Capítulo 15



13/FEVEREIRO – 08:34h - QUARTA-FEIRA – CASA (SALA)
D. Julia acabou de me dizer que estou quieta demais. E estou mesmo. Geralmente não sou assim. Em qualquer outro dia, eu já teria me irritado com as suas observações fora de hora e ácidas. Já teria surtado com ela algumas vezes também. Entretanto... até agora nem mesmo lhe dirigi alguma frase torta. E isso é mesmo anormal.


Não sei com certeza por que estou assim. Só sei que estou achando muito difícil sair de casa e ir para a escola. Principalmente porque lá terei de encontrar o James. E isso não será nada legal, considerando o que fizemos ontem. Ou o que eu fiz, quem sabe, porque não me lembro se ele também quis aquele beijo tanto quanto eu. Acho que não, ainda que não o tivesse interrompido.


Ai, vou para o Inferno deste jeito!


13/FEVEREIRO – 09:03h – QUARTA-FEIRA – AULA DE FÍSICA
Ai, meu boizinho. Não sei se vou conseguir escrever. Não sei mesmo. Minhas mãos tremem tanto que mal consigo apoiar o lápis na folha. Sem contar que não consigo parar de pensar no que a Taylor fez. Ai, eu a odeio tanto, tanto, tanto! Que cachorra que ela é! Se alguma hora eu a pegar... vou surtar tanto que é capaz de matá-la, de verdade. Não acredito que ela conseguiu ACABAR com a minha vida. Agora DE VERDADE E PRA SEMPRE!


POR QUE não acreditei nela? Era tão óbvio que a Taylor faria de tudo para ferrar de vez comigo! Ela simplesmente fez o que me prometeu lá na festa. Bem, não me prometeu, mas disse que poderia acontecer. E foi o que fez: abriu a boca e contou tudo. Tudinho. Porém, não sei com quem estou mais furiosa. Se com a Taylor ou com o James. Porque, ei, ele me disse que não daria ouvidos a ela, mas não foi isso o que fez! O James acreditou nela. Não que seja tudo uma mentira, porque não é. Principalmente porque a Taylor tem as provas. Mas mas mas. Ele não deveria ter ficado tão chateado, não é mesmo? Quero dizer, eu disse aquelas coisas há tanto tempo. Antes mesmo de nos conhecermos! O que importa agora?


AH, EU SABIA QUE NÃO DEVERIA TER VINDO PARA CÁ!


Eu achei, de verdade, que tudo ficaria bem, porque quando olhei para o James, lá do gramado, meu estômago deu um pulinho bom, de felicidade. Não achei que fosse querer vomitar de vergonha ou algo assim. Só que o James não parecia estar tão feliz. Então imaginei que pudesse ser pelo o que fizemos ontem, imaginei que estivesse se sentindo exatamente como eu: um tanto enjoado e ansioso e envergonhado. Só que não. Sua infelicidade nada tinha a ver com o nosso beijo secreto.


Mesmo me sentindo um tanto ainda culpada, fui ao seu encontro, como todas as manhãs. Então, quando cheguei o suficiente perto dele foi que descobri que estava muito ferrada.


- Ei – eu disse, olhando ao redor, porque as meninas nem o Sirius ou o Remus estavam por ali. Sem contar os olhares das outras pessoas em cima de nós, acho que pelo boato idiota sobre nós dois juntos e tudo mais.


- Ah, você ainda tem a coragem de vir falar comigo – sua expressão se transformou. Não era mais a expressão que eu conheço e amo. Seu rosto estava tão diferente. Estava frio e furioso.


A felicidade que sentia desapareceu como se tivessem jogado um balde de água em cima dela.


- Hum, o que foi? – comecei a me sentir esquisita, sabe. Comecei a achar que algo estava muito errado. E de fato estava.


- Você ainda pergunta – respondeu ele mais uma vez naquela voz zombeteira. Só que dessa vez não havia somente ironia ali. Era uma ironia muito estranha.


- James... o que... do que está falando? – minha cabeça se tornou ainda mais confusa.


- Sabe, Lily, eu realmente achava que você era legal. Que valia a pena ser seu amigo. Só que... você é igual a todas – ele me disse com um desprezo digno de Taylor. E eu fiquei sem entender nada. Não estava acreditando no ele estava falando.


- James, como assim?


- Porque, bom, foi só por isso que você quis se juntar a nós, não é? Para vencer a Taylor.


Tudo bem, pode até ser que naquela hora eu mais ou menos estivesse sabendo sobre o que o James falava. Mas não com muita clareza. Quero dizer, ele estava me acusando de algo que eu nem sabia do que tinha que me defender! Que loucura é essa? Eu fiquei olhando para ele com uma cara de sol ao cubo. Ou cara de poker face. Seja lá como é esta cara. Só sei que o fiquei encarando com uma expressão muito, muito confusa. E muito incrédula também.


- Bem, acho que conseguiu. Você venceu. Era o que queria, não era? Agora pode fazer as malas e fingir que não me conhece – James falou. Ele parecia estar sentindo muitas coisas ao mesmo tempo. Eu mal conseguia decifrar.


- Do que v... – tentei indagar mais uma vez. Queria saber do que estava me acusando. E, então, quando discerni a Taylor, loura, com o vestidinho de Natal por baixo do casaco verde e sorrindo triunfante, encostada na parede, eu soube. Simplesmente soube. Um soco muito furioso me atingiu no estômago e eu estava enxergando e pensando com clareza. Agora eu não acreditava mesmo. A Taylor... ela é uma vadia. Caramba, como foi que consegui ser amiga dela por tanto tempo?


- Acho que agora você e a Taylor até possam voltar a ser amigas como sempre. Pode até ser que essa sua briga com ela seja uma armação – o James decididamente estava muito infeliz e com raiva.


- Não, não. James. Você... você falou com ela? – perguntei, chocada.


- Ela veio falar comigo. E nem adianta negar, porque a Taylor possui todas as provas. Todas as conversas e aquele livro idiota de vocês – ele olhou mais um pouco para mim, com um nojo realmente surpreendente – Como eu pude ser tão idiota? Como é que não desconfiei de tudo desde o começo? Mas, claro, você foi tão legal, até parece que alguém ficaria com o pé atrás. E você ainda me beijou ontem. Caramba. Você é realmente boa nisso. Deveria tentar uma vaga como agente secreta lá nos Estados Unidos – acho que nesse momento James estava mais falando consigo mesmo do que comigo, ainda que estive me encarando igualmente incrédulo, assim como eu.


- Não, espera, James – pedi, desesperada, quando ele fez menção de sair de perto de mim – Você não pode... - Acreditar nela? Sério? Quero dizer, tudo aquilo nem é mentira! Eu não podia dizer isso a ele -... não pode fazer isso! O que realmente interessa o que já pensei sobre você? Agora você é o meu melhor amigo! Eu era uma idiota antes! Agora você... você... – eu estava com vontade de chorar. Tentei engolir o choro, mas minha voz saiu engasgada e não consegui terminar.


- Olha, Lily, eu nunca pensei nada de ruim sobre você. Nem mesmo quando você era a melhor amiga da Taylor. Sempre a considerei um tanto perdida, é verdade, mas sabia que você era uma boa pessoa – pausa - Quero dizer, agora sei que errei nisso também – ele riu, não acreditando em seus próprios pensamentos.


- Ótimo, porque eu sabia que, no fundo, você era igual a mim! E você é! – funguei, inadmitindo extravasar meus sentimentos desesperados.


- Não sei. Talvez você estivesse fingindo ser tão parecida comigo todo esse tempo – ele me disse. Em seguida, virou as costas para mim. Ele estava indo embora. Simplesmente estava me ignorando, como se eu fosse um rato de esgoto!


Eu não sabia mais o que falar, ou o que pensar, ou o que fazer. Tudo pareceu muito difícil sem o James ali. Eu me senti perdida. Definitivamente perdida. Como se estivesse sozinha no mundo.


Só que, de repente, achei que o compreendia. Ninguém que não seja de seu grupinho foi legal com ele em todos esses anos. Ninguém fora de seu grupinho lhe dirigiu a palavra com amor. Acho que eu fui a primeira. A primeira que quis conhecê-lo de fato. Que quis sair com ele para falar sobre Kyle XY (é uma série de um menino sem umbigo que passa no canal Sci Fi Channel), ou para falar sobre as menininhas africanas que são mutiladas quando criança. Deve ser muito difícil não ter ninguém compatível por perto. Então, quando entrei em sua vida... bom, foi muito bom. Acho que ele se sentiu especial. E eu também me sentia especial, porque praticamente apreciamos os mesmos tipos de coisas (ainda que eu não ache tão legal ficar assistindo os documentários estranhos do Discovery Channel e ainda que ele adore mais a Debby Harry do que a Hayley Williams).


Mas, mesmo assim, isso tudo é muito ridículo! Muitas pessoas pensam coisas horrorosas sobre a Angelina Jolie e não é por isso que ela deixa de fazer o que faz. Ou de falar o que pensa. E eu nem nunca pensei coisas tão ruins sobre o James! Só que ele era perdido e estranho. Nunca disse que ele é o pior cara do mundo ou que tinha nojo dele, como a Taylor sempre falava.


E geralmente sempre pensamos coisas erradas das pessoas antes de conhecê-las de perto. Eu totalmente achava a Lady Gaga uma babaca que só queria pegar o lugar da Madonna, só que hoje penso que não deve existir alguém mais legal e divertido no mundo das celebridades, depois da Hayley, claro, do que a Lady Gaga. Sem contar que nunca fico triste ouvindo Bad Romance ou Boys Boys Boys. Tá vendo? Às vezes julgamos as pessoas erradamente, até vermos o quanto elas são insubstituíveis e necessárias para a nossa vida. Quero dizer, eu realmente não sei como todos os fãs fanáticos do Michael Jackson se sentiram quando souberam da morte dele. Acho que souberam que perderam a felicidade. Ou a esperança de um mundo melhor e mais mágico.


Eu o segui, mal me importando se iria machucar alguém naquela minha correria. Ele meio que já estava um pouco longe de mim, de modo que a única maneira que encontrei de ir ao seu alcance rapidamente, antes que ele entrasse em alguma sala de aula, foi correndo.


- Você não pode terminar comigo! – berrei, agora definitivamente não suportando mais segurar as lágrimas de ódio e de sofrimento - Quero dizer, você é o meu melhor amigo! E você me prometeu que nunca me magoaria ou me deixaria! Ele deu meia volta. Seu rosto estava irônico. Dava pra ver que não queria mais ouvir a minha voz.


- Eu sei. Mas acho que agora está na hora de você crescer: contos de fadas não existem. Você achou que eu diria “ok, tudo bem”? Desculpa, mas não sou seu cachorrinho – foi a última coisa que me disse, antes de continuar seu trajeto até os corredores da escola e antes de me deixar verdadeiramente morrendo por dentro.


Eu fiquei ali, no gramado, olhando pra todo mundo com uma cara de fraqueza. Acho que a maioria não ligou muito, porque ninguém me olhou com cara de pena. Não que eu quisesse que me olhassem com cara de pena. Só que agora parecia que ninguém estava a fim de dar créditos a mim. Parecia que não se importavam mais com o lance todo do boato sobre mim e James. Parecia que já tinham arranjado outro boato, que fosse muito mais interessante.


Então, depois de pensar que fosse mesmo vomitar e depois de me sentir vazia, meu peito de livrou parcialmente de todo desespero e se encheu de raiva. De muita raiva. Raiva, claro, da Taylor. Porque, CARAMBA. Que menina mais IDIOTA E VADIA E ORDINÁRIA! Como é que ela teve coragem de fazer uma coisa dessas? Será que ela não se contenta com o que tem? Será mesmo que para sua vida ser ainda mais perfeita (se não considerarmos o fato de que não faz mais parte do time das líderes de torcida e o fato de que fui expulsa do Conselho Estudantil) tem de destruir a felicidade dos outros? Ah, que idiota que sou. Ela SEMPRE tem de destruir a felicidade de alguém. Não importa se é a de alguém popular, impopular, alguém me ela ame ou odeie. Taylor SEMPRE tem que estar por cima, não interessa quanto esforço precisa fazer. É, tipo, a lei da vida dela. Ou ela está por cima, ou está por cima.


Eu quis realmente procurá-la e acabar com ela, só que o sinal bateu e quando olhei para onde ela estava, já tinha sumido dali.


Então, vim pra cá, pra aula de Sr. Coop, que é física. Uma porcaria, eu sei. Quero dizer, bem que eu podia ter tido alguma tontura e ter ido parar na enfermaria para não precisar ter que assistir a essa aula.


Eu estou tão perdida. Não faço a mínina idéia do que fazer. Quero tanto ir embora daqui e nunca mais ver ninguém...


13/FEVEREIRO – 10:08h – QUARTA-FEIRA – AULA DE CÁLCULO
Eu não suporto esta tortura. Preciso falar com alguém. Não estou ligando se a Zora vai caçoar de mim e dizer que agora tem certeza que eu gosto do James, porque estou preocupada demais com a perda de sua amizade. Bom, é mais ou menos isso que todo mundo irá falar, de qualquer modo. E espero que a Nick não tenha contado a ninguém sobre o que aconteceu ontem à noite lá na minha casa. Não vou suportar se todos descobrirem. Daí todo mundo irá falar que manipulei as emoções do James. Só que não é verdade. Ele quis por espontânea vontade me beijar também. Não o forcei a nada. Eu ainda estou tentando ao cubo entender toda essa minha situação. Tipo, a situação que a Taylor me meteu. Sem contar a coisa toda do beijo também, porque, caramba, isso está me enlouquecendo. Como é que pude beijar alguém que não é meu namorado? Nunca quis isso. Nunca tive vontade de beijar alguém que não fosse o Jason.


Será que estou com algum tipo de doença? Talvez eu devesse ir até a enfermaria. Quem sabe posso estar delirando e com febre. Pode ser que esteja com algum vírus que ataque meu sistema de defesa em mim. Não o da AIDS, claro que não.


Ai, estou com tanta vontade de sair correndo daqui e nunca mais voltar. Ou nunca mais sair de casa. Acho que o James até me agradeceria se eu fizesse isso.


13/FEVEREIRO – 10:56h – QUARTA-FEIRA – AULA DE FÍSICA (DE NOVO)
Física DE NOVO. É pra me matar. Só pode.


Vou escrever, então. Músicas. Ou só uma.


 I Caught Myself


 Down to you,
You're pushing and pulling me down to you
But I don't know what I
Now when I caught myself, I had to stop myself
From saying something that I should've never thought
Now when I caught myself, I had to stop myself
From saying something that I should've never thought of you, of you


You're pushing and pulling me down to you,
But I don't know what I want,
No I don't know what I want


You got it, you got it
Some kind of magic
Hypnotic, hypnotic,
You're leaving me breathless.
Say "hate this", say "hate this",
You're not the one I believe in
With God as my witness


Now when I caught myself, I had to stop myself,
From saying something that I should've never thought
Now when I caught myself, I had to stop myself,
From saying something that I should've never thought of you, of you


You're pushing and pulling me down to you.
But I don't know what I want
No I don't know what I want


Don't know what I want
But I know it's not you
Keep pushing and pulling me down,
But I know in my heart it's not you


Now when I caught myself, I had to stop myself,
From saying something that I should've never thought
Now when I caught myself, I had to stop myself,
From saying something that I should've never thought of you
I knew, I know in my heart it's not you
I know, but now I know what I want, I want, I want
Oh no, I should've never thought


 Hum. Parece que não me livro das coisas que sempre me incomodam. Não que essa música me incomode. Não é sobre canção que estou me referindo. É só meio que a letra. Na verdade, É sobre a letra. Meu Deus, estou chocada agora. Essa música é exatamente o que estou vivendo neste prezado momento. Nossa, estou mesmo chocada. UAU. 


Preciso parar de fazer essas coisas. De ficar escrevendo as letras das músicas quando deveria estar fazendo algo útil, tipo, prestando atenção na aula. E vou fazer isso. Se quero ser uma jornalista tenho que começar a entender as aulas a que freqüento. Não que física seja um assunto muito importante para jornalismo. Acho que é mais inglês, literatura e história.


13/FEVEREIRO – 11:35h – QUARTA-FEIRA – AULA DE REDAÇÃO
Está tudo bem? Você e meu irmão brigaram mesmo? – A


 Oi, Al. Não sei se estou bem. Bom, basicamente, o seu irmão nunca mais quer me ver, então, acho que, sim, nós brigamos.


Meu irmão é muito idiota mesmo. Tipo, como ele tem coragem de ficar ao lado da TAYLOR? A Taylor nunca nem FALOU com ele. Bom, só hoje. Mas mesmo assim.


Eu sei. Só que a Taylor sempre consegue o que quer. Lembra?


Mas ela não pode separar vocês!


Bom, acabou de separar. Pra sempre. Até parece que ele vai me desculpar algum dia. Será?


Não sei. Ele está mesmo bravo com você, mas ainda assim é muito ridículo. Tipo, agora você é a melhor amiga dele. Ou até mais do que isso. Ele deveria ter batido na Taylor e saído correndo.


Você SABE que ele é/era só meu amigo! Mas até parece que ele iria bater em alguém. Muito menos em uma garota.


Bom, você é quem decide. Olha, eu não me importo se você gosta dele desse jeito. É sério.


AHAM, ESTOU VENDO. VOCÊ QUASE JÁ TENTOU ME BATER SÓ PORQUE SAÍ COM ELE ALGUMAS VEZES. E EU NÃO GOSTO DELE DESSE JEITO!!


Ah. É só que você é a minha melhor amiga. A minha única melhor amiga. Não quero não ser a sua melhor amiga.


QUÊ?


Não quero dividir você com alguém. E dividir você com o meu irmão é tenso. É realmente estranho.


Mas. Mas. Ok, não sei o que falar. Quero dizer, escrever. Que tenso isso. Mas, olha o lado bom: agora você não vai precisar me dividir com ele! YEEY


Ah é, você está MUITO feliz.


Tanto faz. Até parece que ele está se importando.


Affe. E o que você vai fazer?


Hum. Nada. O que poderia fazer? Ele nunca vai me perdoar mesmo.


Vai, sim. Ele vai ver que está errado e que está sendo um idiota com você.


Não vai.


Vai, sim.


Tá bom. Pode ser que sim. Mas não é agora.


Eu vou conversar com ele.


NÃO! ALEX! NÃO FAÇA ISSO!


Por quê?


Não quero. Eu vou resolver sozinha, ok?


É? Como? Indo chorar pra ele?


Ai, essa magoou. Sério. Ele nem me viu chorando por isso.


HAHA, MUITO ENGRAÇADO. NÃO. Vou dar um jeito. Sei lá. Mas agora vou prestar atenção no teste. Até mais.


Certo. Você sabe a resposta da primeira pergunta?


Acho que é B.


13/FEVEREIRO – 12:37h – QUARTA-FEIRA - ALMOÇO
Tenso.


Estar aqui é tenso.


A Zora já soube do que aconteceu e está toda furiosa. Furiosa com a Taylor e com o James. Ela fica repetindo que a Taylor nunca mais vai ser feliz depois de sexta-feira e que o James é um idiota. Só que acho que não concordo muito quanto à última afirmação. O James só está magoado. E é bastante normal para alguém que acabou de descobrir o que uma pessoa pensava dele no passado. Parece meio injusto comigo, mas só assim é, porque essas são as minhas palavras, o meu diário. Tenho certeza de que se esse fosse o diário do James, ele também pegaria o lado dele.


Eu não tenho coragem de olhá-lo. Tipo, ele está aqui sentado com todo mundo, como sempre, mas não está sentado ao meu lado e nem fala comigo. Que triste isso.


A Nichole tri desesperada, pensou que ele estivesse assim por causa do beijo de ontem, daí eu tive que colocar a minha mão na boca dela, porque ela estava muito doidona, praticamente berrando lá no corredor.


- Shiiiu. Não tem a ver com aquilo. É outra coisa. É com a Taylor – eu falei.


- O que a Taylor tem a ver com isso? – ela estava tão ansiosa quanto eu estava surtando.


- Iiiih. Um monte de coisas. O negócio é que o James deixou de ser meu amigo.


- Mas por quê? Vocês são tão fofos juntos... – eu pude reparar naquela vozinha sonhadora dela. E odiei.


