CAPÍTULO IV



CAPÍTULO IV

“Eu o teria matado!", pensou Gina. Com uma espada! Não, a espada era muito limpa, muito civilizada para um verme inglês. A menos que a usasse para cortá-lo em pedacinhos, ao invés de terminar sua vida inútil com um único golpe no coração! Ela sorriu, satisfeita, imaginando a cena. E ninguém diria, ao vê-la sentada no alto do tamborete batendo manteiga, o retrato da doçura feminina, que pensamentos tão terríveis pudessem ocupar-lhe a mente.
"Ele não tinha o direito de me beijar, de se impor! E muito, menos de me fazer gostar disso!", tornou a refletir, apertando o pilão com mais força. Miserável cão inglês! E ela cuidara do atrevido com suas próprias mãos e depois o servira à mesa. Devia, isso sim, ter-lhe arrancado os olhos e colocado nas órbitas tições ardentes!
Parou um instante, sufocada. Se contasse a seu pai o que o conde Potter ousara fazer... Seu olhos cintilaram ao considerar essa possibilidade. Seu pai mandaria chicotear o patife sem piedade!
A idéia de um conde inglês, arrastando na lama a sua nobreza e a sua arrogância, trouxe calma a seu coração e a fez sorrir novamente. Mas preferia manejar o chicote pessoalmente: faria o miserável ajoelhar-se a seus pés, implorando perdão!
Recomeçou a bater, pensando em como era triste que amasse a violência. Isso preocupava sua mãe. Pena que não tivesse herdado a doçura dela, ao invés do gênio indomável do pai. Mas não podia mudar sua natureza. Não havia dia em que não perdesse a calma, sofrendo, depois, as agruras da culpa e do remorso.
Soltando um profundo suspiro, continuou sua monótona tarefa. Sua mãe saberia exatamente como enfrentar lorde Potter e seus indesejáveis avanços. Ela o poria imediatamente no seu lugar, tratando-o com distante altivez. E quando ele externasse suas intenções, o fitaria com tal indignação, que o canalha não teria outro remédio senão abaixar humildemente a cabeça.
Quanto a si própria, confessava que não sabia lidar com os homens. Quando eles a aborreciam, o que acontecia com freqüência, fazia-os saber disso em linguagem audaciosa. "E por que não"?, pensou. Não era pelo fato de ser mulher que devia comportar-se com brandura e pretender mostrar-se desvanecida, quando um homem tentava cortejá-la com afetada galanteria!
- Vai estragar a manteiga com esses olhares assassinos, querida. - observou de repente a cozinheira.
Gina encolheu os ombros.
- Estava pensando nos homens, sra. Drummond.
A cozinheira, uma mulher corpulenta, de cabelos grisalhos e cintilantes olhos azuis, soltou uma gostosa gargalhada.
- A mulher deve ter um sorriso nos lábios, quando pensa nos homens. Um sorriso os atrai com mais facilidade.
- Não quero saber de homens à minha volta. Eu os detesto!
A sra. Drummond terminou de abrir a massa da torta de maçã e então perguntou:
- O jovem Rob Weasley voltou a persegui-la?
- Ele não se atreveria!
- É um belo rapaz. - ponderou a mulher. - Mas não é suficientemente bom para nenhuma de minhas moças. Quero que você seja cortejada, desposada e levada para a cama por um homem de condição superior.
- Não quero ser cortejada e muito menos desposada ou levada para a cama!
- Agora não, querida. Quando chegar a hora. - A sra. Drummond abriu um largo sorriso. - É um prazer ter um homem nos braços.
- Não quero me prender a um homem apenas pelos prazeres do leito conjugal!
- Não há motivo melhor para justificar o casamento! Mas desde que seja com o homem certo. O meu Duncan sabia cumprir seus deveres e houve noites em que eu adormecia grata por isso. - Ela suspirou fundo. - Que sua alma repouse em paz.
- Ele fazia você sentir-se... - Gina fez uma pausa à procura das palavras adequadas. - Como se estivesse galopando na direção de um abismo?
A sra. Drummond olhou-a com desconfiança.
