Capítulo Sete




Love Lives Forever


Resumo:Entre escolhas e inseguranças no inicio de uma guerra, a única certeza que reinava nos corações daqueles jovens era que o amor, fosse ele entre parentes, amigos ou amantes, viveria para sempre.


Atenção: Harry Potter não me pertence!


CAPÍTULO SETE


Teus sinais me confundem da cabeça aos pés, mas por dentro eu te devoro. Teu olhar não me diz exato quem tu és, mesmo assim eu te devoro. Te devoraria a qualquer preço, porque te ignoro, te conheço, quando chove ou quando faz frio.


Djavan


MMM


James estava um caco. Cansaço não era a palavra certa para definir seu estado naquele momento. Cansaço era brincadeira de criança, perto da total e completa fadiga que seu corpo e sua mente se encontravam. Ele era decididamente um zumbi. Sentia-se um zumbi. Parecia um zumbi. Este era o resultado de quase dois dias sem pregar os olhos nem sequer por um segundo.


Remus era realmente sortudo de poder descansar na enfermaria depois das luas cheias. Claro que não culpava o pobre amigo por aquilo, afinal quem sofria as transformações de lobisomem, merecia um verdadeiro prêmio na opinião de Prongs. Mas Moony podia dormir o dia inteiro se quisesse, enquanto ele, Sirius e Peter... ah, eles lutavam para manter os olhos abertos durante todo o dia, para a noite voltarem a Floresta Proibida na companhia do amigo lupino.


Claro que matar algumas aulas era uma saída fantástica para tentar recuperar a noite perdida. Era exatamente aquilo que Peter e Sirius estavam fazendo naquele exato momento, deitados em suas camas, no conforto do dormitório. Outra alternativa era cochilar durantes as aulas mesmo; o que provavelmente Peter e Sirius fariam assim que retornassem para suas aulas. E quanto a ele? E quanto ao James?


James não podia.


Ser monitor era realmente muito desgastante, e ele sabia assim que recebeu a tal carta de premiação no verão, que não seria fácil. Ele tinha que dar o exemplo, como sua própria mãe o dissera quando leu a carta, como a Mcgonagall dissera assim que começou as aulas e como ele próprio se repetia todos os dias desde que assumira a monitoria. Ele sabia que seria difícil, mas nunca achara que seria quase impossível manter sua pose de Monitor-Chefe como estava sendo naquele dia. Tudo o que ele queria era jogar tudo para o alto e dormir o dia inteiro sem ter que dar satisfação aos alunos, aos professores ou ao diretor. Mas ele não podia, prometeu a si mesmo que seria um monitor exemplar e assim seria, mesmo que isso significasse perambular feito um moribundo pelo castelo, apenas para frequentar as aulas. Ele o faria.


Naquele momento andava pelos corredores, depois de sair da sala de Transfiguração (onde estava conversando com a Professora Minerva sobre as modificações dos passeios a Hogsmeade durante todo o horário de almoço) se esforçando ao máximo para manter os olhos abertos. Claro que Mcgonagall percebeu seu estado e lhe perguntou o que havia acontecido. Prongs nem se lembrava da desculpa que havia dado. Prongs nem ao menos se lembrava de ter tomado café da manhã e muito menos se lembrava que aula ele tinha naquele horário. Prongs só queria cama e acima de tudo, Prongs queria estrangular Peter, Sirius e Remus por poderem estar na cama.


Tinha total consciência que suas olheiras podiam ser vistas a metros de distância e que seu cabelo, se era possível, estava mais bagunçado que o normal. Sabia que sua gravata estava em qualquer lugar menos no pescoço, que sua blusa estava amarrotada para fora da calça, que seus sapatos provavelmente estavam desamarrados e que se tivesse tipo sorte, os botões de sua camisa estavam abotoados corretamente. Mas ele não se importava. Ele só queria saber, de verdade, que aula ele tinha naquele momento para poder arrastar seu traseiro para lá.


"Droga" – murmurou ao ouvir o sinal tocar, anunciando o final do almoço. Como num verdadeiro passe de mágica os corredores começaram a se inundar de estudantes, indo e vindo, deixando o maroto atordoado. Alguns alunos miravam-no com suas sobrancelhas erguidas, outros faziam caretas por ele estar estancado no meio do caminho empatando a passagem. Ele fechou os olhos por alguns segundos, tentando mentalizar qual seria seu caminho. Que dia da semana era aquele mesmo? – "Merda!" – ele exclamou, concluindo que se ficasse mais um segundo daquele jeito dormiria de pé mesmo.


Foi no momento que uma luz pareceu surgir quando reconheceu uma certa cabeça vermelha que adentrou o corredor vindo das escadas. Ele então acelerou o passo de encontro a ela. Será que eles tinham o mesmo período? Chegando a suas costas, ele juntou a energia que lhe restava para chamá-la.


"Evans" – sua voz saiu como um sopro de misericórdia.


Ela virou-se parando de caminhar, estudando-o por alguns segundos, observando o estado do rapaz e rodando os olhos sem proferir sequer uma palavra, voltou a caminhar, com cara de poucos, ou melhor, de "nenhum" amigo.


James a seguiu. Alheio a reação da garota, ele estava mais preocupado em não tropeçar e cair de cara no chão.


"Que aula você tem agora?" – ele disse. Ela não respondeu. – "Ei, eu estou falando com você"


Nada. Ela apenas continuou caminhando, pegando o caminho para a fora do castelo, e tentando ao máximo ignorar o garoto nos seus calcanhares.


"Evans?" – ele continuou. O sol do meio dia incomodou seus olhos.


Lily não aguentou mais. E virando-se para ele raivosa, respondeu:


"O que diabos você quer?" – ela indagou. Ele franziu cenho. – "Não está vendo que eu não quero falar com você!"


"O que há de errado com você?" – ele contrapôs – "Eu só te fiz uma pergunta... Custa responder?" – A garota fez uma expressão surpresa. Aquele garoto só podia ser louco! Logo a surpresa foi tomada pela fúria e ela ciciou entredentes:


"Você tá tirando uma com a minha cara por um acaso?" – ele ergueu as sobrancelhas sem compreender – "Você está achando o quê, Potter? Que eu sou idiota?"


