Bonança




Se havia criança mais fofa e adorável que sua afilhada, Lily não sabia. Isabella já tinha completado mais de uma semana de vida e isso era tempo suficiente para todos apreenderem algumas de suas características. Ela dormia como uma pedra e mal mantinha os olhos abertos quando mamava durante a madrugada; não era chorona e ficava deitada, tranquila, em seu berço ou em seu carrinho, acompanhando os pais pela casa. Qualquer gracinha era capaz de arrancar um sorriso banguela e ela olhava tudo ao redor com grande curiosidade, os olhos azuis brilhantes e arregalados como os de Marlene.


Isabella era encantadora e todos estavam infinitamente apaixonados por ela.


Lily só imaginava coisas boas quando olhava para ela. Visualizava-a crescida, brincando descalça na rua, sem medo de se machucar ou sujar o vestido florido que Marlene a faria usar, sempre sorrindo como se nada pudesse atingi-la. Mas, se algo a atingisse, ela enfrentaria com o mesmo sorriso desafiador que Sirius usava às vezes. Lily não conseguia pensar em outras pessoas que merecessem mais que eles uma filha tão perfeita quanto Isabella. O sorriso que aquela menina dava seria sempre a maior recompensa deles.


Como não tinha mais o que fazer além de ir aos últimos ensaios do recital, Lily se revezava entre ficar com James e visitar a afilhada, no que ele a acompanhava, então, na realidade, eles estavam sempre juntos.


Às vésperas do recital, os dois estavam na casa de Marlene. Sirius tinha saído à procura de emprego e os Srs. McKinnon estavam no trabalho, então Marlene tinha ficado sozinha com Isabella até Lily e James chegarem. Aproveitou para deixá-la aos cuidados deles para que pudesse tomar banho.


Lily pegou a afilhada no colo e passou a embalá-la. James se postou atrás delas, observando a cena.


- Você leva jeito para isso. – disse.


Sorrindo, Lily se virou para ele.


- Acha mesmo?


- Claro que sim. Você vai ser uma ótima mãe.


- Eu espero. – ela o olhou agradecida e depois tornou a admirar a menina em seus braços. – Será que nossos filhos vão ser tão adoráveis quanto Isabella?


James se aproximou e a segurou pelos ombros.


- Vão ser mais. Mas não conte à Marlene que eu disse isso.


- Pode deixar. – Lily respondeu, rindo. – Como será que eles serão? Nossos filhos, quero dizer.


Sem titubear, James respondeu:


- Eles terão seus olhos verdes e talvez um nasça ruivo e o outro de cabelo castanho, não sei. Mas definitivamente terão seus olhos verdes, disso eu não tenho a menor dúvida. Eles são o que eu mais amo em você.


- Eu espero ter duas meninas, para cumprir o combinado e batizá-las de Elizabeth e Sarah.


- Seriam homenagens muito bonitas a duas mulheres que obviamente merecem, mas não vou me importar se nós tivermos um menino. Sendo fruto de nós dois, o sexo é o que menos importa.


Lily sorriu e deu um beijo nele.


- Não sei o que eu fiz para merecer você, mas, independente do que tenha sido, foi uma tacada de mestre.


James a abraçou, tomando cuidado para não apertar Isabella entre eles, e olhou para ela, sorrindo.


- Eu te amo.


- Eu também te amo.


- E eu amo você dois. – Marlene interrompeu, entrando no quarto. – Parem de babar na minha filha. – segurava um envelope e o entregou a Lily depois que ela colocou Isabella no berço. – Chegou agora. Tem o nome da sua companhia de ballet.


- Ah, são os programas do recital. – Lily disse, retirando-os do envelope. – Eu mandei enviarem para você e Sirius. Vocês vão, certo?


- Claro que sim. Nós vamos deixar Isabella com os meus pais, porque não perderíamos por nada.


Lily sorriu, agradecida.


- Obrigada, Lene. Significa muito para mim.


- Nós sabemos. Dessa vez, você terá todos que te amam aplaudindo de pé no final da apresentação.


- Acho que vou gostar da sensação. – Lily respondeu, rindo.


