Capítulo 12



08/FEVEREIRO – 09:05h – SEXTA-FEIRA - INGLÊS
POR TODOS OS BOIS DO MUNDO!


Não acredito, não acredito, não acredito!


Ok, vou respirar aqui e escrever. Só escrever. É fácil. Eu vou conseguir.


Respirando...


Respirando...


Respirando...


Ok, AGORA sim.


Ai, céus, me deixa começar desde a hora que pisei na grama super verde daqui do pátio da Bedford High School. A minha mãe me deu uma carona, porque tinha que pegar umas papeladas em um dos hospitais que assinou a renovação de contrato com seus serviços, e assim que desci do carro, achei que hoje fosse um dia bom. Achei realmente que hoje não seria tão ruim. Quero dizer, meus dias não estão ruins, não com tanta gente legal ao meu lado, mas é sempre bom permanecer com o pensamento mais positivo possível, para caso cruzar com um gato preto ou com uma bruxa voando por aí de vassoura a jato (?).


Todo mundo estava bem normal. A Alex me olhou com um desânimo estranho, mas não perguntei nada, afinal, eu sabia o que seus olhos me informavam: que seu irmão é um eterno babaca e fica procurando motivos para estar sozinho comigo. Isso eu já tinha entendido e até mesmo aceitado. Mas, sabe como é, eu não costumo só dar oi para uma pessoa, principalmente porque somos um grupo, observei todos eles e diagnostiquei que ela está mal por alguma coisa além de mim. Só que não tive oportunidade de lhe perguntar, porque o Sirius começou a falar comigo sobre o filme de ontem. Ao menos ele não está ressentido comigo tanto quanto a Alex, e isso é uma coisa boa; provavelmente irá parar de me acusar de ladra de melhores amigos.


- Não, cara, aquela Alice é muito babaca. Ela é pior do que o Peter! – Sirius me disse e olhou para o Peter, que lhe fez uma caretinha básica, mas continuou a teclar no seu aparelhinho de videogame.


- Eu também não gostei muito dessa Alice! Não sei, parece que ela não tem atitude, uma vergonha para as Alices do mundo! – Alex se meteu na conversa, toda empertigada e revoltadinha.


- Ai, gente! Coitada da Alice... – eu ri.


- Vocês podem parar de falar sobre isso? – uma Zora muito zangada nos perguntou.


- Não, claro que não! Vá terminar o seu livrinho erótico lá no banheiro e nos deixe falando da Alice! – o Sirius retrucou.


Noooossa. Como é que ele sabe sobre o livro de Berenice da Zora? O Sirius sabe coisas demais sobre todo mundo, até parece detetive ou espião! Quem sabe ele já montou a minha ficha completa lá na casa dele e só está esperando que eu faça algo bem idiota para me fechar em uma salinha escura, sem comida e sem água, até eu confessar os meus outros pecados! Que das trevas!


- Idiota – ela devolveu, cruzando os braços sobre a blusa listrada.


- Uuuh, olha quem...


- Cala a boca, Sirius – a Alex disse.


- É, cala a boca aí – Peter concordou.


Sirius fez cara de quem não estava entendendo nada, levantou as mãos ao céu limpinho e azul-piscina e foi embora para dentro da escola. Para onde ele foi ninguém queria saber.


- Eeei, como é que ele sabe sobre... o livro? – cochichei para Zora.


- Ah! Você sabe que ele é o maior xereta do mundo, não é? Ele descobriu porque disse que estava procurando as minhas anotações de Química. Aí ficou todo “Nossa, Zora, que livro é esse?”, só que ele sabia muito bem que tipo de livro é. E depois foi mostrar pra turminha cool dele. Está sendo ótimo ouvir esses babacas passarem por mim e dizer “Olha a ninfomaníaca aí, gente!”- a Zora parecia querer ser ninja só para sair batendo no Sirius e nos amigos babacas dele. Quer saber? Até que isso não seria nada mal.


- Que droga... E agora? – perguntei.


- Agora nada, né. O que eu posso fazer? – ela ficou tristinha e irônica.


- Afe – resmunguei – Hummm... Bater neles?


- Não sou mais criança – decretou Zora.


Fiz sinal da paz a ela, tentando amenizar seu humor. É claro que não funcionou, porque as coisas não funcionam assim com a Zora.


O James me puxou para fora do grupo, que agora já estava destruído, já que o Sirius não estava mais ali, nem a Zora e a Nichole. A Alex estava conversando com o Remus sobre a crise mundial de 29 e o Peter... bom. O Peter estava sendo o Peter com aquele videgame nas mãos, enquanto comia balinhas de mastigar. O James queria me mostrar os álbuns de figurinha dos Piratas do Caribe (TODOS os três). Sim, ele é um nerd, e daí? Eu também sou. Bem, não tanto quanto ele ou o Remus, porque as minhas notas em Física e em Matemática não são as mais exemplares. Mas o negócio é que eu sempre gostei de álbuns de figurinhas, especialmente dos Piratas, que não consegui completar o terceiro, mas o James tinha trazido algumas figurinhas repetidas para eu escolher e tentar acabar o álbum.


Nós estávamos vendo as figurinhas, numa boa, quando aconteceu uma coisa que nunca acontece. A Sra. Klin estava correndo para o pátio, com seu apito mega sensacional e doentio. Com seu jaleco verde esvoaçando e com seus saltos antigos plataforma, ela corria e berrava algo. Só conseguimos escutá-la de fato quando ela se aproximou o bastante de nós.


- PESSOAL! PESSOAL! A DIRETORA PEDIU PARA QUE TODOS SE REUNISSEM NOS CORREDORES, PORQUE VAI COMUNICAR UM AVISO A VOCÊS PELOS AUTO-FALANTES! VAMOS! VAMOS! O QUE ESTÃO ESPERANDO? – a pobre Sra. Klin gritou, com aquela sua voz estridente, própria para uma zeladora de um colégio como o meu.


Olhei para James, arqueando as sobrancelhas. Logo, Alex, Remus e Peter se juntaram a nós, também curiosos.


Aquilo foi inusitado. A Diretora sempre tem avisos a nós, antes das aulas. Só que não somos obrigados a ouvi-los e duvido muito que alguém os ouça, realmente, porque todo mundo só fica do lado de fora dos prédios, pouco se importando com os anúncios estudantis, que em sua maioria fazem referência à biblioteca e à sala de achados e perdidos. Então, se a diretora estava impondo que deveríamos ouvi-la, era porque aquilo não seriam lembretes aos cabeças-de-vento que perdem casacos, boinas ou estojos.


- Ué, o que será que aconteceu? Será que finalmente demitiram a cozinheira? – Remus perguntou.


Acho que o único anúncio definitivamente importante que escutei, e que a diretora fez questão que nós, os alunos, escutássemos com a máxima atenção, foi no meu sétimo ano, quando cancelaram o Baile de Natal, porque as verbas do Conselho Estudantil tinham acabado (gastas em quê? Ah, em enfeites rosa pela escola, em uma fotocopiadora nova, totalmente desnecessária, em pagamentos escondidos para tentar adotar uniformes americanos, e muito muito mais) e os nossos patrocinadores não queriam mais manter o contrato pré-estabelecido. Mas, agora, se não era nada relacionado ao Baile, o que seria? Oh, meu Deus, será que tem a ver com a apresentação de Boas-Vindas à Reitora Flor? Tomara que não, tomara que não, tomara que não...


Nós entramos, sendo empurrados ou acotovelados pela massa popular. Tentamos permanecer juntos, mas o esforço foi em vão. Só não me perdi de Alex e de James, porque ambos seguraram na minha jaquetinha rosa.


Após cinco minutos, o grande falatório ecoante diminuiu significativamente à medida que a voz da diretora conseguia ser escutada, ainda que baixa.


- Meus queridos, silêncio, por favor – pedia a Sra. Rings.


Somente quando Rony Groove calou a boca, é que a coisa começou a ficar séria.


- Bom dia a todos. Sei que é muito repentino esse meu pedido de reuni-los aqui dentro, entretanto o que irão saber é de extrema importância à grande maioria – A Sra. Rings estava confiante e isso começou a me chamar a atenção.


Eu e James trocamos um olhar discretamente, fazendo caretas despercebidas pelos demais, inclusive pela Alex, que estava do outro lado do meu corpo.


