ELIZABETH



A mulher tinha uma força que beirava o sobrenatural. Por um segundo Draco teve medo de que ela fosse capaz de arrancar as grades com as próprias mãos. Depois de alguns segundos ela se acalmou e sentou-se no pequeno catre. Deu uma leve gargalhada, mostrando-se derrotada.
— Se as circunstâncias fossem outras – Draco disse colocando um dos joelhos no chão nivelando seu rosto ao dela, mas mantendo uma distância considerável do perigo. – eu adoraria que você me mostrasse toda essa sua força. Gosto de mulheres assim. Mas o tempo que temos é curto demais para isso. Se eu te contar porque fiz aquilo, você me conta qual era o seu propósito e o que eles te prometeram? – Ela o olhou, mas não respondeu nada. Ele suspirou longamente – Virgínia Weasley está perto daqui. Eu a estuporei porque não sabia como iria encontrá-la e se iria encontrá-la. Precisamos da sua colaboração mais do que qualquer outra coisa nesse momento.
— Foi você... – Ela não conseguiu terminar a frase, seus olhos ficaram molhados.
— Sim, fui eu. – Ele disse com simplicidade, adivinhando o que ela ia dizer. – Cravei o punhal na garganta do faraó antes que o feitiço de ressurreição terminasse.

Elizabeth soltou um gemido de dor, enquanto a cena voltava repentinamente em sua memória. A Escolhida desmaiada, os homens do Ministério chegando e Draco acabando com sua única chance de estar nos braços do seu grande amor mais uma vez.
— Por que? – Ela perguntou num fio de voz. – Por que fez aquilo?
— Hum... – Ele a olhou atentamente – Instinto assassino, talvez. Todos nós temos um adormecido.
— Você mente muito. – Ela disse. – E mente mal.
— Preciso que você me conte a sua versão dos fatos para eu lhe contar a minha. Será que não percebe? Nós dois fomos enganados!
— Sim. – Ela disse rindo novamente – Fomos enganados. Todos nós fomos enganados.
— Preciso de ajuda – Ele disse num fio de voz – Por favor. Preciso que a Gina acredite em mim novamente. Será que não entende que o mundo bruxo inteiro está em perigo? O caos está lá fora!

Elizabeth o encarou por vários minutos, enquanto pensava se valia a pena ou não ajudá-lo. Enquanto isso, Virgínia Weasley, oculta pela mais completa escuridão, torcia para finalmente ouvir a verdade.

