Eu te amo.



21. Eu te amo.


 


Draco sabia que estava arriscando o pescoço, sabia mesmo, e ouvia uma voz de reprovação (curiosamente muito parecida com a da Tia Bellatrix) que lhe dizia o quanto era uma péssima idéia se encrencar mais o tempo todo, mas estava decidido a ignorá-la. Afinal de contas, ele não pretendia ser pego. E mesmo se fosse, estava quase certo de que valeria a pena (mas continuava sendo melhor não ser pego, é claro). De toda forma, a professora Minerva tinha voltado tão pasma do St. Mungus que ele apostaria uns bons dobrões que não perderia muito tempo pensando no caso dele. Na pior das hipóteses, é claro.


 


E ele precisava arriscar. De qualquer forma, àquela altura não tinha mais retorno.


 


Estava muito escuro, uma das noites de inverno mais frias e escuras do ano. Draco havia se esgueirado sorrateiramente para fora dos porões da Sonserina e aguardava, percebendo com certo atraso que não seria assim tão fácil vê-la naquela escuridão toda. Esfregou as mãos, mais de frio que de nervoso, e relembrou a conversa. Com um sorriso estampado.


 


Na hora do café, vira Luna passar ao seu lado. Quando ela se sentou, ele saiu de seu lugar na mesa da Sonserina e foi até ela.


 


- As pessoas podem ver – sussurrou Luna.


 


- Vou sentar. – dissera ele, puxando a cadeira antes mesmo de concluir a frase. Percebeu com o canto dos olhos que Freya e Siegfried estavam segunrando Pansy no lugar com um grande esforço, e que haviam vários olhares em direção à ele, alguns disfarçados e outros nem tanto. “Eles que pensem o que quiserem. Nada de pior poderia acontecer. E se acontecer, aposto que conseguirei agüentar sem maiores danos. Trouxas.” 


 


- ... Luna. – ela olhou. Naquele momento, só havia ela. E ela conseguiu perceber. – Eu quero que você venha comigo. À noite. Ver o cometa.


 


Ela sorriu, divertida.


 


- Bom, na verdade eu não entendi bem esse pedido, quer dizer, eu ia ver o cometa de qualquer jeito, e acho que será o mesmo cometa mesmo em lugares diferentes, não é? Claro que vai ser legal ter uma companhia lá comigo, porque bem, vai estar frio, e no frio os zéfiros das Terras Frias saem para puxar os cabelos, e é mais fácil fazer um círculo de proteção com a energia de mais pesso...


 


- Você não entendeu. Vá comigo. Estou convidando. Não estou me oferecendo para quebrar o seu galho e não te deixar sozinha. Eu quero que vá comigo. Como um encontro.


 


O sorriso divertido de Luna pareceu ficar suspenso por um momento.


 


- Eu... mas... é... o meu pai... – ela estava confusa. Apesar de haver confrontado seu pai, não estava certa de que conseguiria desobedecê-lo tão acintosamente; ao menos não ainda... estava em um dilema interno. E surpresa e nervosa com a proposta querida e inesperada.


 


- Eu pedi a ele – confessou Malfoy, com uma careta.


 


Luna riu, e dessa vez riu de verdade, quase engasgando com seu suco de abóbora.


 


- Você o quê?


 


- Pedi. Avisei. Como preferir.


 


- Não achei que se importasse com isso – disse ela, secando algumas gotas de suco que haviam molhado a manga do seu pulôver.


 


- Você se importa. – disse ele, sério. – Pessoalmente acho um tanto antiquado, mas até que tem um certo charme tradicional.


 


Luna deixou de rir. Ficou sem fala.


 


- Eu...


 


- Deixe de graça e apareça. Garanto que nunca viu nada igual. – disse Draco, com um sorriso de esguelha. – Eu preciso ir para a biblioteca, que aparentemente Madame Pince se apaixonou por mim e não consegue me manter afastado. Mas vou te esperar à noite. No portão Oeste.


 


- Acho que não deveria sair.. – começou Luna,


 


- Bom, eu não conto se você não contar. – e com estas palavras, Draco levantou-se da mesa, deixando sozinha uma Luna em que brigavam a perplexidade e a alegria em proporções iguais.


 


Desde então não a vira, mas tinha certeza de que ela viria. Ao perceber um movimento diferente nas sombras, ele sorriu. Sabia que ela viria, mas mesmo assim...


 


Só conseguiu vê-la quando estava bem perto.


 


Luna estava com os cabelos soltos, soltos como na noite em que havia sido Liara, e vestia um chapéu. Mas, ao contrário de boa parte da sua coleção, esse era um chapéu bonito, meio quadrado e acinzentado, como se fosse de pelúcia. Combinava com seu casaco, um elegante casaco comprido cor de camelo que mais parecia um vestido largo, e com botas. Estava linda, extremamente fofa, e Draco quase se sentiu envergonhado das roupas comuns que vestia.


 


- Você parece... diferente.


 


- Ah – ela pareceu envergonhada. – eu, bem, você gostou? Minha mãe fez pra mim, na verdade ela tinha uma grande visão de futuro, porque costurou isso quando eu ainda não havia nascido, não sei bem por quê...


