Uma longa, longa noite



Cap. 14_


             Thiago puxava insistente a blusa de Sírius, enquanto ele tentava conversar em paz com Penny Bradford, encostado a parede e debruçando-se sobre ela.


             _Mas o que é que você quer, Thiago? _ele explodiu, finalmente virando-se para trás _Não vê que eu estou ocupado? Vai procurar o que fazer, vai.


            _Você está saindo do foco. _Thiago resmungou, puxando-o pela manga da blusa. Penny olhou-o com cara feia _Viemos aqui para tirar o pudim da mesa, antes que alguém o coma! Colocamos soro da verdade nele, Sírius. Não deu para os elfos tirarem. Tudo bem que ele não é muito forte, mas se alguém comê-lo... _Thiago bagunçou os cabelos _Não quero nem pensar em como vai ser constrangedor.


             _Bom, _Sírius comentou casualmente _você devia ter chegado mais cedo, então. _e apontou para além das costas de Thiago e ele virou-se para olhar. Algumas pessoas se dirigiam à mesa e enchiam pratinhos plásticos com pudim.


             _Sírius, Sírius! _ele virou-se para o amigo, com uma expressão meio desvairada _O que vamos fazer?! _e passou as mãos pelos cabelos _Lily vai me matar!


            _Ah, Thiago, pára com isso! _Sírius exclamou, desinteressado _Lily já ficou brava com você várias vezes. Uma a mais, uma a menos qual é a diferença?


             _Ela... _ele desviou os olhos do amigo _Ela me beijou...


             _Lílian Evans beijou você? _Sírius perguntou fazendo uma careta.


             _Não precisa fazer essa cara de “choveu tinteiro”. _Thiago resmungou _Ela acha que eu sou um cara decente, agora. E sabe qual é o problema? Eu não sou. Eu pus soro da verdade no pudim da reunião do Slughorn, só porque ela vinha com o Remo. Ela não vai querer me ver nem pintado de ouro, depois disso.


             _Cara... _Sírius fez uma careta de novo _Você está me assustando. Mas é tarde demais, amiguinho. Prepare a tinta dourada, porque eles já estão comendo.


             Thiago olhou em volta e depois se virou para Sírius novamente. _Não, espera, espera, tem um jeito. _ele respondeu, esperançoso e com um sorriso animado _Fica olhando.


             Thiago caminhou em uma linha reta até um garoto do seu tamanho que comia pudim perto da parede. Ele parou a sua frente, sorrindo abertamente e o garoto ergueu os olhos.


             _Sim? _o garoto perguntou desconfiado, vendo que Thiago não dizia nada, apenas ficava parado a sua frente, encarando-o com um enorme sorriso idiota.


            Sem aviso prévio e sem parar de sorrir, Thiago deu um tapa para baixo no pratinho, fazendo todo o conteúdo virar no chão.


             O garoto encarou-o com uma expressão horrorizada e sem compreender, ainda com o garfinho na mão. Thiago continuou sorrindo.


             _Seu louco. _o menino resmungou e se afastou, com a mesma expressão confusa. Thiago caminhou até Sírius, ainda sorrindo.


             _Viu? _ele perguntou como se essa fosse a idéia mais genial que já tivera na vida _É bem simples.


            _Ah, é. Simples porque ele é do seu tamanho. Quero ver quando for a vez do Rodolfo e do Lúcius, que são duas vezes maior que você.


             _Para isso que eu tenho você, meu chapa. _e deu palmadinhas em suas costas _Vamos lá, me ajude nessa. _e saiu caminhando entre as pessoas, procurando meios de evitar que comessem o pudim.


            Sírius deu um suspiro cansado, e saiu na direção oposta, enquanto Penny ficava para trás com uma expressão desapontada.


 ***


             Remo e Frank tinham acabado de voltar com bebidas para Lily e Alice e os quatro conversavam animadamente. Lily acabara de levar seu copo aos lábios, quando viu Thiago se esgueirando pelo meio dos convidados, pegando vários pratinhos das mãos dos outros no caminho.


             Quase cuspiu de volta o que tinha posto na boca. Forçou-se a engolir, sorriu para os outros, pediu licença, e saiu marchando na direção dele.


             _Tem mais desses na mesa. _Lily resmungou, de braços cruzados atrás dele, e Thiago deu um pulo assustado. Ele virou-se para ela, com uma pilha de pratinhos nos braços.


             _Lily! _ele exclamou, fingindo entusiasmo _A verdade, é que estou salvando a vida deles... _ele murmurou, com uma careta _Acho que esse pudim está estragado.


            _Ah, sim? _ela perguntou descrente. Então pegou uma colher e enfiou no prato que estava por cima _Deixa eu ver.


             Thiago tentou estender o braço, mas Lily manteve a colher fora do seu alcance. Virou o rosto para longe dele, e levou a colher até a boca.


             _NÃO Lily, não engole isso aí, não! _Thiago gritou, por fim e Lily cruzou os braços, virando-se para ele, com um olhar rígido que lembrava muito o de McGonagal.


             _Muito bem, o que você aprontou agora?


             _Ora, Lílian, assim você me ofende. _ele resmungou, com as sobrancelhas franzidas. Lily ergueu uma sobrancelha, em um gesto descrente. Ele deu um suspiro frustrado _Ok, eu coloquei soro da verdade no pudim. _ele respondeu, como se estivesse apenas dizendo o nome de um ingrediente.


             _O quê? _os olhos dela se arregalaram, drasticamente _Thiago, como você pôde?


             _Eu fiquei aborrecido. _ele resmungou como uma criança manhosa _Você convidou o Remo para vir com você, e eu não vinha, então eu e Sírius fomos até a cozinha e... Fizemos isso.


            _Seu mimado, egoísta! _ela repreendeu, com os dentes cerrados, dando um tapa no braço dele, ameaçando derrubar a pilha de pratinhos no chão. _Não acredito nisso, Thiago, como pode ser tão criança? Você não precisa disso tudo. _ela acrescentou, séria, abrindo os braços e indicando a sala ao redor _Você já tem seu mundinho ridículo cheio de glamour e baba-ovos idiotas seguindo você para cima e para baixo e...


             _Hei, Remo também tem tudo isso... _ele protestou, franzindo a testa _Tem uma horda de alunas atrás dele, se você quiser saber. _e cutucou-a com o cotovelo e com uma expressão de divertimento _Inclusive a priminha do Sírius, aquela que estudava com ele, sabe?


             _Thiago, não é disso que eu estou falando e... _Mas ela se interrompeu, absorvendo o que ele tinha dito. Aquela menina do primeiro ano gostava dele? Bom, isso explicava bastante coisa. Então sacudiu a cabeça, afastando esse pensamento _Mas você está desviando do assunto, seu criança, perturbado... _e virou-se resmungando, mas mal dera dois passos e virou-se novamente para ele _Aliás, que mal lhe pergunte, como foi que você entrou? _ela perguntou com uma expressão inquiridora.


