Capitulo 4



Capitulo 4


Um criminoso denuncia seu próprio crime? Não pode haver crime sem motivo! Visitas Proibidas.”


 


 


No saguão de entrada da delegacia, o garoto não falava. De cabeça baixa, seu raciocínio revolvia-se com tal intensidade que ele parecia estar ausente. Tinha certeza de que o Sr. Evans havia fornecido pelo menos duas boas contribuições para ajudar a esclarecer aquele mistério. Uma era os tais erros grosseiros... Grosseiros? E a outra era... Qual a outra? A bolsa de estudos... O que tinha a bolsa de estudos de Lílian a ver com os desfalques?


 


Almofadinhas aceitou o colo da nova amiga. Aos poucos, o carrinho e o calor daquele pequenino felpudo a acalmava. Também aos poucos, a expressão de James mudava. Era agora a de quem estendera alguma coisa, algo que tinha escapado à menina, na emoção de encontrar o pai numa cadeia. Erros grosseiros? Como um ótimo contador cometeria erros grosseiros em seu próprio desfalque?


 


- Não entendo James. Por que papai confessou essa barbaridade? Ele jamais faria isso!


 


A voz da amiga despertou-o de seus pensamentos e James falou, com um misto de segurança e alegria:


 


- Ora, Lily! Depois dessa conversa com seu pai, isso ficou mais do que claro, não acha?


 


- Ficou claro? O que ficou claro?


 


- A inocência do seu pai.


 


- Mas ele não disse nada James. Ficou só reafirmando o tempo todo que era o culpado e...


 


- Ao contrário, Lily. Ele nos disse, o tempo todo, que não foi ele quem tirou dinheiro da escola!


 


- Que não foi ele? O que você está querendo dizer James?


 


- Essa é a história mais mal contada que eu já ouvi. Em primeiro lugar, porque o próprio autor do desfalque convocaria uma auditoria para descobrir um crime que ele cometeu?


 


- É... não tinha pensado nisso... Vai ver foi o próprio Dumbledore que...


 


- Ah, ah! Aí está: seu pai parou de falar justo na hora que deixava escapar que o Velho sabia do desfalque. Sabia do desfalque à duas semanas, <i>antes</i> do acidente!


 


- Bom, mas isso não quer dizer que...


 


- Quer dizer muita coisa Lily. O que você sabe do seu pai, profissionalmente? Ele é um bom contador?


 


- Claro que sim! É um dos melhores!


 


- E não ouviu ele dizer que foi fácil demais para os auditores descobrirem as alterações na contabilidade? Você acha que um contador competente como ele faria alterações "grosseiras" naquelas contas?


 


- Oh! Mas ele disse que estava nervoso, que não sabia lidar direito com os computadores...


 


- E por isso cometeria erros grosseiros? Erraria na aritmética? Confundiria as contas de um balando?


 


- Mas nós não sabemos se há erros de aritmética nas tais contas! E eu nem sei direito o que é um balanço!


 


- Nem eu, Lily, mas sabemos o que seu pai disse: erros grosseiros! Como é que o autor falaria assim de seu próprio ato?


 


O raciocínio de James começava a desanuviar o estado de espírito de Lílian. Seu coração disparava quando perguntou:


 


- Você acha que podemos provar que meu pai é inocente James?


 


- Pode ser, Lily. Mas isso ainda vai levar algum tempo. Nada podemos provar contra a confissão dele. Mas podemos ir atrás de mais detalhes dessa história tão confusa.


 


- Oras, James! A confusão continua a mesma! Papai confessou e...


 


- Vamos recapitular tudo o que sabemos do modo mais lógico: suponhamos que o seu pai descobriu uma alteração "grosseira" nas contas do colégio. Descobriu que o dinheiro estava sendo desviado. Falou da descoberta para o Velho, que caiu das escadas antes de poder tomar qualquer providência. Em seguida, com o professor Frederico no hospital, seu pai convocou uma auditoria para confirmar suas suspeitas. Daí...


 


- Daí nada, James. Daí ele confessou que foi ele mesmo!


 


- Esse é o ponto principal Lily! Nós temos de descobrir porque seu pai confessou. Essa é a chave do mistério!


 


- Não adianta James... – desanimou-se – Ele teve um fortíssimo motivo para o desfalque: a doença de mamãe!


 


- Qual hospital onde sua mãe se trata Lílian?


 


- No Central...


 


- No Central? Minha mãe trabalha lá!


 


Aquele era um hospital público. O segundo emprego de Sarah era no Metropolitano, o hospital dos ricos, onde o professor Frederico estava internado. James voltou-se e saiu quase correndo do saguão da delegacia em direção à calçada. A menina, carregando o pequeno Almofadinhas no colo, esforçou-se para alcançá-lo. Ele estava parado, junto à guia. Ficou vermelho e pediu:


 


- Agora eu preciso de você Lily, tem um telefone público aqui perto?