- Caramba, alguém morreu! – berrou alguém, em tom de ironia e maldade.


Risos.


Isso, crianças, querem já a hora do recreio? Fala sério.


- Não, Sr. Thomas, ninguém morreu – a diretora negou veemente – O caso aqui, ainda que não envolva morte ou sangue, não deixa de ser de interesse aos senhores. Portanto, sem mais gracinhas. Bem, todos devem saber a repercussão de uma das matérias que foi divulgada no jornal da escola, semana retrasada – todos cochicharam e as menininhas fúteis, inclusive a Taylor, me olharam com ódio. Aliás, a Taylor estava esquisita. Ela nunca é esquisita, sabe, porque é a menina mais adorada e popular daqui, mas dessa vez ela estava com uma cara muito muito diferente. Não havia somente ódio ali, havia também decepção e demérito.


- Sim, exatamente, alguns alunos foram suspensos e detidos pelas ações ilícitas e às escondidas. É dever da escola, da equipe que lhes oferece tantas oportunidades, corrigir seus erros e fazer com que eles não tornem a se repetir. Com isso em mente, devo lhes informar que há uma correção que, além de afetar um grupo em especial e, principalmente, uma pessoa em especial, atinge a toda escola. Haverá uma mudança a partir de hoje, que é o desarranjo do Conselho Estudantil atual, comandado por Taylor McGrow e Jessie Latoy – prosseguiu a diretora.


As vozes agora se exaltaram. Muito. Muito mesmo. Garotos berravam e meninas faziam cara de surpresa.


Dessa vez olhei de verdade para o James. O Conselho Estudantil! O James estava certo! A Taylor realmente iria perder o seu cargo. Ai, não. Isso é péssimo para mim, porque significa que isso aconteceu por minha causa, por conta da minha matéria. Então foi ISSO que os pais dela solicitaram à diretora: que a filha saísse do comando da escola. Mas, caramba, é muita crueldade com ela, se quer saber. Sério mesmo, porque os pais da Taylor são os primeiros a saberem que a filha gosta da sua liderança mais do que gosta do seu cachorrinho, o Pã. Uau, isso é um pouco pesado, não é?


O apito super potente da Sra. Klin soou, o que fez todos se calarem novamente.


- Acalmem-se, por favor. Chega. Chega. Muito bem. Não posso nem preciso lhes dar maiores explicações, embora mereçam, claro. Entretanto, o assunto deve entrar em suas cabecinhas de maneira séria. Sei que parece insignificante qualquer alteração no Conselho, mas vocês estão se esquecendo que tudo o que lhes é promovido sai do fundo desse mesmo Conselho, portanto ele é de máxima importância a qualquer um aqui. Sem negação, Sr. Stewart, por favor.


Notei o que agora a Taylor parecia querer meter a mão na minha cara, de verdade. Bem ali. Para todo mundo ver e comentar. Só que Jamie e todas as outras meninas da mesa dos populares tentavam acalmá-la com palavras falsas de consolo.


- O que vai acontecer agora? O Conselho não vai mais existir mesmo? – perguntou o Sirius. Tinha que ser ele.


- Ótima pergunta, Sr. Black – elogiou a diretora e Sirius fez uma cara de nojo – O momento é crítico, com o fim do ano se aproximando, as verbas se esvaindo, porém haverá uma nova eleição a cargos do Conselho, então formem suas chapas que, dentro de uma semana, acontecerá o debate e a contagem de votos.


Arregalei os olhos. Uma NOVA eleição? Um Conselho Estudantil totalmente novinho?


Legal, a escola está perdida mais uma vez. Claro que a Taylor orientará outras meninas, de sua panelinha, a fazerem uma campanha recheada de bolinhos e cookies e beijinhos, para então ter o poder em suas mãos, ainda que indiretamente. Que novidade. Mais uma campanha bajuladora e ridícula.


- Muito bem, por hoje é só. O sinal já irá tocar, sendo assim, quero todos se dirigindo às suas respectivas aulas. Obrigada e tenham um bom dia – a voz da Sra. Rings sumiu e a movimentação habitual dos corredores voltou ao normal.


Como o meu primeiro período é junto com a Al e o James, começamos a seguir para a sala de inglês.


- Wooo, isso foi um massacre à Taylor! – Alex exclamou, mas não parecia efetivamente feliz.


- Eu disse que tinha a ver com o Conselho, Lily! – James me cutucou, todo feliz por ter acertado seu palpite.


- Como é que você soube disso? Quando é que disse isso a ela? – Alex quis saber, curiosa.


Eu e James nos olhamos discretamente, mais uma vez.


- Bem... na quarta eu escutei sem querer uma conversa da Taylor com a diretora, sabe. E a Taylor estava muito alterada e a diretora disse que não podia mais fazer nada, porque os pais dela tinham pedido uma coisa à escola – falei.


Alex me olhou com cara de Buldogue chateado.


- Quando é que você vai começar a dividir seus segredos comigo também? – ela me perguntou, agora decididamente irritada e enciumada.


Ah, pelo boi amado. O que essa menina tem, gente?


- Ah, Alex não começa, vai. Foi só coisa do momento, sabe. Eu contei sem querer ao seu irmão. Ele estava lá em casa me ajudando com o meu canto e escapou – justifiquei-me, ainda que me achasse uma estúpida por estar fazendo isso.


- Hum. Sei – resmungou ela – Mas voltando ao assunto... caramba, isso não foi um pouco rude com a Taylor? Quero dizer, ela sempre tem o que quer e agora seus pais jogaram uma pedra do tamanho da Távola Redonda em sua cabeça! É muito do mal!


- Alex! Você vai ficar defendendo a Taylor? – chocou-se James.


- Bem, não, claro que não. Só estou comentando, oras.


Nisso encontramos a Zora e o Sirius pelo caminho.


- VOCÊS OUVIRAM ISSO? – a Zora berrou, máster animada. Tão animada que deu medo.


Nós três praticamente nos chocamos. A Zora é como um berrador.


- Wooo, calma aí, Cowboy – falei.


- Não, vocês não estão entendendo! É o melhor dia da minha vida! – Zora pulou e mais pulou.


Sirius fez um gesto de Ela é pirada, cara, completamente..., mas sorriu cínico quando ela olhou para ele.


- É, vocês deveriam apoiá-la... é o melhoooor diiiia da viiiida deeela. Como não saber? – Sirius ironizou, mas a Zora estava retardada demais para perceber todo o seu sarcasmo.


- Espera, mas por quê? – o James quis saber, com cara de Looouca...


- Shiiiu, cala a boca. Preciso pensar. Depois eu falo – ela se zangou, mas sua alegria não a deixou.


- Mas...


- Beijo, falo depois – ela fez um gesto de Rock ‘n’ Roll e saiu correndo como uma gazela desembestada pelo corredor.


- Olha, eu sugiro que ela pare de se drogar, de verdade – Sirius nos disse, muito devagar, como se estivesse falando sério e com preocupação.


Nós rimos, ainda que completamente confusos.


Viemos para cá rindo e imitando o Axl Rose. Não sei bem o porquê, mas foi bem assim.


 08/FEVEREIRO – 09:57h – SEXTA-FEIRA – AULA DE QUÍMICA
Meu porquinho da índia colorido... nem sei como a Taylor deve estar se sentindo nesse momento.


Ela não aceita muito bem essas coisas de trocas. Ela não gosta de ser trocada. Taylor sempre é a melhor, em qualquer coisa. Se suas notas estão baixas, ainda assim tem gente a imitando. Seja imitando seu cabelo, ou seu jeito de andar, ou imitando seu estilo. A Taylor é A REGRA. Sabe? E é muito confuso quando a regra muda, porque você se vê sem chão, sem alguém para apoiar você. E deve ser assim que ela está se sentindo. Além, claro, de estar sentindo raiva mortal de mim, porque sua mente perfeitinha diz que a culpada por tudo isso sou eu. E talvez eu não devesse culpá-la.


A Taylor TEM DE ser o centro das atrações. É SEMPRE assim. E se não é, ela sabe que tem que fazer algo para mudar a velha regra, para que ela própria valha a ser a nova regra. Não sei se isso é somente ambição, porque a Taylor não muda nada para melhor. Ela apenas quer e faz, e que se dane o resto.