- Aham. É – revirei os olhos – É que a Taylor foi uma cachorra e contou sobre o que já pensamos sobre ele. Sem contar sobre a aposta.


- Que aposta? – agora Nick estava chocada.


- Talvez uma hora você saiba, mas não agora. Não estou em condições de falar sobre isso. Sério mesmo. Tudo o que quero é ir para casa e morrer lá na minha cama – respondi. Comecei a ter a sensação de que queria chorar. Mas não podia chorar por conta de uma coisa tão estúpida. Muito menos NA ESCOLA!


Acho que ela notou que eu estava sensível e colocou as mãos nos meus ombros.


- Ei, vai ficar tudo bem. Ele vai ver que você é a alma-gêmea dele e vai desistir de ficar bravo com você.


Eu juro que quase quis me atirar no chão naquele momento. Porque o que foi isso? EU SOU A ALMA-GÊMEA DO JAMES? QUEM DISSE? Bom, a Nichole. Mas ela é, tipo, romântica e gótica. É o tipo de coisa que teria de esperar dela, não é? Não, eu não esperava. Ah, meu Deus, a Nichole está OBCECADA por um romance entre mim e o James! Como a minha avó! Que T.E.N.S.O. Preciso fugir daqui. PRECISO FUGIR DAQUI!!


- O quê? Claro que não! Ele não gosta de mim desse jeito! – neguei apavorada.


- Mas vocês se beijaram... – ela sussurrou.


- E daí? Muitas pessoas se beijam aleatoriamente por aí e isso não quer dizer que estejam apaixonadas!


- Mas você está se importando com tudo isso. Com o fato de que agora não é mais amiga dele.


- Claro! Não quero não ser mais amiga dele! Ele é um ótimo amigo! Só isso – falei.


Nichole parecia que estava tentando rebater alguma coisa suficientemente comprometedora.


- Então por que você o beijou?


- Quem disse que fui eu que o beijei? – fiz uma careta.


- Tudo bem. Vou mudar a pergunta, então. Por que você não se afastou dele e deixou que ele a beijasse? – Nick fez cara de impaciência.


Tudo bem. Não sei o que aconteceu comigo, mas eu corei. Senti meu rosto pegando fogo, como se tivesse, sei lá, acabado de cometer um pecado muito pecado. Foi a pior sensação de todas até agora. Eu estava lá olhando para a Nick e, do nada, me senti muito envergonhada. Só que até agora tinha me convencido que o beijo de ontem só aconteceu porque eu estava ainda muito fragilizada por causa da noite de segunda-feira, com a aparição do Jason lá na Alameda. Então, quando me senti envergonhada, não soube do por quê. Realmente não consegui encontrar uma explicação lógica.


- Hum. Não sei. Foi só... Hum. Certo. Agora você me pegou – falei, tentando não ligar para a cara que ela estava fazendo, que era uma cara realmente muito triunfante – Mas isso não quer dizer nada! Eu já disse que não significou nada para mim! – me apressei a dizer.


- Ah, Lily. Seja verdadeira. Pelo menos comigo. Não precisa contar a verdade a Alex ou a Zora. Mas pode contar pra mim. Eu nunca contaria pra alguém – achei que a Nichole estivesse implorando.


E eu fiquei ainda mais sem jeito. Tipo, eu ESTAVA sendo verdadeira. Pelamor. Muito, por sinal.


- Eu ESTOU contando a verdade, Nichole. Por que acha que não? – rebati, agora começando a ficar aborrecida comigo mesma. Será que a cor avermelhada do meu rosto não iria embora nunca?


- Não sei. É uma coisa que você ainda não descobriu, mas acho que daqui a pouco irá descobrir.


- O quê? Como assim?


Nick deu de ombros.


- Você vai descobrir.


Fiz uma cara não muito amigável. Por que todo mundo fala em códigos comigo?


- O que vou descobrir, criatura? – perguntei com muita impaciência.


- Que gosta dele. Do James – Nick me disse com uma simplicidade do cão. Vou te contar.


Daí uma coisa explodiu em mim. Parecia que eu tinha o inferno dentro de mim. Me senti muito esquisita. Com raiva, eu acho. Mas não era só isso. Era outro sentimento igualmente quente também. E era um sentimento bom. Aconchegante. Só que não o identifiquei. Não soube o que era. Não sabia se era alegria ou qualquer outro que me fizesse bem.


- Eu. Não. Gosto. Do. James – crocitei parecendo a minha avó quando está muito do mal.


- Ah – quando a Nick fez aquela carinha de filhotinho triste, quase me emocionei. Só que daí, me lembrei que não havia motivos para eu me emocionar.


Então, entramos no refeitório. E todo mundo já estava lá. Exceto a Zora, porque estava na sua mesinha da eleição. Estou falando, esta menina está doente por essa eleição. É horroroso, se você parar para pensar. Daí, quando nos servimos, fomos para a mesa, e eu olhei para o James. E de novo o sangue subiu para o meu rosto. Me senti tão envergonhada quanto antes, lá no corredor. Deve ser assim que as meninas que julgam erroneamente um cara tão fofo e legal se sentem quando o vêem. Eu entrei em pânico. De verdade, não sabia pra onde olhar, não queria sentar ali. Só que onde mais eu poderia me sentar? Quando me sentei entre o Sirius e o Remus me senti tão idiota. Tão infantil.


O James nem olhou para mim. Nenhuma vez. Só ficou lá, comendo quieto. Geralmente ele nunca faz isso, porque eu sempre me sento ao seu lado, o que significa que ficamos conversando tanto que quase nos esquecemos de almoçar. Só que hoje foi diferente. Eu não tinha com quem conversar. O Sirius só ficava falando de como é muito fácil tirar um sutiã com uma só mão (é sério. Simples e totalmente nojento) e o Remus me ignorou completamente, preferindo mergulhar em seu novo livro da vez. A atmosfera estava tensa, sabe. Parecia que todo mundo estava fingindo que tudo estava bem, quando, na realidade, todo mundo sabe que eu o James nunca mais seremos amigos de novo.


Acho que ninguém está se importando com o fato de que, ao invés de eu comer, estou escrevendo aqui. Tudo bem, a Nichole está se importando, porque não pára de me lançar olhares sorrateiros como se dissesse: “Converse com ele!”, só que, hahahaha, é ruim, hein. Desculpe, mas eu tenho a minha dignidade.


13/FEVEREIRO – 13:04h – QUARTA-FEIRA – AULA DE BIOLOGIA
Quer saber? Está decidido. Se ele vai me ignorar, vou ignorá-lo também. Quem disse que preciso tanto dele assim? Quem sabe meu namoro até mesmo volte a ser maravilhoso como era antes. Quem sabe agora eu me animo em tirar a roupa para o Jason e em ir até o fim. Estou cansada de ser tão fofa e legal com todo mundo.


13/FEVEREIRO – 13:12h – QUARTA-FEIRA – AULA DE BIOLOGIA
Tudo bem, a quem quero enganar? Eu mal tenho coragem de me ver sem roupa no espelho, até parece que vou deixar um cara me ver assim. Ainda mais o Jason. Quero dizer, sei que ele é meu namorado, mas... ele é atleta. Atletas querem alguém como a Taylor, sabe. Não alguém como eu. Eu sou tão menininha. É tão triste.


Além do mais eu totalmente me sinto dependente do James! Parece que não consigo mais ser feliz sem ele ser meu amigo! Pode ser que eu morra sem ele. Antigamente as garotas morriam de depressão por não ter seus amores por perto. Ainda que o James não seja, assim, o amor da minha vida, é meu melhor amigo, de modo que totalmente preciso dele. Para qualquer coisa. Nem sei se serei capaz de assistir House hoje sem pensar no James!


AH MEU DEUS, eu preciso TANTO bater na Taylor!


13/FEVEREIRO – 13:23h – QUARTA-FEIRA – AULA DE BIOLOGIA


 Invisible


She can't see the way your eyes light up when you smile
She'll never notice how you stop and stare whenever she walks by
And you can't see me wantin you the way you want her
But you are everything to me


And I just wanna show you
She don't even know you
She's never gonna love you like I want to
You just see right through me but if you only knew me
We could be a beautiful miracle unbelievable instead of just invisible


There's a fire inside of you that can't help but shine through
She's never gonna see the ligh
No matter what you do
And all I think about is how to make you think of me
And everything that we could be


Like shadows in a faded light
Oh we're Invisible
I just wanna open your eyes and make you realize


I just wanna show you she don't even know you
Baby let me love you let me want you
You just see right through me
But if you only knew me
We could be a beautiful miracle unbelievable instead of just invisible


She can't see the way your eyes light up when you smile


Desculpa, mas não consigo escrever mais a letra de I Caught Myself. Ela me parece extremamente difícil, no momento.


13/FEVEREIRO – 13:35h – QUARTA-FEIRA – AULA DE BIOLOGIA
Eu vou acabar tanto com a Taylor, quando a vir sozinha por aí. Vou, vou, vou. Ela merece. Não somente pelo o que está me proporcionando no momento, como também pelo o que sempre fez para mim, sendo uma péssima amiga. Sempre rindo da minha esquisitice. Sempre dizendo que nunca iria arranjar alguém sendo tão inteligente. Sempre me chamando de lesada. Sempre me dizendo que eu deveria mudar as minhas roupas, só pra variar, já que não sou nenhuma roqueira idiota e nenhuma sem-teto. Certo. Eu suportei muitas coisas. Até mesmo as vezes que ela escreveu “higiene” sem o h. Até mesmo a vez que mentiu para mim dizendo que tinha dois meio-irmãos gêmeos por parte de pai, quando na verdade o pai dela nunca traiu a mãe dela. Ainda que ela tivesse mentido para me fazer melhor, na época em que lhe contara sobre o casamento de meus pais. Só que, sabe, mentir não é a melhor opção, porque daí eu descobri e fiquei sem falar com ela durante uma semana, já que me senti um pouco enganada.


E, bem, vou acabar com ela também por ter dito quantas coisas ruins da Hayley. Porque, oi, nunca faça isso perto demais de mim. Eu vou acabar não gostando e daí você não vai acabar gostando do que posso fazer com você. Eu deveria começar a preparar uma lista pelos motivos que irei bater nela. Não, demoraria demais. Provavelmente eu ficaria o resto da minha vida escrevendo-a.


Agora não consigo mais sentir pena dela. Que se dane se ela perdeu o cargo de líder de torcida e de presidente da escola. Isso é o que acontece com as pessoas que são más com meio mundo e depois se fazem de fofinhas, só pra enganar todo mundo. Mas comigo, Taylor, você não mexe mais. Agora é você que tem que começar a ter medo de mim. Muahaha.

13/FEVEREIRO - 15:43h – QUARTA-FEIRA – NA PARADA
E essa porcaria de ônibus que não chega, hein? Ao menos, isso me dá tempo para escrever. Tudo bem que eu escreveria em qualquer outro momento, mas é bom colocar tudo no papel agora, enquanto as memórias ainda estão frescas em meu cérebro. Quem sabe, quando eu vir o ônibus, ao invés de saltar para dentro dele, posso saltar para frente dele, e assim acabar de uma vez por todas essa criancice. Ah, nossa, que morte mais tosca.


Mas enfim.


Eu encontrei a Zora lá debaixo da árvore, lá no pátio. Ela conversava com uma garotinha de uns 13 anos sobre o problema do banheiro feminino no terceiro andar. Faz um ano que a diretoria está esperando as verbas do Conselho para erradicar todas as torneiras pinga-pingas. Só que, adivinha, o Conselho gasta a verba em qualquer coisa inútil, como alimentos diets e lights no refeitório, ou saquinhos descartáveis para vômitos.


Então, eu fingi um sorriso mega feliz para a garotinha e fiquei esperando a Zora finalizar todo o seu falatório. Como eu estava com os fones nos ouvidos, realmente não escutei a conversa das duas, só soube sobre o que discursavam porque a Zora me disse depois. Além do mais, eu estava com muita dor de cabeça para querer escutar qualquer conversa que envolvesse a eleição. Só de pensar na eleição, tenho vontade de vomitar.


- E aí? Está melhor? – ela foi muito educada ao meu perguntar acerca de meu estado emocional.


- Não sei – suspirei dramática, mas, só para constar: eu me sinto como uma formiguinha levando uma baleia-azul para o jantar. Não que formigas comam baleias, claro que não. É só uma analogia.


- Você falou com ele? – seu olhar não estava em mim, pois distinguira alguém lá longe.


- Não.


- Então, vá falar – ela se virou para mim, como se eu fosse uma aluna especial – Ele está lá – seu dedo apontou para James, sentado na mureta ao lado do primeiro prédio. Ele estava folheando uma revista científica.


- Não posso! – exclamei furiosa com ela por me dar tal conselho.


- Caramba, você é muito idiota, Lily – ela declarou. As pessoas podiam me falar algo que eu não saiba, né?


- Eu sei – falei amuada.


- Na frente de tanta gente ele não pode lhe fazer nada – pausa – Tudo bem, ele pode ir embora e tudo, mas não pode, sabe como é, berrar com você – pausa – Certo, talvez possa, mas não quer dizer que o fará.


- Zora, vamos falar de qualquer outra coisa, ok? – pedi - Eu não sei como consertar as coisas e tenho a maior absoluta certeza de que ele não irá voltar atrás. James está tão magoado comigo quanto eu estou com a Taylor. São coisas que não têm mais reparação.


- Nossa, você pensa pequeno, hein? – ela desdenhou, mas não me importei.


Não tirei meus olhos de James. Ele também parecia bastante solitário, sem ninguém por perto. Isso porque todo mundo do nosso grupinho está ao meu favor. Até mesmo o Remus. Quase o abracei quando ele me disse que está totalmente me defendendo, porque, sei lá, o Remus é tão tanto-faz. Ainda que eu ache que esta sua atitude tenha um dedinho da Alex, claro. Não que ache que eles se beijaram de novo. O Remus e a Alex, digo. Pelo menos ela não me disse mais nada sobre a novela dela. E, tudo bem, com os problemas que estou tendo agora, até parece que iria me concentrar na felicidade alheia. Acho que não.


Arranquei meus fones dos ouvidos e guardei meu i-pod na bolsa. Uuuh Lady Gaga, sai de perto. Agora ele tinha que me ouvir, quer saber! Entendo totalmente o lado dele, como já escrevi antes, mas ele não tentou entender nenhum segundo do meu lado. Ele simplesmente acha que está com a verdade e que ninguém mais mereça consideração. Ah é, Sr. Sabe-Tudo? Vamos ver!


- Lily? Aonde você vai? – a voz questionadora de Zora estava surpresa.


- Eu já volto – falei, continuando a andar tão decidida que achei que estivesse praticamente correndo.


Fui diretamente a James. Não me importava se ele iria me ignorar ou me mandar para o inferno.


Se ele me chamou de criança, ele está agindo exatamente do mesmo modo! Não está?


- Escuta aqui, James, fecha essa porcaria dessa revista e me escuta! – mandei com a minha melhor cara de Voldemort.


Ou de cachorro com raiva, sei lá. Mas tanto faz.


O James realmente fechou a revista e me olhou. Realmente surpreso. Acho que não imaginava que posso ser tão durona quanto o Rocky.


- Você é tão idiota quanto eu! Quer saber? Se você não acredita em mim, quer dizer que todas as coisas que fizemos juntos, todas as conversas que tivemos, não valeram a pena. Eu não me arrependi de ter sido sua amiga, agora se você prefere acreditar em uma menina que sempre odiou você, é melhor mesmo você não ter a minha amizade. Porque não suporto pessoas que não se dão a dignidade de escolher um partido – tudo isso saiu tão rápido que quando terminei fiquei ali, na frente dele, arquejando.


- Uau, você quer platéia? – ele me perguntou, aplaudindo fracamente, com aquela voz fria de antes.


- Cale a boca e seja coerente! – gritei.


Opa, eu é que estava gritando. A Zora tinha mesmo razão, pelo menos por enquanto. Ele ainda não tinha levantado seu tom de voz.


- Não preciso ser mais. Eu já li tudo o que precisava para deixar de acreditar em você – James me respondeu, com desprezo.


Dei um ataque mental. Que garoto mais mesquinho! Quem é que, em sã consciência, prefere acreditar em uma líder de torcida a uma menina que dividiu a boca? HEIN?


- Você... você é tão ridículo e imaturo! – falei. Acho que gritando de novo.


- É, isso mesmo. Isso é o que sou. O que sempre fui. Um fracasso – ele disse com um ar imenso de superioridade – Você não entende, não é? – ele riu, mas com zero humor.


- Entendo o quê? – perguntei, agora confusa.


James não é um fracasso. Ele ainda será o melhor engenheiro do país. Ou o guitarrista mais adorado pelas meninas.


Ouvi sua risada. Carregava lamentação e cansaço.


- Esqueça. Pessoas como você nunca entendem pessoas como eu.


- Do que está falando? Nós somos iguais! Somos como... como… - preferi não dizer a palavra que me veio à mente naquele instante. Que era casal. Eu iria falar “Somos como um casal”. Soaria tão errada e incompreendida! – E você sabe que não é um fracasso. Você me mostrou coisas que nunca veria se não tivesse encontrado você. Os dias que passamos juntos... simplesmente foram os melhores. Longe de fracassados. Agora se...


- Quer saber? Guarde as suas palavras para si. Não tenho tempo para ficar dando créditos a uma mentirosa – ele me atropelou, mal se importando com o que eu tivesse a lhe falar.


Woo. Fiquei estupefata. Nunca achei que ele iria me chamar de mentirosa. Idiota, sim. Infantil, sim. Mas mentirosa? Essa doeu e magoou fundo, fundo mesmo. Acho que nunca irei me esquecer disso.


- Sei o que sou, não preciso de você para me dizer. Sou um idiota, fracassado e ridículo. Você mesma escreveu, não se lembra? Lá naquele livrinho de verdades que mantinha com a Taylor – James me falou.


- Engraçado. Nunca o considerei um covarde – atirei, antes de retroceder até Zora, tão decidida quanto tinha ido.


Ah, eu estava tão furiosa. Parecia impossível eu manter alguma coordenação naquele caos. E acho que acabei agradando a Zora, porque, apesar de ela estar impressionada e surpresa, estava também satisfeita.


- Woo, caramba. Você acabou com ele. Só você mesmo – sua cabeça infestada de lacinhos se balançava feliz.


- Não, eu acabei comigo mesma – observei descontente – Ai, meu Deus. Você tem uma arma aí?


- Não – ela me respondeu, fazendo uma careta fofa.


- Sabe onde posso arrumar uma? – perguntei.


- Cala a boca – Zora estreitou os olhos – Uma hora vocês se acertam. Como a Tinker Bell e o amiguinho dela lá naquele filme.


- É, mas eu não sou uma fada e a Tinker Bell não tinha uma inimiga vadia – falei.


- Ah, mas... Bom, tudo bem. Foi a maior ignorância isso – pausa – Quer ir lá pra casa fazer mais cartazes comigo?


Quis rir, só que não consegui. Parece que não encontrei um motivo real nem motivação para tal coisa.


- Hum, eu passo – eu disse com a minha melhor voz, para não magoá-la.


- Ah – ela olhou para o James, que ainda continuava lá na mureta, mas sem a revista agora – Vocês são iguais – sua cabeça balançou de modo pesado.


Apertei meus lábios e meus olhos, de modo perigoso.


- Não somos não! – exclamei.


Zora me olhou rápida.


- Pensei que você quisesse ser igual a ele – ela me disse.


- Bem, se quisesse não estaria negando agora, estaria? – rebati aborrecida.


- Você está muito estranha, sabia? Acho que tudo vai mal quando você está longe dele, hein? – pude detectar sua risadinha.


Sabe, como se já não bastasse meu dia estar péssimo por tudo o que está acontecendo, parece que não tenho ninguém ao meu lado para me apoiar e não para me dizer que estou muito apaixonada por James ou qualquer coisa que insinue isso. De qualquer modo, sempre qualquer conversa com a Zora não é aconselhável se você almeja paz e compreensão.


Daí eu me despedi dela, fingindo que tudo bem o que tinha me dito, que nem tinha me aborrecido ainda mais, e vim para cá, para a parada. O que me lembra que esse maldito ônibus ainda não chegou. Estou aqui há mais de quinze minutos e nada. Pois é, isso o que dá ficar dependendo de transportes públicos. Quem sabe a companhia de ônibus está em greve e não sei, porque não costumamos ligar a TV em noticiários, logo pela manhã. Sempre ligamos na MTV.  


