Coração aberto

Coração aberto




 


O inverno dava seu último adeus e permitia a chegada da primavera, que dava oi espalhando flores que se esparramavam abertas sob o sol, enfeitando todos os cantos da cidade. Já era abril. Mas para Lily, James e, principalmente, Marlene, o frio ainda não tinha ido embora; sem Sirius, não havia quem esquentasse o mundo deles.


Não havia um dia em que os três não o visitassem no hospital. Levavam presentes, conversavam com ele, contavam as novidades... não o deixavam sozinho e tinham esperança de que ele acordasse logo. Mas já fazia dois meses desde o acidente e Sirius não apresentara nenhuma melhora.


Marlene já havia parado de chorar; era como se não tivesse mais forças para isso e agora só se sentava ao lado de Sirius e conversava com ele, principalmente sobre a gravidez já de quatro meses. Ela estava profundamente triste, mas não estava abatida. Pelo contrário: embora o coma em que Sirius se encontrava a deixasse abalada, o bebê lhe dava mais vida a cada dia que passava. Não estava risonha como sempre fora, mas pelo menos não andava cabisbaixa.


- Não posso me dar ao luxo de me arrastar pelos cantos feito um zumbi, Lily. – ela respondeu quando Lily comentou sobre isso. – Eu não vivo mais para mim, agora eu sou responsável por outra pessoa. Por mais que eu tenha vontade de deitar ao lado do Sirius até que ele acorde, minha vida não pode parar.


- Você está certíssima. – Lily concordou, olhando carinhosamente para o estômago já saliente da amiga. – Sua barriguinha está tão linda, Marlene. Olha como já está arredondando.


Marlene sorriu e levantou a blusa para exibir a barriga. Lily colocou a mão mesmo sabendo que o bebê ainda era muito pequenino para chutar. As duas estavam deitadas na cama, no quarto de Marlene, que era todo pintado em tons de azul.


- Quando você vai descobrir o sexo?


- Amanhã. Você quer ir comigo?


- Adoraria. – Lily respondeu sorrindo. – Mas sua mãe não vai querer te acompanhar?


- Ela ainda está meio relutante. Eu sei que ela já aceitou, mas quer fingir que ainda está furiosa pelo meu descuido e que não tem nada com isso. – ela suspirou pesadamente. - Bom, se mamãe mudar de idéia, poderá nos acompanhar amanhã.


- Então estamos combinadas. Passo aqui amanhã. – Lily sorriu e se levantou. – Preciso ir. Meu pai anda insuportavelmente preocupado comigo desde o acidente. Daqui a pouco vai instalar um GPS em mim para me rastrear 24 horas por dia.


- Era você quem queria atenção do seu pai e agora tem. Vai reclamar?


- É, cuidado com o que você deseja. – abaixou-se e deu beijos estalados na bochecha e na barriga de Marlene. – Tchau, querida. Tchau, bebê da dinda.


- Dinda? – riu Marlene. – Quem te convidou?


- E eu preciso de convite? – Lily perguntou e Marlene ergueu as sobrancelhas. – Ok, não precisa responder. Te vejo amanhã. – jogou mais um beijo e saiu do quarto antes que a amiga puxasse outro assunto e não a deixasse ir embora. Na soleira da porta de entrada, ela deu um encontrão em James.


- Ei, o que faz aqui? – Lily perguntou, dando-lhe um beijo. James riu e ergueu duas sacolas de papel.


- Marlene queria comer tortinhas de frango e eu prometi que traria. Vamos jantar juntos.


- E, pelo visto, eu não fui convidada. – ela brincou.


- Não foi mesmo. – James provocou, arrancando uma risada de Lily. – Quando éramos mais novos, sempre tirávamos um dia para jantar juntos. Era uma coisa só nossa e acabamos perdendo o hábito depois que Sirius apareceu. Achei que relembrar os velhos tempos faria bem a ela.


- Fará. Marlene fala que está ótima, mas nós sabemos que é mentira. Ela precisa se distrair. Muito atencioso da sua parte fazer isso, ela vai gostar. – Lily deu mais um beijo nele. – Preciso ir e você também. Ou suas tortinhas vão esfriar.


- Aonde você vai?


- Para casa. Meu pai está me vigiando de perto desde o acidente.


- Imaginei que ele fosse fazer isso. – disse James, refletindo. Deu uma olhada nela, estudando-a. – E o que você estava fazendo aqui?


- Só matando tempo. Eu e Lene estávamos conversando. – Lily viu o carro virar a rua e parar na frente da casa. Henry abriu o vidro e ela acenou para ele. – Amanhã vamos descobrir o sexo do bebê. – completou sorrindo.


- E, pelo visto, eu não fui convidado.


- Não foi mesmo. – respondeu Lily, devolvendo a provocação anterior sobre o jantar. Eles riram e trocaram mais um beijo antes que ela finalmente atravessasse o jardim até o carro.


