Capítulo 1



22/JANEIRO – 13:05h – QUARTA-FEIRA – COLÉGIO (AULA DE BIOLOGIA)
- Fala sério, Lils. O cara não pode obrigá-la a tocar – decretou Taylor McGrow, minha melhor amiga, enquanto pegávamos os materiais para a aula de Biologia.


- Eu sei, mas eu não posso simplesmente pular fora da apresentação: eu estou comprometida com essas aulas até o fim dos tempos, ou pelo menos, até o fim do Ensino Médio – rebati meio irritada, mas sem deixar de transparecer minha frustração.


O negócio não é que eu sou péssima ou não saiba tocar. Tudo é mais: eu não quero fazer aquilo. E até parece que eu não tenho nada mais a o que me dedicar ¬¬ Sr. Martin totalmente não compreende. Ah, e existe uma última coisa: nunca gostei de rock das antigas. Principalmente o som do The Clash. Sempre preferi o rock dos anos 90, tipo Nirvana ou até mesmo Hole, apesar de nunca ter me simpatizado com a Courtney Love. Não que eu realmente acredite que ela teve coragem de assassinar o próprio marido, o Kurt Cobain. Mas tanto faz.


- Não seja uma alface, Lily. Vá lá e diga não. Lute contra o sistema. Não é só porque ele é o professor que você tem que aceitar tudo o que ele lhe mandar. E, fala sério, THE CLASH? Não podia ser Green Day ou Fall Out Boy? O que o Sr. Martin tem contra a música de hoje em dia? – a Taylor fechou o armário dela com violência. Para ela, não ser fã de Green Day ou Blink-182 é uma ofensa. Não que ela realmente aprecie o Fall Out Boy, somente, na verdade, o baixista da banda.


- Taylor, relaxa. Para falar a verdade, a culpa foi minha. Eu devia ter escolhido The Runaways – falei, olhando-a timidamente. Taylor é ótima para puxar brigar por causa de preconceitos musicas, embora ela seja a primeira a chamar o Lucas Sullivan de emo.


- Eca. Não fala bobagem. Mas e aí? O que vai fazer? – ela quis saber, no momento em que o segundo sinal soou, e tivemos de correr para a sala de aula.


- Não sei o que vou fazer, mas não sou capaz de realizar tantas coisas em um mês. Além dessa apresentação, tem a de violão. E na véspera, começa as provas parciais e tenho a competição de patinação – eu expliquei aos sussurros, porque a Sra. Yene já estava a despejar seu monólogo sobre o corpo humano na turma.


- Esqueceu de mencionar a seleção das fotos para o anuário da escola e a matéria sobre aquelas babaquices suas para o jornal do bairro – acrescentou ela. Olhei-a desgostosa. Nem eu mesma sou capaz de me recordar quais são as minhas tarefas.


Às vezes eu sou mesmo uma alface.


22/JANEIRO – 23:52h – QUARTA-FEIRA - CASA
Trabalhar como atendente de balcão em um pet shop de um shopping não é a pior coisa do mundo. Mas, claro, não é tão melhor quanto estar em uma loja que venda CD’S ou até mesmo em uma videolocadora. Tudo o que eu tenho de fazer aqui é agendar horários para banhos de cães e gatos, informar preços de remédios ou de peixes à venda e ser simpática com os clientes (tanto os do tipo humano quanto os do tipo canino ou felino). É só sorrir e falar como bebê com os animais. E o melhor é que eu recebo dinheiro para isso e, às vezes, posso fazer meus deveres de aula nos períodos de calmaria.


Jason, meu namorado, em geral, só aparece na loja para me trazer notícias sobre o time de basquete, cujo é capitão. Não que eu não curta basquete, mas às vezes (tudo bem, sempre) ele é um tanto insensível. Tipo, ele poderia passar no shopping para me levar para casa, todo fim de noite, mas diz que sempre está cansado por causa dos treinos. Certo, será que ele não pensa no MEU cansaço? Quero dizer, eu vou ter que baixar a minha carga horária de trabalho para segundas e sextas, por causa de todo o caos que a minha vida se transformou de uma hora para outra. E ainda tenho de aprender a tocar uma música, cuja banda não gosto e cuja canção nunca ouvi.


