Reencarnando memórias



Capítulo 17 – Reencarnando memórias


Pov’s Alicia:


 


         Pisquei os olhos repetidamente, mediante a claridade repentina nos olhos. Percebi que tinha adormecido sentada em uma cadeira com a cabeça aos pés de Harry. Ai, chiei para mim mesma, meu pescoço doía.


Não é a toa, e era muito aliviante ouvir a voz sarcástica e divertida de Universo na minha cabeça novamente. Eu sei que faço falta.


         Viu o que eu digo?


         Rony estava esparramado em uma cama, com Hermione usando ele como travesseiro – ah, sim, se o momento não fosse critico, seria uma boa revanche as indiretas sobre Harry.


         Gina e Susana pareciam em coma em uma cama, tamanho o cansaço. Jake deitado atravessado logo ao lado, e na outra os gêmeos que dormiam com as duas mãos sobre o peito, como se quisessem “brincar de mortos” – credo! – e Neville na última, de barriga para baixo babando no travesseiro – eca!


         Tia Lílian, mamãe, tio Pontas e papai não estavam em suas camas e me perguntei que horas eram.


         Harry ainda parecia dormir sereno. Será que acordaria? Com a memória perfeita e com Aura poderosa? Acordaria e tudo voltaria a ser como era antes?...


         Como que para responder minha pergunta, uma luz branca e dourada – Aura – circulou finamente Harry. Eu sabia o que isso significava: ele estava se recuperando.


         Eu poderia fazer uma dança da chuva de tão contente que estava.


- Alicia? – chamou a voz de minha madrinha.


         Alguns segundos depois tia Lílian entrou na enfermaria, sem as olheiras de preocupação que possuía ontem – mas ainda podia-se notar que ela ainda estava preocupada – e sorriu cansada para mim.


- Fiquei preocupada com você, sabia? – ela perguntou me abraçando fortemente. Retribui imediatamente.


- Harry irá acordar – sussurrei baixinho.


         Ela me soltou e me olhou.


- Harry irá acordar – falei mais alto.


- Ele... Acordar? Tem certeza? – ela parecia encatada com isso, em êxtase.


         Tenho. Era uma palavra simples, mas ficou presa na minha garganta. Não, eu não tinha certeza. Eu tinha visto Aura em volta de Harry, mas... Isso significava mesmo que Harry iria acordar?


- Tenho – esperava que minha voz não tivesse saído trêmula com o medo que sentia e nem mentirosa, com a mentira que eu falava. Correção, a incerteza.


         Tia Lily sorriu animadamente para mim e, parecendo uma criança novamente, saiu correndo da enfermaria, pronta para contar as boas noticias.


         Eu só esperava estar certa – não queria decepcionar ninguém, principalmente a mim mesma.


 


 


Pov’s Harry:


 


Harry.


         A voz era calma, feminina e melodiosa. Olhei em volta. Tudo era preto.


         Eu não sabia quem ela chamava. Quem era Harry?


Harry Potter.


         A voz parecia decidida a chamar essa pessoa, esse Harry. Quem é Harry? Olhei para minhas mãos, para mim mesmo. Eu vestia uma calça branca e uma blusa também branca.


         De repente, bateu-me uma dúvida. Como eu era? E, como que para atender ao meu desejo, apareceu um espelho de corpo inteiro na minha frente.


         Aproximei-me. Eu tinha cabelos muito pretos e absolutamente revoltados. Os olhos eram verdes e, por alguns instantes enquanto olhava, eles ficaram com a irís branca e depois dourada, antes de voltar ao verde esmeralda. Eu não era muito alto, olhei melhor. Na minha testa, tinha uma marca esquisita...


         Cheguei mais perto ainda. Era uma... Cicatriz, em forma de raio. Era um perfeito raio, e era meio vermelho. Toquei o dedo no espelho, bem onde tinha a cicatriz.


         O mundo de repente pareceu ficar mais claro para mim.


Harry.


 


 


Pov’s Alicia:


 


         Eu estava angustiada, já tinham se passado três dias desde que chegamos e Pontas ainda dormia. O rosto já não possuía os traços de concentração há muito, substituído por um rosto sereno e doce, aquele que eu tanto amava. Eu praticamente morava na sua cabeceira, o que acontecesse com ele, eu saberia.