Quando Lily chegou em casa, encontrou Charles sentado no sofá que ficava encostado à janela do seu quarto. Ele estava com o álbum de fotografias que James lhe dera nas mãos e não viu quando ela entrou no quarto. Aproveitando que Charles ainda não tinha atentado para sua presença, Lily ficou parada no batente da porta admirando-o.


Ele era lindo, não podia negar. Rosto quadrado, traços fortes, cabelos castanhos e... os maravilhosos olhos azuis. Os perigosos olhos azuis. Se perguntassem à Lily o que mais a encantava e assustava em Charles, ela diria sem hesitar que eram os olhos dele. Tinha plena certeza de que eles conseguiam enxergar tudo que se passava com ela, como se pudessem penetrar em sua mente e ler seus pensamentos. Era assustador e perigoso. Aliás, Charles era perigoso dos pés à cabeça. Desde a beleza estonteante até a personalidade forte. O sorriso sedutor, a fala rouca, o toque suave e forte ao mesmo tempo... perigo. Era o que a mente de Lily Evans gritava quando Charles Phillip se aproximava dela. Perigo.


E ela tinha total consciência da atração que existia entre os dois. Mas não gostava dele mais do que gostaria de qualquer amigo. Para ela, ele era seu amigo. Só. Talvez se não fosse tão alucinadamente apaixonada por James, poderia sentir algo por Charles. Mas ele chegara tarde demais. O coração dela já tinha dono. E teria para sempre, ela sentia isso.


- Admirando minha beleza, Lily? – Charles perguntou sem olhá-la, despertando-a dos pensamentos. Ela riu.


- Estava pensando em como você é abusado por entrar no meu quarto e mexer nas minhas coisas sem pedir permissão. – respondeu, descolando-se do batente da porta. Jogou-se ao lado dele no sofá. – Por que está aqui?


- Belo álbum. Seu namorado fez um bom trabalho. – respondeu fugindo do assunto e Lily percebeu.


- Charles, corta essa. Por que está aqui?


- Sei lá. – ele começou, dando um suspiro. Olhava para um ponto fixo na parede em frente. – Acho que você passa muito tempo fora desde o acidente, cuidando da Marlene e visitando Sirius no hospital. Não que eu esteja criticando, você está certa e é isso mesmo que deve ser feito. É só que agora quase não te vejo e acho que... sinto sua falta.


- Por quê? – ela perguntou sem saber se queria realmente descobrir a resposta. Charles levantou os olhos e a fitou como se ela tivesse feito uma pergunta absurda.


- Por que eu sinto sua falta? – ela confirmou. – Você é uma das melhores pessoas que eu conheço. É divertida, inteligente e carinhosa. Cativante, bondosa e alegre. Tem um sorriso lindo e olhos expressivos e brilhantes. É forte e frágil ao mesmo tempo. – Charles olhou tão intensamente para Lily que ela se sentiu violada. E percebeu que ele estava muito próximo dela no sofá.


- Charles...


- E é linda, - ele chegou mais perto. – atraente, - mais perto. – encantadora e – mais perto. Lily podia sentir a respiração dele em seu rosto. – tudo o que qualquer cara procura numa garota.


Lily sabia que não devia ter perguntado, mas arriscou e agora estava presa naqueles malditos olhos azuis.


Perigo.


Charles segurou o rosto dela entre as mãos, mas não fez nenhum outro movimento. Só continuou a olha-lá nos olhos.


- Sinto sua falta porque gosto de você, Lily.


- Também gosto de você, Charles. – ela disse, bancando a desentendida.


- Não é desse gostar que eu estou falando e você sabe disso.


- Eu amo o James. – ela precisava fazê-lo entender que não era com ele que queria ficar. E, mais ainda, precisava fugir dali.


- Eu sei. Mas sei também que eu mexo com você de alguma forma. – Lily deu uma sacudidela com a cabeça, dizendo não. – Me deixe provar isso a você, então.


- Não faça isso. – suplicou. – Não é justo comigo ou com você. E muito menos com James. É a ele que eu amo, Charles. Entenda isso, por favor.


- Você não sente nada por mim, Lily? – ela não respondeu e ele interpretou corretamente o silêncio dela. Aproximou seu rosto do dela e tocou seus narizes. Ela fechou os olhos, antecipando o toque dele. – Me deixe te dar um beijo. Eu preciso te beijar.


Lily queria beijá-lo também. Queria muito, mas não podia fazer isso. Charles exercia algum tipo de atração louca nela. E, embora o coração só quisesse James, o resto do corpo dela queria Charles também. Mas ela não se entregaria ao desejo de beijá-lo. O desejo passaria eventualmente, mas as conseqüências do beijo, não. Não ia fazer isso. Reunindo sua coragem, ela abriu os olhos e espalmou as mãos no peito dele.


- Charles, se afaste. Eu não posso e não vou fazer isso. Sinto muito que você goste tanto de mim e que eu não possa correspondê-lo, mas não vou trair meu namorado. É errado.