             _Ah, eu vim com uma menina aí, que eu encontrei na porta... _ele disse e passou a mão pelo queixo pensativo _Mas eu não lembro o nome dela.


             Lily respirou profundamente, tentando manter a calma, de olhos fechados e apertando a ponte do nariz. _Thiago, você se aproveitou de uma menina sem par para...


            _Ah, não, ela tinha par, sim, não pense essas coisas de mim. _ele se defendeu, como se a idéia fosse absurda _Mas ela pareceu muito contente por deixá-lo do lado de fora para vir comigo... _e deu de ombros _Quem entende, não é mesmo?


             Ela estava estarrecida. _Primeiro, temos que resolver o problema do pudim. _ela sibilou, apontando o dedo para ele _Depois, eu acabo com sua raça, de acordo? _ele se afastou um palmo, com uma careta. Ela se endireitou e continuou com mais calma _Certo, você vai até a mesa, pega a travessa de pudim e desaparece com ela, certo? _ele fez que sim com a cabeça _Discretamente, pelo amor de Merlin, Thiago.


            _Ora, como se alguma vez eu fosse indiscreto.


             _Eu vou evitar que as pessoas que já estão com o prato comam. Vou chamar o Remo. _e virou-se.


            _O Sírius está aqui. _ele gritou para as costas dela _Se o encontrar, mande-o fazer isso, também. _ela fez um positivo com a mão e continuou caminhando. Em poucos segundos, Thiago já a perdera de vista.


             Frustrado, ele bagunçou a parte de trás do cabelo. E pensar que tinha uma época em que podia aprontar tudo o que quisesse sem se importar se alguém ia ficar bravo. Ah, bons tempos aqueles.


 ***


             Na verdade, na verdade, Sírius não estava procurando pessoas com pratinhos de pudim na mão. Ele estava procurando uma pessoa para ver se ela tinha um pratinho de pudim na mão. Deu um minúsculo sorrisinho cretino, quando a viu saindo da mesa, com o doce.


             Ele tinha certeza. Ela adorava pudim.


             Olhou em volta, procurando o abutre que ela costumava chamar de noivo, mas não o viu em parte alguma. Então se aproximou dela.


             _Eu não comeria isso, se fosse você. _ele murmurou em voz baixa, às suas costas, rente ao seu pescoço.


            Ela se arrepiou, mas não se virou. Sabia de quem era aquela voz.


             _Você por aqui, renegado? _ela perguntou com um tom de voz sarcástico _O Slughorn está mesmo baixando o nível dos convidados.


             _Não fui convidado pelo Slughorn. _ele respondeu, calmo _Fui convidado por uma morena lindíssima, chamada Penny, que vai acabar a noite comigo, na cama.


             Bella virou-se para ele, com a cara fechada. _Continue contando suas conquistas sórdidas para mim, Sírius, e qualquer dia eu coloco poção broxante na sua comida. _ela retrucou.


             _Ora, ora, Bella, está com ciúme? _ele perguntou, com uma expressão de falsa curiosidade.


            _Não estou com ciúme, Sírius, porque eu tenho também um moreno lindíssimo, alto e forte que, se eu quiser, também vai acabar a noite na cama comigo. _ela respondeu com um sorriso leve e cínico.


             _Mas não é a mesma coisa, é, Bella? _ele curvou-se para mais perto dela, e sua respiração resvalou novamente em seu pescoço _Vai dizer que quando eu acabava a noite na sua cama não era muito melhor.


             Bella fingiu pensar por um instante. _Potatos, batatas... _ela deu de ombros _Dá tudo na mesma...


            Sírius riu. _Que sarcasmo mais estragado, Belatriz. Está perdendo o jeito. Viu? Viu como somos feitos um para o outro? Somos cínicos, sarcásticos, lindos, engraçados... Eu sou sua outra metade.


             _Eu não gosto de homens pela metade. Prefiro os interinhos. _ela retrucou séria. Sírius fechou a cara. Então ela sorriu, triunfante, e enfiou a colher no prato de pudim, levando-a cheia até a boca. _Espera, _a colher parou no meio do caminho e ela parou de sorrir _porque disse que não comeria se fosse eu? 


            Sírius pensou por um milésimo de segundo.


             _Porque engorda. Mas come, aí, você não precisa de se preocupar com isso. E deve estar uma delícia.


             Ela terminou de levar a colher a boca. _É, está mesmo. _e saiu caminhando, deixando Sírius para trás com um enorme sorriso vingativo no rosto.


 ***


             Thiago ergueu-se lentamente, por trás da toalha de mesa, e olhou para os dois lados. Uma música dos Duendes Metálicos tocava nos megafones e ninguém prestava atenção nele nesse momento. Ele terminou de se erguer, agarrou a travessa e abraçando-a com um dos braços, virou-se para sair rapidinho dali.


             _Roubando comida agora, Potter? _Thiago deu um pulo de susto ao dar de cara com Régulos e Severo, parados a sua frente. Tinha que parar de se assustar desse jeito.


            _Que nada, vou levar para passear. _ele sorriu para os dois, parecendo inocente. Nenhum dos dois sorriu de volta.


             _Desculpe se nós não rimos da piada, Potter. _Severo provocou _É que nós temos cérebro.


             _É, mas coragem você só tem quando está acompanhado, não é mesmo? _ele retrucou fechando a cara para ele.


            _Você se acha muito corajoso, não é mesmo? _Régulos perguntou, saindo em defesa do amigo _Só porque está sempre cercado pelos jogadores do time, ou então pelo retardado do meu irmão e por aquele outro amiguinho com um pouco mais de músculo do que de cérebro, como é mesmo o nome dele, Lupin?


             _Eu nunca precisei de nenhum deles para entrar em uma briga, Black. _ele deu um sorrisinho cínico _Quer experimentar? Brigo com os dois, e com a travessa de pudim debaixo de um braço.


             Régulos riu. _Olha lá, hein, Potter, da última vez que você me enfrentou foi no campo de quadribol e eu venci.


             Thiago revirou os olhos. _Porque eu não estava no ar.


             _Porque caiu. E se você caiu, e eu não, quer dizer que eu vôo melhor. Portanto, eu venci.


             _Ah, mas eu não caí, não. _ele abanou a mão em um gesto de descaso _Eu pulei. Não sabia, não? Minha namorada pediu, e eu pulei.


            _Sua namorada pediu? _Régulos retrucou com uma expressão contrariada _Você não tem namorada!


             _Lógico que eu tenho namorada. _ele respondeu como se fosse óbvio _É uma ruiva bonita, monitora chefe, vocês já devem ter ouvido falar, Lílian Evans, conhecem?


