Medo



                                                *Capitulo Trinta e Sete:  Medo*


                        “Qualquer um pode dominar um sofrimento, exceto o que o sente”


 


O céu estava negro, nenhuma estrela brilhava acima, não que se pudesse ver dali da Terra, especificamente da cidade de São Paulo, do bairro Jardins, não, dali não se podia ver as estrelas que povoavam o universo, dali nada se podia ver do céu além das nuvens negras que pairavam intactas sobre a cidade, como se sequer estivessem se movendo, deixando cair delas imensas gotas de chuva que se espatifavam sobre o asfalto encharcando-o, grossas gotas que rapidamente encharcaram o smoking preto, a gravata de borboletinha branca e os cabelos negros caiam displicentemente sobre o rosto, colando-se a pele, fazendo a cor negra se destacar na pele branca, de olhos acinzentados, como um dia nublado.


Grossas gotas escorriam dos cabelos pelo rosto, e da roupa de gala pelo sapato italiano lustrado, mas ele não estava preocupado com isso, nem mesmo com o frio que congelava seu corpo pouco a pouco enquanto o vento o açoitava como se estivesse em meio a um furacão de gelo, que congelava-o mais rapidamente que um iceberg seria capaz. Mas não importava, nada importava enquanto a moto acelerava cortando a distancia entre a Rua Holanda e a Rua Canadá em minutos, minutos suficientes para se encharcar, é claro, com aquele temporal. De onde será que estava vindo tanta água?


O ronco do motor da moto cessou-se quando ele finalmente parou em frente à casa dela, o vento ainda assoviava contra seu ouvido quando ele desceu da moto, observando o silêncio e a escuridão que vinha da residência. De alguma forma ele sentia que alguma coisa estava estranhamente fora do normal, ou seria apenas impressão dele causada pela tempestade que não cessava e por aquele vento que assoviava como um mau agouro em torno de si?


Passando a mão pelo rosto para retirar o excesso de água, ele aproximou-se do portão percebendo que o mesmo encontrava-se aberto, estranho, será que Lia já chegara em casa? Pelo tempo desde que ela saíra do colégio, era bem provável, por isso Sirius adentrou a casa da loira o mais silenciosamente possível, se Lia estava zangada com ele, era melhor ele não entrar causando, ou ela o colocaria pra fora dali a pauladas, ou pior.


As luzes da entrada estavam apagadas, assim como todo o restante da casa e a causa daquilo era certamente o apagão inesperado. A porta de entrada estava aberta e a escuridão imperava por todo o cômodo, deixando os moveis serem iluminados apenas pelo reflexo da luz da rua que pouco chegava até ali e pelos raios que brilhavam pelo céu. Sirius se lembrava de já ter estado ali uma ou duas vezes, mas pouco se lembrava do local, era como se nunca na vida tivesse colocado os pés ali, tudo parecia tão diferente.


A escada de madeira estalou levemente quando os sapatos de couro italiano subiram lentamente os degraus, alcançando em segundos o topo, se deparando com um corredor longo e escurecido, assim como estavam os demais ambientes da casa, não era possível que Lia estivesse ali, pensou o maroto, tudo estava vazio e silencioso demais.


Em passos lentos ele se encaminhou pelo corredor escurecido. Um raio cortou o céu iluminando levemente o ambiente através do vidro da janela de um dos ambientes que se encontrava com a porta aberta, por isso, Sirius conseguiu distinguir melhor o corredor. Tudo parecia normal, exceto por um vaso de flor que se encontrava espatifado no chão ao lado de uma mesinha de centro ao lado de uma porta aberta. Tirando o celular do bolso, Sirius deixou com que a luz esbranquiçada do celular iluminasse o caminho à frente enquanto o som da chuva castigando o telhado e os vidros ecoavam alto abafando os passos silenciosos do maroto.


Ele queria chama-la em alto e bom som, mas alguma coisa dizia que era melhor ele não assusta-la ou assustar os pais de Lia, afinal de contas, ele estava praticamente invadindo a casa da loira, poderia facilmente, naquela escuridão, ser confundido com um bandido e sabe-se lá Deus o que poderiam fazer com ele.


Um trovão estremeceu o chão enquanto São Pedro parecia jogar toda sua ira sobre São Paulo, talvez os dois estivessem brigando por alguma namoradinha lá em cima. Mais um raio iluminou o ambiente unindo sua luz a luz esbranquiçada do celular de Sirius que iluminava o corredor. Ele passou por mais duas portas, uma delas estava aberta, mas ele seguiu a frente, parando quando seus sapatos esmagaram os cacos de porcelana espalhados pelo chão de madeira da casa. Estranho, será que Lia passara tão irritada por ali que nem se importou de retirar os cacos do chão? E será que seus pais já estavam dormindo pra não ter acordado com o barulho?


Com a luz esbranquiçada ele iluminou o chão, percebendo que em meio aos cacos havia flores amarelas e brancas esmagadas por algum outro sapato que não os dele. Uma leve poeira branca da porcelana esparramava-se entre os cacos, mas não foi isso que chamou a atenção de Sirius, foi o estranho cheiro que emanava no corredor a partir daquele ponto. Erguendo o celular, ele iluminou a frente visualizando uma escada ao final do corredor que erguia-se para o terceiro andar e alguns quadros pendurados as paredes, nada de anormal parecia ter acontecido por ali, por isso, ainda em passos lentos e silenciosos ele seguiu a frente. Uma porta a direita encontrava-se aberta, quase ao lado de uma mesinha de onde provavelmente o vaso de porcelana, quebrado ao chão, pertencera em algum momento do passado.


Quando Sirius parou à porta e deixou com que a luz esbranquiçada do celular iluminasse o ambiente, ele sentiu seu estomago embrulhando enquanto um forte cheiro invadia suas narinas e uma visão estarrecedora era sinistramente iluminada por um raio que cortava o céu, deixando sua luz penetrar o ambiente através de uma porta de vidro fechada ao fundo do que obviamente era um quarto.


Seus joelhos amoleceram enquanto suas pernas bambearam, não era possível, pensou Sirius desesperadamente, aquilo deveria ser um sonho, não era real, nada daquilo era real.


O estomago deu uma volta inteira dentro de si enquanto ele apoiava a mão, com o celular, ao batente da porta, apoiando-se a mesma e a outra ele levava ao rosto, tapando o nariz para impedir que aquele cheiro o fizesse passar mais mal do que já estava passando.


Um desespero opressor esmagou seu coração, seu pulmão e seu estomago, precisava urgentemente encontrar Lia, precisava desesperadamente encontrar Lia, ele não sabia o que era capaz de fazer se...


Sirius abaixou o rosto e fechou os olhos, mesmo com os olhos fechados aquela imagem imperava sobre seus pensamentos, flutuando sobre seus pensamentos escurecidos, escurecendo tudo por dentro de uma maneira sinistra e medonha, uma imagem aterrorizante, desesperadora, uma imagem que lhe dava ânsia. Respirando fundo, Sirius virou o rosto evitando olhar novamente aquela imagem, aquilo deveria ser alguma brincadeira de mau gosto do seu cérebro, ou alguma ilusão criada por sua imaginação maluca, e se ele ao menos tivesse bebido um pouco mais do que realmente havia consumido, ele pensaria que tudo aquilo era apenas culpa da bebida e seu estado alcoólico, mas aquela era uma coisa da qual ele tinha certeza que não era.


Em passos trôpegos ele deslizou pelo corredor, a palma da mão agora suando fria deslizava pela parede enquanto ele se apoiava na mesma, tentando evitar uma queda brusca caso seus joelhos cedessem de vez, assim como seu estomago estava prestes a fazer. Ofegante, Sirius tropeçou até a outra parede do corredor, deslizando pra dentro de um novo ambiente, cujas portas abertas permitiram que ele adentrasse, desmontando sentado no primeiro lugar que viu pela frente.


As mãos deslizaram pelo rosto em direção aos cabelos enquanto ele abaixava a cabeça, fechando os olhos e respirando fundo, tentando afastar a cena de sua mente. Seu coração batia descompassado no peito, apertado devido ao medo e ao desespero, o desespero de ter perdido Lia de vez, Sirius não conseguia sequer concluir tais pensamentos sem que seu estômago revirasse ainda mais revolto dentro de si.


Um delicioso cheiro de rosas impregnava o ambiente, e foi só quando Sirius notou isso que percebeu que não estava em qualquer lugar. A cama na qual ele encontrava-se sentado era macia e aconchegante, havia sobre o travesseiro um delicado coração de pelúcia, vermelho, e iluminado pela porta de vidro da sacada, a qual encontrava-se fechada apenas pela parte de vidro, estava um porta retrato sobre a mesinha de cabeceira, uma garota linda, loira, os cabelos longos e lisos caídos sobre os ombros e um sorriso deslumbrante iluminando a fotografia, ao lado de uma mulher loira e de um homem grisalho.


