Um homem de Dumbledore



Cap. 25 – Um homem de Dumbledore


 


 


Os olhos de Draco estavam muito vermelhos, de lágrimas e de esforço por contê-las ali, sem se derramarem. Tinha um aspecto cansado, vencido, mais cansado que na época em que acabara dormindo nas aulas, pelo pouco sono. Apesar disso, do fundo de seus olhos brilhava uma luz fina, tênue – uma luz de quem busca uma saída. De quem não vai desistir. Talvez fosse essa luz que o mantivesse no caminho... que o guiasse. Talvez.


 


De certa forma, ele nunca estivera tão bonito.


 


Pelo menos era o que pensava Freya Shwon, ao observá-lo saindo a passos largos da masmorra. Parecia apressado. Freya discretamente notou que seus cabelos estavam ligeiramente compridos, que a capa estava mal fechada e que ali no canto era possível divisar um pedacinho da sua pele, e...


 


“PARE JÁ COM ISSO!” ordenou a si mesma, ficando vermelha e irritada. Ergueu o livro de modo que cobrisse totalmente os seus olhos. Furiosa. Estava estudando Runas. Suas notas haviam sofrido uma queda sensível com o coração partido de Pansy Parkinson e todo o tempo que ele exigia, e sua mãe iria matá-la se descobrisse isso. Mas não chegaria a ser um problema, é claro, porque Pansy iria fazer o serviço primeiro, se soubesse no que ela andava pensando. “Mas que DROGA”, pensou Freya. Só faltava essa. E sua melhor amiga, ainda por cima. Nãonãonãonãonãonão.


 


“A culpa é toda da Astoria” pensou, quase cuspindo. A irmã da Daphne. Aquela idiotazinha com paixonite pelo Malfoy, que ficara lhe enfiando aquelas idéias. “Cretina”. Ela ainda contaria para Pansy o que aquela pirralha pensava, isso sim iria ensinar-lhe umas boas. Suspirou.


 


Mas, apesar de seus desejos de ignorar o Malfoy, Freya não pode deixar de se perguntar onde ele estaria indo... desviou o olhar para os símbolos que cobriam as páginas, e forçou-se a pensar neles. Nada iria obrigá-la a não fazer exatamente o que quisesse. NADA.


 


Alheio à todos esses pensamentos e conflitos, Draco simplesmente saiu da masmorra sem prestar maiores atenções à qualquer um dentro da sala. Havia sido chamado para a Sala de Dumbledore, e isso nunca prenunciava nada bom. Nem mesmo agora, sem ter feito nada, ele conseguia não pensar assim. Era impossível abandonar o presságio.


 


Seguiu pelos corredores, apressado. Qual era a senha, mesmo? Gotas de Mel. Pingos de Chuva. Alguma coisa assim. Não se lembrava ao certo, mas não foi necessário, pois o velho diretor o aguardava na portaria, com um sorriso gentil.


 


- Draco, meu rapaz, entre. Estávamos esperando. Doce de abóbora? – perguntou.


 


Ele negou polidamente, e entrou na sala. Vamos direto aos negócios. Realmente, um Malfoy.


 


Fazia algum tempo desde que entrara ali pela última vez, mas tudo parecia razoavelmente igual. A fênix ali, a Penseia, as penas, e todos aqueles quadros que desviaram o olhar para a estranha figura loira que entrava. Todos os ex-diretores de Hogwarts.


 


Guinevere D’Yarma também estava ali, sentada. Puxou algo parecido com um sorriso quando viu o menino entrar.


 


- Oi, Draco.


 


Ele assentiu com a cabeça e virou-se para Dumbledore. Ele estava fechando a porta.


 


- Bem, Draco – disse ele, em sua voz suave, enquanto se dirigia para sua mesa. – Imagino que esteja se perguntando a razão pela qual o chamei aqui.


 


- Um pouco – disse ele, cansado. – Como está Luna? – perguntou à Guinevere, em um tom um pouco mais irritado.


 


Dumbledore sorriu.


 


- Direto ao ponto, hein, Draco?


 


- Eu nunca mais a vi! – disse ele, exasperado. – Não me deixaram ficar na enfermaria, nem mesmo no saguão de espera! E eu nunca mais pude entrar! Barraram minha entrada! Como se eu fosse algum tipo de elfo doméstico imundo! EU QUERO SABER COMO ELA ESTÁ! – concluiu, furioso. Não era a melhor idéia do mundo gritar com o diretor, mas ele simplesmente tinha muito mais coisas com o que se importar. Muito mais.


 


Dumbledore ajeitou os oclinhos de meia-lua. Não parecia irritado, apesar do olhar incrédulo que lhe dirigia Guinevere. Ele lhe deu uma piscadinha.


 


- Guinevere, não seja assim. Sei que você tem coração suficiente para entender pelo que passa o menino.