            O estômago de Severo congelou. Ele não queria acreditar nisso. Simplesmente não queria. _Você está blefando. _ele sibilou _Lílian nunca nem olharia duas vezes para você, se você não fizesse questão de receber detenções dela pelo menos uma vez por semana. Olha só para você, _ele fez uma expressão de desprezo _se acha muito especial, mas você nunca vai ser digno dela. Ela está destinada a algo grandioso, Potter, e você certamente, não está incluindo nos planos. _ele fechou a cara para ele, mas antes que pudesse responder, ele continuou _E passa logo esse pudim para cá, ou eu vou contar ao professor Slughorn que você está tirando comida da festa dele.


             Thiago pensou por uns instantes. Então sorriu. _Com prazer. _e esticando o braço, destampou a travessa. Severo encheu um pratinho com o pudim e Thiago tampou-o novamente.


             _Que bom ver que está ficando educado, Potter. _Régulos comentou, e eles se afastaram.


             _Será que é verdade? _ele se perguntou com uma expressão angelical e, então, saiu caminhando pela sala para se livrar daquilo.


 *** 


            Bella comia o pudim lentamente ao se juntar a Rodolfo, que conversava com Ciça e Lúcius, sentados em alguns pufes no canto da sala.


             _Oi... _ela apoiou a mão livre no ombro do namorado e curvou-se para frente _Do que estão falando?


             _Que Lílian Evans está ficando louca. _Ciça resmungou, em um tom choroso _Ela acabou de me tirar meu pratinho de pudim, dizendo que o pudim estava sendo confiscado, porque estava doce demais. E agora, o que eu vou fazer sem meu pudim?


            _Tem mais na mesa. _Bella respondeu, sem paciência _Levanta daí e pega. _ela completou, enquanto Rodolfo erguia o braço e pegava o prato que ela tinha nas mãos, experimentando um pouco do doce.


             _Não tem mais, não. Acabou.


            _Tudo bem, Ciça, a Bella pegou. _Rodolfo estendeu o prato para ela _Quer um pouco desse aqui?


             _Ei, esse pudim é meu! _Bella protestou, mas Ciça já avançava para o prato, animada, com sua própria colher nas mãos.


             _Bella, pára com isso. _Rodolfo repreendeu _Ela é sua irmã mais nova.


             _Bom, isso é o que a família quer que ela acredite, porque sabe, veja só, ela é totalmente loira. E meus pais são morenos, assim como eu, minha irmã e meus primos. Como ela explica isso?


             _Bella! _Lúcius exclamou, erguendo os olhos para ela _Que grosseria.


             _Ah, corta essa. _ela riu _Você falando de grosseria? Você é o senhor grosseira em pessoa. Você só é gentil, quando você quer alguma coisa. Aliás, _ela baixou a voz e se curvou para a irmã _Ele está sendo gentil com você, Ciça? Cuidado com o que ele vai pedir em troca.


             _Ah, tudo bem. _Ciça ergueu o rosto, os lábios ainda com calda de pudim _Porque eu não vou dar nada.


             _Narcisa! _Lúcius exclamou, em choque.


            _Belatriz, o que deu em você? _Rodolfo perguntou, genuinamente preocupado.


             _Eu não sei. _ela franziu a testa _Eu disse isso tudo em voz alta?


             Rodolfo levantou-se e começou a puxá-la pelo braço _Vem, vamos dar uma volta.


             _Ah, não, naquela direção, não. _ela respondeu puxando o braço _Porque o Sírius está lá, e se eu vê-lo, é bem capaz de eu agarra-lo. _e fez uma expressão inocente _E eu não quero fazer isso, sabe, não quero mesmo, porque ele não presta, de verdade.


             _Belatriz! Você é minha noiva! _ela exclamou, embasbacado.


            _Ah, não, eu sei disso. _ela tranqüilizou-o _Mas isso não quer dizer que eu já deixei de amar meu primo, sabe? Porque eu não deixei. Mas não se preocupe, eu juro que estou me esforçando para amar você agora.


             Rodolfo ficou encarando-a por alguns instantes. _Quer saber? _ele deu de ombros _Nem ligo. Porque você está comigo. E eu adoro sair por cima das pessoas. Eu adoro ter o que as pessoas querem. Só para falar que eu tenho. E acredite, tem muitos alunos nessa escola que querem você. E eu tenho paciência, você pode gostar dele por enquanto, mas esse amor vai ser sufocado, vai morrer, e vai ser do meu lado que você vai estar.


            _Espera, espera. _ela estava confusa _Está dizendo que você não liga de estar comigo mesmo eu gostando de outro, só para poder se exibir para todo mundo. _ela sorriu para ele _Merlin, Rodolfo, como você é mesquinho, exibicionista e metido!


             _Não sou mesmo? _ele sorriu para ela _E você é uma falsa, que fingiu me amar esse tempo todo, mesmo gostando do seu primo. Mas tudo bem, eu amo você mesmo assim. _então ele franziu a testa _Espera, espera. _e fez uma expressão séria _Eu sou corno?


            _É. _ela começou a rir _Não é engraçado?


             _Não. _ele retrucou, emburrado _Não teve graça. Eu devia trair você, só para me vingar.


             _Ora, _ela deu um tapinha de brincadeira no braço dele _Deixa disso, vem, _e começou a puxar seu braço para a pista de dança _vamos dançar.


             _Estou muito aborrecido com você. _ele resmungou _Mas eu vou, só para todo mundo me ver com você.


             E saiu caminhando com ela. Bella ainda ria. Rodolfo a conduzia como se estivesse em um desfile.


 ***


             Lílian reuniu-se com Thiago, Remo e Sírius, no canto mais silencioso da sala, depois de terem eliminado todo o pudim do lugar. Sírius estava de costas para a parede, com um pé apoiado nela e o outro no chão. Lily bufou, imaginando a marca do tênis que ficaria na tintura clara.


             _E então? _ela perguntou aproximando-se, ainda muito agitada _Como foram?


             _Joguei o pudim no banheiro. _Thiago respondeu, sentando em um pufe _Que desperdício, não é mesmo?


             _Acho que conseguimos pegar todos os pratos, Lily. _Remo respondeu. Não parecia nem um pouco aborrecido com a intromissão dos amigos. Pelo contrário, parecia ter achado tudo muitíssimo engraçado _Claro, acho que algumas pessoas deram uma colherada ou duas. Mas acho que pouco assim não faria efeito, faria?


            _Ah, faria. _Sírius respondeu por ele _Por bem pouco tempo, mas faria. _Lily arregalou os olhos para ele _O quê? Não faz essa cara, não é o fim do mundo. Eles vão passar uma hora ou duas falando verdades, mas depois já não vão lembrar de nada. Vai ser como uma bebedeira, só que sem a ressaca. Amanhã mesmo eles não farão a menor idéia do que disseram, fizeram, ou ouviram hoje. Que mal pode haver?


             Nesse momento, dois garotos no outro canto da sala começaram a brigar.


