Capítulo 11



07/FEVEREIRO – 11:16h – QUINTA-FEIRA – AULA DE QUÍMICA
Ainda não sei para que essa aula serve, mas pelo menos posso ficar escrevendo aqui, ao invés de prestar atenção nela, já que estamos aqui na sala de multimídia, porque o professor está fazendo uma revisão do conteúdo para a prova parcial que é daqui a duas semanas. O Sr. Lio pensa que estou copiando o que está nos slides, mas na verdade não estou escrevendo nem mesmo sobre química. Mas deixa para lá.


A Alex já me convidou para ir à sua casa nesse fim de semana para eu ver os novos pôsteres ou fazer qualquer coisa. Eu disse que tudo bem, porque quero distância da minha avó. Na verdade sempre quis, mas depois de ontem é a mais fatal realidade.


A Alex convidou todas as meninas, na verdade. É bom, porque eu só fico andando com o James e tal. Até parece que temos alguma coisa. Nem temos, pelamor! A minha avó é que tem sérios probleminhas e fica achando que sabe o que sinto ou sei lá. Acho que ela quer ser uma feiticeira do amor, ou algo assim. Que nem a Demi Lovato acusou a Selena Gomez de ser naquele episódio de Sunny Entre Estrelas, naquele dia que eu vi a Disney.


Enfim, esquece a Disney, a Selena Gomez, a Demi Lovato e a minha avó.


O negócio é que eu disse para a minha mãe que vou sair com o James após as aulas de guitarra e violão e ela ficou toda com uma cara esquisita. Não era o tipo de cara que a D. Julia provavelmente faria, mas era algo muito próximo de uma cara de felicidade misturada com Eu sabia, a sua avó está certa. E sabe, não gostei nem um pouquinho, porque como já não bastasse o Sirius, agora a pouco, antes de estarmos em aula, ter comentado na frente de todo mundo (do Remus, do Peter, da Zora, da Nichole, e da Alex) que até parece que eu e o James estamos de segredinho do tanto que andamos juntos pra cima e pra baixo e a minha avó ficar querendo me empurrar para ele, a minha mãe também fica achando que temos algo a mais.


Não sei o que está acontecendo com toda essa gente, não.


O mundo está conspirando contra mim, só pode.


 07/FEVEREIRO – 12:17h – QUINTA-FEIRA - ALMOÇO
Eu estava indo para a fila de comida, contando quanto tinha pegado de dinheiro da minha carteira, quando o James se encostou em mim, dando-me um susto.


- Ei – disse ele.


- Oi, e aí? – falei, ainda de olho nas moedinhas.


- Tudo legal. Você vai passar o fim de semana lá em casa?


- Aham, mas a Alex disse é que pra você se mandar pra casa do Sirius ou de alguém, porque não é para você ficar lá.


- Ah, noite das meninas, é? – ele riu.


- O fim de semana, na verdade. Mas, sim. É só para meninas.


- Que legal, vocês vão ficar brincando de maquiagem e de sei lá o quê?


- Dã, não. Essas coisas fazemos quando temos dez anos e não temos cachorro.


- Nos filmes é sempre assim.


- Você assiste a muitos filmes.


- Pode até ser. Você viu o Peter por aí? O Sirius o estava procurando. Falando no Sirius, você o viu depois do segundo período?


- Não vi ninguém depois que o sinal bateu para a primeira aula, Jay. Quem sabe ele já está pulando o muro e fugindo daqui.


- Ah. Também não vi o Peter, o que é muito estranho, porque ele é o primeiro a chegar ao refeitório.


- E daí? – a Alex se juntou a nós – Oi, Al.


- Oooi. Sai, James, preciso falar com a Lily – ela falou e parecia que era coisa séria.


- E eu com isso? Eu preciso me servir para comer, oras – o James retrucou.


- Ai, que saco você – Alex reclamou e ficou aborrecida.


Uau. Deve ser uma coisa muito importante, pensei, porque a Al quase nunca se aborrece com algo nem nunca disse que precisava falar comigo a sós. O que ela tinha?


- Fala, Alex. Até parece que o James vai contar a alguém – eu ri, mas daí, me virei para ele, totalmente séria: - Não conte a ninguém, senão não saio com você hoje.


- Não vou falar com ele aqui. E... vocês vão sair? – Alex fez uma cara de quem estava com vontade de vomitar, eu acho.


- Só vamos ao cinema – James respondeu.


- Hum. O que vão ver?


- Alice – falei.


- Ah! Eu vou junto! – Alex deu pulinhos.


- Quem disse que estamos convidando você? – James quis saber.


- Por que ela não pode ir, James? – eu quis saber.


- Bem, nós vamos após a aula de violão, e a Alex nem faz essa aula.


- E daí? – eu e ela perguntamos.


- Ela pode nos encontrar no cinema, oras – sugeri e Alex concordou.


- Hummm – o James fez, acho que não gostando muito.


- A Lily não é só sua, tá bom? – Alex falou, cruzando os braços, antes de pegar uma bandeja para se servir.


Corei. Ah, que ótimo, agora A ALEX TAMBÉM? Caramba.


Só que, por mais que eu tivesse corado, achei aquilo a maior mentira do mundo. O James nem me monopoliza, o que acontece é que temos muito mais em comum do que jamais imaginávamos. O que podemos fazer?


- Tá bom, leva-a com você, nem estou dizendo nada, oras! – James retrucou, rindo.


- É que o Sirius tem razão, sabe. Ela passa mais tempo com você do que com qualquer um de nós! – Alex lançou, agora com cara de alguém que estava considerando alguma coisa. Provavelmente a verdade de Sirius.


- E eu vou fazer o que se preciso do seu irmão por causa da guitarra, Alex? – me intrometi, agora ficando um pouco chocada, sabe.


Quero dizer, nossa, eu sou somente uma menina totalmente inútil e tem gente brigando por minha causa. A Taylor nem nunca brigou com alguém porque ficou com ciúmes. Certo que nunca tive muito mais de três ou quatro amigas, mas a Taylor era a minha melhor amiga, nunca precisou me dividir com alguém. Também pelo fato de que nenhuma das outras meninas populares jamais entendeu essa amizade que a Taylor tinha comigo, porque para elas, eu somente era uma fracassada que nunca mereceu se sentar à mesa dos populares. E, tudo bem, talvez tudo isso seja mesmo verdade.


- Tudo bem, mas ele está sempre na sua casa e você nem nunca me convidou para ir lá – ela revidou, e acho que estava começando a se magoar.


