Capítulo 10



05/FEVEREIRO – 09:03h – TERÇA-FEIRA – AULA DE INGLÊS
Sobre o que você acha que a Sra. Prince vai querer que nós escrevamos na aula de redação hoje? Acho que é sobre o tema 18, que é sobre o voto censitário, porque a ouvi comentando com a Emily antes da aula de agora – Al


 Tanto faz, todos os assuntos que ela nos traz são muito chatos! Eu mal sei o que colocar nas redações dela!


 Bem que ela podia cortar aquele cabelo que nem a Gwen Stefani no clipe de Bathwater.


 Hahaha, nãão! Não faz isso com a Gwen!


 Tem razão. Mas e aí? Preparada para a apresentação?


 Qual das duas? Tipo, para a de violão, tudo bem, até parece que eu não sei tocar a melodia, porém o seu irmão e o Sr Martin querem que eu CANTE! Você tem noção? EU NÃO SEI CANTAR! Ah, e para a de guitarra, acho que ainda não. Aliás, é por isso que o James está me ajudando. Coitado dele.


 Até parece, o James está super feliz em ajudar você, sério. Faz muito tempo que não o vejo tão feliz por qualquer coisa. Mas, espere aí. Cantar, CANTAR? E AAAAAAAAAAAHHHHH VOCÊ VAI CANTAR MY HERO?? Que coisa mais fofa!


 CANTAR CANTAR! Pois é, eu totalmente estaria um pouco mais felizinha se conseguisse cantar direito, sabe. Poderia ser como a Helena Bonham Carter no filme do Tim Burton, “Sweeney Todd”, eu não iria me importar. Eu sou pior do que a Paris Hilton! Tá, tudo bem, não sou tão ruim assim, também, vai.


 Caramba. Calma, Lily. Se o Sr Martin quer que você faça isso é porque sabe que consegue, exatamente como sabe que você é uma ótima violonista.


 Aham (: O James não contou a você essa parte? Que estranho, pensei que vocês contavam tudo um para o outro.


 Sei lá, vai ver ele se esqueceu. Mas e daí? VOCÊ VAI CANTAR MY HERO!!!


 Meu Deus, a Alex tem probleminhas. Muitos. E bastante. Eu aqui morrendo e ela toda alegrinha. Só deixo quieto porque ela é uma pessoa definitivamente muito fofa e amiga. Muahaha.


 Você não tem jeito, hein? Você é pior do que eu! E olha que eu já me achava muito louca.


 Hahahaha. Por isso que criaram um hospital só para pessoas doidas: porque elas se dão bem (:


 Ok, é melhor eu parar de falar com ela. Sério.


 Vocês irão ser pegas desse jeito - J


 Shiiu, aí. Vira para frente, James! Pare de se intrometer!


 Então eu posso falar com a Lily?


 NÃO, CABEÇA DE TATU! SAAI.


 Briga de irmãos é muito engraçado. Principalmente quando eles não podem falar, somente escrever. Ha!


 05/FEVEREIRO – 11:45h – TERÇA-FEIRA – AULA DE INGLÊS (SIM, DE NOVO)
Vocês duas já acabaram ou vou estar me intrometendo DE NOVO?


 Hahaha. Não, pode falar, James. A Alex resolveu dormir. Olha só.


 Fico feliz, ainda que ela não devesse fazer isso, porque a Sra. Prince bate com a régua no Sirius todas as vezes que ele dorme em sua aula. Mas é melhor ela dormindo do que vocês conversando sobre o Justin Bieber ou sobre os Jonas Brothers.


 Nem estávamos conversando sobre o Justin Bieber ou sobre os Jonas Brothers! Estávamos conversando sobre o novo filme do Tim Burton: Alice no País das Maravilhas. Bem que podíamos ir ver, hein?


 Sim, claro. Parece ser bem legal, apesar de eu nunca ter visto o desenhozinho.


 Você NÃO conhece a história da Alice? #choqueforever


 Claro que conheço, mas nunca vi o desenho.


 Ah bom. Mas tanto faz, você não precisa ter visto o desenho para entender o filme do Tim, porque o filme se passa 10 anos depois da história original.


 É, eu estou sabendo. Ei, eu estive pensando: quando é o seu aniversário? Não me lembro se você já me disse isso.


 Acho que não. Bem, não me lembro. Eu sou péssima também em me lembrar das coisas que já falei ou tenho que falar. Faço aniversário dia 13 de Janeiro. E você?


 Dia 20 de setembro.


 Legal, eu gosto do mês de Setembro, não sei por que, hahaha. Eu odeio Janeiro, sempre estamos em férias no meu aniversário, daí não tem ninguém para convidar para a minha festa.


 É verdade, deve ser chato, mas pelo menos em férias você não precisa levantar no dia seguinte para ir à aula.


 É, nem no próprio dia 13. É engraçado, porque 13 é o meu número preferido. E todo mundo tem medo dele por causa das sextas-feiras 13.


 13 é um número amaldiçoado HOHO


 Possivelmente. Talvez seja por isso que eu sou tão azarada!


 Até parece. Depende da situação.


 Não, não depende. Sou SEMPRE azarada em qualquer situação. Sério. Você se surpreenderia se soubesse de algumas.


 - Srta Evans, você vai continuar por muito tempo a não prestar atenção na minha aula? – levei um susto quando ouvi meu nome ser proferido pela Sra. Prince.


Ooops. Os bilhetinhos! E sempre sou pega quando estou conversando com o James, porque nas vezes que conversava com a Alex, agora a pouco e no primeiro período, ela nem ligou para o fato de que eu e a Al estávamos mais interessadas em escrever no papel que passávamos uma para a outra do que na aula. Acho que na verdade quem é amaldiçoado é o James e daí ele me passa a maldição dele sempre que fazemos isso (conversamos por bilhetinhos).


- Hum, não, não Sra. – tive que falar e o James começou a rir silenciosamente. Eu deveria ter azarado ele ali, mas não tenho uma varinha, que pena.


 05/FEVEREIRO – 12:25h – TERÇA-FEIRA – ALMOÇO
Sabe, eu deveria ter pedido desculpas para a Zora e para o Sirius quando coloquei o meu pé na frente deles e os fiz cair ali no corredor, mas daí teria de explicar por que fiz isso, e eles iriam fazer mais uma investigação típica deles (e seria o meu fim, porque além de eu ser traíra, seria também fofoqueira, o que não é muito legal).


Tive de distraí-los porque a Taylor e a Jamie estavam no final do corredor e a Taylor estava berrando:


- ISSO É O FIM DO MUNDO! ELES NEM ELA PODEM FAZER ISSO COMIGO! HA, MAS QUERO VER SE VÃO CONSEGUIR ALGUÉM MELHOR DO QUE EU! ESSA GENTE NÃO AMA NINGUÉM MAIS DO QUE EU! VOCÊ VAI VER, VOU ACABAR COM ESSE CONSELHO ESTUDANTIL!


- Conselho Estudantil? Do que essa lagartixa loura está falando? – o Sirius olhou para mim e para o James, pois estávamos mais atrás dele e de toda a galera.


- E eu é que vou saber? – dei de ombros, pouco me interessando, porque eu e o James estávamos vendo um livro que ele estava me mostrando sobre povos cambrianos.


- O que será que aconteceu? – Zora perguntou para Sirius, que fez uma careta curiosa.


E foi aí que percebi que eles estavam falando da Taylor, porque conforme andávamos ficávamos mais perto dela e de seus berros furiosos, que agora eram um monte de palavrões. Como vi que ela estava totalmente histérica, mais do que estava ontem à tarde, quando inventei de matar aula, lembrei-me do que eu tinha escutado às escondidas e me apressei para alcançar os dois encrenqueiros mais famosos da escola. Estiquei a perna e os fiz tropeçar, arrancando gritos assustados de ambos.


- Ai, Lily, o que foi isso, caramba? – Sirius me olhou esfregando o joelho, porque ele tinha totalmente levado um tombo e feito o time de basebol rir dele.


- O quê? – me fiz de desentendida, olhando para os lados, como se não soubesse do que tinha feito.


- Você nos fez tropeçar, sua maluquinha, vai dizer que não! – Zora me atacou, enquanto escondia o riso (porque estava rindo do tombo do Sirius, também).