             _Esse. _ela rosnou para o maroto _Esse é o mal que pode haver.


             _Ah, qual é? _Sírius fez uma careta _Você não pode nem provar que eles estão brigando por causa do soro.


             _Agora ouçam bem, vocês dois, _e apontou para Thiago e Sírius _vocês vão passar o resto da noite, separando as brigas. Não quero ninguém com nariz quebrado, ninguém com pés de alho brotando dos ouvidos, ninguém com galos no meio da testa na enfermaria. _então deu um suspiro aliviado _Pelo menos ninguém comeu um prato inteiro.


             Thiago e Sírius trocaram olhares culpados. _O quê? _Lílian perguntou exaltada, virando-se para eles _O que foi que vocês fizeram?


             _Bom, _Thiago bagunçou a parte de trás dos cabelos _eu meio que dei um prato para o Snape.


            _Meio? _Lílian respirou fundo. Enquanto suas bochechas ficavam púrpuras _Meio que deu? Como é que se “meio que dá”?


             _E eu para a Belatriz. _Sírius completou e Remo começou a rir. Lílian virou-se para eles espumando, e nenhum dos três ficaria surpreso se começasse a sair fumaça de suas narinas.


             _Como é que vocês podem ser tão irresponsáveis?! _ela explodiu _Eu tinha acabado de falar com vocês!


             _Tudo bem, Lily, sério. _Sírius tentou acalma-la _Eles vão falar muito durante essa noite, mas só isso. Pára de drama, vai. _ele fez um gesto de descaso com a mão _Eles nem vão lembrar amanhã.


             _Eles podem ofender os outros alunos! _ela berrou _Eles podem contar coisas constrangedoras sobre si mesmos! Eles não vão lembrar, mas os outros vão! Vocês não se importam com isso? Com o bem estar dos outros? Só se preocupam com o divertimento de vocês?! _e, de repente, algo lhe ocorreu.


             Uma aluna metamorfomaga.


             Um objeto.


             Uma outra pessoa.


             Essa era a hora!


             Ela não teria outro momento mais propício do que este para conseguir descobrir o que Voldemort queria no castelo.


             _Eu... _os três repararam que seu olhar ficara desfocado e ela parara de gritar _Eu vou... _Ela começou a gaguejar. Bom, aquilo era muito, muito suspeito. _Vocês vão manter todos longe de encrencas, certo? Especialmente a Belatriz que comeu um prato inteiro. _e virou-se _Eu vou atrás do Severo.


            _Ei! _Thiago exclamou, pondo-se de pé _Não vai, não! _mas a ruiva já tinha desaparecido entre os demais convidados.


 ***


             Narcisa terminou o pudim com uma expressão levemente sonhadora no rosto. Ela girou lentamente o rosto para Lúcius, que sorria para ela, e piscou os olhos azuis claros de um modo inocente.


             _Sabe... Nunca passou pela minha cabeça que um dia eu ia sair com você...


             _Por quê? _Lúcius sorriu convencido _Por que eu sou lindo de mais para uma garotinha do quarto ano?


            _Não. _Ciça respondeu como se a idéia fosse absurda _Porque eu não vou com a sua cara. _e levantou-se.


             Lúcius levou alguns segundos para assimilar. Então se levantou e foi atrás dela. _Como é que é?


             _Verdade. _ela afirmou com o tom natural, enquanto continuava a caminhar _Você é mesmo interesseiro, Bella tem razão. E é convencido. Merlin, como você é convencido. Você só falou de si mesmo, desde que nos encontramos no salão comunal. Aposto que nem sabe qual é minha aula preferida. Sabe por quê? Porque você não perguntou.


             _Eu... _ele ficou sem palavras _Achei que era divertido ouvir sobre mim. Quer dizer, _ele parecia genuinamente surpreso _Ninguém nunca reclamou.


             _Bom, _ela virou-se para ele _não é. _e saiu caminhando novamente.


             Lúcius ficou parado no mesmo lugar, chocado demais para segui-la. Como ela era sincera. E Merlin, como era geniosa!


             E sorriu.


             Ele queria aquela garota.


             Narcisa estava perdida em seus pensamentos, quando Régulos cruzou seu caminho, olhando por cima das cabeças dos demais convidados, procurando alguém.


             Imediatamente, seu rosto se iluminou e ela abriu um sorriso. Dando um passo para o lado, ela interceptou seu caminho.


            _Eu adoro o jeito que você voa. _ela murmurou, de repente, sonhadora. Régulos baixou os olhos, surpreso e curioso. Ele não era muito alto, mas ela ainda era mais de uma cabeça mais baixa que ele.


            _Narcisa, oi. _ele murmurou, constrangido, sem saber o que responder. Ela ainda o encarava com o mesmo sorriso aéreo.


           _Adoro o jeito que você estuda, também. _ela continuou, sem demonstrar embaraço.


          _Eu... Ãnh... _ele gaguejou, uma cor rosada tingindo suas faces pálidas _Obrigado, eu acho. Narcisa, será que você viu o Snape por aí? Sabe, aquele do sétimo ano?


           Narcisa fechou a cara. _Não, não vi. _ela respondeu emburrada _Mas ele não tem graça. Parece um morcego, rabugento.


          Ele fez uma careta, e curvou-se para trás. _Narcisa, você está bem?


          _Estou. _ela respondeu, o sorriso se abrindo novamente _Que bom que você se importa. Porque hoje ninguém tinha me perguntado isso ainda. Estou ótima, e você como vai?


          _Ãhn, bem, também. _ele respondeu, ainda avaliando-a com os olhos estreitos, procurando alguma coisa de errado naquele comportamento. Narcisa estava muito estranha _Ciça, com licença, eu realmente preciso encontrar o Snape. _e saiu caminhando por entre os casais que dançavam na pista de dança.


           _Não, espera. _ela pediu em um tom choroso, e foi atrás dele _Eu nem disse tudo. Eu disse que eu adoro seu jeito de comer? Eu adoro seu jeito de tomar de leite. Você fica tão fofinho tomando leite. 


***


             Bella estava sentada em uma mesa, sozinha, se balançando no ritmo da música. Rodolfo estava conversando com Lúcius, mas o loiro não quis que ela escutasse. Ela disse para ele que não estava nem aí para a vida dele, mas ele não acreditou e se afastou.


             Rá! Como se ela pudesse dizer alguma mentira agora.


             Ao longe, ela viu o professor Slughorn muito ocupado, tentando separar dois alunos que brigavam, porque um deles dissera que a saia do vestido da acompanhante do outro era muito curta e que ela parecia uma piranha.


             Homens.


             No meio do tumulto, Remo Lupin, mantinha os braços estendidos, mantendo os dois briguentos separados, então tudo que eles estavam fazendo no momento era gritar ofensas um para o outro.


