Parabéns pro Papai!!



Cap. 29_           

            Ninguém se atreveu a comentar o incidente ocorrido durante as semanas seguintes. Rabicho ostentava orgulhoso um esparadrapo no nariz que Bella quebrara, ainda que Madame Pomfrey já tivesse o consertado há muito tempo.


             Sírius acreditava fielmente na versão de Pedro, que não se parecia em nada com levar um soco de Belatriz Lestrange e que se resumia, basicamente, em ser atacado por um bando de comensais depois que ele saíra, e andava se martirizando pela culpa de ter deixado um amigo sozinho com um grupo de comensais.


             Eles podiam tê-lo matado, pelo amor de Merlin!


             Também não conseguia acreditar que tinha sido tão estúpido e cretino. Ele se entregara totalmente à Bella. Ele! Ele, famoso por nunca cair aos pés de mulher nenhuma, por nunca ser pisado, nunca ser enganado... Ele deixara claro para a escola inteira que amava! Ele implorara por ela, na frente de todos, no Baile de Inverno.


             Ele pedira. Pedira para que ela o escolhesse no lugar deles. E ela fizera ainda pior do que escolher os comensais. Ela fingira que o escolhera. Ela tramara pelas suas costas. Ela mentira, e expusera ao perigo não somente ele, mas todos os seus amigos.


             Ele nunca a perdoaria novamente. Nunca. Quando ele a olhava, agora, tudo que conseguia sentir se resumia ao gosto amargo do ódio, subindo pela garganta.


             Bella já tentara falar com ele novamente. Mas, todas as vezes que o via, era fulminada por olhares de ódio, dele, de todos os Marotos, de Tonks e de Lilly.


             Ela não sabia o que fazer para convencê-los. Ela nunca nem imaginara que se importaria algum dia com a opinião de Remo, Thiago, da Xerife, ou de sua sobrinha. Mas ela queria. Ela queria que eles acreditassem nela. Pela primeira vez na vida, ela sentia uma necessidade desenfreada de que eles acreditassem no que ela tinha a dizer.


             Porque mesmo que ela jamais tivesse Sírius novamente, eles precisavam saber. A vida deles estavam em perigo. A vida dele, do amor de sua vida, estava em perigo. Eles tinham. Que enxergar. Isso!


             Remo e Lilly chegaram a cogitar a possibilidade de contar a Dumbledore que Bella estava com os comensais. Mas Thiago sabia que Sírius não queria reviver isso. Porque ele não iria querer, e os dois eram parecidos demais. Ele iria querer jogar uma pedra sobre isso. Iria querer fingir que nunca, em toda a vida, tinha se envolvido com Bella. E iria querer que todos os marotos fingissem também.


             Então era exatamente isso que fariam.


             Dumbledore, no entanto, parecia não precisar de suas informações para saber o que tinha acontecido. O diretor os reuniu um pouco antes da aula seguinte que teriam e, para a surpresa de todos, chamou Pedro.


             Rabicho não sabia o que pensar. Remexia-se, inquieto, na cadeira em frente à mesa do diretor, tendo plena ciência de seus amigos ao seu redor. Remo estava em pé, ao lado da porta, girando calmamente a varinha em uma das mãos, e ele só conseguia pensar em quantos feitiços ele era inteligente o bastante para saber. Thiago estava ao seu lado, parado atrás da cadeira de Lilly e passando as mãos em seus ombros, e ele não conseguia apagar de sua mente a agilidade que aquelas mãos tinham em lançar azarações. Mas o que mais o assustava naquele momento era Sírius, encostado à parede, de braços cruzados, com os músculos se destacando sob as mangas da camisa dobrada do uniforme, e tudo o que Rabicho conseguia pensar, com insistência, era o quanto deveria doer apanhar de alguém com braços daqueles.


             Estava aterrorizado. Sua mente culpada tinha certeza absoluta de que Dumbledore o descobrira. E chamara todos eles, todos aqueles que o chamavam de amigo, para desmascará-lo. Por qual outro motivo o diretor o chamaria ali?


             Estava prestes a se jogar no chão e a implorar pelo perdão dos amigos, quando Dumbledore falou:


             _Pettigrew, devo admitir que me enganei a seu respeito. _Pedro empalideceu. Ele estava pronto para começar a choramingar, mas se engasgou com as palavras. Seus braços tremiam no descanso da cadeira, e Dumbledore continuou _E devo me desculpar imensamente por isso.