"Do que você tá...?"


"Você cansou de perder tempo comigo, não é? Então não perca! Por favor, me deixe em paz!" – Tudo começou a fazer sentido na cabeça de James. Ele havia discutido com ela na noite anterior! Era por isso que ela estava furiosa! E ele também deveria estar se não estivasse tão cansado para sentir qualquer coisa. Lily o analisou novamente com uma expressão que James não soube decifrar, medindo as condições do garoto de cima a baixo – "Seu compromisso deve ter sido realmente muito importante, Potter" – ela disse azedamente.


"Eu..." – ele começou, tentando se explicar – "Quer saber, pense o que quiser..." – ele realmente não tinha energia o suficiente para gastar e não queria usar o pouco que lhe restava para discutir mais uma vez com ela – "Você não se importa mesmo, não é?"


"Não mesmo" – ela respondeu, mas sua voz falhou descaradamente, sorte que James estava muito morto para perceber.


"Ótimo" – ele deu de ombros, virando-se e começando a caminhar. Chegando a conclusão de que seja lá qual fosse a matéria que tivesse naquele período, ele tinha coisas mais importantes para fazer. E não era dormir.


"Ótimo" – ela falou alto, fazendo questão que ele escutasse.


James bufou, trotando seu caminho para a sala dos monitores, forçando seu cérebro a arquitetar o que tinha em mente. Aquilo havia virado questão de honra. Iria jogar uma água no rosto e fazer o que tinha de fazer. Dormir é para os fracos afinal. E James Potter definitivamente não era fraco.


MMMMM


Estavam todos em silêncio. O peso da responsabilidade parecia cair em cima de cada uma de suas cabeças, enquanto o discurso que o Professor Dumbledore dera depois do jantar girava na mente de cada um. Aquilo era fato. Aquilo era real. A guerra era real. E a responsabilidade como monitores também.


Sentados ao redor da mesa da sala da Monitoria, todos esperavam alguém comentar alguma coisa. Qualquer coisa. Já haviam se passado vários minutos onde tudo que passara fora o atordoado e inquieto som do silêncio.


Cansada da situação, Lily então pigarreou e resolveu começar de uma vez aquela reunião.


"Bom" – ela disse com a voz falha, mas que ela tratou de esconder – "Acho que todos já devem ter concluído que com isso tudo, devemos fazer algumas modificações com relação a nossas tarefas"


Silêncio. Lily engoliu em seco antes de continuar.


"A professora Mcgonagall recomendou que reforcemos as rondas pelo castelo com mais monitores por noite e que implantemos um sistema de rondas pelas ruas de Hogsmeade perante o último..." – ela hesitou – "acontecimento com os irmãos Smith"


"E como seriam essas rondas?" – Magnus Snaphlan indagou da ponta da mesa, sua voz saiu estranha ao ouvido de todos.


"Iremos nos dividir para fiscalizar os estudantes de Hogwarts junto com os professores" – Lily explicou – "Verificar se há algo suspeito acontecendo. Presar pela segurança de todos"


"E quem presa pela nossa, Evans?" – Elvira Cox murmurou. Todos viram-se para ela. Elvira suspirou, carregando uma expressão pouco comum ao seu costumeiro semblante decido – "Olha, eu sei que pode soar irônico" – ela confessou – "Sou uma Slytherin, não é?" – ela soltou um riso hesitante – "Sei que minha casa não tem boa fama, mas nem todos a merecem" – Ela suspirou, todos concordaram mudamente – "Mas será que não é arriscar continuar com os passeios á Hogsmeade? Será que não é melhor... cancelar todos?"


A ruiva abriu a boca para responder, mas nada lhe pareceu bom o suficiente para contrapor. Silêncio novamente. O que Elvira falara fazia total sentido, mas no fundo do coração de Lily, ela sabia que aquela não era a melhor solução. Aquela era uma forma de se entregar ao terror que iniciava e ela realmente não queria se entregar. Mas como fazer Elvira e os outros compreenderem?


"Eu discordo" – James murmurou. Seu estado ainda se encontrava lastimável, mas sua força de vontade o fazia continuar a prestar atenção em tudo. Todos viraram seus rostos na direção do monitor-chefe que até aquele momento não havia dado sinal de vida – "Olha Cox, eu entendo" – ele disse mirando a garota. E depois mirando todos ao redor da mesa com seus olhos cansados, mas que mesmo assim transmitiam uma decisão incrível – "Eu realmente entendo que todos devam estar apreensivos com essa situação, mas... É justo deixarmos nosso lazer de lado? Deixar um dos únicos momentos que nós temos aqui em Hogwarts de relaxar, para ficarmos trancafiados? Ir a Hogsmeade é um escape afinal. É um desligamento de tudo que está acontecendo para podermos nos divertir um pouco com nossos amigos. E posso falar por mim, que como monitor, farei de tudo para proporcionar essas horas de lazer para meus colegas e se fiscalizar as ruas é uma forma de ajudar os professores, eu farei" – ele fez uma pausa e logo finalizou, sentando-se – "Precisamos de alegria em momentos difíceis, se não, não tem como viver"


E mais uma vez o silêncio. Embora Lily pudesse jurar que conseguia ouvir as batidas de seu coração que agoniadamente quase lhe atravessava o peito. A confusão apertava-lhe a mente. O que era aquilo afinal? Aquele rapaz era o mesmo irritante James Potter daquela manhã? Como?


"Eu concordo plenamente" – Matthew Green murmurou, batendo uma mês na mesa – "Podem contar comigo"


"Comigo também" – Gabriel Holmes, o monitor quintoanista da Gryffindor falou. Enquanto muitos outros também concordavam.


"Elvira" – Lily chamou a garota para que esta lhe encarasse – "Por favor, não se sinta obrigada a nada, se você..."


"Eu farei" – Elvira disse decidida, depois de um suspiro – "Eu só... estou..."


"Todos nós estamos" – Magnus respondeu antes mesmo que ela terminasse, oferecendo-lhe um sorriso sincero, ao que a garota retribuiu timidamente.


