Emmeline Vance





3. Emmeline Vance


 


- Não consigo aceitar aquele garoto morando na minha casa Lily. – Emmy reclamava à amiga enquanto se acomodavam nas carteiras esperando a aula começar. – Sim, é um garoto. Ele tem idade para ser o MEU namorado.


- Mas sua mãe não é feliz com ele? – A ruiva tentava acalmar a loira.


- Feliz até demais. – Então ela se aproximou para que os demais não ouvissem algo que parecia ser um segredo. – Há seis meses quando minha mãe resolveu pedir o Paul em casamento, meu pai ligou dos Estados Unidos dizendo que era para eu aceitar a decisão dela e blablablá porque ela precisava ser feliz e etc. Eu falei tudo bem, até aquele momento não estava me importando, e tanto eu como ele sabíamos que aquilo não ia durar muito tempo...


Lily ficou imparcial com o comentário, então Emmy continuou.


- Mas já faz meses que eles estão juntos! E semana passada quando liguei para o meu pai falando em como a mãe estava mudada, ele falou que era bobagem. Então eu revelei o verdadeiro motivo da minha pira total: naquela manhã o Paul estava andando só de cueca pela casa e tinha tomado o suco de laranja pelo bico da garrafa! Na frente da mamãe! E ela não brigou! Nem um pio, só riu e elogiou a ‘bundinha sexy’ do esposo dela!


- Desculpa Emmy, mas ainda não entendi porque toda histeria. Ahh, Bom dia, Remus!


- Bom dia, meninas. – Remus adentrava a sala e sentava em uma das mesas atrás das duas.


- Bom dia, Remus. – Emmy sorriu para o garoto então se virou novamente para a amiga enquanto o mesmo se distraia com um livro e seus fones de ouvido. – Acontece que eu e meu pai sabemos como minha mãe é rigorosa em relação ao café da manhã e a vestimenta adequada para isso. E em como ela ODEIA e tem repugnância quando alguém bebe algo do bico da garrafa. Eu e meu pai já sofremos muito com isso. Sim senhora, mas parece que isso ficou realmente no passado.


Naquele instante, Dorcas e Edgar chegavam e cumprimentavam os amigos. Edgar se postou ao lado de Remus e já riam sobre algo que o recém chegado havia comentado. Dorcas se sentou ao lado de Emmy.


- Mas Emmeline, isso é ótimo. Isso só faz bem a sua mãe. – Lily dizia quase sem paciência até que Dorcas interferiu.


- Ah Emmy, você não está falando novamente sobre o casamento da sua mãe com o Paul, está?


- Mas é que eu sei que ele vai abandoná-la. Entendem? Esse é o problema. Ele a iludiu e vai deixá-la, terei que apoiar minha mãe comendo um pote de sorvete de flocos inteiro junto com ela. Então engordarei 3 kg, minha apresentação será um fracasso e não conseguirei entrar pra Juilliard¹.


- Emmy não seja boba. Sua apresentação é amanhã. – Lily agora ria. – Você irá entrar na Juilliard e sua mãe não perderá o marido tão cedo.


- Ok. Agora desembuche. – Dorcas encarava seriamente a amiga. – Qual é o verdadeiro problema?


- Isso é muito irritante, sabia? – Emmy bufava e revirava os olhos se entregando. – É impossível esconder algo de você, Dorcas!


Agora Lily a encarava com uma das sobrancelhas erguidas parecendo muito irritada com fato de ousarem esconder algo dela.


- Ele poder deixar minha mãe mal é um dos problemas sim. Mas, bem... Semana passada, quando ele andava só de cueca... Era uma Calvin Klein! Ahh Lily, você sabe como tenho uma caída por homens usando Calvin Klein.


- Qualquer mulher tem uma caída por homens usando CK. – Dorcas deu um sorrisinho sapeca.


- Ou usando nada... – Lily completou meio ruborizada.


- Ruiva safada. – Emmy fingiu estar chocada. – O que foi que James fez como você, ein?


- Não mude de assunto Emmy! – Lily a cortou, então com a voz mais baixa e dessa vez realmente chocada. – Você botou chifre na sua própria mãe!?


- NÃO! – Emmy gritou, e então percebendo que chamara a atenção se aproximou das amigas ofendida. – Claro que não! Quem vocês pensam que eu sou? Mas não posso negar que eu fiquei com muita vontade de agarrá-lo. Estou evitando ele desde daquele dia.


- Mas é normal, não? Ele é novo e bonito. Está cursando o quê mesmo? – Dorcas perguntou.


- Direito.


- Típico. – Lily completou.


- O que é ‘típico’?


- Eu li na Heat Magazine que é super normal as garotas se interessarem por homens mais velhos e compromissados, e...


- Bom, não precisa ser gênio ou ler uma revista de fofoca para descobrir, né? – Dorcas debochou.


- Dá pra eu terminar, obrigada? – Lily interrompeu vermelha. – O típico é que as garotas tendem a gostar dos homens que seguem as carreiras de humanas. Com muita seriedade, como o Direito.


- Eu não acho que essa matéria esteja muito correta, ein... – Emmy comentou com uma careta. – A não ser que as estatísticas se baseiem em garotas como aquelas esquisitas que gazeiam as aulas de estequiometria para fazerem protestos e picharem as paredes da cantina contra o machismo do prof. Slughorn. Porque elas sim precisam de um pouco de humanidade e bom sen...Ok. – Emmy calou a boca com o olhar que Lily lançou sobre ela. – Mas mesmo assim, não sei o que é mais chocante: A seriíssima Lily Evans lendo Heat Magazine, ou Lily Evans lendo Heat Magazine e levando em consideração alguma matéria da mesma.


- Olha, a revista não é minha, ok? – A garota se explicava desconcertada. – É da Petúnia. Ela agora não tira da cabeça que o idiota do Dursley vai pedir ela em casamento e anda louca atrás de um modelo de vestido que supostamente a Avril Lavigne usou no casamento. Enfim, está sendo tipo, impossível não topar com uma revista dessas lá em casa...


- Mas isso é mau. – Dorcas comentou um tanto chocada.


- O que é mau?


- Bom, todos sabem que o casamento não deu certo, né? – Emmy completou como se fosse óbvio. - A Avril e o Deryck não estão mais juntos já faz um tempo, é mau presságio. – E então ao ver a cara de ‘o quê? Avril não está mais casada?’ de Lily, sugeriu. – Ok, talvez te faça até algum bem você ler essas revistas...


- O assunto aqui não sou eu, tá legal? – A ruiva reclamou enquanto o professor de literatura entrava na sala - aquela era a única matéria em que os cinco cursavam juntos.  – O que você vai fazer em relação à sua mãe e Paul, Emmy?


- Silêncio! – O professor bradou com uma cara nada simpática. – Em seus lugares, por favor. Teremos uma prova surpresa agora.


Emmy sentiu-se aliviada com a desculpa de não precisar continuar a conversa, mas então se desanimou ao ver os lábios de Lily formarem um ‘essa conversa ainda não acabou’ enquanto arrumavam as carteiras. Depois se sentiu pior ao perceber que não sabia sequer qual o autor que estavam estudando.


Ao olhar ao seu redor viu todos os seus colegas se postarem nos seus típicos lugares nos dias de prova. Era como um ritual, onde a ordem prevalecida era aquela conforme a maneira em que você iria conseguir nota:


1. No fundão eram os alunos medianos, onde preferiam ficar longe do professor para poderem discutir as questões sem serem interrompidos (e com sorte, abrirem o livro embaixo da carteira);


2. Nas paredes se encontravam aqueles que gastavam horas em as quais poderiam estar estudando, criando as mais mirabolantes sanfonas com as matérias inteiras da prova para serem usadas como cola (algo que não se aplicava àquele momento, já que era surpresa);


3. Em frente era possível encontrar os geeks por entre aqueles que preferem manter um contato mais próximo ao professor e assim obter uma notinha extra;


4. Ao meio estavam os inteligentes com seus seguidores, que dependiam totalmente da virada para o lado do colega, e da capacidade de esticarem o pescoço e darem uma boa observada na prova alheia em questão de segundos (Emmeline se encaixava nesse grupo);


5. E por fim, obviamente sempre havia aqueles intercalados entre um grupo e outro que não queriam nada com nada, e que era considerado algo muito satisfatório estarem acordados e saberem o que acontecia aos seus arredores.