Realmente, imaginar que, pela primeira vez, ela não dançaria apenas para a Sra. Phillip lhe dava frio na barriga. E o medo de errar era ainda maior.


- Lily, - James interrompeu seu fluxo de pensamentos. Ele olhava os programas na mão dela. – por que o nome da apresentação é ‘Recital de Primavera’ se nós estamos quase no outono?


- É uma boa pergunta. Eu nunca parei para pensar nisso. Bom, eu vejo duas razões plausíveis. A primeira é que a minha professora sempre quis fazer um recital da primavera, mas, quando a oportunidade surgiu, provavelmente não havia vagas para as apresentações na primavera propriamente dita. E a segunda é que ela é louca, o que é uma razão melhor do que a primeira.


- Eu não duvido que ela seja louca. O que você mais tem ao seu redor é gente maluca, Lily. – disse Marlene. James ergueu as sobrancelhas para ela. – Sim, estou nos incluindo nisso. Mas nós somos malucos de um jeito bom, se é que isso faz sentido. De qualquer forma, a sua professora é maluca, Lily, o que foi mesmo que ela te disse quando te escolheu para o papel principal?


- “Não sei porque estou fazendo isso, já que não gosto de você, então não faça eu me arrepender.” Ou qualquer coisa assim.


- E o que você vai fazer? – perguntou James.


- Não vou dar motivo nenhum para que ela se arrependa. Serei perfeita.


E ela seria. No dia do recital, Lily repetiu diversas vezes para si mesma que aquela era a sua noite e que seria um verdadeiro sucesso. Sabia que era capaz, tinha dado duro para estar ali, e aquele era o momento de provar.


Mesmo assim, ela tremia de ansiedade e medo enquanto esperava a vez da sua turma se apresentar. As meninas estavam todas reunidas numa saleta próxima ao palco, já devidamente vestidas, penteadas e maquiadas. Lily estava linda, impecavelmente arrumada e com a coreografia gravada em cada pedaço da mente. Nada a temer.


Só que não conseguia evitar. Aproximou-se do grande espelho e fitou sua imagem, procurando por algum defeito. Mas não achou. Sua roupa era a mais bonita, já que ela representava o sol: o collant e o tutu eram vermelhos, com incríveis detalhes em laranja e amarelo, pedraria e fitas. O enfeite de cabeça era uma tiara da mesma cor da roupa, com pontas que representavam os raios do sol. E a maquiagem era linda: sombras amarela e laranja e contorno preto, que realçavam os olhos verdes dela de forma escandalosa, e batom vermelho. Nos pés, sapatilhas douradas.


Não esqueçamos o cabelo ruivo, que, provavelmente, a faria parecer ainda mais brilhante naquele visual.


- Garotas, vocês entram em cinco minutos! – avisou um dos organizadores.


Lily mirou sua imagem no espelho pela última vez e, junto com suas colegas, seguiu para o palco. Enquanto as meninas entravam em formação, ela abriu um dedinho da cortina e espiou a plateia. Seu coração deu uma cambalhota de felicidade e ela teve que conter a vontade súbita de chorar: ali, logo na primeira fileira, junto de todos os seus outros convidados, estava seu pai. Pela primeira vez em catorze anos, John Evans estava lá para prestigiar sua filha.


Eu sabia! Eu, a narradora onisciente que vos fala, sabia! Lembram? Capítulo oito, está lá, podem conferir.


Mas Lily não sabia e, até aquele momento, ela só contava com a esperança de que, um dia, o pai a veria dançar. E se orgulharia dela.


- Evans! – chamou a professora.


Lily foi até ela, esperando ouvir algum sermão de última hora. Mas não foi o que aconteceu. Nos dois minutos que a separavam do início da apresentação, ela ouviu as únicas palavras que não esperava ouvir de sua professora.


- Boa sorte.


Tentando não parecer surpresa, Lily sorriu.


- Obrigada, Prof. Rose. Não vou decepcioná-la.


- Eu sei que não ou então não te escolheria para o papel principal. Agora vá, está na hora.


Sentindo-se melhor pelo voto de confiança que sua professora lhe dera, Lily se posicionou no centro do círculo formado por suas colegas, de onde ela ascenderia como o sol nascendo e esperou.