Isso é o que chamam de JUSTIÇA? ¬¬


O Jason é superbonito e tal, não me leva à mal, mas falta cérebro a ele. É de pensar que, ao menos, ele pudesse falar sobre música ao invés de somente tagarelar sobre basquete. Tudo bem que as meninas o amem por ele ser um dos caras mais gatos de toda a escola, mas Jason não é mais do que um rostinho bonito (e capitão do time). Ele, por exemplo, ainda não sabe fazer polinômios nem fazer contas sem usar os dedos.


Mas eu o amo, ainda assim.


Então, depois de me despedir da Dra. Ghrin, a veterinária do pet shop, fui até a casa de Jason, que é a uns seis quarteirões do shopping e a uns doze da minha casa, só que para leste. Eu precisava, sabe como é, de colo. Não que eu estivesse histérica, só meio para baixo. E, tudo bem, o Jason não ganha o prêmio de O Melhor Consolador do Século, mas seus beijos realmente produzem um efeito ótimo em mim. Geralmente ele não sabe o que fazer nem o que dizer em situações emocionais. Talvez o defeito seja generalizado. Sabe como é, do sexo masculino. Acho que nenhum cara sabe como agir quando vê uma menina chorando ou deprimida.


Eu contei a ele o que tinha me acontecido na tarde de ontem, porque penso que posso confiar em meu namorado para ouvir meus problemas. Não que eu esperasse que Jason viesse com uma solução para a ocasião – porque ele é atleta e não um músico, de modo que não me adianta nada -, pelo fato também de ele ser um garoto e não vive os meus dilemas femininos. Tudo o que eu escutei de dele foi:


- Que barra. Quer ouvir qual foi a citação do treinador para o treino de hoje?


O treinador do time de basquete da escola sempre tem uma citação ou um provérbio para todos os dias da semana para informar e motivar a sua tropa – exceto, claro, aos sábados e aos domingos. O treinador Rodriguez, ou somente R, é o maior saco, porque ele é o nosso professor de Educação Física e nos faz correr 3km em volta do campo para nos “aquecer”. Tenho que comentar que nunca nem completei um 1km de tudo aquilo. E além do mais, suas citações não significam muita coisa. Só: CORRA PARA FAZER CESTA ou FAÇA CESTA ou MIRE A CESTA ou CUIDADO COM AS COSTAS.


O semestre só começou ontem e eu já estou me ferrando.


É maravilhoso o quanto eu me esforço para não ser uma babaca, mas quero ver daqui há um mês, na apresentação de guitarra, para darmos as boas vindas à Reitora Flor, que, à propósito, é na mesma manhã da apresentação de violão, cuja música ainda não foi definida.


O meu mundo não podia estar pior.


Ha. Claro que sim.


23/JANEIRO – 15:11h – QUINTA-FEIRA – COLÉGIO (AULA DE MATEMÁTICA)
- Evans! Eu a avisei! Avisei-a para NÃO publicar a matéria! O que você quer, afinal, sua magrela esquisita? – Jamie Latoy, a capitã das líderes de torcida (do qual Taylor faz parte), estava espumando na mesa do refeitório que eu sempre divido com T, Zack (seu namorado) e as amiguinhas populares da T. Jamie praticamente largou o jornal da escola, que estará em circulação na manhã de amanhã, em cima do meu prato, o que não foi muito legal da parte dela.


Jason nunca almoça comigo, porque diz que tem a “obrigação” de estar junto ao time. Uh, que sorte eu tenho. Aquela hora era uma ótima hora para ele estar sentado ao meu lado, defendendo-me. Não que nunca fui xingada de “esquisita”, mas magoa. E quanto a isso, não posso fazer nada – a não ser, claro, tingir, porém (pode soar ridículo e insano) adoro ser ruiva. Meus fios têm praticamente a mesma tonalidade dos da Tory Amos, aquela cantora/pianista super simpática e fofa que sempre está em festivais tipo a Warped Tour. E é verdade, meio que sou fã da Tory. Mas ela, ao invés de mim, é famosa e não tem que lidar com pessoas que acham que ela devesse entrar o Clube de Teatro, e não para o Clube de Música.


- Jamie, caia na real. A diretora descobriria sem a minha ajuda. E vocês deveriam saber que não é certo – eu sussurrei, tentando não demonstrar esse ato. Taylor estava de olhos em mim, mas, ao mesmo tempo, parecia que não estava muito a fim de se focar. Bom, nada que envolva roupas rosa, esmaltes coloridos, penteados ou quem-beijou-quem-na-festa-de-ontem a faz se interessar. E, naquele momento, eu estava agradecendo muito a qualquer deus que estava disposto a me ajudar.