A garota percebeu que o lugar atrás de Remus já havia sido ocupado por Dorcas, e infelizmente, alguém já estava sentado atrás da garota. Então sobrava a inteligência de Lily, o problema é que novamente ela brigaria com Edgar pelo assento.


- Edgar, por favor. Deixa dessa vez EU ficar atrás da Lily. Eu não consegui entender nenhum dos seus garranchos na última prova. – A garota implorava tirando o material do garoto da carteira e passando para a detrás.


- Emmeline Vance, - Edgar a olhou repreensivo. – a senhorita não tem vergonha? A sua única função é o estudo. No mínimo deveria ser uma aluna exemplar, não alguém que discute com os outros o melhor lugar para exercer o ato de colar.


- Ok então, Senhor Exemplo-de-estudante-que-não-cola. – A garota retrucou com um sorriso maroto. – Não se engane. Não ME engane. Eu preciso de nota, Ok? Preciso de uma bolsa, agora vê se me dá licença, por favor.


- Emmy, eu não consigo enxergar nada da sua prova! Você é muito espaçosa e... – o garoto se arrependeu no ato de ter dito aquilo ao ver os olhos da loira se estreitar num olhar demoníaco.


- Você está me chamando de gorda?


- Não. Claro que não. – ele realmente não estava a chamando de gorda. – O seu cabelo não ajuda...


- Você está me chamando de descabelada?


- Não! É porque ele é comprido e...


- Pois saiba que agora você com certeza ficará sem conseguir olhar minha prova. – ela ditou irritada, e depois acrescentou cessando a conversa. – EU permanecerei bem AQUI atrás da Lily.


O garoto revirou os olhos bufando, fingindo irritação e logo abrindo um sorriso – era impossível ver Edgar incomodado ou irritado.


- Ótimo. Vou fazer um esforço e ir atrás do Protótipo-de-Howard².


- De quem? - Emmy perguntou prendendo uma risada e quase esquecendo a pequena desavença.


- Snape.


- Coitado do Howard, Edgar. – Emmy comentou rindo e virando para frente enquanto o garoto se acomodava atrás de Snape – o garoto que nunca se deu bem com ninguém na sala, talvez com exceção de Lily. Não demorou muito e a garota pode ouvir o amigo voltando para o lugar atrás dela.


- Sem chance. O óleo do cabelo dele irá escorrer e manchar minha prova. Zero na certa.


A menina pôs a mão na boca abafando o riso e se apressou em arrumar a postura enquanto o professor ralhava com os dois pelo atraso em se acomodarem, embora ainda estivesse com a mente em Snape e seu cabelo.


 


Severus Snape era do tipo de garoto que andava com o pessoal barra-pesada da cidade, mas sozinho era um covarde irritante que adorava provocar aqueles com quem o garoto sentia apatia, concluindo: todo mundo. Era vizinho de Lily, e em algum passado não tão distante foi muito amigo da ruiva. Por ironias e companhias, hoje nem ao menos se cumprimentam. De qualquer forma, assim como Dorcas e Edgar, Emmeline sempre o achou mesquinho demais para se dar ao luxo de puxar alguma conversa. Em contra partida, embora apenas os envolvidos saibam o real motivo de tanto ódio, Remus, Sirius e James simplesmente não o suportavam. O primeiro até tentava disfarçar tanta raiva, porém os dois últimos  demonstravam claramente o sentimento – que era visivelmente recíproco. Emmy nunca conseguiu entender porque Lily fora tão amiga dele.


 


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- Não via a hora de o sinal tocar. – Emmeline comentava enquanto saía pelo portão principal no colégio com os outros em seu encalço. – Eu preciso almoçar correndo e ir pra academia. – Então parou bruscamente ao encarar o que ocorria no outro lado da rua. – O que aconteceu?


Na instituição à frente encontrava-se uma viatura da polícia e uma ambulância, com muitos alunos uniformizados em volta cochichando eufóricos.


- Sei lá. – comentou Remus enquanto os restantes dos alunos que ainda não haviam conseguido passar pela porta - e assim não viam o que acontecia - reclamarem para andarem depressa e pararem de trancar o caminho. – Ahh foi mal aí pessoal sem paciência. – o garoto ironizava para suas costas. – Vamos chegar mais perto.


- Olha lá o James. – Lily disse enquanto atravessavam a rua. O garoto se encontrava em um grupo de cinco jovens que riam e miravam a viatura policial, pareciam achar tudo aquilo muito divertido.


Agora os alunos de ambas as escolas se misturavam tentando ver o que estava acontecendo. James ao ver os amigos se aproximando, se despediu dos colegas, e foi ao encontro dos outros.


- E aí, galera! – deu um selinho em Lily e acenou para o restante.


- James, o que é tudo isso? – Dorcas perguntou franzindo o cenho e observando toda aquela movimentação.


- O que vocês acham? – O garoto retrucou rindo como se fosse óbvio. Com a mão direita apontou para o próprio circulo que os seis jovens formavam e depois para a multidão de curiosos formada ao redor como se estivesse dando a dica.


Remus o encarou por meio segundo e sem rodeios foi ao assunto.


- O que o Sirius fez dessa vez?                


- É tão previsível, não? – James ria acendendo um cigarro e dando uma tragada. – Ele vai adorar ver toda essa gente quando sair escoltado do colégio.


- É, ele adora uma cena. – Remus concordou se irritando. – Agora dá pra explicar o que aconteceu?


- Ãrg. Eu odeio quando você fala essas coisas como se todos estivessem por dentro do assunto. – Lily reclamava ao mesmo tempo em que Emmy se assustava.


- Você disse escoltado?


- É, é. O pai dele vai matá-lo.


- James, desembucha. – Edgar disse enquanto roubava o cigarro da boca do amigo e começava a fumar.


- Ele espancou o Rodolfo Lestrange até o cara ficar desacordado. – Disse por fim e pegando de volta o que Edgar havia tirado dele.


- Mas por quê? – Dorcas falou surpresa.


- Aquele idiota amigo do Malfoy e Cia.? O que ficou com aquela prima dele há uns dois anos atrás, Bellatrix? – Edgar se instruía.


- O próprio.


- Mas ele já não devia ter terminado o colégio? – Lily perguntou.


- É, devia. Ele reprovou, resolveu ficar mais tempo, gostou da escola, sei lá. Mas ele era da turma do Lucius.


- Dá pra responder por que ele fez isso? – Dorcas repetiu o que havia dito anteriormente.


- Não sei. Foi agora na última aula, nós não temos ela juntos. Eu estava voltando do Inglês e vi a confusão no corredor. Eles já estavam se pegando. Até que o Sirius deixou o cara desacordado, chegou a McGonagall com a enfermeira do colégio e o inspetor, nos mandou dispersar e levaram eles para sei lá aonde. O Lestrange continuava desmaiado. Daí devem ter chamado a polícia e a ambulância.


- Será que ele vai ficar bem? – Perguntou Emmy preocupada.


- Quem se importa? O cara era um babaca. – Edgar comentou enquanto James ria.


- Não é engraçado. – Lily resmungou. – O Sirius pode se dar mal. Não é normal sair batendo em qualquer um. E daí que vocês não gostam dele, e na verdade me digam... De quem vocês gostam? – ela provocou visivelmente irritada.


- Ounch, Evans. – James reclamou afetado, e então abriu um sorriso maroto para a namorada a abraçando. – Eu não sei o Edgar, mas EU só gosto de você. – O namorado roubava beijos estalados da ruiva que aos poucos foi se desfazendo da cara brava.


- Só parem de levar essas coisas na brincadeira. – Lily disse continuando a beijar James.


- Ui, dá pra parar o melodrama? Arrumem um quarto. – Emmy reclamou enquanto o casal forjava apimentar a cena só pra irritar a garota que começou a bufar rindo.


- Não vai acontecer nada sério com o Sirius. Dessa vez ele não vai perder a moto. – Remus voltou ao assunto. – O Sr. Black não vai querer confusão pro lado dele, e até os Lestrange irão fugir de algum boato em que um dos filhos tenha apanhado feio.


Os cochichos começaram a aumentar de volume aos seus arredores e então perceberam que o garoto Lestrange saía do colégio com dois enfermeiros em direção à ambulância, visivelmente irritado e envergonhado com toda a cena. Ele parecia bastante machucado.