"Digo isso para todos" – Lily murmurou com uma expressão um pouco vacilante – "Se alguém não quiser, entenderemos"


O silêncio se instalou novamente na sala, enquanto todos se entreolhavam como num acordo.


"Vamos deixar essa ladainha de lado antes que eu coloque meu jantar pra fora" – Albion Morris falou rodando os olhos – "Precisamos de um planejamento urgente então, não é?" – murmurou erguendo as sobrancelhas para os monitores-chefes – "Neste final de semana nós temos visita a Hogsmeade"


"Bom" – Lily começou um pouco encabulada – "Eu estou trabalhando nisso. A verdade é que ainda não tive muito tempo para organizar tudo, fiquei um pouco ocupada com alguns deveres, por isso..."


"Por isso, eu adiantei algumas coisas" – James a interrompeu sacando sua varinha do bolso e fazendo um grande pergaminho que estava na estante flutuar até a mesa, numa posição onde todos pudessem vê-lo – "Aqui estão horários, postos e revezamentos. Coloquei o nome de todos aleatoriamente, só como sugestão. Temos que lembrar também que têm os terceiroanistas que precisamos orientar, mas acho que tá tudo aí"


"Pra mim está ótimo" – Gabriel comentou depois de um tempo, após analisar os horários feitos por James – "Acho que ficou bem distribuído e sem sobrecarga"


"Bom, eu estava pensando em adiantar alguns deveres no final da tarde" – Caldina Melborne, monitora da HuflePluff comentou – "Queria voltar mais cedo pro castelo. Alguém que está colocado mais cedo quer trocar comigo?"


Enquanto os monitores chegavam num consenso. Lily pareceu a única completamente perdida naquela sala. A garota mirava James com uma expressão que mesclava a surpresa e a perplexidade. Como o garoto conseguira fazer aquilo afinal? E desde quando James Potter tinha iniciativa para fazer qualquer coisa?


MMMM


"Boa noite" – Mathew disse ao deixar a sala, logo depois de entregar alguns pergaminhos com seu relatório para Lily e acenar para um esgotado James que estava sentado em um dos sofás fingindo ler o relatório deixado por Caldina; o maroto respondeu com um gesto de cabeça, o máximo que ele conseguia fazer.


Elvira escreveu algumas últimas palavras em seu pergaminho, e ao se levantar da mesa, também o estendeu para a garota e saiu do local sem dizer uma palavra, deixando apenas os monitores-chefes na sala. Lily suspirou, mordendo os lábios levemente, resolvendo ir atrás da morena.


"Elvira" – ela a chamou, indo em sua direção no corredor á poucos metros da porta da sala dos monitoras. A Slytherin se virou, encarando a outra interrogativa. Lily a mirava preocupada – "Está tudo bem?"


A morena franziu o cenho.


"Quero dizer com relação a isso tudo. Você me pareceu um pouco..."


"Não é nada" – ela a interrompeu, balançando a cabeça negativamente.


"Tem certeza? Pode me falar se quiser..."


Elvira mirou Lily com espanto, conseguindo ver a solidariedade verdadeira nos olhos verdes da ruiva. Algo realmente raro na opinião da outra e que a surpreendeu imensamente.


"Porque se importa, Evans?" – ela indagou curiosa.


"Porque você não está bem. E eu quero ajuda, se você me deixar. Pode falar comigo"


A garota hesitou por um instante, mas algo no fundo dos olhos da Gryffindor, a fez se sentir segura para desabafar. E ela precisava imensamente disso.


Suspirou, afastando a franja negra que lhe saia do rabo de cavalo, como se criasse coragem e revelou:


"Minha mãe é trouxa" – Lily assentiu como se pedisse que ela continuasse – "Ela trabalha no ministério na sessão de Mal Uso Dos Aterfados Trouxas" – Sua voz tremeu – "Eu tenho muito orgulho dela. Não me sinto envergonhada por ser mestiça, mas..." – ela hesitou sua voz embargada– "Com todos estes desaparecimentos, eu... eu tenho medo que ela..."


"Elvira..."


"Eu não sei se ela..."


Lily então a abraçou. Elvira arregalou os olhos em surpresa, não sabendo como se portar com a ação da ruiva.


"Tudo vai ficar bem" – a Gryffindor murmurou tranquilizando-a – "Tenho certeza que o que sua mãe menos quer é te ver preocupada"


Elvira se afastou mirando Lily impressionada.


"Como você sabe que tudo vai ficar bem?"


"Eu não sei... Mas é o que devemos acreditar. Eu só sei que nossa alegria e força de vontade, são o que fortalece aqueles que amamos, não nossos medos"


"Você é uma pessoa muito boa" – ela disse, exibindo um sorriso tremulo – "É como minha mãe. Você se preocupa com o bem estar dos outros, mesmo eles não sendo seus amigos. Isso é tão..."


"Trouxa?" – Lily sugeriu. Elvira sorriu.


"Nem minhas amigas me perguntam como eu estou" – ela explicou – "E nós nem somos amigas e você mesmo assim se importa" – Lily deu de ombros, exibindo um pequeno sorriso – "Você e o Potter são pessoas incríveis"


O sorriso da ruiva deu lugar ao quê de indagação.


"Achei muito bonita a explicação de continuar com os passeios a Hogsmeade para podermos esquecer um pouco toda essa situação" – ela relatou – "Mas sinto lhe dizer que não é só em Hogsmeade que o mal pode estar" – ela concluiu séria – "Boa Noite, Lily. E muito obrigada" – e caminhou em direção das masmorras.


A ruiva tentou assimilar por alguns segundos o que a Slytherin havia insinuado, mas logo voltou sua atenção para a sala da monitoria. Ou melhor, para quem estava na sala da monitoria, ao se lembrar do que a própria Elvira falara do outro monitor-chefe.


Potter a havia impressionado duas vezes aquela noite e por mais que tentasse ignorar, ela não podia deixar de sentir um certo incomodo ao constatar que ela gostara imensamente de ver aquela lado maroto. Afinal o Potter não tinha responsabilidades, Potter era egocêntrico e não se preocupava com a felicidade alheia, além da sua própria. O que fora aquilo afinal? Quem era aquele rapaz lá dentro?


