." – e depois de olhar para os dois lados para se certificar se tinha alguém espiando-os ali no salão comunal, puxou de seu bolso o pergaminho velho e sussurrou com sua varinha apontada para o mesmo – "Juro solenemente que estou mal intencionado" – e o Mapa do Maroto magicamente se abriu.


"E aí, cadê ele?" – Peter indagou curioso.


Sirius remexia o mapa devagar com cuidado para não chamar a atenção dos poucos alunos que ainda estavam ali.


"Aqui, achei" – respondeu – "Está virando a esquina daquelatapeçaria dos trasgos bailarinos. Deve estar vindo para cá e..." – Sirius hesitou – "O-ou!"


"O quê?" – Remus e Peter indagaram juntos.


"Problema" – Padfoot se ergueu, murmurando Malfeito Efeito rapidamente e colocando o pergaminho de volta no bolso – "Vamos lá"


MMMM


"Potter" – Severus Snape cuspiu seu nome com nojo – "Não olha por onde anda?"


"Snivellus" – James respondeu com raiva – "Sai da minha frente!" – e dando-lhe uma forte ombrada que fez o outro cambalear, continuou seu caminho até o salão comunal da Gryffindor, convencendo-se de que a melhor opção era ignorar o outro, antes que fizesse uma grande besteira.


Mas Snape não parecia querer ignorá-lo e gargalhou felinamente, antes de proferir:


"O que foi, Potter? Ainda não superou sua derrota? Como é deixar de ser um herói para se tornar um lixo qualquer?"


James parou de andar naquele exato momento, respirou intensamente, virando-se lentamente para o Slytherin. Aquilo não conseguiria ignorar. Não iria agüentar; não vindo do ranhoso Snape. Era demais.


"Cala boca, idiota" – ele respondeu entredentes, caminhando em direção do outro com passos lentos e ameaçadores.


"Eu sempre soube que você não era tudo aquilo que pensavam. Agora todos estão vendo o completo fracassado que você é de verdade. Você não passada de um falido, Potter. Não passa de uma piada. Eu sempre sonhei com o dia que você cairia, e o dia finalmente aconteceu"


"Cala essa maldita boca!" – ele sacou sua varinha agilmente, apontando-a para o outro rapaz. Snape ameaçou colocar sua mão nas vestes, mas James o repreendeu com ódio – "Nem pense nisso, Snivellus. Se não eu estouro tua cabeça sebosa"


Snape então começou a recuar alguns passos, mas quando ameaçou correr para dobrar a esquina e ter tempo de sacar sua varinha, James exclamou:


"Impedimenta!" - e ele caiu no chão de barriga para baixo. James começou a se aproximar cada vez mais, seus olhos fervendo em ódio. O outro tentou mais uma vez pegar sua varinha, conseguindo tirá-la até a metade das vestes, mas Prongs fora mais rápido e gritara – "Expelliarmus!" – e a varinha do Slytherin voou para fora de seu alcance. Severo então, colocou-se rapidamente de pé trotando passos em direção do objeto com tanto desespero que quase caia novamente – "Petrificus Totalus!" – O maroto murmurou quando o outro estava a meio metro de distância da varinha, e o corpo de Snape caiu duro no chão.


MMMM


A mente de Lily estava um verdadeiro labirinto. Apoiada na sacada da Torre de Astronomia, agora era ela quem mirava os terrenos de Hogwarts à procura de respostas e explicações para suas inacabáveis perguntas.


Estava realmente impressionada com a atitude que James tivera. Ele não fizera absolutamente nada que fosse esperado, nada lógico ou normal que fosse compatível com tudo que ela sabia sobre ele. Ele não a maltratara, e por mais que a tivesse dispensado de certa forma, havia motivos nobres para isso. Ele gostava dela.


A ruiva desprendeu seus olhos do lago e do gramado do castelo para mirar a noite estrelada e sem nuvens do outono. Aquela fora uma atitude digna de admiração. Ele fora sincero, fora verdadeiro e de certa forma, fora romântico. Lily sorriu levemente. Estava encantada. Nunca pensara que ele, James Potter, agiria de forma tão madura, passando por cima de seus desejos e de suas vontades, passando por cima de sua culpa e orgulho, para confessar-lhe que a queria de verdade.


