Dorcas Meadowes




2. Dorcas Meadowes


- Dorcas, minha filha! - a Sra. Meadowes gritava do andar de baixo. – Estou saindo. Cuide do Ben até eu voltar.


E após ouvir a resposta de entendimento da filha, acrescentou:


- E abaixe esse volume! Seu irmão está dormindo.


A garota fungou e abaixou o som de Revelry do Kings Of Leon – sua banda preferida – e pôs-se a separar as fotos recém-reveladas dos seus amigos. Era sempre essa a forma que ela tratava suas pós-recaídas: passava o dia inteiro trancada no quarto, ouvindo a discografia completa de KOL, enquanto organizava e re-organizava seus álbuns de fotografias. Entretanto, nada disso era possível, sem antes, tomar todo o seu coquetel de antidepressivos.


Dorcas Meadowes era uma linda menina de cabelos escuros e pele pálida que transbordava uma inocência angelical por onde passava. Paradoxalmente, sofria de inúmeros complexos e manias, depressão, zero–autoestima, e tinha tendências suicidas. Gostava da solidão e da tranquilidade de seu quarto.


Pelo menos até ela ser interrompida pelo choro de seu irmãozinho caçula...


Ela foi até o quarto do pequeno, tirou-o do berço e o levou para baixo para esquentar a mamadeira do bebê. Enquanto estava na cozinha, ouviu o barulho da campainha. Imaginou que talvez pudesse ser o Edgar querendo saber como ela estava. Depois de deixar o irmão sentado no sofá, foi atender a visita.


A princípio, Dorcas não havia reconhecido a pessoa que se encontrava a sua frente. Depois que a estranha tirou seus óculos de sol Ferragamo, reconheceu-a sendo Marlene McKinnon, a garota do banheiro da noite anterior. A garota dos ecstasys.


- E... – Dorcas não sabia exatamente o que fazer ou falar. Por sorte, a outra foi mais rápida e a cortou, poupando um constrangimento maior.  


- Eu realmente não fazia ideia de como era fácil conseguir o endereço de algum aluno de escola pública nessa cidade. – Depois de não ouvir nenhuma reação vinda por parte de Dorcas, perguntou: - Não vai me convidar para entrar?


Assustada com a cena, a garota se afastou da porta permitindo a entrada da intrusa, embora ainda não entendendo o que ela fazia em sua casa.


- Não quero parecer rude, mas... O que você está fazendo aqui?


Marlene entrou na sala de estar, fez uma careta ao ver o bebê no sofá e virou-se para Dorcas com um olhar sério.


- Você está me devendo 10 libras.


A anfitriã da casa levou um tempo para engolir as palavras ditas, e então compreendeu. O estranho era saber que obviamente Marlene McKinnon não precisava de dez pratas, realmente não aparentava ser do tipo que traficava drogas, e a quantia era tão pequena que não era algo desesperador a ponto de ela precisar do dinheiro logo no dia seguinte.


- Claro. Tem dinheiro lá em cima. Só me deixe alimentar o Ben primeiro, ele está meio emburrado hoje. – a garota pegou o menor no colo, levando o bico da mamadeira para sua boca.


- Tanto faz. – Marlene respondeu indiferente.


- Você não parece gostar muito de crianças. – A garota tentava puxar assunto para que não ficasse um clima estranho no ar.


- Com certeza não é meu tipo favorito de companhia.


- Também tem irmãos?


Marlene estava começando a se irritar. Ela não gostava de conversar sobre si mesma com quaisquer. Mas aquela garota transmitia certa sensação infantil de confiança, e talvez não tivesse problema algum em falar sobre seus irmãos.


- Tenho dois. Liam de 7 e Elizabeth de “quase 15”. – A garota disse o fim da frase com uma voz irritante, como se estivesse imitando a própria irmã. Dorcas mostrou um sorrisinho e comentou:


- Não é muito fácil ser a mais velha, não?          


A outra apenas mexeu a cabeça concordando. Ficaram uns minutos em silêncio enquanto Marlene observava a sala.


- Pronto, o Ben já tomou toda a mamadeira. – a garota arrumou o irmão no colo, e começou a ir em direção as escadas. – Venha, só irei deixá-lo no quarto.


 


Quando Marlene entrou no quarto de Dorcas, podia se ouvir Molly’s Chambers do KOL, e pensou que a garota tinha um gosto musical compatível ao dela. Passou então a reparar na quantidade de fotos espalhadas nos murais, nas estantes e em cima da cama. Na cabeceira havia uma câmera profissional.


- Fotógrafa?


Dorcas estava concentrada procurando o dinheiro e respondeu casualmente.