No minuto seguinte, o som de passarinhos tomou o ambiente e a música clássica começou a tocar. As cortinas se abriram.


- É hora do show. – Lily murmurou.


Ela sempre quis dizer isso. Aliás, quem nunca quis dizer isso?


Lily não teve mais consciência do que acontecia. Sabe quando você não se lembra das coisas tendo participado delas, mas, sim, como um espectador? Uma terceira pessoa observando tudo? Então, foi assim que Lily se sentiu quando acabou de dançar.


A adrenalina pulsava em suas veias, a cabeça girava, o coração vibrava, os músculos queimavam, os ouvidos se enchiam com os aplausos estrondosos e o corpo era preenchido com uma sensação completamente nova: orgulho.


Lily tinha aprendido muitas coisas durante aquele ano. Tinha aprendido a usar sua voz, a brigar pelo o que queria, a amar e ser amada, a ser amiga, a ter personalidade, a perceber seu próprio valor... mas a sentir orgulho de si mesma? Ah não, o orgulho ainda era novo.


E era muito bom de sentir.


Quase se sentindo poderosa, vendo todas aquelas pessoas de pé aplaudindo a sua apresentação, ela se juntou às colegas para agradecer à plateia. Elas tinham feito um bom trabalho, mas aquela noite era de Lily e apenas de Lily.


Um lírio caiu diante de seus pés e ela se abaixou para pegá-lo, sabendo exatamente de quem era. Olhou para a primeira fileira e viu James. Ele sorria e batia palmas entusiasmadas.


- Eu te amo! – Lily falou, sem emitir som algum, e segurou a flor contra o peito.


Ela tinha razão: gostava e muito da sensação de ter todos que a amavam ovacionando-a. E só de saber que uma daquelas pessoas era seu pai, o coração inchava de alegria.


Quando finalmente se retirou do palco, Lily se apoiou numa parede e fechou os olhos. Estava tonta, com o corpo todo vibrando, mas estava feliz. Tentou visualizar a apresentação, mas não conseguiu.


Uma vez que a música começou a tocar, ela parou de pensar. Os movimentos estiveram tão gravados na sua mente que eram exercidos automaticamente. A dança era quase uma extensão dela. Uma exímia bailarina era o que ela era.


Do círculo formado por algumas de suas companheiras, Lily se ergueu, como o sol nascendo. Depois houve uma sequência de piruetas, saltos e milhares de passos diferentes. As outras meninas giravam ao seu redor e faziam seus próprios movimentos, tão bem feitos quanto os de Lily, mas sem a mesma delicadeza e carisma. E quando a apresentação terminou, com ela voltando para sua posição inicial, dentro do círculo, e a plateia começou a aplaudir, Lily soube que tinha feito tudo certo.


Soube que era realmente boa, que era capaz e que tinha acabado de provar isso para aquelas pessoas que sempre duvidaram dela. Ela tinha conseguido.


Conseguido tudo o que sempre quis e aquela noite era a sua consagração. Tinha um namorado perfeito e amigos maravilhosos, havia feito as pazes com o pai, sua família estava feliz e reunida novamente, e agora estava livre de todos os medos que a prendiam. Agora ela podia ser quem quisesse. Se quisesse ser bailarina, bailarina seria. E se não quisesse, não seria.


Sim, o recital seria, para Lily, muito mais do que apenas uma apresentação de ballet. Seria o fechamento daquele ciclo, de todas as mudanças que ela vivera. Aquela noite foi o momento em que ela se deu conta de que, depois de anos de sofrimento, sua vida estava perfeita. Não precisava de mais nada.


E Lily Evans era feliz. Verdadeiramente feliz.


Quando finalmente sentiu os batimentos cardíacos desacelerarem, ela desencostou da parede e foi se trocar. Dentro do camarim, onde a maior parte das meninas já estava sem a roupa da apresentação, Lily tirou a sua e a colocou com cuidado no cabide. Antes de sair da sala, ela fez quase um carinho de despedida na roupa; não a levaria para casa. Sabia que aquela havia sido a última vez em que usara um collant e um tutu.