- Hã? Ah, sim. Mas foi sem querer, gente – puxei a Alex para o meu lado, porque sei que quando ela está por perto o Sirius se comporta um pouquinho melhor – Eeei, olhem, vamos logo, senão não vamos conseguir as melhores sobremesas! – empurrei-os para frente, para onde todo mundo estava indo, que era para o refeitório, claro. Ainda bem que eles não pensaram direito e não absorveram inteiramente o que lhes disse, porque todo mundo sabe que eu não sou, de jeito algum, defensora da comida daqui. Acho que até os velhinhos do asilo central comem quentinhas melhores das comidas que nos oferecem no refeitório.


O Sirius e a Zora ficaram olhando para mim ofendidos, mas logo se viraram e continuaram a caminhar.


- Nossa, o que foi isso, Lily? – Alex me perguntou rindo.


- Não foi nada, foi sem querer, oras! Mas vocês arrumam coisa em tudo, hein? – comentei inocente.


- Hum, seei - ela apertou os olhos, desconfiada.


Voltei para o lado do James. Ele levantou uma sobrancelha quando olhei para ele, mas o ignorei.


- Então, por que fez aquilo com o Sirius e a Zo? – James me perguntou baixo, mas ainda com os olhos nas gravuras de vasos antigos e de barro do livro que trouxera.


- Foi uma atitude desesperada de alguém que está confusa; não me julgue antes do tempo – falei.


Ele franziu a testa e me olhou meio rindo, meio confuso.


- Do que você está falando?


- Eu também não sei, mas acho que uma hora iremos descobrir – assegurei, apontando para uma figura de estátua de madeira do livro.


- Você está se tornando espiã ou somente está delirando? – ele concordou com a cabeça por causa do meu dedo na página, com a testa ainda enrugada.


- Possivelmente um pouco dos dois, nunca se sabe – eu ri e ele me acompanhou.


Acompanhamos a multidão até o refeitório, depois que ele guardou o livro na mochila, porque não é muito prudente levar qualquer material didático para fora das salas de aula.


 05/FEVEREIRO – 13:36h – TERÇA-FEIRA – AULA DE REDAÇÃO
Não dá para mim e a Al conversarmos com papelzinho agora. A Sra. Prince nos mandou fazer uma redação, enquanto ela está lendo uma revista sobre crochê e finge estar supervisionando a turma. Eu ainda não acabei a minha redação, nem mesmo o rascunho, mas aposto como iremos poder terminá-la em casa, porque é impossível fazer um rascunho e passá-lo a limpo na folha oficial em somente 45 minutos.


A Alex e quase metade da sala está olhando para as paredes, fingindo pensar. Eu estou aqui escrevendo, porque a Sra. Pince nem está olhando para nós.


 05/FEVEREIRO – 14:07h – TERÇA-FEIRA – AULA DE BIOLOGIA
O Sirius está dormindo. Antes de deitar a cabeça nos braços e parar de ouvir indiretamente a voz fanha do Sr. Hunt (que monologava sobre meiose e mitose), ele tentou me infernizar sobre o que eu fiz antes de almoçarmos. É claro que, por conviver com a pessoa mais irritante do mundo (a minha avó), não conseguiu me aborrecer, somente me fez divertir, o que é bastante normal, já que ele diverte todo mundo.


 Anomalias Cromossômicas                                                                    Corpúsculo de Barr: x - 1 


44A + XX = 46 cromossomos --> Mulher Normal                                                     1


44A + XY = 46 cromossomos --> Homem Normal                                                   O


44A + XO = 46 cromossomos --> Síndrome de Turner                                             O


44A + XXX = 46 cromossomos --> Síndrome da Superfêmea                                    2                    


44A + XXY= 46 cromossomos --> Síndrome de Klinefelter                                        1


 05/FEVEREIRO – 15:07h – TERÇA-FEIRA – SAÍDA
Saímos mais cedo, porque o Dylan acabou passando mal de tanto ingerir salsichas no almoço e acabou vomitando na sala, interrompendo o discurso do Sr. Regan sobre a Espistemologia (que estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conhecimento, motivo pelo qual também é tipicamente conhecida por filosofia do conhecimento). Embora este tópico se adentre mais na Filosofia, o professor nos disse que auxilia na Psicologia. Não que eu o tenha escutado o porquê auxilia, uma vez que nunca entendi nada sobre esta matéria.


Eu realmente não entendo porque temos de ser obrigados a ter aula de psicologia este ano. Não sei o que todas aquelas teses e síndromes psicológicas que nos ensinam podem fazer por mim. Mas, enfim, até parece que posso mudar o sistema didático daqui. Mal posso reivindicar melhores armários.


Eu estou aqui com a Nichole, que está falando sobre todos os bonequinhos góticos que existem em seu quarto, mas estou ocupada demais ouvindo Paramore no meu I-pod. Não que a esteja ignorando, longe disso; eu adoro bonequinhos, principalmente aqueles de O Estranho Mundo de Jack e de A Noiva Cadáver, todavia, preciso ter o meu momento-descanso, e este momento é perfeito, porque só estamos eu e ela aqui debaixo da Figueira e nem tem alguém por perto. E, sabe, Nick é uma menina meio esquisitinha, é verdade, mas ela sabe muito sobre moda (não só sobre a moda gótica ou emo), sobre a Amy Lee, sobre o Shinedown e sobre a Simone Simons. Além de ser muito calma e super querida. Ela não é nem um pouco a morte, como Siuris acha, porque nunca fala em cemitérios ou sangue. Tudo bem que acho que fala demais sobre vampiros e zumbis, mas não chega a me irritar. Na verdade, ela é praticamente o oposto da Zora, por exemplo. Zora está sempre ativa, analisando tudo e bolando planinhos, ao passo que a Nichole fica de cabeça baixa praticamente o tempo todo quando ninguém está falando com ela, somente lendo os livros de Lorde Byron, o romancista inglês mais conhecido do mundo.


O Remus e o Peter foram para a casa do Max por causa de um trabalho de química que vale 2 pontos no semestre. Não sei onde o Sirius está, mas Nichole me disse que o viu passar pela saída de emergência de segundo andar logo após o 5º período, o que conseqüentemente significa que ele escapuliu para outro lugar muito mais divertido do que o colégio, de modo que somente estamos esperando a Alex (que está na aula de Física) e o James (que está na aula de Cálculo).


 05/FEVEREIRO – 15:21h – TERÇA-FEIRA – SAÍDA
Agora vamos (eu e o James) para a minha casa. A Alex e o James estavam brigando, porque ela diz que sempre que ele não vai para casa depois das aulas, a mãe deles a obriga a arrumar o quarto dele, então a Alex estava tentando suborná-lo, mas eu disse que se ela arrumasse o quarto do James só mais hoje, eu prometia que comprava balinhas Wonka para ela e as traria amanhã para comermos como sobremesa após o almoço. Não que eu seja uma megaconsumidora de balinha Wonka, já que prefiro Halls (de preferência o de maracujá com chocolate, que ninguém gosta, porque todos o acham muito enjoativo), mas não me lembrava de outro nome de bala para citar naquele momento.


O James está me chamando, dizendo que é melhor nos apressarmos para chegar a tempo na parada para pegar o ônibus certo até a minha casa, então, vou fechar isso daqui.


Ah, que bom: a Nichole foi convidada para passar a tarde na casa dos Potter, então aposto como a Alex e ela irão passar a tarde inteira assistindo DVDS do Tim Burton. 


 05/FEVEREIRO – 16:33h – TERÇA-FEIRA – CASA
Não ensaiamos muito com a guitarra, porque ficamos tocando My Hero, no violão.


Sabe, cantar não é tão ruim. Claro que seria infinitamente melhor se eu realmente tivesse o dom, mas até que é divertido. Agora entendo porque esses cantores e essas cantoras dizem que cantar é uma das coisas que eles mais gostam de fazer. Claro que, por cantarem, conseguem dinheiro e tudo o mais, tipo, coisas de graça, mas é mesmo compreensível.


Ainda bem que meus avós não estão em casa. Minha mãe disse que eles tiveram que se encontrar com decoradores, porque D. Julia está tentando fazer uma seleção com eles para contratar o ou a que mais a agrada. Minha mãe tirou o dia de folga, porque trabalhou todo o fim de semana (não que eu estivesse aqui para presenciar isso, já que estava em Beadlow com o James), então está no escritório com aquele óculos engraçado que somente usa quando está em casa, porque é muito pesado e antigo. Acho que ela está renovando contratos com as afiliações de Psiquiatria dos hospitais locais, já que além de atender pacientes em seu próprio consultório, também assiste a hospitais locais de baixa renda. Acho isso fantástico, porque minha mãe deveria ter pelo menos três sósias para realizar tais tarefas, entretanto, não sei como, consegue fazer tudo sozinha.