Lily balançou a cabeça, espantando aquele pensamento ridículo da mente e retomando sua postura decidida. Havia alguma coisa de errado naquela história toda. Potter era o mesmo de sempre, ele mesmo provara aquilo quando acertou Snape há dias atrás. Ela o conhecia o bastante para saber que havia algum dedo de traquinagem por trás dessa pinta de bom monitor. E ela iria descobrir.


E foi com estes pensamentos que ela adentrou a sala.


"Potter, o que você pensa que...?" – Lily parou assim que mirou o maroto.


James estava jogado no sofá, com os pergaminhos espalhados por sua barriga, o corpo magro deitado sobre o estofado e com uma mão pendendo no chão, segurando seus óculos inconscientemente.


Ele cochilava.


"Potter" – ela o chamou. O rapaz não se moveu, mantendo seus olhos fechados e sua respiração compassada – "Potter" – ela tentou um pouco mais alto. Mas o maroto continuou na mesma posição.


Lily arrastou-se devagar para perto do sofá. Talvez devesse sacudi-lo? Potter parecia realmente exausto aquele dia, fruto de seu compromisso muito importante, deduziu a garota. Ela chegou até o móvel, observando o rapaz de cima.


James carregava uma expressão serena e até mesmo aliviada. Seus lábios estavam levemente entreabertos e seu peito ia e vinha em movimentos sincronizados. Lily se deteve a mirar os olhos fechados e o nariz afilado, percebendo pela primeira vez que o maroto possuía leves sardas espalhas por este e que suas sobrancelhas eram grossas e bem delineadas. Ela sentiu seu coração disparar, e uma vontade insana de tocar o rosto do rapaz cresceu dentro de si. Queria saber qual seria a textura de sua pele, a temperatura de seu corpo, o sabor de seus...


Ele abriu os olhos lentamente, quando um dos pés da ruiva bateu sem querer no pé do sofá, mexendo-o de leve; ela havia inconscientemente caminhado para mais perto, e acabou por trotar no móvel, despertando-o. James encarou os orbes esmeralda, meio desfocalizados por sua miopia, que o encaravam de cima e não demorou nem um segundo para reconhecê-los como sendo os de Lily. A garota sentiu o fôlego lhe faltar ao ser mirada pelas íris castanhas, que lhe pareceram ainda mais vivas e intensas que o normal.


"Evans?" – ele a chamou, fazendo-a despertar e se afastar do estofado com rapidez.


"Aqui não é lugar para tirar sonecas, Potter" – ela murmurou, sentando em uma das cadeiras da mesa, ficando de costas para ele, afim de esconder seu nervosismo, enquanto James também sentava-se no sofá.


"Você parecia está apreciando minha soneca" – ele brincou, no entanto num tom cansado, recolocando seus óculos no rosto.


"Eu ia te acordar" – ela disse ligeiro, organizando os pergaminhos de qualquer maneira e levantando-se para coloca-los na estante.


"Ainda bem que me acordou" – ele murmurou – "Estou atrasado" – e usou todas as forças que milagrosamente lhe sobravam para se erguer.


Lily virou-se atordoada para o maroto.


"Você vai sair neste estado?" – ela indagou antes mesmo que pudesse se controlar, reprimindo-se por mostrar sua indignação tão descaradamente para o maroto.


"Eu tenho um compromisso" – ele justificou simplesmente.


"Que seja. Não é dá minha conta" – falou tentando soar o menos irritada possível, sentindo raiva de si mesma pelo fato de os compromissos dele a incomodar tanto – "Dá próxima vez, só tenha um pouco de humildade e não me faça fazer papel de besta na frente de todo o mundo, por favor"


James franziu o cenho, enquanto tentava compreender a acusação da garota.


"Do que você está falando?" – ele indagou, enquanto observava-a enrolar alguns pergaminhos que ainda estavam jogados na mesa.


"Como assim de que eu estou falando?" – ela rebatou – "Agora eu intendi tudo, você armou para que eu parecesse incompetente na frente dos outros monitores" – Ele arregalou os olhos indignado.


"Você está insinuando que eu fiz o projeto das rondas pra te sabotar?"


"Pra que mais você faria, Potter?" – ela indagou deixando finalmente os pergaminhos de lado para participar efetivamente daquela briga. Mais uma briga.


"Por Merlin, Evans. Será que você passa vinte e quatro horas de seu dia achando que eu estou aprontando algo pra você?"


"Porque diabos você fez então? Ontem à noite você não estava nem aí para isso. Como que hoje você me aparece com o projeto pronto e me diz que não era pra me atingir?"


"Eu não fiz pra te atingir! Eu passei a tarde inteira fazendo essa porcaria de projeto para poder apresentar na reunião de hoje de noite! Será que até quando eu faço algo de útil você tem que brigar comigo?"


Lily abriu a boca para responder, mas qualquer desculpa lhe escapou dos pensamentos quando ela constatou que James se aproximava dela furioso.


"Será que até quando eu estou cumprindo com meus deveres, você tem que achar que eu estou fazendo algo de errado?" – ele chegou bem perto, abaixando um pouco sua cabeça para murmurar aquelas palavras, causando um arrepio descontrolado por toda espinha da garota. Lily sentiu seu rosto arder e suas pernas bambarem. E por mais que seu cérebro lhe mandasse se afastar, ela não conseguia – "O que há de errado com você?"


"O que há de errado com você?" – rebateu, mais para si do que para o maroto, tentando compreender o que havia de diferente com o rapaz que a impedia de se afastar, como sempre fazia. Porque depois de todos aqueles anos ela não estava mais conseguindo resistir a ele como sempre resistiu? Porque Potter estavam tomando atitudes que ela nunca pensava que ele teria? E porque agora toda aquela briga parecia ser apenas estupidez da parte dela?


