Reencontro



Capítulo VI


Reencontro


 


O rosto perplexo de Lily me fez perceber que quase caí da janela quando me levantei com um salto repentino. Quando alcancei o papel, imediatamente ela compreendeu e espiou sobre o meu ombro.


Olá, minha donzela anônima.


Não consigo tirar você dos meus pensamentos. Fico imaginando se terei a honra de te ver novamente. Caso aceite minha proposta, estarei em frente ao Caldeirão Furado, às dez horas da noite de hoje, com uma jaqueta de capuz azul escuro cobrindo a máscara. Não precisa responder pelo papel, não me importo de ficar lá na esperança de que você vai chegar. É melhor do que receber um ‘não’ em um pergaminho vermelho.


Aguardando ansiosamente nosso reencontro,


Seu homem mascarado.


Encarei Lily, e ela sorria.


- Você não está aí parada ainda decidindo o que fazer, está? Achei que você já sabia que queria vê-lo de novo!


Era tudo que eu precisava ouvir para ter certeza da minha decisão. Retribuí o sorriso, agradecendo a Merlin por ter uma melhor amiga que me apoiava. Concentrando-me no meu encontro, consultei o relógio.


- Eu tenho quinze minutos! O quê eu preciso fazer antes de ir?


Mirei-me no espelho de parede, onde podia ver Lily atrás de mim, me analisando da cabeça aos pés. Claro que se eu soubesse que iria reencontrá-lo hoje, teria colocado uma roupa melhor, mas até que dava pra disfarçar. Os cabelos estavam escorridos como sempre, mas até que a franja estava bem ajeitadinha de lado. Uma camiseta babylook com uma estampa geométrica em preto e branco, que dava uma certa ilusão de ótica, a calça jeans skinny era um pouco desbotada e meu par de All Star, vermelho e velho, completavam o estilo despojado.


Lily foi até seu guarda-roupa e retornou com um estojinho de maquiagem básico e um casaco xadrez vermelho e preto. Ótimo, eu iria ficar até apresentável. Com o pouco tempo, tudo que consegui foi destacar os olhos com lápis e rímel e um gloss nos lábios. Peguei minha máscara – que graças a Merlin eu tinha deixado aqui na Lily – e já me preparava para aparatar quando olhei para Lily.


- É, vai ser bem legal as pessoas te verem por aí com uma máscara no meio da noite – ela disse irônica e jogou o casaco para mim. – Vê se também esconde o rosto até achar ele – ela fez uma pausa, respirou fundo e deu aquele sorriso sincero, o único que me faz sentir melhor, que me dá coragem. – Boa sorte. E relaxa, ele já está caidinho por você. - A última imagem que tive do quarto foi a piscadela que ela me deu.


Quando meus pés retornaram ao chão, abri os olhos e me vi nos fundos do bar do Tom. Atravessei o bar discretamente, encobrindo o rosto com o capuz do casaco, e saí encontrando a brisa gélida da noite. A rua era pouco iluminada por postes e dali não recebia a luz do luar, mas mesmo assim vi o contorno de um corpo forte e de postura jovem, escorado no muro do outro lado da rua, com o rosto coberto por um capuz.


Fui até ele, que não deu o menor sinal de ter notado minha chegada. Parei na sua frente, e ele levantou a cabeça para me encarar. Descobri então o mesmo rosto, com a mesma máscara, que eu havia visto na noite anterior e, novamente, aquele sorriso. Não pude deixar de corresponder.


- Que bom que veio.


Ele não se preocupou nem um pouco em esperar uma resposta para me abraçar e me beijar, desta vez bem mais suave que na noite anterior, mas com a mesma sensação maravilhosa. Ele afastou o rosto, mas não tirou as mãos do abraço em minha cintura, enquanto eu ainda ocupava as minhas nos bolsos do casaco de Lily. Percebendo o quanto isso era ridículo, me ocupei rapidamente em retribuir o abraço e pousar minhas mãos naqueles ombros largos.


- Quero te mostrar um lugar, está com tempo, não é?


Fiz que sim com a cabeça, pois parecia ter perdido a voz. Seu sorriso se alargou e eu senti meus pés deixarem o chão. De início, achei que era apena uma sensação por ter uma visão tão bela. Então percebi que havíamos feito uma Aparatação Acompanhada.


Fechei os olhos e só abri quando me senti pisar novamente. Deparei-me com um canto de paredes de madeira e por uma janela eu só via os contornos de montanhas e colinas desabitadas. Nenhuma construção, apenas grama e árvores, onde o céu estava bem mais estrelado, sem perder a presença da lua. Um lugar bonito. Muito bonito.


Concentrei-me em analisar o resto do aposento. Parecia um quarto, tinha uma cama em um canto, um sofá em outro, ao lado de um rádio. Algumas revistas, livros e discos pelo chão e uma pequena bancada de bar, onde se podia ver pelo menos uma garrafa quase cheia de whisky de fogo e algumas cervejas amanteigadas. Era iluminado por algumas velas e tinha uma pequena repartição no canto mais distante, onde imaginei ser um banheiro improvisado.