             _Professor, eu juro que... _ele guinchou, mas então interrompeu a frase. Sua testa vincou-se de confusão. Como era? Se desculpar? _Desculpe. O que disse?


             _Que eu devo me desculpar com o senhor. _Dumbledore prosseguiu calmamente, sem se dar conta da confusão estampada no rosto de Rabicho _Talvez eu deva explicar melhor.


             E explicou. Explicou tudo. Desde suas desconfianças a respeito de Voldemort, do perigo que ele representava e de como estava se organizando para enfrenta-lo. De como criara a Ordem da Fênix e de como escolhera alguns alunos promissores para integrá-la. Contou das aulas particulares que dava a eles, e de como os Marotos tinham insistido inicialmente para que ele também participasse, mas que ele achara que Pedro não estava preparado para algo assim. E que se sentia muito, mas que não queria que Rabicho se sentisse triste por ele ter pensado isso.


             Tudo bem, Pedro podia não estar muito satisfeito no momento, por ter sido colocado de lado dessa forma. Mas triste? A última coisa que Rabicho parecia estar, naquele momento, era triste.


             Ele tinha um banquete a sua frente. Um mundo de informações, que ele, só ele, poderia fornecer a Voldemort. Ele e mais nenhum dos outros alunos.


             Ele estava deslumbrado.


             _Mas recebi, recentemente, a notícia de que você, Rabicho, enfrentou-os em Hogsmeade. _o diretor prosseguiu _Sozinho, você localizou um encontro de Voldemort com alunos e foi corajoso o bastante para ir até eles, evitar que eles colocassem em prática algo que estivessem tramando. E foi assim, sr. Pettigrew, que percebi que eu tinha me enganado. Achei que você não tivesse a presença de espírito, a coragem e a lealdade que se precisa ter para participar de um projeto como esse. No entanto, devo ser honesto, e admitir, sr Pettigrew, que seu talento nas artes da magia não se equipara ao nível que espero e que seus amigos têm, mas eu estou disposto a ajuda-lo a atingi-lo, se você estiver disposto a se juntar a nós.


           Pedro não conseguia falar. Sua boca se abrira e seus olhos brilhavam de entusiasmo. O diretor achou que a emoção se atribuía ao fato de ser, agora, um membro da Ordem da Fênix, e interpretou isso como um sim. Imediatamente, seus amigos começaram a parabeniza-lo, dando tapas felizes em suas costas, e dizendo coisas animadoras. Até Sírius. Sírius, apesar de saber o que lhe custara isso, sentia-se genuinamente feliz pelo amigo. De verdade. Porque era isso que amigos faziam. Amigos ficavam felizes pelas conquistas dos amigos, incondicionalmente.


           Mas tudo o que Pedro conseguia pensar enquanto Sírius o abraçava, com aqueles braços musculosos que há alguns minutos estavam o matando de medo, era que agora sim, ele estava feito.


           _Mas, professor, _Lilly interrompeu, quando percebeu que ninguém mais entraria nesse assunto se ela não o fizesse _os alunos que estavam lá... _ela deu uma olhada de esguelha para Sírius, e omitiu o nome de Bella, mas ele estava encarando, determinado, um quadro de um de seus parentes na parede _Bom, já que o senhor ficou sabendo que eles estavam lá, com alguém... Alguém mau...


          _Eu não posso puni-los, srta. Evans, se é isso que está querendo saber.


           _Mas... _ela não entendeu.


           _Eles não chegaram a fazer algo errado. Eles estavam almoçando com alguém, em uma visita autorizada a Hogsmeade. Eles são estudantes, Lílian, existem poucas coisas que eu possa fazer, se eu não puder provar que eles estão fazendo algo perigoso para si mesmos e para as pessoas ao redor.


           Isso o preocupava. E muito. E naquele momento preocupou Lilly também.


           Mas os Marotos sequer prestavam atenção. Três deles absortos demais pela felicidade momentânea de poderem estar juntos nessa, como o time que sempre haviam sido. E o outro concentrado demais em seus sonhos de glórias futuras.


 ***


           O fingimento coletivo de que nada tinha acontecido com Bella era tão eficiente que, em pouco tempo, Sírius voltou ao normal do cotidiano escolar. Bom, tão normal quanto poderia ser o cotidiano do aluno mais lindo e popular da escola, que tinha o hábito de azarar qualquer um cuja mera respiração o incomodasse e que tinha aulas particulares com Dumbledore sobre defesa contra a arte das trevas.