"Eu queria te mostrar que sou responsável" – Cicio baixo, sem desgrudar os olhos dos dela – "Queria te mostrar que posso administrar meus compromissos com minhas obrigações como monitor, para ver se você tira de uma vez por todas essa ideia de que eu não ligo para nada, da sua cabeça. Mas você sempre consegue distorcer tudo, não é?" – Lily não respondeu, a proximidade do corpo do rapaz a impedia de raciocinar. Ele então suavizou sua expressão, falando calmamente – "Por Merlin, Evans. Eu nunca iria querer te fazer passar por constrangimento algum. Eu só queria que você entendesse que eu posso sim fazer minhas tarefas. Eu queria te provar que eu não sou quem você pensa que eu sou. Eu queria te prova que eu..." – então hesitou, lembrando-se que ele prometera a si mesmo que não deixaria mais seus amigos esperando por causa dela e já estava atrasado no final das contas; não queria que o episódio com Remus se repetisse. Sua vontade era de ficar para poder colocar a relação deles, se é que eles tinham uma, a limpo, mas sua mente já estava cansada de tanto se esforçar e não receber nenhum reconhecimento da ruiva. Estava de verdade farto daquilo tudo - "Esquece" – ele disse num suspiro – "Eu tenho que ir" – falou por fim, deixando a sala.


Mal sabia James que tudo que ele falara mexera com a ruiva de tal forma naquele momento que por um segundo não havia mais barreiras entre eles. Lily ficou estancada no mesmo lugar por um tempo depois da saída do maroto, esperando seu cérebro voltar a funcionar de forma racional e eliminar qualquer vestígio daquela louca vontade que teve de se jogar nos braços de James Potter.


Aquilo estava acabando com ela. Estava a torturando infinitamente, dia a após dia. A fazia agir como idiota, a fazia tomar atitudes estúpidas para tentar mascarar aquela fraqueza. Acusar deliberadamente o maroto estava sendo a única saída que encontrava para tentar justificar o que ela não estava conseguindo mais controlar. O que diabos havia de errado com o rapaz que a estava deixando tão vulnerável?


E naquela noite, Lily mal pôde dormir lembrando-se de aquela fora a primeira vez que vira James Potter sem seus óculos¹.


E naquela noite, um cervo dormiu tranquilo debaixo de uma árvore na Floresta Proibida, enquanto um lobo, um cachorro e um rato brincavam de caçar morcegos, alheios a qualquer conflito que aqueles dois passaram durante aquele dia.


MMMM


A semana passou num piscar de olhos. E durante todos os dias Lily concentrou-se em observar James de longe, tomando a devida precaução para que ele não percebesse. James parecia cansado durante todos aqueles dias, parecia praticamente lutar para não dormir durante as aulas. Ela observou que Black e Pettigrew não se encontravam diferentes do outro e ela não se lembrava de ter visto Remus durante algumas aulas, apenas vez ou outra e este parecia tão acabado quanto os outros. Lily então concluiu que o tal compromisso de Potter deveria ser com os outros marotos, o que internamente a aliviava, mesmo que ela tentasse negar. Mas isso lhe instigou a pensar na possibilidade de ser alguma das traquinagens dos marotos. Eles não andavam aprontando aquele ano, talvez eles tivessem planejando alguma volta "triunfal" ou coisa do tipo. Mas isso ela nunca iria descobrir, pois como se fosse do nada, os quatro desapareciam sem deixar rastros ou pistas para a garota.


Lily percebeu que mesmo cansado, James continuava com seu jeito traquinas de falar, com sua mania de bagunçar os cabelos, com seu jeito meio arrogante de assistir as aulas como se já soubesse de tudo que seria dito. Ele parecia o mesmo Potter. O mesmo desde quando conhecera. Mas em contra partida havia algo nele que lhe era diferente. Algo no mesmo jeito traquinas de falar, de mexer no cabelo, de assistir as aulas. Ela não sabia explicar. Ela não fazia ideia do que era aquilo. Ele era o mesmo. Mas o que era isso que a incomodava agora que não a incomodava antes? O que diabos havia de errado?


Acontece que às vezes não encontramos as respostas quando olhamos para um único ponto. Às vezes devemos olhar ao redor dele. Se Lily tivesse prestado mais atenção quando estava se dirigindo para aula de Defesa Contra as Artes das Trevas naquela quinta -feira, teria percebido logo a diferença que ela tanto tentava descobrir. Enquanto Lily se concentrava em mirar se havia algo de esquisito no jeito de caminhar de James, o maroto de óculos acabava de passar por Severus Snape no corredor. Se ela olhasse ao redor perceberia que não havia nada de diferente em James Potter, a diferença estava nas ações de James Potter. Em que universo o velho James Potter passaria por Severus Snape sem azará-lo? Em que mundo o velho James Potter perderia a oportunidade de zombar do Slytherin no meio de um corredor cheio de alunos? Aí estava a mudança. Estava bem ali. Dependia apenas de Lily percebê-la.


MMM


"Viram? Não foi tão mal assim" – Marlene comentou, tirando seu cachecol, e jogando-se em sua cama.


"Claro que não" – Mary murmurou rodando os olhos, desfazendo o rabo de cavalo e remexendo o cabelo cacheado na tentativa de arrumá-lo – "Tirando o fato de que eu me senti como se tivesse retornado ao terceiro ano na minha primeira visita a Hogsmeade com todos aqueles professores nos observando no Três vassouras, foi tudo perfeito! Fiquei até com vergonha de pedir cerveja amanteigada!"


"Não seja exagerada" – Alice disse, enquanto Marlene bufava – "Só havia a professora Mcgonagall e o professor Flitwich lá. E eles estavam conversando o tempo inteiro"


"Fingindo conversar" – a loira concertou – "Eles estavam nos observando o tempo inteiro!"


"Esse é o plano, Mary" – Lily comentou – "E eles não estavam lá pra contar quantas cervejas amanteigadas você estava tomando. Estavam para nos monitorar"


Agora foi a vez de Mary bufar.


"Hogsmeade era pra ser nossa diversão" – ela contrapôs, sentando-se em sua cama e fazendo bico como uma criança.


"Melhor que ficar aqui no castelo" – Marlene disse.


"Eu particularmente me senti... segura" – Alice falou. Um silêncio se estalou no quarto. Mary deitou seu corpo na cama, mirando o teto enigmática, enquanto Alice sentava-se na cadeira da penteadeira, Marlene brincava com seu cabelo como se aquilo fosse a coisa mais interessante do mundo e Marshmallow pousava no colo de Lily assim que ela sentou-se na cama também.