Eu me lembro da época em que tínhamos uns 12 anos e a Taylor estava querendo deixar de ser criança e fazia sua mãe comprar roupas de adolescente vadia-patricinha. Ela tentava se parecer com a Britney – porque a Brit era a única referência de feminilidade que a Taylor tinha, na época -, enquanto eu tentava continuar a ser eu mesma, toda errada e desencaixada naquele mundo que a Taylor projetava. Comecei a entender que qualquer menina que não fosse glamurosa e feminina, não era bem uma menina ou então não entrava no grupinho das populares. E, mesmo com 12 anos, pude entender que não queria aquilo para mim, totalmente não. Não que fosse errado, mas... daí não seria eu, sabe. Se me fingisse de menininha super fofa e glamurosa, eu perderia a minha identidade, e era uma coisa que não estava disposta a perder. Então, foi bem nessa época que a Taylor foi se tornando amiga de todos e, logo, uma das meninas mais populares da escola. Quando completou 15 anos, e foi eleita a Rainha do Baile de Inverno, definitivamente Taylor tinha conquistado a todos, porque não existia mais ninguém que não quisesse andar com ela, afinal, a partir dali, entrou oficialmente no primeiro lugar da mais popular.


Foi bem ali, aos 12 anos, que eu deveria ter dito a ela que tudo bem ser uma perdedora, porque, pelo menos, você sabe quem é de fato. Não o lance de ser uma perdedora, mas o lance de você realmente se conhecer e saber que nunca usaria as sapatilhas brilhantes da moda.


Sabe do que eu falo? Tudo bem, possivelmente eu pareço a maior excluída do mundo, mas é o meu mundo. Provavelmente você deve estar pensando que eu queria ser uma das populares, de tanto que nego e odeio essas coisas, mas estou bem do jeito que sou. Eu gosto de ser eu. Gosto mesmo.


Mas, sabe, o mundo deveria fazer mais meninas. Não meninas-vadias. Só... meninas. De verdade. Sinto falta disso.


 08/FEVEREIRO – 10:41h – SEXTA-FEIRA – AULA DE QUÍMICA
Sabe, já que não serei capaz de entender esses negócios aí de química, estou pensando. Pensando muito e em coisas que ninguém quer saber, além de mim.


Tem uma pergunta que preciso responder: agora que a Taylor me odeia, será que é meu trabalho ou conseqüência odiá-la também? Não entendi muito bem quando é que a gente se toca que está gostando de alguém. Acho que é quando vemos a pessoa e nosso cérebro demora a processar qualquer informação. A meu ver, de verdade, gostar não é sinônimo de amar, porque são intensidades e motivos distintos. Podemos gostar de uma pessoa somente porque ela tem o cabelo que gostaríamos de ter, ou porque ela tem o cabelo mais diferente de todos. Agora, se amamos a pessoa, não é por causa de seu cabelo ou cor dos olhos. Para se amar tem que existir admiração e respeito. Antigamente, eu admirava muito a Taylor. Não somente a sua beleza, mas também sua personalidade, porque eu acreditava que ela era fofa e amiga de todos, mesmo. Daí, descobri que, na verdade, tudo aquilo não passava de uma farsa. Taylor falava com fulana e era mega simpática com ela, mas era só a coitadinha virar as costas que se tornava alvo de piadas e julgamentos. No começo, pensava que Taylor só estava falando por falar, mas depois do que ela fez com a Debby, no oitavo ano, vi que as coisas não eram bem assim. A Taylor, a minha Taylor, era . Gostava de humilhar os que estavam a sua volta e não se arrependia.


Ela começou a ser tão das trevas com todos, que me decepcionei com ela. E às vezes se decepcionar com a pessoa que mais estimamos não é uma boa experiência, porque talvez o amor diminua. Como aconteceu comigo. De repente, eu não conseguia mais ser feliz ao lado dela nem conseguia ficar feliz por ela. Taylor se revelou ser somente alguém com quem eu tinha que conviver.


E, tudo bem, isso tudo não é justificativa para o que escrevi no jornal do mês, mas... é a história entre nós.


Talvez não fosse para ser. Talvez o destino esteja me reservando alguém melhor, alguém que eu vá realmente admirar, para sempre.


E tudo isso me leva a tentar responder a pergunta inicial.


Será que devo odiar a Taylor? Pode até ser que isso seja o esperado, porém não sei se o meu coração quer mesmo odiá-la. Ele somente não consegue mais ter qualquer tipo de sentimento por ela, assim sendo... qualquer coisa entre mim e ela morreu. A amizade, a cumplicidade, a lealdade. Tudo.


E nada disso é fácil de aceitar.


Não que eu esteja sentindo falta dela, longe disso, só estou tentando explicar a mim mesma o que sinto agora.


Bem. Por que me importo tanto com isso? Porque mesmo que esteja feliz agora, não posso esquecer que Taylor já foi a minha melhor amiga. As linhas que nos conectam às outras pessoas não são rompidas, somente disfarçadas.


 08/FEVEREIRO – 11:46h – SEXTA-FEIRA – NA SALA DO CONSELHEIRO
Peguei outro passe para ir ao banheiro, mas dessa vez não estou matando aula no banheiro com a Zora. Estou aqui na sala do conselheiro. Não sei que tipo de escola é essa a minha que dá emprego a uma pessoa para ficar ouvindo os problemas dos outros, quando já se tem uma psicóloga. Entretanto, ir conversar com o conselheiro tem uma vantagem: seus problemas entram e ficam lá na sala dele. Nada é comentado à diretora ou aos pais. E, além de tudo, ele fica lá o tempo inteiro, não importa se os alunos estão em aula ou em intervalo. Por isso sabia que podia vir para cá, já que a minha turma está tendo aula de psicologia nesse exato momento.


O que me levou a estar aqui foi a Taylor e o que todo mundo fica falando de mim. E de mim e James, igualmente. Porque isso é muito irritante, sério.


O Sr. Green com certeza ficou surpreso ao me ver abrir a sua porta. Eu nunca entrei aqui. Nunca precisei. Mas não parece que essa seja a situação agora.


- Srta. Evans? – ele levantou os olhos de corvo dos papéis que lia.


- Oi, hum, posso entrar? – perguntei ansiosa.


- Claro, mas não deveria estar em aula?


- É Psicologia – me desculpei.


- Ah, certo. Sente-se, então – suas mãos me ofereceram uma das cadeiras à sua frente.


Sentei-me, alisando meu casaco de pelinhos sintéticos.


- O que a trouxe aqui? – ele me questionou, provavelmente fazendo o seu trabalho.


Juntei meus lábios, pensativa. Eu precisava de um escape.


- Todos que me cercam e me cercavam – respondi.


- Taylor Mcgrow?


- Sim – concordei – O Sr. não acha muito injusto o que fizeram com ela?


- Por causa do Conselho Estudantil?


- Exato. Quero dizer, se ela não pode mais mandar na escola, não sei o que fará. Taylor se sustentava dentro daquele Conselho.


- Pelo o que sei, foram os pais dela que solicitaram à Sra. Rings esse afastamento.


- Ah, verdade? – fingi estar surpresa, como se não soubesse de nada.


- É, é sim. Mas você não acha que toda essa nova situação não irá proporcionar à sua amiga...


- Ex-amiga – corrigi, depressa.


-... À sua ex-amiga possibilidades maiores de encontrar outros meios de ser popular aqui?


- Não sei. O único mecanismo de sobrevivência que Taylor possuía era esse: o poder. Porque, por mais que ela seja a menina mais bonita da escola, de nada adianta não ter o poder de controlar os que estão à sua volta. Pelo menos era isso o que ela sempre me dizia.


- Hum. Acho que a Taylor tem tendência a descartar e brincar com os outros, e para isso usa a humilhação como combustível – o Sr. Green me disse.


- Eu sei – admiti, pensando em todas as coisas ruins que a Taylor faz com todas as meninas que não são populares.


A Alex sempre foi a menina das meias três-quartos.


É tão horroroso pensar que estou andando com ela, enquanto tenho a mais perfeita lembrança de estar rindo com Taylor quando a Alex passava por nós, antes da minha vida virar de cabeça para baixo.


Mas, bem. Isso foi antes. A Alex não pode querer não ser mais minha amiga por causa de uma coisa que eu ria e pensava sobre ela, antes de nos conhecermos de fato. Não é?