           A Páscoa se aproximava e os NIENS também. Os Marotos mostravam-se cada vez mais animados com a possibilidade de passarem um feriado longe do castelo. Thiago ainda mais, já que prometera aos pais que levaria a namorada para conhecê-los.


            Ele estava tão contente com a perspectiva, que acordava todos os dias como se já fosse mês de férias. O céu estava sempre mais claro para ele, as aulas eram sempre mais legais, e nem a cara sebosa de Severo Snape conseguia tirá-lo do sério.


           Mas Lilly, para sua mais profunda tristeza, não acompanhava seu entusiasmo. A Páscoa se aproximar significava que os NIENS chegavam cada vez mais perto, também. E por mais que Thiago a lembrasse de que ela tiraria os exames de letra, já que era a melhor aluna em qualquer matéria, ela estava a beira de um colapso nervoso.


           Não dormia, emagrecia a olhos vistos, e seu rosto estava marcado de olheiras. Gritava com todos que a perturbassem, o que incluía o namorado encrenqueiro, e, quando Thiago achou que não podia ficar pior, ela parou, também, de se alimentar corretamente.


           Não que ela quisesse parar de comer. Mas a comida, no atual estado de nervos que ela se encontrava, simplesmente revirava em seu estômago, e se recusava a ficar lá.


           Bella a acompanhava ladeira abaixo no quesito saúde. Sírius acabara com ela. Sua pele perdera o brilho, seu cabelo estava sem vida, e ela perdera toda a espiritualidade, passando a andar quieta e sozinha pelo castelo.


           Era manhã de jogo de Quadribol e a mesa da Sonserina estava em polvorosa. Se ganhassem, ficariam em vantagem sobre a Grifinória, que perdera o primeiro jogo. Mas Thiago não estava preocupado. Mesmo que a Sonseria vencesse da Lufa-Lufa, a Grifinória ainda poderia ser campeã, se vencesse o último fazendo uma pontuação maior do que a Sonserina faria no dia.


           Era pura matemática. Não que ele gostasse de matemática. Mas mesmo que todas as estatísticas do mundo estivessem contra ele, ele não estaria preocupado. Ele só se preocupava, naquele momento, com Lilly.


           _Lírio, meu amor, _ele pediu, vendo que Lílian empurrara o próprio prato, intocado, para longe _come, por favor. _ele destampou uma terrina de ovos e bacon e abanou o cheiro para ela _Olha só. Hummmm.... _ele inspirou o ar com força, fechando os olhos deliciado. Lílian torceu o nariz _Esse cheiro delicioso não lhe dá vontade de nada?


           Lílian não pôde responder. Quando ia falar, seu estômago embrulhou, e com medo de que seu parco jantar do dia anterior voltasse para mesa, ela cobriu a boca com as mãos. Percebendo que o perigo se acentuava, empurrou a cadeira para trás e saiu correndo do salão.


           _Lílian! _Thiago pulou da cadeira. Sírius e Remo viraram-se para ver o que estava acontecendo.


           _Mas o que deu nela? _Sírius perguntou, intrigado.


           _Não sei. _ele respondeu, preocupado _Acho que é o nervosismo por causa dos Niens... _e saiu atrás dela.


           Remo e Sírius trocaram olhares intrigados.


           _Não sei você. _Sírius comentou, erguendo as sobrancelhas _Mas eu nunca vi nervosismo causar enjoos matinais em alguém.


           Remo pensara a mesma coisa, mas, sem verbalizar sua opinião, levantou-se, junto com Sírius, e seguiu o casal.


           Bella viu Sírius abandonar o salão, ao lado de Pedro, e encarou seu próprio prato de comida, também intocado. Ela tinha náuseas, só de pensar nos dois juntos. Náuseas, ao imaginar Pedro consolando-o, por ter se envolvido com uma víbora como Belatriz Black.


           Ninguém percebeu quando ela empurrou seu prato de comida para o lado, e abandonou o salão, caminhando com velocidade, os olhos cheios de lágrimas e uma das mãos cobrindo a boca.


 ***


           Sonserina venceu, com uma margem bem apertada. Mas quando Pedro invadiu o salão comunal da Grifinória, com uma expressão apreensiva e agitando as mãos, não era isso que ele queria contar.


           _Pontas! Pontas, cara! Você não sabe o que eu ouvi. _ele disparou, largando-se em uma das poltronas em frente a lareira. Thiago e Sírius jogavam cartas, e Remo lia um pergaminho concentrado.


           _Hm... _Thiago comentou, desinteressado _Desembucha.