— Sou um espírito que não conseguiu encontrar a paz devido as maldades que fez nas vidas passadas. Este corpo não é meu. - Ela disse dando um longo suspiro. – A minha história é muito longa.
— Mas eu preciso ouvi-la. – Draco insistiu mais uma vez. – As únicas coisas que eu sei são que você foi amante do Seth e uma Comensal da Morte.
— Então você já sabe de tudo. – Ela disse com um sorriso triste – Sabe tudo que me condenou a isso. – Ela suspirou novamente. – Vivi há milhares de anos, quando a Terra ainda era comandada pelos deuses. Conheci um por quem me apaixonei perdidamente: Seth. Entretanto, ele já era casado com sua irmã, Néftis, que nutria uma ardente paixão por seu outro irmão, Osíris. Eu era apenas uma pobre garota egípcia e Seth era um poderoso deus-faraó. Ele gostava muito de caçadas e passei a freqüentá-las também. Mostrei a ele que eu era a mulher certa para estar ao seu lado e ele me tomou sua amante. Entretanto, eu não estava satisfeita. Queria ser a única mulher em sua vida. A inveja e o ciúme de Néftis me corroíam por dentro, até o dia que minhas preces foram ouvidas: Ela engravidou e teve um filho do seu irmão Osíris. Essa era a minha chance de me tornar a única mulher na vida do meu grande amor. Passei a envenená-lo contra sua esposa e irmão, dizendo que aquele filho mancharia sua honra para sempre. Uma noite, Seth saiu para uma caçada e voltou dizendo que tinha matado seu irmão e expulsado sua esposa para sempre. Temendo as conseqüências do seu ato, me fez prometer que, caso fosse para o inferno, eu iria buscá-lo. Caso contrário, estaria fadada à desgraça eterna. Para que eu conseguisse cumprir meu destino, escreveu vários livros, entre eles o Livro dos Mortos. No dia do seu julgamento pós-morte foi condenado ao inferno e passou a me visitar todas as noites em meus sonhos para que eu não esquecesse minha promessa. E disse que sua família me ajudaria a trazê-lo de volta.
— Mas você não o buscou. – Draco a interrompeu.
— Não. – Ela respondeu. – Eu ainda não estava pronta. Depois que morri meu espírito vagou durante séculos. Em 1.800 mais ou menos fui invocada pela primeira vez. Eram os Necromantes, um grupo totalmente voltado à prática de Magia Negra. Eles adoravam Seth e queriam a minha ajuda para criar algumas maldições.
— Que tipo de maldições? – Draco perguntou interessado.
— As do tipo imperdoáveis. – Elizabeth respondeu dando os ombros. Notou o olhar assombrado de Draco e riu da sua surpresa – Você acha que Deus disse “E faça-se a luz, e faça-se os bruxos, e faça-se as maldições imperdoáveis”? É claro que não! É preciso muita maldade, muito desejo de destruir. Coisas que tínhamos de sobra.
— E o que aconteceu com os Necromantes?
— Eles gostavam de matar. O gosto virou vício. O vício virou carnificina. – Ela disse dando os ombros - Existiram por mais de 100 anos, até que o uso das maldições tornou-se, como o próprio nome atual diz, imperdoável. Foram caçados pelo Ministério até serem reduzidos a pó. Voltei a ser uma alma perdida, até que um grupo de bruxos comandados por Voldemort, uma das descendências diretas de Seth realizou o feitiço da Apropriação e eu ganhei um corpo. Comecei a estudar para cumprir a promessa que tinha feito ao meu grande amor há milhares de anos. Entretanto, Voldemort me impediu que concluísse minha tarefa. Afirmou que eu estava poderosa demais e ficou com medo de que Seth voltasse a Terra com mais poderes do que ele. Por isso, matou o corpo que me abrigava.
— E você voltou a ser apenas um espírito. – Draco murmurou.
— Sim. Voltei a ser apenas um espírito buscando cumprir minha única promessa. Assim que Voldemort foi derrotado, fui invocada por Jack Myers. Ele era um especialista nas pirâmides do Egito e disse conhecer a minha história e promessa. Prometeu que iria me ajudar quando fosse a hora certa, desde que eu o guiasse até o Livro dos Mortos. Foi o que fiz.
— Mas não foi só isso que fez. – Draco disse novamente, dessa vez com uma voz de acusação.
— Não. – Ela respondeu cansada – Em uma das invocações Myers me contou que Voldemort tinha deixado uma lista com 10 nomes e que essas pessoas deveriam ser sacrificadas para que Seth retornasse a vida. Disse, ainda, que os Comensais da Morte já tinham começado os sacrifícios e que faltava apenas um, a Escolhida. Foi então que conheci seu pai e o ensinei a fazer um Neferti.
— O Neferti que ele usa para me manipular. – Draco disse com ferocidade.
— Eu não sabia para quais fins ele queria o Neferti. Foi então que Myers me deu um corpo, para que eu pudesse realizar o feitiço da Ressurreição. – Ela suspirou longamente e seus olhos ficaram molhados. – E agora tudo se perdeu.

O silêncio pairou entre os dois. Elizabeth estava com os olhos molhados e Draco ainda tentava processar todas as informações que tinha acabado de escutar. Gina nem ao menos se mexia. Estava assustada demais.
— Afinal de contas... – Draco escolheu as palavras com todo o cuidado do mundo – Você quer cumprir sua promessa para se reencontrar com Seth ou para ter direito ao descanso eterno?
— Acho que um pouco dos dois. – Ela respondeu o olhando com seriedade – Quero muito reencontrar meu grande amor. E também quero descansar. Não há paz enquanto não se cumpre uma promessa. Agora é a sua vez. Conte-me tudo o que sabe.

Draco respirou fundo e Gina prendeu a respiração. Era a hora da verdade absoluta.

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