- Lily, essa escola está acostumada demais aos mesmos jogos. Ninguém reage ao errado, somente deixa pra lá. Na verdade, o problema não está propriamente aqui dentro: está no mundo inteiro. Ninguém mais reivindica o que quer e o que acha certo e deixa pessoas desqualificadas decidirem por todos. É a maioria poderosa e linda manuseando a minoria oprimida e fraca. Mas isso pode mudar, se a minoria se cansar de ser humilhada e se juntar para acabar com o opressor. Pode até ser que o pensamento de todos, no início, seja de fracasso, mas, com persistência, a minoria se torna maioria com os argumentos certos.


- Sei. Como o Barack Obama, que é o primeiro líder americano negro da história. Ou Kenned, que foi o primeiro católico a ser eleito.


- Exatamente. A minoria pode reverter qualquer coisa quando tem voz. E todos têm voz, basta deixá-la ecoar.


- É, e acho que eu não faço isso com muita freqüência.


- Você nem ninguém daqui, por isso Taylor estava lá. Agora me diz: você quer que isso continue?


- Mas ela perdeu o cargo...


- Perdeu, mas, com certeza colocará uma substituta compatível a ela.


- Ah, isso eu já percebi sozinha.


- Que bom. Então quer que outra menina igual à Taylor conquiste o poder?


- Não! Não quero! Mas não temos opções, não é? A escola sempre vai ser comandada pelos populares.


- Não quer mudanças?


- Não temos opções, é isso!


- Ah. Então mais uma popular vai dar ordens a você.


- Aonde você quer chegar com isso?


- Aonde você quer chegar, Lily?


- Eu perguntei primeiro!


Ele riu. Fechei a cara.


- Quais são as suas ambições? As suas opiniões?  - ele me questionou.


- Tanto faz, até parece que alguém se importa.


- Talvez seus novos amigos se importem.


- Como sabe sobre eles?


- Bem, eu não moro dentro desta sala, sabe. Pode ser que você não me veja por aí, mas eu, com certeza, vejo o que todos fazem.


- Hum. Você sabe sobre a vida de todos?


- Não, nem quero isso. Privacidade é uma palavra que está em meu dicionário.


- É, privacidade é bem bom. Mas o que você quer me dizer, afinal? Que pode ser que os populares não ganhem essa nova eleição?


- Você acha que isso pode ser possível?


- De jeito algum! – eu ri.


- Pessimismo nunca ganhou nada.


- E otimismo também não, porque de nada adianta só pensar positivo se não fazemos alguma coisa.


- Exatamente. Então faça alguma coisa.


- Fazer o quê? Não posso fazer nada! Sou a pessoa mais odiada da escola desde a semana retrasada!


- Por isso tem de fazer alguma coisa. Para mudar como todos a vêem e, principalmente, mudar o que está ao seu redor. Não há nada que gostaria de mudar?


- Claro que há. Muitas coisas, mas não posso. Essas coisas são feitas pela Zora. Eu não sou do tipo que sai por aí gritando que a Jamie é uma cadela. Eu sou do tipo que finge que a Jamie não existe.


- Vai deixar a Zora fazer esse trabalho?


- A Zora não vai fazer nada. Acho que não.


- Humm, então uma aspirante à Taylor Mcgrow vai ser presidente até o final desse ano letivo.


Dei de ombros. Os populares sempre ganham. Não tem como lutar contra eles. Sério. Eles são um exército com roupas de marca e maquiagem no rosto.


- Que se dane, só faltam mais 4 meses para tudo isso acabar – suspirei.


Ficamos em silêncio. Achei que ele fosse retrucar algo para eu contra-atacar, mas não. Simplesmente se calou também.


- Já falamos sobre a Taylor. Sobre quem mais falta falar? Você não veio até aqui somente para discutir sobre a presidência, não é? – depois de um tempo, o Sr. Green me encorajou.


- Bem... – retulei, pensando se falava sobre o segundo assunto que me levou a estar aqui – No meu novo grupo de amigos parece que está acontecendo um complô contra mim.


- Você não foi aceita?


- Fui, fui sim, com a maior simpatia do mundo, mas... um dos meninos está me ajudando com as aulas extras, de guitarra e de violão, e parece que duas das pessoas do grupo acham que passamos muito tempo juntos e que eu o estou roubando de todos. Mas é a maior idiotice, porque o James e eu somos só amigos que temos gostos em comum, sabe. Quero dizer, ninguém lá deles toca algum instrumento ou sei lá.


- Ah, você é a nova amiga do James Potter, não é? – ele comentou feliz.


Fiz uma careta.


- Pois é.


- Hummm. Acho que só estão com ciúmes – seu sorriso apareceu sinuoso em seu rosto quase envelhecido.


- É, mas está ficando insuportável. Sem contar que a minha avó está lá em casa e está apaixonada pelo James e acha que algum dia ele e eu vamos ficar juntos – continuei.


- E você acha que isso pode vir a acontecer?


- Sr. Green! Claro que não! – exclamei - A minha avó é que acha que sabe sobre tudo, mas a verdade é que odeia o meu namorado e só está tentando substituí-lo.  


- Você gosta da relação que tem com o seu namorado?


- Hum, você virou psicólogo agora?


- As respostas que encontrar aqui irão lhe servir para tomar decisões fora daqui – explicou o Sr. Green.


- Bom. Eu falei sobre isso com o James... E percebi que não consigo achar uma resposta definitiva para esta pergunta.


- Então há alguma coisa errada.


- É, mas sempre existe algo errado, não é?


- É, mas sempre existem meios para consertar as coisas quebradas. Mas voltando aos seus amigos... Por que se importa com o que falam?


- Bem, se eu fosse a Britney, não iria gostar que todos falassem de mim, porque gosto de privacidade.


- Mas você não é a Britney.


- Mas ela é uma pessoa como qualquer outra! – observei.


- A minha mãe sempre me disse que se nos irritamos ou pensamos sobre algo é porque nos importamos e nos preocupamos com estas coisas. Talvez você só não queira ver o que está bem à sua frente.


- Não há nada à minha frente! Eu não gosto do James!


- A negação é a forma mais rápida de afirmação inconsciente. Isso se chama mente mentira: a mente cria sua própria verdade.


- O quê? Que frase é essa? Que eu estou negando só para não falar a verdade? A verdade errada que minha avó vê, claro.


- Se é essa a sua interpretação, tudo bem.


- Não, não é!


- Tudo bem, tudo bem – ele falou, tentando me acalmar.


- Então... eu tenho que ignorar todos os comentários? – arrisquei.


- Se assim você acha que está fazendo a coisa certa...


- Você não consegue dar nenhuma resposta de verdade? – meus olhos se zangaram.


- As respostas têm de ser buscadas por você, não por mim.


- Hum – resmunguei.


- Quer falar mais?


- Não. Acho que você já ouviu tudo. Posso ficar aqui até o sinal bater? – perguntei.


- Claro. Se você acha que não tem nada a aprender em Psicologia...


Rolei os olhos e recostei na cadeira fofa. Fiquei assim por um tempo, até tirar meu caderno-diário da bolsa que trouxe comigo e começar a escrever tudo o que falamos aqui.


Escrever é como uma terapia. Eu me sinto muito aliviada ao passar tudo para o papel. É bom.


(P.S.: Hakuna Matata significa "sem problemas" ('don't worry be happy'), que provém de uma língua africana com o nome de Swahili. Eu gostava de O Rei Leão quando criança õ/)


 08/FEVEREIRO – 12:52h – SEXTA-FEIRA – ALMOÇO
Parece que o que mais faço são exercícios de respiração para buscar a calma.


A minha calma foi arrancada de mim agora a pouco, na mesa do refeitório.


Foi mais ou menos assim:


Saí da sala do Sr. Green após ouvir o sinal soar e agradecê-lo e vim para o refeitório, onde os alunos chegavam aos tropeços, porque aqui todo mundo tem a alma gorda, mesmo eu que sou magrinha. Eu me servi conversando com a Nichole, que falava sobre os efeitos do chumbo nos corpos das pessoas, e logo o James se juntou a nós, claramente cansado. As vozes daqui só falavam sobre uma coisa: a nova eleição. Eu estava me sentindo culpada.