- Rob não voltou mesmo a aborrecê-la?
- Com Rob, é como cavalgar colina acima num pônei cansado. - disse Gina com malícia.
Foi com essa expressão que Harry a viu, quando entrou na cozinha. Os dedos longos cerrados em volta do pilão, as saias arregaçadas e o rosto iluminado por um sorriso. Diabo de mulher! Por que não podia deixar de olhá-la?
Sua entrada foi silenciosa, mas Gina pressentiu-o e virou a cabeça. Seus olhos encontraram-se brevemente, quase em desafio.
Aquela troca de olhares durou apenas uma fração de segundo, mas não passou despercebida à sra. Drummond. E ela logo soube o que deixava Gina possessa de raiva. Ou melhor, "quem" era a causa de sua inquietação.
"Então é isso"?, pensou, divertida, e não pôde sufocar um sorriso. Um choque de vontades... Era um bom modo de começar um namoro, e o conde Potter tinha qualidades, além de um rosto e um corpo que faziam até seu coração de viúva bater com mais força.
- Em que posso servi-lo, my lord?
Harry virou-se para ela.
- Rony está com fome e a senhorita Gwen acha que um pouco de sopa lhe fará bem.
Ainda sorrindo, a sra. Drummond dirigiu-se para o caldeirão que estava sobre o fogo.
- Vou mandar servi-lo imediatamente. Importa-se se eu lhe perguntar, my lord, como está meu rapaz?
- Rony dormiu bem e está com uma aparência melhor. A senhorita Gwen considera seu estado satisfatório, embora acredite que ele deva guardar o leito por mais alguns dias.
- Ela pode conseguir isso. Deus sabe que só ela e mais ninguém consegue domar aquele rapaz!
A sra. Drummond virou-se e surpreendeu Gina olhando para o conde através das pálpebras semi-cerradas. Ficou a observá-la de soslaio, com olhos investigadores, e depois tornou, em tom natural:
- Apreciaria um pouco de caldo, my lord? Ou um pedaço de torta de carne?
- Obrigado, mas estou de saída. Vou à estrebaria.
- Isso é que é homem! - disse ela, entusiasmada, quando ele saiu.
- Ele é um inglês. - observou Gina, como se isso explicasse tudo.
- É verdade. Mas um homem é um homem. De saiote ou de calções. E os dele assentam-lhe bem!
Gina sufocou uma risadinha.
- Uma mulher direita não notaria isso.
- Só se fosse cega!
A sra. Drummond colocou a tigela de sopa numa bandeja, acrescentando, por conta própria, um pratinho com um pedaço de torta de framboesa e depois observou:
- O criado de quarto que lorde Potter trouxe de Londres é um verdadeiro cavalheiro. Gostei do homem.
Gina sorriu com desdém.
- Imagine, trazer um criado só para cuidar das roupas dele!
- Os nobres costumam fazer as coisas a seu modo. - disse a cozinheira, pensativa. - Parece que esse Parkins não é casado.
- Pobrezinho! Deve estar ocupado demais com as rendas de lorde Potter para ter sua própria vida.
"Pode ser que ele ainda não tenha encontrado a mulher que lhe fizesse valer isso", pensou a sra. Drummond e um ar de satisfação estampou-se nos olhos dela.
- Acho que o sr. Parkins devia engordar um pouco.

Nobreza, pensou Gina, horas depois, torcendo o nariz. Sangue azul não significava absolutamente nobreza! E tampouco fazia de um homem um cavalheiro. Um aristocrata, talvez, que não sentia a necessidade de justificar escrupulosamente a sua conduta.
De qualquer modo, ela não ia desperdiçar seu tempo pensando no conde Potter. Fazia dois dias que não punha o nariz para fora da porta de casa, ocupada com tarefas domésticas que haviam aumentado com a doença de Rony. E agora que dispunha de algum tempo livre, iria aproveitar para dar um passeio a cavalo. Sua mãe, provavelmente, não aprovaria que saísse quase na hora do jantar. E também não aprovaria o velho calção de montaria que estava usando. Mas tomaria cuidado e, com um pouco de sorte, ninguém notaria sua saída furtiva.