- É um hobbie, me acalma. Gosto de observar as pessoas, coisas... Quando algo me chama a atenção fotografo. Também adoro tirar foto dos meus amigos quando estamos reunidos. Me faz lembrar que enfim, existem coisas boas nessa vida.


A maior imagem do quarto, era do tamanho de um grande pôster. Nele, podia ver sete jovens alegres sentados na grama, onde parecia ser um parque. Marlene reconheceu Dorcas na foto, ao lado de uma garota ruiva, e só então reconheceu.


- Eu conheço eles. – apontando para dois garotos – São meus vizinhos. E a ruiva é namorada de um deles, ela definitivamente não vai com a minha cara.


- James e Sirius. E Lily, namorada do James.


- Quem são os outros?


- Essa é a Emmeline. – A garota apontava para uma loira ao lado do tal Sirius. – Edgar e Remus. – os outros dois garotos que se seguiam.


Marlene e Dorcas ficaram um tempo observando a foto. A primeira imaginava o quão estranho aquele grupo aparentava ser, e a outra, recordava lembranças alegres que passaram juntos.




James Potter e Sirius Black eram vizinhos e moravam na região mais nobre de Bristol. Amigos desde quando os pais de Sirius vieram de Londres em busca de um lugar mais tranqüilo para viver – os garotos tinham 5 anos. Mais tarde, Remus Lupin se juntou ao grupo trazendo Edgar Bones – o pai de Remus era funcionário da empresa dos Potter, e as festas de confraternização fizeram dos quatro inseparáveis. Da escola, Remus e Edgar trouxeram também a taxa de estrogênios ao grupo: Lily Evans, Dorcas Meadowes e Emmeline Vence. Todos tão diferentes que faziam valer, mais que no eletromagnetismo, a expressão “os opostos se atraem”.


 


Marlene então quebrou o silêncio.


- Estudam todos juntos?


- Ah não. James e Sirius não estudam conosco. São filhos dos magnatas, entende? Carros blindados e etc. Se bem que Sirius adora provocar o pai com a Janis. – Dorcas ao perceber a cara de confusa vindo de Marlene, retoma o assunto. - Não estudam em colégio público. O que na verdade não interfere em muita coisa, pois é só atravessarem a rua. Uma escola é em frente à outra. – então a garota entregou uma nota de dez libras para a outra morena. – Aqui o dinheiro. Só não entendi porque a pressa.


Marlene a fitou mais séria.


Eu realmente não preciso do dinheiro. Mas você me irritou ontem.


Eu sinto muito. – Dorcas arregalou os olhos. – Sinto mesmo, eu não me lembro muito bem o que fiz, mas de qualquer forma, me desculpe.


- E tem mais uma coisa. – Marlene por fim confessou. – Queria saber se você tinha sobrevivido ao que usou. Na festa comentavam que uma doida tinha passado mal e morrido. Vim me certificar se era você. Só que então você abriu a porta da casa. Assombração é que não podia ser... Ao menos me poupou do peso na consciência.


Dorcas ficou um tanto surpresa com o que ouviu, mas abriu um sorriso ao notar que alguém como Marlene havia se importado com ela.


- De qualquer forma, você é maluca, sabia?


- Talvez. Na verdade, sim. – Dorcas disse indiferente. – Mas obrigada mesmo assim Lene. Posso te chamar a...


- NÃO me chame de “Lene”. – Marlene cortou secamente. – Não pense que só porque vim te ver que agora iremos nos tornar amigas. Não somos isso.


Dorcas ficou sentida com o comentário, mas como em muitas outras situações pelas qual passou, preferiu fingir que não havia ouvido o fim. “Lene” nem ao menos era um apelido feio.


- Desculpa Marlene. – Então lá de baixo pôde-se ouvir a voz da Sra. Meadowes dizendo que havia chegado. – Eu posso sair agora que minha mãe chegou. Quer dar uma volta?


- Não.


- Tem certeza?


- Eu tenho que ir agora.


Dorcas insistiu.


- Legal. Vou sair também. Podemos ir juntas até sermos forçadas a nos separar devido aos nossos diferentes destinos.


Marlene teve um mix de sensações num curto espaço de tempo. Primeiro, quase engasgou com a ambiguidade contida na última frase da menina, imaginando se aquilo havia sido proposital – além de achá-la muito esquisita por usar aquelas palavras; por segundo, sentiu raiva da garota por ainda insistir em sair com ela; e por último, sentiu-se frustrada consigo mesma ao cogitar a hipótese de aceitar o ‘meio-convite’. A irritada morena analisou Dorcas sem demonstrar nenhuma apatia, no entanto, por fim disse.


