No Três Vassouras



- Harry, isso é horrível! – Exclamou Hermione, apavorada, tapando a boca com as mãos, assim que Harry, depois do café-da-manhã, lhe contou o que se passara.

- Infelizmente, não é nada que nós não esperássemos… - Murmurou Harry, tenso. – Quer dizer, ele ia ter que voltar, um dia…

- E você acha que será em breve? – Inquiriu Ron, amedrontado. – Você acha que ele pode voltar hoje mesmo?

- Não sei… só sei que ele está perto… muito perto… e pode aparecer a qualquer momento.

Fez-se um longo silêncio, após o qual Hermione comentou:

- Acho que nós não devemos ir a Hogsmeade no fim-de-semana. Em Hogwarts, nós estamos muito mais seguros.

- Ora, Mione! – Exclamou Rony. – Você acha que Você Sabe Quem vai nos atacar no meio de uma rua cheia de gente?!

Hermione suspirou, impaciente:

- Estamos no meio de uma guerra, Ronald! No ano passado, os Comensais da Morte mataram a Cho Chang durante a visita dos alunos de Hogwarts ao Museu da História da Magia, na frente de todo mundo, esqueceu?!

Harry engoliu em seco, com a lembrança do que acontecera.

- Não… - Balbuciou Rony. – Mas…

- Acho que não vale a pena ficarmos trancados em Hogwarts. – Interrompeu Harry, pálido. – Mais cedo ou mais tarde, vou ter que enfrentar o Voldemort.

Rony estremeceu, ao escutar aquele nome.

- Harry! – Quase gritou Hermione, indignada. – Não seja inconsequente! Parece que você gosta de brincar com a sua própria vida!

- Que culpa eu tenho se a morte me persegue? – Perguntou Harry, em tom sombrio. – Você sabe que, para um de nós viver, o outro tem que morrer…

- Querem parar com essa conversa?! – Exclamou Rony. – Estou ficando arrepiado! Por um momento, pensei que um Dementador tinha entrado aqui!

Harry e Hermione se calaram, mas Harry sentia que estava certo. Se corria o grande risco de morrer ao enfrentar Voldemort, então não adiantaria nada adiar mais o confronto. Já sofrera demais por causa daquele assunto e sentia que não aguentaria muito mais. Estava decidido a matá-lo ou morrer, o mais rápido possível.



***



- Eu ainda acho que nós devíamos ter ficado em Hogwarts… - Disse Hermione, enquanto se dirigiam para o Três Vassouras.

- Dessa vez, não discordo totalmente da Mione. – Comentou Rony. – Pode ser perigoso…

- Se não queriam ter vindo, então porque vieram?! – Inquiriu Harry, irritado. – Se preferem ficar trancados em Hogwarts, voltem para lá, ninguém está vos impedindo!

Os amigos não responderam, mas Harry reparou, quase arrependido, que as orelhas de Ron estavam vermelhas e que Hermione tinha os olhos fixos ao chão. Foi, portanto, com certo alívio que chegou ao bar Três vassouras, onde entrou com eles dizendo, no tom mais alegre que conseguiu arrumar:

- Estou mesmo com vontade de tomar uma cerveja amanteigada. E a vocês?

Rony e Mione se entreolharam e depois olharam para Harry, respondendo:

- Claro…

Naquele momento, Harry parou, olhando para a mesa do fundo: Lupin e Tonks (naquele dia, com o cabelo comprido e azul) conversavam animadamente com Mary Hallow.

- Ela, outra vez? – Harry ouviu Hermione resmungar, atrás dele, enquanto os três se dirigiam para a mesa onde os outros se encontravam.

- Harry! Rony! Hermione! Que bom ver vocês! Sentem aqui, com a gente! – Saudou Lupin, com um enorme sorriso. Tinha muito melhor aspecto do que da última vez que Harry o tinha visto. Parecia muito mais jovem, estava mais corado e até o cabelo castanho-claro não parecia tão cheio de fios brancos.

O trio se sentou junto dele e das suas amigas, que sorriram alegremente.

