Surpresas e Esclarecimentos



- Hei, Weasley! – Chamou uma voz aguda e irritante atrás do trio, enquanto eles se dirigiam para o pátio. Eles se voltaram e deram de caras com Draco Malfoy. – Já soube que você é primo da nova professora!

- E daí? – Resmungou Hermione. – Existem tão poucos feiticeiros de sangue-puro que aqueles que o são acabam por ser todos eles aparentados.

Harry sentiu o coração estremecer, ao se lembrar de Sírius, que lhe explicara exatamente a mesma coisa, apenas alguns meses antes de morrer às mãos de Belatriz Lestrange.

Malfoy pareceu se lembrar do mesmo (embora não tivesse assistido à conversa), já que replicou:

- Sim, é verdade. Até mesmo os Weasley, que são uns traidores do sangue... infelizmente eu próprio ainda tenho algum parentesco distante com eles… e até o Sírius Black… - Lançou um olhar malévolo para Harry. - … era primo da minha mãe, o que não impediu que a tia Belatriz tratasse dele.

- Não pronuncie o nome de Sírius com sua boca suja! – Bradou Harry, com a fúria lhe aquecendo as veias.

Malfoy o ignorou e riu, maldosamente, para Mione:

- Até parece que você sabe o que é ter sangue-puro, Granger. Muito engraçado esse conhecimento, vindo de uma sangue-ruim.

- Você se importa de ficar calado? – Rosnou Rony, com as orelhas vermelhas, o que fez com que Draco risse ainda mais.

- O cavaleiro pobretão defendendo a donzela! Como se ela alguma vez fosse querer alguma coisa com um falhado como você!

Rony corou violentamente; Hermione também, mas manteve o sangue-frio necessário para responder, o mais naturalmente possível:

- Porquê? Alguém quer alguma coisa com um idiota com ar de enjoado como você? Só se for a Pansy Parkinson, com aquela cara de buldogue. Você não consegue melhor, não é, Draco?

Malfoy perdeu o sorriso, parecendo positivamente furioso.

- Estou me lixando para essas pieguices de namoros. – Olhando para Rony, tornou a sorrir, maliciosamente. – Mas talvez me dê vontade de dar umas voltinhas com a sua irmã, Weasley.

Por incrível que pareça, dessa vez não foi Rony, mas sim Harry quem reagiu, furioso, instintivamente, sem saber muito bem porquê. Avançando para Malfoy, exclamou, com os olhos brilhantes de raiva:

- Não se atreva a falar da Gina!

Rony o secundou, tão zangado quanto ele:

- Se você fizer alguma coisa com minha irmã, vai se arrepender amargamente!

Pelo sim, pelo não, Draco recuou, mas soltou uma gargalhada irônica:

- Que lindo! Os heróis defendendo as donzelas e a família de falhados.

Foi a vez de Hermione falar, bem mais calma do que os amigos:

- Se você quer falar de famílias, muito bem. Comece, então, por falar do seu querido papai, um assassino, Comensal da Morte, que foi vergonhosamente solto de Azkaban, apenas porque nós temos um Ministro da Magia completamente doido!

Malfoy fitou-a, com um olhar inexpressivo:

- Caso você tenha esquecido, provaram que ele é inocente.

- Mentira! – Exclamou Harry, furioso. – Nós vimos tudo o que ele fez, ele é um Comensal da Morte, matou a Cho e tentou nos matar mais de uma vez! Você não vai querer nos convencer de que tivemos alucinações, vai?

- Talvez, Potty. – Foi a resposta maldosa. – Todos sabemos que você não é bom da cabeça…

- O que é que está acontecendo? – Perguntou uma voz atrás deles. Eles se voltaram. Era Mary Hallow. – Malfoy… Potter… está tudo bem?

- Sim, Professora. – Respondeu Draco, com um sorriso falso. – Nós estávamos só conversando. Aliás, eu já disse tudo o que tinha para dizer. Com licença.

Draco se afastou, enquanto Mary olhava para o trio e fazia uma careta:

- Sujeitinho irritante, este Malfoy. Tal como o pai dele… mas eu não devia falar mal dos meus alunos, desculpem, ainda não me adaptei a esse novo trabalho.

- O que é que a senhora fazia antes? – Inquiriu Hermione.