- Tanto faz.


Dorcas abriu um pequeno sorriso e concordou com a cabeça. 


 


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As duas garotas andavam silenciosas pela calçada. Dorcas não gostava do silêncio, porém também não falava muito. Na verdade, só abria a boca quando o silêncio tomava conta do ambiente, e ela não tinha música alguma para ouvir. Marlene gostava do silêncio, mas no fundo o temia. Ela sempre teve medo daquilo que a controlava, mas também sempre admirou tudo que mantinha o controle. Entretanto, como tantas coisas estranhas que tinham acontecido desde que Marlene havia se mudado para Bristol, foi ela quem achou que a quebra do silêncio seria a melhor opção para o momento.


- E então, pelo o que percebi você é uma louca da porra. – a garota começou se referindo a Dorcas, que não mostrou reação nenhuma. – Por que o vício? As drogas, os remédios...


Dorcas suspirou e respondeu sem hesitar.


- Por que me faz me sentir melhor, mais forte. Corajosa. Ou apenas me faz esquecer os problemas.


Marlene entendia o que a menina queria dizer. E desde o momento que viu Dorcas, aquela havia sido a primeira vez que se sentiu semelhante a ela. Toda aquela ilusão que se obtém com o vício, e que ambas sabiam que era falsa e que no fim só traria dor, era uma máscara. Uma máscara toscamente útil, que encobria toda a fraqueza que cada uma tinha. Fraqueza.


- Qual foi o problema de ontem?


- O de sempre. Ele.


- Quem é ele?


- Remus.


- O da foto?


Ela apenas concordou com a cabeça.


- Ele sabe disso?


- Ninguém sabe.


- Nem tuas amigas?


- Ninguém.


- Mas como?


- Ninguém nunca perguntou.


- Mas que merda de amigos são esses que nem ao menos querem saber por que a amiga se envenena a cada festa que vai?


- Acho que eles têm medo da resposta. Eu teria medo se fosse com alguma amiga minha, você não?


Marlene não respondeu, pensando bem, de alguma forma entendia.


- Até porque não foi assim que começou. – Dorcas continuou.


- Mas e se algum dia esse tal Remus perguntar. Você irá falar a verdade tão facilmente como fez comigo?


- Não sei. Acho que sim.


Naquele momento Marlene viu que a mais fraca dentre elas era si mesma. Dorcas admitia seus problemas e a razão deles. Marlene os negava.


- Agora é sua vez. – Dorcas começou. – Eu te contei meu grande segredo. Agora me conte o seu.


- O quê? Não seja boba, você que começou a vomitar seus problemas para mim. – Marlene riu. – E eu não tenho que te contar nada. E o seu nem ao menos é segredo, se alguém te perguntar, você nem pensa para responder.


- Claro que é segredo! Ou você acha que agora que você sabe vou sair por aí espalhando igual gripe suína? Eu te contei porque você me pareceu confiável.


- Você mal me conhece! EU mal te conheço.


- Acha que espalharia para alguém qualquer segredo seu? Não sou fofoqueira. Não faço com outros o que não gostaria que fizessem comigo.


- Você é uma porra de um clichê.¹


- E você fala palavras muito feias para uma garota. – as duas garotas pararam no meio da rua deserta e se encararam. – Me diga. Houve um motivo para você se dar o trabalho de me visitar e saber como estou. Eu sei que houve. Te conheço há exatas 12 horas e sei que uma garota como você não faria isso se não tivesse um grande motivo.


Marlene estava com a boca aberta, desacreditada.


- Você é ridiculamente bizarra.


- E eu vejo nas suas íris que o brilho se perdeu. Você está assustada. Tem um motivo maior.


Estática, Marlene permaneceu por alguns segundos. Aquele era um assunto que com toda a certeza não queria e não podia comentar. Entretanto, pela terceira vez naquele dia, a inocência de Dorcas dessa vez, quase a rendeu.


- Talvez haja mesmo uma razão maior. Eu...eu... – A morena respirou fundo e com a cabeça abaixada finalizou. – Isso foi um erro. Com toda a certeza. – Então levantou a cabeça e encarou fundo os olhos de Dorcas. – Essa conversa não aconteceu, entendeu bem?


Antes mesmo de Meadowes responder qualquer coisa, Marlene virou-se rapidamente e atravessou a rua em passos largos. Dorcas acompanhou com os olhos a garota até a mesma dobrar a esquina e desaparecer por detrás dos muros. Quando isso aconteceu, Dorcas virou-se de costas e sorriu ao perceber quem estava na extrema esquina.