A minha avó já acha chato ter que nos ouvir tocando guitarra, imagine se estivesse aqui para me escutar cantar. Ela totalmente entraria no meu quarto com uma machadinha, rindo até se cansar. Quero dizer, tudo o que ela, de vez em quando, ouve é música clássica e música de ópera, o que quer dizer que eu estaria matando seus ouvidos com a minha voz de esquilo.


Já cantei My Hero umas cinco vezes e tudo o que James diz é:


- Você nasceu para isso.


Só posso rir com essa frase, porque, acorda, se eu nasci para isso, para que a Joss Stone nasceu, então? Porque ela tem uma das vozes que mais adoro, claro.


A minha voz nem está muito boa, porque ainda está um pouco rouca pelo fato de eu ter gritado tanto no show do Oasis.


- Não sei se eu deveria acompanhar você, acho que você se sai bem sozinha – ele me disse depois da terceira vez que cantei.


Mas, sabe, não quero que a escola somente fique me escutando. Não sei se consigo fazer sozinha, porque toda vocalista precisa de alguém como segunda voz.


- Não, de jeito nenhum. Se você não me ajudar, não posso garantir nada. Sério. Se você me deixar na mão, vai ficar péssimo – implorei.


Ele fez uma cara esquisita. Ou talvez estivesse pensando que eu sou esquisita. Não sei.


- Não vou deixar você na mão, só quero que você faça o que sabe, sem ter que se esconder.


- Mas não estou me escondendo – protestei, tirando os cabelos dos olhos.


- Você vai estar se escondendo se eu acompanhar você a todo o momento, porque sua voz vai ficar misturada com a minha e ficará fraca.


Soltei um muxoxo e rolei os olhos.


- Como é que você sabe dessas coisas? Você nem é vocalista.


- Não preciso ser.


- Tá legal. Então, você poderia cantar o refrão comigo. O refrão pode ser, não é? – pisquei os olhos me sentindo uma manipuladora.


Ele riu. Pode ser que tenha achado que as minhas piscadelas se assemelhassem a de uma criança boba tentando convencer os pais a comprar a boneca mais cara da loja.


- Ok, o refrão eu canto – agora ele piscou de um jeito muito conquistador e eu ri.


Bati palmas de leve, comemorando.


Eu estava me sentindo em um estúdio, mas sem a parte de gravação musical.


Um tempo depois, depois de eu me dar por vencida e declarar que não queria mais cantar (porque minha garganta estava arranhando de tanto forçá-la), não sei por que, comecei a falar sobre a Taylor. Bem, não bem sobre a Taylor, mas sobre a conversa dela com a diretora ontem à tarde.  Achei um pouco idiota, porque geralmente a gente faz esse tipo de coisa, fofoca ou sei lá como chamam isso, com outra menina e não com um menino, porém o James não ficou tipo: “Lily, eu sou um cara, você não pode ficar falando para mim sobre o que faz quando mata aula”, ele só... me ouviu como qualquer menina faria.


- E daí que a diretora começou a falar umas frases super filosóficas, sobre pessoas boas e sobre como a Taylor não deveria ser uma personagem somente para todos gostarem dela e que também deveria ser feliz com o que lhe resta – contei a ele, enquanto comíamos morangos com leite condensado.


- Você acha que existe alguma remota possibilidade de ambas estarem drogadas naquele momento? – ele brincou, fazendo uma cara de pensador.


- Não! – ri – Elas estavam normais! E a Taylor estava praticamente chorando!


- Hum. O que será que a Taylor pode perder lá na escola?


- Não faço idéia. Tudo o que ela poderia perder é o time de líderes de torcida, mas isso já perdeu semana passada.


- Espera. Conselho Estudantil – ele murmurou, levantando seus olhos para mim, com a face brilhando como se tivesse acabado de achar a resposta – A Taylor berrou algo sobre o Conselho Estudantil antes de conseguirmos chegar ao refeitório, lembra? E se tem a ver com isso?


- Mas ela nunca se importou muito com a presidência.


- Não sei, não. Ela sempre gostou de andar com aquele broche azulzinho.


É verdade. A Taylor não anda sem o broche de águia azul com os dizeres “Eu Sou a Ordem”. Todos que não são populares têm um medinho de cruzar com ela nos corredores, porque, tendo o poder da presidência, tem igualmente o poder de lançar detenções em cima dos alunos. E sabe de uma coisa? Qualquer motivo é suficiente para ela mandar alunos para a sala da detenção. Ano passado mandou a Alicia Warren para lá somente porque a pobrezinha derramou um pouco de mocaccino em sua blusa vermelha de algodão.


- É, mas... mesmo assim...  – balancei a cabeça negativamente.


- Quem sabe a Jessie vai assumir a presidência enquanto a Taylor pega algum cargo menos alto, como tesoureira, por exemplo – James supôs.


- É, pode até ser. Ela odiaria ser desfavorecida lá dentro.


- Com certeza.


Acabamos com a taça de morangos e agora acho que temos de pegar um ônibus para voltar à escola, porque a aula de violão é daqui a pouco.


 05/FEVEREIRO – 17:52h – TERÇA-FEIRA – AULA DE VIOLÃO
Eu e o James não precisamos mais ensaiar. Quero dizer, por que deveríamos se já somos completamente profissionais nessa canção? Ainda mais, o negócio de hoje não foi violão. Não somente violão. Eu tive de cantar para o Sr. Martin. Ainda bem que ele nos direcionou a outra sala, porque eu não iria cantar para a turma. Sei que adoro todas as pessoas que fazem essa aula extra, mas não sou boa com público ao meu redor. Até posso aceitar uma ou duas pessoas, mas mais de dez? Não, não consigo. Espere, se assim é, como é que vou me apresentar para a escola inteira, daqui a duas semanas? Tem mais de 1000 alunos estudando aqui! Como vou subir no palco, cantar e tocar? Ai, por todos os bois do mundo, se eu não desmaiar de nervoso ou vomitar, pode ser que saia correndo, o que seria também muito ruim. 


Ok, não vou pensar nisso agora. Não vou. Não vou...


O Sr Martin chegou a nós primeiro, o que não é novidade. Ele sempre fala comigo primeiro, porque, segundo ele, sou a aluna especial dele (não sei se é meio Awwn, porque não gosto de pensar que sou melhor do que o Rob, por exemplo).


- Ei, meninos. Andaram praticando?


- Claro – respondemos eu e James, juntos. O que poderíamos ter respondido? Eu sempre estou tocando My Hero mesmo. É a minha canção favorita para se tocar no violão.


- Ótimo, fico satisfeito, porque a maioria não tem se empenhado o bastante – ele comentou, então bateu as mãos: - E você, Lily? Já se decidiu sobre a minha proposta? Eu ficaria encantado se você a aceitasse, porque acho que seria uma apresentação dinâmica e ao mesmo tempo diferente. Adoraria qu...


- Não se preocupe, Sr. Eu vou cantar – apressei-me a dizer, antes que ele começasse a implorar.


Sua expressão se levantou. Suas rugas se esticaram no grande sorriso que me lançou. É, é nessa hora que ele fica encantado.


- Você está sob grande responsabilidade, Lily, mas não se preocupe; não há nada o que temer. O Sr. Potter aqui lhe dará todo o suporte, não é? – o Sr. Martin virou o rosto para o James, relaxado – Afinal, uma dupla também é um time.


- É claro, eu não deixaria a Lily na mão – ele disse, olhando para mim, sorrindo.


- Obrigada, time – brinquei, devolvendo o sorriso.


James piscou para mim.


Eu já comentei que o James é o menino mais estranho que conheço? Antes o Zack ganhava fácil essa, mas agora que não ando mais com aquela galera, o James está comandando o pódium dos mais esquisitos. E o que mais me deixa surpresa é que ele se comporta desse jeito (esquisitamente) na frente das pessoas quando está comigo. Parece que ele gosta de me ver vermelha e envergonhada, o que não foi o caso neste prezado momento, porque eu estava achando aquilo tudo engraçado demais para me envergonhar ou corar por sua piscadela de amigo.


- Que... bonito – O Sr. Martin ficou sem graça? Hã? Que hilário. – Então... eu... vou indo ali – ele apontou para a parede e se mandou rapidinho.