Cautelosa, levou sua montaria para o portão dos fundos da estrebaria e depois guiou-a a passo moderado na direção das colinas cobertas de liquens e urzes brancas. Mas no instante em que os bosques fecharam-se à sua volta, estimulou a égua, que passou do trote a um galope acelerado. Sua capa enfunava-se ao vento, o ar gelado chegava a doer-lhe nos pulmões, mas a sensação de liberdade superava qualquer incômodo.
- Livre! Sou livre! - gritou, com o rosto a brilhar de contentamento, e sua voz ecoou no silêncio do bosque.
Por um instante ainda, permitiu-se saborear esse encantamento. Subitamente, outras lembranças afloraram-lhe à mente. Seu sorriso desvaneceu-se, e ela suspirou, sentindo-se estranhamente envergonhada de seu bem-estar. Provavelmente, teria que falar com seu confessor, como havia feito quando deixara a escola do convento, em Inverness.
"Seis meses da minha vida jogados fora," lembrou. Seis meses longe da casa que amava para conviver com aquelas jovens afetadas que, estimuladas por suas famílias, haviam metido em suas cabeças ocas que iriam tornar-se damas!
Fora um sacrifício inútil, no seu entender. Sua mãe já a havia ensinado a dirigir uma casa. E quanto às boas maneiras, não havia dama mais fina nas redondezas do que Molly Weasley. Filha única de um grande proprietário de terras, ela tivera uma educação refinada, aprimorada por temporadas em Paris e Londres.
Só era mesmo necessário que soubesse comportar-se em sociedade, e só Deus sabia por quê, poderia aprender isso em sua própria casa, onde a conversa não girava apenas em torno de vestidos, penteados e da última moda em Paris!
Continuou a estimular a égua até aproximar-se do rio. Aí, então, puxou suavemente as rédeas, para que a agitação do animal se abrandasse aos poucos, e respirou fundo o ar fresco e revigorante. Os raios do sol poente lançavam uma luz pálida, que permanecia suspensa sobre os ramos quebrados e os troncos nodosos dos pinheiros e dos carvalhos. Seria agradável sentar-se à beira da água por alguns minutos. Se tivesse tempo, teria cavalgado até a charneca. Era seu lugar preferido, quando estava perturbada ou precisava coordenar as idéias.
"Hoje estou tranqüila", pensou, enquanto desmontava. Queria apenas gozar de um instante de solidão. Prendeu as rédeas do animal num galho de árvore e então esticou sensualmente os braços. Um pensamento repentino e excitante fez seus olhos brilharem e seus lábios entreabrirem-se.
- Lindos bailes em Londres... - murmurou baixinho.
Sua mãe lhe descrevera esses bailes. Os espelhos, o chão encerado, o brilho dos imensos candelabros. Lindos vestidos e jóias cintilantes. E música! Fechou os olhos, tentando fantasiar a cena e, acima dos sons murmurantes do regato, julgou ouvir trechos de um minueto.
Os olhos ainda fechados, a mão estendida para um par invisível, começou a mover-se ao compasso da melodia imaginárias. Sorrindo, executou uma volta perfeita.
Estaria usando um vestido de cetim verde e usaria os cabelos penteados para o alto e empoados, para que os brilhantes nele semeados cintilassem como gelo sobre a neve. Todos os homens presentes ficariam encantados. Dançaria com todos, girando, parando e curvando-se em profundas e graciosas mesuras.
Ele estaria lá, vestido de negro e prata, como na noite em que permanecera à cabeceira de Rony, misterioso e sedutor como nunca, à luz da única vela e do clarão da lareira. No baile, as luzes seriam cegantes e incidiriam sobre os botões de seu traje e as fivelas de seus sapatos.
Enquanto a música flutuava no ar, olhariam um para o outro. Ele sorriria, fazendo seu coração disparar, e lhe estenderia a mão, que se uniria à dela, palma contra palma. E então...
Sentiu que alguém lhe prendia a mão e abriu os olhos, ainda abismados no sonho. Ele estava de negro, como imaginara, mas era um simples traje de montaria, sem enfeites prateados ou o brilho das jóias.