Outra pessoa andava rapidamente a passos largos, mas desta vez vinha em sua direção. E diferentemente de Marlene que fugia com uma postura rígida, essa pessoa caminhava com uma energia característica apenas dela, era como estivesse ligado a uma tomada todo o tempo. Com o seu companheiro de todas as horas - o baseado cravado no meio dos dedos -, Edgar parecia extremante feliz ao encontrar quem procurava.



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Edgar se importava com Dorcas, e muito. Era como sua irmã. Talvez ele não a conhecesse bem, mas ela o conhecia melhor que qualquer um, e embora não admitisse a ninguém, a não ser à própria amiga, era Dorcas o seu maior suporte, e o garoto não queria ver a menina tendo o mesmo fim que sua mãe.


Sentiu-se aliviado ao encontrá-la aparentemente saudável.


- Dorcas! Finalmente te achei. Passei na sua casa e sua mãe disse que você tinha saído com uma garota. No começo pensei que fosse a Lily, mas daí lembrei que ela está me ligando de cinco em cinco minutos para que eu te seqüestre de sua casa e te leve ao Mark’s. E além do mais, sua mãe conhece a Lily. Então provavelmente não era ela. Ou era? Não, certo? Foi a Emmy? Não, sua mãe também conhece a Emmy...
   
Dorcas abriu ainda mais o sorriso diante do amigo. Edgar era assim, atropelava as palavras como se não tivesse tempo suficiente de vida para que as falasse com coerência. Sempre com os olhos arregalados, Dorcas até admirava como ele conseguia se manter tão elétrico fumando constantemente maconha. As pílulas com certeza se sobressaiam naquele organismo.


- É, não era a Lily nem a Emmy.


Edgar ao ver que a menina não iria dizer mais nada, respirou fundo e tirou dos lábios o sorriso que mantinha. Aquilo preocupou Dorcas. Foram raríssimas as vezes em que ela viu os olhos do amigo perderem o brilho. E naquele momento havia perdido.


- Você nos assustou de novo. – o garoto colocou as mãos no bolso e olhou para o chão.


A menina não sabia o que dizer.


- Não faça mais isso, por favor. – Edgar a encarava com seus olhos claros e profundos. – Não quero ter que perder você também...


Foi então que a amiga se lembrou, e automaticamente abraçou forte o menino.


- Eddie, - só ela o chamava assim. – me perdoe. Hoje faz cinco anos, não é mesmo? Mamãe foi mais cedo ao cemitério visitá-la. Eu sinto tanto... Como você está?


Ainda abraçados Edgar conversava com a voz abafada.


- Não fui ao túmulo ainda. – E então após alguns segundos, completou. – Meu pai não lembrou.


- Quer que eu vá com você até lá? – Dorcas perguntou puxando-o pela mão. – Eu sei que quer. Vamos.


 


Ao atravessarem os portões do Cemitério Municipal de Bristol, Edgar comentou rouco.


- Não piso nesse lugar há exatamente um ano.


Quando passaram por uma sepultura recém visitada, o amigo furtou um buquê ainda em bom estado, explicando:


- Não posso visitar a casa de alguém sem levar um presente, não é mesmo?


Dorcas apenas abriu um sorrisinho.


- Você escolheu as melhores flores. Violeta representa respeito, dignidade. Uma escolha bem digna... Melhor que aquelas rosas vermelhas.


- Ela nunca gostou de rosas. Na verdade ela preferia orquídeas. Mas acho que teríamos muita sorte se achássemos algum arranjo por aqui.


Poucos minutos depois era possível enxergar o túmulo de mármore branco.


- Acho que minha mãe já garantiu as orquídeas. – Dorcas comentou ao ver que haviam bonitas flores ao lado da foto de uma sorridente mulher.


Edgar aproximou-se e colocou seu arranjo roubado no outro lado da foto. Ficou ali abaixado, perdido em suas próprias lembranças.


As mães dos dois jovens eram grandes amigas quando adolescentes. As duas cresceram, constituíram famílias, criaram os filhos juntas. E era por isso que Dorcas e Edgar eram tão unidos. Infelizmente, problemas familiares fizeram com que a mãe do garoto entrasse em um estado de depressão profunda, e a doença levou a melhor perante a mulher.


Minutos mais tarde, Edgar levantou-se e segurando a mão de Dorcas, os dois encaravam a lápide. “Charlotte Rose Bones. 08/25/1967 – 01/30/2005. Mãe, esposa, amiga.”


- Já te falei o que quero que esteja escrito na minha lápide? – o garoto perguntou.