- Quem decide o que é certo e errado somos NÓS, não VOCÊ, sua babaca. Ai meu Deus, eu vou ACABAR com você – Ela falou um pouco alto demais, enquanto agitava os braços como uma lula gigante e bizarra.


Taylor suspirou de modo dramático, como sempre faz quando Zack fala demais dos jogos de Futebol que vive assistindo na TV, e olhou para Jamie com uma cara de nojo. Após mastigar a salada de frutas da sua boca e engoli-la, disse:


- Jamie, dá uma corridinha até a enfermaria. Acho que você perdeu seu cérebro por lá – seus olhinhos praticamente cristalinos de tão azuis se estreitaram de um modo “saia daqui, sua lesada”.


Eu sabia que Jamie não deixaria barato. As duas nunca se suportaram. Jamie odeia a Taylor mais ainda por ter de aturá-la no time das cheerleaders. Quero dizer, não há nada mais apropriado para a T fazer do que estar saltando pelo campo com aqueles pompons coloridos e com as roupas curtinhas. Isso é bem o tipo de coisa que somente Taylor consegue ficar encarregada. Ela é a queridinha do todos por tal dom. Nem mesmo eu consigo fingir que não estou prestando atenção naquelas dancinhas ridículas que ela inventa no meio dos jogos.


- CALA A BOCA! – agora Jamie realmente gritou. E gritou isso para a Taylor. Eu fiquei tipo “Ok, Deus, por favor, por favor, não faça com a Taylor pule em cima dessa cadela agora”, porque seria realmente péssimo. Mas Taylor somente fez um gesto obsceno com o dedo da mão direita e sorriu de forma irônica. Não é por nada não, mas eu realmente acho que a Taylor, sendo como o maior exemplo de beleza e de comportamento dessa escola, deveria parar de agir feito a Avril Lavigne. Pode parecer que não, mas os professores e os coordenadores não ficam muito satisfeitos com esses gestos que nos fazem parecer um bando de moradores de rua. E a Taylor é linda demais para ser associada a moradores de rua. Mas, bom, tanto faz. Ela nunca escuta ninguém, nem mesmo a mim.


Ela esperou Jamie sair do refeitório para acertar as contas comigo.


- Do que aquela maluca está falando Lils? Que droga de matéria é essa? – Ela veio pra cima de mim toda estilo entrevistador de Tv.


Ok, eu não contei a ela, é verdade, mas só porque sei que se eu contar, T arrancará minha cabeça e a usará em espetinhos de churrasco na próxima festa em sua casa.


- Hummm, nada, T. É totalmente uma bobagem – puxei o jornal para o colo, de modo que ela não pudesse alcançá-lo.


- Fala sério. Não parece bobagem. Jamie parece bastante furiosa. E aí? Qual foi a besteira da vez? – agora Taylor parecia bem a fim de me torturar com a sua voz profundamente pressurosa.


Ah, Deus. Eu não posso contar a ela. Não posso, porque Taylor e o namorado, o Zack, também estão envolvidos na coisa toda. E provavelmente se meterão em problemas por minha causa. Mas o que eu posso fazer se eles praticam coisas erradas, e até mesmo criminosas? Porque, sinceramente, não acho nada legal eles matarem aulas para fazerem aquilo. Quero dizer, nossos pais PAGAM para TERMOS aula e não para ficáramos nos fundos do estádio de basebol. Taylor não pode achar que eu vou encobri-la para sempre, não é?


- Não posso contar, ok? – eu disse bem pequenininho.


- Ah meu Deus, é tipo segredo? O quê? Você vai detonar com alguém? Ah, por favor, me diz que é com a Mary Flint! É com ela? - agora Taylor praticamente quicava na cadeira, toda animadinha. Eu gemi.


Mal ela sabe que é ela que eu vou detonar se não conseguir armar um plano para suspender a distribuição do jornal, amanhã. Porque se eu não fizer alguma coisa, eu vou estar ferrada. Taylor nunca mais vai olhar para mim.