 Ao sair do camarim, Lily viu os seus convidados lhe esperando. Sorriu para eles, que se adiantaram para abraçá-la. James, óbvio, era o primeiro da fila. Em suas mãos, um grande buquê de lírios.


- Acho que esse lírio que você me jogou não vai se sentir solitário. – Lily disse, mostrando a flor em sua mão. Apoiou-se nas pontas dos pés para dar um beijo em James. – Oi!


- Você estava sensacional.


Ela sorriu, lisonjeada.


- Obrigada! – deu uma olhada nos amigos quando James se afastou. – Marlene, você está chorando?


A amiga se adiantou e a apertou num abraço.


- Só um pouquinho. Acho que ainda são os hormônios, sei lá. E você estava tão linda! Aliás, ballet é lindo. Vou matricular Isabella numa aula assim que ela tiver idade suficiente.


- Ok, mas antes tenha certeza de que ela goste, senão vai ser um martírio. – certo, então Lily não evitou dar uma alfinetadinha no pai, que sempre a obrigou a dançar. E daí? – Mas obrigada pelos elogios, Lene. Fico feliz que você tenha vindo.


Marlene sorriu.


- Eu disse que não perderia por nada.


Em seguida, Sirius se aproximou para cumprimentá-la.


- Ok, fale a verdade, Lily.


- Sobre o quê?


- Existe alguma coisa que você não saiba fazer? Você pinta ridiculamente bem, toca piano e violino, sabe falar 3 ou 4 línguas além do inglês e ainda dança daquele jeito bizonhamente bonito. Sério, o que você não sabe fazer?


Lily riu.


- Colocando dessa forma, parece até que eu sou incrível.


- E você é. – interrompeu James, como quem não quer nada, arrancando uma risada dela.


- Obrigada, James. Eu não sei fazer um monte de coisas, Sirius. – ele a olhou, duvidando. Lily soltou um suspiro. – Não sei andar de bicicleta, pronto.


Sirius sorriu aquele sorriso dele que fazia as pernas de toda a população feminina do planeta bambearem.


- Não é total surpresa, dadas as circunstâncias. – ok, ele também aproveitou para implicar levemente com o Sr. Evans. E daí? – Marlene, me lembre de colocar na minha lista de coisas para fazer “ensinar a Lily a andar de bicicleta”.


- Você acabou de ter uma filha. – disse Marlene, numa tentativa obviamente frustrada de repreensão.


- Certo, então me lembre de escrever “ensinar a Lily e a Isabella a andar de bicicleta”. – os outros começaram a rir e ele finalmente a abraçou. – Ah, esse foi o meu jeito de dizer que você foi ótima.


- Eu sei, obrigada. – Lily falou, correspondendo ao abraço.


A Sra. Phillip a abraçou, emocionada como sempre estivera em todos os anos.


- Você se supera a cada apresentação, Lily. Essa foi, sem dúvida, a mais bonita de todas.


- Obrigada, Jane. Principalmente por ter vindo a todas as minhas apresentações.


- Eu não perderia nenhuma, querida.


Sr. Evans, o senhor está reparando as indiretas bastante diretas? Mais um pouquinho e elas vão te dar um tapa na cara.


Marion foi a próxima. Abraçou a enteada com carinho.


- Você é tão talentosa! Sirius está certo: não há nada que você não possa fazer. Incluindo andar de bicicleta.


- Não sei quanto a isso. Vamos ver depois dos meus joelhos ralados. Mas obrigada, Marion.


Elas sorriram uma para a outra e então não havia mais ninguém entre ela e o pai. Estendeu o buquê para a Sra. Phillip segurar e o encarou por um segundo antes de romper a curta distância que os separava.


Quase correndo, Lily se jogou nos braços do pai e o apertou num abraço esmagador, como se quisesse se certificar de que a presença dele ali era real. Sem conseguir se segurar, ela chorou como a menininha a quem ele um dia deu as costas.


Só que, dessa vez, o choro era de felicidade.


O Sr. Evans ergueu uma das mãos e afagou o topo da cabeça dela.


- Me desculpe, filha.


Sem conseguir falar, Lily apenas assentiu. Ele continuou a falar, emocionado também.