- Palavra final? – ele perguntou, realmente chateado, soltando o rosto dela.


- Palavra final. – Lily ergueu a mão e fez um carinho na bochecha dele. – Desculpe.


- Tudo bem. - ele afastou o corpo e Lily relaxou, achando que estava livre. Esse segundo de distração dela foi a deixa que ele precisava.


De surpresa, Charles a beijou.


E Lily deixou que ele, por um segundo, fizesse isso. Era algo que ela queria, embora não o correspondesse. E também porque fora pega desprevenida e acabara sem reação. Mas não sentia nada com o beijo; era ótimo, mas não fazia seu coração acelerar ou as pernas ficarem bambas. Não, ela não sentia nada. Charles não era James. Quando ela se deu conta disso, segurou-o pelos ombros e o afastou. E ali, ele soube que não havia mais nada a fazer.


- Não vou pedir desculpas ou dizer que sinto muito, porque não sinto. – Charles disse quando a largou. – Era o que eu precisava fazer e não me arrependo de ter feito.


- Charles...


- Não, Lily. – Charles deu um suspiro verdadeiramente sentido. - Vou tirar meu time de campo. Não vou mais ameaçar seu namoro, não precisa se preocupar. – ele deu um beijo na testa dela, fazendo-a fechar os olhos. – Potter tem muita sorte por poder dizer que você é dele. Queria eu poder fazer o mesmo. – completou e saiu do quarto, deixando-a sozinha com o turbilhão de pensamentos que era sua mente naquele momento.


Lily não conseguia acreditar. Charles a beijara. Ele realmente lhe dera um beijo. Declarara que estava apaixonado por ela e a beijara! Ah, meu Deus. Era simplesmente inacreditável.


E ainda tinha James. James! O que ela lhe diria? Como seria capaz de olhar na cara dele? O namoro deles estava arruinado, ela tinha certeza. Qual era o problema dela? Por que havia deixado as coisas chegarem àquele ponto? Céus, ela estava tão ferrada.


E agora, como encararia Charles? Precisava evitá-lo de qualquer forma e começou a fazê-lo ainda naquela noite. Recusou-se a descer para jantar, alegando que estava com enxaqueca e queria dormir.


No dia seguinte, ela estava completamente dispersa durante a aula. Adele tentou descobrir o que havia de errado, mas Lily se fugiu das perguntas vez após outra.


- Você está com cara de culpada. – disse Adele, na fila do almoço. – O que foi que você fez?


- Não é nada, Adele. – Lily respondeu sem olhá-la. Adele apertou os olhos e a estudou.


- Ok, não vou mais te perguntar. Mas sei que você está mentindo. – sorriu e lhe piscou um olho. – Aliás, Lily, você é uma péssima mentirosa. Devia trabalhar nisso.


- Tem razão. – com um suspiro cansado, Lily respondeu e saiu da fila carregando seu almoço.


À tarde, após a aula de francês, Lily passou na casa de Marlene para as duas irem juntas ao consultório médico. A sala de espera estava cheia de futuras mamães; mulheres barrigudinhas ou barrigudonas acompanhadas dos parceiros. Testemunhar as cenas de carinho que se desenrolavam à frente delas não fez bem à Marlene, que começou a chorar baixinho na mesma hora. A saudade que ela sentia de Sirius e o medo de perdê-lo combinados aos hormônios da gravidez geralmente não resultavam em boa coisa. E ver tanta gente feliz enquanto ela estava um completo desastre também não ajudava. Lily desejou que a secretária as chamasse logo; descobrir o sexo do bebê animaria Marlene. E de quebra, ainda ajudaria Lily a esquecer por uns minutos do beijo de Charles.


- Marlene, é sua vez. – disse a secretaria sorrindo para ela. – A doutora Cabot está te esperando. – assim que ouviu o que dizia a moça, Lily se apressou a tirar Marlene daquela sala e a levou para o consultório. A médica, Faith Cabot, já era uma senhora e havia sido a pessoa a cuidar da gravidez da Sra. McKinnon, então era praticamente da família e sorriu abertamente quando viu as meninas adentrarem a sala de exame.


- Pensei que fosse demorar mais do que apenas 19 anos para te ver aqui com essa barriguinha, Marlene. – disse ela e Marlene riu.


- Todos nós concordamos que foi rápido demais, Dra. Cabot. – enquanto trocava a roupa pela camisola, Marlene apontou Lily. – Esta é Lily Evans, minha amiga. É quem vai me acompanhar hoje.


- Muito prazer, querida. Por favor, sente-se aqui nessa cadeira, e você, Marlene, deite-se aqui. – as duas fizeram o que a médica mandou e observaram-na deixar a barriga de Marlene à mostra e enchê-la de gel. Ambas perceberam também que ela tivera o bom senso de não perguntar porque não era a mãe ou o namorado a acompanhar Marlene naquele momento. – Então, vamos ver se está tudo bem com este bebezinho e descobrir se é uma menina ou um menino.