             Thiago, do lado do professor, gritava para o amigo, pulando no mesmo lugar: “Isso aí, Aluado, dou todo meu apoio moral! Olha, olha, cuidado que o baixinho ali está preparando um chute, hein? Uhh! Essa doeu! Doeu muito, Aluado?”


             Bella riu. Normalmente ela não riria. Porque não gostava de mostrar que achava graça de qualquer coisa que eles fizessem ou dissessem. Mas naquele dia ela resolveu rir.


             Então, olhou para o professor. Barrigudo. Tentando manter a calma dos dois alunos. Dizendo que a aluna não parecia uma piranha, não, talvez o vestido tivesse encolhido na lavagem (enquanto a aluna gritava que não, que ela tinha comprado desse tamanho mesmo). Sempre tentando manter as aparências acima de tudo. Sempre querendo que todo mundo gostasse dele.


             Mas Bella não gostava. Bella o detestava. Esse protecionismo que ele direcionava a alguns alunos a deixava enojada, ainda que ela fosse um deles. Somente porque ela sabia que ele esperava algo em troca. Mas ela não ia dar. Quando ela fosse influente, famosa e poderosa, ela ia fingir que nem o conhecia.


             Resolveu que ia falar tudo isso para ele. É. Ia sim. Ele merecia ouvir. E ela estava na maior vontade de falar.


             Pulou da mesa onde estava e começou a caminhar na direção do professor, com uma expressão decidida. Ele ia ver só. Ia mesmo.


             Mas antes que ela pudesse completar seu caminho, ela sentiu dois braços abraçando-a pela cintura e tirando seus pés do chão.


             _Opa, opa, opa, aonde pensa que vai, pequeno tufão humano? _Sírius perguntou, ainda carregando-a para bem longe de qualquer um que ela pudesse ocasionalmente ofender.


            _Me desce! Me desce! _ela berrou, e ele finalmente a pôs no chão, quando chegaram perto do banheiro feminino _Sírius! _ela sorriu, quando viu quem era _Se eu soubesse que era você, não tinha pedido para descer.


           Sírius ficou parado, um momento, absorvendo o que ela dissera. Então riu. Olha só, o soro era bom mesmo. Isso ia ser muito divertido.


             _Então, o que é que você ia aprontar, hein? _ele perguntou, se fingindo de bravo _Quem é que você ia ofender?


             Ela arregalou os olhos para ele, surpresa. _Nossa, como você sabe que eu ia ofender alguém?


             _Porque eu conheço aquela cara que você estava fazendo. Cara de tufão humano. _ele mentiu. Não ia dizer para ela que ela estava sob o efeito de um soro da verdade _Quando você começa, não sobra pedra sobre pedra.


             _Ah, que bonito, Sírius. _ela inclinou o rosto _Como você me conhece bem. O Rodolfo não me conhece tão bem assim. _ela acrescentou com um ar meio triste.


            _É porque ele não ama você tanto quanto eu. _ele respondeu com simplicidade.


             _Ama sim. _ela respondeu, bastante certa do que dizia _Ama mais.


             _Claro que não ama. _ele franziu a testa para ela _Ele só quer ser seu namorado para exibir você para os outros.


             _Melhor do que só querer ser meu namorado para me levar para cama, Sírius. _ela retrucou e bateu um dedo no seu peito forte e largo _Que é o seu caso, não é mesmo?


             _É isso o que você pensa mesmo? _ele perguntou, com uma expressão indignada. Sabia que era uma pergunta retórica. Era óbvio que era o que ela pensava. Ela estava sob o efeito do soro ainda _Bella como você é idiota. _ele retrucou, balançando a cabeça, desanimado, e sentando-se na mesa ao lado deles.


             _Então o quê? _ela perguntou curiosa, sentando-se ao lado dele.


             Ele virou-se para ela e se aproximou de seu rosto, até suas testas se tocarem. _Eu vou falar uma coisa, Bella, mas eu só vou falar porque eu sei que você não vai lembrar amanhã.


            _Minha memória não é tão podre assim, Sírius. _ela respondeu, dando um leve sorriso, mas sem se afastar _Fala logo.


             _Eu amo você. _ele murmurou, com simplicidade, como se dissesse isso todos os dias.


             Mas ele nunca tinha dito isso antes, tão sinceramente.


             Bella se afastou, assustada, e ficou alguns segundos assim, encarando-o, como se aquela fosse a coisa mais absurda que ela já tinha ouvido na vida.


             _Por quê? _ela perguntou intrigada.


            _Por quê? _ele repetiu, sem entender _Tem que existir um por quê?


             _Claro, todas as coisas têm seu por que. Sabemos por que as coisas caem para baixo e não para cima. Sabemos por que o céu é azul. Sabemos por que no verão faz calor e no inverno faz frio. Por que você me ama?


            _E as coisas iam começar a cair para cima se não soubéssemos porque elas caem para baixo? Ou o céu ia ser rosa?

           _Mas eu preciso saber porque! _ela fez birra, franzindo a testa.

           Sírius respirou fundo. _Por que você é a criatura mais chata que já passou na terra. _ele deu um sorriso terno, que nunca havia passado pelo seu rosto antes _Por que você come alcaçuz escondido, achando que se ninguém ver não vai engordar. Por que você tem medo das cabeças de elfos empalhadas no corredor da mansão, mas não admite porque morre de vergonha disso. Por que você escreve cartas para os seus pais, toda semana, mas nunca manda porque eles nunca respondem. E você guarda todas em baixo da sua cama, até o último dia de aula, quando você vai até o lago e as queima.


             Bella manteve-se alguns segundos paralisada, com os olhos abertos, em absoluto choque. Então ela sorriu.


            _Mas ora, que coisa. _ela voltou a se sentar bem perto dele, e entrelaçou seu braço ao dele _Que grande coincidência, Sírius, porque eu também amo você, sabia?


             Seu coração saltou. Ele apertou os punhos, esforçando-se para não agarra-la ali mesmo, pega-la no colo e leva-la para longe dali. Ela o amava. Ela o amava de verdade. E ele sabia que era verdade. Porque, simplesmente, ela não podia mentir. Ele nunca se sentira daquele jeito antes. Era como se tivessem lhe devolvido um pedaço vital de seu corpo. Algo sem o qual, clinicamente falando, ele poderia morrer.


             _É mesmo? _ele forçou o autocontrole. Afinal, ele era Sírius Black. Não ia sair saltitando por aí, como Thiago faria se Lily dissesse que o amava. Oras, ele ainda tinha orgulho, não é mesmo?


             _É. _ela respondeu, com um sorriso ainda leve _Você é um pé no saco. Um galinha, pretensioso, convencido e chato. Mas eu amo você, mesmo assim. _então sua expressão se anuviou e ela ficou séria _Mas não podemos ficar juntos.


             _É? _Sírius fingiu desinteresse _Porque não?