Mas ele deveria me ouvir cantar. Não deveria ter se mandado.


- Mas... O Sr. não quer me ouvir cantar? – indaguei, franzindo a testa e achando a saída dele esquisita.


Ele retrocedeu.


- Ah, claro, que cabeça a minha! – ele comentou, mas mais para si mesmo – Vamos até a sala de multimídia, ali. Tudo bem? – perguntou-me.


- Claro – respondi.


O Sr. Martin se dirigiu à turma:


- Meninos, preciso dar uma saída com o Sr. Potter e a Srta. Evans, mas não parem de tocar!


- Ei, relaxa. É só fazer como faz lá na sua casa – James me aconselhou, dando-me um beliscão gentil.


Inspirei fundo, tentando relaxar.


Eu e o James saímos para o corredor e seguimos até a sala de multimídia.


Lá, um pedestal para microfone e um microfone estavam montados.


Woow, pensei.


- Vá lá e curta o momento – o professor apontou para os instrumentos.


- Huum – gemi, dirigindo-me até o microfone, que já estava conectado e ligado.


James me deu uma mãozinha, empurrando-me.


Beleza. Isso vai ser fácil.


Fiquei parada na frente deles, abrindo e fechando a boca como se fosse um ruminante abestado.


Posso sair correndo agora?


- Lily, cante, querida – O Sr. Martin abanou os mãos.


O James acenou com a cabeça e sorriu.


- Feche os olhos e finja que não estamos aqui – sugeriu James, mas era mais um pedido do tipo: “Somente faça, pelamor!”. O professor olhou surpreso para ele, mas concordou:


- Se isso a ajudar...


- Certo – eu disse.


Tudo bem, eu realmente fechei os olhos, tá legal? O que poderia ter feito, depois do que o James disse? Saído correndo? Ok, era a minha intensa vontade, mas de nada isso resolveria. Eu tinha de cantar. Simples assim.


Eu fechei os olhos e imaginei a sala vazia, sem o James e o Sr. Martin. Ah, assim está melhor, pensei.


Tive de buscar no meu cérebro a voz da Hayley Williams (não somente porque ela sempre me ajuda quando estou nervosa, mas também pelo fato de que já fez um cover dessa canção em questão e em sua voz sempre me lembro de toda a letra) para me recordar dos primeiros versos (que normalmente não me recordo), mas depois tudo pareceu extremamente fácil. Fácil de um jeito ridículo, que me fez rolar os olhos mentalmente.


Quando abri meus olhos, senti-me um tanto tonta, porque percebi que a sala estava um pouco nebulosa e escurecida.


Meu primeiro pensamento não foi: “Tomara que eu não tenha decepcionado!”. Não mesmo. Foi: “Woow, gostei disso!”.


Quando meus olhos se adaptaram a estarem abertos e enxergando pessoas ali comigo, vi o James sorrindo como nunca e o Sr. Martin com uma expressão mais encantada do que quando ouviu a Bayle tocar “We Are The Champions” no Festival Cultural há quatro anos.


- Não me lembro de ouvir alguma menina cantar tão certinho desde a minha última ida ao pub Glory. E isso já faz um bom tempo – foi o que ouvi do Sr. Martin.


Corei e enfiei um monte de cabelo no meu rosto.


Fui para o lado do James, que me disse ao meu ouvido:


- Parabéns, Encrenca!


- Bem, agora que tudo está terminantemente acertado, é melhor vocês treinarem até se cansar – o professor nos disse, abrindo a porta e nos oferecendo o corredor.


Eu e James sorrimos felizes.


Desculpe, Dana, mas você não é tão digna de My Hero.


- Eu ainda não sei qual será a ordem de entrada de vocês, mas estou pensando em colocá-los mais para o final da manhã, como últimas atrações. Preciso ainda estudar um pouco mais quais canções cada dupla apresentará, para conseguir formular uma lista definitiva – o professor não parou de falar, enquanto andávamos pelo corredor, de volta à sala de instrumentos.


- Eu não me importo com a ordem, desde que toquemos e eu não estrague tudo – tive de rir, só para não perder o hábito de me rebaixar. Ouvi James grunhir, desaprovando qualquer comportamento meu.


- Você acabou de provar que é muito mais brilhante do que sequer imagina, Srta. Evans – Sr. Martin me disse com sua voz mais sincera possível. Quero dizer, ele é sempre sincero, não tenho dúvidas, mas desta vez... havia um certo orgulho ao me dizer estas palavras. E não pude deixar de apreciar, claro.


- Obrigada, Sr. – agradeci, sem jeito, mas sorrindo.


James cutucou minhas costelas, como sempre. É impressionante o quanto ele adora fazer isso. Fico imaginando se faz isso também nas outras meninas, porém, aparentemente, não. Nunca vi a Alex ou a Zora dar um pulinho por conta do contado dos dedos dele em seus ossos. Não que isso me deixe irritada ou algo assim, mas ele tem uns comportamentos muito esquisitos, que me leva a ficar também esquisita. Mas esquisita por dentro, sabe.


Ele me cutucou e piscou todo fofo, acho que comemorando. Ri e devolvi um sorriso também.


Eu gosto de vê-lo sorrir, porque isso me faz igualmente sorrir. E olha que nunca fui muito de sorrir feliz. Principalmente sem motivos concretos, e é bem nesses momentos que eu sorrio com/para/por causa (d)o James.


O professor abriu a porta e nos deixou entrar primeiro. Alguns colegas levantaram os olhos dos violões ou dos seus parceiros e olharam para nós, só por curiosidade ou distração. De esguelha, percebi Gih e Wood sorrirem para mim, sabe-se lá por que, mas senti-me gratificada.


Sentamo-nos. O Sr. Martin, após um breve aceno, começou a circular pela sala aconselhando e auxiliando os outros alunos, como é de praxe. Eu e James voltamos ao nosso trabalho: violão. Ok, mentira. Somente ficamos conversamos super felizes, ao mesmo tempo em que fingíamos tocar um pouco. Meus dedos estavam sensíveis de tanto encostar nas mesmas cordas. Eu deveria comprar um pacote de palhetas, para não passar por isso sempre. Ainda bem que o James me disse que amanhã vai me trazer algumas das dele para mim. É engraçado o quanto ele está sempre disposto a me ajudar.


Acho que preciso descansar meus dedos e prestar atenção na canção que o Wood e a Gih estão tocando para mim e para o Jay. Acho que é “Don’t Speak”, do No Doubt. Que amor. Eu adoro a Gwen; claro que não tanto quanto adoro a Hayley, porque isso é impossível.


 05/FEVEREIRO – 18:34h – TERÇA-FEIRA – CASA (SALA)
- O quê? Desde quando você canta? – a voz rouca dela, por conta dos maços de cigarros que fuma, me perguntou, com a voz tingida de indignação e riso – Kristen! Você nunca me disse que a Lily cantava! – seu dedo enrugado, decorado por um grande anel de pedra cor-de-rosa brilhante, acusava minha mãe.


Torci o nariz. Esperei até hoje para contar qualquer coisa sobre a apresentação de violão (relacionada à minha voz sendo ouvida por todos e batendo nas paredes do auditório, daqui a duas semanas) aqui em casa, pelo fato de que não quero ficar espalhando boatos. Do que adiantaria dizer que cantaria se não tinha certeza se o faria? Pois agora sei qual é a minha certeza. Não que eu achava que a reação da minha avó fosse diferente da que me atirou agora a pouco.


Minha mãe, ao contrário de D. Julia, estava autenticamente surpresa.


- Mas nem eu sabia! – ela fez um gesto com as mãos, ainda me fitando.


- Ei, acalmem-se. Foi muito do nada. Descobri que posso fazer realmente isso hoje. O Sr. Martin me pediu isso semana passada, mas eu não queria, sabe, mas o James me convenceu – contei a elas e ao meu avô, que nunca abre a boca sem a autorização da minha avó, indo me sentar no sofá para tomar a minha vitamina que mamãe sempre prepara.


- Ah, então o James a convenceu? – claro que minha avó ficou toda extasiada e felizinha. Ela é praticamente doente pelo James.


- Convenceu, sim. Ele me deu a maior força e então ontem veio aqui e ensaiamos cantando também – falei, ignorando o tom serelepe de sua voz.


- Você não me avisou que ele viria aqui! Não acredito que saí para ouvir toda aquela gente que acha que sabe alguma coisa sobre decoração e não falei um oizinho para o James! – D. Julia ficou furiosa consigo mesma. E comigo, claro, porque senão não é ela.