 


Ela suspirou. Ele voltou sua atenção para Draco.


 


- Draco, me desculpe por isso. Madame Pomfrey realmente não gosta que nenhum estudande passe a noite na enfermaria, desde que Jorge desapareceu com um frasco de pó-de-mico e pólvbora-das-luas... ou terá sido Fred...? Bem, um dos dois, e acabou dando uma grande confusão em torno do lago...  ela é realmente intransigente quanto a isso. E acho que não te conhece tão bem como nós.


 


- Como está a Luna? – repetiu Draco, como se sequer tivesse escutado o que Dumbledore lhe dissera.


 


- Está  bem – disse Guinevere. – Um pouco fraca para andar, mas não lhe aconteceu nada de mais grave. Só que...


 


- O quê? – perguntou Draco. “Só que” nunca era uma boa, “Sua nota foi boa, só que não foi o suficiente.”, “Iríamos comprar uma vassoura nova, só que preferimos entregar ao Potter.”...


 


-  Ela está sendo transferida – disse Guinevere. – E eu estou indo embora.


 


- Para onde?? – perguntou Draco.


 


- Para o St. Mungus. Ouça, Draco, é o melhor a se fazer...


 


- Perguntaram a ela?


 


- Não, mas é o melhor...


 


- Ela ia lá sempre, e não parece ter adiantado nada. – disse ele, com as primeiras lágrimas começando a escorrer. Estava cego pela dor. Estava cego pela raiva. Ela ia ser internada. Ele não iria mais vê-la. Não tinha sido apenas uma crise. Ele não estava certo de que poderia agüentar. Seus olhos escureceram um pouco.


 


Guinevere se aproximou dele. Tentou abraçá-lo, mas ele impediu.


 


- Para que raios serve o Hospital, se não tem cura? – perguntou, irritado.


 


- Olha, Draco, aqui na escola não temos os medicamentos fortes o suficiente pra conter os sintomas e as dores. Só no Hospital. Eles custam caro. Nós só queremos que ela viva o melhor possível até que...


 


- NÃO SE ATREVA! – interrompeu ele, furioso, as lágrimas escorrendo de maneira farta.


 


- Mas Drac...


 


- NÃO SE ATREVA! NÃO FALE DELA COMO SE ESTIVESSE APENAS ESPERANDO PELO ABATE! – gritou Draco, completamente tomado pela raiva. – ELA NÃO MERECE ISSO! NÃO FALE DELA COMO SE JÁ ESTIVESSE MORTA!


 


Guinevere ficou vermelha com a explosão do garoto. Envergonhada. Ele tinha razão.


 


- ELA AINDA VAI VIVER! ELA ESTÁ VIVA! – disse ele, solulçando. – E EU QUERO VÊ-LA!


 


- Ela saiu de Hogwarts, Draco...


 


- EU QUERO VÊ-LA! EU PRECISO VÊ-LA! VOCÊS NÃO PODEM FAZER ISSO COMIGO. Não podem... – o tom de voz imperioso de Draco foi se reduzindo cada vez mais. – pra quê me chamaram aqui? – perguntou, afinal, para Dumbledore. Seus olhos estavam escuros.


 


- Draco, eu posso ser um velho, mas eu tenho coração.


 


- Até demais – interveio uma Vox, ríspida. Era a voz de Demétrio Flwakwenngod, o 35º diretor de Hogwarts. Um dos mais irascíveis e obcecados que a escola já tivera. – Você não deveria ter permitido que a Lovegood fosse tratada diferente.


 


- Demétrio – disse Dumbledore. – que imensa surpresa você se juntar à nossa discussão.


 


- Deveria ter me juntado no dia em que ela  - apontou para Guinevere – e aquele maluco do Lovegood vieram aqui para conversar com você! Barbárie, é isso que nos espera se começarmos a ir contra as regras! Elas existem por um motivo! Um ótimo motivo!! E ninguém é melhor do que elas! – bradava ele.


 


- Se não me engano, você realmente se juntou à discussão naquele dia. – disse o diretor, bondosamente.


 


- Mas não adiantou nada! E deveria ter adiantado! Coração não é para os grandes diretores! Para o poder! Para a ORDEM!


 


Os dois diretores, vivo e morto, continuaram discutindo por alguns momentos.


 


- Ninguém diria que ele era da Corvinal. – sussurrou Guinevere para Draco.


 


- Ele? – Draco apontou para o quadro irritado. Havia parado de chorar. Já era alguma coisa.


 


- Pois é – disse Guinevere, um pouco envergonhada. – Acho que ele ficou tanto tempo estudando e lendo que ficou maluquinho pelas regras e pela execução correta. Sem exceções. Não tem quem não imagine que ele não era sonserino, pelo que fala do poder... mas ele concluiu isso pelos livros...


 


“A Granger que se cuide” pensou Draco, deixando de ouvir o que dizia Guinevere.