13/FEVEREIRO – 16:36h – QUARTA-FEIRA – CASA (MEU QUARTO)
É claro que ela tinha de dizer alguma coisa. Ela sempre diz. Mesmo quando ninguém pede a sua opinião. Mesmo quando não tem nada inteligente a falar. Mas ela sempre diz. É um fato.


Mas, mesmo assim, não era para eu estar me sentindo tão mal. Tudo bem, ela não está mal, só está... sei lá. Ela gosta dele, é bastante aceitável. Eu também gosto. Aliás, adoro. Odeio sentir sua falta, mas o que posso fazer? Como é que vou melhorar a minha situação com ele? Alguém aí tem uma varinha capaz de reverter o tempo? Ou capaz de fazer com que a Taylor não tivesse nascido? Hum?


Bom, claro que eu cheguei atrasada. Aquele ônibus estava de brincadeira comigo, só porque hoje é o pior dia do ano.


Então, mal coloquei os pés em casa e D. Julia já foi me questionar:


- Ué, cadê ele? – vi seus olhos procurando alguém atrás de mim. Claro que estava procurando uma pessoa em especial. A única que sempre procura sempre que chego da aula, há um tempo. Ela queria saber do James.


- Nunca mais vai vir para cá – respondi lamurienta. Odeio me passar de cachorrinho abandonado, mas hoje estou me sentindo meio assim. Meio que precisando de um colo. Mas esse colo não é o da minha avó, pelamor.


- Hum? Por que está falando isso? – ela parou de procurá-lo lá na rua e se focou em mim. Realmente em mim.


- Ele me odeia, satisfeita? Acabou. Acabou essa sua teoriazinha de que um dia iremos ficar juntos – falei, acho que até me sentindo bem, por um mero segundo.


Por que não me sentiria um pouquinho bem? D. Julia agora vai parar de me seguir com seu monólogo sobre mim e James! Nem é tão ruim assim, desconsiderando que estou sentindo a falta dele e tudo o mais.


- Ah, por Channel! O que foi que você fez? – acho que sua intenção era gritar, mas não pôde alterar seu tom de voz, uma vez que meu avô estava cochilando (e roncando) na poltrona ali perto.


Não pensei duas vezes e fiz uma cara de boi com raiva. Como ela tem tanta coragem de acusar a própria neta de algo? Eu posso matar aulas – tudo bem, só foi uma, e com o James, ainda por cima -, mentir para o meu namorado, dançar com alguém que não passa de um amigo, mas ser responsável por acabar com uma amizade? Uma amizade que prezo tanto? Que me faz tão bem? Não, negativo, senhora, pode pedindo desculpas.


- Por que sempre eu é que tenho de ser a culpada? E se não for eu? Vai me deixar ir para a cadeia e me transformar em uma mulher sem glória e sem futuro? – perguntei furiosa.


Ela levou as mãos, muito rapidamente, ao peito; ao coração.


- Se não foi você, quem foi, então? – sua face se franziu, agora como se as palavras tivessem produzidos alguma reação em sua pessoa totalmente inatingível e imune a lamentos.


Só que eu não queria acusar a Taylor. Sei que era merece para sempre a culpa disso, mas não posso sair por aí extravasando o meu ódio. Além do mais, o que a minha avó pode fazer? Ir até a casa da Taylor – que ela nem sabe onde é – e obrigá-la a pedir desculpas ao James e a mim e fazer nós dois reatarmos a amizade? Vou precisar dar um Nobel a ela se conseguir tal proeza. Sério.


- Não foi ninguém. Ele só descobriu umas coisas e, bom, acabou com tudo – falei.


- Ahá, então você fez mesmo alguma coisa a ele! Ande, menina, desembucha! – sabe, doeu isso. Internamente. Mal consigo acreditar que agora não tenho mais o James para me fazer rir ou para ficar conversando nas terças-feiras e essa daí vem e me atira a pedra bem na cabeça. Legal, vovó. Também amo muito você.


- Olha, sem querer ofender nem nada, mas não tenho nada a declarar. Não consigo falar sobre isso. Só preciso do meu quarto. Certo? – de novo parecia que eu queria chorar. Isso não é nada divertido quando se está prestes a fazer isso bem em frente à sua avó gênia do mal.


Não achei que ela fosse entregar o osso tão fácil. Minha avó nunca faz isso.


- Ele descobriu que você está confusa em relação ao que sente por ele e preferiu dar um tempo na relação de vocês? – ela arriscou, achando que estava mesmo perto da resposta.


- O quê? – fiz uma cara descrente – Meu Deus, onde é que você busca essas suas frases, hein?


- Não? Não foi isso o que aconteceu? – D. Julia ficou com cara de decepção.


- Não, ok? Definitivamente não. Então, me dá licença, porque preciso fazer qualquer outra coisa – pela minha voz, eu já estava cansada da conversa, daí me retirei dali, mesmo com os protestos um pouco baixos de minha avó.


Agora estou aqui na minha cama, tentando criar coragem para tirar a Taylor Swift dos meus ouvidos. Simplesmente a voz dela é tão fofa que é impossível de fazer uma coisa dessas. Mas tudo bem. Quando todas as músicas dela que estão dentro do meu i-pod acabarem, resolvo o que faço do resto da minha tarde. Posso ir lá pro sótão e calcular se dá para morrer se eu saltar de lá. Ou então posso ir lá pra sala e obrigar a minha avó a sair da TV para eu poder assistir a qualquer reprise de Law & Order que passa à tarde. Meu avô assistiu comigo a um episódio na semana passada e disse que não é coisa que eu deveria estar gastando o meu tempo, porque todos aqueles crimes podem me traumatizar ou me levar a cometer crimes reais. Só que estou acostumada a assistir a Law & Order desde que tenho 13 anos, então se eu tivesse de matar alguém a facadas ou a golpeadas de lápis, já teria o feito. Além do mais, esse seriado me ajuda a pensar mais, porque no final de todos os episódios nunca o suspeito número um é o culpado.


Ou então, posso começar a baixar os episódios de True Blood e ver o que tanto esses vampiros têm de interessantes. Mas acho que não vou suportar nem dois episódios. Skins é muito mais legal. Deve ser.


13/FEVEREIRO – 17:07h – QUARTA-FEIRA – CASA (MEU QUARTO)
Tudo bem, estou lendo. Não fui para a TV. Mas posso ouvir todas as falas da Angelina Jolie e do Brad Pitt em Sr. e Sra. Smith. Minha avó acha que filmes de ação têm de ser vistos na altura de um cinema. Mas adivinha: minha casa não é uma sala de cinema. Ela tem que abaixar isso, caramba. Vou ficar surda, daqui a pouco.


13/FEVEREIRO – 17:29h – QUARTA-FEIRA –CASA (MEU QUARTO)
Uau. Agora ela acha que pode consertar as coisas com um telefonema. Quero dizer, acha que eu posso consertar as coisas com um telefonema.


Minha avó me disse bem assim, enquanto eu estava procurando mais cereal colorido lá na cozinha:


- Ligue para ele e se desculpe.


Eu olhei bem para ela e caí na risada, porque, ACORDA, isso daqui não é a Disney! É a vida real! Ninguém se sensibiliza com um pedido estúpido de desculpas. Ainda por cima, feito através de um telefone. É tipo o que o Joe Jonas fez com a Taylor Swift, terminando com a coitadinha em 27 segundos, por celular. Não é pra menos que ela sempre esteja choramingando nas suas músicas.


- Claro que não – falei, ainda rindo, incrédula.


- Mas as pessoas adoram saber que a outra pessoa assume a culpa e está sentindo muito! – D. Julia exclamou, como se agora tivesse me convencido completamente.


- É, mas isso funciona nos filmes românticos e nos desenhos animados – minha voz estava muito caia na real, D. Julia!.


- Mas o James é um menino doce, ele vai saber que você sente muito – pausa – A não ser que você não esteja sentindo muito – sua sobrancelha foi lá pra cima, toda sugestiva.


- Eu estou morrendo por dentro, D. Julia. Todavia, as coisas não irão se ajeitar assim, ok? Eu totalmente falei com ele lá na escola, e ele não quis saber de me desculpar.


- Acho que temos de dar um tempinho a ele. James vai saber que você não vai fugir dele.


- Que negócio é esse?


- Bom, você não vai fugir dele, não é?


- Não! Não fujo das pessoas – minha indignação estava estridente.


- Ótimo. Isso já é o necessário por enquanto – ela decretou.


- O quê? – fiquei sem entender nada.


- Uma hora você irá entender. Não conseguimos tudo o que queremos de uma vez ou na hora em que desejamos. As coisas têm de ser conquistadas vagarosamente. Aprenda comigo – sua pose estava muito empertigada.


- Não quero aprender nada com você – retruquei.


- Uma hora você entenderá também o que sente por ele. Você quer isso, está louca para conseguir isso, mas não sabe como chegar ao sentimento – acho que sua resposta foi à altura da minha, porque senti minhas veias borbulharem.


- O que você sabe sobre o que sinto por alguém? Você nem nunca aceitou o meu namorado! – apontei um dedo para ela.


- E você também deveria não tê-lo aceitado. Cadê ele?


- Como assim? Está treinando, eu acho – fiquei confusa.


- Se ele a amasse o quanto você afirma que ele ama estaria aqui com você, passando a tarde em frente à TV vendo esses seus programas enjoativos.


- Ele tem mais o que fazer. Ele está tentando entrar nas universidades com ênfase no Basquete, o que é muito difícil, considerando que todo mundo aprecia mais o futebol ou, sei lá, correr atrás de um queijo – falei indignada.


Tudo bem que o sonho do Jason seja que algum caçador de talentos dos Estados Unidos esteja presente em algum jogo interestadual, mas, ainda assim, é um sonho legal, não? Ainda que seja mais fácil eu entrar em Harvard, é um sonho bem mais legal do que o meu: ir para a África e ensinar àquela gente o que é camisinha, já que o grande fator de morte por lá é a AIDS. Certo, mentira a minha. O meu sonho é muito mais humano e altruísta. Convenhamos. Posso salvar vidas. O Jason... só vai ganhar dinheiro e fama. Como todos os idiotas dos esportes.


- Isso só prova o quanto estou certa em desgostar deste menino. Ele é capaz de trocar a namorada por uma bola saltitante! Que tipo de namorado é esse? Garanto que o James não faria uma coisa dessas!


- Só porque o James não gosta de esportes. Gosta de música e de violão. Além do mais, como é que você pode saber? Nem somos amigos mais, quanto menos namorados – meu olhar estava um pouquinho assassino.


- Eu sei, Lily. Ele é perfeito para você. Vocês são tão... – ela ia totalmente falar. Ia mesmo.


Mas eu sabia qual era a palavra e poupei seus esforços:


-... parecidos. É o que todos me dizem – dessa vez não me irritei. Não sei por quê, mas isso não me chateou. Eu só estava cansada, mas não furiosa.


- Tá vendo? É por uma razão.


- É, a razão de dar palpite na vida alheia – falei.


- Não. É porque aqueles de fora enxergam melhor. Com olhos que você nem James possuem. Ou, quem sabe, com a obviedade que vocês não possuem.


- Ninguém possui obviedade, D. Julia – eu a contradisse.


- A mídia possui – ela me disse.


- Não, a mídia possui boatos – olhei-a como se ela fosse uma pessoa muito ingênua.


- Bem, onde há fumaça, há fogo. Afinal, todo boato tem um fundo de verdade, no fim.


Certo, o que poderia falar após isso? Não sei jogar tão baixo! E essa coisa de que todo boato tem um fundo de verdade é o tipo de coisa que sempre leio por aí, sempre que um – suposto - novo casalzinho famoso aparece. Tipo Robert Pattinson e Kristen Stewart, antes de assumirem o namoro.


- Tá, tá bom. Que assunto mais chato, esse. Vou voltar para o meu livro que ganho mais – abanei as mãos como se estivesse tentando acertar uma mosca gigante.


- Isso só comprova o quanto tudo isso lhe incomoda e o quanto você sabe que estou certa, lá no fundo – senti seu tom de superioridade que sempre me tira do sério. Odeio quando as coisas se gabam de algo. É a coisa mais idiota e chata do mundo.


- Não, isso só comprova o quanto você consegue ser muito intragável de vez em quando – corrigi.


Acho que D. Julia não gostou muito da minha visão de mundo, já que nem se deu ao trabalho de me responder.


Mas é verdade. Ela é tão seriamente irritante e pegajosa, sempre batendo na mesma tecla, que todo mundo é obrigado a sair do recinto em que ela está. É uma conseqüência fácil de imaginar quando a irmã do Coisa Ruim faz parte da sua família.


13/FEVEREIRO – 20:34h – QUARTA-FEIRA – MEU QUARTO
Que coisa mais esquisita. O Jason já ligou umas quatro vezes no meu celular. Ele nunca faz isso. Sempre espera eu ligar e de preferência antes das dez da noite, porque dorme cedo, já que o sono é um fator importante em seu desempenho físico.


Só que não estou a fim de desejar boa noite a ele. Na verdade, desde sexta que não desejo boa noite a ele. E, sabe, não estou com nadinha de saudade de sentir meu coração louco de emoção ao escutar sua voz pelo celular. Estou tão cansada das ceninhas dele que acho que preciso mesmo de um tempo. Um tempo para mim. Um tempo para me recompor e voltar a tentar sentir todas aquelas coisas boas que sentia no começo do namoro, porque tenho certeza de que os sintomas desapareceram. Não sinto nem mesmo vontade de pular em seu pescoço quando o vejo. E isso sempre me acontecia quando o distinguia pelos corredores da escola, há uns dois anos.


Sério, o que está acontecendo? Por que não consigo mais sentir meu coração acelerado ou minhas mãos nervosas em meu cabelo quando penso nele? Antigamente era assim. Eu me sentia arduamente apaixonada. Agora parece que não consigo nem mesmo sorrir quando me lembro dele. Não quero que isso acabe. Não quero que meu amor acabe. É tão triste viver sem amor. Viver sem amor alguém. É uma vida solitária, e não quero isso para mim. Não quero ser uma pessoa amargurada. Ninguém sobrevive sem amor.


Tudo bem, provavelmente o Voldemort sobrevive e todos os vilões do mundo. Mas eu não sou uma vilã. Sou somente uma garota tentando não se suicidar antes dos 21 anos.


13/FEVEREIRO – 21: 41h – QUARTA-FEIRA – MEU QUARTO
Agora que a D. Julia foi lá contar para a minha mãe que eu e o James não somos mais amigos, ela também quer saber o motivo. Só que, sabe, não sei se posso acusar totalmente a Taylor, agora que estou pensando. Porque tem a coisa toda da aposta. E as nossas conversas no MSN. Mas não tem o livro. Totalmente não. Acho que nunca escrevi nada sobre ninguém lá. Só escrevia sobre o meu estado emocional, não sobre pessoas. Quem fazia isso era a Taylor. Só quem falava mal das pessoas era ela.


ESPERA. AI MEU DEUS.


Então… foi ela. Ela mentiu para o James. Disse que eu tinha escrito. Será que ela mostrou a ele o livro? Porque, se sim, deve ter visto que não tem nada lá sobre ele com a minha letra. E talvez assim eu possa vir a ter uma chance de me desculpar e de ele me perdoar de verdade.


Certo. Não. Tem a coisa da aposta. E ainda que as nossas conversas online sobre o James não passem de palavras soltas - como “ele é tão perdido!” ou “eu tenho pena dele!” (de minha parte, porque a Taylor jogava muito pesado. Quero dizer, joga) -, são provas. Posso não ter falado mal dele, mas ainda assim falei dele.


Mas que coisa mais idiota, fico pensando. Porque quem é que se importa com o que eu pensava antes? Tenho bastante certeza de que a Lidsay Lohan não odeia a sua mais nova fã, que outrora dizia que a Lindsay era uma vadia e péssima atriz. Ela totalmente entende que as pessoas mudam e que seus pensamentos mudam igualmente.


Que engraçado pensar que a Lidsay Lohan, a celebridade que a minha avó mais odeia e que está sendo condenada a passar um tempinho na cadeia, compreende uma coisa simples e humana, e o James, não. Tipo, O JAMES. O segundo cara mais nerd que já conheci – porque o primeiro lugar sempre será do Remus, isso é um fato. Dizem que nerds são sensíveis aos sentimentos dos outros, mas acho que o James foge um pouco à estatística.


Certo. Vou assistir aos novos episódios da nova temporada de House que perdi na TV, no meu laptop. Eu gosto da Treze. E acho que, por mais que a Amber fosse totalmente chata e competitiva, não deveria ter morrido.


E NÃO vou retornar as ligações de Jason. O problema é dele se quer falar comigo. Se a coisa fosse tão urgente assim, já teria aparecido aqui, não é? Pelo menos, é o tipo de coisa que eu faria.


14/FEVEREIRO – 02:13h – QUINTA-FEIRA – MEU QUARTO
O meu grande divertimento é ter um pote de cereal colorido no colo enquanto assisto às minhas séries preferidas.


Acho que sou doente.


Estou sentada aqui na minha cama há QUATRO HORAS, sem interrupções. Só quando desci para recarregar meu pote de cereal.


Só Deus sabe se amanhã – ou hoje, considerando a hora – irei levantar em bom estado para conseguir passar seis horas na escola. Tudo indica que NÃO. Que provavelmente eu não vá nem mesmo escutar o meu despertador.


Então, boa noite.


14/FEVEREIRO – 08:43h – QUINTA-FEIRA – ANTES DO SINAL BATER
Sabe, quando levantei, com uma dor aguda na cabeça, por causa das poucas e más horas de sono, achei que podia fingir que não estou tão acabada. Emocionalmente falando. Só que é incrível o quanto sempre erro nessas coisas. Sempre acho que o dia vai ser ótimo e acaba sendo o pior de todos.


Vi que tudo estava completamente desorganizado quando a Alex e o Sirius chegaram derrapando ao meu lado, assim que dei o primeiro passo em direção ao meu armário. Desejava um analgésico, mas depois da notícia que eles me trouxeram, a dor de cabeça ficou insignificante ao meu ódio. Pela Taylor, é claro. Quem mais eu poderia odiar?


A Alex chegou bem assim:


- Ah, Lily, ainda bem que você chegou! – ela olhou para o Sirius rapidamente e me indagou: - Você já falou com o Jason?


Minha vontade era de golpear minha cabeça contra o armário de metal lá longe, mas ao invés de tentar a minha morte na frente de tanta gente, somente disse:


- Não, desde segunda que não falo com ele – eu estava me referindo ao incidente da Feira da Criança, só que como não contei essa parte a ninguém, a Alex ficou sem entender – Por quê? – questionei.


- É que, bom, a sua amiguinha fofa e loura aprontou de novo – a voz do Sirius estava muito irônica e risonha. Ainda que carregasse certa urgência.


- A Taylor não é minha amiguinha... ela acabou com a minha vida – lembrei-lhe. Mas só para lembrar mesmo, porque todo mundo sabe que eu e ela nunca mais seremos amigas.


- Certo, certo – pausa – Então... lembra que você o e James foram para Stratford ver o Oasis? – ele me perguntou.


- Hum, Beadlow, na verdade – corrigi.


- É, que seja. A Taylor contou ao seu namorado. Acho que você não contou a ele sobre isso, não é? Porque ele ficou tão possesso que pensei que fosse até bater na Taylor – ele acabou falando, acho que com extremo cuidado, ainda que muito rápido.


- COMO É QUE É? – não me culpe se gritei, é que entrei em pânico.


Eu não contei ao Jason que fui para Beadlow com o James para ir ver o show do Oasis. Tudo o que ele sabe é que fui para lá com a minha avó. Ai, caramba. Ele vai me matar.


- É verdade, Lily. Nós ouvimos. Quero dizer, toda a escola o ouviu berrando com a Taylor, exigindo saber o que foi que você e o meu irmão de fato, hum, fizeram lá. Foi um pouco traumatizante, se quer saber – a Alex confirmou, balançando a cabeça alucinadamente.


- Ah, não, agora essa menina passou dos limites! – eu falei entre dentes, fazendo menção de sair do lugar e ir procurar a Taylor, mas Sirius me deteve, segurando-me pelo antebraço com extrema facilidade.


- Lily, se você quer a sua morte, vá lá então – ele me disse. Olhei para Alex.