Mais uma vez o estômago de Sirius revirou-se, dando cambalhotas, agora de desespero, tinha que encontra-la, tinha que encontra-la, precisava urgentemente e desesperadamente encontra-la, sã e salva, e abraça-la junto ao peito e não deixar que ela saísse de lá nunca mais. Deus, como ele precisava daquilo.


Silenciosamente ele levantou-se, havia uma porta do lado esquerdo que se encontrava aberta. Seu sapato de couro italiano brilhava a luz dos raios que penetravam a escuridão através da porta de vidro, e silenciosamente ele caminhava em direção a porta aberta. Seus olhos já acostumados com a escuridão queimavam com as lagrimas que não rolavam, e sua respiração ofegante controlava-se temendo o que mais poderia vir pela frente, era como se estivesse num filme de terror onde até mesmo uma respiração poderia denuncia-lo ao monstro da serra elétrica.


Mas não havia serra elétrica em meio a todo aquele silencio, ao contrario, seu coração que parecia girar dentro do peito como uma serra barulhenta e desesperada, pulando como um canguru, aos solavancos dentro de si, fazendo seu corpo inteiro tremer, não mais de frio ou sequer pelas roupas encharcadas, mas de medo e desespero.


Sua mão gelada apoiou-se ao batente da porta, enquanto seus olhos espreitavam o ambiente escurecido. Não havia janelas, apenas portas e gavetas do que ele logo percebeu ser um armário, aquele obviamente era o closet, onde ao final havia uma porta que dava direto ao banheiro.


O cheiro de Lia ali era muito mais forte do que em qualquer outro ambiente da casa, e aquele doce perfume de rosas pareceu acalmar tudo dentro de si, fazendo-o respirar mais calmamente e controlar os tremores que ocupavam seu corpo. Precisava encontra-la, mas para isso precisava manter a calma, ela iria precisar dele, e ele precisava se preparar para estar ao seu lado, firme, forte, dando todo o apoio e tudo que ela precisasse.


Em passos apressados, Sirius voltou ao quarto, Lia não estava ali, ele precisava encontra-la, mas talvez fosse melhor ele não fazer isso sozinho, precisava tomar duas providencias rápidas, por isso ele sentou-se novamente na cama confortável e pegou o porta retrato de cima da cabeceira.


— Eu vou cuidar de você, Lia, eu juro que vou cuidar de você. – A voz rouca e baixa ecoou pelo ambiente, antes de mais um raio cortar o céu seguido pelo estremecer de um trovão.


Com a outra mão, Sirius puxou o celular do bolso novamente, agora não mais para iluminar o ambiente. Com o dedo tremulo e gelado ele discou sobre o visor o numero já há muito decorado e esperou, enquanto dentro de si seu coração voltava a pulsar como uma bateria de escola de samba.


 


 


 


 


A escuridão imperava todos os cantos enquanto vozes e gritos ecoavam por toda parte, era impossível saber quem era quem ou o que era o que apenas pelas luzes esbranquiçadas dos celulares que tremeluziam por toda parte.


Parado a entrada do jardim, Thiago não conseguia mover um musculo, a surpresa do inesperado apagão o pegara desprevenido no pior momento, no momento em que ele pensava que tudo estava perdido, droga de escuridão.


Grossas gotas de chuva começavam a encharcar seu terno e seus cabelos despenteados, gritos femininos aumentavam e o som de sapatos de salto ecoavam ainda mais enquanto as meninas corriam pra tentar se proteger da chuva, mas se proteger com aquela escuridão estava meio fora de cogitação, com tal pensamento, Thiago desesperou-se: Lilian.


Não muito confiante de onde estava pisando Thiago seguiu a frente enquanto enfiava as mãos nos bolsos a procura do celular, uma luz extra só pra si já ajudaria bastante.


Era impossível saber onde estava indo, ele mal conseguia se lembrar agora o que havia no caminho até o banco onde Lilian estava, será que estava perto agora ou ainda estava longe? As mãos que tateavam os bolsos constataram que o celular não se encontrava em nenhum dos dois, o que o desesperou ainda mais, será que perdera o celular?


— LILY? – Thiago mal ouviu a própria voz entre a gritaria, os risos e os “uhul” dos alunos a sua volta, mas esperava que Lilian ao menos o ouvisse ou também o estivesse procurando, será que ela estava muito zangada com ele? O que será que Mayara dissera a Lílian? Se ela tivesse contado a cena do banheiro, qualquer uma que fosse, era mais do que certeza que zangada seria pouco perto de como Lilian ficaria com Thiago.


—LILY? – Thiago sentiu-se esbarrar no mínimo em umas cinco pessoas enquanto tropeçava por entre a grama e estatuas de gnomos ou sabe-se lá o que e bancos de concreto enquanto procurava por Lilian, não era possível que ela tivesse ido pra tão longe.


Agora a chuva parecia uma tempestade, como se São Pedro de repente abrisse a torneira fazendo imensas gotas ensoparem Thiago, seu terno preto bem passado e seu corpo que aos poucos ia congelando.


Droga, droga, droga, aquela definitivamente não era uma boa noite.


Se livrar da torneira aberta de São Pedro ou procurar Lilian, eis a questão. Bom, era mais do que obvio que ela não ficaria na chuva, então procurar um abrigo era uma boa escolha, por isso Thiago rapidamente tentou calcular em sua mente pra que direção deveria ser o colégio e a bendita área coberta que o livraria daquela enxurrada antes que ele se alagasse. Não teria muito tempo até decidir isso, pois as gotas agora pareciam castiga-lo ainda mais, juntamente com o vento que chacoalhava as arvores a volta e uivava em seu ouvido como um cão faminto e desesperado, num pranto profundo e eterno.


Sem pensar muito em que direção seguir, Thiago deu meia volta e correu deixando seus instintos guiarem-no enquanto seus olhos focalizam as luzes esbranquiçadas, elas eram sua salvação, onde elas brilhavam muito provavelmente era onde o esconderijo da chuva se encontrava. Estava prestes a alcançar as tão desejadas luzes esbranquiçadas quando sentiu a dor penetrando seu corpo enquanto ele trombava bruscamente em alguém, sentindo um salto alto esmagando seu pé e mãos agarrando-se a seu corpo para não tombar, mas o que as mãos fizeram não foi agarrar-se nele numa tentativa vã de se salvar, mas sim cair em direção a grama encharcada levando Thiago junto. Suas mãos rapidamente agarraram o corpo junto a si, tentando fazer com que o tombo doesse mais em si do que na garota, amortecendo a queda dela com o próprio corpo, o que obviamente não foi nenhum pouco legal ou não doloroso.


— Ai, desculpa, eu não... Eu não te vi. – Disse a garota enquanto apoiava as mãos ao peitoral de Thiago tentando se levantar. Ela não o vira? Obvio, Thiago estava prestes a responder, mas as palavras sumiram em sua mente enquanto seu coração acelerava drasticamente quase causando em si uma parada cardíaca.


— Lilly? – Suas mãos seguraram a garota pelo braço tentando enxergar seu rosto delicado com as leves sardas sobre a bochecha e os cabelos ruivos provavelmente encharcados já que seu corpo encontrava-se molhado, não tanto quanto Thiago, mas o suficiente para faze-la sentir frio, o que, com aquele vento envolvendo-os como se fosse um pequeno redemoinho, não estaria tão longe assim.


— Thiago? Ah graças a Deus, eu tava ficando desesperada. – Thiago segurou-a em seus braços enquanto erguia o corpo, levantando-se e trazendo Lilian consigo, mantendo-a junto de si como se temesse que ela pudesse desaparecer na escuridão novamente.


— Você ta bem? Machucou? Alguém fez alguma coisa com você nesse apagão? Te agarraram? Tocaram em você? Mexeram com você? – Lilian riu, era impossível não rir diante de tanta preocupação, era tão lindo que tudo que Lilian conseguiu fazer como resposta foi colar as mãos as laterais do rosto de Thiago e puxa-lo pra si ate sentir seus lábios colando aos dele, calando-o com um beijo carinhoso que se aprofundou num beijo intenso cheio de preocupação e alivio ao mesmo tempo enquanto Thiago apertava o corpo de Lilian ao seu e a tempestade os encharcava cada vez mais.