Eu e minha mãe rolamos os olhos, porque, sério, essa mulher liga para os menores dos problemas! Estou dizendo: ela está obcecada pelo James! Que horror! Eu não gostaria de saber que a avó de uma amiga me quer todo o tempo por perto para fazer bolinhos para mim e me dizer o quanto sou fofa. Sabe, acho que não trarei o Jay para cá nunca mais. É capaz de ele precisar de um psicólogo para se destraumatizar dessa.


- Não importa – murmurei.


- Fico feliz que você esteja variando seus afazeres, Lily. O James parece ser muito mais motivador do que a Taylor. – minha mãe parecia bem feliz, mas não daquele jeito feliz-retardada-maníaca, como a minha avó. Acrescentou, agora ficando mais séria: - E por sinal, você ainda não me disse por que vocês duas não estão mais se falando. Os pais dela me ligaram no fim de semana, estavam procurando por você. Esqueci-me de lhe falar.


Minhas sobrancelhas se juntaram, preocupadas. Os pais da Taylor querem falar comigo? Por quê? Será que querem me culpar por terem sido obrigados a tirar a filha do time de líderes? Ou, pior, querem me culpar por ela ser uma drogada? Não gostei de saber sobre isso.


- Eles querem o quê? Mas você sabe do por quê? – perguntei, tentando não exportar o que estava acontecendo na minha mente.


- Não, eles não me falaram nada. A Sra. McGrow parecia bastante ansiosa – minha mãe balançou os cabelos, negativamente – Talvez você devesse retornar a ligação – ela deu de ombros.


Não, não mesmo. Não vou ligar para a casa da Taylor correndo o risco da própria atender ao telefone! Imagina que confusão seria! Ela falaria e mais falaria e depois desligaria na minha cara. E isso é bem a cara dela.


- É, talvez eu faça isso mesmo – fingi concordar, com uma voz de claro que não, mas ninguém percebeu nada.


- Então... Quando o James irá voltar aqui? – minha avó me indagou como quem não quer nada, mas eu sabia que ela queria tudo.


- Em um futuro muito futuro, D. Julia – respondi, fazendo uma careta.


Essa minha resposta não desmoronou sua curiosidade. Acho que ela não entendeu muito bem a minha ironia.


Terminei o meu suco, porque a minha mãe se refugiou em seu escritório e meu avô foi tomar um banho, e não preciso acrescentar que prefiro enfiar alfinetes nos meus olhos a ficar sozinha por muito tempo com D. Julia. Por isso, disse a ela que precisava terminar os deveres e arrumar as minhas coisas. Tudo bem, nem era mentira, já que meu quarto está sempre uma bagunça total, mas ainda não o arrumei. Enquanto estou escrevendo aqui, tentando fazer tudo rapidinho para começar de fato os deveres, posso escutar os toc toc toc dos sapatos irritantes de D. Julia batendo lá embaixo.


 05/FEVEREIRO – 19:22h – TERÇA-FEIRA – CASA (MEU QUARTO)
- MAS ROBERT! VOCÊ É HOMEM, NÃO ENTENDE! EU PRECISO DA MOLLY FLOWER PARA DECORAR A NOSSA CASA! PRE-CI-SO! – é o que a minha avó está berrando lá na sala. Essa idéia de ela sair procurando decoradores está endoidecendo a cabeça, já muito errada, dela. Mas, pelo modo, sem a tal Molly Flower a nova casa não vai render propostas para aparecer nas revistas de decoração de Londres. E a minha avó é do tipo que ama aparecer em revistas. Seja ela aparecendo, ou o Flame ou a cortina de florzinhas do banheiro da empregada.


Meu avô respondeu algo como:


- Mas ela decora as casas mais caras da Inglaterra. Ela não teria tempo para nos atender, e nós, dinheiro para pagá-la.


- AH, FECHA ESSA MATRACA! SOU EU QUE DECIDO SE TEMOS DINHEIRO PARA PAGÁ-LA! E PODE TER A MAIS COMPLETA CERTEZA DE QUE, SIM, TEMOS QUALQUER QUANTIA QUE ELA QUEIRA! – sério, ela devia parar de gritar. Daqui a pouco o vizinho da frente irá chamar a polícia, como sempre faz quando acha que aqui dentro está estourando a Terceira Guerra Mundial (que é praticamente toda semana).


Acho que minha mãe acabou de dizer:


- Pelo Amor de Deus! Será que dá para brigar um pouco mais baixo? Juro que daqui a pouco eu é que vou ligar para a polícia!


É, mamãe também sabe sobre a síndrome do nosso vizinho contra nós.


D. Julia retrucou:


- KRISTEN! FAÇA ALGO QUE PRESTE: ME AJUDE AQUI! SERÁ QUE NINGUÉM ENTENDE QUE SE CONTRATARMOS UM DECORADOR DE PISCINA NADA FICARÁ DO JEITO QUE PLANEJEI?


Não sei por que alguém contrataria um decorador de piscina para decorar uma casa, principalmente o tipo de casa que a casa de Londres ficará depois que o Extreme Makeover finalizá-la (e espero que seja o mais rápido possível), mas vai saber. Mas quem sabe isso seja somente uma expressão. Uma expressão tirada do fundo de um baú de 2.000 anos.


- Dá licença, mãe, mas acho que não posso nem quero ajudá-la. A propósito, como esta casa é minha, tenho todo o direito de encarcerá-la na lavanderia, se não maneirar o seu tom – a voz da minha mãe não estava a das melhores. Acho que ela totalmente queria ter o poder de prender D. Julia na lavanderia, mas claro que nunca faria isso.


- KRISTEN! – ouvi a voz de choque da D. Julia. Uia, agora deu certo. Acho que ela calou a boca, acabei de pensar.


Ok, não quero mais saber o que vai rola nessa partida de pingue-pongue verbal. Vou fechar a minha porta (evitando também que minha avó entre aqui sem ser convidada e sem autorização) e aumentar o volume da voz do Mika.


(P.S.: sabe, se o Mika não existisse ou não fizesse música, seria bastante provável que eu não visse graça em coisas gays-coloridas-fofas. E o Mika é um cara colorido, fofo e divertido – é somente a minha humilde opinião).


 05/FEVEREIRO – 21:27h – TERÇA-FEIRA – CASA (MEU QUARTO)
Eu não sou muito viciada na internet, sabe. Mas às vezes ela me ajuda a me distrair.


Eu estava com o MSN aberto e uma janelinha piscou. Eu já sabia quem era antes mesmo de ler. Ou mais ou menos. Achei que fosse o James, mas era a Alex. Mas tanto faz, eu estava mesmo querendo falar com ela.


 Miss Alex says:


Oi! O James já me disse como foi a aula de violão, mas eu quero que você me responda! Como foi?


 Lily :) says:


Oooii! Bom, você quer saber da parte em que tive de cantar para o Sr. Martin? Se sim, só posso falar que... FOI INCRÍVEL! Sério! Eu não sabia que iria gostar tanto dessa coisa de cantar! Mas também não é como se eu fosse me tornar cantora profissional, Pelamor! Hahahaha.


 Miss Alex says:


Que diiiver *-* O que o Sr. Martin lhe disse?


 Lily :) says:


Ah, não me lembro, mas pelo jeito, eu fui muito bem e tudo o mais. Só quero ver como será REALMENTE no dia da apresentação! Se eu quiser desmaiar você me segura ou me leva pra longe?


 Miss Alex says:


Ai, não pensa negativo! Tudo bem, eu a ajudarei, se algo der errado! Mas o James me disse que vocês vão treinar um montão o controle da ansiedade e do nervosismo até lá ;)


 Lily :) says:


Ai, coitado. Ele vai ter que me levar em um psiquiatra para qualquer milagre do tipo, porque eu sou TOTALMENTE ansiosa e nervosa. Sério. Eu chego a passar mal dessas coisas.


 Miss Alex says:


Será que aquela coisa de imaginar a platéia de roupa íntima dá certo? Você podia tentar.


 Lily :) says:


Se eu imaginar uma coisa dessas lá na hora é BEM provável que eu vá passar a apresentação INTEIRINHA rindo que nem uma hiena retardada.


 Miss Alex says:


Hahahaha. Bem, é melhor do que desmaiar, não é?