- Já tinha saudade de vocês! – Exclamou Tonks e, com um gesto súbito, entornou sem querer o resto da sua cerveja amanteigada em cima da mesa.

Mary soltou uma gargalhada:

- Você não muda nunca, Ninfa!

Tonks sorriu e respondeu, em tom despreocupado:

- Nasci assim, já é tarde para mudar. Você me conhece há tanto tempo, já deveria estar acostumada. – Virando-se para o balcão do bar, fez sinal a Madame Rosmerta. – Mais uma cerveja amanteigada, por favor… aliás, quatro, porque os recém-chegados também devem querer, não é, meninos?

- Isso mesmo, Tonks! – Respondeu Harry, tentando se contagiar pela alegria dela e, ao mesmo tempo, se interrogando sobre como é que Tonks e Mary Hallow se conheciam tão bem. A professora pareceu ter adivinhado os seus pensamentos, porque disse:

- Vocês sabem que a Ninfa foi minha colega em Hogwarts? Éramos umas doidas, do estilo do Fred e do Jorge e íamos juntas para todo o lado. Éramos melhores amigas!

- “Éramos”? – Tonks fez uma careta e torceu o nariz, que mudou instantaneamente de forma. Parecia agora a cauda de um pato. – Pensei que ainda fôssemos.

- Oh, Ninfa! – Mary abraçou-a, com os olhos castanhos brilhando de tal forma que pareciam muito mais escuros e contrastavam ferozmente com o cabelo loiro. – Você vai ser sempre a minha melhor amiga! Você é a irmã que eu nunca tive!

- Mulheres! – Exclamou Lupin, sorrindo, com o ar mais alegre que Harry já lhe tinha visto até então.

Tonks largou Mary e torceu o nariz de novo, com outra careta, fazendo com que ele voltasse ao normal.

- Vamos parar com pieguices e beber as nossas cervejas amanteigadas. – Disse. Distraidamente, pegou no copo vazio e o levou à boca. – Oh, raios! Esqueci que entornei o resto da minha!

Madame Rosmerta aproximou-se deles, trazendo quatro cervejas amanteigadas.

- Aqui estão elas. – Disse, sorrindo e voltando para o balcão.

- Ah! – Suspirou Tonks, satisfeita. – Agora, sim!

Harry não sabia se havia de falar ou não. Fora tão bom encontrar Lupin… precisava lhe contar sobre a cicatriz, mas a alegria do ex-professor era de tal forma inusitada que ele não se atrevia a acabar com ela. Contudo, foi o próprio Remo quem puxou o assunto, como se tivesse sentido que havia algo errado.

- Que se passa, Harry? Você não parece muito alegre.

- É que… Professor Lupin…

- Remo, por favor, Harry. Há muitos anos que deixei de ser seu professor. Já faz muito tempo que sou apenas seu amigo.

Harry o olhou. Remo sorria e era reconfortante sentir que tinha ali um amigo, o melhor amigo do seu pai e de Sírius. Quatro anos depois e ainda não se acostumara totalmente a chamá-lo pelo primeiro nome. Por vezes, esquecia completamente e o chamava de professor, mas ele fazia que estão de recordá-lo de que os seus tempos como docente já iam longe e que era, acima de tudo, um amigo com quem ele sempre poderia contar.

Harry respirou fundo, antes de começar a falar:

- Remo… a… a minha cicatriz… doeu para caramba essa noite. Senti… senti que algo de muito ruim está para acontecer… Ele… o Voldemort está prestes a voltar.

Ao escutar o nome do senhor das trevas, Tonks voltou a entornar a cerveja amanteigada e Mary se engasgou com a sua.

- Raios! – Praguejou Tonks, enquanto dava palmadas nas costas da amiga.

Foi a vez de Lupin, agora pálido, respirar fundo e dizer:

- Bom… na verdade, viemos aqui justamente para respirar um pouco e fugir por uns momentos desse assunto. No Largo Grimmauld não se fala de outra coisa.

- Da minha cicatriz? – Perguntou Harry, espantado.

- Não, Harry. De Você-Sabe-Quem. Temos razões muito fortes para achar que você está certo. Achamos que ele está de volta.

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