- Catorze anos. Eu perdi catorze anos da vida da sua vida. Eu não te vi crescer e se tornar essa pessoa tão maravilhosa que você é. Perdi momentos tão singelos de um relacionamento entre pai e filha, como amarrar seus tênis ou, claro, te ensinar a andar de bicicleta. E perdi também momentos tão grandes. Como eu pude ficar tanto tempo sem enxergar o quanto você é especial? Foi uma sensação indescritível te aplaudir hoje. Me perdoa por não ter feito isso antes. Eu perdi catorze anos da sua vida, mas, se você permitir, eu não pretendo perder mais nenhum daqui para frente.


Soluçando alto, completamente esquecida de que estava em público, Lily se separou do abraço. Abaixou-se, puxando o pai junto, e desamarrou os cadarços dos tênis que estava usando. O Sr. Evans sorriu e enxugou uma lágrima fujona. Delicadamente, como se Lily tivesse quatro anos novamente, ele pegou os cadarços para amarrá-los.


- Segura as duas pontas. Passa uma por dentro da outra. Faz duas orelhinhas de coelho. Passa uma por dentro da outra, de novo. E pronto.


Lily sorriu para ele.


- Você não vai perder mais nenhum momento da minha vida, pai. Eu te amo.


O Sr. Evans a ajudou a se levantar.


- Eu também te amo, Lily. E estou muito orgulhoso de você.


Sem se virar para os outros parados atrás dela, Lily, sorrindo para o pai, disse:


- Ei, Sirius. Papai é quem vai me ensinar a andar de bicicleta.


Como não ouviu a resposta dele, ela se virou. Começou a rir quando viu que ele tentava enxugar as lágrimas. Marlene, que chorava menos que ele, dava palmadinhas consoladoras no ombro do namorado.


- São os hormônios, querido. – ela disse. Ultimamente, tudo era culpa dos hormônios.


Lily riu, percebendo que estavam todos chorando. A Sra. Phillip e Marion não paravam de assoar os narizes em seus lenços, e James estava com o seu vermelho.


- Ora, parem de chorar. – ela se aproximou de Sirius e enxugou as lágrimas dele. Completou, murmurando para que só ele ouvisse. – Você já é um pai exemplar. Isabella sempre vai ter orgulho de você.


- Eu sei. É só que eu não me imagino fora da vida dela. Ou pior, excluindo-a da minha.


- Não vai acontecer. E, se bobear, você é quem vai dar aulas de paternidade ao meu pai. Ele é novo nisso.


Sirius sorriu e deu um beijo na testa dela.


- Você merece tudo isso, Lily. Nossa princesa finalmente saiu da torre.


- Obrigada, Sirius.


Ele a soltou e se virou para os outros.


- Eu estou com fome. O que acham de pararmos em algum lugar para jantar? Todos nós?


- Ótima ideia. – concordou o Sr. Evans. – Por minha conta.


- Então, para o restaurante mais caro da cidade!


- Eu tenho uma ideia melhor. – disse Lily.


- La Cucina di Mamma? – perguntou James, sorrindo para ela.


Lily sorriu.


- Exato.


Eles não tinham voltado lá desde o aniversário dela e só a ideia de comer aquela macarronada com almôndegas fez o estômago dela revirar de fome.


Mas, antes que pudessem sair, foram abordados pela professora de Lily, que estava acompanhada de duas moças.


- Srta. Evans. – a Prof. Rose disse, acrescentando o “senhorita” para parecer mais educada do que era com Lily.


- Sim, professora.


- Estas são Judy Carter e Mary Adams, elas são olheiras. – mudou a entonação para completar - The Royal Ballet.


Lily arregalou os olhos, assim como todos os demais. Ela se adiantou para cumprimentá-las.


- Muito prazer em conhecê-las. Em que posso ajudá-las?


A moça morena, Judy, sorriu para ela.


- Todo anos nós assistimos a diversas apresentações à procura de novos bailarinos. E nós ficamos muito impressionadas com a sua performance hoje à noite.


- Por isso, viemos lhe oferecer uma vaga em nossa companhia de ballet. – acrescentou Mary. – Aceita trabalhar conosco?