- Jason vai achar você e é melhor se preparar para isso, e não para travar uma luta sem armas com a Taylor – a Alex parecia muito mais séria do que o normal, agora preocupada.


- Ok, mas posso bater nela depois? – perguntei com um ar de inocente.


- É uma bela idéia. Eu seguro e você puxa os cabelos! – Sirius me soltou e gargalhou, levando uma advertência silenciosa por Alex.


- Combinado – sorri, ainda possessa. Ah, mas Taylor vai me pagar!


Olhei-os mais uma vez, agradecendo pela ajuda. Em seguida, estava correndo feito uma gazela retardada pelos corredores, a fim de encontrar o Jason.


Achei-o, claro, na quadra. Não que estivesse treinando. Acho que o treino nem tinha começado, mas ele e o time estavam ali, desenhando uma elipse mal feita perto de uma das cestas. É muito doentio pensar que pessoas consigam jogar basquete antes das nove da manhã. É o tipo de coisa que não sou capaz de fazer. Em todo caso, nem sei se estavam conversando. Sei que entrei arfando que nem um cachorro Bulgode e correndo mais rápido do que você conseguiria dizer Tergiversar. Parei ao lado da concentração de caras musculosos e altos e bati no ombro de Jason.


Ele me olhou com extrema diferença e depois me jogou um olhar de ódio.


- Jason – chamei, mas ele já se cansara de fingir que estava me vendo e se virara para o time – Jason? – mais uma vez. Nada. Ah, ótimo! – Jason, quer me olhar, por favor? Ou prefere que tenhamos essa conversa na frente do seu time? – uh, golpe baixo, eu sei, mas esse tipo de coisa funciona com ele.


- O que é, Lily? – ele me perguntou com uma voz ultrajada, mas não se fixou em mim.


- Precisamos conversar. Dá para deixar seu time só por alguns minutos? Só agora?


Ele bufou. Ainda bem que sou menina, sabe.


- Vão para o vestiário, caras. Preciso resolver isso. Não se esqueçam do exercício de respiração – Jason disse a sua tropa de vermelho e logo ela sumiu das nossas vistas.


- Jason. Eu espero que você seja maduro o suficiente para me ouvir, pelo menos por um minuto – falei.


- Você falando em maturidade? Não foi você que mentiu para mim, dizendo que tinha ido para sei lá onde com a sua avó, quando, na verdade, quem a estava acompanhando era aquele amiguinho seu da aula de violão? – ele estava muito, muito, diferente. Mais diferente ainda do que se apresentou na Feira da Criança. Dava para ouvir seu cérebro borbulhando de raiva, praticamente. Corei. Que porcaria. Eu sou a ruiva das mentirosas-mór do mundo.


- Tudo bem, eu fiz isso mesmo, mas só porque eu sabia que...


- Caramba, você ainda acha que tem uma explicação plausível para justificar o que fez! – ele se chocou.


- Não quero que seja plausível, quero que você a entenda. Se for acreditar ou não, não é problema meu.


Ele fez uma cara descrente.


- Você o odeia! Simplesmente odeia, e eu nem sei o por quê! Como iria lhe dizer que estava indo viajar com o James se eu sabia que você daria um ataque? – acho que minha voz surgiu aguda demais. E acho que eu estava gritando descontrolada.


- Ah, eu daria ataque, é? – o Jason pareceu não acreditar.


- Claro que daria! – afirmei com afinco - Você deu um ataque no sábado! E deu um ataque antes de ontem! Imagine naquela semana, que eu apenas conhecia o James há poucos dias!


- Você ainda o conhece muito pouco para querer qualquer tipo de relação com ele! – O Jason observou com desprezo.


- E eu conheço menos ainda você e estou ao seu lado há tanto tempo! – rebati. Ah, mas que verdade infeliz!


- O quê? – ele ecoou. Agora ele pareceu murchar. Ou algo assim.


- Encare os fatos! Podemos estar namorando, mas você não me conhece direito, e eu não o conheço o suficiente também! Somos praticamente completos estranhos fingindo que há sentimento entre nós.


- Você acha que estou fingindo o que sinto por você? – ele fez uma cara que só posso descrevê-la como decepção ou carinha de cachorrinho abandonado.


Meu cérebro brecou. Ah, não. O que eu tinha falado? Cocei a cabeça, adiando o momento da resposta, completamente embaraçada.


- Jason, eu ... eu estou tão cansada. Nosso namoro, as coisas que fazemos juntos, elas não fazem mais sentido. Eu já não sinto mais a felicidade de estar ao seu lado, já não consigo sorrir sem motivos por você, o seu toque em minha pele não me faz arrepiar mais, não me sinto mais trôpega quando o beijo – listei como se estivesse lendo tudo aquilo. Tudo saiu como uma bala de canhão, rápido e automático. Respirei fundo e vi seu rosto muito vermelho, mas com certeza não era de raiva. Seus lábios, que um dia já considerei perfeitos, tremiam levemente. Ele se levantou, passou a mão pelos cabelos, andou de um lado para outro em passos largos e breves e então falou com um fio de voz:


- Por quê? Por que isso tudo, Lily? Por que só agora? O que eu fiz? Ah, não me diga que tem a ver com aquele cara. Lily, faz quase uma semana que bati nele e, pelo o que estou sabendo, vocês não são mais amigos – pausa - Se é que vocês eram somente amigos, realmente – ele acrescentou com desdém.


Fiquei vermelha. De raiva, claro. Eu acho, pelo menos. Lancei-lhe um olhar agudo e feroz. Será que ninguém acredita em mim?


- Não, Jason, não é pelo fato da briga no sábado! – levantei o mais alto que pude a minha face, para olhá-lo do modo correto, porque ele é tão alto que me faz sentir uma gnominha - Jason, eu não sei dizer por quê. Eu não sei afirmar o que aconteceu, mas aconteceu! Tudo ficou tão repetitivo, tão previsível! Nosso namoro virou uma rotina e você nem se tocou nisso. É como se fôssemos namorados automáticos.


- Você não... me ama mais? – ele me perguntou, pausadamente. Nossa, ele parecia a Bella Swan em Lua Nova.


Como eu diria a ele? Não posso jogar em sua cara que o que vivemos é uma mera ilusão do que achamos que sentimos. Bem, pelo menos é uma ilusão para mim. Eu apenas tentei me adaptar a ele, mas Jason nunca quis ou tentou fazer o mesmo em relação a minha vida. Ele apenas acha que tudo bem ficar assistindo basquete ao invés de me beijar ou de me dizer que me ama. A vida assim é tão... frustrante. Nunca me senti completa com esse complexo dele de subestimar o que eu quero. No final, tinha que dar errado mesmo. Como está dando agora.


Ah, meu Deus. Não acredito que esse seja o fim. Nós vamos nos separar. Talvez nunca sejamos nem mesmo amigos depois disso. Seremos ex-namorados magoados e frustrados. Ai, que trágico final de namoro. Não era bem assim que eu queria que tudo terminasse. Não que pensei que tudo fosse terminar, primeiramente.


Puxei todo o ar que consegui para meus pulmões. Eu tinha de dizer. Não adiantava eu continuar a mentir.


- Não, Jason, não o amo mais. Sinto muito. Eu não consigo mais continuar com isso – minha voz estava um pouco baixa, acho que pelo fato de o meu cérebro estar tentando achar alguma contradição naquilo tudo para me fazer parar. Mas meu cérebro se cansou e desistiu. Não há contradição alguma. Essa é a verdade e não posso mais fazer nada para modificá-la. Agora é tarde demais para qualquer ação.


Ele ficou parado me olhando. Olhando muito. Parecia que eu era alguém que ele tinha muito medo ou sei lá.


Agora notei que seus olhos castanhos estavam marejados. Ele estava... magoado, muito magoado. E fui eu que o machuquei. Ele estava chorando por minha causa. O Jason. O Capitão do time de basquete.


Cheguei mais perto de seu enorme corpo.


- Jason... – falei, sem tem idéia do que dizer.


Ele tentou deixar escapar qualquer palavra, mas sua boca se abria e se fechava. Levou as mãos ao rosto e respirou fundo.


- Jason, eu sinto muito. Eu não sei se vou me perdoar por isso, nem se você vai me perdoar por isso... mas não quero continuar alimentando uma mentira. Isso tem que acabar. Agora – toquei seus ombros largos, aqueles ombros que arrancam tantos suspiros pela escola, e me aproximei de seu rosto, ficando na ponta de meus pés para alcançá-lo.


- Você está apaixonada por ele, não é? – ele me perguntou triste, retirando os dedos da face.


Não sei o que me fez corar. Não havia motivos, mas meu rosto se tingiu de um vermelho-vivo.


- Não, Jason, claro que não. Não somos nem mais amigos, imagine se estou apaixonada pelo James – neguei, mas algo em meu estômago me fez querer dizer outras palavras. Palavras muito diferentes destas.


- Acho que você só não está querendo sentir, mas lá no fundo, seu coração sabe o que sente verdadeiramente por ele – Jason me disse.


Fiquei com cara de boba olhando-o.


Como é que ele pode saber o que eu sinto se não sabe nem mesmo qual é a minha cobertura de sorvete preferida?


- Tá certo. Uma hora eu descobrirei, então – sorri fraco. Não queria que fosse um sorriso, mas queria transparecer normalidade, como se não estivéssemos terminando.


Ele pegou minhas mãos com uma delicadeza enorme e suspirou.


- Posso ganhar o último beijo, pelo menos? – ele perguntou com aquela cara de choro de dar pena.


O que eu iria falar? “Não, vá embora!”? Não era muito justo.


- Claro – concordei.


Nossos lábios se tocaram pela última vez e nenhuma célula de meu corpo pareceu agitada ou afobada. Somente com aquele simples beijo de despedida, tudo pareceu desmoronar de uma vez por todas.


Agora, não há como eu retroceder ou avançar. Empaquei e nem mesmo sei por onde devo começar a consertar as coisas.


Cadê o chão que me segurava, Jesus?


In your life you'll do things greater


Than dating the boy on the football team


(Tudo bem, o Jason nem faz parte do time de futebol, mas é só trocar “futebol” por “basquete”. Ainda porque todos os garotos esportistas pensam e agem da mesma forma. É sério)


Maldita verdade cantada por alguém que nem sabe quem sou ou o que tenho de fazer para me redimir de todo o mal que estou causando a todos que amo.


Agora, me dá licença, que preciso procurar a Taylor e bater nela. Acabar com ela. Oremos para que eu não me saia tão mal dessa. Como com um braço quebrado ou uma fenda na cabeça. Espero que eu não morra. 


14/FEVEREIRO – 09:05h – QUINTA-FEIRA – SALA DA DIRETORA
Eu não deveria estar escrevendo. Deveria estar prestando atenção no rosto sério da Sra. Rings, que está terminantemente desapontada com nós duas.


Eu fui mesmo para cima da Taylor com a intenção de deixá-la a mais destruída possível. Não sei se funcionou com o rostinho dela, mas que funcionou com a saia rosa de veludo, totalmente funcionou. A saia agora está sem a parte rendadinha, num rosinha mais claro. Agora a saia passou a ser uma mini-saia.


Sabe, eu já estive aqui dentro um montão de vezes. Aqui, na sala da diretora. Sempre vinha aqui com a própria Taylor, para ela poder reclamar a favor de sua pessoa, fingindo estar reivindicando alguma coisa que tivesse a ver com o Conselho. Sua intenção era tentar conquistar uma salinha decorada só para ela – sabe-se lá para quê. Provavelmente para ficar se agarrando com qualquer um na maior privacidade – ou uniformes escoceses, com aquelas saiazinhas para as meninas e suspensórios para os meninos.


Só que, desta vez, não estou aqui por conta de um assunto entediante. Estou aqui, porque, a meu ver, me meti em um problemão. Brigas físicas não são muito aceitadas pelos conceitos da Sra. Rings. Tudo bem que eu mesma não ache muito elegante duas meninas quase equilibradas – faz de conta - saírem pelo corredor no tapa e nos chutes e mais puxões de cabelo. Mas, me deixa contar uma coisinha a você: a Taylor merecia eu ter acabado com TODA a sua roupa. Com a blusinha fofa de alcinhas, com as meias de seda e com o seu casaquinho azul celeste.


Não foi muito difícil encontrá-la. Taylor sempre está na entrada do primeiro andar conversando e olhando para os meninos, mesmo tendo o Zac, que, sério, deve ser o menino mais traído do colégio. E ele é legal, não merecia ter uma namorada tão cachorra. Quando a avistei, bem ao lado de seu armário cheio de fru-frus, conversando sobre a festa de foi ontem à noite - que provavelmente não teve uma autorização legítima para sair de casa, considerando como estão as coisas para ela, ultimamente – com a Jamie e as outras populares, não sei o que deu em mim. Comecei a suar e sentir toda a adrenalina de meu corpo implorando por um massacre. Então, passei ao lado dela e a olhei com olhos frios. Então, consegui o que precisava: motivos para atacá-la.


- Oi, Lily! – ela acenou para mim, cínica e com a melhor cara de menina inocente – Como vai o seu novo mundinho? Não está mais tão legal, depois de ontem, não é? – seus risinhos se misturaram com os de Jamie, Sam e Kelly.


Não foi bem aí que me descontrolei e a agarrei como se estivesse tentando derrubar um boi. Pude sentir vagarosamente meu sangue subir, mas não era de vergonha, longe disso. Era raiva embolada em mágoa. Não conseguia acreditar que aquela menina, antigamente tão doce e necessária para minha vida, agora é o meu inferno, a pessoa que me faz querer fugir para a ilha de Lost. Ou então, a pessoa que me faz querer mostrar um lado não muito conhecido meu: o violento. Quero dizer, nunca fui uma garota violenta, sabe. Nunca apreciei as briguinhas dos meninos quando éramos crianças nem acho que as coisas, sejam elas quais forem, se resolvam fisicamente. Mas... eu precisava sentir a Taylor sofrer. Mesmo que fosse fisicamente, porque talvez essa seja a única parcela que a atingirei.


Eu não retruquei nada, uma vez que necessitava de mais. De um bom motivo. De uma frase que fizesse meu cérebro perder a razão de vez.


- Perder tudo é um saco, não é? Agora você irá ver que é uma fracassada real e que ninguém se importa com você. Nem mesmo aquele seu amorzinho disfarçado de amiguinho – ela continuou, mas não por muito tempo. Acho que Taylor até mesmo estava pensando em complementar com mais frases, porém não conseguiu.


Não conseguiu porque a próxima coisa que fez não foi falar. Foi tentar se defender das minhas mãos em seus cabelos imaculados. Sempre tive muita inveja do cabelo louro da Taylor, não nego. Só que, naquela hora, tudo o que queria era arrancá-lo de sua cabeça para sempre, para que nunca mais os tivesse de volta. Não me lembro quando foi que a taquei no chão frio de mármore da escola e fiquei berrando:


- Cala essa boca, sua idiota.


E ainda:


- Você vai contar a verdade a todo mundo e vai pedir desculpas ao James e ao Jason por ser uma cretina.


Só que, dã, essa última parte foi totalmente inútil. Porque acho que ela nem me ouviu, já que estava dando aqueles seus gritinhos de líder de torcida, obviamente para tentar chamar a atenção da escola, para alguém tentar salvá-la. Fiquei feliz por constatar que ninguém deu um só passo em nossa direção com a intenção de ajudar a Taylor. Nem mesmo suas atuais escudeiras. Todo mundo só ficou lá, olhando para nós, rindo e apontando. Até que o Sirius, espantado e meio que contra a sua real vontade, apareceu, sabe-se lá da onde, e me desgrudou daquela nojenta, com muito esforço, porque eu não estava muito a fim de sair de cima da Taylor.


Algumas meninas, também populares, em um minuto, trouxeram a diretora. A Sra. Rings estava com cara de quem estava presenciando uma luta selvagem entre, sei lá, um tigre e um leão. Estava mesmo com a pior das caras do mundo. 


Foi só quando me afastei o suficiente da Taylor que vi o estrago que tinha feito em sua saia rosa. Sam, Kelly e Jamie agora aparavam a amiga e me olhavam com fúria e medo.


- Que confusão toda é essa? As senhoritas podem me explicar? – a Sra. Rings nos perguntou com as narinas tremelicando.


Daí, claro, a Taylor se manifestou, fazendo todo aquele jeito de vítima. Ela estava até mesmo CHORANDO. Estava sim. Seus olhos estavam transbordando e fazia beicinho. Para falar a verdade estava com a mesma cara da irmãzinha, Kitty, quando chora e dá aquele escândalo quando se machuca ou quando a Taylor a expulsa de seu quarto.


- Ela rasgou a minha saia! – a Taylor apontou as unhas vermelhas para mim, dramaticamente.


Todo mundo olhou para a sua saia, toda esfiapada no final, onde deveria ainda estar a renda.


- Essa menina é um monstro! Me atacou sem motivos! Ela precisa de terapia! Ou melhor, de uma expulsão! – a Taylor ainda disse, depois que todo mundo fingiu choque, exceto a Sra. Rings, que estava realmente perplexa,  e deu uma olhadinha em sua saia.


- Cala essa boca, Taylor! Você acabou com a minha vida! Você merece expulsão do planeta, se é assim! – contra-ataquei.


Blábláblá. Nós duas ficamos tentando explicar toda a situação para a diretora, mas falávamos tão rápido e tão juntas, que ninguém entendeu nada. Então, fomos convocadas a virmos para cá, na sala da direção. E cá ainda estamos.


A Taylor fica me dando olhares furtivos carregados de raiva, enquanto eu só fico escrevendo e ignorando as duas. A Taylor e a Sra. Rings.


A diretora ficou tipo:


- Srta. Mcgrow! Francamente! Você já está encrencada até o último dia de aulas! Preciso lembrar a você que foi expulsa do time das líderes de torcida e do Conselho Estudantil? O que quer que eu suprima de você dessa vez? A sua matrícula?


Daí a Taylor ficou toda:


- Pode tirar o que quiser de mim, até parece que preciso de notas boas ou de uma porcaria de cargo no Conselho Estudantil para entrar em alguma universidade.


Só que, sinto muito, Taylor, em lhe informar que, sim, você precisa de notas boas para entrar na universidade. Se a Emma Watson precisou, significa que você, mesmo com toda essa sua beleza de miss e com toda essa sua falsidade de boneca Barbie, também precisa. Se a Mia Thermopolis precisou, todo mundo precisa, ainda que ela não seja real. Mas não estou nem aí, esse é o meu diário, portanto posso citar quem eu quiser.


- Ah, Taylor, seus pais dão o maior duro para você ter tudo o que quer, então faça o mínimo para retribuir, que é não atirar pela janela o seu futuro. Com as notas péssimas que está nos apresentando, sua média final será tão pequena que nem por pena irão lhe aceitar nas universidades do mais baixo escalão – a Sra. Rings lhe falou com serenidade.


Até parece que a Taylor se importou. Ela ouviu e descartou, fazendo aquela cara de tédio, enquanto não se cansava de largar seus olhares em cima de mim.


A diretora falou e mais falou. Disse que não pode ajudar a Taylor se ela mesma não quer se ajudar, disse que beleza não é sinal de mérito nenhum sem alguma base positiva e disse também que ela deve parar de achar que é o centro das atenções da escola. E, sabe, quase quis dar um beijo nela, por isso. Na Sra. Rings, sabe como é. A Taylor ficou toda indignada e tentou negar, falando que todo mundo a adora porque é uma pessoa muito querida e tudo mais. Foi bem nessa hora que a Sra. Rings a mandou se calar e se focou em mim.


Agora ela está tirando os óculos de pedrinhas de cima do nariz. O Sirius me disse que sempre que está preocupada com o comportamento de algum aluno ela faz isso. O Sirius é um visitante praticamente diário deste lugar. O olhar dela não está tão severo. Está mais decepcionado e preocupado.


- Lily, o que há que errado com você? – ela me perguntou, juntando as mãos.


- Tudo – murmurou a Taylor, maldosamente.


- Taylor, espere por mim lá no corredor, certo? Ainda tenho de ligar para seus pais e prefiro que você não esteja presente – a diretora lhe disse com educação.


A Taylor agora entrou em pânico:


- O quê? Você vai ligar para os meus pais? Por quê? Só por causa dessa briguinha? Mas não precisa! Eu não vou brigar de novo! – pausa – Eu peço até desculpas para essa daí! – eu e a Sra. Rings olhamos para ela com cara de quem não estava dando muitos créditos às suas palavras. Então, percebendo isso, afirmou: - Peço mesmo!