Eu meio que me esqueci que Jamie tem acesso à redação do jornal. Ela tem porque é a capitã do time de vôlei feminino e do time das puxa-saco da diretora. Quero dizer, tudo isso é muito injusto! Eu trabalhei metade das minhas férias de inverno em cima dessa matéria e agora que consegui divulgá-la, terei de voltar atrás. Ontem, quando deixei o texto com Mark, o editor e digitador do jornal, não pensei em T ou em Zack. E nem na minha reputação.


Bom, não é como se eu tivesse uma reputação. Só a reputação de estar em todas as apresentações de guitarra e de violão da escola, desde o sexto ano. Ah, e de ter uma coluna no jornal, há um ano e meio. Ainda que eu seja ruiva, e pelo jeito, meus colegas não são muito faz de pessoas assim, o fato de eu estar namorando o capitão do time de basquete - que não perde as finais há oito anos – impede da maioria dos estudantes de me chamar de “esquisita” ou “fracassada”.


Não que eu seja a menina mais popular da escola. Longe disso, muito longe disso. Ninguém quer ver a presidência do conselho estudantil nas mãos de uma mutante flamejante. Preferem dar o cargo à meninas louras ou morenas, que só ligam para a aparência e para a moda. E que acham que podem diminuir o tempo das aulas e aumentar o tempo dos esportes ou dos almoços. Só que a maioria nem liga de fato para o que elas desejam modificar – não que isso realmente dê certo, porque para as ordens entrarem em vigor, a diretora Rings tem de aprovar, e ela finge que quer considerar a lista, mas nem a lê, somente diz que “a ordem está ótima do jeito que está” – só querem ver uma menina linda mandando nela.


Taylor ainda me encarava com aquela cara de “eu VOU fazer você falar, querida”.


- Lily, você não pode me deixar fora disso! É muita crueldade! Não vou conseguir esperar até amanhã! – seu modo de falar de princesa misturado ao do de Jack Bauer, deixava-me cada vez pior e mais desesperada. Tentei ignorá-la, o que é praticamente impossível, porque quando Taylor quer alguma coisa, ela inferniza você e no final você não suporta mais e entrega o jogo todo.


- T, chega. – eu fiz sinal de “pare” com uma das mãos – Você vai ter que esperar. Não posso contar. É tipo... Uma surpresa, entende? – uia, desde quando eu minto para a Taylor? Pensei que só mentia para a minha avó. Nossa, Lily, como você é uma fracassada.


Que bela desleal eu sou.


- Humm, sei. Que tipo de surpresa é? Eu vou gostar? – ela suavizou o rosto, agora um pouco mais pensativa.


Droga. Eu odeio vê-la feliz quando sei que vou magoá-la. Como no dia em que ela me disse que estava “apaixonada” por Kori Moore e me pediu para ir falar com ele para averiguar se rolava algum sentimento mútuo, quando estávamos no oitavo ano. Só que não rolava nenhum sentimento por parte do Kori, porém eu não podia dizer isso a ela. Então disse que ele a achava a melhor corredora da escola – naquela época Taylor, além de ser cheerleader, também fazia parte do time de corrida – e que adoraria encontrá-la depois das aulas. Na hora, Taylor ficou tão feliz, que me senti um lixo por estar enganando a minha melhor amiga. Mas no final deu tudo errado do mesmo jeito, porque não consegui fazer Kori ir se encontrar com T e tive de contar a verdade. Depois de vê-la chorar a noite toda, jurei para mim mesma que nunca mais mentiria para ela, entretanto parece que não sou muito boa em prometer coisas nem em ser uma ótima amiga.


- Ah é. Você vai adorar. Total. – eu fingi um sorriso e a minha voz saiu irônica e desanimada. Mas Taylor estava ocupada demais chutando a canela de Zack para captar o tom de minha voz.


Ah, meu Deus. Eu sou a maior e pior mentirosa do mundo.


Oh, yeah.


Eu estou totalmente ferrada.


23/JANEIRO – 17:05h – QUINTA-FEIRA – CASA
O Sr. Martin me entregou a partitura da canção “White Riot”, do The Clash na aula de guitarra, depois das aulas. Eu tentei, sabe como é, dizer que era muita responsabilidade, que não estava preparada para enfrentar uma coisa dessas, mas ele somente me respondeu, naquela voz asmática e rouca:


- Lily, você faz aulas de violão e de guitarra há quase seis anos, eu SEI que você está preparada. Você é a melhor aluna da classe e a mais esforçada com que já trabalhei.