Lily, surpresa com a oferta, ficou sem fala por um minuto. A oportunidade era incrível. Absolutamente incrível. The Royal Ballet era a maior companhia de ballet da Grã Bretanha. E dançar para eles seria uma honra imensa. Suas colegas de classe matariam por aquela chance.


Mas, ela pensou, viver do ballet? Sim, era muito bonito e ela tinha talento, mas quantas vezes nós já a ouvimos dizer que não gosta de ballet? Que só ia às aulas porque era obrigada? Como Lily poderia viver daquilo que não gostava de fazer? Sem poder enfiar a cara num pote de sorvete ou num cachorro quente porque a alimentação deve ser perfeitamente regrada? E os pés deformados? Os ensaios exaustivos?


Não, ballet não era para ela.


- Muito obrigada pela oferta, eu realmente agradeço. Seria uma honra integrar o corpo de baile da sua companhia. Mas eu não posso aceitar.


- Eva... Srta. Evans! – gaguejou a professora, a um passo de ser grossa com a menina. – Como você não pode aceitar?


- Simples, professora. Eu não gosto de ballet.


A Prof. Rose ficou vermelha diante da resposta.


- Isso é um desrespeito! Seu pai pagou anos para que você tivesse aulas de ballet e agora você joga tudo isso no lixo?


Lily abriu a boca para responder, mas o Sr. Evans foi mais rápido.


- Minha filha participou de suas aulas porque eu a obriguei. Mas, hoje, a decisão é dela. Se ela não quiser, não vai mais dançar.


- E eu não quero. – ela completou. Virou-se para as duas olheiras. – Agradeço mesmo pela oferta, mas o ballet não é o meu futuro.


- Tudo bem. – disse Mary. – Vamos continuar procurando. Obrigada pela sinceridade, Srta. Evans.


- Você tem muito talento. Será bem sucedida em qualquer coisa que fizer, mesmo que não seja bailarina. – Judy disse. – Bem, temos que ir. Foi um prazer conhecê-la, Srta. Evans.


- Obrigada. – Lily agradeceu.


Com um aceno para os demais, as duas moças se despediram e foram embora. Antes de ir atrás delas, a Prof. Rose apontou o dedo na cara de Lily e disse:


- Eu sabia que não devia ter te colocado como principal! Você é uma decepção, Evans!


- Obrigada, professora. Também foi um prazer trabalhar com a senhora todos esses anos.


Indignada, a professora lhe deu as costas e seguiu pelo mesmo caminho que as outras.


Lily se virou, rindo. Nada poderia estragar aquela noite.


- Maluca. – olhou para eles, parados atrás dela. – Então, vamos?


Eles sorriram para ela. Juntos, deixaram o teatro e seguiram para o restaurante.


- Foi a última vez? De verdade? – James perguntou, já dentro do carro.


- De verdade.


- Você planejou ou simplesmente decidiu na hora?


- Nem um, nem outro. Quando a apresentação terminou, eu senti que tinha acabado. Senti que era a última vez.


James sorriu e fez um carinho na bochecha dela.


- Eu estou orgulhoso de você. E você tem que estar orgulhosa de si mesma.


- Eu estou. É uma sensação muito boa.


- Quem te viu e quem te vê, Lily Evans.


Ela riu.


- A culpa é sua.


- Eu sei.


Ah, a felicidade. Não é um sentimento legal?


Meia hora mais tarde, os três carros estacionaram no mesmo beco que James tinha parado no dia do aniversário de Lily. Em questão de poucos minutos, a Sra. Berillo surgiu na porta dos fundos, sorrindo calorosamente, como a grande mamma italiana que era.


Escolheram uma mesa bem no centro do restaurante, que logo estava repleta de comida. A famosa macarronada veio num prato gigantesco e todos se puseram a comer, beber e festejar. Pareciam uma grande família feliz. Falavam alto, riam, brindavam.


Marion e o Sr. Evans brindavam com suas taças de vinho e trocavam beijinhos; Sirius e James riam de alguma besteira que Marlene havia falado. A Sra. Phillip olhava carinhosamente para Lily, que sorriu e murmurou “eu te amo” para a governanta que sempre havia sido muito mais do que isso.