- Certo, vejo isso depois. Agora, por favor, nos dê licença – a diretora pediu mais uma vez.


A Taylor levantou da cadeira antiga, estofada com veludo negro, bufando. Antes de fechar a porta, apertou os olhos de cristais para mim e juntou com muita força os lábios. Só ergui as sobrancelhas, fingindo que não tinha detectado nada.


- Eu não costumo me envolver com os problemas pessoais de meus alunos, porque essa é uma ética que tento seguir. Sei que os alunos apreciam a privacidade e não querem que uma velha “ditadora” fique lhes perguntando o que fazem fora destes muros – ela fez uma longa pausa – Entretanto, você é o tipo de menina que nunca se mete em confusões e fico me perguntando por que está em uma agora. Junto com a Taylor.


Apesar de tudo, a Sra. Rings é uma mulher bastante legal. Por trás destes cabelos um pouco grisalhos e azulados, por trás destes óculos pesados de tartaruga e por trás destes terninhos de tribunal dela, posso sentir um coração realmente humano pulsando dentro de seu peito. Ela não é como a Bruxa-Má transfigurada em diretora. E dá para perceber que ela quer o bem-estar dos alunos.


- Porque a Taylor não é mais minha amiga – falei. É o máximo que posso comunicar a qualquer um.


A verdade é algo que não consigo lidar, portanto, até parece que a Sra. Rings sabe o que me aconselhar. Até parece que alguém sabe o que me aconselhar.


- Hum. Tem certeza? Tem certeza de que não tem mais nada a me contar?


- Tenho – ainda bem que não corei. Foi praticamente um milagre, considerando que sempre fico vermelha por qualquer coisa – Olha, é que o mundo ficou um pouco difícil, sabe. É muito esquisito estar sozinha.


- Certo. Você tem razão. E é por isso que pedimos ajuda – ela sorriu calorosa.


- Não preciso de ajuda – neguei, fazendo meus cabelos chicotearem meu rosto.


Ela suspirou, acho que desistindo.


- Ok, então, vou liberar você – ela me comunicou, parecendo desapontada.


Só que a única pessoa aqui que tem o direito de se sentir desapontada sou eu.


Motivos:


1. Minha melhor amiga se tornou minha melhor inimiga


2. Minha antiga vida morreu exatamente como uma samambaia seca no deserto


3. Meu melhor amigo me odeia


4. Meu melhor amigo me chamou de mentirosa


5. Não tenho mais namorado


6. Minha avó acha que meu melhor amigo que me odeia e que me chamou de mentirosa está apaixonado por mim, e eu por ele, mesmo isso não fazendo sentido algum


7. Minha avó não sai da minha casa


8. Ainda não descobri qual é o meu verdadeiro talento


9. Não sei o que fazer para solucionar todos os problemas acima


E então, Sra. Rings? O que acha de tudo isso? Acha que consegue me ajudar em somente um tópico?


Bem, é hora de sair daqui. A diretora quer telefonar para os pais da Taylor.


A Taylor vai se ferrar mais um pouquinho.


Por que não estou feliz por isso?


Hum, estranho.


14/FEVEREIRO – 09:11h – QUINTA-FEIRA – AULA DE LITERATURA
Topei com o James quando saí da sala da diretora. Meu coração deu um salto quilométrico. Senti-o em minha garganta. E, de repente, ficou muito difícil respirar. Parecia que o ar não queria entrar por entre meu nariz. Sem contar o meu estômago abruptamente revolto, minha face cor de rosa e minhas mãos frias. Ainda mais frias, quero dizer. Toda essa junção de sintomas me fez crer que estava ficando louca, que eram projeções de meu cérebro. Bem, nunca senti tantas coisas ao mesmo tempo só porque encontrei com uma pessoa – que, tudo bem, não era a minha primeira opção de encontro aleatório, mas mesmo assim.


Foi muito ridículo. Achei que fosse assim que as pessoas se sentem quando se deparam com o ex-melhor amigo. Só que daí pensei numa coisa. Lembrei-me de uma coisa. A Taylor. Não me sinto toda retardada deste jeito quando a vejo. Quando a vejo quero pular em cima dela e arrancar todos os cílios de seus olhos minuciosamente maquiados, todas as manhãs.


Bom, deve ser uma coisa diferente. Eu e a Taylor nunca tivemos a mesma sintonia que tive com o James. Acho que nossa sintonia nem nunca chegou perto da que eu mantinha com o James. Não sei. Sinto que é muito diferente. É uma energia que... Quero dizer, era uma energia que me deixava instantaneamente feliz e de bem com a vida. Eu mal me recordava de meus problemas. Com o James, eu queria que nossas horas juntos se estendessem e que nunca tivessem fim. Eu me sentia livre para fazer ou falar o que quisesse. Sentia que podia ser eu mesma, sem retaliações ou omissões. Era bom. Sinto falta disso. Sinto falta das risadas fora de hora, das nossas conversas bestas e sem propósito, das vezes que parávamos de ensaiar para ligar a TV e caçar algum filme legal, do jeito como ele sabe imitar o Kurt Cobain, do jeito como ele sabe ironizar o Justin Bieber... Ok, na verdade, sinto falta de cada segundo que passei com ele.


Que engraçado. Como é que não consigo escrever esses mesmos tipos de coisas em relação a Taylor? Por que não estou fazendo uma listinha com todos os meus momentos favoritos com ela, que foram perdidos? Talvez porque... bom, porque não existe mais sentimento entre nós. Não sentimento bom. Só sentimento ruim, agora. Raiva, por minha parte, e desprezo, por parte dela. E todo mundo sabe que raiva e desprezo não fazem ressurgir uma amizade. Então, acho que é o fim. A Taylor oficialmente não é mais minha amiga. Nunca mais o será.


Bem, colocando tudo isso à prova, tenho que escrever que não consigo me desfazer do James. Não consigo aceitar que não seremos mais amigos. Não é nada fácil. Não está sendo nada fácil afastá-lo de minha mente.


Sabe, achei que ele iria comentar alguma coisa sobre a minha briga física com a Taylor, porque ele estava lá no corredor, como todo mundo. Mas achou melhor me tratar como me tratava antes da nossa amizade: com ignorância. Preferiu fingir que nunca foi lá em casa e que nunca me levou a uma feira de rua. Fiquei chateada. Não queria ter gritado com ele ontem, depois das aulas. Droga, porque sempre faço as coisas erradas?


Pedi ajuda a cada neurônio meu, com a intenção de encontrar algum assunto para puxar ou alguma frase que o fizesse parar e se focar em mim, mas nada saiu. Então, nós nos emparelhamos, olhamos um para o outro – eu, mais vermelha do que nunca, creio; ele, totalmente impassível – e seguimos em frente. Até mais ou menos quando eu me virei para ele e lhe questionei:


- Você vai à aula de violão hoje?


Sei que foi uma pergunta bastante precária e estúpida, se formos parar para analisar, mas meu cérebro estava correndo para encontrar QUALQUER desculpa para falar com ele.


Ok. James não ficou surpreso. Ficou grandiosamente perplexo. Ele parou no meio do corredor e me olhou como se não acreditasse no que tivesse acabado de ouvir ou como se não acreditasse no que eu tinha acabado de fazer.


- Acho que sim; quem sabe – sua voz estava profunda e doce como sempre. Não detectei frieza ou desprezo. Ela estava como me lembro e como gosto. Estava com a voz do meu melhor amigo, do garoto mais fofo de todos, que conheci e me apaixonei – amizadicamente falando, claro.


Só que daí não consegui dizer mais nada. Também, para que prolongar aquilo? Meu nervosismo estava me matando.


- Ok – concordei e continuei andando em direção ao meu armário, para pegar meu material para esta aula. Aula que cheguei atrasada, mas tinha um passe lá da sala da diretora, de modo que tudo ficou bem e eu pude entrar e agora estou aqui escrevendo, como sempre.


O James não me disse nada de volta. Somente também prosseguiu em silêncio.


Ai, meu Deus, POR QUE não nasci superinteligente? Ou filha de alguém famoso, porque daí, agora eu estaria morando em Beverly Hills, em minha casa mega moderna e gigante, e não estaria tendo de enfrentar um final de ano tão estressante. E tenho bastante certeza de que poderia processar a Taylor por difamação, caso fosse famosa. Eu, sendo a Lily Evans de Bedford, mal tenho dinheiro para comprar um violão novo! Ai, que triste isso.


14/FEVEREIRO – 10:31h – QUINTA-FEIRA – TROCA ENTRE PERÍODOS
Caramba. Pensei que as aulas de literatura não fossem acabar tão cedo.


Estou pensando em passar o resto da manhã ali na Galeria Mundi, ouvindo CDS na Absolute. Ou então comendo bolinhos na praça de alimentação.


Essa minha manhã está quase tão entediante quanto à de ontem. Apesar da saia rasgada da Taylor que adorei atacar.


14/FEVEREIRO – 12:39h –QUINTA-FEIRA - ALMOÇO
É muito legal quando você passa e todo mundo a olha. Ou a segue com os olhos. É isso o que todos fazem quando estou andando pelos corredores. É como se eu estivesse andando com uma plaquinha no pescoço com os dizeres: “Eu sou uma vadia, olhem para mim”. Agora sei como a Samantha Madison deve ter se sentindo depois de dizer sim ao sexo e de ter de ir para a aula no dia seguinte. Só que não sei se deixo meu rosto se colorir de vermelho-vivo ou se acabo com todo mundo ou se finjo que não percebo nada. Acho que daqui a pouco vou ter um AVC induzido aqui. E para coroar meu dia – mas isso eu já deveria saber, claro -, o James totalmente finge que nunca me conheceu. Ele nem está aqui no refeitório conosco. Alex disse que o irmão lhe falou que não estava com fome e que passaria o almoço na biblioteca. Que tipo de pessoa normal rejeita um almoço para ficar ao meio de livros? Certo. O James é nerd, nerds gostam de livros, mas não rejeitam comida, não é mesmo? Exceto se ele seja um vampiro nerd ou algo assim, mas garanto que não é, porque eu já teria sabido, com todas as horas que passei com ele, inclusive a que fugimos para o terraço.


Acho que vou ir lá para a biblioteca. Não para incomodá-lo, mas para saber o que está fazendo.


Ok, eu sou uma idiota. Ele está fugindo de mim. Tudo bem, fugindo não deve ser a palavra adequada. Evitando, talvez sim. É isso aí. O James está me evitando, que maravilha. Foi o meu presentinho da semana. Bem, eu não iria me importar se ele comesse conosco – como uma pessoa normal; e ele é uma pessoa normal, apesar da nerdice – e me ignorasse. Estou acostumada com as pessoas que me ignoram, que não olham para mim, ou que fingem que não existo.


E parece que além de tudo o que já estou passando – o rompimento com o meu namorado, o rompimento com o meu melhor amigo, o rompimento com a minha melhor amiga (que já se tornou minha melhor inimiga), a minha avó e seus hábitos televisivos e todas as outras pequenas coisas desagradáveis – mais um problema fica batendo na minha porta. Não é a iminente eleição, uma vez que não tenho nada a ver com ela e nem quero ter. Não é a minha antiga aposta com a Taylor.


O que acontece é que ninguém parou com aquele boato idiota. Ninguém parou de comentar “A Lily e o James”. TODO MUNDO agora tem CERTEZA de que eu e o James estamos apaixonados secretamente. Mesmo que agora não sejamos mais amigos. Mesmo que agora todo muito saiba que o James não quer me ver nem mesmo se eu me transformar na Joan Jett.


Se antes todo mundo ficava nos olhando tipo “Não tente nos enganar, seus idiotas, nós sabemos da verdade!”, agora todo mundo nos olha irônicos, tipo “Ah, é agora a gente sabe que vocês não têm nada mesmo”. É o maior saco. Está sendo o maior saco. E, para compensar, a Zora e a Nichole parecem obcecadas por isso.  Ficam me tratando como se eu fosse a maior mentirosa amorosa do mundo. Como se eu estivesse escondendo delas o que sinto por James. Só que, dã, elas SABEM o que sinto por ele: amizade. Ainda que ele não queira mais isso de mim.


Fui lá na mesinha da Zora, após ter tentando comer a minha salada de broto de alface com alho torrado, onde esta e Nichole estavam distribuindo uns panfletos sobre a aula extra que Zora irá dar aos inscritos sobre política moderna, para ampliar a mente de todos, já que, segundo ela, apesar das aulas de política que tivemos ano passado no programa da escola, ninguém se interessa o suficiente por este assunto, portanto se entediam fácil e acabam não dando a devida atenção a o que acontece ao redor do mundo. Ninguém pára para assistir o noticiário para se informar sobre o acordo entre o Irã e o Brasil, ou sobre as negociações entre os palestinos e os israelenses. Tudo bem, a verdade é que a maioria não quer saber nem o que acontece dentro de seu próprio país.


Bem, o negócio é que eu fui lá. Não para averiguar se precisavam de ajuda ou se me inscrevia nessa aulinha da Zora. Só fui lá porque não suportava mais os olhares em cima de mim e o fato de que o James não quer mais a minha presença por perto. De tanto que não quer se refugiou para a biblioteca. Elas também já tinham almoçado, porém bem mais rápido do que eu.


- Ei, quer um? – a Nick tremelicou um panfleto quase em meu rosto, toda alegre.


- Não, obrigada – afastei o papel de perto de mim, de maneira entediada.


- Até o Sirius vai ir a essa minha aula – dava para perceber que Zora estava orgulhosa por ter achado que convencera o Sirius a algo.


Eu destruí seu orgulho:


- Duvido – minha voz saiu tão arrogante que fiquei até chocada comigo mesma.


As duas me olharam preocupadas, mas Zora logo voltou ao seu bom humor de sempre.


- Ainda de mau-humor? – ela me questionou.


Sorri para Kiara Multen, quando ela pegou o panfleto e em seguida assinou na ficha de comparecimento ao evento.


- Você ainda não sabe o quanto. Além de toda a chateação.


- Mas, cara, você bateu na Taylor! Estou muito orgulhosa de você. Você fez um progresso enorme! – Zora fez aquela cara de Hello Kitty.


- É. E até parece que isso me ajudou com o James – suspirei.


- Ei, você supera. Quero dizer, todo mundo supera perdas.


A Nichole fez uma cara muito chocada e de desaprovação.


- Zora! A Lily não quer superar a separação com o James! Ela quer reatar a amizade com ele! – a Nick disse meio alterada.


- Ai, tá. Só achei que, já que ela não quer sentir nada mais especial por ele, não se importaria em ter de superar a perda dele – a Zora deu de ombros.


Revirei os olhos.


- Não quero sentir, porque não existe nada para se sentir! – exclamei.


Sério, até quando serei obrigada a desmentir esse boato idiota? E que coisa é essa? Elas são minhas amigas, deveriam estar do meu lado, deveriam acreditar em mim, porque essa é a única verdade que sei: que o James não passa de um amigo para mim. E, bem, se essa verdade não fosse essa eu saberia, não é? Sentiria. Como todo mundo sente quando sabe que está apaixonado. Certo? Estou certa, não estou?


- Ahãm – ela ignorou meu comentário com muito descaso.


Às vezes odeio esse espírito competitivo e convencido da Zora.


- Por que você não vai atrás dele? – ela me perguntou como quem não quer nada. O que foi ridículo, porque suas perguntas sempre têm um propósito. O propósito de ser irritante, claro.


- Zora, você não me ouviu? Eu não quero nada com ele! – sei que não foi bem isso que falei antes, mas achei que era uma coisa que a Zora tinha que saber.


Eu não quero mesmo nada com o James. Nada além da amizade, porque gostava dela. Gosto dele. Não posso perdê-lo.


- Mas quer recuperar a amizade, não quer?


Nick ergueu as sobrancelhas, como se agora a Zora tivesse cem por cento de razão.


Só que era verdade. Ela tinha razão.


- Mas ele não me quer por lá. Lá na biblioteca – respondi.


Eu não queria ir pra lá, sabe. Nem podia fazer isso. Porém, parece que nunca consigo fazer o que quero. Isso porque cinco minutos após ter me despedido das meninas – dizendo que iria para qualquer lugar bem longe de todo mundo – lá estava a babaca-mór aqui correndo feito uma condenada até a biblioteca. Sinceramente, ainda não sei por que sou considerada uma geniazinha para algumas coisas. Tudo bem que sou capaz de dar uma aula sobre a Revolução Industrial ou sobre A Divina Comédia (de Dante Alighieri) ou sobre Don Juan (de Tirso de Molina). Mas fazer a coisa certa quando preciso? Não, nada disso. Por isso percebi que sou uma idiota. Quero dizer, eu já sabia disso, mas agora vejo que sou mesmo. DE VERDADE. A MAIOR DE TODAS.


Fui lá atrás dele. Como se ele me quisesse lá. E, sério, foi uma decepção só. O James não foi nem de longe o cara fofo que conheço. Não que tivesse sido o maior idiota (não maior do que eu, porque isso é humanamente impossível. Esse troféu já é meu desde que nasci, basicamente), mas não posso dizer que foi educado. Mas a ironia de sempre apareceu. Acho que estava até mesmo com uma certa saudade dela.


- Está lendo? – foi a primeira coisa que me veio à mente e que escapuliu de minha boca. Foi uma pergunta bem inútil, já que ele estava de fato lendo. Ou assim me pareceu.


Como é que ele consegue ler sem ter nada na barriga? Eu não consigo me concentrar em nada quando estou com fome, só pra constar.


- Não, estou fingindo que estou lendo – sua resposta me fez querer rir, ainda que tivesse sido dita com muita arrogância. Ou talvez fosse somente a sua ironia.


- E... por quê? – franzi a testa.


- Porque estou fugindo de uma garota.


- Ah. Essa garota não é ruiva, mentirosa e traidora, é? – eu quis saber, acho que querendo me divertir.


- Uau, você é ótima em adivinhação, hein – ele comentou. Sua voz não estava necessariamente desagradável. Somente dura e seca – Agora, sério, saia daqui – agora ele estava falando com muita seriedade. E estava sendo positivamente desagradável.


- Legal saber que é assim que você trata as suas ex-amigas.


- Nem sei se amiga é uma palavra que a descreva.


- Ah, James! Pare de ser tão idiota! – exclamei, realmente começando a me irritar. 


- Se você acha que me perseguindo conseguirá alguma coisa, então vai precisar de uma cadeira, e de preferência que se sente bem longe de mim – ele me disse.


- Certo, desisto, satisfeito? Até parece que me importo com isso.


- E eu menos ainda. Agora, me dê licença – ele acenou e foi embora.


Não sei se foi para o refeitório ou para alguma sala de aula vazia, porque não o segui. Achei que a nossa conversa foi tão ruim que tinha que apenas deixá-lo para lá. Se quisesse ir para longe de mim, o problema era dele. Eu é que não iria correr atrás.


E, quer saber, não vou mais fazer isso. Digo, correr atrás dele. Uma hora ele vai sentir a minha falta e decidir vir até mim. Até lá, vou fingir que tudo está bem. Mesmo que nada esteja nem mesmo quase bem.


Bem, quem se importa?

14/FEVEREIRO – 15:37h – QUINTA-FEIRA – DEPOIS DAS AULAS, AQUI DEBAIXO DA ÁRVORE
O Jason quis falar comigo depois das aulas. Não sei por que a Nichole ficou achando que podia responder por mim.


Ele veio todo:


- Oi, Lily. Podemos conversar?


Não acreditei quando ouvi sua voz. Um cara normal – e popular e capitão do time de basquete – não pediria uma segunda chance à namorada mentirosa, não é? Eu nem sou, tipo, a Britney. Porque se eu fosse ela, tudo bem. Quem é que não quer estar ao lado de uma famosa que mal tem tempo para ter um cachorro por causa das intermináveis turnês e entrevistas e dietas malucas? Se eu fosse homem, totalmente iria querer. Mas talvez não a Britney.


Enfim. Foi aí que a Nichole, que estava lendo Casimiro de Abreu, se manifestou. Foi para o meu lado e disse:


- Ela não pode.


Eu e ele olhamos para ela confusos e surpresos. Acho que ninguém pensava o quanto a Nichole é uma pessoa decidida. Todo mundo mais achava que ela é a morte em pessoa e que é mais quietinha do que uma mula empalhada. Mas ela não é. Com certeza não é.