"Eu só queria que tudo voltasse ao normal" – a loira disse numa voz fraca.


"É necessário por enquanto" – Lily respondeu, alisando o dorso da felina em suas pernas – "Vai se acostumar"


"Desculpem" – Mary falou – "É só que..." – ela hesitou – "Eu não consigo ser como a Janice Müller e o Lantis Mcborneed e ficar dando amassos incessáveis no fundo do bar como se nada tivesse acontecendo"


"Então é daí que vem esse mau humor todo" – Marlene brincou, conseguindo arrancar algumas gargalhadas das outras, finalmente descontraindo aquele clima tenso.


A onda de risos foi cortada por uma coruja preta que bicou a janela estressada. As quatro se entreolharam interrogativas. Alice se ergueu, abrindo a janela e permitindo a entrada da ave, que mostrou a pata elegantemente, exibindo um envelope roxo. A garota desamarrou o cordão da coruja e essa partiu tão depressa quanto apareceu.


"É pra você, Lily" – ela informou, depois de ler o nome da ruiva escrito com capricho na parte detrás do papel. Alice entregou-a para a garota que a abriu e leu com atenção. Ela soltou um suspiro, dobrando o envelope e depositando na cama.


"O que é?" – Mary perguntou curiosa, assim como as outras duas que esperavam a resposta de Lily.


"Professor Slughorn" – ela respondeu simplesmente – "Ele vai dar uma festa de Hallowen"


"Festa de Hallowen ou enterro?" – Marlene brincou perante a expressão desinteressada da amiga.


"Vocês sabem que eu não curto muito as festas do Slughorn" – ela respondeu, voltando a fazer caricias em Marshmallow que ainda se encontrava em suas pernas – "É tudo tão... superficial. Ainda mais com tudo que está acontecendo..."


"Você sabe o que eu daria para ser do Clube do Slugue?" – Mary falou indignada.


"Você fala isso porque ele não te aluga o tempo inteiro que nem ele faz com a Lily" – Marlene murmurou, remexendo-se na cama para melhor encarar as outras – "Eu não faço questão alguma"


"Ele é uma pessoa boa" – Lily garantiu – "Um pouco interesseiro talvez, mas tem um bom coração"


"E um bom gosto pra festas também, não?" – a loira indagou – "Todos falam que as festas são um barato!"


"Se você gosta de bajulação, é só isso que tem na festa"


"E porque você sempre vai se não gosta?" – Alice indagou, depois de rir do comentário da ruiva.


"Eu já te disse" – Lily rodou os olhos – "Eu não quero decepcioná-lo"


"Claro que não" – Marlene sorriu marota – "Você é a favorita dele. E olha que seus pais não são os donos do Profeta Diário e nem seu tio o Ministro da Magia!"


Mary suspirou resignada.


"Eu só queria ser boa em poções" – ela confessou numa voz manhosa, largando-se na cama de forma derrotada.


"Se você quer tanto ir eu te levo. Posso levar um acompanhante"


Mary levantou-se de súbito.


"Nem morta" – ela falou. Lily franziu o cenho sem compreender


"Acompanhante, Lily, quer dizer que você tem que levar um par" – Marlene explicou – "Não uma mala..."


"Muito engraçado, Lene" – a loira ciciou, enquanto as outras duas riam – "Mas é isso mesmo. E além do mais essa é sua oportunidade de sair com algum garoto, não é? Se eu não posso ser do clube do Slugue, quero ao menos que você se divirta de verdade por mim!"


"Eu não quero sair com ninguém" – Lily murmurou – "Prefiro levar você, pelo menos assim podemos fofocar sobre o pessoal" – ela piscou divertida para a loira.


"Tentador, mas recuso a proposta" – Mary respondeu – "Me diga, Lily. Qual foi a ultima vez que você saiu com alguém? Aqui no castelo, durante as férias não conta. E digo sair de verdade!"


Lily pensou por alguns segundos.


"Eu sai com o Stefan Biggs no ano passado" – ela deu de ombros.


"Stefan Biggs?" – Mary rodou os olhos – "Você tá de brincadeira, não é?"


"Você mesma disse que o encontro foi um desastre" – Alice lembrou.


"Quem diria, não é?" – Marlene indagou – "Ele parecia tão legal"


"Ele não parava de falar um segundo sobre o qual o pai dele era amigo dos Duendes de Gringots" – Lily lembrou rindo baixo – "Tudo que eu queria era que aquilo acabasse logo!"


"Então, viu?" – Mary disse com um sorriso traquinas – "Essa é sua chance de chamar alguém que você realmente queira. Você precisa relaxar, Lily"


"Concordo" – Alice disse.


"Totalmente" – Marlene assentiu – "Você não tem ninguém em mente?"


O coração da ruiva falhou uma batida e ela pediu aos deuses que seu rosto não corasse. Ela lançou um olhar de esguela para Alice, que a mirava com um sorriso maroto nos lábios. Como ela demorou de responder, Mary completou:


"Pois então se adiante, você tem menos de uma semana para chamar alguém. Ao menos que você queira esperar que algum garoto que seja do Clube do Slugue te chame... É uma opção também. Mas ficar esperando é chato, né? E também eu acho que chamar alguém de fora é mais interessante e..."


Mary falava sem pausa, enquanto Marlene rodava os olhos, ambas alheias aos conflitos internos incessáveis que se passavam dentro da cabeça da ruiva e que apenas Alice tinha uma pequena noção do quão grande eles eram.


MMMMM


"Por obsequeio, poupem meu sofrimento e me lancem um Avada Kedrava de uma vez" – Sirius sussurrou tedioso, escorregando na cadeira, enquanto mirava completamente desinteressado o Professor Flitwich explicar a origem do feitiço da conjuração de fogo e de como controla-lo pela mente – "Não acredito que terei que esperar três semanas para a próxima lua-cheia"


"Espero que não esteja brincando sobre lhe lançar uma azaração, Sirius" – Remus ciciou, lançando um olhar mortífero para Padfoot mesmo com seu ar fadigado e cansado – "Estou prestes a fazê-lo"


"Acho que se tivesse mais um dia de lua..." – Remus mirou James congelante – "Digo, de vocês sabem o quê..." – ele corrigiu erguendo as sobrancelhas para Moony, que assentiu que ele prosseguisse – "...eu morreria. Não que eu não goste, claro. Mas estes últimos dias foram um caos. É bom descansar... Pra mês que vem" – ele concluiu com um sorriso traquinas.