             _Porque eu já tentei uma vez. Eu tentei ser a única garota para você, mas você me machucou tanto, que eu não quero tentar de novo. Eu tenho medo de ter meu coração quebrado de novo. Tenho medo de ficar vulnerável novamente, e de ter que lidar com a decepção de ver você partir mais uma vez. _ele viu seu rosto de perfil, e uma pequena lágrima perolada descendo pela linha de sua bochecha.


             _Ei, Bella, _ele esticou o braço e barrou o caminho da lágrima com um dedo _isso não vai acontecer de novo, certo?


             _E, além disso, _ela fungou e olhou para ele _você não tem futuro. Sabia que você não tem futuro? Você vai ser ninguém daqui a alguns anos.


            Sírius afastou-se assustado, com a súbita mudança de humor e riu. _E você vai ser o quê?


             _Eu vou ser a Sra Lestrange. _ela empinou o peito, orgulhosa.


             _Como é que você pode querer casar com alguém que você não ama? _ele perguntou, interessado.


             _Ah, mas eu vou amar. _ela respondeu, voltando a sorrir _Sou uma pessoa empenhada, você vai ver. Meu amor por você vai murchar, morrer, e eu vou amar o Rodolfo.


             Sírius deu um sorriso cínico, e se aproximou novamente _Só por cima do meu cadáver, Bella. _e, inclinando-se ainda mais, beijou-a.


             _Ou, ou! _ela espalmou as mãos no peito dele e o afastou _É errado! Não vou casar com um marido que já foi traído! Ainda mais por mim mesma!


             _Bom, não casa, então. _ele respondeu como se fosse óbvio _Casa comigo. Eu nunca fui traído.


             Ela encarou-o como se estivesse pensando. Então inclinou o rosto novamente. _Sabe, estou com sono.


             Sírius deu um sorriso desanimado. Acabou a festa. Quando ela fosse dormir, o efeito passaria e ela acordaria sem lembrar de nada.


             Bom. Mas ele lembrava. Isso era algo que ele ia lembrar para o resto da vida.


             _Vamos lá, Bella. _ele estendeu a mão para ela e pulou da mesa _Eu levo você até seu salão comunal para você não ofender ninguém no meio do caminho.


             _Oh. _ela murmurou assombrada, seguindo-o _Você sabe onde fica meu salão comunal?


            _Não tem nada nesse castelo que eu não saiba onde fica. _ele começou a rebocá-la pela sala cheia _Vamos logo.


 ***


             Lílian encontrou Severo sentado em uma cadeira sozinho, ao lado da porta, assistindo ao embate de Remo Lupin, Slughorn e dois alunos brigões. Ele parecia triste, abatido e mantinha as mãos entrelaçadas sobre as pernas.


             _Severo... _ela chamou, suavemente, e ele ergueu os olhos. Seu rosto pareceu se iluminar.


             _Lily... _ele sorriu para ela abertamente. Lily parou a sua frente.


             _Eu preciso conversar com você. _ela falou com um tom de voz sério. _Espera, antes de mais nada, você comeu o pudim?


             _Comi. _ele respondeu com simplicidade _Mas se eu fosse você, não comia. Está com um gosto estranho.


             _Ah, certo. _ela suspirou aliviada e sentou-se ao seu lado _Bom, eu... Eu queria saber algumas coisas... _ela estava embaraçada e não sabia como começar o assunto. Severo a encarando com aquele ar de extrema admiração também não estava ajudando _Sobre aquela noite... Aquela em que... _como dizer? Aquela em que você quase me matou cruel e deliberadamente? Optou  por algo mais brando _Aquela em que eu quase morri...


             Bem... Quase mais brando.


             _Lily... Se acontecesse alguma coisa com você, _ele cortou os pensamentos da ruiva, angustiado _qualquer coisa, eu nunca mais seria capaz de sorrir. _Lílian girou o rosto para encará-lo, os olhos estreitos avaliando-o. Ele ia matá-la, pelo amor de Merlin! Como ele podia vir com essa história agora de “eu nunca mais seria capaz de sorrir”? Por outro lado, ele estava sob o efeito do soro da verdade, ele simplesmente não podia mentir.


             Se é que ele tinha comido o pudim.


             _Severo, você comeu mesmo o pudim? _ela perguntou ainda com os olhos apertados, fazendo pequenas ruguinhas no nariz.


             _Comi, o pudim estava horrível, já disse. _ele retrucou. _Mas isso não é importante. Sabe o que é importante, Lily? _ele curvou-se para ela e baixou a voz, até que só ela pudesse ouvir _Eu sei bloquear mentes. Eu bloqueei a mente para o diretor. Acredita nisso? Eu estou ficando poderoso. De verdade.


             Lílian curvou-se para trás, surpresa. Essa era a confirmação que ela precisava. Ele comera o pudim.


             E ele bloqueara a mente para Dumbledore?! Como é que ele tinha feito isso?!!!


            Lílian balançou a cabeça e seus cabelos acajus esvoaçaram em seu colo, forçando-se a ficar focada. Foco, Lily, foco!


             _Eu... _ela curvou-se para perto dele novamente e baixou a voz _Eu ouvi os comensais dizendo, naquele dia, que Voldemort quer três coisas do castelo. Uma aluna metamorfomaga. Outra pessoa. E um objeto. Quem são essas pessoas, Severo? _ela perguntou com urgência _E que objeto ele quer daqui?


            _Ninphadora Tonks é a aluna metamorfomaga. Você não sabia? Sério que você não sabia? Você e o Lupin passaram um tempão estudando com ela, e você não sabia?


             _Eu... _Lily tinha uma expressão chocada. Aquela pequena menina? Uma metamorfomaga? Um poder tão grande, em um corpo tão pequeno e frágil. Isso nunca passara por sua cabeça. E agora Voldemort a queria? Ah, mas ela não ia deixar. Não ia mesmo _Eu não fazia idéia. E quanto às outras coisas?


             Severo deu de ombros. _Os comensais não disseram para os recrutas o que são as outras coisas. _Lily deu um suspiro desanimado. Então ele ergueu uma sobrancelha e sorriu enigmático _Mas eu conseguir ler um pedaço da mente deles enquanto eles tentavam apagar a minha.


             Lily se afastou, surpresa novamente, arregalando os olhos. _Você leu as mentes dos comensais?! Mas isso é... Isso é... _ela não sabia o que dizer _Incrível. Você está se formando agora. E eles devem ter... O quê? Anos de experiência.


             Severo deu de ombros, tentando parecer modesto, mas ainda sorrindo.


             _E então, o que são? _ela perguntou, animada.


             _O chapéu seletor.


             Lily apagou a animação. _O chapéu seletor?


             _O chapéu seletor. _ele confirmou com um sorriso convencido.


             _Para que eles querem o chapéu seletor?


             _Bom, não sei... _ele murchou um pouco _Só deu para ler um pouquinho, sabe?


             _Certo... _ela tentou não ficar desapontada. Isso era mais do que ela tinha antes da noite começar _E a outra pessoa? Quem é a outra pessoa?