         Às vezes, Aura circula seu corpo ou partes deles – em geral, uma luz branca saía de sua cicatriz, ou seus olhos abriam de repente, dourados, iluminados e brilhantes como dois holofotes (lembro que fiquei assustada quando isso aconteceu pela primeira vez) -, mas, nem sinal de que acordaria.


         E eu estava preocupada, queria passar o Natal com ele, não ele na cama e doente, mas isso era só detalhe, queria saber quando e como ele acordaria – bem, mal, desmemoriado ou com a memória intacta?


         No momento, era manhã, perto da hora do almoço. Atrás de mim, as vozes de Gi, Nev, Mione, Su e Rony preenchiam o cômodo. Os sussurros – que não eram pra ser audíveis, mas com Universo voltando com força total, meus ouvidos voltaram a serem sensíveis – de meus pais, padrinhos, do diretor, tia Minie e Madame Pomfrey eram da sala ao lado.


         Eles provavelmente haviam lançado um feitiço imperturbável, mas meus ouvidos eram potentes, e captavam poucas coisas – “guerra”, “Harry”, “Voldemort” e “profecia”. Mas eu era ignorante o suficiente para não ligar para essas coisas numa hora dessas.


         A Sra. Weasley provavelmente estava no quarto de hospedes que tio Dumby dera a ela, tricotando os seus suéteres e ouvindo Celestina Star. O Sr. Weasley não pegara folga como meus pais, pois Harry não era seu nem afilhado, mas eu o via de vez em quando esses dias.


         Tia Sheryl, titio Mich, tio Leo e tia Amélia iam para seus trabalhos também (Curandeira, Obliviador, Assistente do Chefe da Seção de Magia Involuntária e Chefia da Seção de Leis Mágicas, respectivamente), mas sei que passavam menos tempo lá, agora. Percy, é claro, não se abalara e dissera que “o caso de Harry não deveria interferir em nossas vidas, pessoas morrem todas as horas” – sei que todo mundo queria socar ele tanto quanto eu.


         Jake e os gêmeos, que afinal só tinham um ano de diferença e as casas separadas, Lufa e Grifinória, aproveitavam para distrair-se, aprontando com Madame Nor-r-a e montando objetos para a loja de ogros que eu sabia que Fred e Jorge sonhavam.


         E, como já falei, ficava a cabeceira de meu amigo, com Universo transformado em gato, me consolando – que olhasse mais a fundo perceberia que Uni parecia tão afetado quanto eu.


         Um gemido. Por alguns segundos, enquanto Pontas se remexia na cama, seu rosto voltou aquela concentração, como se tentasse algo em seu estado de inconsciência. Silêncio.


         Universo mexeu-se, também parecia inquieto em sua forma de cachorro, aconchegado aos pés da cama.


Algum problema?, perguntei mentalmente a minha aura mágica.


Nada com que precise se preocupar no momento, esse “no momento” me apavorou um pouquinho. Universo me olhou quando pensei isso, o tranqüilizei com um gesto de cabeça.


         Mais um gemido vindo de Harry, ele definitivamente não estava mais tão calmo. Aura o circulou por inteiro dessa vez, era uma grossa camada de energia branca e dourada, uns fiapos pratas misturavam-se as outras duas cores, criavam uma sensação de multicolor, era lindo de se ver – se não fosse no mínimo trágico que ele ainda não tivesse acordado.


- Harry? – chamei-o, como se fosse isso que o fizesse despertar. A camada de magia aumentou a sua volta. A esse ponto, meus amigos já circulavam a cama, ansiosos para saber o que aconteceria a Pontas.


         Eu também.


- Chame tia Lily e minha mãe – falei baixinho para Susana. Harry mexeu-se novamente ao som de minha voz.


         Su levantou-se, assentindo, e correu rapidamente a sala de Madame Pomfrey, voltando não só com minha madrinha e minha mãe, mas com todas as pessoas que anteriormente lá estavam presentes.


Acorda, por favor, acorda... Repeti em minha mente, milhares de vezes, até me lembrar de parar de falar comigo mesma. O desejo de que ele acordasse era forte demais.


         No momento em que os olhos de Harry abriram, brilhando dourados, me senti desprendendo-me de meu corpo, como se minha alma flutuasse acima daquela “carcaça vazia”.         Esperei ver a cena de meus amigos e familiares em volta de Pontas, mas eu estava em outro lugar.