- Agora vocês podem saber por que esse é o melhor dia da minha vida. Olhem – A Zora mal chegou ao refeitório e já veio correndo para a nossa mesa, nem foi se servir.


Ela trazia uma folha obviamente xerocada nas mãos felizes.


Programa de Desintoxicação Para Espertos, era o que estava escrito na folha, provavelmente com canetinha. Ela também tinha desenhado várias pessoinhas segurando placas, e cada uma tinha um dizer:


Turma do Teatro.


Turma do Fundão.


Turma dos CDFs


Turma das Princesas


Turma dos Esportes


Turma dos Esquisitos


Turma do Coral


Turma dos Valentões


Turma dos Roqueiros


Turma do Skate


Turma da Música


Turma dos Perdidos


Turma dos excluídos


Turma dos Tímidos


Turma dos Emos


Turma dos Sem-Estilo


E muito mais.


Todo mundo olhou para aquilo, leu e ficou com cara de sol.


- O que é isso, Zora? – Sirius foi o primeiro a perguntar.


Ela fez a cara mais orgulhosa do mundo, largou a folha em cima da mesa, sentou-se e começou:


- É a minha chapa. Vou concorrer na eleição. E, Sirius, você também. E quem estiver a fim.


Programa de Desintoxicação para Espertos... Aquilo me lembrava algo.


Ah, Programa de Proteção para Princesas? Aquele filmezinho da Selena Gomez com a Demi Lovato, em que esta é uma princesa em perigo. Será que eu não sou a única a assistir à Disney?


Mas, espere aí, pior do que se inspirar no nome do filme, é querer concorrer com a Taylor. Bem, indiretamente com a Taylor, já que ela não pode voltar a ter o poder em suas mãos mais.


Todos rimos. A Zora competindo com os populares? Até que tem bastante gente que adora o Sirius, porque ele é super engraçado e vive aprontando, mas todo mundo acha a Zora a pessoa mais louca da escola. Ninguém, além de nós, claro, irá votar nela, porque ninguém quer sofrer as conseqüências da vingança da Taylor.


- Zora, cara, como assim? Você não vai conseguir nada. Ficou muito legal a propaganda e tudo, mas você enlouqueceu – o Remus falou, parecendo chocado.


- É isso que falam os perdedores, e eu não sou uma perdedora, amor – ela respondeu.


- Zora... Ele só está sendo realista – eu disse, voltando a enfiar couve na minha boca.


Ela sorriu. Dava para ver que ela não desistiria.


- Isso parece mais uma propaganda de tratamento para drogados – o Sirius riu e acho que nem foi de um modo malvado.


- É exatamente esse o espírito da coisa, amor – a Zora falou ao Sirius, que riu ainda mais, agora incrédulo.


- Não sei aonde você pretende chegar – ele se defendeu.


- Você vai entender depois de começar a me ajudar – ela respondeu, sem fazer caso.


- Mas esse é o dia mais feliz da sua vida porque você fundou uma chapa estudantil? – a Alex perguntou, tentando não demonstrar o riso.


- É isso aí, porque eu vou acabar com a Taylor – ela afirmou com tanta convicção que quase acreditei nela, ainda que aquilo não fizesse o menor sentido.


- Bem, boa sorte, acho que vai precisar – o James falou, mas ele não parecia estar ligando muito para aquilo.


- Não preciso. Já tenho tudo comigo – ela respondeu.


Franzi a testa.


É impossível ela já ter tudo, levando em conta que o debate é na sexta que vem e aposto como o discurso ainda não está pronto.


- Você quer a nossa ajuda? – Alex perguntou.


- Pode ser, mas na segunda, porque vou passar o fim de semana aperfeiçoando isso daqui – Zora apontou para o papel que xerocara.


- Vai ser a maior perda de tempo e decepção do mundo – o James me cochichou.


- Pode ser que ela consiga votos, ué. Sabe como a Zora é – cochichei de volta. Aí me lembrei da conversa que tive com o Sr. Green, agora a pouco. Sobre a presidência. Arregalei os olhos e bati meus olhos na Zora.


É claro que a Zora não iria perder a oportunidade de mudar algo. Ela sempre quer brigar por algo, seja pela justiça dos desfavorecidos ou pelo cachorrinho ali da rua. Zora é pró-ativa, ou qualquer coisa do gênero.


- Ah, não. Zora, é assim que você vai se vingar da Taylor? – perguntei-lhe, alcançando sua manga do casaquinho de flanela e não a deixando se mover para longe da mesa.


Sua expressão ficou aborrecida e satisfeita ao mesmo tempo. Aborrecida porque a comida dos guichês estava diminuindo e ela ainda não tinha se servido, e satisfeita porque alguém entendeu aonde ela quer chegar.


- É isso aí, baby! – ela piscou para mim, toda animadinha agora. Soltei-a e Zora foi, finalmente, se abastecer de guacamole, lasanha vegetariana e pimentinha.


Calada, fiquei admirando meu prato quase vazio.


Espera aí, isso nem é muito ruim. Pelo menos a Zora quer fazer alguma diferença, apesar de estar movida a vingança. Pode até ser que consiga alguma coisa, sabe-se lá como, já que a maioria irá votar na oposição. Mas, por outro lado, a Taylor irá me odiar para sempre, porque vai pensar que estou ajudando a Zora, e mesmo se não, agora convivo com esse grupo, e provavelmente ela sabe que não vou dar meu voto a algum popular, mesmo que a popular seja a Stella, que é a única patricinha que quase gosto.


- Está maquinando em um jeito de se matar usando a comida do seu prato? – ouvi a voz divertida do James, que sempre se senta ao meu lado nos almoços.


- Não, não estou maquinando nada. Só estou pensando quando é que a Taylor vai tentar acabar comigo, se é agora ou depois das eleições – respondi de um jeito todo trôpego e idiota. Eu acho que estava passando mal.


- Mas não é você que quer a presidência, oras – o James me falou.


- É, mas a Zora quer, e tecnicamente a Zora é minha amiga e está contra a Taylor.


- E daí? Por que você vive pensando na Taylor, se vocês não são mais amigas?


- Porque, indiretamente, ainda somos colegas de escola.


- E por que você se importa?


- Eu só não quero que a minha vida acadêmica seja arruinada por ela, entende? A Taylor, apesar de não ter mais poder nenhum lá dentro do Conselho, ainda tem as pessoas em suas mãos, como brinquedinhos ou cachorrinhos de madame.


- E você se acha um brinquedinho dela?


Odeio quando o James tenta me confrontar. É ridículo e eu me sinto muito aborrecida.


- Eu sempre fui um brinquedinho dela. Todos sempre foram – contei, ainda que tivesse sido de má vontade.


- Desculpe, mas eu ou Alex e todos nós dessa mesa nunca fomos – ele me lembrou com veemência.


- É, mas só porque vocês são impopulares. A Taylor nunca nem falaria com qualquer um de vocês, de modo que nunca poderia controlá-los – expliquei, meio sem jeito. Não queria ter de falar que são tão invisíveis que nunca ninguém poderoso daqui se daria o luxo de se importar com eles.


- Bem, você também nunca foi tão requisitada, pelo o que sei – ele retrucou, mas não de um jeito rancoroso.


- Não, claro que não, eu só andava com toda aquela gente porque era amiga da Taylor – eu disse.


- E era legal?


- Ser amiga de toda aquela gente? – fiz uma careta.


- Mais ou menos.


- Bom, não de verdade. Eu não me sentia aceita o suficiente e sentia que aquele não era o meu lugar.


James sorriu, mas de um jeito feliz, como se soubesse de todos os meus pensamentos, que não eram muitos e só diziam respeito à Taylor e à presidência.


- E esse é o seu lugar? – ele apontou para a mesa que estávamos almoçando, como se referisse ao grupo.


- É bem provável – respondi, sentindo-me estranhamente contente e completa, de repente.


James continuou a sorrir, agora parecendo agradecido. Eu sorri também, mas achei que estivesse começando a corar, como sempre. Não sei o que me faz corar todas as vezes que o James está por perto ou me fala alguma coisa que me faça sentir feliz ou sem graça.


- Lily? Você vai nos ajudar? – a Alex me tirou de meus pensamentos e me arrastou para a realidade da escola.