Em contra partida, não havia contraste maior com o que se seguia atrás deles. Sirius aparecia com seu sorriso característico, uniforme impecável à sua maneira descolada, com meninas suspirando pelo caminho em que passava. Talvez elas o achassem (com certeza achavam) ainda mais interessante  com o fato dele ter arrebentado com o Lestrange. Briga essa que nem parecia ter acontecido se não fosse por ele estar sendo escoltado por um policial e pela a orientadora do colégio, e talvez, pelo motivo de todos o estarem olhando. Sirius realmente adorava toda aquela atenção.


O garoto avistou os amigos enquanto esperava para entrar na viatura e então esticou as mãos em direção a eles como se estivesse agradecendo a platéia após receber os aplausos pela sua encenação.


- É um puto mesmo. – Edgar exclamou rindo.


- Inacreditável. – Emmy ditou simplesmente enquanto Remus sacudia a cabeça negando e rindo em relação ao que presenciava. Os outros o seguiram.


Sirius ao entrar na viatura não conseguia ouvir o que os amigos diziam obviamente, mas riu de si mesmo ao imaginar.


Enquanto o carro se afastava, a multidão se desfazia. James virou para a turma.


- Querem ir lá pra casa agora e esperar o Sirius chegar? Assim ele nos conta com detalhes. Eu peço para a Rose fazer algo bom pra gente comer. – Rose era a cozinheira.


- Ótimo. ‘To cheio de fome’. – Edgar imitou o personagem Roman Pearce de + Velozes + Furiosos.


-Eddie, você está sempre com fome. – Dorcas ditou rindo.


Todos concordaram com a proposta menos Emmeline.


- Não posso. Tenho ensaio daqui a pouco e preciso passar em casa ainda.


- Ah falando nisso... – James se lembrou do fato. – A festa de amanhã após sua apresentação já está toda encaminhada. Frank pra variar vai emprestar a casa. Já convidamos o pessoal de Hogwarts – se referindo ao colégio dele e de Sirius. - Então o garoto virou-se para Dorcas. – Sirius convidou a McKinnon, mas garanta que ela vá.


- Por que ‘garanta’? – Lily perguntou brava ao namorado que se safou de dar explicações.


- Emmy, esse negócio que a gente vai ver seu amanhã... Demora? – Edgar atropelou a futura briga.


- Edgar, não é ‘negócio’! – Lily ralhou com o amigo. – É uma apresentação de dança da nossa amiga. E iremos apoiá-la assistindo.


- Dura uma hora e meia, mais ou menos, Edgar. – Emmy respondeu. – E eu realmente preciso ir gente. Até mais.


- Depois eu e a Lily passamos na academia pra te ver. – Dorcas anunciou enquanto Lily afirmava com a cabeça.


- Vou estar no teatro. Ensaio geral... – a garota disse já afastada dos amigos.


 


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Emmy chegava a casa quando percebeu que havia um caminhão de mudança no sobrado ao lado. A moradora Sra. Green, uma senhora na casa dos sessenta anos, saía da porta carregando uma grande caixa em direção ao caminhão.


- Precisa de ajuda Sra. Green? – Emmy perguntou educada.


- Oh não, querida. Não se incomode. – a mulher descarregou a caixa, limpou a mão na calça e virou para encarar a jovem buscando o fôlego perdido.


- A senhora tem certeza? – A loira perguntou descrente.


- Ah sim. Só preciso parar um pouco para descansar de caixa em caixa. Não tenho mais 17 anos, não é mesmo? – Completou dando uma piscadela para a Emmy que sorriu em troca. – Mas sério, junto com esse caminhão – ela deu uma batidinha na caçamba – vieram os ajudantes. Mas parece que com eles só veio músculos, porque cérebro... Estão há uma hora tentando desmontar meu armário. – então ela deu uma última fungada e voltou a sorrir.


- Não sabia que a senhora estava se mudando...


- Minha jovem, quando se chega nessa idade, suas experiências e nada do que você diga irão fazer com que te ouçam. Para os filhos você se torna uma velha gagá e incapaz de fazer qualquer coisa. E bem, a aposentadoria que o governo te dá não contribui em nada também. ‘Se aumentar 2% a aposentadoria dos idosos, quebra o caixa do governo; mas aumentar horrores os salários dos políticos não’. – A Sra. Green desabafava fazendo uma voz mais grossa. – Enfim, meus filhos me querem perto deles. Acho que para fiscalizar o dinheiro que gasto nos bingos. Estou indo pra Oxford, querida. Na verdade, irá me fazer bem ficar mais perto dos netos. E Deus sabe o quanto minhas noras são imprestáveis na hora de educar os filhos!


- Sentirei falta do cheiro das suas tortas. – Emmy falou sem pensar e depois percebeu em como soara estúpido aquilo. Entretanto ficou com vergonha apenas por um pequeno segundo. Ora, aquela era a verdade!


- Também sentirei saudades suas, de sua mãe e até daquele marido lindo que ela arranjou. – Sra. Green riu não percebendo o desconforto de Emmeline ao mencionar o homem com que sua mãe casara. – Sortuda sua mãe, não é?


- É. Sortuda. – Emmy apenas concordou rapidamente, dando passos para trás em direção à porta de casa. Aquela era a hora de fugir dali. – Sra. Green, eu estou um pouco atrasada. Eu preciso almoçar correndo...


- Ah sim! Amanhã é a sua apresentação, não? É uma pena que não poderei assistir. Boa sorte com ela.


- Obrigada Sra. Green. – Emmy nessa hora já abria a porta de casa. – Boa sorte para a senhora também em Oxford.


A garota entrou em casa suspirando aliviada por escapar dos rumos que a conversa estava tomando, porém o alívio durou pouco segundos. Paul apareceu no hall no momento em que Emmeline fechou a porta. A conversa do lado de fora pareceu ser bem mais simpática agora.


- Sua mãe vai ter que ficar no trabalho até mais tarde. – Então ao ver a cara da garota, acrescentou: - Ela mandou avisar... Emmeline, você está bem?


A loira então saiu do transe e olhando pra baixo foi direto às escadas para deixar a bolsa no quarto.


- Estou legal.


Emmy deixou a bolsa na escrivaninha e foi direto ao guarda-roupa pegando o que precisava para o ensaio.


- Emmeline, isso é ridículo! – ralhava com si mesma – Você não pode fugir do cara para sempre, você mora na mesma casa que ele! Mantenha-se ocupada e não precisará pensar na merda que está pensando em fazer!


A garota desceu para a cozinha que por sorte estava sozinha. Comida. Faça a comida. Mantenha-se ocupada.


Enquanto fazia seu prato, Paul entrou no aposento. Qualé?! Faz meses que o cara mora aqui e sempre evitou conversar. Por que justo agora ele resolveu mudar a estratégia? Karma. KARMA. Preste atenção nos seus ovos Emmeline. Se ocupe!


- Emmeline? Emmeline, eu estou falando com você! – Paul quase berrou tentando chamar a atenção da garota.


- Desculpa. – A garota pareceu sair do transe. – O que você estava dizendo?


- A partir de que horas nós podemos ir te ver amanhã? A gente pode chegar mais cedo, né? Sua mãe também quer saber.


- Você disse “nós”?


- Sim, sua mãe e eu. – Ele disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.  


Era estranho ouvir um garoto falar sobre sua mãe como sendo um casal. Bom, eles ERAM um casal.


- Você vai assistir minha apresentação? – Ela perguntou meio surpresa – meio esperando que a resposta fosse negativa.


- É claro. Você é minha enteada, não? – Enteada, enteada. Enteada! Ela nunca achou essa palavra bonita, mas agora a estranheza da coisa havia tomado proporções imensas vinda do seu padrasto. Aquilo ficava cada vez mais esquisito. – Ou você não quer que eu vá? – Paul perguntou rindo.


- Não. Claro que eu quero que você vá. – ela gostaria de acreditar naquilo. – Na verdade vocês podem chegar na hora que quiser, o duro é ter saco pra ficar esperando tanto tempo.


- Ok então. Agora vou deixar você comer direito. – E saiu da cozinha em direção à sala. Emmy respirou aliviada encarando o prato de comida à sua frente. Mantenha-se ocupada, Emmeline.


 


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- Eee 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8! – Uma voz feminina se destacava em meio aos ecos e batidas de sapatilhas no tablado do palco. – E 1, 2, 3, 4... Pára! Pára. Emmeline, onde você está com a cabeça? No mundo da lua parece. É a terceira vez que você erra uma seqüência. – a professora perguntava com repreensão.


- Desculpa. Eu estou meio distraída. – a loira dizia enquanto todos no aposento a encaravam.


- Então me faça o favor de se distrair com a contagem e com os seus colegas de palco.