- Não. – Dorcas respondeu esboçando um sorriso. Ela sabia que agora ouviria besteira. – O quê?


- “Enfim, sóbrio.”


A menina riu com o comentário enquanto o amigo explicava.


- Achei que soasse melhor que “Enfim, pó.”. Tem menos sílabas, faz parecer menos importante. Por isso preferi a primeira opção.


- Edgar... – Dorcas meio que o repreendia e ria ao mesmo tempo. Mas ficou feliz ao ver que agora, o brilho havia voltado nos olhos do garoto. Ela não sabia que agora ele também estava feliz por ter a feito rir.


- Acho melhor agora te levar ao Mark’s. Lily está te esperando. – e então acendeu um novo baseado.


 


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Mark’s era a lanchonete em que Lily trabalhava como garçonete no intuito de conseguir dinheiro para a faculdade. Havia virado o ponto de encontro oficial dos amigos, além de ter o melhor milk shake da cidade.


- Dorcas! – a ruiva gritou ao ver a amiga entrando na lanchonete, seguida por Edgar. – Venha até aqui atrás me abraçar. – Lily se referia ao ir atrás do balcão. Sirius e James estavam sentados em banquetas em frente à Lily. Edgar os acompanhou puxando outra.


- Edgar! Apague essa droga se quiser ficar aqui dentro. – uma voz vinda do fundo do estabelecimento berrou ao ver o loiro com a maconha. Era Mark, o agora idoso dono do lugar.


- Pô Mark, amigão. Eu sei que você ainda irá me pedir para dar uma tragada e assim relembrar os velhos tempos. – Edgar comentou se referindo ao fato de que Mark, um americano agora naturalizado inglês, foi um representante ativo do movimento hippie e da contracultura em sua época, quando havia sido obrigado a se alistar para a Guerra do Vietnã. O homem tinha até fotos dele com os amigos em Woodstock. As fotos emolduradas atualmente faziam parte da decoração na lanchonete.


- Claro, se não fosse o fato do meu câncer no rim e da diabete andar a níveis alarmantes eu poderia até te acompanhar... – o velho disse irônico. – Agora sério. Jogue fora essa merda. – e então virando-se a Dorcas gentilmente – Menina, você precisa se cuidar mais, seus amigos estavam preocupados. Além de que você está muito pálida. Irei eu mesmo fazer um milk shake especial do Mark, por conta da casa.


- E eu Mark? – Edgar perguntou animado – Não ganho nada?


- Quem sabe na próxima vez em que não deixar meu negócio fedendo essa catinga. – e então saiu para a cozinha deixando os amigos rindo.


- Emmy já está vindo. – Lily agora dizia à Dorcas.


- Remus também. – James completou. - Já mandei uma mensagem. - E então ao encarar a porta acrescentou. – Aí está ele.


Todos viraram para olhar. Só que acontece que Remus não estava sozinho. Ele vinha acompanhado de uma garota de longos cabelos loiros, a ficante da festa passada.


- Galera, essa é a Ashley. – Remus apresentou. – Ashley, essa é a galera.                                                                     


Oito jovens estavam sentados na mesa dos fundos do Mark’s. Riam e conversavam animados. Dorcas estava sentada exatamente em frente de Remus e Ashley – Ashley que se mostrou irritantemente linda, irritantemente simpática, irritantemente inteligente, irritantemente aceitada pelos amigos e principalmente, irritantemente perfeita para o Remus. Como costume, ela não prestava atenção no que falavam sobre a mesa. De repente a placa de trânsito que olhava pela janela parecia muito mais interessante. Então ela viu um rosto conhecido no outro lado da rua se aproximando da lanchonete, a pessoa adentrou o lugar indo em direção ao balcão. Marlene McKinnon não tinha reparado que Dorcas estava em uma das mesas. A mesma encontrou naquilo a desculpa perfeita para fugir de tanta alegria que a envolvia.


- Eu já volto. – Dorcas disse aos amigos se levantando e seguindo em direção à Marlene que estava de costas. Lily a seguiu com o olhar, se irritando ao ver o que acontecia.


- Olá Marlene. – a menina a cumprimentou, e teve como resposta um olhar surpreso e um “Você!”.


- Eu. Então você já conhece a fama do Mark’s! – Dorcas tentava puxar assunto. – Tem o melhor milk shake da região.


- Ouvi falar. – Marlene disse simplesmente. – Mas ainda prefiro café.


- Hum. Quer vir se sentar com a gente? – a outra sugeriu se virando para que Marlene visse a mesa lotada de jovens.