"Por mim poderia ter lua-cheia todas as noites" – Peter comentou, ignorando o olhar assassino que Moony lhe dirigiu – "Eu ficaria mais que satisfeito"


"Falem por vocês..." – Remus disse, mirando o professor e tentando se concentrar mesmo com a falação dos amigos – "E vamos encerrar o assunto antes que alguém escute e além do mais, aqui não é lugar pra bater papo"


"Aqui não é lugar pra bater papo" – Padfoot falou numa falsa imitação da voz de Remus, que suspirou derrotado, desistindo de proferir qualquer coisa que reprendesse o amigo. Sirius balançou a cabeça, afastando seus cachos dos olhos e completou no seu tom de voz habitual – "Eu estou morrendo de tédio, se eu não conversar vou explodir"


"E eu vou dormir" – disse Peter num bocejo – "Ei, vocês estão sabendo que o Slughorn vai dar uma festa de Hallowen?"


"Se essa não fosse no mínimo a milésima vez que você fala isso, eu poderia até fingir surpresa, Wormy" – Sirius disse rodando os olhos, e recebendo o olhar censurado de uma garota de óculos na sua frente que tentava se concentrar nas explicações do professor.


"Já que vocês não vão calar a boca, podem pelo menos falar baixo?" – Remus sussurrou – "Eu sinceramente não quero me dar mal"


"A questão é que, como eu já te disse, meu caro Wormtail..." – Sirius continuou ignorando Moony – "Eu não faço questão alguma de entrar naquele ninho de cobras. Eu acho que eu vomitaria assim que pisasse lá"


"Nem todos são tão maus, Padfoot" – Prongs murmurou.


"Você fala isso porque sua querida Evans faz parte do Clube do Slugue, certo Prongs?" – Peter concluiu com as pesadas e despenteadas sobrancelhas erguidas e voltando-se para Sirius, continuou – "E você fala isso porque o Regulus também faz..."


Moony abafou uma risada, anotando algumas observações da aula num pergaminho.


"Pensei que você não quisesse participar da conversa, lobo pulguento" – Sirius ciciou para Lupin – "E eu estou pouco me lixando para o fato de Regulus fazer parte do Clube do Slugue. Estas festas devem ser iguaizinhas aos jantares dos Blacks; eu já estou farto de ficar cercado de hipócritas se gabando o tempo inteiro"


"Pois eu não vou mentir que queria sim fazer parte do Clube, só pra comer e beber a vontade nas festas" – James disse danto de ombros – "Uma pena que eu não goste de poções e nem elas gostem de mim"


"Pois então, convide a Evans para ir com você. Assim você vai na festa, enche o bucho até estourar e traz guloseimas para mim"


"A Evans de novo?" – Sirius falou - "Ela não é única garota que recebeu o convite sabiam?"


James suspirou.


"Sem contar que estamos brigados" – ele confessou – "E não acho que ela aceitaria meu convite, Wormy"


"Pra variar..." – Padfoot comentou.


"E além do mais, é ela quem tem que convidar alguém" – Remus falou – "O convite é dela"


"Agora você quer participar da conversa, Moony?" - Sirius desdenhou. Remus bufou.


"Só estou lembro isso a vocês" – disse ele, voltando-se para seu pergaminho.


"Que seja. Vá com outra garota, então. Se você estalar os dedos vai aparecer no mínimo umas cinco garotas do Clube do Slugue querendo ir pra festa com o Monitor-chefe e capitão do time da Gryffindor" – Peter comentou, mal percebendo da veracidade de suas palavras.


"Patético" – Remus comentou, sem desviar os olhos de seu pergaminho.


"Eu acho que Wormy tem toda razão" – Sirius confessou – "Merlin, isso soa muito mal!" – ele falou arregalando os olhos em gozação.


"Hilário" – Peter desdenhou – "Eu tenho razão... ás vezes"


"Eu não intendi" – James disse, pulando os últimos comentários.


"Veja bem" – Sirius começou – "Se você quer ir a essa festa, você pode ir James. Pode ser que nem todos sejam insuportáveis dentro de Clube Slugue, mas a maioria gosta de contar vantagem. Que garota não iria querer ir à festa com James Potter?"


"Lily Evans?" – Peter indagou, com uma sobrancelha erguida.


"Esse é o meu ponto" – Sirius falou – "Embora eu realmente não entenda toda essa sua insistência em relação Evans, vai ser ótimo se ela chegar a festa e te vir com outra garota. Elas adoram descasos, meu caro. Ela vai se sentir enciumada"


"Ou vai achar que o James é um baita de um mentiroso, que diz que gosta dela e sai por aí com outras garotas..." – Moony murmurou.


"Pois se ela quisesse ir à festa com o James, ela chamaria o James, não?" – Sirius falou, franzindo o cenho – "Pois bem, faça o seguinte: se alguma garota te chamar, você aceita e vai. Se não, paciência..."


"Eu não sei não..." – James disse duvidoso.


"Pense nisso..." – Sirius sugeriu piscando um dos olhos – "Joguinho de ciúmes nunca falha"


"Senhores Black, Potter, Lupin e Pettigrew. Vocês já devem dominar o controle do Fogo para estarem num papo tão animado, não? Pois bem, venham aqui a frente demonstrem para a turma" – Disse o Professor Flitwich, e todas as cabeças miraram o fundo da sala como que ensaiado, encarando os quatro marotos com curiosidade.


"Brilhante. Vocês me pagam" – Remus sussurrou ao erguer-se junto dos outros três para frente da sala, com os olhares do outros alunos vidrados no quarteto como imãs.


MMMM


"Pode falar o que quiser, mas eles são incríveis" – Alice comentou para Lily, assim que elas se despediram de Mary e Marlene na sala de Feitiços para seguirem para Aritmancia.