           _Lílian está grávida. _Pedro exclamou, empinando o corpo na poltrona, como se anunciasse o nome do próximo ministro da magia.


           As cartas voaram das mão de Thiago, formando uma chuva embaralhada ao seu redor.


           _Como é? _ele perguntou com os olhos arregalados.


           _Cara, você é muito sem tato. _Remo retrucou, desviando os olhos do pergaminho que lia.


           _Como? Como sem tato?! _Thiago girou o rosto de Sírius para Remo, indignado _Como é que vocês estão tão calmos? Vocês sabiam disso?!


           _Pontas. _Sírius baixou as cartas sobre a mesa _Achamos que você também já tinha desconfiado. _ele fez uma careta _Comida nenhuma para no estômago dela, o que você achou que era?


           _Nervosismo! _ele retrucou, enfático.


           _Bom, vamos ver esse nervosismo passar daqui a nove meses. _Sírius sussurrou para Remo.


           _Isso não é engraçado. _Thiago sibilou para o amigo _Acham que ela sabe disso? Por que diabos ela não teria falado comigo?! _ele bateu aflito sobre a mesa. _Ela contou para você? _ele agarrou Pedro pelos ombros e sacudiu-o _Por que ela foi contar para você e não contou para mim?


           _Merlin, Thiago! _Pedro livrou-se de suas mãos, arrumando novamente as vestes que o amigo amarrotara _Tenha modos, não foi Lilly quem me contou. _ele fez um aceno, indicando para os amigos que se aproximassem mais. _Eu ouvi.


 _Mas você é uma comadre fofoqueira, mesmo. _Sírius caçoou.


           _Hã. _Remo interrompeu impaciente _Ouviu de quem?


           _A Murta que Geme estava contanto para duas garotas do primeiro ano que, enquanto ela passeava pelos encanamentos, ouviu uma menina chorando em um dos banheiros. Ela falou que ouviu a menina soluçando que estava perdida, que não podia ter um filho de um maroto agora, e se perguntando o que seria dela. _Pedro arqueou as sobrancelhas _Acho que está meio óbvio quem é a menina, não é mesmo?


           _Merlin... _Thiago recostou-se na poltrona, passando as mãos pelo cabelo _Por que ela não veio falar comigo? E por que ela acha que seria tão horrível ter um filho meu? Caramba, eu amo aquela menina! _ele baixou os braços, exasperado _Ter um filho, com ela... Vocês acham que eu ia fazer o quê? Fugir, porque eu sou um maroto?


           _Thiago, ela está com medo... _Remo observou, sensatamente _Ela está às portas dos NIENS, vocês são dois adolescentes, não estão formados, não têm empregos. É óbvio que ela está preocupada com o que vai ser dela agora. Você também deve estar.


           _Preocupado? _ele encarou-o, como se não fosse capaz de entender o que ele estava dizendo _Eu vou ser pai! _ele agarrou Remo pelos ombros e sacudiu-o também _De um... Um bebê, Aluado!


           _Que bom, né? Só faltava nascer um veadinho. _Sírius riu, mas Thiago encarava a parede a sua frente, encantado demais para prestar atenção.


           _ Um... Um filho. _ele murmurou, sonhador _ Um pedaço meu. E dela. Eu vou amar essa criança mais do que a mim mesmo. Será que ela não enxerga isso?


           _Bom, acho que você vai ter que perguntar para ela. _Pedro observou, apontando por cima do ombro de Thiago, que virou-se rapidamente para olhar. Lilly descia as escadas com uma braçada de livros, os cabelos desalinhados e o rosto pálido.


           _Lilly! _Thiago chamou, imediatamente, pulando por cima do encosto da poltrona _Preciso falar com você.


 ***


           Bella estava sentada no último degrau das escadarias externas, observando enquanto os sonserinos comemoravam a mais recente vitória no quadribol.


           Ela não conseguia compartilhar a alegria. Seu rosto estava apoiado nas mãos, e sua imponência desaparecera. Ela parecia uma criança desiludida, abandonada, esquecida na saída escola, esperando que alguém viesse resgatá-la.


           Mas ninguém viria, e ela sabia. Isso era o pior de tudo.


           Era saber.


           As pessoas passavam ao seu redor, sem nota-la. Em outros tempos, ela seria a rainha da comemoração. Todos a notariam. Todos cobiçariam um lugar ao seu redor.


           Mas agora, deprimida, espremida em um canto da escadaria, tudo que ela conseguia arrancar de seus colegas se resumia a cochichos, feitos de longe, que buscavam sondar, descobrir, especular, o que diabos estava acontecendo com Belatriz Black.