- Senhora... - Sorrindo levou-lhe a mão aos lábios. - Parece que está sem par.
- Eu estava... - Gina puxou a mão e escondeu-a atrás das costas. - O que está fazendo aqui?
- Estava pescando com Malcolm até há poucos instantes. Ele quis voltar para dar uma espiada em Betsy.
O rosto dela ardeu de vergonha, ao lembrar-se que devia ter parecido tão ridícula como uma adolescente com a cabeça cheia de sonhos românticos, dançando um minueto sem par!
- Malcolm não devia ter vindo aqui. Ele tem muito o que fazer lá em casa.
- Ele me assegurou que fez tudo pela manhã. - Harry sentou-se numa rocha e estudou-a atentamente. - Posso perguntar se costuma dançar sozinha nos bosques... E de calção?
Os olhos de Gina chamejaram.
- O senhor não tinha o direito de ficar me espiando!
- Eu estava sentado à margem do riacho, pensando nas trutas que iria pescar, quando vi alguém chegar velozmente pelo bosque, assustando meus peixes. Fiquei curioso, como era natural.
- Se soubesse que o senhor estava aqui, teria tomado outro caminho!
- Seria uma pena. Não teria o privilégio de vê-la de calção.
Em resposta, Gina virou-lhe as costas e deu dois passos na direção do cavalo.
- Para que tanta pressa? Está com medo de mim?
Ela voltou-se, um lampejo súbito iluminando-lhe o rosto.
- Não tenho medo de ninguém!
Harry olhou-a com admiração. Encantadora! Não havia outra palavra para descrevê-la. Seus olhos pareciam duas gemas e seus cabelos, que lhe caíam pelos ombros, uma cascata de fogo. Além do mais, conduzira o cavalo pela floresta intrincada com uma facilidade que revelava destreza no manejo do animal. Não podia negar sua coragem e seu estilo.
Nem negar que sua aparência o perturbava. O calção de montaria realçava com discreta sensualidade as linhas perfeitas do corpo e a blusa justa, enfiada no cós, quase revelava a curva dos seios ofegantes.
- Talvez você devesse ter medo. - murmurou. - Neste momento, estou experimentando toda sorte de intenções desonestas.
Gina sentiu um arrepio súbito percorrer-lhe a espinha, mas simulou indiferença.
- O senhor não me assusta, lorde Potter. Já enfrentei situações piores!
- Posso imaginar!
Ele levantou-se e caminhou para ela, silencioso e ameaçador.
- Mas você ainda não teve que se haver comigo. Duvido que consiga me dominar a tapas, como fez com os outros.
- Farei pior do que isso, se o senhor tocar um só fio de meus cabelos!
- Qual é o motivo dessa aversão? Eu já me desculpei pelo que aconteceu na estrebaria.
- Oh! O que aconteceu na estrebaria? Não me lembro!
Harry chegou mais perto.
- Nesse caso, deixe-me refrescar sua memória. Eu estava com uma mulher nos braços. Não uma jovem tímida e inexperiente, mas uma mulher reclamando seu natural direito ao prazer.
- Como se atreve? - explodiu ela. - Um cavalheiro não falaria comigo desse modo!
- Talvez não. Mas uma dama não usaria calção.
Gina mordeu os lábios. A acusação se aproximava muito da verdade. Ela não era uma dama e jamais o seria, apesar de todos os seus esforços.
- Seja como for, não permito que me insulte!
- Não permite, mas não faz outra coisa senão cobrir-me de injúrias pelo fato de eu ser inglês e nobre!
Deixando de lado todas as precauções, ele a agarrou pelos ombros.
- A ironia de tudo isso é que você se veste como um homem, fala como um homem, mas quando lhe convém, alega sua condição de mulher para exigir respeito!
- Não estou exigindo nada!
Ela jogou a cabeça para trás, parecendo uma jovem leoa, no ardor da argumentação.
- Se eu o insultei foi porque o senhor mereceu. Vamos nos entender, lorde Potter. O senhor pode encantar minha família, mas a mim é que não engana!