"Quem?" – Lily indagou, fazendo-se de desentendida. Ela sabia muito bem de quem a amiga estava falando, mas achou melhor fazer pouco caso para desfaçar a própria surpresa que sentira.


"Como quem?" – Alice falou rodando os olhos – "Os únicos na sala que além do professor sabem como fazer o feitiço da Conjuração de Fogo"


"Nós sabemos fazer, Alice" – A ruiva rebateu quando elas pegavam um corredor em direção as escadas.


"Mas não sabemos controlar" – Alice rebateu – "E os marotos sabem! Você não acha impressionante que na primeira aula eles já consigam manipular o feitio tão facilmente. Até o Pettigrew depois de umas tentativas conseguiu!"


Lily franziu a testa.


"Você está parecendo a Mary" – ela comentou, assim que elas chegaram às escadas e subiram-nas rapidamente antes que elas mudassem – "E você só fica assim quando quer alguma coisa, então desembucha de uma vez"


"Certo" – Alice concordou – "Porque você não convida o Potter para a Festa de Hallowen?" – Lily suspirou pesadamente.


"Eu sabia que isso estava por vir, pra que diabos eu fui perguntar?" – ela disse, assim que chegaram ao final das escadarias, prontas para pegarem o próximo lance de escadas até o sexto andar.


"Eu sei muito bem que você anda pensando nisso" – a morena continuou, ambas subindo mais e mais degraus – "Eu acho particularmente uma boa ideia, sabia?"


"Nós brigamos, Alice" – Lily respondeu – "De novo" – ela esclareceu quando a morena ergueu as sobrancelhas – "Ele disse que não quer mais perder tempo comigo e eu sinceramente prefiro levar a Mary ou qualquer uma de vocês do que algum garoto, Potter ou não"


Alice respirou fundo, e Lily ficou sem saber se era por frustração ou porque ainda restava mais um lance de escadas.


"Sabe o que eu acho?" – e sem esperar pela resposta da ruiva ela continuou – "Acho que você deveria convidá-lo"


"Você não ouviu? Nós brigamos!"


"Como se vocês nunca brigassem" – ela rebateu numa decisão incomum para sua personalidade pacífica – "E eu acho que vocês só brigam porque nunca tiveram a oportunidade de conversar de verdade. E digo conversar de assuntos que não sejam da monitoria e coisas do tipo" – Alice virou-se para encarar melhor a ruiva e completou – "Vocês acham que se conhecem, mas não sabem absolutamente nada um do outro. Porque se soubessem já teriam se dado conta da paixão que vocês nutrem há muito tempo!"


Lily estancou no meio da escada, encarando a amiga com surpresa. Aquelas palavras caíram-lhe como água fria na cabeça, despertando-a e a incapacitando de caminhar. Aquelas palavras eram a respostas de suas perguntas, eram as respostas de suas dúvidas, de suas incertezas. Alice tinha toda razão; ela não se lembrava de ter sequer uma vez conversado de verdade com Potter. Ela não conhecia James Potter. O que ela achava que conhecia era o garoto desordeiro e arrogante que ele costumava ser no inicio e que a fazia não se aproximar. Mas e o verdadeiro James Potter? E esse James Potter responsável e sagaz que aos poucos aparecia constantemente? Será que ele havia tomado o lugar do Potter infantil? Ou será que ele sempre esteve lá e ela nunca percebera porque nunca o conhecera na realidade? Já fazia um tempo, desde o inicio daquele semestre na verdade, que ela se perguntava no seu intimo se este Potter repugnante era o que ela conhecia ou o que ela queria que ele fosse, para ter desculpas suficientes para se convencer a não se deixar levar. Pois se ela já tinha uma queda monstruosa pelo James Potter desordeiro, o que ela faria com esse James Potter tão desconhecido para ela? Ela estaria completamente desarmada.


Aquela dúvida a consumiu. Aquela dúvida a dominou. E tudo que ela queria no momento era saber quem era James Potter e porque ele a dominava de tal maneira que ela mal conseguia controlar. Ela precisava saber.


"E então?" – Alice a despertou, ela estava de pé, esperando a amiga, dois degraus acima – "Vai ficar parada aí ou vai me responder?"


"Eu não o conheço" – Lily sussurrou, mas foi o bastante para Alice escutar – "E eu acho que quero que ele seja alguém que ele não é apenas para..."


"Não se apaixonar mais?" – Alice sugeriu num sorriso maroto. Lily sorriu timidamente, assentindo ruborizada – "E então? Vai chama-lo para a festa?" – ela indagou sem conter a curiosidade. O sorriso da ruiva se alargou e com uma sobrancelha zombeteira e uma expressão indecifrável, ela passou por Alice subindo os degraus que faltavam, dizendo num tom enigmático:


"Talvez"


MMMM


N/A: Um presente de Natal. Focado em James e Lily depois de aprofundar um pouco nos sentimentos dos outros personagens no capitulo anterior. Agradeço os comentários anteriores e peço como presente de Natal muitos comentários, por favor! Ficarei muito feliz! Tentarei não demorar no próximo capitulo.


James Potter sem seus óculos¹ - sou muito ruim em entrelinhas. Espero que tenha ficado claro o que quis dizer. ;D


Feliz Natal para todos e um grande abraço.


Cath.


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Comentários (3)

  • Kika.Cerridween

    Até que enfim terminei minha leitura, James surpreendeu até eu ....aff que correria dele ....mas adorei esse "chega pra lá" que  deu na Lily ...estou super curiosa pra saber o que vai acontecer agora que ela resolveu  convidar ele pra festa .... suspeito que vai dar algo errado nisso tudo....rsrssrs......Adorei o capítulo, muito bem escrito e mesmo a gente sabendo que eles ficam juntos , tá demais acompanhar a trajetória toda da conquista ..enfim aguardo o próximo..quero ler sobre os outros personagens , os conflitos ,romances e aquelas coisas todas rsrsrrsrsrs...fui xD

    2012-01-11
  • Sah Espósito

    Tomara que a Lily convide logo   *-*

    2012-01-03
  • Kika.Cerridween

    Só pra avisar que estou lendo...xD

    2011-12-28
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