Enquanto a Dra. Cabot passeava com o aparelho pela barriga, Marlene e Lily não desgrudaram os olhos do monitor. E foi um susto emocionado que elas começaram a ouvir os batimentos fortes do bebê, que pareciam encher a saleta. Lily sentiu os olhos marejarem ao ver aquela coisinha tão pequenininha no monitor; era uma pessoa. Era impossível presenciar aquele momento sem se emocionar.


- Isso é tão bonito. – sussurrou para Marlene, apertando a mão da amiga. Ela sorriu para Lily em meio às lágrimas e concordou sem dizer nada.


- Está tudo certo com o bebê, Marlene. Muito saudável e com um coraçãozinho muito forte. – a Dra. Cabot sorriu. – Pronta para saber o sexo? – Marlene assentiu e a médica voltou a passar o aparelho na barriga dela. – Hm, vamos ver... ahá, aqui está! Marlene, você está esperando... – ela fez suspense. Marlene estava quase pulando da cama de ansiedade e Lily prendeu a respiração. – uma menininha!


- Você acertou! – gritou Lily, agarrando Marlene num abraço, sorrindo. Mas Lene estava olhando o nada, perdida em pensamentos. – O que foi?


- Uma menininha! Eu e Sirius vamos ter uma menina. – e sem aviso, começou a chorar. A Dra. Cabot a olhou assustada e rapidamente lhe entregou um lenço de papel. – Desculpe. É só que eu estou lidando com muita coisa agora. – completou por entre os soluços. Sem saber o que fazer, a Dra. Cabot apenas assentiu e deixou que ela saísse da cama para se trocar; ela percebeu que Marlene tinha um olhar triste quando lhe sorriu fracamente. Enquanto ela se trocava, Lily contou à médica em poucas palavras o que estava acontecendo. – Ok, estou pronta. – disse Marlene depois de mudar de roupa. Lily e a Dra. Cabot pararam de falar abruptamente, mas ela não reparou nada. – Desculpe pelo surto, doutora, estou bem agora. Bom, acho que devemos ir.


- Não tem problema nenhum, querida. – a médica sorriu compreensiva. – Continue a tomar as vitaminas e se surgir qualquer problema ou se você tiver alguma dúvida, não hesite em me ligar. – Marlene assentiu, apertou a mão dela e, dando-lhe um sorrisinho fraco, saiu da sala. Lily estava logo atrás, mas antes que pudesse sair, a Dra. Cabot deu um puxãozinho em seu braço. – Fique de olho nela, tudo bem? Pelo o que você me disse e pelo o que eu pude ver, ela está sob enorme pressão e isso não é bom nem para si mesma e nem para o bebê. Cuide da Marlene, ok, Lily?


- Pode deixa, doutora. Marlene está sob vigilância pesada, estamos cuidando disso. Com licença. – Lily disse e, despedindo-se, correu no encalço de Marlene que já a esperava no elevador.


Henry estava esperando as duas no saguão do prédio comercial onde ficava o consultório e as levou a um restaurante próximo ao Hyde Park para que pudessem almoçar, prometendo buscá-las mais tarde.


Fazia um dia agradável naquele início de primavera e elas escolheram sentar numa das mesas de fora do restaurante para apreciar a vista do parque. Havia jovens se divertindo ali depois de saírem da escola, fazendo piqueniques ou jogando futebol e rugby meio improvisado, mães passeando com seus carrinhos de bebê ou observando seus filhos brincarem nos escorregadores. Tanto Marlene quanto Lily se perderam admirando tais cenas.


- Logo, logo você estará fazendo essas mesmas coisas com sua menininha, Lene. – disse Lily, continuando a fitar as pessoas no parque.


- Eu sei. Ainda parece meio surreal, sabe? Em cinco meses, eu estarei segurando uma coisinha menor do que a minha antiga mochila do colégio. Uma coisinha que será mais importante do que qualquer coisa no mundo para mim.


- Você já está pensando em algum nome para a coisinha?


- Ainda não. Por enquanto, eu vou chamá-la de Coisinha. Não ‘bebê’. Coisinha. Muito criativo, não acha?


- Acho. E é meio fofinho, também. – elas riram. Era típico de Marlene não ser clichê e querer inovar. E ‘Coisinha’ era realmente engraçadinho. Esquisito, mas bonitinho.


Enquanto esperavam seus pedidos, elas começaram a falar sobre roupinhas, berço e cores para o quarto de Coisinha, mas em determinado ponto da conversa, Lily se desligou e ficou pensando no beijo que ela e Charles tinham trocado no dia anterior. Tecnicamente, ele a beijara e não fora de modo algum correspondido, então não deveria ser considerado traição, certo? Esse era um bom jeito de colocar os fatos.