Com certeza era um lugar bastante aconchegante e convidativo. Mas, só então reparei no mais estranho: um tronco razoavelmente grosso no centro do cômodo. Dessa vez, debrucei-me pela janela e foi então que vi: estava em uma casa na árvore.


Olhei à minha volta procurando meu acompanhante e reparei que às minhas costas havia uma lareira e um grande vão na parede, como uma porta. Seguindo por ali, entrei em uma espécie de varanda e encontrei-o escorado no cercado, de costas para a paisagem – o que parecia um enorme lago, mas a escuridão me impedia de ter certeza – fitando-me intensamente.


- Gostou? – ele perguntou com certa preocupação.


- É maravilhoso. – sorri radiante. Instantaneamente seu rosto desanuviou e voltou a sorrir.


- Isso é ótimo, consegui te agradar. O que gostaria de fazer agora?


- Diga você, está me surpreendendo tão bem. – minha fala parece ter voltado ao normal, e eu realmente acreditava que uma idéia dele me agradaria. Estava certa.


Pegou-me pela mão e me levou para dentro, sentamos no sofá e ele me deu uma cerveja amanteigada. Tirou a jaqueta, exibindo uma camiseta verde listrada, ou xadrez, não reparei bem. Ligou o rádio, mas tornou a desligar: era hora das notícias do Semanário das Bruxas. Ficou pensativo por um momento, e então tornou a me fitar.


- Olha, você não é nenhuma fanática anti-trouxas, é?


- Não, com toda certeza que não – ele perguntou de um jeito engraçado, e eu não pude deixar de responder rindo. Ele me fazia tão bem.


Levantou, pegou os discos no chão e me entregou:


- Escolhe um que você gostar, pra mim tanto faz.


Enquanto eu passava minhas opções, vi pelo canto do olho ele tirar algo debaixo da cama. Quando voltou, percebi que trazia uma vitrola reformada e bem conservada. Entreguei a ele o disco dos Beatles, cuja primeira música já era uma de minhas favoritas. Ficou ainda melhor quando ele começou a cantar junto.


- “Close your eyes and I’ll kiss you, tomorrow I’ll miss you...


- “… remember I’ll always be true.” – parece que meu acompanhamento só o empolgou mais.


Me pegou pela mão e me levantou sutilmente. Continuamos a cantar, e começamos também a dançar. Ele ergueu minha mão no ar e me rodou, para então me puxar para junto de seu corpo e permanecemos dando passadas lentas. Quando vieram músicas mais agitadas, nós até tentamos uma coreografia mais ousada, mas acabei desabando sobre ele no sofá.


Aquele momento, as gargalhadas ainda no ar, a respiração ofegante, o brilho em nossos olhares que se cruzavam e a nossa proximidade, não só fisicamente, mas nossas mentes pensavam da mesma maneira. Tudo isso me fez experimentar um novo tipo de mágica que eu desconhecia, onde eu não precisava de uma varinha e nem de uma poção para me sentir assim. Eu só precisava dele.


Com ele eu era mais alegre, mais espontânea, mais compreendida, mais sincera... enfim, eu era eu mesma. Sem precisar fingir, sem me preocupar se ele se importava com qual era minha família, qual a origem do meu sangue ou quantos galeões eu tinha em Gringotes. Eu simplesmente era alguém que ele queria ver, que ele sentia falta e que o fazia se divertir. Ele não conhecia o meu nome e nem meu rosto, mas, mesmo assim, me conhecia melhor que ninguém. Exceto Lily, talvez. Não importa, Lily era minha melhor amiga, e ele... bom, ele era bem mais.


Enquanto eu tomava consciência desse fato importante, abandonei o peso de minha cabeça sobre o peito dele, acompanhando o ritmo em que ele subia e descia, inspirava e expirava. Fechei os olhos e uma paz de espírito tomou conta de mim, eu me sentia segura. Senti suas mãos começarem a acariciar meu cabelo, no início com um pouco de receio, que percebi pelo modo desajeitado, mas que foi se transformando em uma sensação maravilhosa. A música agora parecia distante e minha mente se esvaziou e, sem nem ao menos tentar resistir, adormeci ali, abraçada a ele em um sofá antigo.


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Capítulo maior, porque eu não ia conseguir cortar ou diminuir ele nunca. Espero ter conseguido passar o que ela sentiu, mas não, ela não vai assumir que está apaixonada tão rápido assim :P


Bom, minhas férias acabaram e agora eu vou demorar mais a postar, já que eu estudo fora da minha cidade e fico a semana toda sem um pc.


Mas na verdade não acho que alguém, além da Jeh Halle (muito obrigada, querida), leia isso aqui, logo, ninguém irá se importar.


beiijos :*

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