             _Não consegui descobrir isso também. A mente humana não é um livro, sabe, que você abre e procura o que quiser. _ele respondeu um pouco aborrecido e com um tom exageradamente solene _É preciso técnica para avaliar as profundezas dos pensamentos e então...


             _Tá, tá, já entendi... _ela cortou-o, impaciente. Esfregando a têmpora com uma das mãos. O chapéu seletor e a prima do Sírius. Isso era muito importante. Muito mesmo. Precisava pensar no que fazer agora _Bem, obrigada de qualquer forma. _e levantou-se para ir embora. Mas antes que pudesse dar dois passos, Severo segurou seu pulso e puxou-a de novo.


             _Você não ia. _ele murmurou, com um olhar profundo.


            _O... O quê? _ela gaguejou perturbada. Aquele olhar sim. Aquele olhar lhe exibia o garoto com quem ela convivera por anos. Aquele olhar se assemelhava ao do amigo que ela confiava cegamente. Não era aquele olhar frio daquela noite em Hogsmeade.


             _Morrer. Você não ia morrer. _ele completou, sem solta-la. Seu pulso palpitava mais forte onde ele a segurava.


             _Severo, você ia me matar... _ela retrucou com uma voz fraca e com uma expressão magoada.


             _Não ia. Claro que eu não ia. Como você pensou que eu fosse?


             _Você disse que ia. _ela retrucou, sua voz subindo algumas oitavas _Você apontou sua varinha para mim.


             _Eu tinha que chegar mais perto de você. Para poder alcançar seu braço. Eu ia aparatar, Lily. _ele explicou, com um tom de voz desesperado _Eu ia levar você comigo. Ia tirar você dali. Nós íamos fugir juntos.


             Lílian desmoronou. Ao ouvir a primeira frase seus olhos já começaram a se apertar, em uma expressão inconfundível de dor. Ao terminar a última, seus lábios já estavam entreabertos, em choque. Ela não podia acreditar naquilo.


             Mas ele estava sob o efeito do soro. Ela tinha que acreditar.


            _Severo, você ia... Você ia traí-los? _ela perguntou com o coração apertado _Por que você não poderia voltar para eles depois.


             Severo deu um riso nervoso. _Voltar? Eu não pretendia voltar. Se voltássemos eles iriam nos caçar e nos matar. Nós teríamos que fugir. Seríamos só você e eu. Eu estava disposto a largar tudo, a escola, toda minha vida, para salvar você. Porque sabe, naquele momento, era a única maneira que eu tinha de fazer isso.


             Lily puxou o braço, repentinamente. Aquilo ainda era muito chocante para ela. Ele não ia matá-la? Ela passara dias e mais dias, se martirizando porque seu melhor amigo ia matá-la, para, no fim, descobrir que ele ia salvar sua vida?


             Ele estava disposto a deixar tudo para trás, por ela?


             Mas e ela? Ela não podia fazer isso. Ela tinha uma família. Largar tudo e fugir juntos lhe parecia meio romantizado demais agora.


             Mas – e seu coração apertava quando pensava nisso – Ele não ia matá-la!


             _Eu... Eu... _ela tentou formar uma frase congruente, enquanto dava um passo vacilante para trás. Ela realmente tentou expressar alguma coisa. Qualquer coisa. Mas não conseguiu _Eu preciso ir. _ela murmurou por fim, e saiu correndo, atravessando a pista de dança acotovelando alguns casais no caminho, derrubando duas almofadas enquanto se precipitava para a porta e batendo-a ao sair.


***


            _Shh. _Bella fez para Sírius, quando eles pararam na entrada secreta do salão comunal da sonserina _Ninguém pode saber que nosso salão é aqui. Não conte para ninguém, é segredo. _ela acrescentou em voz baixa para ele, encostando o dedo indicador levemente nos lábios.


             _Ok... _Sírius murmurou, paciente.


             _E não conte para ninguém tudo que eu disse hoje, também. É segredo. _ela repetiu o gesto.


            _Não acho que alguém esteja interessado no fato de que você me ama.


             _SHH! _ela fez uma cara feia para ele _Eu preciso ir. Porque Filch já me pegou com o Rodolfo fora do salão depois do horário de recolher três vezes, em salas de aulas, _e deu um sorrisinho sacana _e disse que se me encontrasse fora do salão de novo, fazendo coisas erradas, ele ia se certificar que meus pais soubessem disso.


             Sírius fechou a cara para ela. _Coisas erradas?! _Mas ela já não estava ouvindo. Com um tchau, animado demais para uma sonserina, ela disse a senha, entrou e bateu a porta na cara dele _Bella. _ele falou para o nada, em voz alta, visivelmente com ciúme _Bella, que raio de coisa errada?!


             Ficou alguns instantes parado, esperando-a voltar. Quando viu que ela não o faria, virou-se e voltou caminhando pelo corredor.


             Fora realmente uma longa, longa noite.


            Bella entrou no salão comunal e encontrou sua irmã mais nova sentada em uma das poltronas, de braços cruzados, parecendo emburrada.


             _Ué. Já voltou? _Bella perguntou se aproximando dela _Cadê o Lúcius?


             _Eu voltei com o Régulos. _ela resmungou, muito chateada _Ele disse que eu estou bêbada. Me obrigou a voltar e ainda disse que vai mandar uma carta para a mamãe e para o papai dizendo que eu me embriaguei. _ela completou com a voz chorosa, fazendo bico _É mentira, eu não bebi, Bella. 


            _E o que levou a crer que tinha bebido? _ela perguntou com uma sobrancelha levantada.


            _Só porque eu estava o seguindo. E gritando. E dizendo que amava o jeito que ele penteia o cabelo. E o jeito que a letra dele faz curvinhas abertas quando escreve.


             Bella arqueou as sobrancelhas.


             _Está bêbada. _ela concluiu, simplesmente _Mas tudo bem, porque você é a preferidinha do papai, ele nem vai ligar. _e atravessou a sala.


             Narcisa choramingou pela última vez e se afundou no estofado, pensando que dessa vez, o pai a mataria.


 ***


             Lily estava desmoronada em um canto do sofá, olhando para o teto, com a mão na testa. Quando o quadro se abriu, já tarde da noite, ela ergueu o rosto. _Oh, céus, até que enfim vocês apareceram. _ela reclamou com um tom de voz que lhe parecia normal, mas que na verdade era cansado e fraco.


             _Lills, tudo bem? _Remo perguntou preocupado, sentando-se ao seu lado e passando um braço por seus ombros.


             _Lills? É Lills, agora? _Thiago perguntou, aborrecido _Pode ir tirando o braço daí, seu folgado, tá pensando que tá falando com quem?


             Remo riu, mas não tirou o braço. Começou a balançar a amiga como se a ninasse.