- Eu acho que não... Está meio cheio, certo? – Marlene respondeu feliz em ter uma desculpa. Porém ao ver que uma ruiva as encarava, abriu um sorrisinho esperto e resolveu concordar. – Na verdade, eu acho que quero sim.


As duas se aproximaram da mesa e as conversas começaram a serem abafadas. Todos os rostos se viraram para encará-las.


- Pessoal. – Dorcas começou. – Essa é Marlene McKinnon.


- Marlene! – Edgar disse abrindo os braços. – Lene! Sente-se conosco.


- Marlene. – Dorcas corrigiu a tempo, enquanto Marlene revirava os olhos com o assunto. – Ela não gosta que a chamem de Lene.


- Beleza então, Marlene. – Edgar não se abalou. – Puxe uma cadeira e entre na roda.


- Nós já nos conhecemos. – Sirius disse, enquanto James concordava com a cabeça. – Nossa nova vizinha.


- É. Essa é a vizinha nova do James que eu comentei com você Emmy. – Lily alfinetou, com as bochechas um tanto vermelhas.


- Nossa. – Marlene puxou uma cadeira sentando-se entre James e Sirius, provocando a ruiva. – Mal cheguei na cidade e estou sabendo que já comentam sobre mim... Isso é para ser algo bom ou ruim?


- Acho que no seu caso... – Lily respondeu. – Ruim.


- Então irei me cuidar para que nada de impróprio chegue aos seus ouvidos... – Marlene dizia com uma falsidade explícita. – Lily, certo?


- Ahh, você já sabe o meu nome? – Uma aposta sobre quem era mais falsa na mesa poderia ser iniciada, enquanto os outros apenas encaravam as duas garotas.


- Na verdade eu vi uma foto de vocês no quarto da Dorcas. Ela me apresentou-os lá. – Marlene respondeu agora virando para cada um. – Lily, obviamente, Emmeline, Edgar, Dorcas...


E continuou, insinuando algo.


- James, Sirius, Remus e... Me desculpe, mas você não estava na foto. Não sei quem é. – Marlene falou ao chegar a Ashley.


- Sou Ashley. – A menina cumprimentou abrindo um sorriso e abraçando o garoto ao lado. – Estou com Remus.


- Ahh, você está com Remus. – Marlene repetiu erguendo a sobrancelha, e depois encarando Dorcas. – Dorcas não comentou nada sobre Remus ter uma namorada.


- Ah não estamos namorando.


- Não mesmo. – Remus reafirmou.


- Uma amizade colorida então. – a garota deduziu. Dorcas sabia que Marlene estava aprontando alguma coisa, e começou a temer o que era. Lily ao ver as reações de ambas as garotas, se sentiu um peixe fora d’água, e não gostou nem um pouco da sensação. – Bonita você Ashley. Embora, me perdoe, acho que o Remus combine mais com alguém como... a Dorcas.


Dorcas sentiu seu rosto queimar como nunca, não conseguia encarar ninguém. Até mesmo todos os presentes sentiram que uma mensagem estava tentando ser passada. Marlene ao ver que ninguém pronunciaria nada, finalizou.


- Bom, eu acho.


Remus achou que seria prudente mudar de assunto. Ele sempre sabia a hora certa para que isso acontecesse.


- Marlene, você veio de fora, certo?


- Sim. Londres. – a morena respondeu tomando um longo gole de capuccino.


- Por que sua família se mudou para cá? – Uma pergunta inocente. A resposta verdadeira não era tão inocente assim.


- Negócios do meu pai. Sabem como é...


- Espera um minuto. – Edgar falou arregalando os olhos. – Você é a garota com quem a Dorcas estava hoje mais cedo. A que a mãe dela comentou.


Edgar sempre atropelava os assuntos.


- Era. – Dorcas respondeu ainda sem ter coragem de encarar ninguém.


- Dorcas, - Agora era Lily que tentava insinuar algo. – você não disse como as duas se conheceram...


- Na festa. Ontem. – Marlene respondeu rápido.


- Você foi convidada? – A ruiva perguntou levantando a sobrancelha.


- Pelo seu namorado, inclusive. – Depois acrescentou. – E o amigo dele.


- Não te vimos lá, Marlene. – James tentou acalmar o clima. Logo em seguida só ele foi capaz de ouvir o comentário repreensivo que Lily fez em seu ouvido. “Que bom que você não a viu lá...”


- É. Mas eu fui. Tanto que conheci Dorcas.


- Em que lugar da festa? – Lily perguntou.


- No banheiro... – Marlene respondeu começando a ficar nervosa.


- Que horas? Na hora em que a Dorcas se drogou e depois quase morreu?


