cap. 2



Suspirando cansada Hermione deixou cair no chão a pouca bagagem que trazia, cavalgar por dois dias inteiros da sede da ordem até Hogsmead tinha sido cansativo, mesmo para alguém como ela.


Não tinha tido tempo de descansar após a última missão antes de Richard, ou Theodore como os outros lacaios o chamavam, a mandar correndo para esta, não que estivesse reclamando, afinal, quando a missão estivesse finalmente comprida quem mais além dela poderia se orgulhar de ter o sangue do principe herdeiro nas mãos? Ainda assim tudo o que mais queria agora era uma boa noite de sono, mesmo que fosse naquela cama barata oferecida pelo lugar.


- É satisfafório - ela disse e atrás dela o homem suspirou aliviado. Agradar Valkiria era sempre dificil, mas mantê-la ali apenas traria glórias para sua humilde estalagem.


- Fico honrado senhora, mais alguma coisa em que posso ser útil?


- Não, apenas suma das minhas vistas! Agora!


Uma segunda ordem não foi necessária.


*


- Onde você pensa que vai? - a pergunta, vinda da voz arrastada do primo gelou sua espinha e o fez congelar no mesmo lugar.


- Draco! - Harry gemeu, virando-se excitando em direção ao loiro, que mantinha os braços cruzados e a expressao fechada.


- Harry, pelo amor de Odin, você é o principe herdeiro, precisa parar de escapulir para fora do castelo!


- Mas tem uma comitiva cigana na cidade e você sabe que eles sempre trazem festa junto com eles.


- Harry!


- Por favor? - o principe implorou, transformando seus olhos em duas esmeraldas brilhantes.  Draco suspirou, ninguém conseguia negar nada a Harry quando ele fazia isso.


- Ao menos esconda seus cabelos!


O grito de alegria de Harry fez até mesmo o mais velho sorrir.


*


Hermione sorriu quando ouviu o familiar som dos instrumentos e viu a bagunça caracteristica do seu povo. As longas saias vermelhas rodopiando ao som da batida envolvente, os homens barbudos com os braços despidos e sorrisos charmosos, o barulho dos pés batendo no chão, tudo lhe era tão familiar. Por um momento, enquanto observava a roda de dança que tinha se formado deixou-se lembrar de como aquilo era frequente em sua infancia, com exceção de que o grupo cigano era formado apenas por uma mulher, sua mãe e que o público radiante se limitava a ela, seu pai e seu irmão mais velho.


O riso alegre de uma criança a seu lado a tirou de seus devaneios e ela suspirou aliviada, se tivesse seguido por aquele caminho acabaria por entrar em lembranças não tão bonitas como aquela.


Voltou a encarar o grupo a sua frente e não foi nenhuma surpresa quando poucos minutos depois um dos homens a puxou para o meio deles, e com um sorriso que há muito não dava Hermione se deixou ser guiada.


*


Harry sorriu enquanto escondia rapidamente os longos cabelos negros por baixo do chapéu que acabara de comprar pelo o dobro do preço.


A senhora atrás da pequena tenda olhava sem parecer acreditar nas moedas em sua mão, antes de olhar para ele com aquele mesmo olhar assustado.


-          Obrigado meu pri... – Harry se apressou a colocar um dos dedos na boca, pedindo silêncio antes que a mulher terminasse de dizer o que pretendia. 


-          Eu nunca estive aqui! Por favor? – ele implorou com a voz baixa e o rosto velho da mulher se contorceu num sorriso de concordância, antes de virar as costas e voltar a gritar suas ofertas. Harry sorriu e se afastou da tenda, andando devagar enquanto admirava a cidade.


Hogsmeade estava completamente transformada! As casas modestas, mas seguras e bonitas ainda estavam ali, assim como as lojinhas tradicionais, mas era como se de repente uma alegria tivesse tomado conta da cidade, as janelas agora estavam enfeitadas por lindos panos vermelhos, flores tinham sido penduradas nas portas, as pessoas traziam sorrisos fáceis no rosto como se não tivessem nada com o que se preocupar. E tudo isso porque ciganos, tão odiados em outras regiões até mesmo do próprio reino havia chegado.


Talvez o rapaz estivesse realmente sentindo o mundo pela primeira vez, a noite morna, a pequena brisa que tocava seus cabelos, mas o que mais lhe chamou a atenção, o que mais o fez sentir-se parte daquele mundo, foi a musica que ele ouviu, a poucos passos dele. Era contagiante, vozes alegres a cantavam, instrumentos ferozes traziam vida a musica. Mal viu quando se aproximou e talvez hipnotizado pela musica sequer tinha domínio sobre suas vontades, mas quanto mais perto chegava, mais sua alma sentia. Quando chegou a um ponto em que poderia ver tudo o que se passava na festa, ficou deslumbrado, não talvez pelas roupas espalhafatosas e coloridas, não pelas cabanas simples, não pela quantidade de pessoas e crianças pulando, rindo e dançando, mas por aquela mulher que rodopiava e brilhava. O rapaz pensou que estava vendo um anjo, aquela mulher era tão bela, com seus cabelos castanhos e adoravelmente cacheados formando uma aura em sua cabeça, os olhos castanhos refletindo o brilho da noite, a boca naturalmente avermelhada aberta em um sorriso sincero e seu corpo perfeito se movendo em sincronia perfeita com a musica não poderiam ser obra desse mundo, e ele poderia jurar que só estava ali por que havia morrido e se tivesse morrido não era irônico se sentir tão vivo?


Sorriu e ainda olhando para aquela cena uma certeza lhe preencheu a alma: aquela mulher seria sua!


*


Riu alto antes mesmo de perceber o que estava fazendo.


Há quanto tempo não se permitir dançar assim? Sem que nenhuma amarra, visível ou não estivesse lhe segurando?


Sabia que estava em uma missão e pretendia cumpri-la o mais rápido possível, mas naquela noite, somente naquela iria se permitir viver um pouco! Foi pensando nisso que, ao dar mais uma pirueta seus olhos se chocaram com algo.


Ele estava vestido com roupas comuns e tinha dado um jeito de esconder seu imenso cabelo negro embaixo de um chapéu antiquado, mas ainda assim reconheceria aquele rosto em qualquer lugar, as bochechas altas, o queixo quadrado, o maxilar bem formado, os lábios finos e os olhos...os olhos cor de esmeralda que pareciam presos a ela com um brilho que lhe era muito familiar: desejo.


Sorrindo, Hermione lentamente parou sua dança e caminhou lentamente até o princípe herdeiro com um único pensamento em mente: ele seria dela!


 


 

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