Capitulo 3



Capitulo 3


O Sr. Evans confessou? & Meu pai não é um criminoso! & Você não pode ficar sozinha & Não sinta vergonha de mim!”


 


 


James não perdeu tempo. Atravessou o corredor e saiu pela porta principal. Do bolso do blusão, tirou sua bengala dobrável. Com uma sacudidela, a varinha estendeu-se e ele desceu rapidamente os degraus que levavam ao jardim. Em meio minuto, pisava a calçada, já com Almofadinhas grudado em seu jeans. Ele sabia onde ficava o telefone público que os alunos costumavam usar. Por sorte, estava desocupado. Pegou uma ficha no bolso e discou para a escola.


 


- Hogwarts High School, boa tarde. – atendeu a voz mecânica da telefonista.


 


- Ligue com o tal Tadeu, da contabilidade! – ordenou James, com um tom malcriado na voz bem grossa que procurava fazer.


 


- Que deseja...?


 


- Aqui é da polícia! Ande logo!


 


A ligação foi completada na mesma hora e James ouviu a voz do técnico em computação:


 


- Alô?


 


"É agora", pensou o garoto. "Tem de dar certo!"


 


- Hum, é da Central. Quero falar com um tal de Tadeu!


 


- Da polícia? – respondia a voz amedrontada do técnico. – Sou eu mesmo...


 


- Aqui é o escrivão da Central e tenho que preencher o boletim de ocorrência do caso de um contador chamado Allan Evans, ai dessa escola...


 


- S-Sim...? – gaguejava Tadeu, bombardeado pela agressividade do policial.


 


- Trata-se de um desfalque, não é? Meteram a mão na grana da escola foi?


 


A voz do técnico tornou-se atrapalhada ao telefone.


 


- É... mas o delegado Mendes e o outro policial... o Xavier, não é esse o nome do outro? Bem, eles saíram agora mesmo levando o...


 


- Ainda não chegaram aqui! – cortou James, mais malcriado do que nunca, como achava que se comportavam os policiais. – E eu tenho de preencher esse maldito B.O! É bom colaborar!


 


Tadeu concordou na mesma hora.


 


- É claro. Tudo bem. O que o senhor quer saber?


 


- Quero saber de tudo. Os auditores descobriram a falta da grana, é? E como descobriram que foi o tal Evans que meteu a mão na massa?


 


- Mas isso vocês já sabem! – espantou-se Tadeu. – O delegado Mendes...


 


- Já disse que o Mendes não chegou ainda! E eu não tenho tempo a perder, rapaz! Desembucha logo!


 


Tadeu respondeu como se tivesse ameaçado de tortura.


 


- O Sr. Evans confessou tudo, doutor.. Como é mesmo o seu nome?


 


Mas o telefone já tinha sido desligado.


 


 


 


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Agora ele já sabia: O Sr. Evans tinha sido preso por dois policiais chamados Mendes e Xavier. Preso por ter confessado um desfalque nas contas da escola!


 


"Sr. Evans confessou?! Confessou ter tomado o dinheiro pertencente a escola? Mas que absurdo! O Sr. Evans jamais tocaria em um tostão que não fosse dele. Só mesmo uma razão muito importantíssima, imensa, poderia explicar essas confissão. O que eu preciso, é descobrir qual é essas razão. Ou se existe alguma!"


 


Quem passasse e prestasse atenção àquele garoto, poderia pensar que ele brincava de estátua. Estava parado na calçada, imóvel. Mas, por dentro, havia uma revolução em suas emoções.


 


"Preciso descobrir. Mas o que eu estou fazendo? Como é que eu vou dar uma de detetive?"


 


Seria a influência de tantas novelas policiais que ele pegava emprestado na Biblioteca Braile? Acrescidas pelos filmes de ação que ele gostava tanto? Não. Era Lílian.


 


 


 


 


 


 


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"O que é que eu vou fazer? Por onde eu vou começar?", pensava James enquanto esquentava o jantar que gostava de deixar pronto antes da chegada da mãe, que passava o dia trabalhando no hospital. Naquela noite, haveria plantão de enfermagem, e a mãe teria de voltar correndo ao trabalho.


 


- Au, Au!


 


- Quieto, Almofadinhas. Sua comida já vai sair...