Shelby Sellers virou pra trás ao ver que a professora já estava gritando novamente com o cara que cuidava das luzes – O FOCO É AQUI! AQUI! Você está iluminando as paredes ao invés dos meus dançarinos! –, levou a mão direita para cima com um ‘L’ na testa e, com a boca cheia de gloss labial, formou um irritante e desprezível “Loser”. Emmy se imaginou como um dos alunos do coral num episódio qualquer de Glee. Porém, não se sentiu humilhada, mas sim com muita raiva. Raiva de estar estragando o ensaio, raiva da mãe por se casar com uma cara gato, raiva de esse cara gato usar cuecas Calvin Klein, raiva de isso interferir na sua dança, raiva de estar distraída, e óbvio, raiva da idiota da Shelby.


 


Quinze minutos depois a professora dispensava o grupo de Emmy para um pequeno descanso.


- Daqui vinte minutos quero todos de volta no palco! Então vamos ensaiar com música! – A mulher levou as mãos à cabeça. – E cadê o pessoal que vai ensaiar agora? – ela gritava com os bastidores do tablado. – Vocês já tinham que estar em posições pra ontem, meus filhos! – e então disse mais para si mesma do que outra coisa: - Eu não sei por que ainda me estresso... Os ensaios gerais são sempre uma porcaria...


Emmy saiu sorrateira em direção à saída buscando por um ar fresco. Sorriu ao ver Lily e Dorcas esperando por ela num banco em frente ao teatro. Elas estavam com três copos de café expresso. Lily entregou um para Emmy quando a mesma se aproximou do banco.


- Light, descafeinado e com pouco açúcar. Do jeito que você gosta. – a loira agradeceu à amiga e revirou os olhos quando Dorcas murmurou: - Ou seja, sem gosto... – Mas parece que você ta precisando dos 97% da cafeína retirada da tua bebida... Que cara é essa Emmy? – Lily perguntou ao ver o desânimo de Emmeline enquanto sentava entre as amigas.


-  Eu não sei. Ãrg... Esse é o pior momento pra eu me distrair assim.


- Sabe que você vai ter que resolver essa confusão entre o Paul rápido, né? – Dorcas disse e então tomou um longo gole de seu café.


- Eu sei! Mas eu não consigo olhar pra ele sem ter vontade de agarrá-lo!


- Você precisa é de um outro homem, isso sim. – Lily falou convencida.


- Outro homem? – Emmy disse de boca aberta.


- É! Tem um monte de caras legais em Bristol. Daí você esquece o Paul...


- Isso é uma decisão bem machista em minha opinião. – Dorcas falou. – Esquecer de um cara, com outro cara? Dar a entender que a Emmy precisa de um homem sempre? Ela supera isso sem um par de testículos para substituir outro.


- Vocês falam isso como se eu estivesse com o Paul! – Emmy falou brava. – Eu não estou e nunca estive.


- Então senhora feminista... Diga-me como a Emmy vai superar essa? – Lily perguntou para Dorcas ignorando o que Emmy havia dito.


- Ela é uma mulher independente e que sabe o que é melhor e certo pra ela e para a mãe. E agora o melhor que ela tem a fazer é se concentrar na dança amanhã e arrasar como sempre. É só uma paixonite e ela sabe disso.


- Obrigada pelo elogio Dorcas. – Emmy agradeceu sorrindo verdadeiramente  para a amiga.


- Só disse a verdade.


- Ahh. Eu estou realmente triste sabia? – Lily disse com bico e manhosa. – Eu estou me sentindo muito megera ultimamente. Eu não quero ser a má da história! E eu também acho tudo isso da Emmy...


- Ohhh, Lily... – as amigas abraçaram a ruiva – Nós não te achamos megera...


- Talvez um pouquinho... – Emmy disse rindo enquanto Lily dava um tapa no braço da amiga. – Mas você é a nossa megera.


- Ahh quanto amor... – Uma voz estridente se sobressaiu de alguém que assistia a cena. – As amigas estão apoiando o seu fracasso Emmeline?


- Falando em megerisse... – Dorcas resmungou revirando os olhos.


Shelby Sellers estava parada com o seu grupinho de seguidoras atrás.


- Qual é o problema Shelby? Ta com ciúmes porque você não tem amigas que possam fazer o mesmo por você? – Lily alfinetou.


Shelby apenas deu um sorrisinho de lado.


- Evans, Evans. Você realmente se acha por namorar o Potter, né? Se eu fosse você baixava um pouco a bola e cuidava melhor do teu namorado. – Ela disse dando uma piscadela. – Só uma dica. – E então deu meia volta e atravessou a rua com suas seguidoras tapadas.


- Não ligue pra ela, Lily. Ela é uma idiota. – Emmy dizia dando um gole no seu café.


- Dorcas, eu juro que quando encontrar aquela tua nova amiguinha eu arranco os cabelos dela. – Lily disse estreitando os olhos.


- Lily, a Marlene não fez nada! Você não percebe que essa mocréia só disse isso pra você ficar assim? – Dorcas disse tentando abafar o comentário. – E Emmy, como você agüenta essa menina quieta?


- Ela é infantil, pior que uma criança, Dorcas. Não vou gastar saliva com essa aí não...


- Bem que faz Emmy. Bem que faz... – Lily comentou encarando a garota virar a esquina. – Mas eu nunca entendi, quando começou essa rixa entre vocês? Por que ela te provoca tanto?


- Longa história... – Emmy suspirou. – Foi quando nós éramos pequenas ainda.  A gente já dançava junto, mas não brigávamos. Não éramos melhores amigas, mas ainda sim convivíamos bem. Ela até me convidava para ir à casa dela, na verdade, ela convidava a turma inteira da dança para as festas do pijama, mas acho que era só pra se gabar da coleção de Barbie que tinha. Era pra ela se gabar. – a garota concordou rindo sem graça. – A gente tinha 7 anos. Lembra do cabelão que ela tinha? Compridérrimo e lindo?


- Lembro... – Dorcas disse. – Mas daí ela se cansou e cortou super curto e repicado...


- Pois é. – Emmy engoliu saliva e continuou. – Nós estávamos numa aula de jazz e ela comentava alto que ela tinha ganhado a Barbie comemorativa de 40 anos, só para aparecer, ficava lá, mexendo no cabelo e falando para sobressair todos os cochichos. Eu me lembro que estava há semanas pedindo pra minha mãe a boneca. Era linda. Meus pais não estavam querendo porque ela não era exatamente barata, e as coisas lá em casa não iam bem. Tinham oferecido o cargo pro meu pai nos EUA, e os dois discutiam bastante. Eu era pequena, mas sabia no fundo que eu não ia ganhar a boneca.


- Mas você tem a boneca. Eu me lembro quando você a ganhou! – Lily disse rindo. – Lembra quando a gente juntava todas as nossas Barbies e desenhava com giz na garagem de casa a cidade delas? E a gente juntava tudo o que aparecia pela frente pra fazer a casa...


- Sim, eu lembro. E a gente sempre discutia quem ia namorar o Ken porque só você tinha o boneco. – Dorcas disse rindo. – Nunca dá certo apenas um homem pra tanta mulher...


- E você ainda tem a boneca na tua estante! – Lily falou pra Emmy. – É aquele com um vestido longo preto e com um buquê com 40 rosas, não?


- É aquela. Ela é especial. Não ia me desfazer...


- Não tem problema, eu tenho as minhas guardadas ainda. – Lily confessou enquanto Dorcas olhava para as amigas com surpresa. – Não tenho coragem de dá-las...


- Tá, mas continua Emmy. Eu não entendi ainda. – Dorcas pedia pra garota continuar e interrompendo o momento nostalgia.


- Então, a Shelby ficou lá se mostrando por causa da boneca. E sei lá, no impulso eu disse que havia pedido de presente para minha mãe, mas ela não ia dar. Na verdade, acho que ela sempre foi má, a Shelby... Então ela disse com o nariz arrebitado que eu não era boa o bastante pra ter a boneca. Eu fiquei com tanta raiva que fui pra cima dela. A professora viu e obrigou nós duas a ficar até mais tarde na academia como uma detenção. Quando nós estávamos saindo eu ainda estava brava com a Shelby, e fingi pedir desculpas e a abracei. Eu havia ficado aquela aula inteira mascando o chiclete para prepará-lo para o momento.


- Você não fez isso! – Dorcas disse rindo surpresa.