         Era um campo, o lugar mais lindo que eu conseguia me lembrar de ter visto.


         Era uma clareira grande e redonda, cercada por árvores altas e densas – por um momento, me lembrei da Floresta das Vozes –, a grama era verde como se tivesse sido pintada, tal como o céu azul, entretanto esta mal podia ser vista, pois o campo era coberto por flores. As flores eram tão coloridas, que pareciam salpicar contra o solo.


         Entrecerrei os olhos, nada se dava para ver além das árvores, como uma névoa passando entre as mesmas – parecia mesmo com a Floresta que Harmony possui em que eu vira na memória de Harry.


         Eu ainda tinha a sensação de que era um espírito longe do próprio corpo e só confirmei minhas hipóteses ao olhar para minhas próprias mãos e ver a mesma cor que eu via em Aura e Universo.


         Ao longe, do outro lado da clareira, sob o sol claro, eu vi uma sombra. Era mais ou menos da minha altura e a cabeça parecia bagunçada – Harry!


         Minhas pernas correram em sua direção, parecia não tocar o chão, como se flutuassem e quando o abracei, percebi que ele também era um espírito, e um espírito muito gato (só comentando). Ele retribuiu meu abraço e tinha uma própria nota de reconhecimento nele, como de quando éramos crianças – isso me encheu de esperança.


- Sabe como viemos parar aqui? – perguntei, mas minha voz, no aparente estado espiritual, parecia somente uma voz melódica no ocenano, linda e distante.


         Harry simplesmente lançou-me um sorriso misterioso, como se isso resolvesse todas as questões. Olhei-o interrogativamente, perguntando-me por que estávamos ali. Mas minha questão logo se fez respondida.


         Farllen, o pégaso, caminhava em nossa direção. Ele parecia mais lindo pessoalmente, quero dizer, se puder chamar isso de real. Mas as asas, com as penas milimetricamente certas e perfeitas, eram lindas, de um branco puro e delicado. Os olhos eram também do mais liquido ouro e transmitiam tanta paz e poder, que senti que cambalearia se o encarasse diretamente.


- Olá novamente, Merlin e Morgana – comprimentou-nos Farllen.


         Merlin e Morgana?


- Desculpe-me, mas do que nos chamou, Farllen? – indagou Harry ao meu lado, a voz de espírito dele, também distante e melódica, era realmente linda, aquelas vozes faladas e sopradas ao vento.


- Merlin e Morgana, claro – riu-se Farllen. Ele sentou do jeito de cavalo que só ele parecia conseguir bem a nossa frente. Deu-nos um sorriso esquisto, mas puro.


         Harry continuou de pé, eu também. Ainda estranhava a história.


- Não entendo – admiti um tanto envergonhada. Eu me sentia tão burra perto de um ser milenar como esse pégaso a minha frente.


         Farllen riu levemente, como se não esperasse outra coisa.


- Ah, Morgana, sempre divertida, sempre divertida – e riu mais um pouco, para logo depois ficar sério. – Mas é isso mesmo que vocês ouviram. Vocês são as reencarnações de Merlin e Morgana.


         Senti meu queixo descer ao poucos até ficar razoavelmente escancarado – Harry ao meu lado parecia controlar melhor esse impulso de ficar em choque, pois seu rosto não demonstrara emoção alguma. Ou será que estava tão nervoso e confuso quanto eu, só não deixava transparecer?


- Explique-nos melhor – pediu delicadamente Harry. Ele sentou-se, tranqüilo, na grama. Segurando sua mão, sentei ao seu lado, nossos toques se chocaram.


- Eu chamei vocês nesse momento, pois acho que já é apropriado explicar-lhes tudo – disse Farllen.


         Assenti, como se falasse que concordava, mas eu nem sabia o que era.


- Desde pequenos, vocês tiveram essa “ligação”, se pudermos chamar assim – começou o pégaso – a primeira alma a despertar foi a de Morgana, dentro de Harry.


         O cenho de Harry franziu-se – ele não parecia em dúvida sobre quando despertou, mas sim sobre o ser Morgana dentro dele. Isso me fez questionar a mim mesma se sua memória voltara.