- Humm. O quê? – eu perguntei quase aos sussurros a ela.


- Você deu o fora nele, se esqueceu? – Nick me devolveu com um olhar muito bravo.


- É, mas ainda posso querer conversar com ele – falei.


- Mas você não gosta mais dele.


- E daí?


- Você quer o James. Não pode ficar falando com o Jason mais.


Arregalei os olhos, sentindo meu coração acelerar, porque tinha sido pega de surpresa. Não, eu estava muito mais do que surpresa, estava congelada de choque. Tipo, o que foi aquilo? A Nichole agora acha que pode me proibir de falar com o meu ex-namorado só porque todo mundo acha que estou apaixonada pelo James? COMO ASSIM?


- Cala. A. Boca. Nichole – meus olhos estavam tentando soltar das órbitas oculares.


- Mas... mas… foi você mesma quem disse não quer deixar de ser amiga do James! – sua expressão e sua voz estavam que nem cachorrinho choramingando no frio. E, sabe, sinto muita pena de cachorrinhos choramingando no frio. Na verdade, tenho uma queda por cachorrinhos. O quê? Sou assim, oras.


Olhei para o Jason, que estava nos observando impaciente e muito atento.


- Olha, esqueça, ok? A sua… é… nova amiga... – o Jason começou a falar assim que olhei para ele.


- Nichole. Meu nome é Nichole. E é melhor você ir achar a sua turma, porque a Lily não quer mais você. Ela totalmente gosta de outro cara – a Nick lhe disse, com pose de eu tenho a razão, amor.


Vou contar uma coisa a você: acho que a Nichole é um perigo. Sério.


- Shiiiu. Nichole! Não fale do que não sabe! – exclamei a Nick, começando a sentir um enjôo forte de nervoso – Jason, eu não gosto do James. Essa gente acha que sabe das coisas, mas na verdade não são eu para saber o que se passa comigo! – olhei para ela mais uma vez com olhos de lince furioso - Elas não sabem de nada. É muita mentira essa história de que eu e o James estamos apaixonados!


- Ah, certo. Então é mentira também que você levou o James para Beadlow? – sua voz estava desacreditada.


- Bom, não – acho que corei, droga – Mas... mas...


Ok. Eu definitivamente não tinha o que declarar. Não sabia o que lhe responder.


E, agora que estou pensando de novo nessa coisa de mim e do James lá em Beadlow... uma pergunta acabou de brotar em minha mente. Uma pergunta muita importante. Bem, pelo menos para mim. A questão é que como é que a Taylor soube desse meu segredo? Como é que soube que eu fui para Beadlow com o James e não com a D. Julia?


Ela não esteve lá. A Taylor nunquinha sairia da cidade em um fim de semana. São nos fins de semana que acontecem todas as festas maneiras das quais não consegue viver sem. Sem contar que ela detesta trens e ônibus, de modo de que não tem como chegar até Beadlow sem esses meios de transporte.


- É, se você não tem palavras, nem eu tenho. E, se quer alguém que não sou eu, acho que tem que começar a correr atrás, porque as pessoas aceitam e desistem de pessoas muito rápido – ele me disse.


Achei realmente fofo. Talvez a coisa mais fofa que ele já me disse em todos esses anos que o conheço e que estamos/estávamos juntos. A coisa mais fofa, depois de “Eu amo você”, porque acho que toda menina gosta de ouvir essa frase, ao menos, uma vez por semana. E o Jason até que me dizia bastante ela. Acho que umas três vezes por semana. No começo do namoro, Jason a proferia praticamente todos os dias. Era uma coisa mágica. Porque meninos não são bons com as palavras e todo mundo sabe disso. E a Taylor sempre me disse que se um cara fala de amor para uma garota é porque realmente ele está apaixonado, ou, ao menos, querendo levá-la para cama, mas acho que descarto a segunda suposição, já que o Jason nunca tentou fazer isso comigo. Claro que falávamos sobre isso. De irmos para cama um dia. Só que eu não queria. E o Jason SEMPRE queria. Era como se ele dependesse dessa coisa de sexo. E acho que acabei me cansando muito rápido dessa coisa de ele ficar me pressionando, que desisti mais rápido ainda dessa coisa de tirar a roupa para ele.


Ainda que tivesse achado isso fofo e atencioso, não achei muito adequado. Quero dizer, nossa. Ele se conformou muito rapidinho, hein? Só faz seis horas que dei o pé na bunda dele. Um cara – qualquer cara – comum não teria aceitado isso tão bem. E nunquinha já lançaria a ex-namorada a outro cara. A um cara que já foi amiga e que agora a odeia. Acho que fiquei um tanto decepcionada e triste com ele. Porque, ei!, ele não deveria ter me dito qualquer coisa relacionada ao James! O Jason o odeia. Como é que tem coragem de me aconselhar lutar pelo James, sendo que não sinto nada por ele? Como é que posso lutar por alguém que não quero conquistar? É que nem aquela história de frisson da Samantha Madison. Ela gostava do namorado da irmã, mas estava sentindo frisson pelo filho do presidente, sendo que nem gostava do filho do presidente. Bem, isso até ela vir a descobrir que gostava sim do David. Ok, acho que essa comparação não se aplica a mim. Melhor não. Quero dizer, eu não sinto frisson nenhum pelo James. Aliás, o que é frisson?


(NOTA MENTAL: procurar na internet o significado de frisson.)


- É isso aí – a Nichole falou, olhando de Jason para mim, com um olhar muito compenetrado.


Balancei a cabeça, impaciente.


Olhei para ela como se implorasse que se calasse.


- Jason. O quê? – minha voz estava como assim? – Eu não quero correr atrás do James. Ele nem me quer mais – franzi a testa após me dar conta de que ele pudesse entender errado – Não me quer mais como amiga. E ele desistiu primeiro.


- Raposinha... – meu estômago não se balançou ao ouvi-lo me chamar de modo tão carinhoso, porque esse é o apelido que me deu - Você é muito estúpida – meu corpo se retesou ao ouvir isso – Você nem sabe o que quer, ou o que deve procurar – ele continuou.


Detesto dar o braço a torcer, mas isso é um fato. Normalmente sou muito confusa. Nunca sei o que quero. Não sei se quero a blusa azul ou a vermelha. Nunca sei se quero sorvete ou suco.


Porém, desta vez, minha mente confusa encontrou um lugar calmo para repousar e para tentar encontrar um caminho. Ainda que eu esteja até agora tentando encontrar o caminho certo para mim, para minhas palavras, para meu coração e para meus pensamentos... tenho certeza de que estarei com todas as respostas uma hora. Pode não ser hoje ou amanhã. Mas um momento todo mundo encontra finalmente seu eixo, certo? Aprende a gostar de quem é, ou ainda corre atrás de sua própria identidade, e quando a descobre, aceita-a do modo que a conhece, porque não há trocas. Ao longo da vida tentamos ser pessoas completamente diferentes da que realmente somos, seja por causa da sociedade repressora, seja por conta do nosso ídolo, seja por causa da nossa melhor amiga. Só que no final, percebemos que não tinha como ser melhor se não fôssemos nós mesmos. Nerds ou esportistas ou emos ou perdidos na vida ou estrelinhas. Tanto faz. O importante é sermos felizes e auto-realizados sendo quem verdadeiramente somos.


E eu estou a caminho disso tudo. Estou a caminho de encontrar a minha identidade e ser muito feliz com ela. A parte de estarmos confusos só comprova o quanto é difícil fazermos essa grande escalada para a vida, a escalada para algo grande, que deixa nossos velhos hábitos para trás e que nos torna pessoas melhores.


Nossa. Como fiquei filosófica de repente. Tenho que parar de ler os posts da Hayley. Isso me deixa doente.


- Jason, e você por acaso sabe o que quer? – minha voz se tornou um pouco alterada, porque, poxa, era o sujo falando do mal lavado!


- Sei. Eu quero você – ele apontou para mim -, que não me quer – sua voz terminou exausta, bastante esfacelada.


- Desculpa – não foi do coração que lhe disse isso. Meu coração não se sentia culpado por tê-lo perdido.


- Não se preocupe, ela achará alguém melhor – Nichole, mais uma vez, tinha que se meter – Melhor ainda, ela já achou. Totalmente – eu quis mesmo tirar aquele livro de suas mãos e batê-lo em sua cabeça. Acho que até merecia, se quer saber a minha humilde opinião. Mas não sou violenta. Bem, não com pessoas que são minhas amigas.


- Não! Não achei! Para com isso, Nichole! – deu um passo para trás e acho que gritei. Não sei se gritei mesmo, só sei que ela estava me deixando muito furiosa.


Não que eu achasse que ela não fosse se abalar. Nunca não nos abalamos quando alguém grita de repente conosco, não é? Só se a pessoa que grita de repente é a D. Julia, porque estou eternamente acostumada com seus ataques repentinos. Não irei conviver com alguém mais gritalhona do que esta mulher, de verdade.


- Mas... você beijou o James, Lily – ela me lembrou.


Agradecida, Nichole. Realmente estou muito feliz que tenha me lembrado disto bem na frente do meu ex-namorado.


Não sei se ela fez isso sem querer, ou de propósito ou sem-querer-querendo. A única coisa que sei é que o Jason esbugalhou os olhos e gritou:


- O QUÊ?


- Não, espera. Não é nada disso que está pensando – coloquei minhas mãos em seu peito – Quero dizer, tudo bem, é isso mesmo. Eu o beijei, mas foi sem querer. Eu não queria! – agora minha voz estava desesperada.


- Mas, Lily, ele nem a obrigou. E foi você quem o beijou – essa Nichole queria REALMENTE destruir a pouca dignidade que ainda me resta.


- Nichole. Sai daqui. Por favor. Somente vá embora – pedi, acho que até muito educada, considerando o que tinha acabado de revelar ao meu ex-namorado.


- Mas... mas... – ela tentou. Tentou mesmo. Só que eu não agüentava mais. Ela tinha de sair dali.


Nichole me lançou uma cara de cachorrinho arrependido, mas desta vez me neguei a me comover. Então, ela foi se juntar à Zora mais uma vez. O debate é amanhã, além do mais, daqui a duas horas irá começar a palestra sobre Política Moderna. Elas têm de trabalhar muito, realmente. Ainda bem que estou fora disso. Com todas as coisas que já tenho de fazer, se me aderisse a mais algum compromisso, meu cérebro iria explodir, como nos desenhos animados.


- E então? – ele quis saber, esperando uma explicação com a cara mais amarrada possível.


- Jason... me desculpe. Só... aconteceu. Eu estou me sentindo péssima até hoje – minha voz estava mesmo péssima. Eu estava me sentindo positivamente culpada. Mas que garota não se sentiria culpada se beijasse um garoto que não é seu namorado? Bem, a Taylor não se sentiria, mas só porque ela é promíscua demais. Até parece que pensa no Zac quando vai para a cama com os caras fortões do time de futebol.


- Quando foi? – seu corpo se projetou para frente.


- Na terça – respondi, sentindo-me muito envergonhada.


Já me sentia a pior do mundo guardando esse segredo comigo, imagine agora que a Nichole sabe E contou ao Jason. Estou querendo me suicidar. Só que por aqui só tem gravetos na grama. Será que se eu enfiar algum deles na minha jugular tenho alguma chance de morte?


Ouvi Jason expirar todo o ar do pulmão. Ele estava decepcionado. Talvez mais do que isso: esgotado.


- Nunca pensei que fosse me decepcionar com você, Lily. Não desse tanto – ele sacudia a cabeça como se tivesse perdido alguma partida de basquete – Você beijou seu amiguinho e nem me contou. Como pôde? – agora ele olhou para mim. Mas seus olhos estavam apagados, distantes.


- Você iria mesmo querer saber isso? Sério? Porque se você foi para a cama com alguma líder de torcida, não vou ficar menos chateada se me contar! – meus lábios estavam muito comprimidos.


- Eu fui totalmente fiel a você! Sei que você nunca quis muita intimidade comigo, talvez porque é tão insegura consigo mesma que não consegue aceitar o fato de que a amo exatamente do modo que é, mas nunca fui procurar outra menina. Sempre quis você – quando ele me disse isso, senti aquela típica coceira no nariz. O que se faz quando ouve uma declaração tão bonita assim? Solta bombinhas? Tudo bem, se você solta bombinhas, mas eu quis chorar. Eu sei, sou uma manteiga derretida.


- Tudo bem, tudo bem – instintivamente meus dedos foram param nos meus cabelos – Não estou questionando a sua fidelidade. Só... estou lhe perguntando se está mesmo mais feliz agora que sabe que... eu beijei o James.


- Estou, Lily, estou. Não dá para ver? – ele falsificou um ar de felicidade no rosto rijo – É claro que não! Estou querendo matar esse cara! Querendo matar você!


Dei um passo para trás, para longe dele. Desculpe, Jason, mas não posso morrer hoje. Terça-feira tenho as apresentações de violão e de guitarra. E ainda tenho que resolver as coisas com o James. E arrumar um jeito de enxotar a minha avó lá da minha casa. E descobrir o que é frisson. E descobrir o que verdadeiramente quero. Não posso deixar tudo isso para a próxima vida, se é que ela existe de fato.


- Não, por favor, não vá atrás dele! Ele não vai poder se defender! Ele não fez nada; fui eu quem o beijou! – de repente eu estava gesticulando muito rápido, agindo feito uma abelhinha raivosa.


Agora minhas lágrimas começaram a ser expelidas. Não queria que o Jason me visse chorando, mas não pude evitar.


- Certo. Bom, tanto faz. Acabou, não é? E você o quer, claro que sim. Eu vejo, todo mundo vê – um riso escapou dele, mas estava sem humor algum.


- Não, Jason, não é verdade. Eu só quero a amizade dele – eu o contradisse.


- É? Então por que o beijou? Agora você beija seus amigos na boca, também? – pude sentir seu tom maldoso.


Corei. A culpa estava saindo pela minha garganta. Sentia-me invadida por uma culpa insuportável.


- Não, não, não. Aconteceu, não pude... – minhas mãos voaram para meus lábios, tentando impedir um choro muito ridículo. E os soluços que agora pediam passagem.


- ... evitar? Não pôde evitar? – ele complementou minha frase, incrédulo.


Bem, mas não pude! Não sei como foi que o beijei, só sei que uma hora eu estava mesmo o beijando. Na boca. E foi bom. Muito bom. Senti-me completa, por meros segundos. Por todos os segundos que aquele beijo durou.


O QUE EU PODIA FAZER?


COMO É QUE PODIA ME AFASTAR DA ÚNICA PESSOA QUE CONSEGUE ME FAZER FELIZ?


Woo, como é que é, Lily Evans?


Ai, não.


Eu..


Não, claro que não.


NEM pense nisto.


Foi só um beijo. Um monte de meninas beija um monte de caras em uma festa só e não se apaixona por nenhum deles. Elas só os beijam. Um beijo é só... um beijo. Os atores e as atrizes vivem fazendo isso. E eles não se apaixonam, porque muitas vezes já são até mesmo casados. Tudo bem, tenho de descartar o casal Brangelina, porque depois de se beijarem algumas vezes (e quererem se matar) nas gravações de Sr. e Sra. Smith, eles viram estrelinhas do amor e se apaixonaram. Mas isso não quer dizer que eu estou interessada no James desse jeito.


- Me desculpe, ok? Não sinto mais nada por você, apenas meu amor morreu por você, e... e foi inevitável. O James estava ao meu lado todo o tempo, sempre conversando comigo, sempre me dizendo coisas legais, sempre me dando um apoio tremendo... coisas que você nunca fez. Você nunca quis saber qual é o meu filme favorito, ou quis saber qual é a minha posição sobre a matança dos golfinhos. Tudo o que me dizia era que me amava, só que somente isso não conseguiu segurar o nosso amor. Mesmo com você por perto, eu me sentia vazia, como se nunca estivesse com alguém. Como se nem tivesse um namorado. O James suprimiu todas as minhas necessidades e acabou acontecendo, porque começamos a ter uma intimidade tão grande, uma intimidade que nunca tive com você nem com ninguém... – funguei para tomar fôlego – E, admito, eu realmente fui pra cima dele, eu que o beijei, porque... sentia verdadeiramente feliz. Realmente feliz em anos. Nosso beijo só foi uma exposição da intimidade que construímos e que eu via nele. Foi mesmo, mesmo, mesmo inevitável – a essa altura eu já me sentia uma cachoeira ambulante. Eu estava deplorável.


E Jason quase ficou impassível. Sua expressão foi desmoronando à medida que colocava meus sentimentos para fora. Dava para ver que ele nunca se sentiu tão rejeitado. Tão ferido. E, sério, eu não o queria ferir, mas foi necessário. Ele tinha o direito de saber, agora que já tinha puxado o fiado da lã.


- Uau. Acho que você acabou de me confessar que gosta desse cara muito mais do que imagina – ele me disse, com a sua voz quase sumida.


- Não gosto! – bati o pé, ainda com as mãos na boca e os olhos transbordando lágrimas.


- Tudo bem, faz de conta que não.


- Jason...


- Vou indo, agora. E você deveria ir para o banheiro para tentar chegar em casa com uma cara melhor – ele me aconselhou.


- Você não vai me perdoar? – eu quis saber, com uma dor imensa no peito. Ainda era aquela culpa.


- Não acho que tenho que lhe perdoar. Não posso condená-la só porque descobriu outra paixão. Ninguém deve se punir ou se sentir culpado porque está sendo feliz novamente. Não quero tirar essa felicidade de você, Lily. Você não merece. Você merece estar com ele e viver um novo amor – o Jason não parecia querer me matar ou querer se acabar em lágrimas, como eu estava fazendo. Na verdade, ali, ele estava sendo muito forte, muito maduro.


- Mas... eu não... – eu tentei, juro que tentei negar.


- Não, não negue. Você pode se surpreender se daqui a pouco descobrir a verdade – ouvi seu suspiro e o deixei ir. Jason foi em direção ao estacionamento, claramente com a intenção de entrar em seu carro. Não sei se iria para casa ou para um penhasco.


Escorrei-me no tronco da árvore. Da nossa grande árvore.


- Lily? – ouvi uma voz masculina.


Ah, era o James! Ele queria saber se eu estava bem, se eu precisava de um abraço!


Abri os olhos e me decepcionei.


Não era James ali; era Remus.


O Remus querendo saber se eu aceitava um lencinho? Sério?


- Oi, Remus – limpei sôfrega e rapidamente minha face, tentando esconder todas as lágrimas, mas em vão, claro.


- Tudo bem? – ele me perguntou. Pude sentir seu tom hesitante.


Homens são sabem lidar com lágrimas. Sejam com as suas próprias ou com as alheias. Eles realmente são péssimos nisso.


- Não, mas vai ficar. Não se preocupe – tentei sorrir, fingir que não estava tão decepcionada, mas meu espírito estava tão pra baixo que não quis nem mesmo fingir.


- Tem certeza?


- Tenho.


- Quer uma carona? – ele me ofereceu.


- Você tem carro? – eu ri.


- Não, mas o James foi embora de ônibus e deixou o carro com a Alex, porque ela está ajudando na eleição.


Ouvir o nome de James apertou meu coração. Ele se embolou como um pequeno cachorrinho e doeu. Acho que estava sangrando.


- Hum. Mas não quero, não. Obrigada – agradeci - Vou ficar por aqui, vou ver se as meninas precisam da minha ajuda – menti, mas não me importei.


- Ah, ok, então – ele fez uma aceno com a cabeça – Você está bem para ficar sozinha, não é?


- Estou, estou sim. Já vou lá para o auditório ficar com as meninas, não se preocupe – falei.


- Certo. Bom resto de tarde – ele tocou meu ombro e seguiu para a calçada. Acho que ele vai a pé para casa.


Então, agora só estou eu aqui. A Nichole não voltou.


Estou aqui, tentando não morrer e perder a cabeça.

14/FEVEREIRO – 16:12h – QUINTA-FEIRA – AUDITÓRIO
Pelo menos UMA pessoa não está querendo saber o que meu coração quer. Ou, mais precisamente, se gosto do James. Isso porque essa única pessoa é irmã do cara que todos dizem que amo. Que SUPOSTAMENTE amo.