 


 


- Luna – disse ele. – você é tão linda. Por que fica o tempo todo escondendo isso das pessoas?


 


- Bem, eu não escondo propriamente nada. Eu acho que foi você que conseguiu me ver de um jeito diferente...


 


Draco sorriu. Aquilo era mesmo verdade.


 


- Você é sempre linda. Quis dizer porque nunca se incomodou em ficar tão cuidada pela escola. Ainda mais com tanta gente idiota hostilizando você...


 


- Existem bem poucas pessoas cuja opinião me interesse o suficiente para que eu queira que me achem mais bonita. – disse ela, corando. – bem, ahn, vamos lá para, para, para onde é mesmo que a gente vai, Draco?


 


Draco sorriu. Respeitoso. A ele custara tanto perceber aquela verdade... e Luna simplesmente a sabia. Apenas acreditava nela e vivia sua vida e suas crenças, sendo mais feliz do que metade dos que a estranhavam. Tomou-a pela mão.


 


- Por aqui.


 


Luna seguiu-o silenciosamente para fora dos portões da escola, para trás da estufa da professora Sprout, para além do campo das runas. Para um descampado além das árvores.


 


Ali havia um telescópio armado, muito maior do que aquele que possuía. E também uma coberta no chão, com uma cesta – e dentro dela uma garrafa de cerveja amanteigada quente.


 


- Sei a hora em que o Haley vai passar, mas não sabia exatamente a hora em que estaríamos aqui – explicou Draco.


 


- Você fez isso porque sabia que não tinha como eu não aceitar, não é?


 


- Acho que eu esperava por isso. Queria tanto que não pude imaginar que desse errado.


 


Ela sorriu. Sentaram-se no chão.


 


- O cometa vai demorar ainda, mas se quiser olhar o céu... – disse ele. Luna assentiu. E teve a terceira surpresa do dia.


 


- Esse... esse telescópio...


 


- Lentes maiores e mais grossas, com um feitiço que seu telescópio trouxa jamais conseguiria agüentar. Técnica mais ou menos secreta de Galileu, passada à força de geração pra geração.


 


O céu parecia muito mais perto. Parecia ser possível tocá-lo. Luna percebeu de novo o quanto Draco era incrível, incrivelmente incrível, mais incrível que a mais incrível das histórias que saíam no jornal de seu pai, e teve vontade de chorar de emoção.


 


O cometa cruzou a terra, pela primeira vez em quase um século, riscando o céu escuro e deixando seu rastro delicado e firme. Luna nunca havia visto nada tão lindo. E ela estava perto, tão perto...


 


- Você acha que um pedido à esse cometa seria realizado? – perguntou, enquanto ele cruzava preguiçosamente a noite.


 


- Como?


 


- Você sabe... as estrelas cadentes realizam desejos... – disse Luna. –  cometas tecnicamente são estrelas cadentes, mas como eles não caem efetivamente eu não sei se conta... nossa! Olha ali, meu deus, é... Antares...


 


- Antares. A estrela vermelha. – confirmou Draco.


 


- Ela é tão... linda... – disse Luna, compenetrada no telescópio e momentaneamente distraída do cometa Haley. – e fica na minha constelação favorita...


 


- Scorpii? Por quê?


 


- Bom, na verdade é um motivo meio bobo. Minha mãe era do signo de Escorpião, da constelação Scorpius... convivi tão pouco com ela... que tudo que possa me aproximar dela, de qualquer jeito que seja, mesmo se for pouco ou quase nada, me deixa feliz...


 


- Luna – perguntou Draco, aproximando-se dela e abraçando-a pelas costas. Ela sentiu um arrepio. Um arrepio gostoso. – Qual é o número um?


 


Ela soltou a respiração. Que mal haveria?


 


- Queria fazer um círculo de lycan na primavera. – disse ela, um pouco tímida. – mesmo que seja bobo assim...


 


Draco não disse nada. Mas estreitou os braços sobre ela. Era bem a cara dela. Tão linda. Tão diferente. Tão especial.  Luna se virou para ele e afastou o telescópio. Sentia calor no peito, um calor real, que subia por sua pele e queimava suas bochechas.


 


Ela sabia que não deveria. Ela não teve como evitar. Nunca teve chance disso. Ela gostava dele. Um sentimento que a fizera confrontar o pai. Um que ela renegara, lutara contra, mas não havia tido remédio senão aceitar. E vê-lo crescer. Naquele momento, com o calor de Draco tão perto, sentindo todo o carinho, sentindo felicidade por ele não ter rido do que tinha dito, que parecia bobo mesmo para ela, o sentimento começou a ferver e a transbordar, derrubando todas as suas defesas, ocupando cada espaço do seu corpo, todo o coração e mais além, e ela precisou falar, sem esperar retorno, sem esperar nada, apenas por falar.


 


- Eu te amo. – disse ela.


 


Draco sentiu-se queimar por dentro. E ficou, a contragosto, com as bochechas vermelhas. Era uma coisa tão boa de se escutar...