- Ahh fiz... Grudei o chiclete com vontade, bem alto, pra que ela tivesse que cortar todo aquele cabelão, e pra ter certeza dei uma espalhada e apertei bem entre os fios para que a única chance mesmo de tirar fosse cortando. Óbvio que ela percebeu o que ia fazer quando comecei a mexer no cabelo dela na hora do abraço, mas eu sempre fui mais forte. Ela ficou louca e me fez jurar que eu nunca iria contar aquilo pra ninguém. Ficou super envergonhada de ter o cabelo estragado por mim. Ela chegou na aula seguinte com o cabelo curto e fingindo pra todo mundo que ela que havia pedido pra cabeleireira fazer aquilo com o cabelo.


- Emmy você me surpreendeu. – Lily disse orgulhosa. – Adorei amiga. E até já adivinhei a troca que você pediu pelo silêncio.


- Óbvio, né? Eu queria a boneca pra mim. E ela deu. Chorando, mas deu. E a mãe dela nem veio tirar satisfações comigo. Acho que nem pra mãe ela teve coragem de falar o que aconteceu...


- Mas e ela ainda guarda rancor disso? Faz dez anos! – Dorcas exclamou.


- Ahh, mas os nossos santos nunca bateram, né? Embora aquilo tivesse ficado só entre a gente, nós nunca mais nos demos bem. E cá entre nós... Ela é uma revoltada. Piorou quando eu e minhas adoráveis companheiras – ela abraçou Lily e Dorcas – ficamos amigas dos caras mais legais da cidade. Sinceramente, isso ela não consegue engolir.


- Mais legais da cidade... – Dorcas disse pensativa rindo. – Não sei, Bristol tem mais de 1 milhão de habitantes...


- O meu namorado é o mais legal do mundo, tá legal? – Lily ditou para as amigas.


- Agora falando nesse assunto... – Emmy comentou. – O que deu a briga do Sirius?


- Ahh, não vai dar em nada. O Lestrange está bem, nada sério, só uns roxos pelo corpo e rosto. Na verdade, bastante roxos e bem, duas costelas quebradas, mas enfim... Os dois vão cumprir detenção no colégio. O pai do Sirius por enquanto não fez nada com ele... – Lily falou desacreditada.


- Mas e por que eles brigaram?


- Ele disse que o Lestrange o provocou. Alguma coisa a ver com o Régulos. Sei lá. Não entendi. Eu e Lily ficamos prestando mais atenção na comida da Rose do que na conversa deles. – Dorcas deu de ombros. – Vai entender o que passa na cabeça desses aí. – a garota disse se referindo aos amigos.


As garotas ficaram por uns segundos refletindo sobre garotos e suas manias até que Emmy deu um suspiro sentindo um cheiro gostoso. Percebeu que vinha do copo de Dorcas.


- Por que meu café não tem esse cheiro? – perguntou Emmy franzindo o cenho e apontado pra café da amiga com desejo.


- Mocha, minha amiga. Café Mocha. – Dorcas passou o copo perto do nariz da loira provocando-a. – Expresso misturado à calda de chocolate e leite cremoso vaporizado... – a garota dizia lentamente o preparo da bebida. – Não esse negócio sem gosto que você insiste em chamar de café que está no seu copo.


- Isso é muito bom, ok? – Emmy falou séria fingindo birra tomando um grande gole do próprio café e acabando com o mesmo.


- Seria ótimo ficar discutindo café com vocês, mas meu turno no Mark’s começa daqui cinco minutos. – Lily falou levantando e jogando o copo de plástico no lixo. – A gente se fala mais tarde garotas.


- Então essa é minha deixa também... – Dorcas deu um abraço em Emmy. – Tenho que tomar conta do Ben.


- Tchau meninas, obrigada por terem vindo. – a loira observou as amigas sumirem na rua e então deu meia volta e entrou no teatro de volta ao ensaio.


 


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- Emmeline, pode ir para o camarim colocar a roupa da apresentação. – a professora disse quando viu Emmy entrando no teatro – Você sabe onde estão os outros? O ensaio volta daqui cinco minutos! – ao ver que a loira negou com a cabeça, suspirou – Ótimo, vá se aprontar então, não precisa da maquiagem agora, só o figurino... – a garota assentiu e foi rápido para o camarim antes que a professora pedisse para que ela fosse chamar os que faltavam, e entre eles, Shelby e cia.


Ao passar pela porta do camarim Emmy sentiu aquele ar pré-apresentação. Jovens dançarinos corendo de um lado para o outro buscando pelos seus trajes e conversas abafadas vindas de todos os cantos soavam muito bem aos ouvidos de Emmeline. Ela amava tudo aquilo. Só não era melhor que no dia da apresentação, onde o nervosismo multiplicava cada sensação por vinte. A loira procurou por um lugar pra que pudesse se arrumar no aposento e só então percebeu que o celular tocava. Era seu pai.


- Oi, pai! – a garota atendeu sorrindo.


- Oi querida, está ocupada?


- Pra você nunca, você sabe...


- E então, ansiosa para a apresentação?


- Ah, sempre né?


- Filha, você sabe como eu gostaria de estar aí e te assistir, não sabe? Mas essa é uma época realmente complicada no trabalho, e meu chef...


- Pai, você já me explicou tudo. – a garota cortou o discurso do pai – Eu entendo, sério. E você sempre esteve em todas as outras apresentações, não se preocupe com isso. – ela sabia que o pai realmente sentia muito por não poder estar ali, e ela compreendia o motivo.


- Mas eu fico com peso na consciência. A gente se vê tão poucas vezes... Bom, isso está prestes a mudar, não é? Assim que te aceitarem na Juilliard você estará no lado de cá do Oceano e nos veremos sempre.


- É pai, - a garota riu – assim eu espero, mas eu ainda tenho mais um ano no colégio até eu poder virar bailarina profissional.


- Bom, mas vai se tornar não é? Enfim, não irei te atrapalhar mais, amanhã ligo de novo pra te desejar boa sorte, Ok?


- Ok, tchau pai.


A garota desligou o telefone e se apressou a colocar sua roupa de Matrona “Mama” Morton, a corrupta agente de polícia da prisão feminina do Condado de Cook, ou então, uma das personagens do musical Chicago.


O mesmo conta a história de duas assassinas - que no decorrer da história se tornam rivais – presas no Cook County Jail. Velma Kelly, a dançarina de uma boate noturna que é acusada de matar o marido e a irmã depois de encontrar os dois juntos na cama; e Roxie Hart, a dona de casa que sonha com glamour e fama até matar seu namorado após uma briga. Tendo como Billy Flynn o advogado de ambas, a história se desenrola cheia de personagens corrompidos, tendo como temas o homicídio, a violência e o adultério. Felizmente para Emmeline que só soltava as cordas vocais no chuveiro ou com uma escova de cabelo na mão, eles não iriam cantar, apenas apresentar o musical dançando.


- Emmy, o Potter me convidou pra festa amanhã depois da apresentação... – Anne Graham, uma garota simpática do mesmo ano que Emmeline se aproximou. No musical, ela seria uma das seis assassinas do Cell Block Tango. – Está rolando boatos que vai tocar uma banda, verdade?


Emmy se virou surpresa.


- Honestamente, eu acho que não. Pelo menos comigo eles não comentaram, mas vai saber...


- Eu também fiquei sabendo. – Tony Grey que estava sentando perto das garotas se pronunciou. Emmy ria ao vê-lo com vestido. Ele faria Mary Sunshine, a jornalista que cobre o caso das duas personagens principais, mas que no fim se revela sendo um homem.


- Da onde vocês ouviram isso?


Tony apenas deu de ombros.


- Boatos, sei lá... – Anne respondeu.


- Acho que só vamos descobrir amanhã então.


- Atenção, por favor! – Madame Stempleski – a dona da escola de dança, professora e diretora do musical – apareceu no camarim batendo palma – Último ensaio de hoje. Agora com música, luzes, como se estivesse no dia da apresentação. – então suas feições ficaram sérias – Sorriam. Se vocês errarem se preparem porque vão ouvir! – ameaçou – E se eu ouvir uma conversinha ou ver um fio de cabelo pra fora da coxia, estão fora da minha academia!


 


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- Onde é que vocês estavam? – James sussurrou alto enquanto encolhia as pernas para que Dorcas e Lily passassem – As pessoas estão olhando feio pros lugares que a gente está reservando pra vocês.


- Nós fomos desejar boa sorte pra Emmy. – Lily disse se sentando ao lado do namorado e de Edgar – E não era uma fila inteira de poltronas, são apenas dois lugares...