Isso, claro, me sensibilizou, porque o Sr. Martin é sempre muito sério e fechado, do tipo de professor que não abre a boca nunca, a não ser para corrigir as notas erradas ou para orientar onde os dedos devem ficar nas cordas. E, ainda que isso me desse um segundo de força para não desistir ou para não retrucar alguma coisa bastante besta, não pude deixar de pensar na catástrofe que será a minha apresentação.


Como sempre, eu sou a única aluna que freqüenta as aulas de guitarra e de violão, o que faz de mim uma “gênia musical”, segundo a Taylor (mas só porque ela não sabe nem mesmo pegar num violão). Eu adoro essas atividades extra-curriculares porque geralmente quem as pratica não é uma patricinha de saia rodada ou um cara que faz parte do time de luta. São pessoas impopulares que têm hobbies opostos a estar preocupadas com maquiagens ou massa corporal. São pessoas com quem eu me sinto verdadeiramente à vontade. Como a Jullie Mont, uma emo-indie superengraçada ou o Fred Freeman, um roqueiro que sabe ler em alemão (sem nunca ter tido uma única só aula dessa língua).


Só que, além do Fred e da Jullie e do todo o pessoal que costumeiramente freqüenta a aula, o Sr. Excluído do Mundo, o Tobi, entrou. Ele passou por mim e se sentou no fundo da sala. Foi, tipo, muito estranho e atípico, porque pensei que o Tobi não fosse do tipo que quer aprender violão. Na verdade, instrumento algum. Ele é mais do tipo que sempre está sozinho pela escola e é ignorado por todos. Ele é tão excluído que eu e Taylor o apelidamos de “Tobi”, porque é como se ele fosse um cachorrinho vira-lata vagando pelos corredores.


Uns minutos depois, tivemos de escrever nossos nomes em um pedaço de papel e colocá-los em uma jarra. Então o Sr. Martin sorteava duplas para o trabalho do mês, que não precisa ser Einstein para decifrar qual é o dessa vez. Com certeza é uma canção para o evento de boas-vindas da Reitora Flor.


Como a classe contem nove meninas e três meninos, cri que faria par com uma menina, no entanto, a voz do Sr Martin anunciou algo bem diferente do que eu tinha em mente.


- Lily Evans e... James Potter – Sr Martin franziu a testa e então nos procurou com o olhar.


Automaticamente tentei protestar, porque queria trabalhar com Tina Saund, a pessoa mais emo que já vi em toda a minha vida, mas não deu muito certo, porque eu quase perdi a fala quando vi que o Sr Excluído do Mundo sentou-se ao meu lado e disse:


- Oi – sua voz estava um tanto tímida e indecisa, mas com certeza não estava tão baixa.


Acho que se sentiu mal por eu praticamente ter dado um ataque porque ele é minha dupla. Pensando bem, essa minha reação não foi muito legal. Então o Tobi pegou seu violão e começou a limpar as cordas, como se estivesse tudo bem. Só que não estava tudo bem. Não estava tudo bem, porque, para mim – e para a Taylor – o James Potter é o Sr. Excluído do Mundo. O Sr. Excluído do Mundo nunca teve um nome real. O mais perto de um nome real que chegamos foi “Tobi”. E, sinceramente, se eu descobrisse que alguém me chama de “cachorrinho” pelas minhas costas, eu ficaria bastante brava.


- Por favor, Sr. Spenf, devolva o celular da Srta. Alff, porque distribuirei as canções às duplas. Por favor, Sr. Foss, se não fizer silêncio será convidado a se retirar da aula. – O Sr. Martin bateu a régua na mesa e esperou por suas solicitações. Quando a voz de todos morreu, ele disse: - Ok, obrigado. Eu levei em conta todas as sugestões lançadas pelos senhores, no final do semestre passado, e ficaria satisfeito se conseguirem chegar a uma concordância final e sábia. Portanto... – e então ele caminhou até nós, nas duplas, para comunicar as canções pedidas por cada aluno.


Eu só tinha feito uma sugestão. É a única canção que eu me adoraria ver tocando. E é a única canção que sempre sugiro desde que vi o videoclipe, tipo há uns dois anos. Sabe como é, depois do Nirvana, o baterista, o Dave Grohl, montou sua própria banda, o Foo Fighters. Não que eu seja absolutamente fã de Foo Fighters, porque o Dave não é, assim, o vocalista mais lindo do mundo. Pelo menos, não como era o Kurt Cobain. E não que eu seja maníaca e tarada pelo Kurt Cobain .__. A música se chama “My Hero”, que até foi parar no álbum chamado “Sound Of Superman”, que foi lançado para acompanhar a estréia do filme Superman Returns (mas nenhuma das músicas contidas no álbum chegou a ser usada no filme).