- Morgana? Você quer dizer Merlin, certo? – perguntou a Farllen.


- Ah, não, eu quis dizer exatamente o que eu disse vocês logo irão entender – riu levemente Farllen. – Como estava dizendo, Morgana despertou em Harry, explicando-lhe sobre auras e o bem, e, naturalmente, o mal. Quando Voldemort atacou, Morgana o protegeu com tudo que tinha, e, assim, você sobreviveu.


         Harry não pareceu confuso sobre o fato, parecia saber. Será...?


- Enquanto era pequeno, Morgana falava com você, explicava-lhe melhor sobre auras e saía de você, em sua forma animal, isso fazia com que você controlasse melhor a magia grande dentro de você – explicou Farllen – Aos três anos, Alicia aconteceu. No instante que Morgana viu, por seus olhos, Alicia, ela soube que a alma de Merlin estava dentro da menina. E logo se identificou.


- Mas Harry me odiou no segundo em que me viu, ele brigou comigo – discordei do pégaso, muito confusa. Afinal, quando se tem seu cabelo magicamente colorido, com uma expressão de ódio, isso é aversão, certo?


- Não, não odiei – discordou de mim Harry. As esperanças de que ele tivesse lembrado cada vez maior – Lembro-me de olhar para você e pensar que fora a pessoa mais linda que já vira.


- Isso, porque, Morgana amou muito Merlin, e vice-versa – disse Farllen – O amor foi tanto, junto com a magia, que mandou uma mensagem para seu cérebro: “Alicia era linda e especial”. Porém, o ciúme apagou essa visão e fez com que você estalasse seus dedos, usando da magia de Morgana, e pintasse o cabelo da menina. Entretanto, quando Alicia, e junto Merlin, foram se desculpar, logo você aceitou as desculpas, era como um instinto natural.


“Merlin não achou conveniente despertar logo em Alicia, mantendo-se em silêncio, mas, vocês ainda tinham uma ligação forte, e era através dela que suas almas, Merlin e Morgana podiam se “falar”. Imagino que se lembram de quando o dementador os atacou no Ministério?”


- Sim, lembro que me senti poderoso – estava confirmado, ele se lembrava de tudo, algo dentro de mim comemorou – e Alicia sentia tanto medo, que só quis fazer algo.


- Morgana liberou o poder presente dentro de você, que é era muito pequeno comparado a hoje, e afugentou o dementador – assentiu o pégaso – Na realidade, Merlin achou oportuno começar a liberar o poder de Alicia naquele momento, pode não ter se manifestado no mundo real, mas se manifestou no mundo dos sonhos.


- A lua... Aquela lua que falava como a estrela de Harry... – murmurei mais para mim mesma do que para os outros.


         As coisas começavam a fazer sentido.


- Sim, a lua e a estrela – riu Farllen – eram vocês mesmos, tentando dar uma explicação de quem eram o que seus poderes significavam e que vocês eram reencarnações, destinadas a combater o mal. Entretanto, quando entenderam seus próprios sonhos e poderes, era “tarde demais”.


- Porque Harry tinha morrido – umas poucas lágrimas pingaram de meu queixo para a grama, flores coloridas nasceram entre outras flores dessas lágrimas.


- Exatamente, mas, como estava dizendo antes, Merlin liberou seu poder e, juntos, começaram a desenvovê-lo, tal como Harry e Morgana... – mas foi gentilmente interrompido por Harry.


- Ainda não entendo como eu tinha a alma de Morgana se eu era a reencarnação de Merlin? – também me confundira nisso, só não tinha coragem para interromper um ser místico que parecia muito mais poderoso que eu, tudo bem.


- Você é a reencarnação de Merlin – disse o óbvio Farllen – entretanto, o seu poder e sua magia são a de Morgana, por mais que, você pense, aja e, às vezes, muito sutilmente, sinta como Merlin. O mesmo aplica-se, ao contrário, para você, Alicia.


- Mas... Se eu sou a reencarnação de Morgana, por que tenho o poder de Merlin? – isso ainda não fazia sentido algum e eu ainda estava muito, muito confusa.


         Farllen riu, como se isso – a minha confusão e curiosidade – tivesse alguma graça. Certo.