- Explica pra eles então. – Edgar falou apontando para Dorcas, contrariada, sentar entre ele e Ashley.


- Edgar... – Lily ia começar a ralhar com ele, mas então reparou nos olhos do amigo preocupada – Edgar, você precisa parar com maconha, sério. Seus olhos estão muito feios mesmo...


- Lily. Não é maconha, é conjuntivite. – o garoto corrigiu a amiga que no mesmo momento foi para trás com medo de ser contaminada. James e Remus riam e Dorcas também se afastava de leve do amigo.


- Edgar Bones! Você não pode sair de casa com isso na cara! – Lily agora ficara nervosa.


- Poxa, eu não vou perder a festa por um probleminha no olho, né?


- Probleminha? Isso está péssimo! Você foi ao oftalmologista já?


- Sim, mamãe, fui hoje de manhã logo quando vi que estava com isso e já estou passando colírio. Tudo certo agora?


- Óbvio que não! Você devia ter ficado em casa ou no mínimo trazido um óculos de sol para tampar isso aí. – Lily reclamava inconformada.


- Eu trouxe, - o garoto mostrou o óculos que havia trazido – não sou tão irresponsável assim, só que é estranho colocar isso em lugar fech...


- Coloca.o.óculos.AGORA. – Lily ditou sem espaço para um ‘mas’. – E eu juro que se eu pegar conjuntivite vou te mandar a conta do médico e a nota da farmácia com os colírios.


- Vai ficar sem pagar, não tenho dinheiro nem pra comer quase, ruiva. – ao ver o olhar de Lily mudou o tom – Você não vai pegar conjuntivite, Lily...


Lily se apressou a abrir a boca, mas para a alegria dos que estavam ao redor dos dois o sinal do teatro tocou anunciando que o musical começaria em cinco minutos, calando a garota.


James riu ao ouvir vindo da sua esquerda um “Amém” murmurado por Sirius.


 


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Emmy nos bastidores exercitava sua respiração e fazia preces silenciosas faltando poucos minutos para entrar no palco. Ela se sentia muito bem, o que era estranho pelo fato de estar sobre pressão e estar interessada no marido da mãe.


Mas era a dança. Naquele momento nada mais importava. No momento em que seus pés tocavam o tablado do palco e as luzes a iluminavam de uma forma que impedia a garota de enxergar aquele monte de espectadores a sua frente, quando a música começava a tocar, seu corpo conversava com o ritmo dos instrumentos e com a contagem em sua cabeça e nada mais fazia sentido. Nada mais valia preocupações. E ela sorria. Sorria como se aquilo sim, pudesse curar um câncer. E nada era mais gratificante do que, no fim, ouvir o som dos aplausos ecoarem o salão. E nada era mais sincero do que o riso na hora de se curvar ao agradecer sua platéia. E nada trazia mais alívio do que a sensação do dever cumprido, de uns poucos minutos de uma boa apresentação após meses de ensaio, machucados, choros e dor. E nada era mais engraçado do que nos bastidores enquanto tiravam o figurino, comentarem sobre os improvisos e os problemas que as fantasias apresentavam no palco. E nada era mais lisonjeiro do que ouvir de Madame Stempleski o quanto seus dançarinos a deixaram orgulhosa. Mas então, nada era mais decepcionante do que no momento em que você está saindo pela porta do camarim, encarar a realidade e todas as preocupações que ela trazia.


- Emmeline querida, você estava linda filha! – a Sra. Vance acompanhada de Paul sorriu orgulhosa quando viu a garota saindo pela coxia e pulando do palco.


- Foi incrível. – o padrasto acrescentou sorrindo também.


- Que bom que vocês gostaram. – Emmy disse abrindo um sorriso amarelo. – Olha mãe, será que você não pode levar as minhas coisas pra casa? – a garota mostrou a mochila com a fantasia e tudo o que ela havia trazido para a apresentação. – Eu acho que vou daqui direto para a casa do Frank, então...


- Levo, mas Emmy, você está bem? – a mãe olhou preocupada – Você está pálida, não quer descansar? Ficar em casa... Você andou muito estressada com esse musical e colégio, não é melhor você não sair hoje?


- Não, eu estou bem, sério. – a garota acrescentou ao ver a cara da mãe – Eu preciso me distrair, realmente tudo isso foi meio estressante, eu quero ficar com os meus amigos.


- Está bem então. – a mãe disse ainda não acreditando, e então com aquele olhar que apenas uma mulher com filhos pode fazer, inflou o nariz e ditou séria, porém maternal – Juízo.


- Pode deixar. – a loira falou confirmando com a cabeça.  Deixou suas coisas com a mãe e fugiu apressada dali em direção a saída do teatro onde havia confirmado com amigos de a esperarem.


- Emmeline Vance? – Emmy ouviu ser chamada por uma voz desconhecida com um forte sotaque americano. Quando se virou sentiu o estômago dar uma leve revirada ao perceber que quem a chamara era um olheiro da Juilliard.


- Sou eu... – a garota respondeu receosa enquanto via o homem se aproximar.


- Sou Edrick Jhonson da Academia Juilliard de Nova York. Foi uma bela apresentação. – Emmy agora sentia o órgão estomacal ser substituído por uma gelatina. O homem havia elogiado sua dança! Ela sentiu vontade de gritar, mas abriu apenas um sorrido digno de agradecimento. – Madame Stempleski me informou que a senhorita tem vontade de continuar com a carreira artística...


- Sim. É meu sonho... – a garota controlava a fala para não sair muito rápido – Mas eu ainda tenho mais um ano no colégio, então só depois de concluir o Ensino Médio posso ir embora... Regras de família... – Ela acrescentou rezando para que aquilo não tenha sido a deixa para que o homem desistisse dela.


- Entendo. Mas mesmo assim, se até quando se formar ainda estiver interessada... Tenho certeza que poderia conseguir um bom resultado nos testes de bolsa para novos alunos. – e sem dar tempo de Emmy responder, o homem deu as costas deixando a garota com um sorriso preso nos lábios.


 


Emmeline ainda sorria quando saiu do teatro e encontrou os amigos sentados no mesmo banco em que tomara café mais cedo com Dorcas e Lily.


- Emmy foi lindo! – Dorcas foi a primeira a ver a amiga e a abraçou. Todos a seguiram cumprimentando a loira e dando suas opiniões sobre o que assistiram.


- Amiga não chegue perto do Edgar. – Lily falou séria na hora em que o garoto se aproximava. – Ele está com conjuntivite. – Edgar apertou os olhos com a boca aberta desacreditado.


- Lily! – o garoto a repreendeu.


- Ah, por isso o óculos escuros... – Emmy comentou dando um passo para trás.


- Sim, óculos escuros... Quer dizer que é seguro se aproximar. – Edgar disse abrindo os braços esperando que Emmy o abraçasse.


- É... Mas acho que nesse caso, vou confiar a minha saúde em Lily, Edgar. – a loira falou receosa – Sinto muito. – ela acrescentou ao ver a cara de decepção do amigo.


- Ok, cansei desse papo de doença. – Sirius interrompeu entediado. – Tem uma festa nos esperando a apenas dois quarteirões daqui.


- Isso! Vamos indo, por favor? – Emmy pediu com voz arrastada. Ela precisava urgente comemorar sua belíssima apresentação, e mais urgente ainda de tequila nas veias para esquecer-se de Paul. – Hoje quero ir bem Lindsay pra balada pra ficar muito Lohan!


- Será que não dá pra parar pra gente comer antes? – James perguntou interrompendo os comentários e risadas dos amigos ao ouvirem a declaração de Emmy. – Eu estou com fome. – ao ver o olhar de irritados dos amigos ditou – É sério.


- Também estou com fome. – Edgar concordou.


- Ok, que horas são? – Remus perguntou para ninguém.


- Nove e quinze. – Ashley respondeu.


- Ainda é muito cedo. – Dorcas falou.


- Lily, vocês sabe se o Mark’s ainda está aberto essa hora? – Remus se dirigiu a garota.


- Sábado sim.


- Ótimo, então nos abastecemos do Mark’s primeiro. – James disse e todos os amigos começaram a andar em direção à lanchonete. – Nós pedimos uma porção grande de batata-frita com catupiry e...


- Cheddar. – Sirius interrompeu.


- Quê? – James perguntou não entendendo.