           Até um tênis rosa quebrar o padrão de isolamento, e parar ao seu lado, no degrau em que ela estava sentada.


           _O que está fazendo? _ela perguntou, com maus modos, olhando para cima _Eu sou perigosa. Seu priminho não a alertou sobre isso?


           Tonks, a dona dos tênis rosas, sentou-se ao seu lado. _Sírius não sabe que estou aqui.


           Bella encarou-a por alguns segundos. Então deu de ombros. _Problema seu.


           Ficaram alguns segundos em silêncio, ambas encarando o gramado a frente. Então, repentinamente, Tonks explodiu:


           _Eu acreditei em você. _Bella virou-se para olhá-la novamente. Seus olhos piscavam, e pareciam reluzir, mudando levemente de castanho para mel, e então para um tom mais dourado, indicação de que ela se enfurecia _Acreditei que você tinha mudado. E, Bella, eu não costumo errar. Alguma coisa tem que ter acontecido, para você ser assim, tão... _ela fez uma careta _Mesquinha, má. _Bella não respondeu, e ela prosseguiu _Você ia me vender, novamente? Eu acreditei em você, defendi você para o Remo, disse que todos tinham uma chance de voltar atrás e...


           _Eu não tenho caminhos para voltar atrás, Tonks. _ela interrompeu-a, o semblante entristecido, virando-se novamente para frente.


           _Todo mundo tem um caminho de retorno. _Tonks apertou os olhos _Todo mundo pode ser uma pessoa diferente.


           _Eu não tenho, Tonks! _ela explodiu, virando-se novamente para a prima _Eu não tenho caminho nenhum! Você não entendeu? Estou perdida! Sírius me odeia! E eu... Eu estou... _ela gaguejou, e enterrou o rosto nos braços _Estou tão perdida, Tonks... Não existe mais soluções para mim.


           Tonks afastou-se alguns centímetros, assustada com a explosão repentina. Nunca vira Bella daquele jeito.


           _Você deveria falar com ele. Jurar que vai mudar dessa vez. Mude de verdade, dessa vez, se você o ama tanto.


           Bella ergueu o rosto novamente, e riu, de forma sarcástica e forçada.


           _Mas que porcaria de mundinho cor de rosa você vive, hein? Não existe esperança para Sírius e para mim. Eu já implorei para ele me ouvir e... _sem aviso prévio, seus olhos, fixos em um ponto no gramado, encheram-se de água _o que eu vou fazer agora? _ela completou, em voz baixa.


           _Sempre há esperança, Bella. _Tonks respondeu e ressabiada, estendeu a mão, lentamente, e passou-a no cabelo negro de Belatriz _Mesmo entre os casos mais impossíveis. Mesmo... Entre você e Sírius... Mesmo entre Remo e eu.


           Bella virou-se para ela mais uma vez. _Você realmente gosta dele.


           _Não. _Tonks puxou a mão e afastou-se mais uma vez da morena _Gostar, eu gosto de pudim de leite e batata assada. O Remo eu amo. _ e sorriu, levemente, levantando-se. _Não quero ter errado, Bella. Você tem que nos provar que eu estava certa. _e voltou para dentro da escola, subindo lentamente a escadaria.


           Bella acompanhou-a com os olhos, pensando em como uma menina de onze anos podia ser tão mais positiva, ter uma visão tão mais simplificada da vida.


           Talvez fosse isso. Talvez fosse a pureza que os onze anos de Tonks lhe garantiam que dava esse otimismo, essa esperança.


           Mas ela estava certa. Bella merecia uma chance, e precisava dela. Só queria se certificar de quão necessária era essa chance agora.


 ***


            Thiago puxou uma Lilly confusa até o canto mais silencioso da sala e sentou-a em um sofá.


           _Lilly, _ele ajoelhou-se a sua frente e afastou uma mecha de cabelo para longe de seu rosto _tem alguma coisa que você precise me contar? Qualquer coisa. Você sabe que pode me contar qualquer coisa, certo?


           Lilly encarou-o assustada, e ele achou que ela estava prestes a cair no choro. Mas ela puxou o ar com força uma vez, e empinou o corpo.


           _Você percebeu.


           _Lírio... _ele levantou-se e sentou-se ao seu lado, segurando suas mãos _Por que você não me contou?


           _Eu... _ela desviou o rosto, e encarou os joelhos _Eu queria ter certeza. Queria ter certeza antes de assustar você.