 Lily :) says:


Não sei ;/


 Miss Alex says:


Iiih, vou sair, porque o meu irmão quer falar com você. Beijinhos! Até amanhã <3


 Lily :) says:


Ok! Beeijo *-*


 Uns segundos depois, o James apareceu me chamando.


 James says:


Oi, Encrenca! O que está fazendo?


 Lily :) says:


Oooi, estou falando com vocês, oras! E escutando música (e tentando não ouvir as explosões do filme de guerra que a minha avó está assistindo. Parece que estourou a Guerra Nuclear lá na minha sala, cara!)


 James says:


A sua avó é engraçada! Filmes de guerra até que são legais...


 Lily :) says:


Fale por você... Então, a Alex limpou o seu quarto?


 James says:


Limpou, ainda mais que a Nichole veio aqui e tal.


 Lily :) says:


Por que a sua mãe não faz isso?


 James says:


Meus pais quase nunca estão em casa. E minha mãe não gosta de diarista. E então sobra tudo para nós. Mas falando de algo melhor: parabéns, Encrenca. Acho que foi a primeira vez que vejo o Sr. Martin gostar realmente de alguma coisa.


 Lily :) says:


Ele gosta de muitas coisas, só que prefere as coisas das antigas, que nem são ruins. Eu adoro o The Police, por exemplo. Ah, obrigada. Eu achei que nem fosse conseguir fazer aquilo. Eu não sou muito boa com muitas pessoas me olhando, sabe.


 James says:


Você só precisa treinar mais. Tipo, como você é no violão ou na guitarra. Você fica bem normal nas apresentações.


 Lily :) says:


É, isso é, mas porque... sei lá. Porque sei que sei fazer.


 James says:


Então você tem que saber que sabe cantar para as pessoas.


 Lily :) says:


Não é tão fácil. Ah, droga, preciso ir lá embaixo, parece que meus avós estão brigando de novo. Amanhã nos falamos ;)


 James says:


Tudo bem. Boa noite :*


 Lily :) está offline.


 Eu realmente tive que sair correndo, porque minha avó estava berrando tão alto, que estava ficando insuportável.


De novo era a história da decoradora.


Ela berrou e berrou. Meu avô, impressionantemente, revidou e tentou colocá-la no chão. Tentou mesmo. Ele não quer que gastem mais de 10.000 mil nisso, mas soube que a tal Molly cobra 100 libras por metro quadrado, e o orçamento, no final, vai sair quase 70.000 mil. Tipo, COMO ASSIM? Eu NUNQUINHA gastaria 70 mil só para decorarem a minha casa! Mal tenho coragem de pagar mais de 50 libras em alguma peça de roupa! Eu fico pensando: por ELA MESMA não decora a casa, já que se acha de um bom gosto totalmente refinado e blábláblá? Não acredito que ela QUER gastar tudo isso, só porque a tal Molly Flower é uma das mais requisitadas! Normalmente eu mal acredito que ela é A MINHA AVÓ!


Sério, acho que a minha mãe foi adotada mesmo, porque não é possível que essa galinha de macumba tenha o mesmo sangue que eu.


Eu tenho vergonha dela, sinceramente.


 06/FEVEREIRO – 11:34h – QUARTA-FEIRA – AULA DE REDAÇÃO (É A MORTE DE NOVO)
Essa mulher está surtando! Só pode! Ela nos mandou produzir mais uma redação! Eu quase morri para conseguir pensar lá em casa sobre o que escrever na que ela nos pediu ontem! É a treva, com certeza. É melhor eu voltar para o rascunho, porque desta vez não poderemos terminar nem sequer uma linha em casa. COMO É QUE ELA FAZ UMA COISA DESSAS COM A GENTE?


Eu estou com tanto sono. Tantooo.


 06/FEVEREIRO – 12:25h – QUARTA-FEIRA – ALMOÇO
O James tem que parar de narrar toda a aula de violão para a nossa mesa. Não agüento mais ficar sorrindo, porque quero totalmente me esconder debaixo de alguma coisa. Todo mundo está me dando os parabéns e dizendo que não sabia que eu cantava. Ok, nem eu sabia. E o Sirius está me tentando fazer cantar para ele. Hahaha, desculpa, mas não rola, amigo.


 06/FEVEREIRO – 13:55h – QUARTA-FEIRA – AULA DE MATEMÁTICA
Eu vou dormir.


Eu não vou dormir.


Eu vou dormir.


Eu não vou dormir.


Eu vou dormir.


Eu não vou dormir.


Eu vou dormir.


Eu não vou dormir.


Eu vou dormir.


 06/FEVEREIRO – 22h – QUARTA-FEIRA – CASA (MEU QUARTO)
Eu acho que nunca mais vou falar com a minha avó.


O James passou a tarde aqui e ela deu um monte de crises por causa do meu namorado e por causa da decoradora. Não acredito que ela teve a coragem de falar sobre como odeia o Jason na frente do James! Já é vergonhoso o suficiente ele saber que meu namorado nutre um ódio imbecil por ele, mas a minha avó simplesmente finge que não me ouve.


Tudo começou quando ela resolveu nos chamar para jantar. Eu e James estávamos lá no quarto da minha mãe, assistindo TV, porque eu disse que de jeito algum iríamos ver A Ilha da Imaginação com a voz da minha avó nos perguntando a cada minuto por que disso ou por que daquilo (e ela faz esse tipo de coisa muito, o que torna um inferno assistir qualquer filme ao lado dela).


- Ei, meninos, o jantar está pronto, por que vocês não vão larvar as mãos?


O James já tinha ligado para a casa dele e avisado que iria jantar aqui, mas a mãe não estava, porque tinha ido a um jantar na casa de uma amiga, então a Alex estava lá sozinha, tentando terminar de pregar os novos pôsteres da Katy Perry e da Kate Nash nas paredes do quarto.


Nós descemos e lavamos as mãos no lavabo, enquanto eu sabia que a minha avó estava nos espionando. É meio estranho todo mundo jantar junto, porque eu e minha mãe não jantamos no mesmo horário, principalmente nos dias em que trabalho, já que chego muito tarde e geralmente ela está deitada assistindo a algum programa do Home & Healt. Agora que meus avôs estão aqui, nós temos nos reunidos até que bastante à mesa, coisa que minha avó faz questão, uma vez que tem toda aquela síndrome de “família reunida”, mas a minha família já está desreunida desde que tenho dez anos, então pouco faz diferença para mim. Mas, enfim, é melhor fingir que os jantares são bons deste jeito para evitar que ela venha com todos os seus escândalos típicos. Pelo menos, não nos faz rezar antes das refeições.


- Então, como está ficando a casa da senhora, lá em Londres? A Lily me contou que vocês estão fazendo algumas reformas – o James quis saber, olhando educado para a D. Julia, antes que ela pudesse morder o brócolis que tinha espetado.


Reformas. Sei. Ela vai pagar 70 mil a uma mulher para decorar toda a casa, ok? Isso é muito mais do que algumas simples reforminhas! A casa foi praticamente demolida e no terreno está sendo construída uma novinha em folha.


- Ah, estou enfrentando alguns problemas, mas acho que o caso está se encerrando, querido – eu vi totalmente o olhar de sagüi da selva doidão que ela lançou ao meu avô. Ela ainda está sentida porque ele não a apóia na decisão sobre a decoradora.


- Que ótimo. Sabe, eu já fui à Londres um monte de vezes quando criança, lá parece ser bem legal – respondeu James.


Eu também vi o olhar de eu não falei? que ela me lançou após James ter lhe dito isso. Ela não morre até eu admitir que Londres é um lugar maravilhoso. Então, eu vou morrer, meus netos irão morrer e ela ainda sobreviverá esperando que eu me pronuncie quanto a isso. Ah, meu Deus, ela vai ser uma vampira, com uns 200 anos!


- Londres é encantadora – decretou minha avó, fulminando-me. Não liguei.


E foi bem depois disso que ela (re)começou com a conversa sobre a Molly Flower. Foi um saco, porque meu avô entrou no jogo dela e eles (re)começaram a brigar. Tudo bem que não ficou berrando, mas foi muito ruim, sabe, porque não quero que James pense que a minha avó mereça a ala mais próxima de um hospital de doenças psicológicas e mentais. Sei que sempre estou falando que ela merece realmente isso, mas não é algo que quero que os outros também pensem. Não quero que o James fique pensando que sou mais louca do que provavelmente já me julga.


Eu só ficava:


- É, então, alguém quer mais batata?