Muxoxos podem ser ouvidos vindos dos amigos, assim como um “aiaiai” de James. Eles sabiam o que Lily estava acusando. Conheciam a amiga e sabiam de como ela adorava um barraco. Entretanto Marlene aparentou não se abalar. Aparentou.


- Você está insinuando que eu sei com quem Dorcas conseguiu as drogas?


- Não. Estou insinuando que foi você quem deu.


- Como se atreve a...? – Marlene aumentou o tom de voz se levantando da cadeira, sendo seguida pela ruiva, que foi segurada pelo namorado que estampava um olhar monótono de “de novo não”.


- Ei. – Remus teve que aumentar o tom da voz para se sobressair. – A Dorcas está bem aqui. Porque não perguntam à ela quem fez isso?


Todos encaravam a menina.


- E então, amiga? – Emmy perguntou, enquanto a morena levantava enfim o rosto.


Dorcas respirou fundo e avistou Marlene. A outra ao ver que ninguém a olhava, arregalou os olhos e fez um pequeno sinal negativo com a cabeça. Dorcas não soube o porquê que não contou a verdade. Talvez seja porque como boa observadora, sabia que a menina havia ficado preocupada com a possibilidade de saberem sobre o ectasy. Então cortou a conversa dizendo:


- Eu não me lembro tá legal? Eu havia bebido um monte e Marlene me ajudou quando me encontrou no banheiro. – o que era uma meia verdade. – Ela não fez nada. Pára Lily de acusá-la.


- Resolvido? – Marlene agora encarou Lily e então levantou-se da cadeira. – Acho que esse foi o meu chamado para cair fora. Foi um prazer.




Depois que todos viram Marlene pagar sua bebida no caixa e atravessar as portas, Sirius reiniciou as conversas.


- Eu hein Potter, me lembre de nunca me meter com a sua namorada...


Lily apenas o encarou com um olhar raivoso.


- De qualquer forma. Essa Marlene já é minha. – Sirius completou pensativo.


- Qual é o seu problema com mulheres Black? Shelby Sellers, essa aí...? Não tem ninguém melhor, não?


Pode ser ouvida uma fraca voz.


- Lily... “Essa aí” é minha amiga.


- Ela não é sua amiga Dorcas. Você só a conheceu ontem. E isso não impede de eu achá-la uma grande chave de cadeia.


- Evans, Evans... Isso tudo é ciúme? – Sirius sorridente adorava provocar Lily.


- O que eu posso fazer se vivem em cima do meu namorado?


- Amor, não é disso que eu to falando. Você sabe que entre Shelby, Marlene e tantas outras... Quem se sobressai é você, ruiva dos olhos verdes...


Lily fechou a cara. Ela NUNCA entrava na brincadeira.


- Hey, hey. Não estou gostando do rumo que a conversa está tomando... – James levantou as mãos como se pedisse chega, e todos o encararam em silêncio. Então de uma forma bem gay: – Que história é essa, Sirius, de você dividir o nosso amor com tantas sirigaitas?


Todos riram menos Lily que ainda bufava e levantava os braços aos céus pedindo:


- Deus, me tire desse inferno de vadias!


 


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Todos já haviam saído do Mark’s menos Dorcas que ficou para trás terminando o seu terceiro milk shake. Ela mesmo não se importava de ficar sozinha. Ao sair da lanchonete se surpreendeu vendo que Remus a esperava sentando no banco da calçada.


- Oi. – ele cumprimentou com um sorriso de lado. Ela o achava incrivelmente tão lindo quando ele fazia isso.


- Oi... E a Ashley?


- A Ashley já foi pra casa. Na verdade eu queria conversar com você. – Dorcas sabia que suas bochechas haviam avermelhado enquanto Remus se aproximava.


- Sobre o que você quer conversar?


- Dorcas, não se faça de boba que eu sei que você não é.


- Não sei do que você está falando.


- Todo mundo percebeu a indireta que aquela doida da McKinnon deu. – Ele abriu um sorriso maior ao se lembrar do fato.


Dorcas apenas o encarou enquanto o garoto chegava ainda mais perto.


- O que eu quero saber é se essa indireta partiu da cabeça dela, - agora era ele que parecia estar cheio de insinuações – ou se você também acha que combinaria mais comigo.