A Zora já tinha voltado da caça por comida e estava super animada conversando com Sirius sobre a presidência a ser conquistada.


- Oi? Ajudar em quê? – perguntei, parecendo extremamente alienada.


- Na campanha da Zora – ela me respondeu, rindo.


Ah, sim. Vou mesmo ajudar na campanha, e aí a Taylor terá realmente um ótimo motivo para me humilhar mais uma vez em público. Vai sonhando.


- Hummm. Acho que vou me abster disso, me desculpe – falei.


- Bem, todos nós iremos ajudar. E você, Jay? – Alex lhe perguntou.


- Posso ajudar no que puder. O que precisamos fazer? – ele quis saber.


- A Zora disse que é para nós nos misturarmos – a Alex explicou.


- Nos misturarmos? – o James repetiu, estranhando.


- É, é só sermos amigos de todas as panelinhas.


- De todas? – indaguei.


- É, não é legal?


- Não sei. Isso é uma estratégia?


- Acho que sim. Igualzinha à Amanda Bynes em Ela e os Caras.


- Ah, é, me esqueci que vejo esses filmes de menininha – James ironizou.


- Você assiste, ué. A alguns, pelo menos – Alex falou. 


James fingiu que não estava mais no papo e quis ir conversar com a Zora para entender melhor o que deve fazer para ajudá-la até sexta que vem.


Ai, meu boizinho. Isso vai ser tão ruim. Vai ser péssimo se Zora perder. Vai mesmo. Não quero nem ver.


 08/FEVEREIRO – 15:52h – SEXTA-FEIRA – BAR & CAFÉ DRUMMS
É, hoje ela conseguiu. Eu tinha prometido que não iria mais falar tanto com ela depois daquela noite traumática que o Jay jantou lá em casa, mas há males que vêm para bens, não é? Ou é isso que todos falam, não que até hoje eu tivesse acreditado muito nisso.


Tudo começou quando saímos do prédio, depois das aulas. Eu e James conversávamos sobre tudo exceto sobre a campanha de eleição, como todos os outros estavam, principalmente o Sirius e a Zora. Tudo estava perfeitamente normal até eu perceber alguém com roupas pink e bem velha acenando para o meu grupo. A princípio achei que fosse somente uma miragem ou que aquela senhora fosse a avó do Nick Stuck, o cara das calças vermelhas, mas aí notei que conhecia aquela mulher toda animadinha, tentando dar saltinhos naqueles sapatos de salto agulha.


- Lily! Lily! Olhe aqui! – era o que ela berrava, agora chegando mais perto da massa de estudantes.


Ah, a minha avó toda maluca ali bem na frente de todos, acenando e agindo como uma... bem, uma doidona, como sempre.


Arregalei os olhos, entrando em estado máximo de desespero.


Agora os mais próximos apontavam e riam. Claro que o James olhou também, mesmo eu a ignorando.


- Ei... aquela não é... a sua avó? – ele me perguntou, confuso e apertando os olhos por conta do Sol.


- Hã? Não, claro que não – falei, pegando seu braço e o girando para darmos as costas à minha avó.


- Ei, é ela sim. Olha só – o James apontou, interceptando meu gesto de desespero.


- Tá, tá bom, é ela mesma, mas...shiiu, não fala nada que logo ela pára. Sei lá o que ela está fazendo aqui!


- Humm, acho que ela não vai parar, não. Olha ela aqui – o James disse, sorrindo.


Minha avó, de repente, verdadeiramente estacionou ao meu lado.


- Lily! Está surda, menina? – D. Julia me perguntou, furiosa e cansada por andar tanto da calçada até a porta do prédio principal – Oi, James – ela falou mais suavemente com ele, que somente sorriu.


Sirius, Zora, Nichole, Alex, Remus e Peter se viraram para encará-la, surpresos.


- Oi, D. Julia. O que está fazendo aqui? – meu maxilar estava cerrado e eu adoraria pular em seu pescoço e arrancar cada fiozinho falso de seu cabelo platinado. 


- Oras, sei que não deveria vir aqui e, sinceramente, odeio esse tipo de lugar com toda essa gente afetadinha com mentalidade de 5 anos, mas sou sua avó, tinha que fazer alguma coisa. Por isso vim lhe buscar para a nossa tarde de meninas – ela me respondeu, agora se sentindo um pouco melhor. Pelo menos sua cara não estava travada e com expressão de Buldogue pronto para atacar. E ela faz e carrega essa expressão muito bem e praticamente sempre.


As meninas (Alex, Nichole e Zora) observaram a minha avó com mais atenção.


Odeio quando a minha avó é o centro das atenções, porque ela sempre tem a tendência a estragar tudo com qualquer frase estúpida ou com qualquer coisa que faça.


Olhei ao redor, ignorando os cochichos alheios, especialmente das meninas populares.


- Quando você diz “tarde de meninas” quer dizer ir a um salão de beleza para arrancar as sobrancelhas e gritar, enquanto aquelas mulheres riem da sua cara? Hã, não, obrigada – respondi, querendo engolir minhas mãos.


D. Julia aprumou os ombros e endureceu o rosto.


- Sabe, quando a minha filha me disse que estava esperando uma menina não a imaginei deste jeito – minha avó me disse, parecendo nada satisfeita – Mas, não, nós não vamos a um salão. Vamos às compras, para a sua festa amanhã à noite.


Ok, o mundo congelou por um segundo e alterou eternamente o funcionamento do cérebro da minha avó, por isso ela foi até a minha escola me avisar que iremos passar a tarde experimentando roupas, como se eu fosse uma princesa ou a Paris Hilton. É, isso não estava nos meus planos da manhã.


Franzi a testa, pensando se surtava de vez ou se me impressionava.


- Humm. Ok, isso é mesmo legal, mas... vou trabalhar a tarde toda, então não irei p...


- Eu tomei a liberdade de ligar lá para a adestradora e disse que você pegou malária – o cabeção me disse, me cortando.


Ah, malária. É claro. Totalmente me esqueci que moro em uma região tropical ou subtropical. Como a minha avó é esperta.


- Primeiro: eu trabalho em um Petshop, de modo que a Dra. Ghrin não é uma adestradora, é uma veterinária. Segundo: você sabe o que é malária ou onde se localiza a maior concentração de mosquitos Anopheles? – indaguei a ela, agora decididamente fervendo.


- Não importa – ela sacudiu as mãos enfeitadas por anéis e então colocou os olhos maquiados em meu grupo – Olá queridas, vocês querem tirar a tarde de folga?


Não sei como ela imaginou que Sirius, Remus, Peter, Alex, Zora e Nichole são meus novos amigos, mas acho que é bem fácil, considerando que todos são impopulares e não usam roupas de marcas.


Nick e Alex ergueram as sobrancelhas, parecendo felizes. Já Zora olhou para a minha avó como se ela tivesse perdido o juízo, o que é muito fácil, claro.


- D. Julia... – tentei atirar qualquer pedra nela, antes de alguém poder se pronunciar.


- Claro, parece ser muito divertido – Alex respondeu, sorrindo.


Fiz uma cara de sagüi da selva para Alex, indiscretamente.


- Eu estou fora. Realmente tenho muito que fazer para a campanha e não tenho tempo para... isso – a Zora falou com cara esnobe. Ok, ela é muito esnobe mesmo quando quer e todo mundo sabe disso. E é claro que Zora nunca aceitaria desperdiçar qualquer tarde quando tem que pensar em um monte de estratégias políticas para apresentar na sexta que vem.


- Não é nenhuma campanha contra o aborto ou contra a abolição de saias-lápis, não é? – minha avó perguntou até mesmo demonstrando bom humor.


- Não, é uma campanha contra a força opressora dos populares nesta escola, senhora – Zora lhe respondeu, apesar da careta e da ironia. 


Ou D. Julia ficou impressionada ou não gostou nem um pouco da resposta da Zora, porque sua expressão foi uma incógnita gigante.


- Huumm, que bom que alguém tem um espírito ativista por aqui – minha avó comentou.


- É, esse lugar está totalmente precisando... – Zora retrucou.


Os meninos, principalmente o Remus, e exceto o James, pareciam muito deslocados e apreensivos. É, dar de cara com uma velha toda patricinha e mal-humorada não é muito legal.