             _Acho que só estou cansada. _ela respondeu, incapaz de dizer a verdade. Sua mente dava voltas e mais voltas _Como foi o fim da festa? Algo que eu precise saber? Algo que eu vá precisar justificar amanhã?


             _Bom, você não, mas acho que o Smith da lufa-lufa e o Preewet da corvinal vão ter bastante o que explicar amanhã. _Sírius contou com um risinho.


            _Mas fora isso, tudo sob controle, Lírio. Nada que você precise se preocupar.


             Lily tombou a cabeça no encosto do sofá de novo. _Obrigada meninos, vocês foram ótimos. _ela murmurou, voltando a esfregar a testa com a mão.


             Os três se olharam intrigados. _Deixa. _Sírius sussurrou para os outros _Talvez ela tenha tido um surto psicológico pós traumático e não se lembre que quem começou tudo foi a gente. Não vamos lembrá-la disso.


             _Eu ouvi isso, Sírius. _ela retrucou, sentou-se reta novamente e apoiou os cotovelos nas pernas_ Mas, sabe, normalmente vocês não me ajudariam a resolver a questão.


            _E normalmente você não nos acobertaria. _Sírius disse, curvando-se e dando-lhe um suave beijo na testa _Todos abrimos concessões hoje. Boa noite, Lills.


             _Noite... _ela respondeu suavemente, olhando-o subir as escadas.


             _Durma bem. _Remo levantou-se e repetiu o gesto, seguindo o amigo para o quarto. Somente então, Thiago aproximou-se lentamente e ajoelhou-se a sua frente.


             _Mas você tem que admitir que foi engraçado. _ele murmurou, sorrindo. Um sorriso leve, que, no anterior, ela odiava. Não tinha certeza disso agora. Ela forçou um sorriso fraco para ele. Então ele passou a mão por seu rosto, afastando uma mecha de cabelos ruivos, e terminou envolvendo seu pescoço, e curvando-se, para selar o fim do dia com um beijo.


             Ela virou o rosto.


             Thiago parecia constrangido. Afastou-se, com um olhar confuso e triste. Lily não conseguia encara-lo.


             _Isso é por causa do soro? _ele perguntou, nitidamente chateado. Ela não respondeu. Ainda encarava seus próprios joelhos e torcia as mãos sobre o colo _Porque, Lily, foi um impulso. Eu não pensei antes de fazer. E eu sei que eu magoei você da pior maneira possível, porque eu quebrei uma promessa, _então ela ergueu os olhos, mordendo os lábios, angustiada. Não. Ele não. Não queria que ele pensasse nisso. Não o queria triste _ mas eu sinto muito, Lily. Eu realmente sinto muito.


             _Eu... _ela queria dizer que não. Que não a tinha magoado. Mas então o quê? Que outra explicação ela tinha para dar-lhe no lugar dessa? _Eu... Preciso ir. _ela levantou-se, desajeitada _Foi uma noite realmente muito longa... _e saiu caminhando pelo salão arredondado, deixando Thiago ainda ajoelhado e confuso no sofá e uma trilha de lágrimas peroladas pelo caminho.


 


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Nass: Primeiro, gente, eu naum sei o q vcs acharam, mas eu achei o cap ruinziiiiiinho, ruinziiiiinho. Mals aí, de verdd, mas a inspiração naum tah vencendo :( Acho q tah td meio desconexo, os conflitos taum fracos, tah td meio cheio de furos... ... sei lah :S
Vou ler bastante essa semana pra ver se a inspiração melhora e eu posto alguma coisa decente no prox cap ^^
Segundooo: Qm viu deve ter reconhecido... O discurso q a Bella faz para o Sírius, dizendo que se machucou muito, eu roubei de One Tree Hill >.< Hehe... Hehehe... Sabe como eh, neh? Eh bonito mas naum eh meu hehehehe...

Nas2:

Jack, naaaum creiooo! rsrsrsrs... Mas poxa, fikei sem saber de onde veio o joy :( rsrs... AAAHHH nem me digaaa!!!!! To mto ansiosa tbm!!!!! O q vc acha? Na minha opinião, o George morreu [duplamente :(  ] e a Izzie naum... Eu ouvi falar q ele naum renovou o contrato... Mas parece q a próxima fase vai ser mais centrada na irmã da Mer... e nos internos novos. [triplamente :(    ] Não vou com a cara dela! rsrsrs Acho q eh pq ela ficou com o Sloan, e eu acho o Sloan perfeito pra Addie. Ou pra mim, a q chegar primeiro, hehehe... Eu to assistindo a terceira temporada por DVD agora, pq na época q passava eu naum assistia, mas no fim dela a Addie se vai... O Burke se vai... Depois o George se vai... E a Mer se vai (babadinho, ela ficou grávida e a autora vai afastar ela da série :O )... E snif snif rsrsrsrs... Jack, tenha fé, tenha fé, daki a poko as aulas voltam. Aki voltou. E aí? Se bem q eu sem aula ficasse feliz pra caramba shuahsuahsau... Aaahhh :( keru meu big coment de volta! rsrsrs Brincaderinha... Iiiihh naum deu tempooo, mas eles tentaram resolver na medida do possível >.> Aaaahh naum, sem depressão! Vc eh uma garota feliz! :D êêê! rsrsrsrs Mas espero q as aulas voltem rápido pra vc ficar contentee!! ^-^ Vlw por estar aki comigo, Jack!!!! Me fala o q achou..... Bjsss, teh maisssss

Lari, Naaaaaum, naum deu tempooo! rsrsrsrs... Mas o Sírius dever ter ficado hiper feliz com isso, neh? rsrsrs... Aaahh, naum sei se foi o q vc esperava, mas foi grandinho :P hehehehe Aaaahh, concordo com vc plenamente. Amizades saum tudo na vidaa! Neeeh? Ateh eu q sou mais boba tinha beijado rsrsrs... Mas boba foi a Lily agora, neh? :S rsrsrs Me fala o q achou, tah? ^^ Bjssss, teh maissss

Vanessa, rsrsrsrs... Neh, a Lily cada dia aparece com uma diferente. Um dia ela mente, no outro escuta atrás da porta, no outro faz caça ao pudim... rsrsrs... Naum sei se o cap novo ficou mto bom :S Mas me fala o q achou, tah :D Bjssss Teh maisssss

Lori, ooi!!!! Rsrsrsrs Aaaaahhh, brigada :D Fico moh feliz! Não sei se esse cap merece o elogio mas fico feliz msm assim, hsuahusahushauhsa... Brigada msm por acompanhar, tah? Bjssss, teh maissss


Nas3: Gente, o cap naum foi akelas coisas de nossa q cap legal q ela postou, mas ooohhh, eu mereço comentes, vai!!! Com sugestõs, opiniões, críticas (construtivas, gente, construtivas) rsrsrsrs...
Me deixem inspirada, siiim?
Bjssss
teh maisssssss
     

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