- Essa é a menor de minhas preocupações! - murmurou Harry por entre os dentes.
- Parece que suas preocupações dizem respeito apenas às rendas de seus trajes e ao brilho de suas botas! O senhor chegou em minha casa dizendo-se preocupado com a sorte da Escócia, mas até agora não fez coisa alguma por nós.
- Esse é problema meu!
- E meu também. Há aí um engano, e é isso que quero que me explique!
- Nada tenho a discutir com você, Gina.
- Pelo visto, o senhor não pode mudar nada. Nada do que aconteceu antes, nada do que está ainda por vir!
Harry apertou-lhe o braço com mais força.
- Não posso revelar nossos planos, mas vou lhe dizer uma coisa: quando chegar a hora, haverá uma grande mudança.
- E quem irá se beneficiar com isso?
Ele a puxou rudemente para si.
- O que está querendo insinuar?
- Não acredito que o senhor, ou outro nobre inglês, se interesse realmente pelo destino da Escócia. O que está fazendo aqui, lorde Potter? Vendo de que lado sopra o vento?
Um lampejo de ira brilhou nos olhos dele.
- Desta vez, você foi longe demais!
Ela estremeceu, mas não resistiu ao desejo de desafiá-lo.
- Já que não quer me explicar por que motivo abraçou nossa causa, eu estou livre para pensar o que quiser!
- Pode "pensar" o que quiser, mas deve ter mais cuidado com suas palavras.
Gina nunca o vira tão zangado. Não sabia que seus olhos podiam arder como duas brasas, ou que sua fisionomia pudesse endurecer-se tanto, a ponto de parecer esculpida em granito!
- O que vai fazer? Atravessar-me o coração com uma espada?
- Não seria justo, você está desarmada. Mas não nego que sinto uma vontade irresistível de estrangulá-la.
Sem deixar de fitá-la, ele envolveu-lhe o pescoço com as duas mãos.
- Você têm um pescoço macio, Gina. Flexível, fácil de ser partido.
Ela arregalou os olhos e prendeu a respiração. Depois, num gesto instintivo de defesa, pôs-se a esmurrá-lo no peito com os punhos cerrados.
- Solte-me!
- Solto quando bem entender. Na estrebaria, você não protestou quando...
Inadvertidamente, as mãos de Harry roçaram os seios dela, um contato que surpreendeu a ambos e intensificou a luta.
- Víbora! - explodiu ele, quando recebeu um chute na canela que o fez perder o equilíbrio.
Abraçados como dois amantes, rolaram sobre uma cama de agulhas de pinheiros e de folhas secas. Gina lutava como um gato selvagem e proferia impropérios em gaélico. Estava assustada com a estranha reação de seu corpo. Odiava-o, porém, se ele a tocasse novamente, iria perder o autocontrole.
O amargo reconhecimento de sua própria vulnerabilidade a estimulou a lutar com mais ardor. Mas quando seus corpos se colaram, uma onda de calor invadiu seu corpo. Os músculos de seus quadris relaxaram e, por um instante, sua visão enevoou-se.
Harry não perdeu tempo. Agarrou-a pelos pulsos com uma única mão e ergueu-lhe os braços acima da cabeça. O rosto dela estava rosado pelo esforço e os cabelos, entremeados de folhas secas, caíam-lhe pelas costas como fios de ouro.
Quis falar com calma, mas ela tornou a esforçar-se para escapar, e seus movimentos bruscos, sua respiração ofegante, ameaçaram descontrolá-lo uma vez mais.
- Gina, pelo amor de Deus... Tenho sangue nas veias. Se continuar a debater-se, logo irá descobrir isso!
- Largue-me. - murmurou ela, arquejante.
- Ainda não. Você acabaria comigo.
- Ah! Se eu tivesse um punhal...
Harry recobrou o fôlego e pôs-se a olhá-la.
- Meu Deus, como você é linda! Isso me dá vontade de provocá-la sempre!
Com a mão livre, seguiu-lhe o contorno dos lábios.
- Simplesmente tentadores...