Como era bom tê-la consigo, como era bom ter o corpo dela junto ao seu, os lábios dela nos seus e aquele cheiro o invadindo, não trocaria ela e tudo aquilo por nada no mundo, nada, nada. Apesar da chuva, do vestido e dos cabelos molhados, o corpo de Lilian estava quente enquanto Thiago a abraçava fortemente contra seu corpo, deslizando as mãos pela lateral do corpo de Lilian, antes de segura-la pelas pernas a erguendo no ar e colocando-a em sua cintura, fazendo Lilian enroscar as pernas envolta de sua cintura, o beijando mais intensamente.


O vento uivava, os gritos e risos continuavam ecoando a toda volta, enquanto a escuridão ainda imperava sendo pouco quebrada pelas luzes dos celulares que serviam como lanternas, as grossas gotas da chuva caiam fartas no gramado verde, nos bancos de concreto e nas arvores que eram chacoalhadas pelo vento forte que parecia zangado como uma mulher em dia de TPM.


Mas nada daquilo importava pra Thiago agora que tinha Lilian em seus braços, agora que suas mãos deslizavam pelas costas dela prensando o corpo quente ao seu que o aquecia mesmo debaixo da torneira aberta de São Pedro, que o aquecia com aqueles lábios e aquele beijo que aprofundava-se e esquentava cada vez mais.


— UHULL, isso que é cena de filme romântico. – Gritou uma voz feminina fazendo Lilian rir entre o beijo percebendo finalmente a chuva fria e grossa que caia sobre os dois, fazendo imensas gotas deslizarem por seu rosto e seus cabelos, encharcando-a.


— É melhor... – Ela disse roucamente risonha e Thiago riu, concordando em seguida.


— É, é melhor sairmos daqui. – Com Lilian em seus braços, Thiago caminhou em meio a escuridão em direção as luzes dos celulares tendo quase certeza que estava no caminho certo, quase certeza que se confirmou quando a luz de emergência finalmente foi acionada iluminando todo o salão e os jardins da escola, fazendo vários “Ahhhhh” ecoarem alto pelo colégio.


A claridade inesperada fez seus olhos piscarem varias vezes enquanto ele finalmente alcançava uma parte encoberta do colégio, livrando-os da tempestade que castigava fazendo os trovões retumbarem pelo céu que era rapidamente clareado de segundos em segundos pelos raios.


— Ah droga, você ta toda encharcada. – Finalmente livres da chuva, Thiago deslizou a palma da mão pelo rosto encharcado de Lilian percebendo o quanto ela estava molhada, boa parte daquilo era culpa sua de ter se empolgado tanto naquele beijo debaixo da tempestade. Romântico, mas encharcados e tremendo de frio depois que a cena acabava. Nada romântico essa ultima parte, diga-se de passagem.


—Ta tudo bem. – Disse Lilian tentando não preocupar ainda mais o namorado que deslizava as mãos pelos braços de Lilian tentando aquece-la.


— Desculpe. – Ele disse sem conseguir encarar aqueles olhos esverdeados. – Desculpe eu... eu não devia...Eu fui um idiota... - Sua garganta se apertou enquanto um nó imenso se formava quase impedindo-o de respirar. Tinha sido um imbecil, burro, estupido, idiota e mais um milhão de palavriados daquele sentido que existissem no mundo, e nem saberia como pedir desculpas adequadamente a Lilian por tal ato burro e ignorante de sua parte. Será que ela o perdoaria?


— Não, não amor, ta tudo bem, não tinha como você adivinhar que ia ter esse apagão. – Thiago ergueu os olhos e encarou Lilian sem entender. Estava tudo bem? Amor? Como assim? Mayara não tinha contado nada a ela?


—Ta... Ta tudo bem? – Indagou o maroto temeroso.


— Thiago o que foi? Por que você ta assim? – Thiago engoliu em seco, Lilian não sabia de nada, Mayara não havia contado nada, então o que ela estava fazendo quando ele a vira com Lilian antes do apagão?


— Nada, é que, eu achei que você fosse ficar zangada por eu ter sumido bem na hora do apagão e te deixado sozinha. – Lilian riu, selando seus lábios aos dele carinhosamente.


— Claro que não, seu bobo. – Thiago riu nervosamente, sentia o peso em sua consciência, mas também se sentia aliviado, devia uma para Mayara.


—Han.. O que a Mayara queria com você? – Lilian revirou os olhos e fez uma careta antes de responder.


— Ah ela disse que encontrou seu celular no corredor da escola, perto do banheiro.


— Eu nem tinha percebido que tinha perdido, mas como ela sabia que era meu? – provavelmente essa historia era verdadeira, mas devia ter caído no banheiro masculino enquanto estava com ela, bem provavelmente


— Ela disse que sabia que era seu por que tem uma foto minha no visor. – Lilian deu um sorriso imenso e selou seus lábios aos de Thiago.


“Para-para-paradise.Para-para-paradise


Every time she closed her eyes”


 


            — Melhor você atender. – Disse Lilian entre o beijo, separando os lábios dos de Thiago que negou com a cabeça, inclinando-a mais a frente numa tentativa de colar seus lábios nos de Lilian novamente.


— Thiago. – Lilian riu quando o maroto selou seus lábios aos dela novamente, enquanto o som da musica de seu celular aumentava cada vez mais.


— Eu não quero saber do mundo hoje, eu quero saber de você. – Lilian riu e envolveu as mãos envolta do pescoço do maroto.


— Eu te amo. – Sussurrou a ruiva baixinho e Thiago sorriu exuberante.


— Se você disser isso mais uma vez eu vou me apaixonar. – Lilian riu, se apaixonar mais ainda?


— Eu te amo. – Ela disse baixinho agora com os lábios rentes aos lábios dele, que sorriu, acariciando o rosto de Lilian e falando num sussurro antes de finalmente beija-la intensamente.


— Eu te amo muito mais.


Ele a beijou intensamente quase se esquecendo novamente de onde estava, das roupas encharcadas, dos corpos de ambos que agora aos poucos iam congelando, quase se esquecera.


—É melhor eu te levar pra tomar um banho quente e trocar essa roupa, não quero minha ruivinha doente. – Lilian riu e revirou os olhos, sentindo-se balançando no colo de Thiago enquanto ele caminhava em direção ao portão.


— E pra onde exatamente você ta pensando em me levar, Sr. Potter? – Diante da carinha de desconfiada de Lilian, Thiago não pôde perder a oportunidade de brincar com ela.


—Pro motel.


— POTTER. – Thiago gargalhou e apertou o botão de alarme do carro, antes de caminhar as pressas debaixo da chuva, com Lilian presa pelas pernas em sua cintura.


“Para-para-paradise. Para-para-paradise. Every time she closed her eyes. Para-para-paradise. Para-para-paradise. Every time she closed her eyes”


 


— Thiago, seu celular não para de tocar. – Finalmente estavam dentro do carro, Thiago ligava o ar quente para os aquecer e puxava do banco traseiro do carro uma jaqueta de moletom entregando-o a ruiva em seguida.


— É melhor você vestir isso pra ir se aquecendo. – O maroto tirou o terno preto ensopado e jogou-o no banco de couro traseiro sem se importar, sentindo seu corpo ir se aquecendo aos poucos pelo ar quente.


Lilian vestiu a blusa de moletom de Thiago por cima do vestido e sorriu sentindo o cheiro delicioso dele a invadindo, ela sentiu uma vontade imensa de ter aquele moletom com aquele cheiro na hora de ir dormir.


“Para-para-paradise. Para-para-paradise. Every time she closed her eyes. Para-para-paradise. Para-para-paradise. Every time she closed her eyes”


Thiago pegou a bolsinha de mão de Lilian que estava sobre o painel do carro e puxou seu celular que tocava e vibrava sem parar.


— Fala viadinho. – Thiago sorriu, piscando pra Lilian, enquanto recostava-se ao banco do carro sentindo-se mais a vontade com o ar quente que aos poucos ia descongelando seu corpo.


Lilian estava encolhida no banco do carro, as pernas juntas lateralmente sobre o banco, os saltos caídos no carpete do carro, envolvida no moletom de Thiago que ficava muito maior na ruiva, dando um charme a mais a ela, Thiago observava essa cena perfeita quando seu sorriso desapareceu dos lábios.


— O que?  Como assim sumiu? – Seu sorriso desapareceu, seu rosto empalideceu ainda mais e sua garganta engoliu a seco enquanto seus olhos, agora meio assustados, encaravam Lilian.


— Thiago o que foi?


—Okay, estamos indo praí. – Os olhos de Lilian estavam pregados em Thiago, preocupados, curiosos, temerosos, Thiago sentiu o pânico bombeando mais rapidamente seu sangue fazendo seu coração acelerar ao peito.


— Thiago pelo amor de deus, o que aconteceu?


— A Lia sumiu.