Sim, aquela era a sua família.


- Achei lindo o pas de deux! – Marlene ia dizendo.


Lily começou a rir e esgasgou com a água que tomava.


- Não teve pas de deux na apresentação, Lene. – ela disse, com a voz entrecortada, enquanto buscava por ar. James, ao seu lado, deu palmadinhas em suas costas. – Obrigada.


- Como não? – Marlene perguntou, surpresa. – Esse não é o passo mais comum do ballet?


- Um dos. Mas “pas de deux” significa “passo de dois”. Eu teria que dançar acompanhada de um bailarino.


James amarrou a cara e Sirius começou a rir.


- Isso, James, fique com ciúmes de um cara imaginário que usa malha. 


- Seria um problema caso Lily tivesse que dançar com um bailarino. – James disse. – Eu teria que me matricular no ballet só para ficar de olho nela.


- Estou imaginando você de malha, James. – disse Marlene, gargalhando. – Visão espetacular!


Lily e Sirius a acompanharam, fazendo James fechar ainda mais a cara.


- Não sei do que vocês estão rindo. Eu ficaria lindo de malha.


- Com toda a certeza, amor. – disse Lily. Aproximou-se do ouvido dele e murmurou, maliciosa – Podemos experimentar depois.


James se empertigou.


- Então, aonde eu posso encontrar uma malha de ballet?


Sirius e Marlene gargalhavam tanto que choravam. Ela se levantou e puxou Lily pela mão.


- Vamos ao banheiro. Minha maquiagem deve estar toda borrada.


- E a minha? – Lily perguntou.


- Está borrada desde que saímos do teatro, já que você chorou à beça lá.


- Por que você não me avisou?!


Marlene deu um apertão na bochecha dela.


- É que você fica linda parecendo um pandinha.


Lily riu e seguiu com ela até o banheiro. As duas consertaram a maquiagem e fitaram suas imagens no espelho.


- Você imaginava que hoje estaríamos aqui? Sabe, com as nossas vidas completamente diferentes? – Marlene perguntou.


Lily sorriu.


- Não, de jeito nenhum. Há um ano, nós nem nos conhecíamos. Como podem as coisas mudarem tão rapidamente?


- Basta querer. E você quis. Você quis desafiar seu pai e ir até aquela sorveteria com James. Você quis sair conosco para o parque de diversões. Você quis, Lily. E olha aonde a sua vontade nos trouxe. – ela abraçou Lily pelos ombros. – Olhe para o espelho e me diga se essa mulher que você vê é a mesma menina infeliz que eu conheci onze meses atrás.


Lily fez o que Marlene mandou. Esquadrinhou sua imagem e sorriu. As feições eram exatamente as mesmas. Mas os olhos eram diferentes. Brilhantes, chamativos, alegres. Os lábios eram os mesmos, mas o sorriso era outro. Divertido, orgulhoso, feliz.


Não, ela não era, nem de longe, a mesma menina de onze meses antes.


- Eu sou muito mais bonita agora. – ela brincou, segurando as lágrimas.


Marlene riu.


- Minha garota!


Quando as duas voltaram para a mesa, viram que James e o Sr. Evans não estavam lá. Marion apontou para o lado de fora e Lily viu os dois conversando. E sorrindo. E apertando as mãos.


- Jane, o que eles estão fazendo lá fora? – ela perguntou.


A Sra. Phillip olhou para onde ela apontava e deu de ombros.


- Seu pai foi fazer uma ligação e James foi atrás. Não sei o que eles estão conversando.


Lily franziu as sobrancelhas, curiosa, mas não perguntou nada quando eles voltaram. Todos recomeçaram a conversar, pediram mais vinho e sobremesa. E, animados, foram madrugada adentro. Com o restaurante já vazio, a Sra. Berillo e Luigi, que havia chegado de uma festa, se juntaram a eles.


Que noite maravilhosa, Lily pensou, admirando os rostos à sua volta. Depois de tanto choro, era bom ver todos aqueles sorrisos. Diz o ditado que, depois de toda tempestade, vem a bonança. A deles tinha chegado.


Finalmente.