- Cara, batata-frita com cheddar. – Sirius falou como se fosse óbvio. – Cheddar é melhor que catupiry. Principalmente com batata-frita.


- Não é não. – James falou com a mesma cara. – Cheddar é muito forte. É só perceber como as batatas recheadas são sempre com catupiry, não ched...


- Parem os dois. – Lily ditou ao ver que Sirius já abria a boca para responder. Nenhum dos dois daria o braço a torcer. – Pede ambos os tipos, ok? – A garota ficou pra trás deixando que os dois teimosos discutissem entre si. Remus, Ashley e Edgar já estavam mais à frente. Lily, Dorcas e Emmy se separaram do grupo na hora de atravessar a rua quando o sinal fechou para os pedestres.


- Deixem eles pra lá, Lily. – Dorcas comentou enquanto ouviam apenas vozes desconexas vindas de James e Sirius. Então mudou de assunto. – Olha Emmy, tirei fotos lindas sua. – a garota mostrou imagens em sua câmera profissional, fazendo com que as meninas fossem até o Mark’s discutindo as melhores fotos.


 


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Descobriu-se que não havia banda nenhuma na festa. A não ser que contassem todas as vezes que alguém bêbado interrompia o DJ e pedia para que cantasse sua música favorita ou se declarasse para alguém o qual com absoluta certeza não iria lembrar no dia seguinte.


Os amigos já estavam altos. Sirius e Edgar já haviam sumido. Ashley e Remus estavam há mais de uma hora ocupando um canto do sofá perto da onde os outros dançavam. Todos riam, pulavam, se divertiam, e esse clima se estendeu por horas até ser quebrado, novamente, por Marlene McKinnon.


- Até que enfim! – James comentou ignorando a namorada que o encarava contando algo que para ela era muito interessante. Lily olhou na direção que o mesmo olhava e suas feições mudaram drástica e automaticamente.


Marlene estava passeando pela casa quando parou ao ouvir seu nome. O garoto se aproximou sorrindo enquanto Lily e os outros só observavam a cena uma vez que não conseguiam ouvir o que falavam. A morena tirou um pequeno pacote do bolso e então fechou a cara dizendo algo muito sério enquanto James só ria. A conversa durou pouco e antes de se afastar do garoto, Marlene olhou para o canto de onde o mesmo tinha vindo. Acenou para Dorcas com um sorriso retribuído e então depois de ver a cara de Lily, ergueu a sobrancelha e a encarou com uma face indecifrável. Disse algo para James, o que aparentemente era sobre isso porque o garoto se virou automaticamente para a namorada enquanto a outra se afastava e era engolida pelo monte de gente que se encontrava na festa.


- Não é nada demais, ‘tá legal? – o garoto disse suspirando já tendo voltado para Lily – Ela comentou que queria sumir com isso e eu falei pra ela trazer hoje. – disse se referindo ao pacote. Abri-o e mostrou para a namorada a cartelinha com algumas pílulas azuis.


- Isso tudo não parece nada. – a ruiva falou indiferente.


Obviamente os amigos que estavam em volta não fizeram nem questão de deixar que o casal conversasse sem platéia. Até Ashley e Remus pararam de se ocuparem um com o outro para encarar a provável futura briga.


Emmy imaginou que faltava pouco para Lily explodir com o garoto, porém surpreendendo quem assistia a cena, a garota baixou a voz quase como um sussurro e suas feições se tornaram tristes e inseguras. Emmy percebeu que tinha algo muito errado, e quando seu olhar se encontrou com o de Dorcas teve a certeza, uma vez que a outra amiga também sustentava receio e preocupação.


- Eu não gosto dela, James. Eu não confio nela.


- Lily... – James segurou nas mãos da namorada sem saber o que fazer. – Eu já te falei que não existe nada entre eu e Marlene. E eu te disse que o Sirius está afim dela, não vou ser fura-olho do meu amigo, não é?


Se o garoto pensou que isso ajudaria a melhorar a situação ele cometeu um tremendo engano, e percebeu isso quando Lily fez força para soltar as mãos que até então estavam dadas com a do namorado. Emmy abriu a boca sem acreditar no que havia ouvido. Lily tremia os lábios segurando as lágrimas que batalhavam para aparecer.


- Eu te amo, James. – ela disse com a voz fraquinha e tristemente manhosa.


- Eu também, eu... – o garoto respondeu rápido com o desconforto de não saber o que fazer batendo na nuca. Se ele tinha algo a mais para dizer não se sabe, porque mal terminando de pronunciar aquilo, Lily deu as costa com o olhar baixo sumindo na mesma multidão em que Marlene havia entrado. Quando o garoto fez menção de querer segui-la, Dorcas segurou James e fez uma careta de pena para o amigo.


- Deixa que EU vou atrás dela. – ela ditou séria e seguiu o mesmo caminho que a amiga.


James encarou os amigos visivelmente desconcertado.


- O que eu fiz?


- Ahh, você não sabe? – Emmeline falou sarcasticamente. A cara dela era igual a de Lily quando ele sabia que a namorada estava muito irritada, e aquilo com certeza não ajudou.


- O que foi que você tomou, cara? – Remus perguntou franzindo o cenho.


- Nada tipo wow! Sério, eu estou sóbrio!


- Então para de falar que isso não tá ajudando! – Emmy mandou ainda visivelmente irritada.


- Que comentário infeliz, James. – Ashley falou expressando a mesma face que a de Dorcas antes de sair atrás de Lily.


- Potter, eu juro que se você fosse o meu namorado ainda estaria se contorcendo no chão com o arregaço que eu teria te dado na tua zona sul. – Emmy ditou séria. Remus abafou um riso com o comentário e até James teria rido se não estivesse preocupado com o ocorrido. – Sério, é isso mesmo Evaristo? O namorado falou que não ficaria com outra para não furar o olho do amigo, ao invés de dizer o que deveria ser o óbvio? Isso mesmo Sandra. Ele não falou que o fato dele não pegar outra era porque o próprio tinha namorada! Quem sabe ele se esqueceu, não é mesmo? Quanta nobreza e lealdade à amizade...


- Eu disse isso, foi? – James perguntou envergonhado.


- Disse, cara. – Remus confirmou.


- Ah não se lembra? – Emmy continuava irritada.


- Na verdade eu não sei bem o que disse, eu tava preocupado com ela estar quase chorando que eu...


- Pois saiba que agora sim é hora de se preocupar pra não perder a namorada, meu amigo. – Emmy inflou as narinas. – Eu não consigo entender essa menina... – a loira conversa com a própria consciência. – E ela ainda te solta um ‘eu te amo’ verdadeiro. – e então se virou para o garoto – E você nem pra dizer o mesmo, não é?


- Mas eu disse!


- Não, você disse ‘eu também’. Presta a atenção e vê se aprende a psicologia feminina, Potter. – ela se aproximou do amigo enquanto o mesmo reclamava – Será que dá pra você parar de me chamar de ‘Potter’? Isso está me assustando. – a garota o ignorou e continuou – Quando uma garota diz um ‘eu te amo’ verdadeiro ela quer ouvir como resposta um ‘eu te amo mais’, não um ‘eu também’. “Eu estou com sono. Eu também”. Affê né?


- Então porque você não faz um livro sobre isso? Viraria milionária.


A garota tirou da mão de um convidado um copo e bebeu todo o líquido ao som de protestos do mesmo. Então virou-se pra os amigos que estavam perto.


- Ahh quer saber? De drama já bastam os meus! Vou deixar a Dorcas lidar com a Lily hoje antes que eu piore as coisas. E cadê o Sirius e Edgar? – ela esticou o pescoço e começou a procurar no salão – Eu disse que queria me divertir hoje! Vou atrás dos despreocupados de plantão porque vocês só me trouxeram desgosto. – James fez uma careta e Remus murmurou um pirada. – Até mais ver! – a garota deu as costas e seguiu em direção ao centro da casa. Ficou feliz ao avistar um Edgar muito louco pulando em cima de uma mesa de centro com os óculos de sol pendurados precariamente em uma das orelhas com a outra haste solta e a ponte apoiada desajeitada no nariz.


Emmeline abriu um sorriso e foi atrás do amigo que deu a mão para que a menina o acompanhasse em cima da mesa. Enfim se esquecer dos problemas, ela pensou. E então dançou. Naquela hora não existia contagem e a coreografia era improvisada pela alma e pelo copo.