- Bem, é melhor corrermos, porque tenho que pegar as jóias que encomendei daqui a pouco – D. Julia avisou, agora dando uma espiadela em seu relógio de pulso cravejado de pedrinhas. Ela o tem desde sempre e eu sempre o odiei: ele é cegante.


Lógico que tive de me despedir do grupo e seguir a minha avó. E a Alex e a Nichole fizeram a mesma coisa.


- Desculpe, querido, mas, a menos que você queira se tornar uma Drag Queen, não poderá vir conosco. Deus sabe o quanto eu adoraria passar a tarde com você – ela se dirigiu ao James, com o maior carinho babento do mundo. James se limitou a rir, como sempre faz, porque acho que é a coisa que ele mais faz na vida, e eu lhe pedi desculpas, só por educação mínima.


Tudo bem, eu sempre digo que a D. Julia é mal-educada e chata e um porre, mas tenho que comentar que dessa vez ela foi bastante aceitável e educadinha para os seus próprios padrões. Nenhuma hora disse algo sobre a camiseta usada por Peter desde a semana passada ou dos mini rabinhos de cavalo que a Zora tinha na cabeça.


Entramos no táxi que nos esperava e agora estamos aqui nesse Bar-Café super legalzinho e quentinho. Quero dizer, eu estou aqui no banheiro escrevendo isso, porque já acabei de sorver o meu chocolate quente com chantilly. A Alex, a Nick e a minha avó estão lá na mesa, ainda comendo a tortinha de nozes que concordaram em pedir. Sei que não devia ter deixado minhas amigas com a Bruxa Má de Londres, mas se eu não passo tudo para o papel... bom, eu começo a ter uma síncope (ou um desmaio, como todos dizem, mas eu assisto muito a House e sempre uso os recursos médicos para qualquer coisa, hahaha).


 08/FEVEREIRO – 17:27h – SEXTA-FEIRA – LOJA DE ROUPAS (BOTTEGA VENETA)
As meninas estão com cara de ursinho feliz com cheirinho de morango. Eu até que estou com cara de unicórnio cor de rosa, mas sem cheirinho. A minha avó está com cara de Bruxa do Bem, mas muito muito feliz. Ela sempre fica feliz quando está no caixa gastando qualquer quantia de dinheiro.


Entramos em tantas lojas chiques – as mais chiques e caras da cidade, que nunca entrei, porque um salário não dá nem para pagar metade do preço de uma camiseta básica vendidas nessas lojas – que mesmo eu estando de tênis meus pés estão doloridos de tanto andar por araras de vestidos e outras peças e entrar e sair de provadores. Aquelas mulherzinhas com suas roupas brilhantes praticamente respiravam em cima da gente enquanto carregavam todas as nossas roupas que provaríamos, ou que descartaríamos dos montinhos que construíamos em cima das cadeiras de couro.


A cada vestido megaexagerado que a minha avó balançava na frente dos meus olhos, eu ficava tipo:


- Não, de jeito nenhum, pode tirar isso de cima de mim.


As meninas, às vezes, diziam:


- Aaah, coloca, coloca só pra gente ver!


Sabe, eu não sou do tipo que ama vestidos nem nada assim. Mal uso shorts ou saias, quanto menos vestidos, porém tinham alguns vestidos EFETIVAMENTE maravilhosos naquelas araras que a minha avó ou as meninas puxavam dos cabides. Dourados, prateados, foscos, brilhantes, degradês, transpassados, transparentes (!!!)... De todo e qualquer tipo que você imaginar ou querer.


A Alex amou um cor de beterraba estilo vintage que realmente ficou uma graça nela. A Nichole, claro, escolheu um que não fugisse da coisa “Tim Burton & Morte”, mas o corte é todo bufante e parece muito clássico, que casou perfeitamente com o que ela ama. Minha avó ficou satisfeita em poder bancar as escolhas das meninas, porque, pelo o que ela disse (para a loja inteira), ao menos tinha com quem se divertir fazendo compras.


Ainda bem que encerramos as horas para “vestidos e outras vestimentas”, porque não suporto mais tirar minhas roupas para me cobrir com mais roupas. Estou levando três vestidos, uma saia colegial preta (para usar com meia-calça e sapatilhas fofas, segundo o que a Alex me disse), duas calças (tudo bem, são skinnys, mas não são coloridas, como as que tenho lá em casa) e um casaquinho simples de algodão. Pensando bem, nem é muita coisa. Não gastei nem 2 mil libras, o que é quase troco para todas as compras que a D. Julia faz por Londres. Ela é praticamente a Paris Hilton: consegue gastar, tipo, 75 mil só em roupas que vai usar em um mês. E nem pense que ela faz doações para caridade ou vai ajudar a construir um novo orfanato lá em Serra Leoa, como a Angelina e a Taylor Swift fazem. D. Julia não gosta muito de criancinhas, portanto é bem capaz que se tivesse que ser algum personagem de conto de fadas seria a bruxa que quase comeu Maria e João. Fico me perguntando como até hoje ainda não ME colocou em um caldeirão e me serviu de jantar para os cachorros do mato.


- A sua avó não é tão demoníaca como você nos diz sempre – a Alex acabou de me cochichar, enquanto D. Julia tentava descobrir onde tinha ido parar o seu cartão com crédito acima de 10 mil.


- Isso porque vocês estão comigo – tive que responder, porque é a verdade, ainda que muitos achem que eu invento tudo sobre a minha avó. Ou pelo menos em relação à maldade que ela carrega – Sério, sabe aquela história de não julgar um livro pela capa? Totalmente serve para a minha avó também. Ela parece super querida, mas no fundo é uma demônia irmã do Marilyn Manson!


- A Lindsay Lohan também parece bem legal, mas nunca gostei dela – a Nick se manifestou, saltando do banquinho estofado.


- Mas a avó da Lily nem é drogada... – a Alex falou.


- Ah, nunca se sabe... – deixei escapar, quase sem querer mesmo.


As duas riram, mas não como se estivessem morrendo de rir.


Aaah, nós vamos enfim embora daqui! Agora vamos procurar sapatos... O que é o terror para mim, porque meu pé até parece normalzinho, mas é super difícil encontrar sapatinhos fofos ou sapatilhas que de fato sirvam em mim, por isso sempre vou às lojas de criança, que vão até o número 34. Eu sei, é péssimo. Shiiu aí, não conte para ninguém ;)


 08/FEVEREIRO – 18:34h – SEXTA-FEIRA – TÁXI, RUMO À MINHA QUERIDA E AMADA CAMA
Eu. Preciso. Da. Minha. Cama. Urgente!


Experimentar sapatos, sapatilhas e botas não é tão cansativo quanto tirar e enfiar roupas a cada olhada no espelho. É só colocar no pé e acabou. Andar um pouquinho e dizer se quer levar. Fácil.


D. Julia nem recusou levar a botinha Peter Pan cinza para a Nick. A Al só aceitou a sapatilha rosinha bebê fofinha. Eu também quis duas sapatilhas, mas também um sapato de salto, azul. É muito princesinha e eu adoro essas coisas. Sou toda Alice com seus lacinhos e roupas fofas. Ai, tá, o negócio é que sou romântica e isso me deixa toda afetada e retardada.


A Nick está reclamando que quer uma bacia de água quente e uma massagem nos pés. Eu também quero.


Pensando bem, eu deveria obrigar a D. Julia a fazer a massagem em mim e a preparar um prato da minha comida favorita assim que chegarmos em casa. Até parece que estou pedindo muito.


Ainda bem que estamos já indo para casa, porque mais um tempo acatando os “pedidos” da minha avó, eu iria ir embora sem nada nas mãos. Ao menos, amanhã não tem aula e vou poder dormir até o horário do cooper da manhã, que D. Julia acabou de dizer que vai me fazer ir junto. Hahahaha. Meus pés estão tão acabados que é capaz de eles, daqui a pouco, se desatarraxarem das minhas canelas e irem descansar em qualquer lugar.


08/FEVEREIRO – 21:12h – SEXTA-FEIRA – CASA (MEU QUARTO)
Ok. Eu liguei para o James. E ainda bem que ele aceitou.