 


Depois da cena de filme policial que representara ao telefone, James tinha usado mais uma ficha para ligar para a casa do contador. Lílian estudava na mesma classe que James e, até aquele dia, a atração do rapaz pela colega era um segredo só dele. As conversas entre os dois sempre tinham sido superficiais. James jamais ligara para a casa de Lílian, mas sabia o número de cor.


 


Naturalmente, ninguém atendeu. As esposa e a filha do contador deviam ter ido à delegacia. Ou consultar os advogados de que falara o doutor Jonathan. Recolheu a ficha de volta, pensando que até o dia seguinte nada mais havia a fazer.


 


"Mas o que há a fazer?", pensava o garoto esperando o sono chegar. "E como é que justamente eu poderia fazer alguma coisa?"


 


- Você pode fazer tudo o que quiser. - era a voz da mãe ressoando em seus pensamentos.


 


Sarah já jantara rapidamente com o filho e tinha voltado para o trabalho. Não dormiria quase nada naquela noite. James sabia que ela no máximo teria direito a uns cochilos  só estaria de volta no dia seguinte, depois das 9 da noite.


 


Os sonhos com Lílian em seus braços foram substituídos por pesadelos, onde a própria menina estava na cadeia, sendo torturada por um policial suado, de voz grossa... No tapete, ao lado da cama de James, Almofadinhas dormia tranquilamente.


 


 


 


 


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Gostaria de chegar mais cedo na escola, mas o "seu" ônibus, dirigido por aquele motorista que o conhecia de buzinava duas rápidas vezes para que ele não tivesse se perguntar a ninguém qual o ônibus certo, tinha seu horário de chegar. Para descer, James não precisava de ajuda, pois era capaz de localizar-se durante todo o trajeto do ônibus e saber até em que ponto do percurso ele estava.


 


A primeira aula era Educação Física. James alegou uma dor no joelho para ser dispensado da ginástica de que tanto gostava. O professor recomendou-lhe exercícios leves na piscina, sabendo quanto o garoto adorava nadar. E James teve de inventar um começo de resfriado para receber a dispensa total.


 


Correu para a biblioteca e ficou de pé, junto à porta, folheando as páginas do primeiro livro que seus dedos tocaram ao estenderem-se para a estante. Virava as páginas a esmo, com os ouvidos em alerta para qualquer movimento no corredor que viesse da sala da diretoria.


 


"Nessa hora, o lógico seria uma reunião entre os diretores e a Sra. Evans. Com Lilian junto, na certa."


 


O tempo passava e a ansiedade de James só fazia aumentar. Recolocou o livro na estante e voltou para o corredor, andando em direção a sala da diretoria. Adiante dela, ficava a sala dos professores. Se alguém perguntasse o que ele fazia ali, diria que... o que ele diria? Bom, inventaria qualquer desculpa na hora.


 


Na frente da porta fechada, abaixou-se e passou um tempão as voltas com os cordões do tênis. Aquela era a sala anteriormente ocupada pelo professor Dumbledore, onde agora, instalara-se Jonathan. A sala de Augusto ficava no terceiro andar, junto ao salão dos computadores.


 


Vinda da sala da diretoria, ouvia uma fala ansiosa, suplicante, mas impossível distinguir as palavras. Dava para perceber que era uma mulher adulta. Uma chorava, nos breves intervalos entre as súplicas. Ouvia outra voz, com um tom maus fofo, mais apaziguante, masculina.


 


"É o doutor Jonathan"


 


As vozes se aproximavam-se da porta.


 


"Reunião encerrada. Preciso me mandar... A sala dos professores! Fica vazia depois do sinal. É pra lá que eu vou!"


 


Já estava dentro da sala dos professores, procurando esconder-se, quando a porta da diretoria foi aberta.


 


- Já disse para não se preocupar, dona Helena... – era a voz de Jonathan. – Tudo não deve passar de um terrível engano. Confie em nossos advogados.


 


- Mas o Allan nem quis minha visita, lá na delegacia... Recusou-se a ver a própria esposa e filha... – a voz da mãe de Lilian saíra fraca, na certa devido a doença.


 


- Ele deve estar perturbado. A senhora vai poder abraçá-lo ainda hoje, dona Helena. Os advogados vão entrar com um habeas corpus. O crime dele é...


 


Uma voz mais jovem explodiu, indignada:


 


- Crime?! Meu pai não é um criminoso, diretor!