(nota mental: convidar a Alex para ir lá em casa, num dia desses)


- Mas nós precisamos ensaiar. Se você soubesse fazer o que o James faz, tudo bem, mas só que... bom, você não toca nada, então... só o seu irmão pode me ajudar – eu tentei explicar de um jeito legal, sabe, com todo jeito de melhor amiga, para ver se melhorava a Alex.


- Tá legal, entendi. Vocês são a dupla – ela respirou fundo, como se não tivesse mais com paciência de discutir.


- Caramba. Acho que vou sair daqui, antes que vocês realmente briguem – o James acabou de se servir e foi embora, para a nossa mesa dos excluídos e fracassados.


- Ah, finalmente – a Alex resmungou.


- O que foi, Al? Tipo, você acabou de...


- Olha, você é uma menina e a gente precisa conversar, ok? – ela me interrompeu, mas decididamente sua cara estava melhor; deixara de querer falar sobre a coisa do ciúme.


- Mas a Zora e a Nichole também são e são suas amigas igualmente. Qual é o seu problema? – eu quis saber. Essa história estava ficando muito sinistra.


- Mas elas não são você. E, bom. A Zora não é muito confiável. E a Nick... não sei. Acho que tenho um pouco de medo dela.


- Por quê? Ela é super fofa e querida. E você passou a tarde toda com ela, ontem!


- Eu sei, por isso mesmo. Ela é muito esquisita. Ela não pára de falar sobre coisas que nunca quero falar ou não entendo, sabe. Fica falando dos diários secretos dela e dos livros que já escreveu, mas que nunca publicou. E esses livros são satânicos e sádicos. É como se ela fosse reencarnação do Satã


- Ai, Alex, acho que você não está dando muita chance a ela, é isso. Vai ver ela tem algum problema ou trauma e por isso é assim. Sério. Como aquelas meninas que são estupradas ou castigadas cruelmente quando crianças, e quando crescem têm medo das pessoas e são extremamente fechadas e solitárias – expliquei.


Sei que já disse aqui que a Nick é esquisitinha, mas é somente o jeito dela, sabe. É só a primeira semana que é nossa amiga e, quem sabe, ainda não se sente a vontade conosco. E, tipo, ela adora o Tim Burton, e para mim isso não é nem um pouco estranho. Eu tenho uma meia três-quartos Tim Burton e a usava sempre quando tinha uns 14 anos.


- Tá, mas ela não deve ser esse tipo de menina.


- Como você sabe? Você nem nunca conversou com ela sobre isso!


- E como vou descobrir? Vou perguntar: “Então, Nichole, você já sofreu algum abuso físico ou sexual quando criancinha”? – Alex não entendeu.


- Claro que não! Não é assim eu se passa confiança a uma pessoa. Acho que ela só é fechada e ainda não se adaptou a nós. E isso é normal.


- Ela é estranha. Mas enfim. Não quero conversar com ela nem com Zora.


- Tá, então fala.


Estávamos no final da fila das comidas, trancando a passagem.


- Agora não – Alex respondeu, olhando para os lados.


- E quando você quer conversar comigo, então? Lá na mesa com todo mundo junto?


- Na saída, pode ser?


- Tudo bem.  – eu olhei bem para ela, com um ar realmente preocupado – Mas está tudo bem? Você está com algum problema?


- Estou, mas deixa pra lá. Depois você me ajuda.


Seguimos para a mesa.


É anormal ter esse tipo de amiga que só fala as coisas a sós e tudo. Com a Taylor, era muito mais aberto. Tudo era falado na mesa, para todos e qualquer um ouvirem. Ela não tinha essa coisa de segredo.


Será que é uma coisa muito ruim? Será que ela descobriu que minha avó é uma ogra que está perseguindo o James e tentando nos fazer apaixonar? Não faço a mísera idéia de qual seja o seu problema. Bem, deixa pra lá. Por enquanto.


Assim que nos sentamos, percebi que faltava alguém. O Peter tinha aparecido, no final das contas. Estava devorando seu macarrão ao alho com a maior pressa, como se tudo fosse terminar hoje. Mas... uma cadeira estava vazia.


Ah. Sabia quem faltava.


Sirius estava desfalcado à mesa.


Olhei para Nick, que comia em silêncio, somente nos observando a fazer ou falar alguma coisa. Tive pena. Ela deveria falar mais e assim se enturmaria com mais rapidez. E, convenhamos, a Alex não está ajudando nadinha julgando a menina com antecipação.


- Ei, Nichole – chamei-a. Ela me olhou como se eu quisesse fazê-la obrigá-la a comer vermes – Nós vamos assistir a Alice no País das Maravilhas na sessão das sete, lá no shopping, quer ir?


- Por que vocês vão assistir a esse filme? Avatar é muito mais legal! – Peter engoliu a massa que tinha na boca e disse.


- Avatar fica pra próxima, Pete – Alex disse.


- Aliiiiiiiiiiiiiiiice – Zora fez cara de “*-*”. Eu ri – É, Nick, vamos junto. Você adora o Tim Burton e o Johnny Depp, não é?


Acho que era uma overdose de olhos em cima dela, que a deixou temporariamente sem fala.


- Hum, não sei.


- Não sabe se adora o Tim e o Johnny? – Zora fez uma cara de surpresa.


- Não sei se vou poder ir – a Nichole respondeu.


- O que você vai fazer? Matar cachorrinhos para o seu ritual da Morte? – o Peter riu. 


Todo mundo, menos a Alex, olhou para ele com cara de Cala a boca, Peter!.


- Não. Eu vou ajudar uns amigos – ela negou.


- Que amigos? Pensei que você fosse nova aqui! – Zora quis saber.


- Não são da escola. São do hospital.


- Você trabalha em um hospital, depois das aulas? – eu perguntei.


- É, mais ou menos. Mas não ganho nada, porque é trabalho voluntário – ela me disse.


- É? E o que faz? Assusta criancinhas com as suas fantasias de Halloween? – Peter de novo riu.


- Não. Eu não preciso ir fantasiada. Eu só vou lá para brincar com elas e fazê-las rir.


Silêncio.


Woo. Sabe, agora que ela está falando nisso, devo dizer que sempre foi um sonho meu fazer uma coisa dessas também. Sempre quis ser uma Doutora da Alegria. Além de adorar crianças, gosto dessa coisa de poder levar esperança a elas.


Alex me olhou com olhões de monstro de desenho animado.


- Cara, isso é muito legal – Alex lhe disse.


- É, obrigada – Nichole agradeceu.


Todo mundo começou a perguntar como eram as crianças e o que ela fazia lá para animar todo mundo.


Só paramos quando ela disse que veria se dava para substituir alguém em seu lugar lá no hospital para ir conosco assistir ao filme.


Muito tempo depois, Sirius sentou na cadeira vaga com um sorriso travesso nos lábios.