- Srta. Evans, eu sempre me pergunto do por que você sempre sugere esta mesma canção – O Sr. Martin, depois de conversar com Tom e Walter, chegou a mim e no James. Ele parecia bastante aberto às minhas explicações, e eu sorri pequeno.


- Humm, eu gosto dela – eu falei como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. Mas, bom, claro que é óbvio. Ninguém sugere uma canção se não gosta dela. É como concordar que “American Idiot”, do Green Day, é a melhor música do mundo quando você odeia a banda.


- Eu noto um grande entusiasmo vindo de sua alma, Lily. Talvez você mereça provar do porque insiste nessa música. A melodia é realmente encantadora – O Sr. Martin disse.


U-a-u. Eu tocaria a minha música. A música que EU escolhi. Aquilo era tão... Uau.


- O Sr está falando a sério? – eu tive de confirmar, no entanto, sei que Sr Martin nunca brinca. Ele nem mesmo é irônico ou algo assim.


Você deve estar achando que isso é ridículo, mas, bom, não é. Acontece que, pela primeira vez nessa aula, eu farei algo que eu QUERO, algo que eu de fato APRECIO.  Todas as canções que o Sr. Martin nos manda tocar são aquelas que eu não curto ou nem ao menos conheça.


- Eu pareço estar tirando com a sua cara? Bom, espero que não. – o professor falsificou um ar de seriedade maior.


Eu sorri, agora com maior liberdade.


- Não, senhor. Absolutamente não – respondi.


- Exato. Humm, a canção é de vocês, a menos que o seu par tenha alguma outra sugestão ou algum tipo de objeção – eu e Sr Martin olhamos para o Tobi. Quero dizer, para o tal James.


O James não pareceu se intimidar. Na verdade, ainda carregava aquela cara de “está tudo bem”. Eu me perguntei se ele conseguiria ficar tão calmo se algum dia souber que eu o chamo secretamente de “Tobi” ou “Sr. Excluído do Mundo”. Seu cabelo bagunçado caía um pouco nos olhos verdes e sua expressão agora parecia zombar de mim. Franzi a testa e comprimi os lábios. Qual era a dele? Fiquei rezando para que ele não estivesse zombando da minha escolha musical, porque eu teria uma síncope se não tocasse aquela música.


- Humm, não tenho preferências – ele resumiu num jeito despreocupado. Eu suspirei, aliviada.


- Oh, ótimo. Troquem idéias para que tudo seja finalizado hoje, tudo bem? – o Sr. Martin fez um aceno de cabeça e partiu para a próxima dupla, parecendo satisfeito.


Eu olhei para James, de novo. Uau, ele conseguia ficar impassível em todas as horas. Agora parecia que ele estava pensando em algo que o fizesse querer rir, mas se esforçava para permanecer com um ar avoado. Dei de ombros, mentalmente. ‘Que se dane”, pensei.


- Humm, a música que escolhi é do Foo Figthers, chamada “My Hero” – eu criei coragem de falar alguma coisa e achei que aquela era uma boa informação para passar a ele. – Conhece a banda ou a música? – perguntei. Poxa, não queria que ele ficasse com aquela cara de “eu sou demais, mas você não sabe”.


- Foo Fighters é bem legal – foi tudo o que ele disse enquanto tirava os cabelos dos olhos.


Fiquei pensando do por que ele nunca foi a um psicólogo. Ou talvez já freqüente um. Porque, sem querer ofender, mas ele é bem o tipo de pessoa introvertida com problemas de se socializar em qualquer tipo de ambiente. Talvez eu e Taylor, todos esses quatro anos que rimos pelas costas dele, só pioramos a tal doença dele. Talvez, todas as vezes que passamos por ele chamando-o de “Tobi, mentalmente, ele só queria que alguém fosse conversar com ele ou que lhe lançasse um sorriso amigo. Senti-me um pouco desconfortável sabendo que agora, possivelmente, ele estivesse escondendo toda a mágoa que todos lhe proporcionam todos os dias enquanto perambula pelos corredores e pelas salas de aula. Mas, por outro lado, julgando pela expressão de quem diz “não estou ligando”, ele não estivesse tão traumatizado assim e até mesmo fosse somente um cara de poucos amigos, que nunca ninguém os viu.