 


Dumbledore havia pegado sua própria capa e, inacreditavelmente, havia COBERTO o quadro de Demétrio, que reclamava e contorcia o pano.


 


- Me desculpe por isso – disse à Draco, e não ao quadro. – Demétrio pode ser um tanto quanto... bom... conversarei com ele mais tarde. Mas a verdade, Draco, é que achei que, apesar da opinião de Madame Pomfrey, você deveria saber das coisas. Acho que você faz bem para a Luna.


 


- Tão boazinha – disse Guinevere, num sussurro.


 


- E concordo com Draco – completou ele – Guinevere, você está muito negativa. Pare de agir como se ela estivesse morta e condenada. Isso foi tudo o que Luna NUNCA quis. Essa foi a razão dela continuar em Hogwarts, mesmo sabendo... de sua condição.


 


- Acho que ela não pode mais vir pra escola – disse Guinevere, chateada com o comentário. Mas era verdade, afinal de contas.


 


- O que não quer dizer que precise agir dessa forma.


 


- Quero vê-la – interrompeu Draco. Era importante para ele, também.


 


- Você não pode! – berrou Demétrio, detrás do pano. – Não pode ficar entrando e saindo da escola como se fosse uma lanchonete vagabunda!


 


Dumbledore ignorou os protestos do ex-diretor e continou:


 


- Draco, eu vim apenas para informar você do que tinha acontecido com a Luna... e saber se você concordaria em vê-la, caso ela assim deseje...


 


- Mesmo sem desejar – interveio ele, os olhos um pouco mais brilhantes.


 


Dumbledore sorriu.


 


- Eu realmente acho que você pode fazer bem a ela, por tudo que observei. – disse ele. “E ela a você”, pensou, sem no entanto pronunciar as palavras. Em seu grande coração, o velho diretor se preocupava com todos, sempre, sem  exceção. Era o que o tornava tão poderoso e forte.


 


Guinevere estava cansada.


 


- Espero que não aumente a dor de nenhum deles – disse, afinal.


 


- Sou velho o bastante para ter visto coisas improváveis acontecendo – disse Dumbledore, afinal.


 


- NÃO PODE GOVERNAR HOGWARTS COMO SE FOSSE SEU QUINTAL! – berrou Demétrio, que afinal conseguira derrubar a capa, sabe-se lá como. – PARE DE DESTRUIR AS AMADAS REGRAS! VOCÊ NÃO PODE IGNORÁ-LAS! NÃO PODE FICAR CRIANDO EXCEÇÕES, ISSO ACABA COM NOSSA CIVILIDADE...


 


- Demétrio, pode parar com isso? Está me dando dor de cabeça – disse Dumbledore, pegando sua capa. – Além disso não estamos desrespeitando nada, já que isso é tão importante para você.


 


- Como? – perguntou ele.


 


- Draco... você ainda está na nossa detenção não é?


 


- Estou – admitiu, pensando onde o diretor queria chegar.


 


- Então suponho que ainda precise ir encontrar com o Ewan.


 


- Bem...


 


- Aliás, por ter gritado com o diretor, estou pensando em aumentar essa pena.


 


E então Draco, pela primeira vez, abraçou seu diretor. Até mesmo Dumbledore ficou surpreendido.


 


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Oie! Desculpa a demora, viu?


 


É que fiquei sem pc! Uma droga!


 


E esse capítulo queria porque não queria sair. Comecei várias vezes, mudei várias coisas, e nada. Esse aqui acabou sendo o menos piorzinho de todos. Espero que sirva.


 


Não acontece muita coisa nele, mas senão ia ficar jogadão o que houve com a Luninha, como o Draco encontra com ela no meio (ou melhor, final) do ano letivo, etc.


 


Não levem a mal, a Guinevere até gosta do Draco... ela só está chocada, horrorizada, com o avanço da doença da Luna – ela se lembra da Gerda – e, de alguma forma, queria evitar que essa dor toda que ela tem passe pro Draco... como se fosse possível evitar isso, afinal.


 


Não pretendo ficar mexendo na Freya de novo, mas essa cena dela tendo uma quedinha pelo Draco me veio uns capítulos atrás e achei que devia usar. Ela merece um pouco de dor, depois de ter sacaneado tanto o Draco, e essa foi a melhor coisa em que pude pensar. Além disso, serve pra mostrar como ele ta ficando diferente... e cada vez mais lindo. Aiaiaiai!!!!


 


A fic tá acabando... snif!


 


No próximo, aparece a Luna! Prometo.


 


E a Astoria... não sei se vou usar. Mas em todo caso, mal não faz, não é mesmo?


 


Um grande beijo! Espero que tenham gostado.


 


Ariadne


 


 


PS: não sabia que nome dar ao cap. Acabei escolhendo esse porque o Draco ficou tão agradecido que, sem dúvida, é um Homem de Dumbledore a partir de então.

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