 


 


A escuridão parecia imperar sobre todo o ambiente, uma gritaria se espalhava por todos os lados parecendo aprovar a surpresa inesperada, era como soltar crianças numa loja de doces, pensou ela, enquanto seu coração batia desesperado ao peito.


Nem mesmo a escuridão era capaz de apagar a imagem que permanecia fixa em sua mente, por isso, Patsy não se deu ao trabalho de procurar o celular para iluminar a sua volta, não queria voltar a ver nada, não queria voltar a sentir seu estomago se revoltando dentro de si, já tivera isso demais naquela noite, precisava de um pouquinho de paz, pelo menos para seu organismo.


Seu corpo deu meia volta e passou a tropeçar em meio a escuridão, vozes altas ecoavam em meio a gritos, a chamados, a algazarra que os jovens faziam, enquanto seu sapato de salto deslizava pelo chão sujo de bebida, cacos e sabe-se lá mais o que poderia se encontrar ali. Seu corpo frágil esbarrava-se em pessoas que tentavam se localizar com as luzes dos celulares, ela só queria localizar um lugar: a saída.


— PAT! – Ela ouviu uma voz familiar gritando seu nome em meio à gritaria, mas não parou para esperar, ela não queria esperar, ela queria fugir.


— PAT! PAT ESPERA! – Seus saltos quase escorregaram no chão liso quando ela passou a correr entre a multidão alvoroçada. Luzes de celulares iluminavam a sua volta, facilitando a Patsy encontrar o caminho, conhecia aquele colégio na palma da mão, com ou sem bares e pistas de danças, já se habituara com todos os cantos, por isso ela sabia exatamente onde ir para encontrar a saída.


— PAT! – A voz de Remo parecia agora muito mais próxima, era obvio que ele conseguia se locomover entre a multidão com muito mais facilidade, ele não estava usando saltos e vestido longo para atrapalhar o processo, por isso, antes que Patsy finalmente encontrasse o portão de saída ela sentiu alguém segurar em seu braço e puxa-la, fazendo seu corpo se virar e encarar aquele rosto que ela tanto amava.


Seu coração disparou e em seguida se esmagou no peito, aquilo tudo deveria ser um pesadelo, certo? Só poderia, Remo jamais faria aquilo com ela, Remo jamais agiria como Sirius ou Thiago, de aparecer no meio do baile com outra assim, sem mais nem menos, como se ela nunca tivesse existido em sua vida, Remo não era assim, então por que aquele sonho horrível? Por quê?


Ela mal percebera que havia estava no corredor desprotegido da chuva até que grossas gotas de chuva começaram a encharcar seus cabelos, deslizando por seu rosto.


— Pat... – Ele começou, mas não conseguiu terminar, era como se uma pedra estivesse entalando em sua garganta.


— Eu to sonhando? Isso só pode ser um pesadelo. – Grossas gotas começavam a deslizar por seu rosto, misturando-se rapidamente as lágrimas que escorriam dos seus olhos. Passara boa parte da noite tentando não chorar, tentando não se sentir daquele jeito que agora se sentia, era como se a noite toda, seu sexto sentido tivesse lhe dizendo pra se preparar para aquilo, mas se preparar como? Era tarde demais, seu coração se partia de tal forma que ela era incapaz de controlar as lágrimas, o medo, a dor que sentia diante da imagem que parecia não abandonar sua mente um segundo sequer.


— Pat não é nada disso que você esta pensando. – Ele disse e no instante em que disse aquelas palavras se arrependeu de tê-las ditas, eram tão comuns, eram tão obvias, mesmo sendo verdadeiras, não era o que ela pensava, não era nada do que ela provavelmente estava pensando, mas será que ela acreditaria nele?


— Não Remo, por favor, não, você não. – Ela puxou o braço e se virou, caminhando apressada sob a chuva intensa que desabava sobre eles.


Por meio segundo Remo ficou ali, parado, vendo Patsy correndo em direção ao portão do colégio, debaixo da chuva que cada segundo se tornava mais intensa enquanto os raios e trovoes sacudiam a noite de São Paulo.


Ela estava indo embora e ele não podia permitir isso, no segundo seguinte Remo correu sob a chuva intensa e alcançou Patsy quando os sapatos de salto da garota pisaram sobre o asfalto encharcado da rua deserta.


— Pat. – Ele a puxou pelo braço pela segunda vez, mas dessa vez havia mais determinação em si, por isso quando Patsy tentou se desviar de Remo, foi inútil. Num gesto ele a puxou pra perto de si colando o corpo dela ao dele, permitindo que assim ela o encarasse e não houvesse como fugir dele uma segunda vez, ele não poderia deixar que ela se fosse pensando que ele estava com outra sendo que a única mulher no universo que realmente importava pra ele, estava ali na sua frente, em seus braços, com os cabelos encharcados, os olhos vermelhos e os lábios apertados como se tentasse controlar a si mesma.


— Pat eu pensei que já estivesse mais do claro que eu não sou como o Thiago e o Sirius, nunca fui e nunca serei. Você é a única que me interessa nesse mundo, a única coisa que me importa, a única garota que eu amo, eu jamais trocaria você por nenhuma outra...


— Então o que foi aquilo lá dentro, Remo? – A voz dela saiu fraca e rouca, e se Patsy não estivesse tão próxima de Remo, talvez ele sequer conseguisse ouvi-la, enquanto os trovoes de São Pedro estremeciam o céu, como se ele e a Sra. Pedro estivessem numa DR emocionalmente perturbada.


— Ela é só uma amiga, Pat, eu estava só tentando ajudar ela a fazer ciúmes no cara que ela gosta, eu só tava tentando ser legal por que ela precisava de alguém assim.


— Você é gentil demais. – Patsy revirou os olhos, enquanto as lagrimas rolavam por seu rosto, não era possível que ele só estivesse mesmo tentando ser gentil e ajudar uma amiga a fazer ciúmes pro namorado, e ciúmes ainda por cima, abraçando a menina e sabe-se lá mais o que eles tivessem feito enquanto ela estava que nem uma idiota vomitando no banheiro.


Numa distração de Remo, Patsy puxou o braço e se virou caminhando debaixo da chuva, não estava realmente preocupada com o vestido encharcado, com o vento frio que soprava sobre sua pele arrepiando-a inteira ou com a maquiagem que escorria pelo rosto junto com as lagrimas e a chuva, ela não se importava com nada naquele momento por que tudo que realmente lhe importava estava fazendo seu coração se despedaçar em milhões de pedacinhos. Por que aquilo? Por que agora? Por que justo agora que ela descobrira que...


Um soluço ecoou alto enquanto ela tentava apressar os passos, mas o soluço, assim como o som do salto sobre o asfalto eram abafados pela chuva, pelo vento e pelos trovoes ribombando pelo céu, clareando a noite com seus raios cortando o horizonte escurecido.


Seus sapatos de salto não conseguiram alcançar o quarto passo, muito menos o quinto, o sexto e os demais até que ela alcançasse sua casa ou qualquer outro lugar que a permitisse ficar longe dele e pensar no que fazer, Remo não queria aquilo, não queria que ela se afastasse dele, que ela se fosse pensando o que era totalmente o contrario do que realmente ele pensava, do que realmente ele sentia, do que realmente acontecera. Será que ela não acreditaria nele?


— Eu te amo, Pat, eu te amo demais, por favor, você tem que acreditar em mim. – Patsy parou quando a mão de Remo tocou seu ombro e então fechou os olhos. Ela precisava acreditar nele, sempre acreditara, afinal ele sempre fora honesto com ela, nunca houvera realmente motivo pra que ela não acreditasse no que ele dissesse, então por que seu coração continuava latejando e sangrando?


Medo, era o medo idiota, estupido, ignorante que a esmagava por dentro, o medo dele deixa-la quando descobrisse o que acontecera, quando descobrisse como suas vidas estavam prestes a mudar da agua para o vinho, ou do vinho suave e doce para a coca-cola sem gás, quente e de semanas aberta, sem gosto algum mais, sem doçura ou sabor. Medo maldito que esmagava, atropelava, ensanguentava e atormentava a alma e a mente, medo maldito que era capaz de faze-la perder tudo, se não soubesse doma-lo.


Com o corpo inteiro tremulo, Patsy se virou, deveria ignorar o medo e encara-lo, deveria ignorar o enjoo na boca do estomago e aceitar a verdade que ele lhe dizia, aproveitar seus últimos momentos com ele, os últimos bons momentos com o homem que amava, antes que o vinho se transformasse definitivamente em coca-cola quente e sem gás.


Os olhos vermelhos encararam o nada a sua frente quando seus sapatos de salto giraram sobre o asfalto encharcado pelas gotas de chuva, Remo não estava ali, em pé a sua frente, então onde...