Bom para quem? Não para James, com certeza. Eu não acho que ele cairia nessa de “eu não correspondi”. Ah, ela estava tão ferrada.


Marlene percebeu que Lily não estava prestando atenção ao que ela dizia sobre tons para as paredes e perguntou:


- Ei, em que planeta você está?


Lily piscou e olhou para Marlene sem entender. Não tinha escutado a pergunta.


- Hm, o que disse?


- Nossa, você está mesmo muito distante. Eu estava falando sobre a cor das paredes do quarto e você não ouviu uma palavra.


- Ouvi sim!


- Se tivesse ouvido, teria dado sua opinião quando eu disse que pintaria as paredes de verde-oliva.


Lily torceu o nariz quando ouviu isso e Marlene soltou uma risada, como se dissesse ‘Viu?’.


- Verde-oliva é uma cor horrível. Você tem razão, eu estava longe. Desculpe. – Marlene levantou as sobrancelhas e Lily soube exatamente o que ela estava perguntando, mas não queria responder àquela pergunta de jeito nenhum. Ela era a melhor amiga de James fazia mais de dez anos, sua reação não seria nada boa. Por outro lado, Lily precisava desabafar. Decidiu-se por contar. Seria bom ouvir uma bronca e talvez alguns conselhos. Respirou fundo e disse de uma vez – Charles me beijou ontem.


- Charles fez o quê?! – Marlene exclamou, seus olhos arregalados e o garfo cheio de comida parado a meio caminho da boca.


 - Eu sei! Foi de repente, estávamos conversando e ele se declarou para mim! E então, mesmo depois de eu dizer que não ia deixá-lo me beijar porque eu amo James, ele me agarrou e me beijou de surpresa! Mas eu não correspondi, Lene, eu juro! – Lily disparou, cuspindo as palavras sem parar para respirar. Precisava fazer Marlene entender que não fora culpa sua, que Charles a beijara sem seu consentimento, mas ela não parecia ter dado atenção ao que Lily disse, em silêncio olhando seu rosto com os olhos arregalados. – Lene? Diz alguma coisa!


- Uau, Charles Phillip te beijou. Uau. – ela deu uma pausa, comeu um pouco e depois disse – E aí, ele beija bem?


Hã?


- Quê? – Lily perguntou sem acreditar no que ouvia. Cadê o escândalo que estava esperando?


- Eu perguntei se ele beija bem. Ele parece beijar bem, aliás, muito bem. Porque, você sabe, que homem divino. – Marlene respondeu como se fosse óbvio, comendo mais uma garfada.


- Espera, você não está irritada? Decepcionada comigo? Não vai me chamar de traíra?


- Não.


- Esses hormônios estão realmente mexendo com a sua cabeça. – foi só falar dos problemas hormonais que a conversa desandou.


- Deixe meus hormônios fora disso! É porque eu estou grávida, você tem algum problema com isso? É bom que não tenha! E outra coisa, acho muito bom você contar ao James sobre esse beijo ou eu mesma conto! E acredite, Lily Evans, não vou te pintar de santinha! É bom que suas desculpas sejam boas! – Marlene praticamente gritou, chamando atenção das pessoas em volta. Lily não sabia se ria ou se ficava assustada com a súbita mudança de humor.


- Aí está! Era só isso que eu queria! – disse ela e Marlene relaxou, sorrindo.


- Tem razão, esses hormônios estão me deixando louca. Mas eu falei sério, Lily, se você não contar ao James, eu conto.


- Obrigada, era o que eu queria ouvir.


- Por quê?


- Porque se você ameaçar contar, eu serei obrigada a fazer isso. Sem sua bronca, eu provavelmente me acovardaria e não diria nada a ele. O que seria errado.


- Muito errado. Mas eu acredito em você quando diz que não sentiu nada. Eu sei que você ama o James e ele te ama também. E agora, é só se manter longe de Charles.


- Ah, não se preocupe quanto a isso; desde ontem eu estou fugindo dele como se fugisse da própria Morte.


Marlene torceu o nariz quando ouviu isso.


- Nossa, que comparação horrível. Tudo bem que você não gosta dele, mas compará-lo à Morte é um pouquinho demais. Charles é muito lindo para que você diga isso. – então se aproximou de Lily o máximo que a barriga e a mesa permitiam e disse em voz baixa – Apesar disso tudo, me diga, Lily: o beijo dele é ótimo, não é?


 - É.


Marlene deu um sorriso triunfante.


- Ahá! Eu sabia. Impossível o beijo de Charles Phillip ser menos do que satisfatório. Porque, você sabe...


- Que homem divino, é, eu sei. Marlene, ele se declarou para mim! Falou que está apaixonado!


- Abriu aquele coraçãozinho gelado dele, é? Caramba, não sabia que ele pudesse ser capaz de algo assim.


- Nem eu! – exasperou-se Lily. – E eu acho que acabei por magoá-lo, ele saiu do meu quarto parecendo tão chateado.