           _Me assustar? _ele perguntou, e segurou seu rosto com as duas mãos, obrigando-a a encará-lo. Viu lágrimas se acumulando em seus cílios e beijou seus lábios antes de completar _Lílian, eu não ia me assustar.


           _Como não ia se assustar? _ela se desvencilhou dele e esfregou os olhos com as mãos _Isso muda tudo, Thiago. Eu estava assustada! _ela enfatizou, apontando para si mesma _Eu... Eu estou assustada...  _e apoiou a cabeça nas mãos, encarando novamente os joelhos.


           Thiago suspirou. _Amor, eu sei disso. _ele desceu do sofá e ajoelhou-se novamente a sua frente _Eu sei que isso é novo, é algo diferente, é algo que você não esperava _ele ergueu seu rosto com uma das mãos _É algo que nenhum de nós esperava, e Merlin sabe como você odeia quando as coisas não saem do jeito que você planejou. _ele sorriu _Mas nós vamos dar um jeito, Lilly. Eu não estou dizendo que vai ser fácil, porque nem nos formamos ainda. E eu sei que vai ser mais difícil ainda para você. Você vai passar por todas as mudanças físicas, biológicas, mas eu vou estar com você, Lírio. _ele beijou novamente seus lábios _Vou estar sempre. Não sabemos como vai ser a reação dos nossos pais, não sabemos como o diretor vai reagir, mas, Lilly, não me interessa nada disso. Porque... _ele passou a mão por sua barriga _o nosso bebê está aqui. Nosso. Uma parte sua e minha, uma parte do nosso amor. Você se dá conta de como isso é mágico? _Lilly fez um leve sim com a cabeça _Eu amo você, mais do que qualquer coisa na minha vida. E já amo esse bebê, Lílian. Amei desde o momento em que soube que ele existia. Eu não ligo se eu tiver que largar a escola, se eu tiver que ir procurar um emprego, não ligo de largar o quadribol, Lílian. Não ligo para nada disso, se eu tiver você. _ele encarou o ventre da namorada e sorriu novamente _Vocês.


           Lílian fungou uma vez, tentando conter as lágrimas, e jogou-se em seus braços, abraçando-o.


           _Eu... _ela afastou-se um pouco para olhá-lo _Eu não fiz o teste ainda. Estava com medo de ter certeza.


           Ele apertou sua mão. _Você não precisa ter medo agora.


           Lílian fez que sim. Então se levantou e voltou ao dormitório, onde uma caixa de testes de gravidez repousava escondida embaixo de sua cama.


 ***


           Thiago voltou para o lugar onde os amigos estavam sentados, mas só encontrou Sírius.


           _E então? _o amigo perguntou, enquanto ele se largava sobre uma poltrona ao seu lado _Posso comprar os charutos?


           _Ela foi fazer o teste. _Thiago respondeu com calma _E os outros, onde estão?


           _O Aluado foi até a biblioteca pegar um livro. O Rabicho foi com ele. E por que, diabos, você está sorrindo?! _ele perguntou, fazendo uma careta de descrença _Não tem noção de como isso vai mudar sua vida? Não está assustado?


           _Não. _ele se recostou à poltrona _É lógico que isso vai mudar minha vida. Para melhor.


           _Ahan, falou, Pontas. _e olhou por cima do ombro _Pode falar sério agora, a Lílian não está aqui.


           _Estou falando. _Thiago ergueu as sobrancelhas. Então sentou-se reto, novamente _Você não se dá conta? Desde que eu conhecia a Lilly, eu sabia que era isso que eu queria. E eu sabia que eu ia conseguir. Que eu ia me casar com ela, e ter uma família. Foi um pouco mais cedo do que eu pensei, _ele deu de ombros _mas porque eu iria reclamar? Quanto antes melhor, certo?


           _Cara. _Sírius torceu o nariz _Você está totalmente perdido.


           _Se for um menino, vai se chamar Harry. _ele falou, sonhador, com um imenso sorriso no rosto. Então fez um quadro com as mãos, como se mostrasse uma imagem panorâmica _Harry Potter, o que acha?


            _Harry? Harry Potter? _Sírius torceu o nariz, novamente _Isso aí é nome de duende. Seu filho vai ser um nerd de óculos, magricelo e despenteado, se você chama-lo disso aí. Coitado, ninguém de Hogwarts vai gostar dele.


           _Eu sou magricelo, despenteado e uso óculos. _Thiago lembrou-o _E acho que as pessoas gostam bastante de mim, se quer saber.