- Opa, quais são as novidades? – Remus perguntou.


- Vocês estão liberados de seus deveres no sábado à noite: temos uma festa a comparecer. Alicinha me convidou e disse que eu posso levar quem quiser – Sirius fez cara de Eu sei que sou demais.


- Ah, e como você foi convidado? – Alex riu.


- Já disse. Alice me convidou. Ela gosta de mim, sabe como é – ele piscou maroto para mim.


- É uma daquelas festas das quais nunca somos convidados e que só vão alunos populares? – Alex perguntou.


- Claro, acha mesmo que eu os meteria em uma fria?


- Isso já é uma fria. – Zora disse.


- Sei, mas me diga uma coisa, acha mesmo que os donos da festa não irão rir da nossa cara quando nos vir lá? – Alex duvidou.


- Eu sou o convidado de honra, garota! Se vocês estiverem comigo, eu veto qualquer tipo de malandragem para cima de vocês.


- Convidado de honra? Duvido. – Peter disse.


- Se você não fosse meu amigo, Pete, juro que passava a cola da próxima prova de química toda errada a você.


- Convidado de honra só porque Alice gosta de você? – Zora riu, desdenhosa.


- Tanto faz. Alice gosta de todo mundo mesmo. Mas então? Por que vocês não estão me agradecendo por tornar a noite de sexta-feira de vocês menos monótona e chata? – Sirius cruzou os braços, insatisfeito.


- Olha, eu não vou nisso não, hein – Remus disse.


- Parabéns, Remus, ganhou meu voto para presidente da turma com essa sua personalidade amistosa – zombou Sirius.


- Eu não vou a festas desse tipo. Aposto como só vai ter aquelas comidas de rico, ui, ui, ui, alguém me dá um tapa – Nichole disse, arrancando risos.


- Quer saber, pessoal? Não devemos nos sentir diminuídos por ninguém e não podemos perder essa festa por nada – eu disse.


Até mesmo Sirius me olhou surpreso.


- Jurei que você fosse a primeira a renunciar esse meu convite, Lily – disse ele.


- Não posso me acovardar para sempre não é? Aliás, todo mundo tem de procurar e demonstrar a sua coragem uma hora. E essa festa é a hora perfeita para eu mostrar a todos que Taylor não manda mais em mim ou que ninguém pode me afetar mais – falei.


- Uau, você chegou a essa conclusão antes ou depois de tomar LSD? – perguntou Remus.


- A questão é que não nos importamos com a opinião dos outros – resumi.


- Humm, dá licença, mas acho que eu me importo um pouquinho, sim – Peter disse.


- Peter, não devemos ter vergonha de quem somos! – falei.


- Lily está certa. Parem de se preocupar com os que estão à nossa volta. Eles estão perdendo as melhores coisas que podemos oferecer e nos desprezam como se fôssemos baratas. Acho que chegou a nossa vez – James disse à mesa.


- Apoiado, senhoras e senhores, apoiado! James Potter para presidente! – Sirius brincou, aplaudindo.


Rimos, mas agora eu tinha certeza de que todos eles estavam com uma ponta de coragem no peito.


F.E.S.T.A.


Era o que eu queria há um tempo. De verdade. Eu não me importo nem um pouquinho se a Taylor e todo mundo que está me odiando vai estar lá. Essa gente já deixou de fazer parte do meu mundo há muito tempo.


 07/FEVEREIRO – 13:09h – QUINTA-FEIRA – AULA DE BIOLOGIA
Então, por que você está roubando o meu melhor amigo? - S


 Ah, tinha que ser. Não acredito que TODO MUNDO agora está achando que eu e o James passamos tempo demais juntos. Tá, não vou mentir, É VERDADE, mas e daí? Além do mais, ele só está me ajudando com a coisa toda da guitarra e do canto.


 Não o estou roubando de ninguém! Ele só está me ajudando em algumas coisas!


 Acho que vocês passam tempo DEMAIS juntos. O James nunca foi assim. Ele nunca me trocou por uma menina da aula de violão.


 Ele não o está trocando, ok?


 Ah, é? Então por que ele foi ontem à sua casa? Não me diga que ensaiaram.


 Tudo bem. REALMENTE não ensaiamos, mas só porque estou começando a ficar boa e não preciso do James ao meu lado o tempo inteiro para me dizer o que fazer, ou para ajeitar meus dedos ou para me fazer rir. Mas mesmo assim. O que tem? Desde quando ver um filme sobre uma menininha que cai numa ilha tem de tão revelador assim? Por acaso ISSO vai comprovar toda a idiotice da minha avó? Claro que não. Amigos vão às casas dos outros para assistir filmes ou comer bolinhos, oras. Claro que sim!


 Certo, não ensaiamos ontem, mas todos os outros dias, sim.


 Sério, o que você está fazendo com o James? Ele não pára de falar de você e quando pára, só fala sobre a porcaria da aula de violão e sobre o quanto você canta bem.


 Uau. Isso é mesmo esquisito. Mas, bom... Isso não quer dizer nada. Não é uma prova concreta de que a teoria da minha avó está dando certo. Quero dizer, eu também falo dos meus amigos para outras pessoas e isso não significa que esteja apaixonada por eles.


 Sei lá, ele só está feliz, o que tem de mais nisso?


 Eu já disse: ele nunca me trocou por uma menina.


 E eu com isso? Ele não está fazendo nada de errado.


 Tudo bem, não de ERRADO, mas de SUSPEITO, sim. O James sempre manteve certa distância das meninas, sabe. Ele nunca se empolgou em estar ao lado de uma, antes, e agora que você é nossa amiga, ele totalmente quer passar TODO O TEMPO com você, como se... Como se estivesse VICIADO em você.


 Nossa, eu sou uma droga! No sentido literal, mesmo. Não sei se devo ficar feliz ou chocada com isso.


 Sirius, você está exagerando. Ele só está feliz. Eu também estou, e daí? Isso não quer dizer que vou abandonar meu namorado ou meus amigos.


 Lily, você o mudou. Sabe quando foi a última vez que ele foi lá em casa à tarde ou à noite? Acho que já faz quase duas semanas. Ele NUNCA fez isso!


 Bem, e o que eu posso fazer? Converse com ele, então. Não é minha culpa.


A Alex me contou que você e ele iriam sozinhos ao cinema e que ele totalmente não gostou quando ela se convidou para ir junto. E acho que está gostando menos ainda agora que TODO MUNDO vai.


 Isso não quer dizer nada. Talvez ele achasse que ninguém mais quisesse ir ver o filme.


 Conta outra, Lily. Você sabe qual é a resposta correta.