Ela sentiu algo fervendo dentro de si, algo crescendo cada vez mais e tomando formas inesperadas e incontroláveis. Suspirou profundamente e fechou os olhos, decidindo que já era hora de finalmente aceitar o que por anos tentou encubar, o que por anos tentou se convencer do contrário: Ela tinha sim uma queda por ele, e agora, mais do que nunca, queria sair com o maroto e não havia mais motivos que a impedisse. Ele amadurecera, ele mudara e ainda por cima, lhe dera uma prova de amor. Ele não era mais o mesmo de antes, ela não precisava mais lutar contra aquilo que sentia.


Ela abriu os olhos, absorvendo da sorridente lua crescente a força que precisava. Iria procurá-lo novamente e dizer-lhe tudo que ficara preso em sua garganta. E tinha que ser naquele exato momento.


MMMM


James caminhou com passos arqueiros na direção de Snape, se fosse possível seus olhos estariam lançando faíscas naquele instante. Se fosse possível ele até poderia assassinar o Slytherin com o olhar. Encontrara sua válvula de escapa, encontrara em quem descontaria toda sua raiva.


Assim que chegou perto o suficiente de Snape, lançou-lhe um feitiço para que ele se erguesse e imprensou-lhe na parede mais próxima, com as suas mãos segurando seu colarinho fortemente, quase o sufocando.


"Repete, cobra asquerosa" – James ciciava com ódio em cada palavra – "Diga quem é o lixo agora!"


Snape o mirava de forma assustada e medrosa, ainda não podia se mexer por causa da azaração do corpo preso, mas seus olhos negros transpareciam agonia e desespero.


"Você é que não passa de um falido, Snivellus" – continuava apertando ainda mais as vestes do outro – "Um nojentinho imbecil que fica brincando de Artes das Trevas. Você é quem um lixo!"


E sem se conter mais, acertou-lhe um soco no meio da cara, bem em cima do nariz em forma de gancho, descontando toda sua raiva naquele ato; descontando naquela ação, todos os sentimentos que acumulara durante aqueles dias. Colocando tanta força em seu punho, quase machucando a si mesmo, prendendo seus dentes com tanta ira a ponto de por um triz não quebrá-los.


"POTTER!" – ele então ouviu e virou-se para mirar uma raivosa e chateada Lily Evans no final do corredor. A ruiva arfava sem crer na cena que acabara de presenciar, sem acreditar no que seus olhos acabaram de captar.


O nariz de Snape sangrava e ele só não carregava uma expressão de dor, porque estava ainda petrificado com o feitiço


Segundos depois os três marotos chegaram do outro lado do corredor. Mas James não pareceu notar, apenas se limitando em encarar os olhos de Lily; o sangue do Slytherin correndo por suas mãos.


MMMM


Notas da Autora: Peço desculpas pela demora em postar esse capítulo. Mas vocês sabem como é... São João viajei para o interior como todo bom nordestino. :D


De qualquer forma, esse até agora foi o capitulo que mais gostei de escrever. Espero que vocês tenham gostado também. Tentarei não demorar em atualizar.


Obrigada pelos comentários no capitulo anterior, e peço que continuem comentando!


Um beijo grande,


Cath

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Comentários (2)

  • Mallow Krum

    Ou, só tenho uma coisa pra dizer: o snape é um fdp. Nossa, não quero nem imaginar o draaaaaaaama que a Lily vai fazer. bem quando ela ia arrumar as coisas... NOSSA TOMARA QUE O SIRIUS ENCHA O SNAPE DE PANCADA KKKKKKK

    2011-09-12
  • Kika.Cerridween

    É o que eu esperava ...James tinha que sofrer um pouco ...crescer dói ...!!!rsrsrsrsrs... Quando eu pensei que tudo iria virar marmelada e que tava muito fácil de acontecer esse romance ..eis que surge Severus pra tirar do armário james "O Maroto" oculto pelo desespero de conquistar Lily que as vezes é tão infantil qnto ele , mas enfim.amei o desfecho do capítulo ....estou curiosa pra saber dos outros rolos românticos da fic ....Sirius ,Frank , Lupin ....aguardo o proximo na paz!!!!XD

    2011-07-09
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