Dorcas sonhava com aquele momento em que Remus se interessaria por ela praticamente todas as noites. Seu coração pulava de alegria ao ver que o garoto demonstrou quase explicitamente que ele gostava da possibilidade de estar com a menina. Então se lembrou da conversa que teve com Marlene sobre dizer sim ao Remus, em como naquela hora parecia tão corajoso e fácil se declarar. Acontece que ela não era corajosa. Depois suas lembranças se passaram para Ashley, aquela tarde a garota se demonstrou a melhor pessoa que Remus podia ter. Ela era tão certa, tão saudável, tão feliz, tão diferente da própria Dorcas. Seria injusto privar da pessoa que tanto amava alguém tão adorável como Ashley.


Sem acreditar nas próprias palavras que se seguiram, Dorcas falou a maior mentira de sua vida.


Na verdade eu não faço ideia do porque ela disse isso. – a garota abriu um sorriso encorajador. – Sinto muito. Ashley deve ter ficado tão sem graça. Peça desculpa a ela por mim Remus. Vocês sim ficam perfeitos juntos.


O garoto não tirou os olhos de Dorcas ainda por uns segundos para se certificar de que a garota não voltaria atrás. Ao ver que nada mudara, pegou com uma mão na nuca da menina se aproximando. Dorcas fechou os olhos suplicante para que o garoto não tornasse as coisas mais difíceis, e sentiu os lábios do garoto em sua testa com um beijo protetor.


Ao abrir os olhos o sorriso de Remus não havia mudado.


- Então eu devo ter imaginado coisas... Te vejo por aí, Dorc. – e atravessou a rua desaparecendo de vista.


Dorcas precisou se sentar no banco anteriormente ocupado por Remus para recuperar as forças. Minutos depois o sentiu sendo ocupado por outra pessoa.


- Cadê aquela história de “ah, se ele me perguntasse falaria a verdade”? – Marlene perplexa, levantava os óculos escuros os prendendo no topo da cabeça – Não acredito no que acabou de acontecer!


- E eu não acredito que você estava escondida ouvindo tudo!


- Eu não estava escondida, eu estava aqui ao lado comprando um lenço lindo que eu achei e quando saí, o vi se levantando e indo na sua direção. – ela explicava mostrando a sacola com a compra. – Mas não interessa! O que importa é que ele te deu a maior bola e você jogou todo o meu esforço fora!


- Teu esforço vírgula. Tua cara de pau, isso sim. Você me matou de vergonha hoje cedo, e eu havia pedido para você não dizer nada!


- Detalhes... Ele veio falar como você, não veio? E você simplesmente desmentiu tudo... – Marlene falou a última frase choramingando. – Por quê?


- Eu não sei... Só não me pareceu certo ele trocar uma pessoa como Ashley, por alguém como eu.


- De que merda você está falando Dorcas? – Marlene ficou ainda mais perplexa. – É óbvio que o cara gosta de você. Ele só é respeitável e digno o bastante para deixar você escolher o que desejava. E além do mais, você realmente acha que eu teria falado contigo se a senhorita não tivesse me parecido a pessoa mais doce, meiga e inocente que já conheci?


Dorcas apenas a encarou sem saber o que dizer.


- Além do que eu sei que minhas atitudes foram péssimas com você. – Marlene continuou. – E você me protegeu mesmo assim. – A garota agora revelava rindo. – O que me perdoe, mas é algo que eu não faria...


- É só que me pareceu certo na hora. Você parecia nervosa.


- É. Sempre o que te parece certo... – Marlene suspirou. – Mas e agora? E o Remus?


- Agora irei tentar parar de pensar nele.


- Se é o que prefere...


- Não é o que prefiro. É o que é correto. – Ao ver que Marlene negava com a cabeça, Dorcas interrompeu. – Lene! Ahh, desculpa. Marlene. É o certo si...


- Dorcas. – A garota a cortou, e então abriu um sorriso sincero, o primeiro e um dos poucos que Dorcas viu vindo de Marlene. – Eu acho que você agora pode me chamar de Lene.
 
¹ Frase a la Katie Fitch.
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[n/a] Sinto muitíssimo pela demora. Sério, não fazia ideia de como meu ano seria corrido, e confesso que nesse tempo quando escrevi, fiquei focada no fim da fic! Sim, os três últimos capítulos dela estão prontos. :D
Agora falando de capítulo, quem assiste Skins pôde perceber em como eu coloquei muito da personalidade do Chris no Edgar, e da Cassie na Dorcas... Simplesmente não consigo imaginar uma história baseada em Skins, sem ter personagens baseado neles. E na verdade achei que foi uma combinação bem legal. 
Preciso agradecer pelos adoráveis comentários :) Obrigada Morais., carol_14, vanessa., MMcK.
E é isso. Obrigada e por favor deixem seus comentários falando o que acharam, e posto o próx. cap assim que der. Prometo. Beijos:* COMENTEM

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