 O quê? Que resposta é essa? E que PERGUNTA é essa?


 Você sabe.


 Não sei! Do que está falando?


 Bem, se não sabe, não sou eu que irei lhe dizer. Essas coisas têm de serem descobertas sozinhas. E por você.


 QUE COISAS?


 Ele parou de responder por bilhetinhos.


Cutuquei-o. Ele me lançou um olhar de Sai pra lá, Lily! e ficou me ignorando.


 SIRIUS! QUE COISAS SÃO ESSAS?


 Ele, agora, afundou a cabeça nos braços e fingiu dormir. Ou talvez estivesse de fato dormindo, já que é só o que faz em todas as aulas.


Agora quero saber: que coisa tenho que descobrir sozinha?


Alguém me ajuda, por favor?


 07/FEVEREIRO – 14:21h – QUINTA-FEIRA – AULA DE HISTÓRIA MUNDIAL
Eu totalmente não quero ouvir toda essa aula. Eu já sei tudo sobre a Primeira e Segunda Guerras Mundiais. Sei sobre Hitler, sobre os aviões, sobre todos os ataques, sobre todas as perdas.


O que quero mesmo ouvir e saber é sobre o que devo descobrir, que o Sirius me escreveu no período de Biologia. Sobre o que ele falava? Que eu estou roubando, sim, o James dele?


Acho que o Sirius tem sérios probleminhas.


 07/FEVEREIRO – 14:56h – QUINTA-FEIRA – AULA DE GEOMETRIA
Será que devo perguntar ao James sobre o que o Sirius está falando? Acho que não, senão vou ser totalmente uma fofoqueira, denunciando que o Sirius está com ciúmes de mim com o James.


 Por que você trás o seu diário para a escola? Assim fica fácil de alguém descobrir seus segredos – J


 Ai, ele já começou. Estava demorando para ele fazer isso. Ok, não vou responder, porque preciso me concentrar na aula. Apesar de estar escrevendo no meu diário, mas escrever aqui não é tão distraidor quanto conversar com o James por bilhetinhos.


 Por que eu gosto de registrar tudo na hora. E, tem razão, é mesmo um saco, principalmente porque daí todo mundo fica sabendo que tenho um diário, mas não pode fazer nada. Sempre fiz isso, desde os 10 anos.


 Droga, respondi. Eu sou mesmo uma fraca.


 É engraçado pensar que você tenha um.


 Por quê? Você acha isso muito coisa de filme ou de criancinha?


 Não. Só é mesmo engraçado, porque, se eu olho para as outras meninas, tenho certeza de que elas não saem daqui e vão logo correndo para casa para contar ao diário o que foi que aconteceu durante o dia inteiro.


 É, elas saem correndo daqui para qualquer quarto de motel.


 Ah, verdade? Não era BEM isso que eu tinha em mente, a princípio.


 Desculpa, escrevi sem pensar. Não sei se elas fazem mesmo isso. Tomara que não, e se sim, oremos para que usem algum tipo de proteção.


 É claro. Mas... qual é a graça de ficar escrevendo toda hora?


 Bem, primeiramente eu adoro escrever, então pra mim, fazer isso não é nenhuma pedra no sapato, e depois, é legal saber que não vou me esquecer das coisas que já me aconteceram. Sempre posso vir aqui e ler sobre o que fiz qualquer dia desses.


 Hum. Acho que eu nunca faria uma coisa dessas. Acho cansativo.


 Hum. Eu não.


 Então... você fica escrevendo sobre todo mundo?


 É, todo mundo que conheço e gosto. Apesar de que ando escrevendo muito sobre a minha avó, ultimamente, apesar de não adorá-la. E falando nela, você não vai ficar chateado por causa daquelas coisas que ela disse ontem, né? Porque ela é louca, sério. Eu mesma não acredito nem na metade das coisas que ela diz.


 Bem, levar a sua avó a sério, é como levar todas essas revistas de fofoca que ficam lançando casaizinhos famosos. Nem todo mundo acredita, né? E claro que não vou ficar chateado. Pareço estar chateado?


 Tudo bem, não, não parece, mas é que... ela é muito chata. Ela vai ficar falando e falando sobre nós até ir embora.


 E daí? Eu não ligo. É meio engraçado, até.


 Bem, eu também não ligo, porque nem é verdade, a gente nem vai ser um casal e tal, porque somos amigos, mas ela não entende.


 Então somente ria. Uma hora ela vai cansar, vai ver que não tem motivos para ficar falando de nós.


 É um pouco difícil. Ela me irrita muito.


 Uma hora ela vai parar, é sério.


 É. Hum... tudo bem para você se os meninos e a Alex , a Zora e a Nichole forem conosco no cinema?


 Claro, eles são nossos amigos. Sem problemas.


 É. Acho que vai ser legal.


 ;) Amanhã você vai trabalhar?


 Vou, sim. E você, o que vai fazer à tarde? Por que não vai jogar videogame na casa do Sirius?


 É, vou ver o que vou fazer. Talvez vá lá, sim.


 07/FEVEREIRO – 22:18 – QUINTA-FEIRA – CASA (MEU QUARTO)
Eu e o James saímos da escola, com os nossos violões, e fomos para as nossas respectivas casas. Eu queria trocar de roupa, porque estava com o mesmo traje o dia inteiro. Ainda bem que a minha avó não estava em casa quando passei por lá (compras, compras, compras, é o dialeto daquela mulher), porque não estava a fim de dizer que iria ao cinema. Apesar de que não iria sozinha só com o James, mas sei que ela viria com um questionário quilométrico, claro.


O James e a Alex já estavam lá no cinema quando cheguei.


- Oi, já compraram os ingressos? – perguntei.


O James franziu a testa para o meu casaco do Nirvana, mas disse que sim, então fomos até a fila de ingressos para eu poder comprar o meu.


- Ei, a Zora e a Nichole me ligaram. A Zora tinha um compromisso chato em não sei onde, que foi a mãe dela que marcou e não a deixou faltar. E a Nichole não conseguiu ninguém para substituí-la lá no hospital – a Alex me disse, arrumando a minha franja.


- Ah, que coisa. Elas são as mais malucas para ver o filme! – comentei.


- É, bem chato, mesmo – ela falou.


- E o Remus está lendo os livros de literatura para a prova e não vem. Nem o Peter, porque ele não gosta do Johnny Depp e prefere Avatar – James informou.


- Mas e o Sirius? – perguntei.


- Ah, quando saímos de casa, liguei para ele, e ele disse que estava tentando sair de casa também. 


- Ah bom. Então ele vem?


- Aham – James balançou afirmativamente a cabeça.


