Escapando



Capítulo II


Escapando




No dia da festa estava tudo perfeitamente escolhido: meu vestido tomara-que-caia azul de lantejoulas e a máscara prateada combinando com as sandálias de tiras finas também na cor prata. Isso sem contar o colar e o par de brincos de safira que eu peguei do porta-jóias da família. Fui criada numa família onde o que mais importa é a imagem, então não é à toa que eu goste de me arrumar.


Já eram mais de nove horas da noite quando dei boa noite à minha família, reunida na sala de estar do Largo Grimmauld, fingindo que já ia me deitar devido a uma forte dor de cabeça. A casa pertencia ao meu tio Órion, que morava junto com sua esposa, tia Walburga, e meus dois primos, Régulus e Sirius. Depois da morte de meu pai, eu, minhas irmãs e minha mãe fomos acolhidas por eles e convidadas a morar lá. Como já não tínhamos dinheiro suficiente para uma casa nova – meu pai só deixou dívidas – não tínhamos também orgulho suficiente para recusar.


E foi assim que eu passei a conviver com meu maior infortúnio. Sirius Black, por mais que fosse contra os princípios de pureza e nobreza da família, era mimado pelo dinheiro que desta recebia. Acostumado a ter sempre o que queria, não foi diferente quando chegou a Hogwarts. Foi para a Grifinória, feliz por ser a ovelha-negra da família: o único a não ser da Sonserina – até eu chegar e ser a segunda a quebrar a tradição. Cumpriu inúmeras detenções por aprontar de diversas formas, normalmente acompanhando o Potter. Até aí não há nada de mais, pois não tenho nada contra o Potter também.


A situação mudou quando eu vim pra cá. Eu só tinha treze anos, não tinha nada de especial, como ainda não tenho. Os olhos azuis claros são o que tenho de maior destaque, mas não considero grande coisa. Não me acho feia, lógico que não. Mas, quero dizer, me olho no espelho e vejo uma garota extremamente branca, os cabelos loiros e escorridos são bem sem graça, não tendo nenhum contraste com a minha pele, e sou magra, não tenho muitas curvas. Claro que eu tenho o quadril um pouco maior, a cintura mais fina e o busto até volumoso, mas que não é nada se compararmos à Bellatrix. Então não vejo nada que possa atrair muito um homem.


É por isso que eu só posso acreditar que ele esteja brincando comigo. Quando é que Sirius, o maior pegador da escola, que poderia ter qualquer garota de lá, iria correr atrás de mim? Ele é um idiota que não pára de atormentar minha vida dando em cima de mim pelos corredores da casa. Isso é totalmente ridículo, se ele quer saber. Como se eu fosse ceder. É óbvio que não, ele é meu primo! E ele nunca valorizará uma mulher, só sabe brincar com elas.


O barulho de uma porta abrindo atrás de mim me fez parar de perder tempo pensando naquele canalha. Reparei que eu já estava na porta do meu quarto, o que só podia significar que a porta que abriu era a do quarto dele, o único no mesmo corredor. Não deu outra.


- Olá, priminha. – eu ouvi sem olhar para ele, mas pude sentir um tom de interesse em sua voz. Só não me pergunte por que, ao invés de bater a porta na cara dele, eu respondi. Afinal, eu já estava dentro do meu quarto, mas acho que não fui rápida parar perceber isso. Quando dei por mim, já tinha me virado e sustentava contra ele um olhar de deboche, braços cruzados e costas apoiadas no beiral da porta.


- Olá, Six. – falei no tom mais falsa e ironicamente animado que pude. Ele estava me atrasando e Lily ia me matar se ela não visse logo o James.


- Já vai se deitar? Não perca tanto tempo dormindo, saia comigo e vamos curtir! Tem festa hoje... – ele se aproximava devagar, mas de repente parou. Seus olhos se estreitaram e um sorriso malicioso passou por seus lábios. – Mas parece que você já sabe disso.


Acompanhei o olhar dele e reparei que ele viu o meu vestido de festa junto com a sandália em cima da minha cama.


- Tia Druella te deu permissão?


- Ela não precisa saber. – disfarcei o pânico em minha voz. Mas é claro que minha mãe não podia saber! Uma festa, ainda mais na casa do Potter, com aquele monte de gente da Grifinória, mestiços e nascidos trouxas. Ela nunca permitiria, mas eu não deixaria de ir por isso.


Olhando melhor para Sirius, notei que ele também estava bastante social, um smoking sem detalhes, mas naquele corpo forte ficava impecável. Foi como se uma lâmpada tivesse acendido em minha cabeça: é óbvio que ele também vai para a festa. James Potter e Sirius Black são inseparáveis.


Instintivamente fechei boa parte da porta do meu quarto de modo que ele não visse mais meu vestido. Será que ele se lembraria qual era e me reconheceria na festa? Duvido muito, homens não se apegam a esses detalhes. E eu não preciso de um primo me vigiando.


- Eu poderia contar, seria o certo a fazer. – disse revirando os olhos como se estivesse tentando decidir como agir, fingindo certa responsabilidade ética que não pertencia a ele.


- Não seja estúpido, Sirius. O que você ganharia contando a minha mãe?


- O que me interessa é o que eu ganharia não contando a ela. – o sorriso malicioso se abriu novamente. Para desgosto dos meus pulmões, que perderam o ar. Inegavelmente, o sorriso dele era maravilhoso. Mas só isso.


- Isso é uma chantagem? – perguntei com a raiva subindo à cabeça.


- Não, não! – ele se apressou a se defender. - Chantagem é um nome muito pesado para isso. Vamos dizer que seja uma troca de favores.


- Não seja hipócrita, está sendo tão Black quanto qualquer outro desta casa.


Aproveitei o efeito que a última frase teve nele para entrar em meu quarto e bater a porta. Ele não contaria a minha mãe, tenho certeza. Só espero que não volte com essa chantagem.


Pela janela do meu quarto eu via o céu escuro cheio de estrelas. Percebi que meu vestido brilhava ainda mais do que aquela obra da natureza. Vesti-o e calcei as sandálias, coloquei a jóias e comecei a me maquiar. Olhos bem delineados de preto, camadas de rímel e uma sombra azul carbono para destacar o que eu tinha de melhor. Um pouco de blush para tirar a aparência pálida e na boca apenas um gloss translúcido. Deixei o cabelo solto, depois de uma poção capilar que deu um efeito ondulado e volumoso.


Pronta, olhei-me no espelho e não reconheci ali a Cissy da Corvinal, a garota que sou todos os dias. Na imagem refletida, eu via Narcisa Black, aquela garota presente nos bailes da sociedade, sempre impecavelmente arrumada. Peguei a máscara e as jóias que eu vou emprestar para a Lily e aparatei para a casa dela, finalmente começando a entender o que Sirius viu em mim, depois de tantos bailes da família.


________________________________________________


É notável que meus capítulos não sejam muito longos, e acho que seguirão esse padrão.


Espero que não se importem, beijoos :*

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.