 


"Lílian"


 


- É claro que não, querida, é claro que não! O que eu dizer é que...


 


- Meu pai é inocente! Inocente!


 


A voz da menina ficou abafada. O diretor devia estar abraçando-a.


 


- Calma, Lílian... tudo vai ficar bem... Nós todos da escola confiamos no seu pai...


 


Os três afastaram-se pelo corredor. O jovem doutor Jonathan guiava mãe e filha para a saída, sempre consolando ternamente as duas. Distraído pela cena que ouvia, James não percebeu uma quarta pessoa que entrava na sala dos professores.


 


- O que é que você está fazendo aqui, moleque? – era a voz dura de Augusto.


 


 


 


 


• • •


 


 


 


 


Outra reunião de três pessoas na sala da diretoria. Desta vez, James fazia parte dela. E o diretor que o arrastara para lá não estava para consolar ninguém:


 


- Veja Jonathan! Peguei esse moleque escondido na sala dos professores.


 


- James? Por que você não está na classe? – perguntou Jonathan, com um tom divertido na voz.


 


- Eu... É Educação Física... fui dispensado.... é que eu...


 


- Você o que? O que é que você estava bisbilhotando na sala dos professores? Não conhece as regras do colégio? O que é que você queria lá?


 


- Na-Nada...


 


- Ah, vai ver queria meter o nariz nos armários dos professores, não é? Vai ver queria descobrir o que vai cair em alguma prova não é?


 


- Eu?! Não senhor...


 


Jonathan riu abertamente e nem perdeu tempo argumentando com o cunhado o óbvio daquela questão: Como é que eu aluno como James poderia 'meter o nariz' nas anotações dos professores?


 


- Ora, Augusto, não precisa ser tão severo com o rapaz... Vai ver James se perdeu nesse mundo de corredores...


 


"Boa! Como é que eu não pensei nisso antes?"


 


Então, o garoto agarrou a deixa:


 


- É, foi isso mesmo! Pensei que era a biblioteca. Nem sabia que era a sala dos professores...


 


A mão delicada de Jonathan pousou em seu ombro, guiando-o para a saída. O episódio não teria maiores conseqüências. Afastou-se, ouvindo a voz de Augusto:


 


- É. Se papai não estivesse no hospital esse garoto ia acabar suspenso! Você é mole demais, Jonh!


 


 


 


 


• • •


 


 


 


Como é que naquele pátio tão grande e vazio durante as aulas James pôde descobrir onde estava Lílian? Talvez por que ele soubesse que aquele era o "cantinho" da menina. Um trecho de mureta, depois das quadras, onde as vezes ela ficava sozinha, mergulhada em pensamentos.


 


Quantas vezes James tinha se aproximado por trás dela, podendo sentir-lhe o perfume, sem jamais conseguir coragem para dirigir-lhe uma palavra que fosse? Mas agora é diferente. Fechou a bengala dobrável e guardou-a no bolso. Chegou por trás da mureta e falou, logo que a brisa confirmou-lhe quem estava ali.


 


- Oi, Lily...


 


James notou que a voz da garota respondia para a frente, sem voltar-se para o garoto que invadia sua privacidade. E sua tristeza...


 


- Por favor, James, eu quero ficar sozinha.


 


Lílian o tinha reconhecido, somente por sua voz, sem nem precisar olhar para o seu lado. Uma coragem que James desconhecia em si mesmo, fez com que insistisse, com segurança, ainda que o seu tom de voz tenha saído meio tímido.


 


- Não, Lily. Numa hora dessas, você não pode ficar sozinha. Eu quero ajudar você.


 


- Você, James? – dessa vez a voz voltara-se para ele. Lílian o encarava, na certa descrente daquela oferta tão absurda.


 


- Eu mesmo Lily, Sei que seu pai não fez nada de errado. Nós precisamos provar isso.


 


- Como é que você sabe? O que você sabe James? Meu pai confessou o desfalque...


 


- Sei disso também. E isso só aumenta a minha certeza de que tem muita coisa errada nessa história toda.


 


James sentiu os braços da menina lhe envolverem em uma abraço forte, de agradecimento, e soltar-lhe os ombros para olhá-lo enquanto falava.


 


- Obrigada, James. Mas o que a gente pode fazer?


 


- Vamos à delegacia, Lily. Precisamos descobrir porque seu pai confessou o desfalque...