Comprei meu ingresso e nos sentamos das poltroninhas de espera ali fora. Sirius demorou uns dez minutos para chegar e foi correndo comprar seu ingresso, pois o filme iria começar em cinco minutos.


Eu sentei no meio da Alex e do James. O Sirius sentou ao lado do James.


Eu fiquei meio esquisita, sabe. Porque, do meu lado, tinha a Alex, que está com um problema (não, ela não me contou na saída o que tem) e acha que o James está me roubando para ele. E também tinha o Sirius, que está chateado com o James, fica dizendo que eu estou roubando o melhor amigo dele e, ainda por cima, sabe de uma coisa sobre o que devo procurar que eu não sei. Não estava me sentindo muito a vontade.


Toda hora eu sentia que o James me olhava, só pra ver qual era a expressão que eu estava fazendo, e sabe, isso estava me deixando com vontade de trocar de lugar com a Alex. Eu não me importo se as pessoas me olham e tudo mais, mas ele estava me incomodando. Eu estava me sentindo esquisita ali ao lado dele. De verdade.


No final, eu já estava um pouco enjoada de ficar ali, apesar do filme e tal.


- A gente podia comer alguma coisa, hein? – Sirius sugeriu, enquanto seguíamos os outros telespectadores para fora da sala de cinema.


- É, eu também estou com fome – Alex concordou.


- Tudo bem – dei de ombros. Eu também estava pedindo comida há um tempinho. Meu estômago já estava se auto-fagocitando de fome.


- Mc Donald’s? – James nos perguntou.


- Hum... Big Mc... – Alex sonhou acordada.


- Prefiro Mc Chicken  - falei, só por falar, mesmo.


Eu sei o que estava acontecendo. O Sirius estava ali só por causa de mim, porque não queria que eu roubasse de novo o James. E a Alex, caramba. Acho muito esquisito ela toda com ciúmes só por causa do James. Ou por causa de mim, não sei. Quero dizer, eu estava me sentindo a Bella Swan lá no cinema, quando ela foi com o Jacob e o Mike. Quer saber? Eu estava acostumada demais a não ser querida por todos à minha volta e ser amiga de uma pessoa somente. Sério, não estou gostando disso nenhum pouco. Não quero que as pessoas briguem por minha causa. 


E eu ainda estou pensando naquilo que o Sirius me escreveu... Será que ele estava somente brincando com a minha cara? Ou será que devo mesmo começar a me preocupar? Talvez com a sanidade mental dele... Que é pouca, devo dizer.


Enfim. O cinema. Ou melhor, o shopping.


Pedimos lanches diferentes e nos sentamos. Ninguém falou por muito tempo nem mais do que três ou quatro frases, porque todo mundo estava com uma fome do capeta e se concentrou na comida. Mas sabe o que eu senti? Que a Alex e o Sirius estavam de jogo comigo e com o James, porque toda hora que eu e ele falávamos algo um para o outro, algum dos dois sempre nos cortava e ficava: “Ei, Lily, vamos ver aquela loja ali?” ou então “Wooo, James, você viiiiu aquilo, cara?”. Olha, não sei qual era a tática infantil deles, mas estava me cansando. Eles não podem ficar nos interceptando a toda hora, não é? Além de ser muito idiota isso, é injusto. Eu e o James nem estamos fazendo nada de errado, ou estamos? EU ACHO QUE NÃO. Ou melhor, TENHO A CERTEZA!


Só que tudo piorou quando estávamos nos despedindo para ir para casa. O Sirius disse que ia passar numa festinha aí (ele, apesar de andar com o pessoal excluído, é bastante requisitado em qualquer lugar. Talvez porque ele seja o único a se prestar a fazer certas coisas) e não iria para casa àquela hora, e eu, claro, disse que iria de ônibus, porque é o único meio de transporte que me ajuda. A Alex e o James iriam pegar um táxi, apesar de a Alex ter me dito que a mãe deles se ofereceu para buscá-los.


O James perguntou bem assim, acho que chocado:


- Você vai de ônibus a essa hora?


- Eu vou de ônibus a todos os lugares – respondi, achando que ele estava exagerando.


O Sirius me olhou como se soubesse de algum segredo, mas disfarçou, conferindo no relógio de pulso as horas.


- Deixa ela, James. Até parece que a Lily não está acostumada com essas coisas, né, Lily?  - a Alex riu como se achasse que o irmão estava se passando por idiota ali.


- É, eu estou mega acostumada – concordei, também rindo.


- Tudo bem. Então eu acompanho você – o James então me disse.


A Alex abriu a boca e franziu a testa de um modo um pouco confuso, aborrecido e descrente.


- Cara, é só a Lily – Sirius deu um soquinho em mim, se dirigindo ao James.


- É, mas você sabe o que acontece em ônibus, além de assaltos? – O James fez uma cara de Sr. Sabe Tudo.


- Provavelmente estupros, mas... ah, relaxa. Eu tenho spray de pimenta – eu ri e logo fui remexer a bolso de mão à procura do spray.


- James... eu não vou para casa sozinha – Alex lhe disse, parecendo ofendida.


- Eu só vou levar a Lily – ele deu de ombros.


- James, não preciso. Tipo, eu sempre vou pra casa sozinha depois dos meus encontros com o Jason e... tudo bem – eu falei. Ok, mentira. Era uma mentira sobre eu estar “tudo bem” sobre ir para casa sozinha depois dos meus encontros com o Jason. Acho que ele poderia muito bem me deixar em casa, ou me acompanhar, ao menos. Mas não, o Jason mal consegue deixar a TV de lado, quanto menos me levar para casa. Pode ser que, o tempo que vai perder em me acompanhar e me deixar sã e salva no meu quarto, ele perca algum lance suuuuper decisivo para o jogo. Então, para que se dar ao trabalho, não é?


- E daí? Vamos logo, ou quer dormir aqui mesmo? – ele brincou.


Olhei para Alex. Ela nunca pareceu tão estranha.


- Certo. Nos vemos em casa, irmãozinho – Alex lhe disse, acenando e indo para a calçada, pronta para chamar algum táxi.


- Tá, chega dessa babaquice, vou indo, também. Tchau pra vocês – Sirius não pareceu tão chateado quando saiu caminhando pela noite, deixando eu e James ali, sozinhos.


- Não precisa fazer isso, sério – eu falei, enquanto andávamos para sei lá onde.


- Vamos de táxi – ele pegou a minha mão e me puxou para o asfalto.