           _É, mas isso só acontece porque você deu a grande sorte de, no seu primeiro dia de aula, conhecer a mim. _e apontou orgulhoso para si mesmo _Vai saber se seu filho vai dar uma sorte dessas, né? Melhor garantir e arrumar outro nome.


           _Ah, é? _Thiago ergueu uma sobrancelha, desconfiado _Tipo qual?


           Sírius imitou seu gesto, fazendo uma panorâmica com as mãos. _Sírius. Sírius Potter. Forte, não? Viril. Másculo. Isso, sim, é nome de gente. E se ele der um pouco de sorte, ele puxa a mãe, e nasce com olhos verdes. Que tal? _e piscou para ele _Aí, sim, hein.


           Thiago riu, e Sírius acompanhou-o. _Sei não, acho feio uma criança com o mesmo nome que o padrinho.


           Sírius parou de rir, imediatamente, em choque. Thiago manteve um sorriso leve no rosto.


           _Se... Se a Lílian estiver mesmo grávida... Eu gostaria que você fosse o padrinho do bebê. _Sírius continuou mudo de assombro, então ele continuou _Você é meu irmão, cara. Confiaria minha vida a você. E é isso que eu quero fazer, essa criança vai ser minha vida. E eu quero que, se um dia acontecer alguma coisa comigo e, Merlin me livre, com a Lílian, você cuide dele. Aceita.


           Sírius sorriu, finalmente. _Eu adoraria. _ele respondeu, emocionado _Juro que cuidaria dele como se fosse meu filho.


 ***


           As mãos trêmulas abriram a embalagem e viraram a caixinha para ler as instruções. Uma marquinha azul em um pedaço de palito mudaria sua vida para sempre.


           Ela queria poder ter pedido para alguém fazer isso com ela. Agora que estava ali, não sabia se teria coragem de ver o resultado por si mesma.


           Estava com medo. É lógico que estava com medo. Por mais que fosse ela, a segurança em pessoa, isso era diferente de qualquer coisa que ela já tivesse enfrentado.


           Seguiu as instruções com calma, e ficou sentada no vaso sanitário, esperando o resultado sair.


           Sua respiração se descompassou. Tudo bem, era só ficar calma. Mais alguns minutos, e ela saber a resposta. Não podia ser pior do que a dúvida. Certo?  Tudo ia dar certo, afinal.


 ***


           _Thiago. _Lílian aproximou-se deles, caminhando com calma. Thiago pulou da poltrona. _O resultado já saiu. _ele prendeu a respiração e apertou as mãos dela. Lilly riu, descontraída _Deu negativo, pode relaxar.


             A apreensão de Thiago desapareceu, mas o que surgiu no lugar foi um desapontamento que ele tentou disfarçar sob uma alegria forçada.


             _Yei! _ele fez, de forma bem pouco convincente _Que bom, Lilly! _e sentou novamente.


             Lílian ficou parada, encarando-o sem entender. Então virou-se para Sírius.


             _Ele ficou triste?


             Sírius deu de ombros. _Tem louco para tudo do mundo, não é mesmo?


             _Amor, _Lílian ajoelhou-se a sua frente _nós vamos ter nosso bebê. Só não era o momento certo. Foi melhor assim.


             _Ele ia se chamar Harry. _ele resmungou, com uma expressão emburrada.


             _Ele vai se chamar Harry. Só não vai ser agora. _Lílian levantou-se e beijou-o _Mas obrigada por ter me apoiado. Eu amo você. Amo você por tudo que você faz por mim, por tudo que representa... _e beijou-o novamente, enquanto Sírius fazia cara de nojo.


             _Pelo amor de Mérlin, parem com essas demonstrações públicas de afeto! Vão para um quarto!


             Lilly afastou-se, e Thiago bagunçou o próprio cabelo. _Sim, eu vou. _ela respondeu _Preciso arrumar uns livros. Vejo você depois. _ela falou para Thiago, e subiu novamente a escadaria dos dormitórios femininos.


             _Não acredito que você ficou triste, porque não vai ser pai na adolescência.


             _Não me amola.


             _Seu esquisito.


 ***


             O resultado ainda repousava sobre a pia. Ela tinha esperanças de que ele mudaria, se o deixasse ali por alguns momentos. Mas, mesmo agora, minutos depois, enquanto o encarava, a sentença continuava a mesma.


             Dois palitinhos piscavam resolutos para ela.


             Grávida.