- Eu também sairia chateada se me declarasse a alguém e essa pessoa me dispensasse. Mas não faça nada. Deixe para lá, ele pode cuidar das próprias feridas sozinho. Se você se aproximar novamente, pode não conseguir se afastar depois.


- Você está certa. Não vou cometer o mesmo erro duas vezes. Deixei as coisas irem longe demais e veja no que deu: estou correndo o risco de perder meu namorado.


- Você não vai perdê-lo, Lily. Sim, ele vai ficar uma fera quando souber e bem magoado, mas vai te perdoar. Provavelmente vai quebrar a cara de Charles na primeira oportunidade que tiver, mas as coisas entre vocês vão se resolver. James te ama demais, ok? – Lily assentiu. – Ótimo, então vamos pedir a conta e ir para casa, estou morta de cansaço.


Se Lily já estava com a cabeça cheia quando chegou em casa, dar de cara com seu pai emburrado na sala de estar definitivamente não ajudaria. E, claro, foi exatamente essa cena que ela encontrou quando abriu a porta de entrada. O Sr. Evans estava sentado no sofá e a encarava com cara de poucos amigos.


Ou nenhum amigo, pelo jeito.


Sabendo que se irritaria com o que quer que ele tivesse para falar, Lily soltou um suspiro cansado e cruzou os braços sobre o peito, esperando-o começar. Seu pai a olhou bem e disse:


- Onde você estava?


Calmamente, ela lhe respondeu.


- Acompanhei Marlene na consulta dela com a obstetra. – o Sr. Evans fez uma careta.


- Não te vejo há dois dias...


- Como se você se importasse, não é mesmo, papai?


Não ligava de ser rude. Ela já tinha muito com o que se preocupar.


- Eu me importo, Lily. E tanto me importo que quero ter uma conversa séria com você. Algo que eu deveria ter feito há dois meses quando você sofreu aquele acidente.


Lily deu um sorriso debochado e se sentou no sofá ao lado dele.


- Antes tarde do que nunca. Tudo bem, papai, vá em frente.


- Não quero mais que você ande com esses seus amigos. – o Sr. Evans disse de uma vez só, esperando que a filha explodisse. Mas Lily sequer piscou.


- E por quê?


- Eles não são boa influencia para você. Num segundo você está sob as minhas asas e no outro, você está deitada numa cama de hospital.


- Sob as suas asas? Pai, você me ignorou por treze anos, como isso é estar sob as suas asas? Sinto muito, mas você não me apresentou razões suficientes.


- Você poderia ter morrido!


- Mas não morri. E a culpa não foi do Sirius, você sabe muito bem. E de qualquer forma, acidentes acontecem. Poderia ter sido com o Henry ao volante. Foi uma fatalidade, pai. Andar com eles não foi a causa do acidente.


O Sr. Evans a olhou irritado, suas narinas inflando perigosamente. Lily sabia como geralmente isso acabava: com ela chorando no quarto. Mas não dessa vez.


- Sua amiga é uma adolescente grávida. Explique-me de que forma isso é uma boa influência.


- Não se trata de influência. Marlene e Sirius cometeram um descuido e agora terão que lidar com as conseqüências, mas eles são maduros e responsáveis – Lily preferiu omitir que Sirius não era tão responsável assim. – e vão cuidar bem do bebê. E só porque ela está grávida, não significa que eu ficarei. Eu não sou influenciável. Tenho uma cabeça muito boa, sabe?


- Seu amigo Sirius está em coma!


- Por ora. Os médicos disseram que a situação dele não é irreversível.


Vendo-se sem argumentos, o Sr. Evans apelou para James.


- Seu namorado! A culpa é dele. Você agora sai escondida, me desobedece, me enfrenta... minha menina não era assim!


- Sua menina cresceu, pai. E não me venha com essa atitude superprotetora, é tarde demais. Sinto muito, mas eu não vou desistir dos meus amigos e da minha felicidade por causa da sua paranóia ou seja lá o que for.


- Você vai desistir se eu quiser que você desista! – gritou ele, já furioso. – E eu quero, portanto, estou te proibindo de vê-los!


Lily levantou-se do sofá tranquilamente e disse, sem alterar a voz:


- Nos seus sonhos. – e seguiu para o seu quarto. Mas, aparentemente, ele ainda queria discutir porque foi atrás dela. Só que Lily foi mais rápida e entrou no quarto antes que ele virasse no corredor. Esperou até que ele estivesse perto o suficiente e disse – Não queira me fazer infeliz só porque você o é. Eu segui em frente, pai. Superei. Você devia fazer o mesmo. – e bateu a porta na cara dele.


Quando virava as costas, orgulhosa por ter saído ilesa de uma discussão com o pai, Lily o ouviu dizer alguma coisa contra a madeira. Achou que havia ouvido errado, então, rezando para não se arrepender, abriu a porta e o encarou.