 


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Pelo Blackberry ela viu que eram 7h12 da manhã. Emmeline voltava pra casa com o dia já amanhecido. Descalça, cuidava com os pedregulhos da calçada enquanto via as casas por onde passava acordarem lentamente. Agora ela já estava mais sóbria e as dores começavam a surgir pelo corpo. Tentava se lembrar daquela noite, mas existia um grande espaço vazio no cérebro entre a hora em que dançava com o Edgar na mesinha e a hora em que Dorcas a chamou dizendo que iria levar Lily para casa porque já eram 6h30. Segurava as sandálias em uma mão e o aparelho em outra, uma vez que não obteve sucesso ao encaixá-lo, como sempre fazia, entre os seios. 


Notou que havia um caminhão grande de mudança no vizinho quando virou a esquina da quadra de casa, porém não era o mesmo que levava as coisas da Sra.Green. Só então notou que agora tiravam os móveis de dentro do veículo. Os vizinhos novos haviam chegado.


A garota entrou em casa o mais silenciosamente possível para um meio bêbado de ressaca e se assustou ao ouvir barulho vindo da cozinha. Era domingo e ninguém trabalhava num domingo para estar de pé àquelas horas! Assustou-se ainda mais ao ver que era Paul usando um terno e fazendo ovos mexidos o causador do barulho. Ela provavelmente estava num estado deplorável, pois ao notar a garota na cozinha, o homem largou a frigideira fazendo um estardalhaço.


- Uma noite daquelas, não? – ele comentou enquanto a garota continuava estática entre os vão da porta. – Não faça barulho, sua mãe ainda está dormindo.


- Olha quem fala... – ela se pronunciou finalmente parecendo acordar do transe. Deixou o blackberry na mesa e abriu um armário contendo remédios e tirou um comprimido para dor de cabeça. Encheu um copo com água e tomou o medicamento sem precisar de mais de um gole.


- Você precisa comer alguma coisa pra isso fazer efeito, sabia? Vai piorar a situação desse jeito. – ele disse sem olhar para a garota mexendo os ovos.


A garota o ignorou e ainda segurando o copo d’água se apoiou no gabinete encarando Paul. Ele estava ainda mais sexy com o terno e gravata.


- O que você está fazendo acordado e vestido assim?


- Meu chefe ligou pedindo para que eu o ajudasse a estudar um caso. E como sou estagiário... Sabe como é, não?


- Num domingo de manhã?


- Eu sou estagiário! – Paul falou rindo como se aquilo já explicasse o fato. Aquilo fez com que Emmy batesse de frente mais uma vez com o fato da mãe estar casada com um caro mais novo que ainda nem havia terminado a faculdade.


Com ele rindo da situação, Emmy teve uma vontade louca de agarrá-lo e começou a considerar se aquilo valeria a pena.


- Emmeline, você está bem? Está passando mal? – ele perguntou preocupado desligando o fogão e se aproximando da garota imaginando que ela poderia vomitar a qualquer momento pela cara que ela expressava. Emmy apenas sacudiu a cabeça negando e continuava a encará-lo.


O homem não muito certo da resposta pegou nos braços da menina que olhava fixamente para os olhos verdes de Paul. Num ato que provavelmente não aconteceria se ela não tivesse bebido tanto, a garota aproximou seus lábios nos do homem forçando um beijo mais intenso. Algo que não aconteceu, uma vez que Paul não se rendeu e não abriu os lábios cedendo passagem. Ele interrompeu o contato quase instantaneamente e se afastou da garota.


- Emmy! – a garota estava com os olhos arregalados surpresa com a própria ousadia – Emmy, eu acho que você não está entendendo. Eu amo sua mãe, estou casado com ela, eu não...


- Não, eu entendo. – a loira o cortou abrindo um sorriso de entendimento. Ela havia beijado Paul! E ela não havia sentido nada! Nada. E ele em nenhum momento quis se aproveitar da situação. Aquilo foi com um tapa na cara. Mas Emmy não sentia vergonha, aquilo foi um tapa para acordá-la do óbvio.


Dorcas estava certa. Foi apenas uma apaixonite, um erro de adolescente. E ela ficou feliz ao notar que Paul também havia pensando isso e fazia um discurso sobre como a garota devia estar confusa e não iria comentar aquilo com a mãe dela. Um discurso que Emmy não prestava atenção ao trabalhar com seus pensamentos. Agora ela estava muito sóbria por culpa da adrenalina e sabia das conseqüências do que havia feito. Mas ela estava feliz. Foi um peso que havia sido aliviado e agora ela tinha certeza. Sabia que Paul se importava com a mãe dela tanto quanto ela.


- Desculpa, Paul. – ela disse enfim encarando o padrasto – Você ama a minha mãe! – ela disse como se o fato de falar aquilo em voz alta fosse dar mais certeza ainda a afirmação.


- É óbvio que eu amo! O que você pensou q... – ele agora falou estranhando a reação da garota. Emmy então se lembrou do que havia acontecido com James e Lily mais cedo.


- Não a decepcione. – ela disse séria meio que como dando um conselho, meio que dando uma ordem. Então a garota pegou um pacote de bolacha do armário, pegou o blackberry da mesa e saiu apressada. Ao atravessar a porta virou-se para o homem com um sorriso. Agora ela havia aceitado o garoto morando na sua casa.


- Paul, é legal ter você na família. – e saiu em direção as escadas deixando Paul ainda tentando entender o que havia acontecido.     


Emmy deixou a bolacha em cima da cama e mandou uma mensagem para Lily perguntando como ela estava, provavelmente a acordaria já que ela saiu da festa antes mas não se importou. Arrumou o que precisava para tomar banho sem fazer barulho. Ela estava um nojo, principalmente o pé pois andou pela rua descalça.


Ao voltar viu que havia recebido duas mensagens. A primeira era de Lily a xingando por ter sido acordada, dizendo que agora estava melhor e convidando para que mais tarde passasse na sua casa para conversarem. A segunda mensagem era de Lily também. Emmy se perguntou o que seria, mas como sua cortina estava aberta se distraiu com a casa vizinha, a dos vizinhos novos. O quarto dela dava para um da outra casa que ainda estava sem cortinas. Um garoto deixava umas caixas do aposento e percebeu que Emmy o observava. Ele era bonito, provavelmente estavam na mesma faixa etária e sorriu maroto ao ver a garota apenas de toalha o observando. Emmy para desviar o olhar leu a outra mensagem de Lily.


“Eu sei q já falei isso, mas vc estava linda dançando hoje amiga!


Bom dia e durma bem haha! XX


ps.: me lembre de matar o Edgar qnd o encontrar!


Meu olho ñ para de coçar, o infeliz me passou conjuntivite!”


Emmy riu com a notícia e fez a toalha quase se soltar. Preocupada, olhou para o vizinho e viu que não tinha mais ninguém no quarto. Agora analisando as novidades da vizinhança visualizou o garoto em sua mente, e dando palmas para o fato de que quando o garoto se abaixou uma faixa da cueca pode ser vista, Emmy e sua incrível habilidade de visualização sem conjuntivite perceberam um pequeno CK na barra. Ora, as janelas ficavam a num máximo 2 metros de distância! Aquela foi a hora de Emmy sorrir marota, fechar as cortinas e descansar, enfim, sem preocupações.


 


¹ Academia Juilliard é uma das mais conceituadas escolas de arte, localizada em Nova York.                          


² Howard Wolowits, personagem da série The Big Ben Theory


 


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[n/a] Não tenho nem coragem de me desculpar pela demora. Até me arrependi de não colocar nos posts as datas de quando postei cada capítulo para saber o tamanho da demora. Enfim, a fic tem mais de um ano e agora que estou postando o terceiro capítulo! Só pra dizer que agora tenho muito mais tempo livre do que antes, então a fic não ficará abandonada. A não ser que ninguém mais leia, por isso eu espero que por favor, por favor, se alguém lê isso deixem que eu fique sabendo comentando! Eu espero realmente que vocês lessem meus n/a's porque sempre tenho alguma observação sobre o cap. do post. Nesse eu tive uma preocupação com os palavrões, mas a fic não é exatamente livre, como está escrito na descrição, então espero que ninguém se sinta encomodado com isso. Em relação à Skins, dei um toque de Michelle na Emmy, achei que casou. Não me lembro de mais nada pra dizer agora, então beijos e tchau. Se vocês estao gostando desse estilo de fic, comentem por favor, e se não, comentem tbm falando o porquê! E fim. Beijos e tchau.  27/03/2011


ps.: A FeB está passando por uma reforma das grandes, não? Eu estou adorando!


 


 

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