Tentei ser mais amistosa novamente:


- Tudo bem para você mesmo? Quero dizer, tudo bem se você tiver em mente outra banda ou outra música. Sério mesmo – ok, Mentira Número Dois de Lily Evans do Dia. Mas e daí?


- Não esquenta. Essa música é bem legal – James me disse, sorrindo pequeno. Eu devolvi o sorriso, automática e involuntariamente.


Bem, agora é pra valer. Não posso mais fingir que o Tobi, quero dizer, o James é uma ameba microscópica. Não posso mais ignorá-lo. Porque agora ele é o meu parceiro de violão. E, geralmente, pessoas normais não saem por aí maltratando seus colegas de aula. Exceto se esse colega for o Will Stroke, porque ele tem caspa e a joga em você sempre que passa. Principalmente se ele vir você no refeitório. Então, ao invés de você comer uma salada de alface crespa com molho de sardinhas, você vai comer uma salada de alface crespa com molho de sardinhas e floquinhos brancos de caspas. Nhammii. Tão apetitoso que nem vou entrar em detalhes.


Mas, bem, voltando ao Sr. James Potter, antigamente conhecido por Sr Excluído do Mundo. Eu estava tão animada por finalmente ter uma boa notícia e tudo o mais, que puxei papo com ele pelo resto da aula. Tudo bem, que no começo ele estava mais tipo “quem disse que eu quero falar com você?”, mas à medida que a conversa fluía naturalmente, ele foi se mostrando muito mais legal do que eu e Taylor imaginávamos. Não que eu e ela imaginávamos que ele era legal, para começo de conversa. Mas tanto faz. Eu estava gostando daquilo. Estava gostando dele. Porque não é como se eu pudesse dividir meus fanatismos musicais com meus amigos. Taylor só faz cara de enjôo e me xinga de fracassada. E Jason só ouve rap e hip hop e todas aquelas coisas que puxam pro lado sexual da coisa, e eu não aprecio muito esse estilo. Então dividir aquele papo com o Sr. Excluído do Mundo não foi o pior momento da minha vida. Isso porque, claro, o pior momento da minha vida está prestes a chegar e não envolvia James nenhum.


E, sabe, James não é a pessoa fracassada que eu e Taylor achávamos que ele era. Nem um pouquinho. Ele só é reservado. E até tímido. Mas é quase tão enorme e alto quanto Jason e os caras do time de Basquete. Os cabelos negros e despenteados caindo-lhe nos olhos parecem bem menos ridículos fora do ambiente escolar. Preciso também destacar que, de verdade, o James é um ótimo violonista. E ótimo vocalista, igualmente. Quando mencionei o Nirvana – a banda – ele tocou e cantou “About A Girl” só pra mim. E foi demais! Porque nunca ninguém cantou Nirvana para mim. Isso porque eu ando com pessoas que pensam que Nirvana seja o nome de um sabonete ou de uma marca de eletrodomésticos.


- Muito bem, classe, até a semana que vem. Preciso que os senhores tragam as partituras das canções escolhidas para ensaiarem, ok? E seria muito mais prazeroso se, da próxima vez, o Sr não dormisse na minha aula Sr Reinalds – o Sr Martin se despediu, pegou sua maleta e seu violão preto e saiu rapidamente da sala. Eu sei que ele foi se encontrar com a Sra. Carter, a professora de dança rítmica. Mas, claro, eles não sabem que eu e a Taylor sabemos desse segredinho deles, isso porque da última vez em que ficamos no auditório da escola produzindo os cartazes que convidavam alunos para o Clube dos Que Se Preocupa Com o Meio-Ambiente, seguimos a Sra Carter até o estacionamento. E devo acrescentar que foi muito traumatizante presenciar ele pegar na mão dela.


Eu ainda estava tentando enfiar meu violão na capa quando James me disse:


- Bem, até mais – ele estava sorrindo, e notei que seus dentes são muito brancos, tais como os da Taylor, provavelmente.


Parecia que ele estava fugindo de mim ou algo assim, porque, cara, vou contar a você, ele guardou seu violão com tanta rapidez que nem prestei a atenção.