- Poder de Merlin, curiosidade de Morgana – ele riu e eu entendi a graça, só não vi um motivo realmente bom para rir na seriedade da coisa toda – Ora, você é a reencarnação de Morgana com os poderes de Merlin, porque o destino assim achou-lhe conveniente. Por que chove? Não é por causa do ciclo da água, ou o que for que os cientistas dizem, chove porque o destino acha conveniente sempre haver água no mundo. Isso se chama Vida.


         Eu não iria admitir que só fiquei mais confusa, não mesmo.


- Quer dizer... – começou Harry que ficara quieto durante a “piada” de Farllen – Acho que entendi. O destino achou que, colocando a alma e os poderes de Morgana em mim, eu entenderia melhor o que precisava ser feito, por mais que a mente e corpos fossem de outra pessoa?


- Vejo que estamos chegando a algum lugar, não? – perguntou retoricamente o pégaso.


         Por alguns segundos, ficamos em silêncio, pensando e Farllen nos respeitou, deixando-nos consigos mesmos.


Por que nunca me falou isso?, perguntei a Universo... Quero dizer, Merlin, ah, é tão confuso!


         A imagem de Harry apareceu na minha mente, com um preto profundo de fundo, como se eu tivesse fechado os olhos e Merlin – Harry – aparecesse sob minhas pálpebras.


E qual seria a graça? O que você aprenderia?


Está dizendo que eu tive que sofrer o que sofri para aprender? , perguntei incrédula na minha própria voz mental.


         A resposta de Universo foi simples.


Sim.


         Eu bem que tentei ficar furiosa com ele, mas algo me dizia que ele estava certo, e eu deveria usar meu bom senso – perguntei-me se não era “o lado Morgana” agindo.


- Farllen – chamei e ele virou seus olhos dourados para mim, isso seria outra questão – mesmo sendo a reencarnação da Morgana e tendo a alma de Merlin, eu ainda tenho um lado propriamente meu correto?


         Farllen lançou-me um sorriso gentil: - Mas é claro, Senhora Morgana. Ou você acha que seria somente uma boneca? Daquelas que se dão cordinhas e você faz o que mandam? Não, digamos que, seu corpo, sua mente, sua mágica, seus sentimentos, tudo tem muito “espaço” aí dentro.


         Dessa eu realmente tive de rir, não é que o pégaso poderia ser mesmo engraçado? Olhei para Harry, seus olhos piscaram e ficaram dourados – senti como se meus próprios olhos esquentassem, e eu sabia que os meus também brilhavam em dourado.


- Por que nossos olhos ficam dourados? – perguntou Harry, olhando para mim, curioso com o fato.


- Porque estão usando seus poderes- respondeu simplista Farllen.


- Mas, mesmo fazendo mágica nas aulas, meus olhos não ficam dourados – contestou firmemente Harry.


- Tanto quanto Morgana é divertida, você é decidido em suas opiniões, Merlin – Farllen parecia achar muitas coisas divertidas – Quando digo poderes, quero dizer, poderes, não mágicasinhas que qualquer um poder realizar.


- Magia Antiga ou...? – comecei a perguntar, mas o pégaso sutilmente me interrompeu.


- Seus poderes próprios. Saberá quais são quando usá-los – encerrou essa questão Farllen, parecia incomodado com esse assunto.


- Seus olhos estão sempre dourados – comentei, desviei rapidamente quando aquelas duas orbes douradas e poderosas viraram-se para mim. Era estonteante olhar-lhe diretamente.


- É porque eu sempre estou usando meus poderes, é parte de minha natureza – respondeu.


- Por que eu perdi a memória? – perguntou Harry.


         Olhei indagadora para ele, quando me lembrei que somente Universo – Merlin, confusão – explicara o porquê disso. Aura provavelmente não.


- Quando Voldemort atacou-lhe naquela noite, Morgana e você trabalharam juntos para repelir a Maldição da Morte, e isso desgastou os dois, mais a ela. Morgana ficou inconsciente dentro de você, sendo basicamente sua identidade, você a perdeu. Mas você ainda era a reencarnação de Merlin, isso o fez que se lembrasse de seu nome e que era bruxo, mas somente isso.


         Harry assentiu, compreendendo. Um silêncio confortável caiu sobre nós, ouvindo somente o vento tinindo contra as folhas das árvores e as flores suavemente batendo umas com as outras.