Mas meus avós (principalmente a D. Julia) não largavam o osso. Minha avó dava soquinhos elegantes (como ela aprendeu com a Paris Hilton ou com sei lá quem em algum programa besta de pessoas ricas e elegantes) na mesa sempre que meu avô vinha com uma resposta-ataque e quase derrubou a taça de vinho, depois que comemos o bolo de merengue com pistache que minha mãe tinha comprado mais cedo. Minha avó, após as refeições, tem o costume de beber vinho, porque faz bem à saúde e à beleza (e é mesmo verdade, por isso que os italianos vivem bem). Ela soube que tomar um cálice faz bem ao coração já que as suas propriedades antioxidantes aumentam o colesterol bom e aliviam o stress, e é por isso que não bebe suco ou refrigerante nas refeições como todas as pessoas normais. Eu não suporto e cheiro de vinho misturado ao da comida, mas ela finge que não me ouve, como sempre fez.


Ela só parou de falar sobre a casa e a Molly Flower quando eu e minha mãe recolhíamos os pratos e os talheres sujos da mesa. O James se ofereceu a nos ajudar, porque diz que faz isso todas as noites, mas ele é visita e não precisa fazer essas coisas. Minha avó estava de braços cruzados nos olhando a tirar tudo e colocar na pia, para depois alguém lavar, e esse alguém seria eu, claro, porque minha mãe diz que lava tudo no almoço e eu tenho o dever de fazer tal tarefa à noite, o que parece bastante justo. Meu avô se retirou da copinha, caçou o Flame e foi com o gato para os jardins, respirar ar gelado, por conta do friozinho.


- Bem, se ele acha que a minha casa não ficará do jeito que eu quero, é melhor ele se mudar para uma barraca – os lábios da D. Julia estavam comprimidos de tal maneira que já estavam desaparecendo. Ela olhava arrogante e furiosa para o marido, mas então se virou para o James, e isso nunca é um bom sinal: - Ah, querido, conviver em família é muito difícil, desculpe-me por isso.


Bem, pelo menos ela foi educada em pedir desculpas. Total.


O James não ligou. Ele nunca liga para nada, é revoltante.


- Tudo bem, eu sei como é. De vez em quando meus pais também brigam por causa do trabalho – ele foi um fofo em querer fingir um sorriso sincero. Eu sei que quando os pais brigam não é muito legal. Quando meus pais brigavam quando eu era pequena, eu sempre me trancava no banheiro, abria a torneira da pia e começava a chorar. Eles brigavam quase todas as noites, não é para menos que eu odeie gritos e tudo o mais.


- Vamos lá para sala e ver algumas fotografias! – respondeu minha avó, mudando de humor rapidamente.


Ai, não. Fotografias. Tenho trauma dessa palavra sendo proferida por minha avó. Quando eu passava as férias de verão lá na casa de Londres, ela sempre mostrava para as amigas as minhas fotos. Não eram fotos bonitinhas de eu sentada ao balanço com a roupa nova da Hello Kitty ou abraçando o Flame. Não, não, não. Eram fotos onde eu estava chorando ou estava toda suja por ter comido uma barra inteira de chocolate. Eram fotos realmente vergonhosas. E, claro que dessa vez, com o James ali, não seria diferente, porque ela trouxe todos os álbuns vergonhosos que mantém em Londres para cá. Eu só queria morrer. Ou bater nela, sei lá. O que eu conseguisse fazer primeiro.


Podia ser também que quisesse mostrar toda a série de fotos que ela mesma tirou de mim quando eu tinha uns 4 anos e ela tentava me dar um banho, então eu estava, claro, completamente sem roupa. Tudo bem que eu era criança e tal, mas quem quer que alguém de fora da família veja uma coisa dessas? E essas fotos eram dentro da banheira de mármore dela, lá em Londres. Eu nunca tive uma banheira, porque aqui na minha casa não tem banheira, e sério, não sei qual é toda a graça de tomar banho em uma coisa dessas; só é bom para dormir, mas tirando isso, não tem nada de tão especial.


Fotografias nem pensar. Preferiria vestir uma roupa de galinha e dançar O Rockezinho da Galinha para todos os meus vizinhos a noite inteira a deixar o James ver aquelas pérolas vergonhosas.


- Acho que o James já tem que ir para casa, não é James? – perguntou, tentando intervir os desejos masoquistas para comigo dela.


Mas o James realmente foi surpreendente ao responder:


- Não tenho, não.


Eu fiquei tipo Ah, tem sim! Vá embora, por favor!, só que ele me ignorou, e parecia que estava fazendo de propósito.


Olhou para ele com os olhos apertados, mas ele somente sorriu, levantou-se da mesa e acompanhou a minha avó até a sala. Troquei um olhar de É hoje que ela morre! e fui correndo até a sala, também. Ela tinha deixado os álbuns pink perto da estante da TV, de modo que eu não tinha escapatória.


Ela conseguiu mostrar todos os CINCO álbuns, todos contendo, pelo menos, cem fotos, e mais ou menos 75 delas, me faziam querem me enfiar debaixo do sofá. Minha avó falava e mais falava, relembrando toda uma história por trás de CADA foto, e o James só ria ou sorria e olhava para mim. Ah, isso quando ele não fazia uma cara de Awn, que amor.


Eu os fiz pular a parte da banheira e da cama elástica, quando eu caí de lá de cima e fiz um galo enorme na testa.


O final do último álbum continha somente fotos de Natal ou do Dia de Ação de Graça, há uns dois anos, que foi a última vez que meus avôs tinham vindo para Bedford comemorar qualquer data. Na maioria delas, o Jason estava presente, porque eu o fiz comparecer naquele Natal em questão para conhecer a minha avó louca. E foi bem nessas fotos que ela fez uma cara de ironia e desandou a falar sobre o Jason.


- E, então, me diz, James, como uma menina tão legal como a minha neta é capaz de sair com um orangotango desses? – ela perguntou ao James com uma expressão sofrida, como se importasse com qualquer fato relacionado a mim. Só que ela nunca se importou, só estava fazendo aquela cena para ter mais uma oportunidade de falar mal do meu namorado. E desde quando a D. Julia me acha legal, para começo de conversa?


- Hum, ele é do time de basquete. Todas as meninas gostam dele – James deu de ombros, sem graça. Certo, James, agora parece que eu só amo o Jason por fato de ele ser do time de basquete.


- Argh, esses meninos esportistas são piores do que os que só são populares por causa da beleza. Eles simplesmente não conhecem uma palavra chamada gentileza, ou quem sabe, também não conhecem uma outra chamada romantismo. Bem, sempre os achei desprovidos de qualquer massa cerebral. Só para você ter uma vaga idéia do que é esse Jesse...


- Jason! – corrigi-a, tentando me controlar para não morder meus dedos.


- Jason ou sei lá... Ele me trata como se eu nem fosse da família! Me trata como se eu fosse uma dessas meninas esquisitas que com certeza ele conhece muito bem... – ela olhou para mim para dar ênfase à situação – E é incrível o quanto ele parece não conseguir manter uma conversa coerente com qualquer pessoa. Eu não sei sobre o que ele a Lily conversam. Com certeza não é sobre faculdades, porque aposto como isso é algo que ele não tem ambição – ela pausou a conversa para retomar o fôlego.


O James só ficou lá ao lado dela, ouvindo-a, olhando para os lados, como se pudesse escapar dela, mas não podia. Ninguém pode escapar das garras mortíferas e más da D. Julia. Nem mesmo a Taylor Swift, que é uma das pessoas mais fofas e certinhas da face da terra.


Eu tentei, juro que tentei fazê-la parar. Chamei a minha mãe e tudo. Chamei o James para fora da sala, mas ela simplesmente agarrou o pulso dele, impedindo-o de sair do sofá. Ele só ficou com uma cara de Ah meu Deus, mas não fez ou falou nada.


E aí tudo ficou pior. Se alguém já leu sétimo volume da série Diário da Princesa (em que a Mia conhece o J.P e daí a avó do mal dela fica obcecada pelo menino e toda hora fica falando que o J.P é um cara muito fofo e melhor do que o namorado dela, o Michael) sabe do que estou falando, porque a minha avó de mal agiu exatamente da mesma forma, mas em relação ao James. Ela ficava toda:


- Vocês são tão parecidos, que deveriam tentar alguma coisa.


E o James inventou de perguntar o que eu e ele deveríamos tentar, porque acho mesmo que ele não estava entendendo nada. Também, como é que poderia estar entendendo? A minha avó é uma louca!