- Ah, claro. E boa noite – eu falei, igualmente sorrindo.


Ele somente sorriu de novo, de modo bastante sincero, acenou e se mandou.


Assim que o vi desaparecer pela porta, consegui fazer com que o fecho da capa me ajudasse e saí correndo apressada até a sala da redação do jornal. Afinal, eu tinha que fazer ALGUMA COISA. Aquela matéria NÃO pode sair circulando por aí. Vai ser o fim da minha vida.


E para falar a verdade, entrei no túnel do fim da minha vida assim que girei a maçaneta da porta da redação e abri-a.


Imediatamente, eles se desgrudaram.


- Ooops. Nunca ouviu em bater na porta? – ele riu.


Com meu coração batendo rápido e com minha respiração acelerada eu somente grunhi. Não tinha nada a se dizer, porque eles sabiam que eu não aprovo aquilo.


- Cala a boca, sua lombriga laranja – Taylor riu, puxando meu editor-e-digitador pela gola da camiseta e beijando-o novamente. Eu desviei o olhar. Nunca agüentei as sacanagens da T. Claro que eu não saio pela escola espalhando o que ela faz, mas ela sabe que eu a acho uma idiota por tais coisas.


Fiquei parada com a mão na maçaneta, olhando para o jornal já pronto, em cima da bancada, rezando para que ela não o tivesse lido. Mas a julgar pelo modo como fui recebida, graças a Deus, ainda não o tinha visto, ou pelo menos não o tinha lido.


- Lily, desembucha de uma vez e se manda. Não vê que eu estou ocupada? – Taylor me olhou e sua voz estava sem paciência.


- T, eu preciso falar com Mark, a sós – eu disse.


Taylor fez um movimento violento e uma cara feia.


- T, é sério. É urgente – voltei a falar.


- Aaaah, é a tal surpresa? – sua voz mudou. Agora ela estava tingida de expectativa e Taylor dava saltinhos no ar, como se estivesse presenciando um beijo do Robert Pattinson com a Kristen Stewart.


- Hummm, é – confirmei, rezando para que Mark não entrasse na conversa e resolvesse dizer coisa que não devia.


- Aaaah, ok. Tudo bem – ela deu de ombros, toda marota. Em seguida, tornou a agarrar o Mark e nos deixou.


Finalmente.


Eu é que não (re)começaria a me impor de novo com ele por causa da T. Eu tinha assuntos muito mais urgentes para se tratar do que ficar falando da cabecinha oca da Taylor.


Ao invés de lhe dar mais uma bronca pela sacanagem dos dois – ei! A Taylor JÁ TEM um namorado -, corri para o computador.


- A minha coluna não pode estar no jornal de amanhã – eu falei desesperada.


Mark somente riu e disse:


- Não viaja, Lily.  Não tem mais como tirá-la. Não posso extraí-la sem ter de refazer o layout, sem falar nas chamadas da capa. Eu teria de diagramar a capa de novo, imprimir e depois tirar mil cópias. Não vou me prestar para fazer tudo isso de novo, além disso, nem dá tempo até amanhã – ele me explicou.


- Mark, POR FAVOR – implorei.


- Não sei por que isso. A sua coluna é ótima. O assunto é de interesse público. Você está AJUDANDO o colégio publicando seu texto – agora ele estava surpreso, como que analisando a minha sanidade mental, que, tudo bem, nem existe.


- Eu só... Só não quero magoar e ferrar as pessoas envolvidas. Elas não fizeram nada contra mim – choraminguei.


Ok, aquilo estava ficando ridículo.


- Elas estão se AUTO-prejudicando. E, sim, fizeram, sim, algo contra você, afinal, você não é obrigada a se socializar com drogados. E você vai AJUDÁ-LAS. Tudo bem, a Diretora Rings não vai ficar satisfeita no começo quando souber, mas tudo vai ficar bem, no fim – ele tentou me animar.


Só que não animou. 

 


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N/A: Olá, todo mundo! :D
Eu só quero destacar que essa é uma das fics preferidas que já escrevi *-*
Se alguém não gostar, pode me xingar e se me encontrar pessoalmente pode rir da minha cara. Geralmente eu aceito tudo muito bem, ha.
Então... comentários, sabe? Eles significam muito muito muito. Ficarei eternamente grata a cada comentário! 
Por fim, boa leitura a todos!
Bjobjo :* 

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