Quero dizer, claro que a Alex fica toda fingindo que não se importa se gosto mesmo dele, mas é fato que está MORRENDO para querer saber. Mas olha pelo lado bom: pelo menos ela não fica berrando por aí que beijei o James, ou fica abrindo a boca para o meu ex sobre este fato comentado antes. Bem, também, como poderia? A Alex não sabe que eu e o James nos beijamos na terça. Como é que posso contar isso para ela? Ela é IRMÃ dele. E daí que é minha amiga? Primeiramente, é irmã, e se eu fosse irmã de um cara tão legal quanto o James, com certeza bateria na menina que o beijou escondida em seu quarto.


NUNCA poderei abrir a minha boca para falar sobre isso. Sobre o beijo. A Al vai me matar. Não é?


Bem, até agora tudo o que ela me perguntou foi se vou desistir de cantar My Hero. Sei que mais perguntou isso pelo fato de que ela é terminantemente apaixonada por esta canção, do que pelo fato de que eu a cantarei juntamente com o James, daqui a cinco dias. Uau, só cinco dias? Como três semanas passaram rápidas! Parece que foi ontem que soube que faria par com o James no violão! E também parece que foi ontem que comecei a surtar, dizendo que não cantaria música alguma. Só que o James é muito bom em persuadir as pessoas. E claro que não pude desperdiçar esta oportunidade. Principalmente porque é com ele. Vou cantar com ele, o James. Bem, ao menos o refrão, porque todo o resto canto sozinha.


Ok, respira, respira. Droga, NÃO posso pensar nessa apresentação. Vou vomitar daqui a pouco. Ai, espera. Se eu o James estamos brigados COMO É que vou ficar CALMA para cantar na frente de mais de mil pessoas???


Ai, não, vou ter que ir lá para o pátio um pouquinho para receber um pouco de ar fresco.


14/FEVEREIRO – 16:26h – QUINTA-FEIRA – AUDITÓRIO
É, estou melhor. É só não pensar NAQUILO. NÃO vou pensar.


Certo.


Não sei o que tem de tão interessante em ficar pintando umas frases em cartolina colorida e depois as pregando nas paredes, mas tudo bem. Tem um monte de gente aqui ajudando a Zora. Algumas meninas do grupo de teatro, da sala de música, alguns góticos – bem piores do que a Nichole, é assustador! – e alguns skatistas. Até mesmo a Lilo Minsky, a nova queridinha da professora da turma de matemática avançada, e o Dillan Wisten, o novo astro do time basebol, estão aqui. Que máximo! Que amor! Pode até ser que a Zora tenha sim alguma chance de competir com as populares. Não que vá ganhar, mas deve ter alguns créditos. Todo mundo que passou por ela hoje, ficou tipo:


- Ei, Zora, vou votar em você!


Ou então:


- Queria que todo mundo fosse tão Zora!


É sério.


A Zora se tornará aquelas frases que ficam para sempre na humanidade. Como se chama isso? Bordão?


É como aquela coisa da Steph Landry, em Como Ser Popular: “Não dê uma de Steph Landry!”


Estou muito feliz por ela! Pela Zora, quero dizer. Nunca alguém que não é popular conseguiu reunir tanta gente em prol de algo aqui nessa escola. Todo mundo só se junta para falar de Gossip Girl ou para maldizer de algum rejeitado.


A Zora não pára de sorrir toda feliz e de dizer que vai ganhar, como se soubesse. Tudo bem, isso nem é muito coisa de gente que tem gana por competição. Imagina. Ela nem é competitiva. Imagina. Mas deixa para lá.


O negócio é que é bom vê-la tão feliz.


Entretanto, não é tão bom vê-la agindo como se precisasse respirar a minha vida sentimental e pessoal.


Na verdade, a Nichole também está assim. Só que a motivação dela é diferente. Sua motivação é a sua incapacidade de não conseguir ser uma menina menos sonhadora e romântica. Só que essas coisas são óbvias de se adivinhar nela, sendo que Nick não pára de ler todos os romances do mundo, incluindo os livros entediantes do Byron. Quero dizer, nada contra, sério. Só que prefiro os escritores contemporâneos, oras. Se isso for crime, vou agorinha para o inferno, porque não paro de ler Meg Cabot.


E o que mais me enerva é que essas duas têm de comentar alguma coisa bem na frente da Alex, como se ela soubesse do que fiz com seu irmão.


Descobri que agora a Zora também sabe sobre o meu beijo secreto, porque ela disse, BEM ALTO, pra praticamente TODO MUNDO dentro da sala ouvir:


- Então, Lily, quando é que você vai voltar a beijar aquele cara?


E daí a Alex quis saber quem é esse cara, o que me fez quase ter um AVC.


- Nem sei, a Zora vem com cada uma – olhei para Zora como se meus olhos pudessem fazê-la ter alguma convulsão.


- É, só estou tentando descontrair o clima – a Zora disse com uma voz de alguém muito convencido.


- Mas o clima já está descontraído – a Alex fez cara de quem não estava entendendo nada.


- É verdade. Mas, sabe, a Lily, totalmente quer...


- Não quero, não! – logo protestei para evitar o pior. Seja lá qual fosse ele.


- Idiota – Zora me xingou – Você tem de contar.


- Aham, vem aqui em pouquinho... – eu me levantei do piso de tacos e agarrei o antebraço dela. Puxei-a para longe de Alex e de todo mundo.


- Ai, garota, quer arrancar meu braço? Preciso dele para amanhã, sabia? – ela reclamou, assim que a larguei, e começou a esfregar o lugar onde minha mão a pressionou.


- Certo, então seja boazinha se não quiser que realmente eu arranque seus DOIS braços – ameacei.


- Uou, calma aí, hein. O que foi que eu fiz?


- Zora! – exclamei.


- Fala, estou aqui – ela ergueu as sobrancelhas, desafiadora.


- Certo, então, primeiro me diga como é que sabe sobre o que fiz com o James – pedi com as mãos para o alto.


Zora rolou seus olhos.


- A Nichole me contou depois que ameacei rasgar o livro idiota dela, se não me contasse o que sabe sobre vocês dois. Sobre você e o James – ela me disse.


Fiquei chocada. Essa Zora é uma terrorista, gente! Eu deveria me livrar logo dela. Me livraria se pudesse, é verdade. Só que tenho medo de que ela me bata ou ameace rasgar o meu diário ou ameace lê-lo. E ela é bem capaz disso tudo.


Fiz uma cara não muito feliz.


- Zora! – exclamei mais uma vez.


- Oras, você não me conta nada! – ela me acusou.


- Porque...


- Hum? Por quê?


Bufei e disse:


- Porque você iria contar a todo mundo, exatamente como quer contar a Alex!


- Porque ela tem o direito de saber! Ela é irmã dele, Lily! – a Zora me disse, em um tom todo especial de convencimento.


- Sério? Só que como é que você reagiria se soubesse que uma amiga sua beijou seu irmão, quando NÃO deveria ter feito isso? – questionei, muito, muito irritada.


A Zora fez um Uhh e uma careta.


- Ah, que nojo isso. Acho que não iria querer saber isso, não – por fim falou, fazendo uma careta de asco.


- Então, agora você sabe por que não posso contar a ela!


- Tudo bem, vou parar de falar essas coisas na frente dela, então. Mas só na frente dela, não se acostume, não – ela me atirou.


- Hahaha, você é tão fofa – disse-lhe irônica, dando um tapa em seu braço e indicando que deveríamos retornar ao auditório.


- E então? Que cor pinto isso? Verde ou rosa? – a Nichole quis saber, apontando para o enorme cartaz, que dizia: “PROGRAMA DE DESENTOXICAÇÃO PARA ESPERTOS – ESTEJA DENTRO OU MORRA LÁ FORA”.


14/FEVEREIRO – 16:43h – QUINTA-FEIRA – NA PALESTRA DA ZORA SOBRE POLÍTICA MODERNA
Nem acredito que estou aqui. A iluminação está péssima, mal estou enxergando as linhas para escrever. Está tudo apagado por aqui, só tem luz na parede dos slides que estão sendo mostrados a nós. A Zora não pára de falar em como o Barack Obama acha que pode transformar tudo, mas na verdade nem sabe por onde começar, já que o Bush detonou o mundo e deixou muitos cacos espalhados.


É muito blábláblá para a minha cabeça. Além do mais, já li todos os livros sobre o Barack Obama.


A Origem dos Meus Sonhos;


Sonhos de Meu Pai: Uma História de Raça e Herança;


E ainda:


A Audácia da Esperança: Reflexões Sobre a Reconquista do Sonho Americano.


É, acho que sei bastante sobre o cara.


Por isso, acho que esta palestra não é tão interessante para mim. Só estou aqui porque a Nichole me disse que isso acabaria antes da minha aula de violão. Tudo bem que não fui à de guitarra, mas à de violão tenho de ir. Tenho de ver se o James irá aparecer. Não interessa se eu e ele iremos conseguir trabalhar juntos, ou se irei ficar tão envergonhada que não conseguirei olhar para ele. Só preciso saber se o James vai vir para a aula.


Ok, também não sei por que não fui à aula de guitarra. Eu estava aqui com as meninas e simplesmente isso me deixou um pouquinho menos idiota, sabe. Então, fingi que não sabia que horas eram e não peguei a minha guitarra para ir para me encontrar com o Sr. Martin. Tudo bem que agora esteja me sentindo péssima por isso, considerando o pouco progresso que fiz sozinha, sem a ajuda do James. Porque, se já é um inferno acertar ao menos a metade das notas com o James ao meu lado, imagine o estrago que sou longe dele. Simplesmente não funciono. É revoltante, porque não quero precisar dele.


Mas é fato que tudo parece mais fácil e divertido com ele. Como se ele fosse o meu combustível certo, entende?


Hum, vou parar de escrever e prestar atenção nos slides. A Nichole acabou de me dar um cutucão que praticamente comprometeu as funções do meu rim esquerdo. Eu deveria bater mais nas pessoas que estão ao meu redor para vingar todas as vezes que alguém deixa um hematoma em mim ;)


14/FEVEREIRO – 17:14h – QUINTA-FEIRA – DEPOIS DA AULA DE VIOLÃO
Não foi TÃO ruim quanto pensei que seria. O James agiu quase como sempre. Só que sem o lance de ser meu amigo. E com certeza não conversamos praticamente nada, o que é totalmente anormal.


Tive que sair correndo da palestra chatinha da Zora – desculpa, eu sei que ela é minha amiga, mas aquilo estava muito maçante, sério – para conseguir chegar na hora para a aula de violão. Fortuitamente, fui a primeira a me sentar. Todos estavam de pé, conversando e tudo mais, só que como o James ainda não estava ali, não achei muito interessante ficar de pé falando sobre gibis com a Amma Rafther.


Então, ele chegou. Meu coração deu um pulo bobo e gostoso dentro de meu peito, e instintivamente sorri. Coloquei as mãos na boca, assim que percebi o que meus lábios estavam fazendo. Acho que James não conseguiu me ver naquela situação tão estúpida. Afinal, que tipo de menina sorri ao ver o cara que a odeia?


James acenou para o Sr. Martin, apenas com a cabeça, e seus cabelos negros ondularam como se estivessem na água, e se sentou ao meu lado. Ou quase ao meu lado, já que sua cadeira não estava bem tão perto assim de mim. E ele nem a empurrou para perto de mim, após de ter se acomodado, somente tirou seu violão com cuidado da capa e ficou ali, olhando bobamente para ele.


Até que eu disse:


- Você veio – e a minha voz não estava muito idiota, estava quase sorridente, tirando o fato de que eu não estava sorrindo. Bem, é tipo como uma voz sai quando a pessoa quer sorrir. Eu sei como é.


Ele nem se deu ao trabalho de olhar para mim.


- Pois é – o James me disse, demonstrando zero entusiasmo.


Fechei a cara, aborrecida e chateada.


Que cara mais rancoroso.


Daí o Sr. Martin começou a discursar sobre o quanto esta nossa última aula antes da apresentação é importante, principalmente para as duplas que ainda apresentam alguma dificuldade. Não que eu o e James sejamos essas duplas problemáticas, porque não temos dificuldade em nada. Ele já sabe toda a melodia e todo o refrão, que cantará comigo. As únicas dificuldades podem ser eu mesma, porque eu deveria estar praticando mais – a parte de cantar, porque a parte de tocar já faço desde 2006 -, e o fato de que eu o James não queremos nos ter por perto. Bem, ele não me quer por perto. Então, digamos que existam sim algumas complicações, que totalmente não posso comunicar ao Sr. Martin, já que ele surtaria, e ele é muito surtado com essas coisas de apresentações.


Então, começamos a tocar, porque é a única coisa que fazemos nessa aula, exceto a minha parte, que é cantar, mas não vou cantar aqui, por causa das pessoas. Além de mais, nunca precisei cantar em lugar algum, muito menos aqui, portanto não será hoje que começarei a fazer tal coisa.


É claro que o Sr. Martin notou a nossa falta de entrosamento. Só estávamos tocando, sem falar ou sem rir. Então, essas coisas significam anormalidade. Agora todo mundo sabe que, se não estamos falando ou rindo, é porque existem problemas entre nós. Odeio quando as pessoas acham que sabem muito sobre alguém, mas acho que, nesse caso em especial, agradeço a elas por serem tão bisbilhoteiras. 


- O que está acontecendo, gente? – o Sr. Martin nos perguntou com um ar sofrido e todo preocupado.


Não parei de vibrar as cordas e falei:


- Nada.


Pensando bem, é a verdade. Nada está acontecendo entre nós. Tão nada que não estamos nos falando.


- Sei. E por que não estão... – ele olhou bem para mim e para o James, pensativo – felizes? – ele terminou.


Como é que ele sabia que não estávamos felizes? Como é que alguém sabe que não estou feliz? Geralmente não mudo de cara, sabe. A minha face é sempre a mesma. Só que eu sei do que o Sr. Martin estava falando. Eu estava mais parecida com um guaxinim atropelado do que comigo mesma. Eu estava toda séria, toda distante, toda infeliz, realmente. E o James, depois que o olhei, pude perceber, também estava mais ou menos assim. Só que sem demonstrar quase nada. Tipo, sem demonstrar os sentimentos. O que é incomum, sendo que ele sempre está sorrindo, mesmo quando não há motivos para tal gesto. E pessoas que sorriem, conseqüentemente, são felizes, certo? Então, o James não estava feliz. Nem eu. E todo mundo pode ver isso.


- Só não estamos tão animados – o James deu de ombros, nem se prestando para fingir um sorriso.


Certo, James, ele totalmente acreditou em você.


- Por que não? – ele quis saber – Deveriam estar! A apresentação acontecerá em menos de uma semana! E vocês são a dupla de destaque! Eu os quero animados! Eu preciso que estejam animados!


Nossa, alguém iria surtar.


- Certo, humm, iremos parecer mais felizes, então, ok? – o James falou.


- Isso! Isso! Vocês não podem desanimar! Estão com algum problema? – o Sr. Martin nos perguntou, olhando primeiro para o James e depois para mim. Eu quis rir. Quero dizer, olha só o que ele perguntou! É claro que estamos com problema! Um problema que causei e que acho que nunca serei capaz de consertar!


- Não, não mesmo – o James praticamente jurou.


Falsifiquei um sorriso, só para fazer o professor ir embora dali.


- Ok. Se estiverem é melhor falar, porque nada pode dar errado – ele nos disse.


- Não se preocupe, Sr., nada sairá errado. Tudo será como o Sr. planejou – James lhe garantiu.


- Ótimo – o Sr. Martin se prendeu a mim e me perguntou: - Por que não apareceu à aula de guitarra? Achei que precisava de certa ajuda. Achei que quisesse aperfeiçoar a técnica.


Corei um pouco. Senti-me mal por ter fugido da guitarra.


- Hum. Não consegui chegar a tempo – eu disse.


- Ah – ele falou e saiu sorrindo para longe de nós.


Rolei os olhos, chateada. Que porcaria, acho que vou estragar a nossa apresentação. Não consigo fingir estar feliz ao lado do James quando sei que ele preferiria estar ao lado da Paris Hilton a estar ao meu lado.


Desanimada, continuei a tocar, como se estivesse tudo bem. Só que sem conversar com o James.


Até que ele teve a iniciativa e me perguntou:


- Por que não foi à aula de guitarra?


Olhei surpresa para ele. Sério?


- Estive ajudando a Zora por causa da campanha e fui assistir a uma palestra sobre Política que ela quis dar aos inscritos – dei de ombros.


- Mas... você não se importa com a eleição – ele comentou, com a voz que eu sinto falta. Sabe, com a voz normal, sem frieza ou desprezo.


- É, mas ela é minha amiga... além do mais, não tinha nada para fazer a tarde toda, então...  fiquei aqui.


Ele riu. Franzi a testa e o olhar. Awn, que amor. Ele riu exatamente como antes. Como o James fofo e amigo que era. Ouvindo novamente seu riso tão contagiante, que não ouço há quase dois dias, tive de deixar meu espírito se contagiar também. Ri com ele, ainda que fosse uma risada um pouco hesitante, já que eu não sabia se deveria ou não rir.


- O que vai fazer? Subir com a Zora ao palanque e discursar junto a ela também? – ele quis saber, ainda rindo.


- Eu não falo em público – eu disse, desacelerando o riso.


- Ah. É, não deveria. Você é tão boa em manipular as pessoas, que provavelmente convenceria a todos a raspar a cabeça e dançar a dança da galinha sem roupas – ele me falou. Só que agora parara de rir. Sua voz voltara a sair dura e magoada.


Fechei a cara outra vez. Ele tinha MESMO que me dizer aquilo?


Então, fiz a única coisa digna que achei que uma menina faria se um cara fofo, de repente, agisse como um idiota completo. Afastei ainda mais as nossas cadeiras e ainda virei a minha, de modo que ficasse de costas para James.


E tudo o que ELE fez foi RIR. Ele simplesmente RIU.


De costas para ele, respirei fundo, de olhos fechados. O meu sangue tinha de voltar a circular com menos rapidez e ódio.


- Lily, está passando mal? – ouvi a voz de Rob e logo abri meus olhos, assustada e desapontada. Queria que o JAMES tivesse se preocupado comigo.


- Ah, não, Rob. Só foi um enjoo – segurei a ele.


- Você está grávida? – os olhões da Eva me fizeram colocar uma careta de nojo em meu rosto.


- NÃO! – tive vontade de berrar, mas felizmente minha voz saiu em um tom mais baixo - Só foi um mal estar, gente. Voltem para seus afazeres – gesticulei.


Olhei rapidamente para James, só para ver o que ele estava fazendo, já que não ouvia a melodia de My Hero vindo de seu violão. James estava rindo. De novo. Ou ainda.


Que garoto mais idiota. Sinceramente.


- O que é? – perguntei mal humorada.


- Nada. Só que... você é tão criança! – ele me disse, tentando se comportar.


Lancei a ele um dos meus olhares de raiva preferidos. Aquele que a minha mãe diz que tem medo, porque parece que vou arrancar os olhos de alguém.


- Ah é? E você é tão idiota! – falei e me achei realmente criança por estar retrucando.


Affe. Odeio esse cara.


Não, mentira.


Eu o amo. No sentido de gostar. Não vá pensar bobagem.


Então, ficamos tocando sem nos falar mais, e sério, foi a aula mais chata da minha vida. O James estava ali perto de mim e tudo o que eu queria fazer era pedir intermináveis desculpas e conversar com ele sobre qualquer coisa.


Na verdade, no final da hora, eu estava ficando desesperada. Muito desesperada.


O Sr. Martin encerrou a aula, falou mais algumas palavras de incentivo a nós e dispensou a classe.


O James foi embora tão silenciosamente quanto veio. Porém, antes que ele tivesse alcançado a porta, se virou para mim e riu. Não riu como se estivesse zombando de mim. Riu como se tudo estivesse bem.


Inclinei minha cabeça e em seguida olhei para o chão. Não sabia se tinha MESMO visto aquilo ou se tudo tinha sido mera imaginação, porque, convenhamos, sou boa em imaginar coisas. E pessoas rindo. Principalmente se a pessoa em questão for o James, considerando todas as vezes que já o vi fazendo isso.


Então, todos os alunos foram embora e o Sr. Martin, que eu nem tinha percebido que ainda estava aqui, apareceu ao meu lado.


- Está tudo bem, Lily? – ele me indagou.


- Está – minha voz saiu triste e chateada.


- Bem, tudo está bem, quando termina bem – ele me disse.