 


Ele aproximou os lábios dela. Beijou Luna suavemente, bem devagar, como se pudesse quebrá-la.


 


- Eu amo você  - sussurrou ele. – Enorme, ridículo, ultrapassado, amor estilo “não-posso-ficar-sem-você-mesmo”. – abraçou-a.


 


Luna sentiu-se tão completa, tão intensa, tão feliz por seu sentimento não ser uma via de mão única que teve medo do que iria fazer a seguir. Abraçou Draco com força, com toda a sua força, querendo retê-lo para sempre junto consigo, gravar na sua pele os contornos do seu corpo, querendo que aquele momento jamais terminasse.


 


Ela não queria que ele terminasse. Sentiu-se tentada a continuar, simplesmente não dizer nada, apenas para aproveitar mais um pouco daquela felicidade, mas sabia que não podia ser assim tão egoísta. Sabia que precisava contar. Amava tanto Draco que não podia suportar a idéia de enganá-lo e fazê-lo sofrer. Preferia vê-lo partir. Iria contar a ele... mesmo que isso fosse o fim da sua felicidade. E seria.


 


Ouviu a voz de seu pai: “Você precisa contar a ele”. Ouviu a voz de sua tia: “Você precisa contar a ele”. Ouviu a si mesma revoltada, brava como ninguém jamais a vira, gritando que eles só queriam aquilo para que Draco se afastasse e ela continuasse sozinha. Havia sido uma tentativa desesperada de se convencer que aquilo não era preciso... mas ela sabia que era. Derramou uma lágrima. Pretendia dizer aquilo olhando para ele, mas não teve forças.


 


- Você prometeu que não ia se apaixonar por mim – disse ela, chorando.


 


- Bom, eu menti. Se fosse um bom garoto não teria te conhecido no castigo. – disse ele. – Mas porque as lágr...


 


- Draco – disse ela, juntando todas as suas forças para fazê-lo olhar para ela. Encarou-o através de um véu de lágrimas. – você não podia ter se apaixonado por mim. Não podia.


 


- Tarde demais – disse ele, sorrindo. – Mas qual pode ser o grande problema? Você também gosta de mim...


 


- Isso não tem nada a ver! Não tem problema eu gostar de você, isso me fez feliz, o que não deveria era você me corresponder...


 


- Luna, eu sei que você não é uma menina como as outras, mas até pra você isso soou meio esquisito.


 


- Não, você não entende – como era difícil colocar aquilo em palavras! – eu... você não pode se apaixonar por mim. Não pode. Eu estou doente.


 


- Bom, é inverno, todo mundo fica meio gripado nesse frio... eu acho que essa coberta mágica deve ter impedido, ela amorna o entorno, mas posso te levar pra enfermaria se você quiser.


 


- Não Draco. Eu estou doente. De verdade. Tenho Leukos. O sangue branco. Eu estou morrendo. Não qualquer dia. Logo. Você não podia ter se apaixonado por mim. – disse ela, agora chorando, esperando o momento em que ele se afastaria. – e seria melhor se eu não tivesse me apaixonado por você também. Porque agora eu tenho motivos pra não querer ir. Eu estava conformada com o milagre que não vinha. Perdi isso. Não sei porque fizeram isso comigo. Essa piada horrorosa. De conhecer você logo nessas condições. Logo agora. Eu não vou ficar aqui muito tempo. Não deveria gostar de mim.


 


As lágrimas escorriam pelo rosto de Luna, fartas.


 


Draco, de olhos arregalados, tentava processar tudo. Os livros que ela lia com tanto afinco. As coisas da sua lista que tentava fazer. Os desmaios. A tentativa dela de viver o máximo possível. Não conseguia entender nada, exceto uma coisa: ela estava morrendo.


 


Luna, sua Luna, gentil, linda, estava morrendo. Naquele exato momento, se distanciava dele um pouco mais, mesmo sem se mexer.


 


Subitamente, a noite pareceu despencar com todo o seu peso sobre o peito dele.


 


 


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Mimiimimimimim mas que droooooooooooooooooooooga! T_T


 


Fiquei triste, extremamente, de escrever isso aqui. Eu sempre adorei a Luna, mas acho que me apaixonei tanto pela minha própria versão dela que meu coração doeu de fazer isso, ao invés de simplesmente inventar a Pansy enchendo eles.


 


Mas eu não podia evitar. Tudo foi preparado para isso.


 


O que ainda falta explicar em detalhes ou não – como o Hospital e as razões da peça que nunca teve antes, será explicado logo mais (eu pensei nisso, não é jogado ter algo diferente ao extremo dos livros!). Já adianto que tudo tem relação com a Luninha, é claro.


 


Coitado do Draco. Mas crescer sempre dói!


 


Espero que eles superem essa...


 


Mas ainda achei a declaração dele linda de morrer. E estou realmente feliz com minha versão dele, eu realmente acho que consegui expressar como o enxergo... fofo, mas sem perder o jeitão de bad boy que ele sempre teve e que é um charme, não é?


 


Espero que concordem comigo!


 


Até o capítulo 22! ^^

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