Alex já tinha conseguido um carro perdido por ali, mas eu duvidada que restassem muitos. Sabe, Bedford não é Londres, querida. Não tem táxis em todas as ruas, aos montes. Mal tem lá na frente do shopping. E a possibilidade de encontrarmos um ao sairmos de casa a qualquer hora, como acontece direto em Sex and The City é de -200. Por isso que a Sarah Jessica Parker está em uma série, e não na vida real. Apesar de que acho que a série acabou. Acabou? Alguém sabe? Bem, tanto faz. Nunca assisti aquilo. É muito para a minha pobre cabecinha.


Acontece que eu fiquei achando muito esquisita essa história do James simplesmente querer me acompanhar. Se o Jason não faz isso, que é meu NAMORADO, por que o JAMES faria? Mas, bom, admito que seja muito legal saber que algum cara se importa o mínimo possível com o meu bem estar. Ou vida, realmente, porque ônibus são piores do que trens ou metrôs. Falo sério.


- Mas se é assim, porque a gente simplesmente não foi no táxi da Alex? Vocês podiam ter me largado em casa e ido para a de vocês. É um plano muito mais criativo e inteligente – questionei, tremendo de frio ali ao lado dele.


- Você percebeu que eles estavam muito estranhos? A Alex e o Sirius, percebeu? – ele não me respondeu e lançou outra pergunta, pensativo.


- É... um pouco. Mas... – achei que conseguiria não falar sobre aquilo, porque, sério, eu não queria falar, principalmente porque teria de mencionar a conversa com o Sirius e o ciúme repentino da Alex, mas isso seria muita fofoca, e detesto essas coisas de segredinhos compartilhados. Apesar do que fiz com a Taylor, mas deixa quieto.


- Acho que... não é somente a sua avó que está com algumas idéias falsas sobre nós na cabeça.


Decididamente isso é uma verdade que nem mesmo eu poderia desmentir ou ignorar.


- Não, acho que é só coisa de amigo com ciúme, sabe. Mas isso passa, com certeza – falei, desviando dos nomes de Sirius e Alex.


Ele me olhou, mas olhou de um jeito que me fez pensar que eu estivesse com alguma coisa errada em minha face. Tipo uma espinha que desse para ver até mesmo com a pouca luz dali, ou uma alface no meu dente.


- É, ciúme deve ser a resposta – James concordou, devagar, ainda me encarando.


Resposta.


Conta outra, Lily. Você sabe qual é a resposta correta.


Affe. Esse Sirius está me deixando louca com isso! Amanhã vou o infernizar tanto, que ele vai acabar me contando! Nem que seja à base de tortura física, mesmo. E eu sou ótima nisso, porque uma vez, quando estava obcecada pela Inquisição, pesquisei todos os tipos de tortura medieval e, sério, se eu fosse você não mexeria comigo.


- Pois é.


Ah! Um táxi! O James olhou para a rua escura e paramos o carro. Lá dentro estava um pouco mais quente e eu me senti agradecida.


- Então... Por que você faz essas coisas, hein? – perguntei.


- Que coisas?


- Olha, tenho certeza de que você não fica acompanhando todas as meninas que conhece. Então, por que largou a sua irmã para me deixar em casa? Eu já estou acostumada a andar sempre sozinha por aí.


- Bem, não deveria se acostumar a tudo. Além do mais, se algo acontecer a você, a apresentação de boas vindas da Reitora não seria a mesma sem você.


Fiz uma cara irônica. Mas aí fiquei aborrecida. Não com o James, não mesmo. Mas com o Jason.


- Se eu tivesse um namorado como você meu dinheiro não seria desperdiçado com muitos ônibus – suspirei.


- Talvez não – pausa – Por que ele não faz isso?


- Quem?


- O seu namorado. Quero dizer, se eu não soubesse que você realmente tem um namorado, acharia que não tem, porque mal os vejo juntos.


- Ah, o Jason é um mistério. Estou com ele há praticamente três anos e parece que não o conheço direito – fiz uma careta.


- Ele pelo menos conhece você?


Eu ri. O Jason mal sabe qual é a minha cor favorita.


- Acho que não. Não do jeito que deveria conhecer, já que... Mas o negócio é que nossas conversas se resumem a basquete e donnuts ou qualquer coisa que ele queira falar.


Silêncio. Eu só ouvia as rodas do carro nos conduzir.


- Posso perguntar uma coisa? Jura que não vai ficar ofendida? – O James perguntou depois de vários segundos.


- Pergunta – que mal faria ele me perguntar?


- Vocês estão apaixonados ainda? Você e o Jason.


Boa pergunta. Às vezes me pergunto isso também, à noite, antes de mergulhar no sono. 


- Não sei. Acho que sim. Mas daí, acho que não. Sabe? É difícil classificar que tipo de namoro tenho com ele. Jason não é do tipo que me liga ou que fala comigo na frente de todos no colégio. Na verdade, mal nos vemos. Às vezes acho que ele é apaixonado por si mesmo, entende? Mas, no fundo, é um cara legal – não faço idéia porque, de repente, comecei a fazer confissões ao James, ali, bem no táxi. Talvez porque eu já quisesse falar sobre isso há um tempo, mas nunca tive coragem de dividir com alguém, porque, fala sério, quem me ouviria?


- Você acha que ele ainda está apaixonado por você?


- Não sei. Não sei mesmo – minha voz estava tão triste que achei que aquela não fosse eu.


- Então... por que está com ele?


- James... – reclamei, mas aí vi que precisava continuar a falar – Talvez porque todo mundo que me conhece, exceto a minha avó, óbvio, diz que ficamos bem juntos.


- E isso é o suficiente? Quero dizer, você não deveria ouvir o que realmente sente?


- É. Deveria, mas é difícil achar o caminho certo. Talvez tudo isso seja uma ilusão do coração. Não é?


- Não sei, não entendo muito de relacionamentos – ele riu e eu me senti muito mais calma.


- Não, claro que não. Meninos nunca entendem – sorri.


- O que seria uma ilusão do coração? – ele me questionou.


- É tipo quando você acha que sente uma coisa, mas na verdade não sente. É praticamente uma mentira sentida – expliquei, tentando com que algo fizesse sentido.


- Não deve ser muito legal conviver com isso.


- Mas não sei se é mesmo isso.


- Tomara que não, então – ele disse, sorrindo, acho que para me tentar animar.


- É, tomara... – sussurrei distante.


Fiquei quieta até o carro estacionar na frente da minha garagem.


Assim como no domingo, quando voltamos de Beadlow, James pagou a corrida. Senti-me mal, muito mal. Acho que estava ficando deprimida. Quero dizer, já devo aquela corrida. Não quero ficar devendo todas as corridas a ele. Claro que além de deprimida, fiquei chateada, afinal, quem não ficaria? E eu não bati nele quando saí do carro.


- Seu dinheiro dá até a sua casa? – perguntei.