- Dava consultas da Astrologia e Cartomancia a Muggles, em Portugal. – Foi a resposta, que explicava o leve, mas estranho sotaque da professora.

- Não entendo porque foi que o meu pai não me contou que você vinha dar aulas em Hogwarts. – Disse Ron, com as orelhas vermelhas outra vez.

Hallow sorriu, brincando com uma madeixa de cabelo loiro, e respondeu:

- Porque ele não sabia! Foi tudo muito de repente. Tive que apelar para a tia Dolores. – Acrescentou, com nova careta. – Como ela devia uns favores para os meus pais, se viu obrigada a me aceitar. Além disso, a McGonnagall me aprovou imediatamente. Grande mulher, a McGonnagall! Você sabia que ela foi uma grande amiga da nossa avó, Rony?

- Não… - Foi a resposta curta. Rony parecia realmente surpreendido e ainda pouco à-vontade.

- Espera lá! – Exclamou Harry, pensando nas palavras que a professora acabara de proferir e tentando digeri-las. – Ron, você é sobrinho da Umbridge??!

- Porquê você nunca nos disse nada? – Inquiriu Hermione, furiosa.

- Calma, meninos! – Pediu Mary Hallow. – A Dolores Umbridge não é tia dele; é minha, por parte de pai. Eu e o Ron somos primos por parte de mãe. A tia Molly é irmã da minha mãe.

Hermione suspirou, mais calma, e não resistiu à curiosidade de perguntar:

- Porque é que a senhora deixou Portugal, Miss Hallow?

Mary suspirou:

- Bem… na verdade, Portugal nunca foi o meu lugar… quer dizer, eu morei lá desde menina, trabalhei lá durante sete anos, ajudando a minha mãe no trabalho de vidente, depois de sair de Hogwarts… mas sempre adorei a Inglaterra, o verde, os campos, os castelos, o ar misterioso… e os anos que passei aqui na escola, como aluna, me marcaram demais. Bom, eu nasci aqui e é aqui o meu lugar. – Baixando a voz, continuou. – Para além disso, tem a Ordem da Fênix. Só estando aqui é que eu posso dar o meu verdadeiro contributo.

Harry engoliu em seco. Então, Mary também pertencia à Ordem… Foi um choque escutar uma quase desconhecida falando daquele assunto.

- Você veio para ficar? – Inquiriu Ron, num tom de voz estranho.

- Enquanto me quiserem por aqui… - O sorriso da Professora se tornou tímido e Harry ouviu Hermione bufar ao seu lado.



*****



Harry acordou sobressaltado. A sua cicatriz ardia como há muito tempo não a sentia. Com o estômago embrulhado, teve a certeza de que, onde quer que estivesse, Voldemort estava feliz.

Das últimas vezes que sentira a cicatriz doer, o Ministro da Magia tivera atitudes extremamente suspeitas: mandara soltar Lúcio Malfoy, afastar de novo Dumbledore de Hogwarts e mandara Umbridge voltar para a escola, reassumir o posto de Professora de Defesa Contra a Magia Negra e substituir MacGonnagall como sub-directora… Estranhamente, o mesmo Ministro que, ao invés de substituir Dumbledore por Umbridge ou por outra pessoa ligada ao Ministério, tinha conferido à professora MacGonnagall o cargo de Directora de Hogwarts.

Contudo, mesmo nas vezes em que o Ministro tomara atitudes que deixaram Harry e os amigos indignados, a sua cicatriz não voltara a doer tanto como daquela vez. Tinha a certeza de que o Ministério estava, de alguma forma, ligado a Voldemort… mas sentia que, naquele momento, fosse qual fosse o motivo que deixara o senhor das trevas tão contente, nada tinha a ver com o Ministério. Era algo muito mais importante.

Depois das aulas de Oclumencia que Snape lhe dera no quinto ano, Harry aprendera a fechar a mente todas as noites, antes de dormir, para impedir que os seus pensamentos se confundissem com os de Voldemort e evitar, assim, cair em mais uma cilada como aquela que resultara na morte de Sírius, por isso não sabia dizer ao certo o que se passava.

A dor se tornou mais forte e Harry conteve um gemido. Naquele momento, teve certeza absoluta: Voldemort se preparava para acabar com as tréguas: a guerra ia recomeçar.

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