 


- Eu e a mamãe estivemos lá ontem. E papai recusou-se a falar com a gente.


 


- O doutor Jonathan disse que os advogados iam entrar com um habeas corpus, para libertar seu pai. Nem sei direito o que é isso, mas já ouvi dizer que os advogados conseguem soltar pessoas com esse documento. O tal habeas corpus deve ser entregue ainda hoje de manhã. Vamos a delegacia. Seu pai deve estar saindo de lá agora. Não vai poder fugir de você, vendo a filha na porta, à espera dele.


 


- Mas a mamãe...


 


- É melhor irmos só nos dois, Lily. Ele deve estar se sentindo...


 


- Com vergonha de nós duas?


 


- Bom eu não queria...


 


- Pode deixar, James. Essa é a única explicação que existe para o papai não querer ver a gente. Um homem como ele, sempre certinho, deve estar morrendo de vergonha de receber a família do lado de dentro de uma cadeia... – deteve-se um pouco, engolindo um soluço que teimava em explodir. – Papai passou a noite lá, numa cela... na certa na companhia de bandidos que...


 


- Não pense nisso! – interrompeu James – Temos que agir. Venha comigo. A delegacia fica a três quadras do colégio.


 


Ele segurou o cotovelo da menina e Lílian se deixou levar. Almofadinhas atravessou o jardim como uma flecha e juntou-se aos dois.


 


- Olá cachorrinho...


 


Lílian ajoelhou-se e acariciou o pêlo fofo do pequeno Almofadinhas, que sacudia a cauda para ela e procurava lamber-lhe as mãos.


 


- O Almofadinhas gostou de você, Lily.


 


Gostaria de acrescentar "quase tanto quanto eu", mas ficou com a comparação só para si.


 


Caminharam em silêncio, ambos sentindo que muita coisa os unia naquele colégio. Pelo menos, ela e James faziam parte daquela "percentagem" de alunos que não chegavam e saiam de Hogwarts em carros luxuosos. Dois adolescentes pobres, num colégio de ricos.


 


Almofadinhas corria ao lado do rapaz, esfregando-se em suas pernas. Com a mão no ombro de Lílian, James não tirou a bengala dobrável do bolso.


 


 


 


 


 


 


• • •


 


 


 


 


 


 


A voz que os recebia atrás do balcão da delegacia era tão malcriada como aquela que James fizera ao telefone para interrogar Tadeu:


 


- Que é que vocês querem?


 


- Nós queríamos falar... – começou Lílian.


 


- Precisamos falar com o delegado Mendes. – interrompeu James.


 


Por trás deles, uma voz grossa perguntou:


 


- O que vocês querem comigo?


 


"Nada de conversa. Vamos logo!", era o que James lembrava de ter ouvido aquela voz dizer, no dia anterior. "Um malcriado, vou ter de ir com jeito."


 


O policial ofegante, que James encontrara pela primeira vez arrastando o Sr. Evans pelo corredor, estava ali, atrás deles, com o mesmo jeito de poucos amigos que parecia ser a sua marca registrada. A seu lado, o garoto percebeu a presença de mais alguém, que mascava um chiclete de cheiro enjoativo, com a boca aberta. O tal Xavier. Ali estava a dupla que havia prendido o Sr. Evans.


 


- Delegado Mendes? Que bom encontrar o senhor. Esta é Lílian, filha do Sr. Evans, aquele que...


 


- Sei quem é a menina, garoto. – cortou o delegado, agressivo, como se estivesse prestes a expulsar os dois. – Ela já esteve aqui ontem, mas o sujeito não quis falar com ela, nem com a mulher. E você, quem é? Filho dele também?


 


- Desculpe perguntar, mas os advogados já entraram com o habeas corpus, delegado?


 


- Nenhum maldito advogado apareceu por aqui.


 


"Ainda não? O que andam fazendo esses tais advogados?"


 


- Será que a gente poderia ver o Sr. Evans agora?


 


- Negativo. Ele não quer receber ninguém, eu já disse!


 


Sem despedir-se, o delegado Mendes e o investigador Xavier sumiram para dentro da delegacia.


 


 


 


 


 


 


• • •


 


 


 


 


A mão de James apertava o ombro de Lílian, consolando-a.


 


- Eu não vou chorar... – sussurrou ela. – Eu não vou chorar...