- Não, mas pego um ônibus – ele acenou para o motorista do táxi e fechou a porta traseira.


- Você me impediu de vir de ônibus para gastar todo o seu dinheiro comigo? – fiz uma cara zangada.


- Bem, se não tivesse o feito, nunca conversaríamos sobre o seu namorado. Não que isso seja um bom motivo, mas acho que você ficou melhor, não?


Pensei sobre a pergunta por dois segundos.


- É, é verdade – admiti, considerando meu coração muito mais aliviado – Mas não é justo com você. Espera aí, me deixa entrar e pegar algum dinheiro para o seu táxi – abri novamente a porta e pedi para o cara esperar um pouquinho.


- Não, Lily, qual é... – ele agarrou meu braço, achando aquilo ridículo.


- É rapidinho. Fique aqui – falei e ele me soltou, cedendo e rolando os olhos verdes.


Entrei em casa e claro que dei de cara com a minha avó no sofá da sala, mas estava dormindo.


- Oi, mãe – sussurrei, passando pela cozinha.


- Ah, oi, Lily, como foi o cinema? – minha mãe olhou para mim, enquanto ainda passava a faca dentro do pote de pasta de amendoim.


- Foi ótimo. Só vou pegar um dinheiro para o James e já volto – falei.


- O James está aqui? Cadê ele? – ela fez uma cara franzida e começou a procurá-lo pelo hall.


- Ele está lá fora – apontei para a janela e fui subindo as escadas.


- Humm, ele a trouxe até aqui? – minha mãe fez um O com a boca. Parecia muito impressionada mesmo.


- Sim, sim – falei rapidinho.


Peguei 30 libras e desci correndo.


- Até a minha casa não dá tudo isso, não – James riu, ao contar a quantia.


- É para pagar a corrida de domingo. Odeio ficar devendo para as pessoas – eu disse.


- Bom, tudo bem, né. Você falaria sobre isso até erradicar a dívida, não é?


- Pode apostar que sim.


- Hum. Boa noite, então – ele me desejou.


- Igualmente. E diz para a Alex que eu peço desculpas por qualquer coisa, porque sei que ela ficou chateada.


- Não ficou, não – negou ele.


Certo, James, vá tentar mentir assim para a minha avó. Não que vá dar certo, claro.


- Que seja. Tchau – acenei e esperei ele entrar no carro.


Só que ele não entrou. Não tão rápido. Primeiro ele me abraçou e me deu um beijo na bochecha. Eu fiquei Como é que é?, porque, acorda, nem o meu namorado faz uma coisa dessas. Devo acrescentar que após o choque mental, corei até querer sumir e fiquei toda sem graça? Não, você já sabe dessa parte. É claro que sim.


E, sabe, apesar de o James ser o menino mais esquisito de todos é também o mais fofo. De verdade. Como o J.P., amigo da Mia, nos livros de O Diário da Princesa. Mas considerando o que li no último livro da série, acho que não devo comparar o James ao J.P., porque acho que o James nunca faria o que o J.P. fez com a Mia. Mas tanto faz. É só um livro. Eu nem sou uma princesa ou sou apaixonada por um cara que está a quilômetros de mim, fabricando algum braço robótico que ajude a salvar vidas.


- Hum. Certo. Hum. Tchauzinho – falei, me distanciando o máximo possível dele, para que ele não pudesse enxergar o meu rosto, que estava quente e vermelho.


Eu percebi quando ele riu baixo, antes de entrar no táxi, e fiquei ainda mais imbecil.


Por todos os bois do mundo, como eu sou imbecil.


Voltei para dentro e encontrei a minha mãe tentando acordar a minha avó.


- O que foi? – a minha mãe me perguntou. O que ela quis dizer com isso?


- Como assim?


- Você está corada – ela riu.


- Ah, o frio. Eu estou com frio – parei – Vou lá para cima, então. Vou tentar ouvir um pouco de música e ir dormir, certo? – fiz gestos com as mãos, freneticamente, indicando o andar de cima.


- Tudo bem. Vou tentar despertar a sua avó e também vou indo dormir – ela me disse.


Maravilha.


Agora minha mãe ri de mim. Pelo menos não mencionou o James. Não para mim, ali. Quem sabe está pensando nisso.


Por que agora todo mundo está desconfiando de mim e de James? Que porcaria isso, cara. Eu me sinto como aquelas meninas famosas que estão nas revistas de fofocas amorosas. Nem tudo o que escrevem deve ser verdade. E daí se a atriz que faz a Alice em Crepúsculo está saindo com o Joe Jonas? QUEM se importa? Você se importa? Se sim, pelamor, vai aprender sobre a queda da Bastilha ou fazer algo de útil, sério. 


 07/FEVEREIRO – 22:41h – QUINTA-FEIRA – CASA (MEU QUARTO)
É, é isso aí. Agora não encontro paz nem mesmo no meu próprio quarto, que é o meu querido mundo. Parece que a minha avó ainda não entendeu que quando está escrito “NÃO ENTRE” e “MANTANHA DISTÂNCIA” em alguma porta é porque não é para se entrar. Parece também que não olha por onde anda, porque tropeçou na minha caixa, do tamanho de um baú, que abriga todos os meus mangás (sim, eu tenho muitos), e praticamente caiu no chão. Queria que o tivesse feito, porque daí eu teria algum motivo para rir, mas ela recuperou o equilíbrio mais rápido do que um gato caindo do décimo andar de um prédio, e claramente não achou graça alguma. Não que eu estivesse rindo, mas claro que ela sabia que internamente eu estava tendo um AVC de tanto gargalhar (não sei se dá pra morrer disso, mas que se dane).


- Que porcaria, Lily, porque você larga as suas coisas por aí? – ela reclamou, no primeiro segundo.


Hã, com licença, vovozinha querida, mas esse baú sempre esteve aí, bem onde você tropeçou. Foi VOCÊ que não o viu.


- Não sei, talvez porque eu precise de um terapeuta especializado em curar desorganização – respondi lá da minha cama. Não abaixei o volume do rádio, que estava tocando o último CD do All Time Low, porque, ei!, estou no MEU quarto. E isso, definitivamente, quer dizer alguma coisa.


- Você é muito insolente, sabia? – ela observou, cruzando os braços e intensificando a sua cara de Buldogue raivoso.


- Talvez eu tenha puxado isso de alguém – falei, mal me importando. Espera. Não me importando mesmo.


Ela suspirou para recuperar a calma ou para fazer com que seus cremes não desencadeassem uma crise alérgica em seu rosto, naquele minuto.


- Mas, então. Diga-me como foi o cinema com o James – D. Julia sentou na minha cama e fiz cara de Saia já daí!, que ela ignorou, como sempre.