- O que disse, papai?


- Eu disse que... que... estou tentando. Estou tentando seguir em frente. – é, ela não tinha entendido errado.


Surpresa, para dizer o mínimo, Lily olhou fundo nos olhos dele e viu que seu pai era realmente uma pessoa infeliz. Viu o quanto sua mãe tinha levado dele quando morrera. Sentiu-se desolada e triste como não se sentia havia muito tempo ao constatar isso. Mais do que nunca, queria sua mãe viva. Viva para que pudesse completar o pedaço que faltava no peito dos dois. E, assim, devolver ao Sr. Evans o sorriso que uma vez ele soube dar.


Lily, então, fez a única coisa que poderia fazer naquele momento: deu-lhe um abraço. Abraçou-o fortemente, como nunca fizera antes. Pareceu, por um segundo, que seu pai não lhe corresponderia, mas aí, lentamente, muito lentamente, ele levantou os braços e os passou pelo corpo da filha.


- Está tudo bem, papai. – ela murmurou, bem baixinho, quando o ouviu deixar escapar um soluço.


Que cena, na falta de palavra melhor, bizarra. O Sr. Evans chorando no ombro da filha.


Delicadamente, Lily o puxou para dentro do quarto, fechando a porta atrás deles. Sentaram-se na beirada da cama, o Sr. Evans de cabeça baixa e Lily buscando os olhos dele insistentemente.


- Pai, o que você quer? – ela perguntou, apertando as mãos dele.


- Lizzie de volta. – ele respondeu, parecendo um menininho que pede um doce à mãe. Lily não pôde evitar soltar uma risadinha pelo nariz.


- Algo viável. Não posso trazer mamãe de volta, mas posso tentar outras coisas. O que você quer?


- Quero me casar com Marion.


A resposta realmente pegou Lily de surpresa. Não era o que ela estava esperando, não mesmo.


- Ca-casar? – perguntou assustada. Mas então se refez e olhou séria para ele. – Pai, você ama a Marion?


- Não. – respondeu com certeza. Mas quando fitou a filha, ele vacilou. – Pelo menos não como amei sua mãe. – o Sr. Evans fez uma pausa longa, que fez Lily pedir internamente “Se abra, pai, converse comigo, por favor, por favor, por favor”. Como se tivesse ouvido os pedidos, ele recomeçou a falar. – Acho que nunca vou amar ninguém como amei sua mãe. Ela era simplesmente brilhante, em todos os sentidos. Quando Lizzie entrava em algum lugar, parecia iluminá-lo. – Lily percebeu nele um olhar sonhador que nunca tinha visto na vida e soube que ele não mais falava para ela. Estava perdido nas lembranças da falecida esposa.


- As pessoas a adoravam. – continuou. - Ela era compreensiva, via através dos defeitos dos outros. Achava que todos tinham um lado bom e mereciam segundas chances. Era generosa e sempre lutava pelo que acreditava, e era tão teimosa! Travamos brigas enormes por causa de sua teimosia... Lizzie não admitia ser tratada como um bibelô; por fora, parecia uma frágil boneca de porcelana, mas, por dentro, era uma fortaleza. Era meu porto seguro, era em quem eu podia me apoiar quando tudo em volta parecia desmoronar. Ela me entendia sem que eu precisasse dizer nada e tinha o poder de curar qualquer ferida só com um sorriso. Lizzie me tirou de um lugar escuro, onde não havia luz, e me fez feliz de verdade. Uma vez que ela se foi, eu não perdi apenas minha esposa; perdi a única pessoa que me fizera enxergar a vida de outro jeito, que me ensinara a sorrir... perdi meu porto seguro e afundei. Voltei àquele lugar escuro em que eu estava antes de ela me encontrar. Ela era tão cheia de vida e não se deixou abalar quando a notícia de que fora diagnosticada com câncer chegou aos seus ouvidos, apenas disse “Então, vamos viver o agora. Esqueçamos o amanhã e o que ele poderá trazer.” Não reclamou um segundo durante todo o tratamento e, quando chegou a hora de ir, ela não disse adeus. Disse “Até logo, John. Cuide bem da Lily, eu sei que ela se tornará uma pessoa maravilhosa.” E, então, ela tinha ido embora. Minha Lizzie estava morta.


Lily estava chorando tanto quanto o pai, mas nenhum dos dois percebia isso. Ela se sentia como ele próprio se descrevera: solitário, num lugar escuro, até alguém chegar e lhe ensinar a ser feliz. James fizera isso por ela, que agora descobria que sua mãe havia feito o mesmo por seu pai. Lily não tinha ideia de que fossem tão parecidos e, por mais que tentasse se refrear, gostou de saber daquilo. Compartilhava um sofrimento com o pai, mesmo que o dela tenha sido imposto por ele.


Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes até que o Sr. Evans pareceu acordar e perceber que a filha ainda estava ali na frente dele.