 


James sentiu um corpo grande que chegava por trás deles. Sentiu também uma mão no ombro. A outra deveria estar envolvendo Lílian.


 


- O que aconteceu meninos?


 


A voz era seca, mas sem qualquer tom agressivo,


 


- Nós... – começou James. – Mas quem é o senhor?


 


- Não me chame de senhor garoto. – respondeu o grandalhão. – Esse negócio de senhor me faz parecer mais velho. Sou o investigador Weasley. O que vocês vieram fazer aqui?


 


- Meu nome é Lílian, vim falar com o meu pai...


 


- Quem é seu pai, garota? O que ele fez para estar aqui?


 


- Ele não fez nada, seu... quer dizer... Weasley... – intrometeu-se James. – Ele é um homem honesto. O nome dele é Allan Evans.


 


O investigador soltou o ar vagarosamente.


 


- O Allan? Sei quem é. O caso não é meu. O carcereiro diz que esse é um prisioneiro estranho, rapaz, muito estranho. Não se defende, não quer falar com ninguém. Não pede nada, parece o tempo todo a ponto de chorar.


 


- Chorar? Oh, papai... – murmurou Lílian, abraçando James pelo ombro.


 


James procurou um tom de voz mais conciliador, tentando convencer o investigador:


 


- Sei que ele não quis falar com a família, Weasley. Mas, será que o senhor... que você não pode nos ajudar? É que, depois de uma noite na cela... pode ser que ele tenha mudado de idéia, não é?


 


Weasley suspirou, bufou e decidiu-se:


 


- Está bem. Vou ver se o prisioneiro quer receber vocês. Mas o cachorro não entra, hein?


 


 


 


 


 


• • •


 


 


 


 


 


- Oh, papai!


 


Sentados em um bando de madeira, a menina abraçava Sr. Evans. Filha e pai choravam em silêncio, tentando consolar um ao outro.


 


- Minha menina...


 


- Papai, você não fez isso! Eu sei que não fez. Por que confessou?


 


- Lily... – Allan suspirou fundo. – tente entender... sua mãe precisava dos remédios tão caros...


 


- Os remédios? Mas telefonaram ontem do hospital, dizendo que todas as doses que a mamãe precisa estão liberadas para ela. Até o fim do tratamento. O que isso tem a ver...?


 


- Tudo minha filha. Compreenda. Eles liberaram os remédios porque eu dei o dinheiro para eles. Eu precisava desesperadamente conseguir dinheiro para o tratamento de sua mãe... Senão, ela teria poucos meses de vida...


 


Os soluços da garota foram abafados contra o peito do pai. A voz do contador saía baixa, quase um sussurro, enquanto suas mãos afagavam os cabelos da filha:


 


- Obrigado, James, por cuidar da Lily. Tente ajudá-la a compreender. Eu tinha que conseguir o dinheiro...


 


James aproximou-se do homem e tocou-lhe o braço, como se também fosse seu filho.


 


- Sr. Evans... foram os contadores que descobriram o desfalque, não foi? Foi muito difícil a auditoria?


 


- Não... as alterações eram tão grosseiras que... – interrompeu-se e mudou de tom. – É que eu estava nervoso, não sabia lidar com os computadores e acabei fazendo tudo meio malfeito...


 


- Os auditores vieram logo depois do acidente Sr. Evans? – continuou James, como se fosse uma criança que pede humildemente explicações a um adulto. – Ele tinha concordado com a auditoria?


 


- Não, ele não queria que... – sacudiu a cabeça a pôs-se de pé, num arranco. – Ora, o Velho está no hospital. Talvez nunca se recupere. Vamos deixá-lo em paz. Agora preciso voltar para a cela. Tente compreender,  filha... Cuide bem da sua mãe e não se envergonhe de mim...


 


- Eu, papai? Me envergonhar de você? Nunca!


 


- Me espere com paciência. Talvez minha condenação seja leve. Tudo vai ficar bem, você verá. Sua mãe vai ficar curada e você continuará com a bolsa de estudos. Tenho de pagar pelo que... – aspirou com força, como se procurasse forçar-se a completar a frase. – ...pelo que fiz.


 


Voltou as costas e saiu, levado por um policial, sem olhar para trás. Weasley, que presenciara a conversa, afrouxou a gravata, como fazia toda vez que se sentia inseguro.

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