Cinema com o James. Foi isso que a minha mãe disse a ela? Quero dizer, eu não tinha dito que iria ver Alice somente com a companhia do James!


- Não fui só com ele, D. Julia – apertei os olhos, agora furiosa.


- Hummm – ela resmungou, provavelmente achando que eu estava mentindo.


Que se dane.


- O que você quer aqui, afinal? – deixei escapar com a maior paciência do mundo.


- Quero saber quando vou conhecer esses seus novos amiguinhos. Os outros, porque o James eu já conheço – seus olhos azuis-esverdeados brilharam ao falar de James. E ela falou aquilo com extremo carinho. Que nojo.


- Em um dia depois do seu renascimento – respondi


Ela soltou um muxoxo de impaciência.


- Comece a agir de acordo com a sua idade, por favor? – pediu D. Julia.


Nossa.


- Você anda ouvindo Katy Perry? – perguntei surpresa e inocente. De Verdade. Não era ironia.


É que, não sei por que, esses tipos de frases me lembram a Kate Perry. Ou a Lady Gaga.


- Ah, por favor, você acha que passo o dia todo assistindo a esses clipes nojentos dessas meninas? – irritou-se ela.


- Ainda bem que não – concordei, com sinceridade.


- O que vai fazer no fim de semana? Achei que pudéssemos....


- Tenho uma festa no sábado, não posso fazer nada com você, desculpa – falei, mas claro que eu não estava sinceramente chateada.


Não sei se foi a palavra “festa” ou a palavra “desculpa” que a fez juntar as mãos, como se estivesse rezando ou agradecendo aos céus por algo, e sorrir feliz. Seu rosto de esticou como porco no sacrifício (?).


- Aaah, você vai a uma festa?! – sua voz estava toda felizinha.


- Acabei de falar que sim – apertei os olhos como se ela fosse surda ou louca. Mas espera, ela já é louca.


- Que notícia boa! Com que roupa vai? Acho que poderia vender essas coisas velhas aí e tentar comprar algo realmente decente e apropriado – seu dedo estendido apontou para o meu armário. Respirei fundo e contei até dez, para não me irritar muito - Talvez um Armani roxo, exatamente como aquela menina daquele filme com Meryl Streep compareceu ao Globo de Ouro do ano passado, mas claro, o vestido dela era longo, mas ainda assim era de um ótimo tom, que completamente casava e realçava o tom de pele dela, que é bem parecido com o seu, agora que estou me recordando... – seus devaneios começaram a me fazer arregalar os olhos – Ou... AH! Pode ser também algo parecido com aquele vestido daquela outra menina... aquela loirinha que fez aquele filme de porquinho... então, ela foi a uma pré-estréia de um filme que acabou de gravar, com aquela menina que protagoniza aquela saga de vampiros horrorosa, que eu particularmente detesto... é filme de banda... não sei bem...


- The Runaways? – interrompi-a para o meu próprio bem. E de meus ouvidos. É óbvio que é The Runaways. A Dakota fará a Cherie e a Kristen a Joan Jett. Mas claro que minha avó não sabe nem quer saber. Ela odeia filmes que contam alguma biografia. Principalmente se for sobre garotas de banda. Só gostou do filme sobre a Celine Dion, porque já viu algumas dezenas de vezes Titanic e adora a voz da mulher. Tudo bem, também acho a voz da Celine super ótima, mas, sabe como é, se eu tiver de escolher alguma vocalista na face da terra será a Hayley. E se não for a Hayley ou será a Taylor Swift ou a Gwen Stefani. O quê? A minha avó não pode me obrigar a largar os meus gostos musicais. Além do mais, ela mal sabe pronunciar Hayley ou Paramore.


E tem outra coisa: minha avó não suporta a Kristen Stewart. Ela pegou trauma de Crepúsculo, porque diz que a Stephanie Meyer destruiu a lenda dos vampiros, já que duvida muito que algum vampiro fosse, de fato, se apaixonar por uma humana, principalmente porque eles são seres do submundo, o que quer dizer que estão mortos, de modo que não têm sentimentos. Ela sempre diz que é como se nos apaixonássemos por uma vaca ou galinha. E sabe, tudo bem, minha avó é mega chata com essa coisa, mas até que essa analogia faz algum sentido. Não que eu não goste de Crepúsculo. Eu gosto, mas só de ir ao cinema, ver o filme e voltar para casa para assistir House ou alguma outra série de que gosto. Não cheguei nem mesmo a ler toda a série. Parei em Amanhecer há um tempão. Depois que a Bella se tornou vampira, para mim, a história ficou muito babaca e desinteressante.


- Ah, tanto faz. É esse tipo de filme que provavelmente você irá à estréia e tudo mais – D. Julia balançou os ombros, pouco se importando – Deixe-me pensar mais... Quem mais poderia...


- D. Julia. Pare. Não quero ir com um vestido de Grammy ou Oscar, ok? – fechei a cara, decididamente furiosa.


- E vai como então? Sem roupa alguma? – ela apertou os lábios e os olhos, desgostosa.


- Não preciso de sua ajuda, tá legal? Eu sempre me virei sozinha com essas coisas – falei, com uma vontade imensa de empurrá-la para fora da minha cama e arrastá-la para fora do meu quarto.


- UUUUHHH, então vamos ver que porcariazinha você irá vestir – seus dentes se arreganharam, fazendo-a parecer uma selvagem.


Ah, meu Boizinho querido! A minha avó é da selva! Alguém chama a proteção dos animais para levá-la de volta para casa?


Respirei (muito) fundo e falei, com a minha melhor cara:


- Isso aí. Agora dá o fora daqui? Por favor?


D. Julia me olhou com um nojo digno de alguma estrela de Hollywood e se retirou sem atirar nem uma palavra-ataque a mim.


Tudo bem. Assim que ela saiu daqui, decidi uma coisa muito importante: vou ver se posso dividir a ponte aqui perto de casa com a menininha sem chinelos. Acho que seria muito mais feliz lá. E eu poderia doar todas as minhas roupas a ela e seríamos uma família de duas pessoas bem feliz. Ou quem sabe, eu poderia atirar a minha avó lá de cima da ponte e acabar com tudo de uma vez. Qualquer coisa, digo que ela fugiu do hospício e queria testar as suas asas, que não funcionaram lá na hora, por isso bateu a cabeça no asfalto e morreu de traumatismo craniano. ISSO! PERFEITO!


Seria muito genial se não fosse tão do mal. 

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N/A: Oi!! Como podem reparar estou cumprindo totalmente o que lhes prometi, sobre postar semanalmente. Então, continuem comentando, que eu continuarei a postar .-.
Beeijo ;) 

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