 ***


             _Eu já podia até mesmo vê-lo, sabia? _Thiago encarava desanimado o teto _Ele seria apanhador. O melhor. Entraria para o time no primeiro ano, e seria o galeão de ouro da Grifinória. Eu o ensinaria a voar, Lílian o deixaria louco com os estudos...


             _... E o ensinaria a conquistar as mulheres. _Sírius concluiu. _Tem certeza que não quer reconsiderar? Talvez você tenha falado no calor do momento, mas eu vou entender se você quiser o Remo ou o Pedro como padrinho do seu filho. Eles têm bem mais juízo que eu.


             _Não, você vai ser o padrinho do Harry. Quando ele existir, lógico. _ele forçou-se a emendar _Nunca nem passou pela minha cabeça convidar outra pessoa. _Thiago esfregou os olhos _Cara, isso me deixou cansado. Eu já tinha feito planos, imaginei nossa casa, morar só com a Lilly, e nosso bebê...


 ***


             Ela encheu as mãos com água, novamente, e jogou no rosto.


             Mãe.


             Ela seria mãe.


             Encarou o reflexo cansado no espelho. Seu rosto estava sem brilho, tinha olheiras, os olhos estavam inchados de chorar. Perdera peso, ao invés de ganhar. Isso não devia ser bom, claro.


           Mas o que ela podia fazer? Só tinha uma opção.


           Contar? Contar a verdade?


           Não, essa não era, na verdade, a única opção. Ela podia fingir que aquele bebê não existia. Aquele bebê podia, simplesmente, não existir.


           Mas, quando passou a mão pela barriga, não conseguiu nem concluir a ideia. Aquilo, aquele ser, crescendo ali, era dela. Dela. Ela o queria.


           Ergueu os olhos novamente, e afastou o cabelo negro do rosto. Não ia se abater. Ela não ia ficar com medo de contar a Sírius, ou de enfrentar as consequências. Ela era Belatriz Black, afinal.


 ***


             _Pontas, esquece isso, caramba. _Sírius se espreguiçou _Sério, ser pai, na adolescência, deve ser um saco.









Tito, vc recebeu meu e-mail? Bom, vou responder por aqui, do msm jeito, caso naum tenha recebido. rs
Fiquei mto mto mto feliz ao ler seu coment. Sou eu a autora de Quatro Faces e A Face Oculta, sim. Eu amei escrever aquelas fics, então eu ainda ficou voando de felicidade qnd falam bem delas... rs Mto obrigada pelos elogios, vc fez uma autora mto feliz :D
Fiquei super honrada por vc ter escolhido as duas para colocar na lista de melhores HHs.... Eu usava o cadastro da minha irmã, antes, pra escrever, e qnd as fics acabaram eu resolvi começar um cadastro com meu nome, e mudar um pouquinho os shippers. O q achou do resultado? rs
Mto obrigada novamente :D
Bj!


Sah, obrigadaaa por não desanimar nem com a demoraa! :D Acho q ainda sai outro este mês, consegui férias no trabalho Yei!! Rs Espero q tenha gostado desse, me fala o q achou :D Bj!!

Lori, vou correr, para conseguir mais um para este mês :D Mas continue por aki, não desanima, não. O q achou desse cap? Bj!!

Jack, agora q vc vai xingar mto alto!! Bella vai ter neném!!!! Oo rsrsrss Aaaai, Jack, naum faz isso comigo naum. Olha aí, mais um cap. No msm semestre!!! E acho q ainda vem um esse mês. To de férias!!!! Yei!!! rsrsrs Oh, naum me larga aqui, não :( ..... rs O q achou desse cap? Bj!!!!

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Comentários (3)

  • barbara amorim brandao

    Ahhhhhhhhhhhhh,continua.Eu quero saber o que a Bella vai fazer.Cara, eu amo a Bella. 

    2013-01-04
  • Ana Paula B Potter

    putz, eu to com dó da Bella... tipo, o Sirius não vai reagir bem, nem um pouco só fico pensando no que vai acontecer com ela e a criança... ri muito do Thiago... sério, ele é um dos melhores personagens que existe... amo ele *-* não consigo acreditar que alguém como o Dumbledore se deixou enganar pelo Pedro não faz sentido nunca fez nem nunca fará curiosa *-* posta logo

    2011-10-06
  • Sah Espósito

    Oiii Gostei sim do capitulo e nao vou desistir! Ms acho que Lily podia ter dado mais suspendse sabe! rsrs   Como será que o Sirius vai reagir hein?!   Curiosissima!

    2011-10-05
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