Um nó se apertou em sua garganta e seu estomago deu mais uma cambalhota, dessa vez não de enjoo, ou medo, ou insegurança, mas de pura surpresa. Que diabos Remo estava fazendo ajoelhado a frente de Patsy, com os joelhos e a calça social encharcando-se na poça de chuva sobre o asfalto e a mão estendida a frente?


Um raio cortou o céu e o anel brilhou sob a luz da tempestade enquanto sobre o som da chuva e dos trovoes a voz de Remo ecoou alta o suficiente pra fazer Patsy estremecer, não mais de frio.


— Pat, você quer casar comigo?


 


 


 


O coração batia descompassado ofegando a respiração enquanto o medo percorria seu corpo inteiro.


Ela já não sentia as lagrimas escorrendo pelo rosto, incontroláveis, já não sentia as pernas que encolhidas adormeciam pelo fato do sangue correr com dificuldades por suas veias, enquanto seu corpo permanecia encolhido sobre os sapatos caros dentro do armário do closet. Ela já não sentia as mãos gélidas sobre os pelos macios e quentinhos da cachorrinha que incompreendendo a situação roçava o focinho quente sobre o rosto da dona como se desejasse faze-la parar de chorar e lhe dizer que ela estava ali, ela sempre estaria ali do seu lado. Ela já não sentia o medo, a dor, o pânico, a respiração, nem mesmo o coração pulsando loucamente ao peito, Lia Andrews era incapaz de sentir qualquer coisa, como se sua mente e seu corpo estivessem presos na escuridão do trauma, do pânico e do medo.


Seus sentidos estavam perdidos, incapaz de ouvir, Lia mal percebeu quando sua cachorrinha rosnou, o focinho agora roçando e cheirando a fresta da porta como se tentasse dizer a sua dona que alguém estava do lado de fora, mas isso Lia já sabia, havia alguém do lado de fora, alguém lhe causara mais medo na vida do que qualquer filme de terror até então, ganhando ate mesmo do exorcista, e olha que nada a fazia sentir mais medo do que filmes de espíritos perturbando os seres vivos, ela tinha pavor daquelas coisas, de tudo aquilo ser verdade, mas ainda assim, aquele homem, aquela voz, aquele barulho e o silencio intransmutável antes dele, tudo aquilo ganhava disparado de qualquer espirito maligno, até mesmo do poltergeist.


GRRRR... AU


Sirius parou, o celular ainda encontrava-se sobre sua mão, o dedo ainda estava sobre o visor onde ele acabara de apertar o botão vermelho de ‘desligar’, mas todo o seu corpo agora estava tenso, seus sentidos em alerta, sua audição aguçada, era impressão dele ou ele ouvira um latido? Lia tinha um cachorro não tinha? Sirius tinha a impressão de já tê-la ouvido falar de uma tal cachorrinha chamada Mel, claro, a Mel, Lia tinha uma cachorrinha e se a cachorrinha não estava em canto algum da casa talvez estivesse com Lia.


Num pulo, Sirius se levantou da cama e olhou a volta, precisava fazer a cachorrinha latir outra vez, precisava fazer ela lhe mostrar onde sua dona estava, talvez Lia estivesse ferida e precisando de ajuda e sempre diziam que um animal sabia quando o dono estava em perigo e corria pra buscar ajuda, da maneira deles, é claro.


Desesperado, Sirius caminhou até a porta de vidro que dava pra uma sacada e abriu-a, o vento forte soprou contra seu rosto, respingando as gotas da chuva que eram levadas pelo vento fazendo-as não mais chocar-se contra o vidro, mas sim contra o rosto de Sirius, okay, aquela tinha sido uma péssima ideia, lutando contra o vento, ele forçou a porta e bateu-a com força, fechando-a em seguida enquanto o som do vento ainda ecoava em sua mente.


AU AU AU


Sirius sorriu, estava conseguindo. Respirando fundo, Sirius deu alguns passos pelo quarto tentando aguçar ainda mais a audição, onde será que elas estavam?


— Mel? Mel cadê você? – Assim como Sirius previra, a cachorrinha latiu mais uma vez, dessa vez com mais intensidade, como se com o latido ela dissesse “Estamos aqui, venha nos salvar”.


— Mel? Meeel? Vem Mel.


AU AUAUAUAU POF POF


Sirius parou, a cachorrinha latia desesperadamente agora, os animais sabiam quando alguém representava perigo e obviamente ela percebera que Sirius não era um perigo a ela e sua dona, por isso, Sirius caminhou pelo quarto apressado, o latido estava perto, muito perto. Desesperado ele olhou em baixo da cama, nada, caminhou rapidamente até a porta alcançando rapidamente o corredor, mas então percebeu que ali o som do latido diminuía, ela não estava ali, ela estava em algum lugar dentro do quarto, voltando apressadamente Sirius correu ate a porta do closet e parou.


POF POF um som de porta se batendo o fez puxar o celular do bolso e deixar com que a luz fluorescente iluminasse o local, talvez algum louco tivesse trancado-as dentro de algum armário.


Quando a luz do celular iluminou o local Sirius percebeu que haviam varias portas fechadas, aquele era o armário de Lia, o closet, ela deveria estar por ali, ela tinha que estar por ali com sua cachorrinha, desesperadamente Sirius desejava que não fosse apenas a cachorrinha trancada dentro do armário.


— Mel? – A cachorrinha latiu mais uma vez antes do som de porta se batendo ecoar pelo ambiente, percorrendo todas as portas com a luz do celular, Sirius caminhou lentamente pelo closet, era melhor ele verificar todas as portas.


Abriu a porta do banheiro que encontrava-se entreaberta, mas percebeu que lá dentro não havia armários, além de um pequeno abaixo da pia, desesperado ele abriu-a para constatar que não havia nada ali além de umas toalhinhas de rosto, sabonetes, shampoos, creme dental, absorventes, cremes e produtos de beleza.


Não, próxima porta. Sirius voltou-se ao closet e abriu a porta mais próxima. Casacos, sobretudos, blusas longas de lã.


Não.


Abriu à próxima. Blusas, diversas, penduradas em ordem de cor.


Não. Próxima.


Calça jeans, calças legging, diversas, de varias cores.


Não. Próxima.


Casaquinhos, cachecóis, lenços.


Mas que droga, Lia, cadê você?


 O desespero esmagava seu ser como se uma mão transparente estivesse apertando-lhe o coração com tanto força que lhe faltava o ar, zumbindo seus ouvidos e escurecendo ainda mais sua visão. Tinha de encontra-la, Deus, ele precisava desesperadamente encontra-la, como precisava de ar para respirar, e o ar, desesperador que lhe sufocava fugindo do peito em seguida, não duraria por mais tempo.


Parado ao meio do quarto, Sirius ofegou, tentando puxar o ar para os pulmões, tinha que se controlar, Lia precisava dele, tinha que manter a calma, mais do que tudo, precisava manter-se no controle para estar lá pra ela, ela precisava dele e ele não poderia falhar com ela naquele momento, não naquele momento, jamais.


AUNN.


Um chorinho de cachorro o despertou, fazendo-o se virar à esquerda, havia uma porta fechada que parecia estremecer como se alguma coisa estivesse tentando abri-la, com as mãos tremulas, Sirius ergueu-a e segurou à maçaneta da porta do armário, seu coração pulsava tão forte ao peito e seu corpo tremia tanto, não de frio, mas de medo, que ele levou mais tempo que o normal para girar a maçaneta e puxar a porta.


Então seu coração parou.


 


 


— Como assim a Lia sumiu?


O corpo de Lilian tremia, mas agora ela não sabia dizer se de frio ou de nervoso, ou talvez fosse os dois ao mesmo tempo.


O moletom de Thiago que estava sobre o vestido molhava-se aos poucos conforme ia tendo mais contato com o tecido encharcado, mas ela tinha certeza que a tremedeira não pararia mesmo que estivesse debaixo de um edredon na frente de uma lareira, o tremor dentro dela era muito mais intenso do que qualquer tremor de frio.


O cheiro de Thiago impregnava Lilian, ela adoraria recostar no banco do carro e saborear por segundos aquele cheiro delicioso do corpo dele, do perfume dele que agora ficavam gravados na própria pele, mas ela tinha uma coisa muito mais urgente pra fazer que mal conseguia pensar em cheiro, Thiago, moletom, corpo, nada, seu único pensamento era: Onde estava sua melhor amiga?


— Não sei exatamente, o Sirius disse que esta na casa dela, que era pra irmos pra lá voando por que aconteceu alguma coisa e a Lia sumiu.


— Aconteceu alguma coisa? Como assim? O que aconteceu?