         Uma luz circulou a mim e Harry, e duas formas humanas saíram uma de cada um de nós. Merlin, sentado ao meu lado, usava uma roupa digna de um rei ou um cavaleiro – calça, botas de couro, túnica e capa – os cabelos eram bagunçados e os olhos mais brilhantes que todo o corpo.


         Morgana, ao lado de Harry, era como uma princesa. Usava um vestido que se arrastava ao chão, com longas mangas e um bonito decote em V, que mostrava um colar – era delicado, com uma pedra (que em sua cor de aura branca não consegui identificar qual) adornada de delicado ouro, isso era identificável – salto alto e os cabelos bem penteados, eram cacheados. Os olhos também eram de maior destaque.


- Olá, queridos – disse com sua voz doce Morgana.


         Senti uma imensa vontade de perguntar-lhe sobre tudo no mundo, tirar todas as minhas dúvidas com essa mulher que parecia muito sábia.


- Como vão? – perguntou Merlin risonho.


         Com ele, não senti vontade de perguntar-lhe, ele parecia sábio, sim, mas senti uma vontade imensa de abraçar e falar de meus problemas, como se ele pudesse estalar os dedos e resolvê-los.


- B-bem – gaguejei. Eu me sentia tão, tão, tão... Fraca e inútil perto dessas pessoas!


- Ah, não se sinta assim, minha doce Alicia – disse Merlin, tocando levemente meu rosto – É tão esperta e poderosa quanto qualquer outro aqui.


         Lancei um sorriso agradecido a meu amigo de longar datas, Merlin ou Universo, era meu amigo, e eu me sentia feliz com o fato de ser assim.


- Que bom que assim seja – respondeu Merlin, ele aparentemente ainda lia meus pensamentos, mas afinal, por que seria diferente de antes agora que eu descobri as coisas? – Está certa.


         Agora, dei-lhe um olhar zombeteiro, como se perguntasse se ele ia ficar lendo meus pensamentos. Ele respondeu com um sorriso maroto – isso era a cara do Harry!


- Por que... Por que somos eu e Al a reencarnação de vocês, por que não outro? – indagou Harry para Morgana.


         Morgana deu um sorriso doce – o meu sorriso – para Harry, tocando-lhe brevemente a bochecha e respondeu:


- Ah, querido, às vezes penso se o destino não foi muito injusto com vocês dois, que já sofreram tanto – disse ela – porém, são muito poderosos e muito prudentes, sei que pode parecer crueldade que sejam vocês os destinados a acabar com as Trevas, mas o destino não escolhe e age à toa.


- Toda ação gera uma reação – disse Merlin.


- Terceira Lei de Newton – murmurou Harry, eu nunca que me lembraria dessas coisas.


- Foi um homem sábio, Newton. Era bruxo, se quer saber, só preferiu ficar mais famoso entre os trouxas do que no nosso povo, que desprezava a idéia de destino – disse Merlin, como se tivesse ofendido com tal coisa – Mas, Newton estava certo.


- Quer dizer que, nas Leis de Newton, ele queria, discretamente, dizer que o destino agia? – perguntei, que coisa bizarra.


- Sim – respondeu rindo de meus pensamentos Merlin.


         Percebi como assunto não estava mais voltado para reencarnações e auras de poder, era como se fossemos velhos amigos conversando e rindo.


- Que bom que pensa assim – riu-se Merlin.


- Pare de ler meus pensamentos! – falsamente indignei-me.


- Harry está rindo por dentro – comentou Morgana, deixando um sorriso escapar.


- Achei que éramos companheiros, sabe, um apóia o outro – ele comentou fingidamente triste.


- Vocês parecem crianças – disse sério Farllen.


         E nós cinco, como bobos, explodimos em gargalhas intimas, rindo da vida e da alegria, sem saber exatamente o motivo.


- Bom, já está na hora de Harry e Morg... Aliás, de nós quatro acordarmos, não acham? – riu Merlin.


- Eu tenho mais algumas perguntas! – indignou-se Harry.


- E pode fazê-las, mas algumas talvez não estejam na hora de serem respondidas – sorriu Morgana para Pontas, tocando-lhe o rosto, ela parecia fazer muito isso... Será que eu também faço?