Ela respondeu, com uma expressão mega feliz, como se estivesse lançando a idéia do ano:


- Vocês poderiam sair.


- Mas já saímos – o James respondeu, mas aí entendeu sobre que nível de sair que ela estava se referindo. Quando ele totalmente decodificou a expressão que minha avó fazia, que era toda sugestiva, riu. Não acho que estivesse envergonhado, como eu já estava a um tempão, porque nem corou ou complementou com um sorrisinho sem jeito; além do mais, ele sempre ri, de qualquer coisa, então não dava para saber ao certo como é que estava se sentindo. James fez: - Ah! Não deste jeito, realmente não. Nós somos somente amigos. E creio que a Lily concorda com isso, não é, Lily? – ele fez seus olhos se encontrarem com os meus, mas não de um modo desesperado.


Apressei-me a apoiá-lo:


- É, somos somente amigos – minha voz saiu entre dentes e muito irritada. Olhei para D. Julia como se pudesse reduzi-la a pó somente com o ódio e a vergonha que estava sentindo.


- Huntf. De tanto negarem, uma hora o feitiço vai se voltar contra o feiticeiro – minha avó ergueu uma sobrancelha, como se fosse a dona da verdade.


- Pode até ser, mas eu a Lily nem somos feiticeiros, de modo que, talvez, essas frases não funcionem conosco – James respondeu, agora se divertindo.


D. Julia apertou os olhos e sorriu, fingindo ser uma vovozinha super querida.


Agradeci mentalmente.


Aquilo tinha acabado. Minha avó já estava guardando todo a material rosa e murmurava para si mesma. Não tive muita coragem de sentar ao lado do James, portanto permaneci na poltrona perto do sofá que estava sentado. Ele estava com um ar de alguém que queria muito dar uma bela gargalhada, e não sei como ele é capaz de querer fazer uma coisa dessas, após toda a situação que a minha avó nos fez passar. Mas lembra sobre o que eu disse que ele é o menino mais esquisito que conheço? Pois é, é a mais pura verdade.


- Acho que vou querer mais um pedaço de bolo – minha avó se virou para nós, toda normalzinha, como se não soubesse de como eu estava a fim de berrar com ela. Ah, mas claro que ela sabia. Ela sempre sabe quando estou a fim de matá-la – Alguém quer também? – perguntou-nos.


Meus olhos se apertaram até doerem, mas ela me ignorou, como sempre faz.


- Não, obrigado, já comi antes – o James negou, agradecendo.


Ela passou por nós e se enfiou na cozinha. Minha mãe estava lá nos fundos com o meu avô, provavelmente lhe dando todo o suporte quanto à maluquice eterna da mãe.


Juntei minhas mãos e fiquei brincando com meus dedos, fazendo-os bater entre si, totalmente quieta. Sei lá pelo o que eu esperava.


- Ei, quem sabe, amanhã, depois da aula de violão pudéssemos ir ver Alice no País das Maravilhas. Você não tem nada para fazer depois, tem? – levantei meus olhos dos meus dedos assim que ouvi o James falar.


- É, parece um programa bem legal. Não vou fazer nada mesmo - respondi


- É um encontro-não-encontro, se a sua avó perguntar – ele piscou, rindo.


Sorri sem jeito. Aquilo não tinha graça.


- É, ela nem vai falar nada – ironizei. Claro que ela falará. Mas espero que o James não esteja aqui.


- Não se preocupe, na verdade, o que ela está tentando fazer é sair comigo. Acho que ela se apaixonou por mim – James me explicou com bom humor.


- Da segunda parte, tenho certeza – comentei – Mas não é bem desse jeito que está pensando, sabe. Ela tenta substituir o Jason por qualquer cara, sério. Ela já fez isso um monte de vezes – fui logo dando alguma explicação, porque não quero que ele ache alguma hora que eu estou mesmo a fim dele ou que teremos alguma chance.


Porém, o que eu lhe disse é a maior mentira. Minha avó sempre está falando mal do Jason, com certeza, mas nunca tentou fazer outro cara se apaixonar por mim, como faz com o James. Isso, porque quase não trago muitos caras até aqui. Só o Jason e o Zack, namorado da Taylor. E o Jason nunca fica mais de dez minutos por aqui, porque prefere estar em algum jogo de basquete ou em seu quarto com a sua TV ou na pista de patinação, onde todo sábado transmite o último jogo da programação local naquele telão. O James é o primeiro menino que a minha avó tenta convencer que nasceu para mim ou algo assim. Ainda assim, não sei se ele percebeu que eu estava mentindo, porque tentei não corar.


- Ah, mesmo? – acho que ele se surpreendeu. Ou talvez não estivesse acreditando em mim. Não entendi seu tom de voz.


- É, você precisa ver. É cruel – menti mais um pouco.


- Hum – resmungou ele, franzindo a testa de modo confuso. Em seguida, levantou-se, arrumou a gola da blusa de lã e disse: - Acho que devo ir para casa agora. A Alex deve estar sozinha.


Não sei o que me fez sentir um baque surdo e dolorido no fundo do meu estômago. Acho que foi porque achei que ele tinha a certeza de que eu mentira. Mas e daí? E tinha que ter mentido, não podia continuar a fingir que tudo estava bem. Ele tinha que engolir o fato de que minha avó é uma louca que vê coisas e sentimentos onde não existem. Tipo entre mim e ele.


- É mesmo – levantei-me da poltroninha e passei na frente dele, oferecendo qualquer caminho. Ele foi para o jardim dos fundos, onde meu avô e minha mãe estavam. Eles se viraram para ele e James colocou sua melhor cara e acenou, sorrindo: - Eu já vou indo. Obrigado pelo jantar, Sra. Evans. Minha mãe deveria aprender a fazer esse suflê de cenoura.


Minha mãe adorou o elogio e se esticou para abraçar o James.


- Que nada, foi tudo de improviso. Volte quando quiser, você é sempre bem-vindo – ela retribuiu, afastando-se dele.


É, o James é sempre bem-vindo em qualquer lugar, por qualquer pessoa. Sério. E não estou me restringindo somente à minha avó e à minha mãe. O James é realmente um fofo e muito querido.


- Obrigado – ele sorriu e apertou a mão do meu avô. Fomos para a cozinha, onde minha avó bebia mais vinho, sentada à mesa, e resmungava baixo, sozinha. Agora é um fato oficializado: minha avó fala sozinha. Quer mais maluca?


- Ah, oi, James – ela levou um susto e soluçou, por conta do vinho. Ah, legal, ela estava ficando bêbada.


- Vim me despedir. Já estou indo. Minha irmã deve estar sozinha em casa – James lhe disse, de longe, abanando a mão.


- Aaah. Foi uma boa noite, não foi? – ela quis saber, levantando-se para ir abraçá-lo.


- É. Foi – acho que o James só concordou por concordar. Não senti muita confiança no tom dele, que passou despercebido pelos sentidos aguçados da D. Julia.


Ela o abraçou, como nunca me abraça, porque nunca gostou de abraços e beijinhos. E eu nunca gostei que ela fizesse essas coisas comigo.


Eu e ele fomos para o hall.


- Quer que eu chame um táxi? – indaguei.


- Não, vou de ônibus. Não tenho dinheiro para táxi.


- Eu tenho, posso lhe emprestar, sem problemas.


- Não, valeu.


Abri a porta e ele saiu.


- Acho que a sua avó não pode mais beber vinho, hein – comentou ele, sorrindo.


- Ela nunca pôde, mas sempre exagera – falei, dando de ombros – Boa noite – desejei.


- Igualmente – ele falou, e daí me puxou e me abraçou.


Eu fiquei Ah, ok. Sai no começo, mas não me importei. Talvez eu quisesse ser abraçada por ele, o que é estranho, já que não gosto de ser abraçada por ninguém a não ser por Jason, por minha mãe e por meu avô. Não gostava nem mesmo quando a Taylor me abraçava, quando estava muito felizinha.


- E não se esqueça de negar bastante até o final da vida sobre o que verdadeiramente sente por mim – James brincou, o que me levou a rir.


- Ok – sorri.


Ele lançou uma piscadela a mim e desapareceu na noite.


James me faz querer passar todos os segundos com ele. Que engraçado. Ou não, né.


Certo, acho que vou me deitar. 



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N/A: Oizin! Então, como prometido, aqui está o décimo cap. Espero que apreciem (: E obrigada pelos incentivos ;) 
Beeijo <3 

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