- Sua mãe estava certa. – ele disse de repente. Lily o olhou sem entender. – Sobre você crescer e se tornar uma pessoa maravilhosa.


Ela se sentiu corar e abriu um sorriso tímido.


- Pai...


Foi aí que ela ouviu as palavras que sempre esperou ouvir, mas achava que nunca seriam ditas.


- Me perdoa, filha.


- Pai, está tudo bem... – ela disse, mas ele não pareceu ouvir. Só continuou falando.


- E espero que sua mãe também me perdoe por eu não ter cuidado de você como tinha prometido. Eu gostaria de dizer que, pelo menos, fui um péssimo pai, mas acho que não estive presente o suficiente nem para dizer que fui péssimo...


- Pai! – Lily exclamou e o Sr. Evans finalmente a olhou. – Está tudo bem. - Eles sorriram um para o outro, sentindo os corações bem mais leves. Determinada a ajudar o pai, Lily voltou ao assunto – Então, você quer mesmo se casar com a Marion?


- Quero.


Mas ela queria mais do que uma resposta afirmativa. Queria razões, queria os porquês.


- Por quê?


O Sr. Evans ponderou por uns segundos antes de responder.


- Porque – ele começou, hesitante – ela é adorável, divertida e inteligente. É compreensiva e sabe que nunca vai ocupar o espaço que é da sua mãe no meu coração. Ela é alegre e me faz rir. E realmente me conquistou... eu... hm... gosto dela. – Lily acreditou em todas as coisas que ele disse, mas continuou a olhá-lo incisivamente. Sabia que havia mais alguma coisa... o Sr. Evans suspirou pesadamente antes de completar – Eu quero superar, Lily. Quero ser feliz de novo.


Lily sorriu abertamente e fez o que achou certo: deu apoio.


- Então se case com ela, papai.


- Hã? – ele perguntou surpreso. Lily soltou uma risada.


- Case com Marion, pai, se é o que você quer. – ela viu seu pai sorrir e se sentiu feliz por conseguir que ele fizesse isso. Aproveitou então o embalo da conversa e completou – Mas, não é a Marion que deve que te ajudar a superar a falta que a mamãe faz. É errado ficar com alguém só para substituir outra pessoa. Você mesmo tem que superar, pai, e eu sei um bom jeito de começar.


- Qual?


- Fazendo uma limpa na biblioteca.


Para seu espanto, ele não gritou ou falou que ela era louca. Só baixou os olhos e disse:


- Você acha?


- Aquilo não é saudável, pai. Você guarda tudo que era da minha mãe. Está na hora de se desfazer de algumas coisas. Fique com algumas, jogue outras fora. – ele pareceu inseguro. Lily, percebendo isso, levantou-se e lhe estendeu a mão. – Vamos, eu te ajudo. Aproveito e pego uns vestidos para mim, ela tinha ótimo gosto.


Sorrindo e parecendo dez anos mais novo, o Sr. Evans aceitou a mão que ela lhe oferecia e, juntos, seguiram para a biblioteca. Havia muito o que se fazer. E um casamento a se planejar. 

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N/a: AAAAAAAAAAEEEEEEEEE, FINALMENTE! Depois de meses (longos, longos meses desde que eu entrei na faculdade), o capítulo onze de Colorful é postado. Foi mais uma homenagem às minhas férias que começaram hoje que qualquer outra coisa (fora a dívida que eu estou com vocês, claro).
Bom, as coisas estão começando a entrar nos eixos, vocês estão percebendo? Tudo bem, Sirius continua em coma, maaaaaaas a relação da Lily com o Sr. Evans está começando a entrar nos trilhos. E por favor, o que é Marlene chamando a filha de Coisinha? Sei lá, achei fofo. Diferente... bem a cara da Marlene mesmo. E, meu deus, o BEIJO! Charles beijou a Lily. CHARLES BEIJOU A LILY! Sei que vai ter gente contra, mas eu tive que escrever essa cena. Seria um grande arrependimento se eu não escrevesse. Não sei, acho que a Lily tinha que ter beijado o Charles, afinal, ele passou a fic toda a provocando. Acho que ela merecia ganhar um beijo desse mau caminho INTEIRO, sabem como é.
Ok, falei muito. Chega. Vejo vocês no 12.
P.S: odiei o nome do capítulo, mas o que vai se fazer?
Amo vocês, seus lindos, e estou com saudades dos comentários. Então, comentem MUITO!
Beijos, Liv 

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Comentários (2)

  • Lana Silva

    Outro capitulo que  me fez chorar. Por causa dessa parte de pai e filha foi realmente muito linda. Ahhh fico feliz que o pai da Lily tenha percebi que não era tarde pra viver, isso é muito lindo flr *-----------* muito mesmo. Beijoos! 

    2012-07-25
  • amandaas2005

    A fic está bem legal!!Aguardando att o próximo capítulo!!

    2011-07-31
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