_________________________________________________________________________

N/A: MAS ISSO DEVE SER ALGUM TIPO DE MILAGRE! Se eu não me engano, postei o capítulo catorze dia 28 ou 29 de março. Agora é madrugada do dia 27 de abril e EU ESTOU POSTANDO O QUINZE! MENOS DE UM MÊS ENTRE UM CAPÍTULO E OUTRO, MINHA GENTE! Isso só pode ser milagre!

Bom, vamos lá. Capítulo quinze. Amei, amei, amei tanto escrevê-lo! A cena que eu mais gosto é a do Sr. Evans amarrando os cadarços da Lily. Chorei escrevendo, hahahahaha. Se vocês tiverem prestado atenção, esse capítulo já tem tom de despedida. A Lily se dá conta de que, enfim, sua vida está perfeita. O ballet fica para trás, junto com todas as mágoas, as brigas, o acidente. A vida está encaminhada e Lily, vejam só, é feliz. Mais do que estar feliz, ela agora é. E é por isso que eu amo esse capítulo! Que é o antepenúltimo. Ainda temos o último e o epílogo. Óbvio, comecei com prólogo, tenho que terminar com epílogo. Um ciclo completo, que finalmente começar a se fechar. 

Eu ainda não acredito que está acabando. Eu estou numa espécie de nostalgia adiantada. Nem acabou e a saudade já está batendo. 

Essa N/A já está grande demais, então vou encerrar por aqui. Espero que gostem, comentem muito e curtam a reta final de Colorful (buá).

Amo vocês!

Beijos nos S2,
Liv 

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Comentários (7)

  • Lana Silva

    Serio, vou comprar minha maquiagem a prova d'agua porque eu passei o dia chorando lendo essa fanfic kkkkkkkkkkk ameiii o capitulo flr *-* amei ver a Lily se libertando - não que ela não tenha feito isso antes, mas é como se agora ela tivesse desperando de vez, tivesse tirado tudo que restou da Lily infeliz de antes. Menina você escreve muito *--------------* parabens flr *-*beijoos! 

    2012-07-25
  • Sah Espósito

    OuuwwwVamos falar vai...A nova LILY é PERFEITAAAJames jogando lirios... ouuuwwwO pai da Lily indo ver ela dançar e amarrando o sapato.... (choreeeiiiiiii)O Sirius chorando e sendo um paizão...... e Marlene uma mae boba... perfectaaaaContinua vai!Sou viciada aqui!

    2012-05-02
  • Lily Proongs

    EEEEEEEEEEEEEEU AMEIII DEMAIS ESSA FIC!SÉRIO MESMO, PERDI AS CONTAS DE QUANTAS VEZES EU CHOREIII, MEEEU DEUS..LI TUDO EM UMA NOITE SÓ.. FIQUEI VICIADA EM COLORFUL.ESPERANDO ANSIOSAMENTE O PRÓXIMO CAPÍTULO! BEEIJOOOS 

    2012-04-29
  • Mari Barbosa

    CAPÍTULO LINDO LIV! amei, chorei na cena do tênis também! e o james jogando um lírio (estou carente de homens então releve hahsudhsuahd) . Já disse que vc escreve muito bem ne? Meio que Lily, muito talentosa! Qualquer coisa que fizer, fará maravilhosamente bem: escrever, apresentar, narrar futebol ahdhuhudhf. É, pq as suas narrações não tem igual! Voltando ao capítulo.. eu acho que James tava pedindo a mão da Lily em casamento pro pai dela HAHUDFHUSHUSHSUSHUD. imaginação fértil da pessoa aqui né. Ótimo capítulo, beijos!

    2012-04-29
  • bela moony.

    Reta finaaal :'( não sei se choro de felicidade ou de tristeza. 

    2012-04-28
  • Chrys

    LIN-DOTo ansiosissima pelo proximo!!! Naum demora pleaseeeee!!!!!Leitora desesperada akiiii!!! 

    2012-04-27
  • Natti Black

    Meeeeu, esta muuuuuuuito fofo este capitulo, é tudo tão perfeito que parece até surreal. está tão proximo o fim que eu to até com medo :S Espero o proximo capitulo :) 

    2012-04-27
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