Pelo canto dos olhos Thiago podia ver o desespero de Lilian, ela estava com o cinto de segurança solto, o corpo reclinado a frente como se quisesse ver melhor o caminho o qual começavam a percorrer em direção a casa da amiga de Lilian, que era exatamente ao lado da casa da ruiva, como se pudesse ter a chance de descobrir, apenas daquele jeito, o que acontecia ou acontecera.


As mãos de Thiago estavam geladas e tensas sobre o volante, ele tinha ouvido algo mais do que ‘alguma coisa aconteceu’, mas não podia contar a Lilian, não poderia desesperar a namorada sem antes ter certeza do que ouvira e do que acontecera. Por isso ele respirou fundo e tentou manter a calma, mesmo que a voz aflita de Sirius ainda ecoasse em sua mente, com aquela frase que parecia ter sido colada em seu crânio, ele precisava manter a calma, era mais do que necessário naquele momento.


Tinha que avisar Remo, pensou Thiago, mas aquele talvez não fosse o momento. Diminuindo a marcha ele parou a uma esquina certificando-se de que não havia carros no caminho, a chuva açoitava o vidro do carro enquanto o para-brisa trabalhava loucamente, Thiago pensava que Sirius tinha sido um louco de ir até a casa da Lia de moto naquela chuva, mas diante dos acontecimentos, Thiago sabia que se fosse com Lilian ele iria até a pé se necessário e debaixo de uma tempestade até dez vezes pior do que aquela.


— Eu não sei, não entendi direito o que o Sirius disse. – Passando a marcha ele avançou o farol aberto lentamente, mesmo que o sinal estivesse verde, com aquela tempestade, era preciso tomar um certo cuidado.  Thiago sentia seu corpo tremulo de nervoso, mas tentou manter a calma, respirando profundamente enquanto adentrava em seguida a Rua Canadá, a Rua que Lilian e Lia moravam.


— Thiago... – Havia certa urgência na voz de Lilian quando Thiago parou a frente da casa de Lia, ele também não sabia como, mas sentia que havia algo realmente errado, sem esperar que Thiago desligasse o motor ou sequer  estacionasse, Lilian abriu a porta e desceu do carro rapidamente, correndo em direção ao portão, num choque de desespero, Thiago desligou o motor, soltou o cinto num segundo e saiu do carro correndo atrás de Lilian.


—LILLY. – Mas Lilian não esperou, correu em direção à porta da sala que, assim como o portão, encontrava-se aberta, e adentrou.


A casa estava vazia e silenciosa, a escuridão da noite parecia predominar todos os cantos, e tudo parecia uma cena sinistra de filme de terror enquanto os raios brilhavam no céu mal iluminando o ambiente.


Lilian estava parada no meio da sala quando Thiago adentrou, parecia temerosa, como se a escuridão e o silencio denunciassem o perigo, como se os alertassem a manter silencio e calma, apesar de calma ser uma coisa que não estava muito afim de tomar conta do corpo de Lilian que tremia nervosamente.


— Thiago... – A voz de Lilian saiu baixa e rouca, e o maroto percebeu que havia medo e uma pergunta muda no ar enquanto a ruiva observava os sapatos de salto de Lia jogados sobre o tapete macio da sala.


— É melhor eu ir na frente pra ver se encontro o Sirius, e então procuramos a Lia...? – Mas Thiago não teve tempo de terminar a pergunta ou sequer de esperar uma resposta, Lilian já se encaminhava em direção a escada subindo rapidamente os degraus e alcançando o patamar da escada.


— Ela deve estar aqui em algum lugar. – O som do salto alto ecoou pelo piso de madeira enquanto Lilian caminhava rapidamente pelo corredor escurecido da casa, Thiago percebeu que a ruiva parecia conhecer cada canto da casa como se fosse a própria, pois quando o maroto alcançou finalmente o topo da escada, encontrou Lilian parada no corredor.


— Lilly... – Um vaso de porcelana encontrava-se espatifado no chão e flores brancas se misturavam com os cacos de vidro. O coração de Thiago bateu descompassado no peito, não seria possível que o que ele ouvira de Sirius fosse mesmo verdade, seria?


O maroto segurou o braço da namorada carinhosamente, tentando impedi-la de seguir a frente, mas Lilian deu mais dois passos a frente.


— Tem alguma coisa... – Lilian parou, estava a frente de uma porta aberta, escurecida como o restante da casa, e foi então que Thiago sentiu seu coração congelar ao peito.


— Lilly, não!


O som do sapato de salto ecoou pelo piso de madeira, seguido de três passos pelo sapato de couro preto e então um som agudo invadiu todo o ambiente escurecido e silencioso.


— AAAAAAAAAAAAH!


 


A escuridão e o silencio pareciam penetrar cada poro da casa, como se até mesmo as arvores e o vento tivessem parado de se mover do lado de fora para tornar o suspense ainda mais insano do que o que já imperava toda a mente de Sirius, se aquilo fosse um filme de terror que ele, sem querer, estava fazendo parte, será que não podiam ir logo para os créditos finais?


A porta do armário do closet rangeu quando ele a puxou e então o susto tomou conta dele.


AU AU AU AU AU.


O pelo branco em contraste com a escuridão pareceu iluminar o ambiente quando a cachorrinha saiu latindo, parando a porta do armário pronta para arrancar a perna de Sirius se desse mais um passo adiante.


Seu coração parecia a bateria de uma escola de samba, batendo ritmadamente numa euforia descompassada, ele não sabia dizer se de medo ou de alegria. Mesmo com a escuridão predominante, Sirius reconheceu a sombra enegrecida que parecia encolhida dentro do armário, ela estava a salvo, graças a Deus, Lia estava a salvo.


Sirius respirou fundo e sorriu nervoso, sentia-se aliviado, mesmo que não totalmente, mas era um alivio saber que Lia estava ali, que ela não... Ele engoliu em seco e abaixou-se, estendendo a mão a frente para que a cachorrinha nervosa pudesse sentir seu cheiro e reconhecer que ele era um amigo.


— Hey, Mel, amigo, garota, amigo. – O focinho gelado da cachorrinha tocou a palma da mão de Sirius e ele sorriu, sentindo as lagrimas borrando seus olhos, o medo o invadira de tal forma que sentia vontade de gritar de alegria por ver ela bem, mas não podia, não podia, era preciso calma, muito mais calma dali em diante.


Com o aval da cachorrinha, Sirius ajoelhou-se no chão, a mão ainda estendida a frente, agora acariciando o pelo macio da cachorra, enquanto os olhos e todos os outros sentidos estavam fixos na imagem escurecida, que não se movera um segundo, será que ela estava mesmo bem?


— Lia? – A voz de Sirius saiu rouca e baixa, tão baixa que ele pensou se ela seria capaz de ouvi-lo com todo o som de raios, trovoes e o vento assoviando que vinha do lado de fora da casa. Arrastando-se pelo piso de madeira, ele aproximou-se ainda mais, temia que, assustada, ela começasse a gritar ou agredi-lo, só Deus saberia dizer o que ela vira ou passara na sua ausência e ele tinha que mostrar que ela estava segura agora, finalmente, ela estava segura.


— Lia? Sou eu, o Sirius. – Com a voz mais firme, Sirius se aproximou ainda mais. Com os olhos acostumados a escuridão, Sirius percebeu que Lia estava sentada de lado dentro do armário, sobre o que pareciam ser sapatos, os joelhos estavam meio erguidos, o rosto levemente abaixado, ou ela estava com os olhos fechados, ou parecia estar encarando a madeira escurecida do interior do guarda-roupa.


A cachorrinha branca, agora mais calma, pulou sobre o colo da dona que, Sirius percebeu, não parecia ter reação alguma. O desespero pareceu tomar conta de seu coração novamente, disparando de tal forma que o ofegou, Lia tinha que estar bem, ela tinha que estar bem, por tudo que fosse mais sagrado no mundo, ela tinha que estar bem.


— Lia? Lia?  Lia pelo amor de Deus. – Com os joelhos agora colados no chão, Sirius se ergueu levemente, tocando delicadamente os braços de Lia, fazendo-a virar-se para encará-lo, ele precisava ver-lhe o rosto, sentir-lhe a respiração, constatar que ela estava bem, que ela estava viva.


— Lia? – A voz rouca de Sirius pareceu embargada quando ele encarou o rosto branco e pálido da loira, os cabelos molhados estavam colados nas laterais do rosto, parecia que o coque bem feito do baile se desfizera em algum momento e ela não parecia se importar com isso. O rosto estava triste e serio, lagrimas escorriam pela face de forma automática, como se fossem gotas vindas de nuvens negras que escorriam pela face de veludo, mas os olhos, os olhos azuis avermelhados foram o que fizeram o coração de Sirius se apertar de forma esmagadora no peito, pareciam vidrados, pareciam não enxergar nada a frente, como se ela estivesse dormindo acordada, como uma sonâmbula, porém parada.