Talvez não, mas deseja muito... Principalmente se for com o Harry, Merlin gargalhou na minha mente.


Bobo, mentalmente, mostrei-lhe a língua, num ato infantil.


- As lendas diziam que Merlin era mais poderoso... Mas, pelo que vi agora, eu e Al temos igual poder – disse Harry, não parecia exatamente uma pergunta.


         Morgana olhou bem para ele, com olhos sábios e, por alguns instantes – como na nossa infância – nebulosos, e disse:


- Merlin sempre foi um grande feiticeiro, quando ele moresse, eu sabia que sua magia vagaria pela eternidade, em busca de alguém que pudesse suportar tanta magia no corpo.


- Eu? – perguntei abobada.


- Você é tão poderosa quanto Merlin, não porque possui os poderes dele, mas porque seu corpo é preparado para isso – respondeu ela.


- Mas é porque sou sua reencarnação... – então entendi – Ah! Se eu posso suportar os poderes dele, sendo sua reencarnação, quer dizer que seus poderes são iguais, entendi.


         Merlin discordou: - Não, minha querida, você suportou meus poderes, porque eles são menores, não iguais. Fui sim um bom feiticeiro, mas Morgana, sem duvida nenhuma, foi melhor.


         Morgana não tinha o tom de pele normal, sim de aura, mas as bochechas brancas ficaram douradas, corava.


- Além do que, ela aumentou mais ainda seus poderes nestes meses que ficou “inconsciente” – dizia Merlin – E, nesses dias que Harry ficou desacordado foi para, como disse antes, aumentar a capacidade de seu corpo.


         Alguns segundos breves de silêncio para analisarmos a fala de Merlin.


- Agora... – começou Morgana, enquanto se levantava, mas eu falei:


- Farllen – eu perguntei diretamente para o pégaso, que me olhou com seus olhos dourados – como é que você sabe toda a nossa história, ainda mais estando aqui, em Harmony?


         Ele me deu um sorriso, um sorriso de cavalo. (?)


- Ora, Merlin... Aliás, Universo – riu-se ele – não te contou que eu e Akemi éramos mascotes dos dois?


         Eu e Harry encaramos nossas auras.


- Achei que Akemi fosse um nome que eu tivesse dado – disse Harry, coçando a nuca, como sempre que estava confuso.


         Morgana riu graciosamente: - Ah, não. Você deu esse nome porque estava na sua memória, talvez você se lembre que ela disse que tinha mais de mil anos, sim? – após Harry assentir, ela prosseguiu – Então, ela foi nossa companheira.


- Passou os séculos com Farllen, nosso outro companheiro – disse Merlin – em uma floresta, que ficou conhecida como Floresta das Vozes. E Harmony surgiu, mas essa história fica para depois, temos mesmo de voltar.


         Assentimos. Morgana graciosamente voltou a Harry, e Merlin, rindo ainda sentado, voltou para mim. A última imagem da clareira que tive foi de Farllen piscando enquanto corria, se embrenhando nas árvores grossas e altas.


         A imagem seguinte era de um Harry deitado na cama, com as várias pessoas em volta. Olhei no relógio da parede, não tinha se passado nem um minuto. Ninguém notara.


         Eu ainda estava sentada do lado de Harry, em sua cama.


         Suas pálpebras tremilicaram e logo seus olhos abriram, revelando aquele verde penetrando e que sempre adorei. Em um olhar, soube que aquilo tudo que acontecera fora real e que Pontas se lembrava mesmo de tudo.


         Joguei meus braços em volta de seu pescoço, antes de cair num pranto sem fim, molhando seu pescoço e sua roupa. Ele, dessa vez, me abraçou de volta, enquanto acariciava meu cabelo.


- Calma, estou de volta – ele sussurrou.


- Eu – mais lágrimas – nem acredito que – fungada – você voltou – soluços alegres – mesmo, mesmo.


- Nem eu, Almofadinhas, nem eu – ele murmurou no meu ouvido – mas sabemos que, dessa vez, é para ficar.


- Para sempre – respondi num sussurro também.


- Prometo, prometo – ele sorriu.

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Comentários (1)

  • rosana franco

    Realmente foi muito interessante as trocas entre encarnção e poder muito inteligente a explicação parabens,agora vamos ver como vai ficar a relação entre todos eles.

    2011-03-20
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