William Shakespeare.


- Se as coisas ainda não estão bem, é porque a sua jornada ainda não terminou – ele continuou.


- É, só que fico me perguntando o que posso fazer para antecipar o final de tudo isso – comentei.


- Faça o certo. O que verdadeiramente quer, não o que os outros acham melhor para você.


- E se... os outros estiverem certos? – hesitei.


- Se sente que é o certo, então faça – o Sr. Martin sorriu gentil.


- É, acho que é melhor eu começar a fazer o que realmente quero – falei – Obrigada – agradeci.


Ele se retirou, deixando-me só.


Posso ouvir as faxineiras daqui. Fico pensando se elas estão tão enrascadas quanto eu.


Imagino que não, porque vida de adolescente não é nada fácil. Parece que é, mas não é.


14/FEVEREIRO – 17:41h – QUINTA-FEIRA – JÁ NO MEU QUARTO, FINALMENTE
Não acho que esteja ferrada. Claro que minha mãe ficou surpresa, mas não é como se eu estivesse de castigo. Sabe como é, por cauda de toda a confusão que instalei no começo da manhã, lá na escola.


A Sra. Rings REALMENTE ligou para a minha mãe. Ela disse que quem atendeu ao telefone foi a D. Julia, que contou imediatamente à minha mãe, claro. Acho que D. Julia está até mesmo ORGULHOSA de mim por eu ter partido para cima da Taylor, ainda que sempre esteja me ensinando que meninas nunca resolvem suas diferenças fisicamente; resolvem demonstrando com o olhar. Mas tanto faz.


Minha mãe só falou:


- Você sabe que detesto violência.


E eu tive de responder:


- Certo, mãe, da próxima vez vou esperá-la bater em mim, para eu a atacar. E rasgar sua saia – complementei num sussurro.


- Não tire as armas da menina, Kristen! Ela fez o que foi certo! Nunca devemos deixar umazinha qualquer nos rebaixar! – foi a vez da minha avó se manifestar, com aquela sua voz rouca de tantos cigarros já consumidos.


- Exatamente – concordei. E franzi a testa. Eu estava concordando com a minha avó. Já é o fim do mundo?


- Mas vocês eram tão amigas... – lamentou mamãe.


- A vida muda, mãe. E pelo o que sei, você nem gostava tanto assim da Taylor – assinalei duramente.


- É, mas... – então ela parou aérea no meio da frase. Parecia ter se lembrado de algo – E o James? Por que não o vejo mais?


- Essa é a minha constante pergunta a ela desde quarta-feira! – D. Julia lhe informou, desgostosa ao cubo, me olhando feio.


- Por que você não nos conta a história desde o começo, Lily? – minha mãe me propôs com a sua melhor voz de psiquiatra acolhedora e bondosa.


É claro que eu não ia cair na dela. Ou quem sabe fosse bom eu cair na dela. Só pra variar. Só pra não ser chamada de ingrata.


Mas talvez eu seja mesmo uma ingrata.


Eu fui com o James, não fui?


Ah, não, lá vamos nós...


Eu tinha que me defender. Não podia assumir aquele ar de “militar na guerra”, como diria minha mãe. Ela sempre diz isso quando quer passar a idéia de que uma pessoa não pode querer resolver seus problemas sozinha, sem auxílio. E, tudo bem, ela é boa nessas coisas, já que é psiquiatra. É boa em persuadir vagarosamente a todos a confessar algum trauma infantil ou o seu último pecado.


- Olha, nem vem. Estou cansada demais para discutir sobre o James – coloquei minhas mãos na frente de meu corpo, em modo defensor.


- Ele descobriu que você não o ama, não é? – a minha avó questionou, ainda que sua pergunta não tivesse sido proferida em tom muito questionador. Ela parecia positivamente convencida de que essa é a resposta que procura.


- Não! Eu. Não. O. Amo – rosnei inquieta.


- Ah, se você largasse aquele menino horroroso... – o tom de voz dela estava muito sonhador.


- Já o larguei – admiti baixo – Mas o Jason não é horroroso. Só não sabe muito bem o que é um relacionamento.


Elas quase estouraram seus globos oculares.


- Você e o Jason... não estão mais namorando? – minha mãe me perguntou. Não sei por quê, mas detectei uma mescla de hesitação e suspeita por parte dela. Parecia que por trás de todo o seu cabelo ruivo e volumoso, seu cérebro estava trabalhando furiosamente em uma teoria. Ou em um fato ainda oculto.


- Não. Ele acabou descobrindo que eu e o James fomos para Beadlow e foi um estúpido. Então, decidi acabar com tudo. Aliás, quem contou a ele foi a Taylor.


- Ah. E agora você está...? – minha mãe lançou a pergunta ao ar, incerta.


- Estou bem. Foi melhor assim – dei de ombros, não sendo capaz de alcançar seu raciocínio.


- Finalmente! – D. Julia ergueu os braços, não tão pelancudos para a sua idade, ao teto – Agora o seu caminho está livre.


Aspirei e expirei muito lentamente. Lá ia ela de novo.


- É, para eu ser feliz comigo mesma. Nada de James na jogada nem outro cara – falei.


- Mas...


- D. Julia, quando é que você vai entender que não preciso de um menino para ser feliz?


- Todos precisam de amor, Lily! – ela berrou para mim.


- Ah, certo. Olha quem falando. Você e o meu avô sustentam um casamento fracassado, e você acha que pode vir falar de amor para mim? – eu surtei, descrente e furiosa.


- Lily! – minha mãe exclamou.


- Ah, mãe! Você sabe que eles nunca foram felizes! Eu nem sei como é que o vovô suporta tudo isso! – berrei.


- Você é muito criança para entender como é que as relações funcionam! – minha avó me disse.


- Ah, é? Se é assim POR QUE quer me jogar para cima do James? – minha fúria realmente estava me matando. Por dentro.


- Justamente por você ser criança que não entende! Estou tentando salvar o que lhe resta de digno! – ela me informou.


- Não me chame de criança! – gritei – E que coisa é essa de dignidade? Você sabe se tenho alguma dignidade?


- Se não tivesse, já teria ido para cama com aquele garoto – as sobrancelhas de minha avó desenharam um arco quase perfeito acima de suas pestanas falsas.


ODEIO quando ela está com a razão. Mas acho que odeio ainda MAIS quando não consigo contornar e confundir a sua razão.


Porque, sabe como é. Ela tem razão. Eu tenho dignidade. O máximo que o Jason viu do meu corpo foi naquele dia do churrasco em sua casa, que estava o maior calor e ele me convidou para passar a tarde na piscina; portanto, o que ele não viu estava sob o meu biquíni azul-céu. E, sério, acho que ele viu muita coisa, se eu for parar para pensar.


Acho que quando uma menina demonstra apatia quanto ao seu namorado tirar a sua blusa, quer dizer que ela tem muita dignidade.


- Mãe, a senhora não tem nada a ver com o que a Lil... – não pude deixar de agradecer à minha mãe por ela ter ficado irritada.


- Ok, você está mesmo certa. Mas então o quê? Você quer que eu vá para a cama com o James? É isso? – coloquei as mãos na cintura, tentando controlar minhas emoções mais inescrupulosas. Ainda que, concomitantemente, fiquei levemente chocada.


E então seu rosto esticado e quase paralisado chegou ao limite. Ela também tinha se chocado.


- Não! Não estou interessada em com quem quer passar a noite! Só quero o melhor para você! E esse melhor nunca envolveu sexo! – agora ela estava até mesmo mais desconsertada do que eu.


- Ótimo, porque acho que eu...


- COMO É que você não consegue enxergar? – D. Julia estava balançando a cabeça loura falsificada.


- Mãe, agora chega. Acho que a Lily já tem idade suficiente para escolher com quem quer passar a noite – ouvi a voz de minha mãe muito cansada e exasperada.


Como a minha mãe é amadinha! *-*


- Sem contar que já sou MAIOR de idade – assinalei com uma euforia mágica. Por que a gente sempre acha que fazer 18 anos faz toda a diferença? Eu ainda me sinto aquela Lily insignificante e menininha de sempre. E só faz um mês e um dia que parti para a vida adulta. Até agora não me sinto nadinha mais madura ou diferente. Será que tem algo errado comigo?


- Certo, certo. Que seja – a D. Julia abanou as mãos, descontente.


- Bem – já falei, cortando qualquer tipo de continuação para uma conversa -, se tem mais alguém que se opõe à minha dignidade sexual, fale agora ou cale-se para sempre. Vou para o meu quarto, porque tenho que tentar descansar.


O Flame ronronou suavemente, se esfregando todo na minha calça preta, deixando-a laranja por conta dos pêlos.


Tá bom, Flame, você é um gato. Gatos não se opõem a nada. Você nem ao menos consegue falar! Porque se pudesse, você poderia muito bem mandar a sua dona neurótica calar a boca, não é? Aposto como você ADORARIA que ela calasse a boca. Eu imploro todos os dias que ela queime as cordas vocais e nunca mais tenha a permissão de falar.


D. Julia, super boazinha, me perguntou:


- Quer um chá?


Mas ela SABE que eu ODEIO chás. Realmente não suporto!


- Não, claro que não – respondi com uma voz tipo “dãã!”.


- Ah – ela fez, torcendo as mãos.


Que engraçado. Ela estava MORRENDO de vontade de alguma coisa. Sempre que ela fica torcendo as mãos é porque quer muito algo. Pode ser um chambre novo ou a nova coleção da Miu Miu ou um atirador profissional de presente.


Então, antes que ela REALMENTE começasse a se pronunciar, eu me recolhi para a paz do meu quarto infernal (por causa da cor, que é vermelha, e, sinceramente, eu gosto). Antes eu estava escrevendo umas músicas da Taylor Swift, mas, cara, não consigo mais escrever nem uma estrofe cantada por ela. Sempre me lembro do James, e isso me deixa péssima :/


14/FEVEREIRO – 20:28h – QUINTA-FEIRA – MEU QUARTO
E o inferno continua. Posso sair da escola, sair da presença da Zora e da Nichole e vir para a – suposta – segurança da minha casa que os problemas continuam. A perseguição. As perguntas. Os conselhos incabíveis e fracassados.


Quer a resposta? Você já sabe! A minha avó. SEMPRE ela.


Ela não pára de me pressionar. Ela PRECISA saber o motivo de todo esse atual estresse do James para que comigo.


Eu só fico: “Sai do meu quarto!”, mas quaisquer palavras são insignificantes para ela. D. Julia parece não entender que tenho que me focar nas apresentações de terça e planejar um modo de estar calma na frente de UM MONTÃO de pessoas, ao lado da pessoa que mais quero fazer as pazes. E ACHO que ela está arrependida. Talvez pelo fato de ter insinuado que eu deveria ir para a cama com o James. Tudo bem, ela ficou toda CHOCADINHA depois, mas acho que era isso mesmo que estava em sua mente do mal.


E ainda mais um problema, talvez o maior de todos:


COMO É QUE VOU CONSERTAR AS COISAS ENTRE MIM E O JAMES?


TEM QUE EXISTIR UMA MANEIRA!


Não posso ficar pensando e pensando e me martirizando para sempre.


Ah, não. Há outra coisa. Uma coisa que estou admirada e surpresa de estar sentindo. E que acho que é super difícil ser sincera sobre isso. E acho que não consigo ser sincera sobre isso. Não quero ser. Vou parecer... eu não sei. Uma vadia. Não como a Taylor, porque acho que menina alguma esteja à altura dela. Acho que nem mesmo aquelas mulheres que tiram a roupa para caras que não conhecem e depois ficam animadinhas quando vêem seus corpos expostos em algum site de pornografia liberal. Porque, bem, na internet tudo é liberal. Por isso não passo tanto tempo online. Tenho medo daquele lugar.


Mas enfim. Não estamos falando da Taylor ou daquelas mulheres que não tem vergonha de nada.


Estamos falando de mim. E, aliás, sou uma pessoa que sente vergonha de muitas coisas. Tipo, de cair da escada na frente do time de futebol. Ou de tirar uma foto sem roupa e mandar para o meu namorado. Quero dizer, se eu ainda tivesse um namorado. Mas acho que isso não conta, considerando que nenhum cara me viu sem roupas, ou mesmo de calcinha e sutiã.


E, eu, Lily Evans, sendo essa pessoa toda problemática e envergonhada de muitas coisas, não consigo admitir. É muito para mim. Muito mesmo. Sem contar o risco que estou correndo em escrever isso, porque se esse caderno cair em mãos errados – tipo nas mãos espertas e meticulosas da Zora e nas mãos românticas da Nichole – estou ferrada. Mais do que ferrada: provavelmente nunca mais terei paz e serei taxada de mentirosa para todo o sempre. Mesmo sendo uma coisa não tão complexa assim. Tudo bem, é complexo sim. Se não fosse, eu não estaria toda enrolada escrevendo e escrevendo e não esclarecendo nada.


Mas o meu problema é que estou perdida! Estou confusa! Estou tentando fingir que não existe nada em mim, quando na verdade existe muito mais do que um coração ansioso por uma aceitação de um pedido estúpido de desculpas.


Existe... uma coisa. Não é amor. Não é. Eu SEI que não é.


A Nichole pode vir com aquela teoriazinha idiota e infantil dela sobre os sentimentos que sentimos, mas que descobrimos quais são de fato muito depois de começá-los a sentir. Ou qualquer coisa assim. Foi mais ou menos isso o que me disse na noite em que beijei o James.


E é sobre isso o meu atual problema. O meu probleminha do momento. Ou melhor, PROBLEMÃO.


Aquele beijo. POR QUE não consigo esquecer aquilo?


Estou com uma dúvida MUITO GRANDE que nunca poderei contar a NINGUÉM.


É sobre o beijo, o James e sobre mim também.


Não acredito que vou escrever isso, porque é a coisa mais difícil que tive de fazer nos últimos tempos – inclusive contar a verdade sobre o beijo com o James para o Jason. Porque agora meio que estou me sentindo aliviada por ter sido sincera. Com ele e acho que comigo também, já que até hoje à tarde ainda não tinha pensado POR QUE fui para cima do James na terça-feira. Eu achava que só tinha acontecido, que foi uma coisa do momento, mas agora, e naquele momento em que estava colocando tudo para fora lá com o Jason, consigo enxergar o motivo. NÃO foi coisa do momento. Não foi, sei lá, a adrenalina. Talvez pudesse ter sido juntamente carência com toda a confiança e intimidade.


Não que tudo isso realmente esteja me fazendo uma louca retardada, já que ele parece não estar dando a mínima para o que fizemos. Na verdade, o James deve achar que me aproveitei dele e que o manipulei. Mas, sabe, eu não sei manipular as pessoas. Eu nem ME LEMBRAVA daquela PORCARIA de aposta quando falei oi pela primeira vez para ele. Eu só... estava sendo feliz.


E agora meu cérebro está derretendo de tanto martelar na coisa. Nesse meu segredo sentimental.


Tudo bem, eu não agüento mais. O que está acontecendo é que de repente caiu a ficha sobre uma coisa. Se eu somente gosto do James como amigo – mesmo que ele esteja me odiando -, POR QUE estou com uma sensação de vazio em mim? Tipo, de rejeição. Aquele tipo de rejeição que nos pega quando convidamos algum cara para sair e ele simplesmente ri da nossa cara e diz que tem mais o que fazer do que sair com uma menina como nós. Mesmo que nós não saibamos que tipo de meninas somos. Só que eu não deveria estar aliviada por ter a confirmação de que aquele beijo ao acaso – e com muito sentimento, devo acrescentar – não significou nada para mim?


POR QUE estou enlouquecendo por causa disso?


Quero dizer, se não quero nenhum tipo de envolvimento emocional – daquele jeito - com o James, não é de se surpreender que não esteja sentindo nada em relação ao o que fizemos. Porque, como já escrevi antes, meninas beijam caras todos os dias e isso não quer dizer que elas estejam apaixonadas por TODOS eles. Talvez não estejam nem mesmo por UM deles.


Mas eu ESTOU sentindo alguma coisa. A rejeição. Como se ele tivesse me abandonado e recusado o mínimo de laço sentimental comigo.


Como é que posso ser coerente com uma coisa dessas se...


Caramba! Será que NINGUÉM entende o significado da palavra PRIVACIDADE?


Alguém não pára de berrar o meu nome lá no corredor. Quase não estou escutando, porque estou ouvindo John Mayer no último volume.


Ah, acho que é a minha mãe...


14/FEVEREIRO – 20:43h – QUINTA-FEIRA – MEU QUARTO
Minha mãe estava morrendo de me chamar, porque a Alex estava ao telefone. Queria falar comigo.


Foi assim:


Alex: Oi, o que está fazendo?


Eu: Ouvindo música e você?


Alex: Tentando assistir True Blood, mas não estou conseguindo, porque acho que odeio vampiros (risos)


Eu (dando risinhos): Bem vinda ao clube. Eu acho. Mas o que...


Alex: Por que você nunca está on no MSN?


Eu (surpresa): Não sei. Não gosto muito do MSN.


Alex (séria): Ah. É que a Zora me ligou e me perguntou se você é boa em discursos.


Eu (surpresa ao cubo): POR QUÊ?


Alex (rindo): Calma. Não é muito ruim.


Eu: Espera. Mas não é ela quem irá falar com os alunos lá no debate de amanhã?


Alex: Sim, sim, sim. Ela só queria uma ajudinha. Não que você irá subir lá no palco e falar com o pessoal. Ela só queria que você a ajudasse a escrever o discurso, sabe como é. Já que você nunca pára de escrever e tudo mais.


Eu (bastante aliviada): Ahh bom!


*Silêncio*


Alex (sussurrando): O James está aqui. Quer falar com ele?


Eu (surpresa ao cubo de novo): Não. Por quê? Ele quer falar comigo? (voz ansiosa)


Olha a ridícula aqui sentindo o coração pular e pular. COMO ASSIM?


Alex: Bem... Não, não quer. Só achei que VOCÊ quisesse. Só pra, sei lá, pedir desculpas de novo. Quem sabe.


Eu (agora me sentindo ultrajada): ATÉ PARECE! O PROBLEMA É DELE SE NÃO QUER MAIS FALAR COMIGO!


Alex (muito surpresa): Wow, calma! Só foi uma idéia.


Eu: É, e eu odiei a idéia.


Alex: Tudo bem, ainda tem tempo. Até o final das aulas e tal.


Eu (irritada): É, é. Agora tenho que ir. Tenho que tentar me matar pulando da sacada do quarto da minha mãe. Beijo.


Alex: Lily!


Eu: Não é sério. O seu irmão é só um CARA. Eu tenho o meu orgulho, ok?


Alex (incerta): Ai, Meu Deus. Não vá fazer nada, por favor.


Eu: Não vou. Juro. Até amanhã.


Alex: Até amanhã.


Não acredito que a Alex ACREDITOU naquilo. Oi, eu sou a Lily Evans, esqueceu? Esse já um motivo muito forte para tentar se matar com qualquer coisa. Imagine se vou acabar comigo mesma pra valer só por conta de um menino fofo que agora me odeia! HA!


Não! Não mesmo!


Ok, agora vou continuar a reler o quinto livro do Diário da Princesa. Nem tenho nada melhor para fazer mesmo.


Ah, achei o significado de frisson. Na internet. Frisson é:


Sinônimos: Felicidade, prazer, êxtase.


Antônimos: Desânimo, desgosto, tristeza. 




********************************

N/A: Oi, meus amores! (:
Estou muito feliz (como vocês têm lido todas as semanas) que estejam gostando da fic. Mas preciso salientar uma coisinha sobre esse cap: muitos acharão muito babaca a briga do James com a Lily, mas é para ser assim mesmo. O motivo é bem besta MESMO, porque tinha de ser assim. Sem contar que a maioria das pessoas brigam por coisas bestas e, então, isso é só um pouco da realidade. Enfim, quero acrescentar que estou muito agradecida a todos vocês, especialmente a Nina Black, porque, bom, você sempre me escreve muita coisa e eu me sinto importante (TRI .-.). Bem, continuem lendo e reclamem se necessário e elogiem se necessário, afinal, reclamações podem ser construtivas (: Fiquem de olho semana que vem, Beijinhooos! <3
PS: Obrigada, Nina Black por tentar fazer uma capinha pra mim õ/// Mas, ainda assim, quem quiser também fazer, estou totalmente aceitando (: 

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