— Lia? Lia, sou eu, o Sirius.  – Ele acariciou-lhe o rosto, secando as lagrimas que escorriam sem parar pelo rosto. Deus como ele queria poder apagar-lhe da memória o que quer que ela tivesse visto ou vivenciado, como ele queria poder apagar a dor, o medo, o trauma que possuía o corpo da mulher que ele amava, faria qualquer coisa, qualquer coisa no mundo ele faria para vê-la bem outra vez.


Seus próprios olhos embaraçaram-se com lagrimas que escorreram por seu rosto, e sem esperar qualquer reação de Lia, Sirius puxou o corpo dela contra o seu e a abraçou fortemente, colando o corpo gélido dela ao seu, protegendo-a de todo mal, desejando protegê-la de todo o resto que ainda estava por vir, e então ele chorou.


 


Era como se ela fosse uma menininha, tinha apenas seis anos de idade, havia acabado de cair da bicicleta rosa que ganhara do pai no natal, estava tão contente, tão feliz, que quando sentiu o frio chão do asfalto ralar seus joelhos, mal quis se importar com a dor que sentira. Os olhos azuis cheios de lagrimas ergueram-se para ver os enormes olhos azuis risonhos e confortáveis a sua frente, estendendo-lhe a mão e lhe dizendo, com aquele sorriso que ela mais amava no mundo.


— Um dia minha princesa, outros olhos azuis ajudarão você a se levantar, então nesse dia você vai saber que encontrou o seu príncipe encantado.


— Que nem o da cinderela, mamãe? – As lagrimas rolaram pelo rosto branco e delicado da menina e a mão carinhosa e macia da mãe afagaram-lhe as bochechas rosas, secando as gotas da face.


— Que nem o da cinderela, meu amor. Se lembre sempre do que a mamãe vai te dizer, você vai cair muitas vezes, mas não chore, você tem que se levantar e tentar de novo.


— E se eu cair de novo mamãe? E se eu machucar? – Os pequenos olhos azuis encararam o joelho pequeno, branco e ralado, cujas pequenas gotas de sangue pareciam surgir do ferimento não muito grave.


— Não se preocupe, meu anjinho, vai doer, mas vai passar. E a mamãe vai estar sempre com você, do seu lado, todos os dias te ajudando a curar todas as suas dores.


 


As lagrimas escorriam pela face delicada e macia, como uma romã, escorriam sem controle algum, como se fossem automáticas, como se fossem gotas de chuva caindo de nuvens negras do céu, rolavam pela face e se perdiam, sem ter como voltar.


Um corpo quente pressionava-se contra o seu, ela podia ouvir o choro, mas agora não sabia se era seu ou dele, ou será que tudo era um sonho, um pesadelo, um delírio? Será que ela bebera? Mas ela saíra? Onde estivera antes? Onde estava agora? O que acontecera?


Ela afastou o rosto e então alguém surgiu a sua frente, mesmo com os olhos embaçados ela conseguiu enxergar o azul dos olhos que a encaravam, não eram azuis como o céu, era como um dia azul meio nublado, mas que parecia lhe trazer uma lembrança tão profunda que adormecia e acalmava sua alma.


Um dia minha princesa, outros olhos azuis ajudarão você a se levantar, então nesse dia você vai saber que encontrou o seu príncipe encantado.


— Que nem o da cinderela, mamãe?


— Que nem o da cinderela, meu amor.”


 


A mão carinhosa de Sirius afagou o rosto de Lia, os olhos azuis dela, avermelhados, agora encaravam os seus, como se tentasse reconhecê-los, mas Sirius achou melhor não dizer nada, ele queria que ela entendesse que ele estava ali, independente de tudo, de qualquer coisa, ele estava ali, sempre, pro que quer que acontecesse, ele sempre estaria ali ao seu lado.


— Esta tudo bem. – Ele disse baixinho. – Eu estou aqui.


— Cinderela. – A voz de Lia parecia tão fraca que Sirius levou mais de dois segundo pra ter certeza do que ela dissera.


— Ta tudo bem, Lia. – Ele tentou, mas ela parecia despertar, despertar para os acontecimentos, despertar... E então o coração de Sirius congelou, mais uma vez, e encheu-se de desespero.


— Mãe. – Ela sussurrou, e então seu sussurro desapareceu.


AAAAAAAAAAAAAAAAAH.


 


— Lia! – Se livrando dos braços de Sirius, Lia se rastejou em direção a porta, erguendo-se e saindo aos tropeços em direção ao corredor.


Droga, pensou Sirius desesperadamente, não podia deixá-la alcançar o lugar que ele sabia que ela iria, não podia, de jeito nenhum.


Num pulo ele levantou-se e correu atrás da loira, mas quando Sirius alcançou a porta do quarto, ele parou.


— Lia? – Sua voz saiu baixa, rouca e temerosa.


A loira encontrava-se parada no meio do corredor, seus olhos fixos a frente, como se de repente ela tivesse voltado para o transe em que se encontrava quando o Sirius a encontrara dentro do guarda-roupa.


Como uma cena de filme a imagem se desenrolou a sua frente de forma lenta e cheia de suspense, que droga, Sirius nunca fora fã de filmes de suspense, principalmente um em que envolvia a pessoa que ele mais amava.


Seus pés pareciam congelados sobre o piso de madeira, mas ela não parecia prestar atenção a isso, também não prestava atenção ao fato de seu corpo estar gelado e suas roupas úmidas sobre seu corpo, tampouco pelo fato de cacos de porcelana estarem espalhados pelo chão, sob seus pés, quando eles deram mais dois passos temerosos.


Seu coração batia dolorosamente ao peito, como se já soubesse o que os olhos estavam prestes a ver. Ela mal prestou atenção ao fato de sua melhor amiga estar ali, ela não conseguia se lembrar com clareza afinal como chegara até sua casa ou o que acontecera para ela acordar abraçada a Sirius, mas ela tinha uma horrível sensação de que não tinha sido nada muito bom, e por que diabos as luzes estavam apagadas? Ela também não sabia e não parecia se importar com aquilo, a única coisa que importava era que ela tinha que alcançar aquela porta, uma força descomunal dizia dentro de si que ela tinha que adentrar aquele quarto por que eles precisavam dela, eles precisavam dela, mas por que ela sentia tanto medo, tanta dor, tanto desespero?


— Lia? – Abraçada a Thiago, Lilian encarou a amiga, seu rosto estava banhado em lagrimas e ela parecia assustada, e mesmo quando Lilian ergueu a mão, numa tentativa de segurar o braço de Lia, ela não parou, não podia parar.


Seus pés pisavam lentamente sobre os cacos de porcelana e foram precisos apenas mais três ou quatro passos para alcançar a porta aberta do quarto, aquela porta, aquele ambiente, aquele quarto, ela já conhecia de cór, era o quarto dos seus pais.


— Lia, não. – Ela não sabia como, mas Thiago largara Lilian e segurara seu braço, no instante em que Sirius abraçava todo o seu corpo do lado esquerdo. Não, ela precisava entrar, ela precisava, ela...


Os olhos azuis arregalaram, Lilian levou as mãos aos lábios, os olhos assustados de Thiago encararam os olhos acinzentados do amigo e Sirius sentiu seu corpo estremecer enquanto tentava segurar Lia.


Era tarde demais.


Erguendo os braços ela se desfez do corpo, do braço, do que quer que fosse dos amigos e deu dois passos adentro.


O quarto estava escurecido, mas para seus olhos não parecia tão escuro assim, a porta de vidro estava fechada, mas ela podia ver as arvores do lado de fora sacudindo-se pelo vento. As cortinas estavam abertas ao lado da porta, deixando os raios iluminarem o ambiente quando brilhavam pelo céu, uma luz na escuridão.


Tudo parecia no lugar, os enfeites, os livros, o vaso de flor na entrada do closet de sua mãe, o paletó de seu pai pendurado sobre o cabideiro, os quadros nas paredes, tudo parecia no lugar, perfeitamente normal, exceto...


Seus pés gelados deram mais dois passos e então ela parou, seu estomago embrulhava-se como se ela tivesse aberto a porta da geladeira e se deparado com uma comida estragada lá dentro há meses. Alguma coisa forte parecia pressionar seu fígado, rim, coração, era uma faca que estava entalada sobre o peito? Sobre a barriga? Ou uma bala? Haviam atirado em seu coração e deixado a bala alojada sobre seu peito? Machucando, doendo, sangrando?


Sangrando.