Achei que o meu fim de noite estava bem tranqüilo e dolorido, mas é claro que as coisas sempre têm a tendência a piorar em minhas mãos. Eu e a minha avó mal tínhamos acabado de nos sentar na sala com todas as sacolas recheadas de roupas e caixas de sapatos, quando o telefone tocou. Claro que achei que fosse qualquer um dos caras que está comandando a reforma da casa em Londres ou a tal da Molly Flower, que tinha prometido à D. Julia o retorno da ligação de sua proposta, porém eu não precisava ter imaginado ninguém tão longe daqui. Era a Bekka, a redatora do jornal do bairro, o Vida & Paz (vai saber quem decidiu por esse nome, mas né, não posso mudar nada) querendo saber sobre a minha matéria do mês, que, admito, ainda nem comecei a esboçar.


- Oi, Lily, desculpa ligar tão tarde, mas é sobre a sua matéria – ela me cumprimentou, toda séria.


Aliás, a Bekka é sempre séria. Não é a toa que todo mundo tem medo dela: além de ela ter o poder, é muito esquentadinha. Dá um pití a todo o momento.


- Ah, oi, Bekka. Aconteceu alguma coisa? Sou a jornalista cancelada do mês? – quis saber, sendo negativa e fazendo cara de preocupada.


No jornal existe uma política bizarra de rotação de jornalistas, o que quer dizer que alguém sempre corre o risco de ficar de fora do jornal e de sua matéria ser cortada. Não que se isso tivesse acontecido comigo agora, eu entraria em depressão profunda, porque é até bom, considerando a tonelada de coisas que tenho que fazer até o encerramento do mês.


- Não, não, você não foi tirada do mês. Só quero saber se dá para você correr um pouquinho e adiantar a matéria – ela me falou, acho que rindo da minha cara, meio que mentalmente, claro.


- Ah – eu fiz um pouco surpresa – Bom, olha, eu ainda não comecei a escrever nada, mas posso, sim, adiantar. Para quando você a quer?


- É melhor você correr, então. Nós a precisamos para segunda-feira. No máximo, até terça. Você consegue?


Uau. Geralmente eu levo quase o mês todo para ir atrás da matéria e passá-la ao papel, para posteriormente inserirem no trabalho final. Será que sou capaz de fazer isso em três ou quatro dias? Bem, não deve ser tão difícil ir atrás de Cassie Montgomery e questioná-la sobre sua loja de roupas para convenções de animês.


- Acho que sim – respondi incerta. Eu não sou muito boa em probabilidade.


- Ótimo, então. Trabalhe o mais rápido possível, ok? Boa noite – ela me informou com aquela voz de manda-chuva. 


- Boa noite – ecoei, já falando comigo mesma na linha.


- Problemas? – ouvi minha mãe me perguntar, lá da poltrona.


- Talvez – dei de ombros, pensativa.


- Não existe a palavra “talvez”. Ou é sim ou é não – minha avó me falou, com a costumeira xícara preferida da minha mãe nas mãos, bebendo, obviamente, chá.


Eu fingi que não a ouvi.


Nós tiramos as roupas e os sapatos das sacolas e os espalhamos pelo sofá, para que mamãe pudesse admirar tudo.


Depois que D. Julia me obrigou a vestir e a calçar tudo aquilo, pretendia subir para cá para descansar, então acelerei meus passos por conta da idéia que tive.


Claro que eu não vou procurar a Cassie sozinha. Quero dizer, adoro animês e especialmente mangás, mas ninguém me deu o endereço dessa garota, então não vou sair à sua caça, apesar de eu amar o espírito jornalístico-espião e tudo mais. Tudo o que sei sobre ela é que esta tem uma butique de roupas para Comic-Con e festas à fantasia e que tem a minha idade. E a real razão da minha matéria ser escrita é que parece que todo mundo que é fã dessas coisas vai lá à loja da Cassie; é a febre do momento, pelo o que a Bekka me disse.


Bem, depois de pensar tudo isso, resolvi que preciso de um parceiro de aventuras. E a primeira pessoa que me veio em mente foi o James. Nada contra a Alex, porque ela também adora o Japão e seus animês românticos. E igualmente nada contra a Nick, mas digamos que ela só vá se interessar por gibis japoneses se o Tim Burton ou o Byron estiverem neles. E, bem, eu tenho outra explicação muito mais convincente: todo mundo está muito interessado e ocupado com a eleição da escola. O James é o único que não está nem aí para isso tudo, que acha o Conselho a maior bobagem do mundo e que não importa quem é que vai tomar o poder, nada lá na Bedford High School irá mudar (o que concordo plenamente, uma vez que só quem vence a presidência são meninas populares). Tudo bem que a Nichole também não vê nenhuma graça na disputa pela presidência, mas acho que está a fim de ajudar a Zora, porque não parou de dizer, a tarde toda, que se a Zora fizer uma boa campanha, poderemos vencer essa. Mas, bom, esquece a Nichole. Ela não gosta de mangás nem de nada dessas coisas que eu e o James somos viciados (o quê? Ele é um nerd, tá bom?).


Com o telefone lá debaixo na mão, disquei o número da casa dos Potter.


- Alô? – uma voz pastosa me atendeu.


- Hum? James? – perguntei.


- Lily? – o garoto se livrou da voz abafada – O que você quer?


Era o Sirius. Acho que ele passa tempo demais fora da própria casa, mas ainda bem que está lá com o James.


- Oi, Sirius. Eu quero falar com o James, ele está por perto?


- Ai, sua babaca. Eu sei que você quer falar com ele, até parece que você ligaria para cá para falar com a Alex, não é? – senti a sua maldade, mas somente suspirei silenciosa.


- Hahahaha – fingi rir – Tá bom, acabou a brincadeira: passe para o James, por favor?


- Sabe de uma coisa, Lily? – ele não me deu tempo para responder e já continuou: - Você gosta demais do James.


- É, claro que sim – concordei, ironizando – Agora pod...


- Tá, cala a boca, eu já entendi: você quer o James – ele falou, então gritou longe do bocal: - JAMES, A LILY NO TELEFONE, ATENDE AÍ EM CIMA!


Sabe, às vezes é muito fácil odiar o Sirius.


Uns segundos depois, ouvi a voz de James:


- Eu deveria proibir de o Sirius atender aos telefones daqui – ele ria.


- Acho que sim – ri também – Ei, liguei para você porque preciso da sua ajuda. Bem, não é bem uma ajuda fenomenal, é só uma coisa que tenho que fazer e achei que você iria gostar se viesse comigo.


- Uau. E o que você tem que fazer? – ele me questionou.


- Bem, lembra que lhe contei sobre as minhas matérias para o Vida & Paz, né? Então, dessa vez tenho que procurar uma menina que tem uma loja e tal e tenho que entrevistá-la e escrever um pouco sobre ela. Quer vir comigo?


- Você não vai mesmo ajudar a Zora, não é?


- Não, não vou. Mas... você quer ir procurar a menina comigo?


- Quero, parece coisa de espião – ele riu.


YEEY.


- Legal. Pode ser amanhã de manhã? É que tenho que entregar tudo na segunda ou na terça...


- Tudo bem. Às dez? – ele sugeriu.


- Maravilha, assim posso fugir da corridinha com a minha avó – agradeci.


Ele riu.


YEEY ao cubo.


- Vou desligar, preciso descansar. Você não tem idéia do que é fazer compras com a minha avó. Pobre Alex. Ela ainda não abriu um processo contra a minha família?


- Hahaha, não, não. Ela se divertiu, apesar dos pés dela estarem um pouco estranhos.


- Eu sei. Os meus estão parecendo marshmallows assados – contei.


- Ewww – fez o James.


- É, bem ruim mesmo. Boa noite. Vou indo – me despedi.


- Boa noite também – ele me falou.


Desliguei.


Bom, sem querer ser chata nem nada, mas vou parando por aqui. Vou ir dormir, porque amanhã o dia vai ser longo, difícil e possivelmente divertido. (Tudo bem, tudo é divertido com o James, não posso mentir, e tomara que o Sirius nunca venha a ler isso daqui).



*******************************

N/A: Oi, de novo!! Bom, como podem perceber estou postando mais um cap. E vocês nem tiveram que esperar uma semana para lê-lo!! YEEY. A
Olívia Mirisola sugeriu/brincou (?) que no feriado deveria ter dois caps postados, e eu achei justo .-. Então, aproveitem, mais uma vez! :D Adoro vocês e continuem comentando! Beeijos *-*

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