Gina fez um esforço supremo e conseguiu virar o rosto, evitando o beijo. Mas quando ele começou a acariciar-lhe o pescoço com os lábios, um gemido escapou de sua garganta. Num movimento instintivo, ela ergueu os quadris, ansiando por um contato mais íntimo.
O corpo retesado num momento, flexível e macio no outro, era uma tentação. Harry cobriu-o com o dele e, suavemente, correu as mãos pelas curvas delicadas. Depois, pôs-se a passear a boca pelo rosto ardente. Mordiscou-lhe a orelha, desceu os lábios ao longo do queixo, e então, lentamente, tomou-lhe os lábios entreabertos.
Sentiu-lhe o hálito fresco, enquanto sua língua penetrava a boca quente e adocicada. Teria ainda de lhe ensinar muita coisa. Ela não devia saber que, do contato de mãos, bocas e corpos se desencadeava uma infinidade de sensações deliciosas.
Ansioso para que ela encontrasse o prazer, tocou-a em pontos sensíveis, despertando-lhe desejos e deleites que até então haviam sido ignorados.
Gina fechou os olhos e aspirou o aroma almiscarado da pele de Harry, flutuando num mundo sem idéias, insuportavelmente excitante. Sentiu o leve fluxo e refluxo da respiração dele contra seus cabelos, experimentou a doce sensação de dedos gentis acariciando-lhe as faces, e depois a percepção desses mesmos dedos descobrindo a curva suave de seus seios.
- Harry... - murmurou, com voz entrecortada pela emoção.
Incapaz de resistir, ele massageou os seios até sentir os bicos rígidos sob seus dedos. Ansiava por tomá-los em sua boca para experimentar-lhes o sabor. Em vez disso, porém, cobriu-lhe a boca quase brutalmente, deixando, apenas por um momento, prevalecer seus impulsos.
Gina estremeceu quando a paixão substituiu o langor, e uma sensação quase insuportável de prazer a dominou. Mas não se rendeu e, tremendo, começou a lutar contra ele, contra si mesma.
- Não. Não faça isso. - murmurou, agitando-se entre os braços que a enlaçavam.
Diante de suas queixas abafadas, Harry ergueu a cabeça. Nos olhos verdes havia medo e confusão, não só desejo. Endireitou-se e soltou-a bruscamente, e depois esperou até recuperar o próprio autocontrole.
- Não tenho desculpas. - disse por fim. - Exceto que eu a desejo. E só Deus sabe por quê.
Gina tinha vontade de chorar. Queria que ele a tomasse nos braços e a beijasse. Mas gentilmente, como fizera a princípio.
- Só os animais deixam prevalecer seus instintos, my lord!
- Muito bem dito. - murmurou ele, sabendo exatamente como ela se sentia. - Mas há alguma coisa em você, Gina, que excita minhas emoções primitivas. Eu lhe asseguro, porém, que saberei controlá-las no futuro.
Ela inclinou levemente a cabeça.
- É o que eu espero.
Depois, levantou-se e alisou as roupas. Enquanto recolhia as rédeas de sua montaria, sentiu a mão dele em seus cabelos e retesou-se.
- Por favor, não!
- Há folhas em seus cabelos. - murmurou Harry, lutando contra o desejo de atraí-la para si.
- Não tem importância.
- Eu a magoei?
Ele disse isso com tanta suavidade, que a raiva de Gina quase desapareceu. E teve que lutar consigo mesma, para que sua resposta fosse seca e sua voz impassível.
- Não me dobro facilmente, my lord.
Recusando a mão que lhe era oferecida, ela lançou-se sobre a sela, apertou os flancos do cavalo com os calcanhares e partiu a toda brida.


N/A: Pessoal, mais um capitulo postado. Quero agradecer a todos que estão lendo.
Agradecimento especial:
Bianca: Oi, que bom que gostou, o clima pintou sim, mas a ruiva vai renegar até o limite. Confesso a você que eu também adoro essa época, e é uma coincidência incrível, mas eu gostaria de ter nascido na Escócia por volta dessa época ou bem antes, pra falar a verdade. Realmente para as mulheres era um pouco complicado, mas sonhar não custa nada. Beijos.

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