Ela encarou o próprio dedo branco do pé e sentiu-se ficar tonta, as mãos agora tampavam o rosto deixando apenas os olhos azuis assustados, arregalados, a vista, seu corpo inteiro tremia, não de frio, nem de medo, ela nem sequer sabia do que mais, a única coisa que passava por sua mente naquele momento era a ponta de seus dedos dos pés molhados por um liquido viscoso e vermelho.


Sangrando.


 Ela estremeceu e seu corpo perdeu a força, cairia no chão, ela poderia sentir a dor do impacto, mas não sentiu, mãos apoiaram seu corpo impedindo a queda, mas ela não conseguia prestar atenção, sua mente parecia trabalhar na marcha lenta, como se estivesse dormindo e tudo aquilo fosse um sonho meio alucinógeno, cheio de coisas loucas e sem sentido, daqueles que ela não conseguia prestar muita atenção a nada, nem ao que acontecia, nem ao que sentia, era tudo um borrão vermelho e embrulhado em seu estomago.


Vermelho. Sangrando.


— Não. – Sua voz não saiu, era um daqueles sonhos em que se tenta correr, mas não consegue? Onde se tenta gritar, mas a voz não sai?


As mãos invisíveis que amparavam seu corpo se desfizeram em fumaça, desaparecendo e então ela caiu, de joelhos no chão, não sentia as lagrimas rolando por seu rosto, mas de alguma forma ela sabia que estavam lá, automáticas, como gotas de chuva caindo de nuvens negras.


Negras. Vermelho. Sangrando.


Sua mão tremia que ela mal conseguiu estende-las para tocar a pele exposta. Terror, aquele sonho era um filme de terror, certo?


Ela sabia que não podia assistir aqueles filmes antes de dormir, ela odiava aqueles pesadelos, era melhor acordar, tinha que acordar.


Tremula, ela apoiou-se ao chão e tentou se levantar, as mãos invisíveis voltaram, firmes, fortes, amparando-a, mãos acorde-me, ela queria dizer, me acorde desse pesadelo terrível, odeio pesadelos, odeio filmes de terror, odeio nuvens negras, vermelha, odeio sangue.


— Eu quero acordar. – A voz saiu rouca, as mãos de fumaça não a ouviriam naquele silencio opressor, por isso ela as segurou fortemente, não podia sumir novamente, não sem antes acordá-la.


Seu corpo virou-se e os olhos azuis surgiram a sua frente. Azuis como um dia nublado, azuis como os olhos do príncipe... 


Cinderela.


A mamãe vai estar sempre com você, do seu lado, todos os dias.


 


— Não.


— Lia.


— Não, não, não, não.


— Lia, eu to aqui.


— Não.


— Lia? Lia? Olha pra mim, olha pra mim.


Os olhos arregalados viraram-se encarando a cena de terror, as mãos empurraram o corpo de Sirius e ela tropeçou no tapete persa do quarto dos seus pais, trôpega ela caiu, seus joelhos não ralaram como o da menininha, mas ela sentiu mais dor do que era capaz de se lembrar de já ter sentido na vida.


— Não.


As lagrimas borraram sua vista enquanto ela se rastejava sobre o tapete, as mãos molhadas, ensangüentadas, o coração despedaçando-se como se tivesse o jogado dentro de um moedor de carnes.


— Pai... Pai... Pai, por favor.


As mãos ensangüentadas alcançaram o rosto pálido, gelado.


Alguém por favor tirem meu coração do moedor de carnes? Alguém por favor, me acorde desse pesadelo, desse filme de terror.


As mãos ensangüentadas deslizaram pela face pálida, gelada...


Então Lia acordou, enquanto seu corpo, mole, sem forças, com o coração despedaçado como se tivesse sido moído, caia sobre o corpo de seu pai...


Sobre o corpo de seu pai... Morto.


 


 


 


 


*N/A:


Não joguem-me dentro de um moedor de carnes por favor kkkkkk


Eu sei que demorei, gentem, minha vida anda tãoo agitada... / Agora elas me lançam um avada, certeza kkkkkkk


Okay, então vamos pra parte que eu conto minha vida inteira pra vocês não me matarem e se sentirem terapeutas por alguns minutos kkkkkkk


Serio pessoal, eu ando trabalhando demais, e se não bastasse isso, briguei com minha melhor amiga, to na luta contra a depressão como vocês sabem, e também arrumei um “rolo”, que agora virou na verdade uma “amizade colorida”, é gente, essa foi foda, esse foi um dos motivos da demora principalmente, por que eu sofri um tiquinho com o que chamo de desilusão amorosa por conta desse rolo, enfim, algumas lagrimas, alguns dias sem inspiração, mas finalmente acordei pra vida, acordei literalmente pra vida, e daí voltei a ativa, me recuperei das desilusões, deixei de ser boba com os homens, to ‘sarando’ da depressão e voltei a escrever, até no trabalho.. Fuck you work kkkkkkkkkkk


Viram só como anda agitada minha vida? kkkkkk


Bom, terminei né, isso que importa, vou tentar não demorar de novo, okay


E também já aviso, vou tentar terminar a fic “O que toda mulher inteligente deve saber”, ou devo dizer, vou começar? Kkkkkk é né, por que eu nunca escrevi ela de verdade, mas agora eu aprendi um monte de coisas que devem ser compartilhadas, e vou fazer isso escrevendo né


Bom, antes que vocês me matem, vou terminar essa N/A


E prometo não demorar tanto, okay, então torçam pra não ter outra decepção amorosa pra não atrasar o capitulo kkkkkkkkkk


 


Comentem, preciso dos comentários pra escrever xD  kkkk


Beijos e até o próximo capitulo


Lanah Black

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Comentários (7)

  • Amy Peverell

    áhhhhhhhhhhhh!!!! socorro! genteeee, você escreve muito beeem!! meu deus, que coisa mais lindaaaaa, to chorandoooo!! áhhh kkkkkkkkkkkkkkk

    2012-07-04
  • Bia_Black

    Eu roi todas as minha unhas lendo esse cap! Sério eu amoooo a sua fic, eu só to entrando no floreios para ver se vc atualizou ela. Tadinha da Lia T-T. Estou esperando ansiosamente o proximo capitulo. xoxo

    2012-06-11
  • Amanda Regina Ventura de Souza

    Putz! Que capitulo foi esse? Maravilhoso né? Muitas surpresas, apesar de que eu ja imaginava que a Pat estava gravida,  e menos mal que a peste da Mayara não falou nada demais com a Lily né, ja tava pronta pra mandar um crucios nela, mas... esse final foi totalmente chocante, como pode terem matado o pai da Lia? To muito chocada aqui, quase estatica ai como a lia ficou! Vê se não demora. e espero que não tenha outra decpção como essa pra não nos deixar aqui enlouquecendo. Beijos e ate o proximo.

    2012-06-11
  • Sah Espósito

    tipo assim...... MORRI!A Patsy gravida e remo pedindo em casamentolindo demaisA Lily e o Thiago tem que se acertar logo!e ele tem que contar tudoSirius e Lia... precisam ser felize linda a ficcontinuequero ver eles bem

    2012-06-11
  • annalimaa_

    MEU DEUS estou chorando aqui, sabia que Sirius tinha encontrado alguém morto, mas não estava preparada pra isso, e o estado dela, eu realmente não estou bem, a memória da mãe dela, e cade a mãe dela, eles levaram ou está morta também.O Sirius na hora que encontrou ela, perfeito.Thiago não irá aguentar e irá contar ele mesmo que ficou com a falsa do paraguai.Pat grávida Remo fofo pedindo ela em casamento.Nossa eu quase surtei na hora que vi que você tinha atualizado, pensei que tinha desistido, fico feliz que não.Espero que consiga postar mais.Eu realmente estou sem palavras para a Lia.

    2012-06-10
  • Lanah Black

    Seguirei a dica e mandarei ir se fuder com prazer, Chris, pode deixar kkkkkkkkk

    2012-06-10
  • Chrys Malfoy

    Aaaah, pára! TODO cap vc diz que não vai demorar pra postar o próximo, mas tudo bem.Aaaiiin, o Remo pediu a Pat em casamento, que fofooo! E foi impressão minha ou ela tá, tipo, grávida? Graaças a Deus a Lílian e o Thiago estão se resolvendo, achei que a praga da Mayara ia estragar o namoro deles de novo. Enfim, espero que dessa vez eles se ajeitem definitivamente né!Deeeus, por que mataram o pai da Lia? E cadê a mãe dela? O que fizeram com ela? Cara, eu to pirando aqui. Eeei, e vê se cuida do seu problema hein, to na torcida por você! E caso apareça mais um rolo, manda ele ir se fuder e pronto.kkkkkBeeijos. 

    2012-06-10
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