 


- Aqui do lado James, venha.


 


Lílian pegou na mão de James e o levou até o telefone público que ficava na esquina. Estava ocupado e os dois tiveram de esperar impacientemente. No momento em que ouviu o 'clic' do aparelho sendo desligado, James já estava em cima dele, quase empurrando à senhora que acabava de deixá-lo.


 


- Mas que falta de educaç... – a mulher calou-se, ao ver quem havia a empurrado. – Ahn, desculpe...


 


- Não, eu que peço desculpas, senhora. – respondeu James e ao perceber que a mulher já havia ido embora disse – Odeio quando as pessoas me tratam diferente, só porque sou diferente. Eu que empurrei a senhora, ela não precisava pedir desculpas.


 


- James, deixe isso pra lá...


 


- Tudo bem. – agora o garoto discava o número com pressa. Foi preciso esperar bastante tempo até que Sarah fosse localizada no hospital Metropolitano, onde trabalhava até o almoço. – Alô? Mãe? Sou eu... Preciso de um favor.


 


Com o barulho da rua, Lílian não conseguia escutar a breve conversa.


 


- Qual o número deste telefone Lily? – perguntou o rapaz, interrompendo a conversa.


 


A menina aproximou-se e leu o número em voz alta. James repetiu cada um deles para a mãe e desligou.


 


- Pronto Lily! Vamos esperar aqui mesmo, mamãe vai ligar já, já com a resposta.


 


 


 


 


 


 


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Don Peperone estava feliz. Afrouxou a cinta e deixou as calças caírem no piso de mármore do imenso banheiro. As banhas esparramaram-se em toda volta do seu corpo, cobrindo metade da privada. Ficava sempre assim, relaxado, contente, quando estava fazendo um boa digestão. Mas, naquela manhã, havia razões mais fortes para deixá-lo de bem com a vida além do belíssimo sanduíche de pastrami que tinha saboreado, fazendo uma boquinha antes do almoço.


 


Os negócios iam de bem para melhor. Mais uns ias e seus negócios iriam estender-se além do comércio de drogas e do jogo ilegal. Com os novos planos, as organizações de Don Peperone haveriam de tornar-se tão honestas como um banco. " Os negócios imobiliários! Isso sim dá ricchezza. Molto danaro!" Arrotou de felicidade ao lembrar-se o quanto tinha sido fácil envolver o diretor daquela escola. Como gostava de jogo, o canalha! Foi só dar-lhe crédito, até que sua dívida se tornasse impossível de pagar e o resto ficou fácil. "Ah, ah! E o coitado achou que podia livrar-se dessa, desviando uns trocadinhos da contabilidade da escola! Ah, ah! Stupido ragazzo..."


 


Mas agora estava tudo bem,. O rapaz afinal se convencera. Com o afastamento do velho diretor, logo aqueles valiosíssimos quarteirões estariam à disposição de suas mãos gordas. A demolição do colégio não deveria levar mais que uns três ou quatro meses e as cotas do novo shopping center poderiam começar a ser vendidas. "Imagine! Uma stronza di uma scoula naquele terreno tão espetacular... Que desperdício!"


 


Mais um dia ou dois, e o Velho estaria morto, resolvendo todos os problemas e coroando de êxito os planos de Don Peperone. Os gases ribombavam no bojo de porcelana da privada, como uma banda de bumbos a acompanhar-lhe os pensamentos.


 


 


 


 


 


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Lílian estava bem próxima do amigo, apenas com o cãozinho entre os dois. James acariciava a cabecinha de Almofadinhas e sua mão tocava-lhe o corpo de vez em quando. O adorado perfume daquele corpo nunca estivera tão perto dele. Por um momento o rapaz esqueceu que estava metido numa investigação de gente grande, como se nunca tivesse feito outra coisa do que desvendar mistérios. O calor do corpo de Lílian ocupou-lhe os pensamentos por completo. Sentiu a boca seca e tinha certeza de que a garota percebia o tremor em suas mãos. Num momento, ao envolver a cabecinha do cachorrinho, as costas das mãos de James esfregaram, sem querer, o seio de Lílian.


 


- Ahn, desculpe... – balbuciou James, retirando a mão.


 


- Oras James, não se preocupe, não foi nada. – sussurrou ela, sem saber dizer mais.


 


O tempo todo tinha observado aquela mão, cujas costas procuravam enquanto a palma fingia alisar a cabeça do cachorrinho. E nada fizera para impedir a manobra. "Quem é esse rapaz?", pensava, tentando enxergar os olhos de James, atrás das lentes dos óculos escuros. Além delas, o que lhe haveria? Aquele rapaz era tão... Dedicado? Delicado? Muito mais! Porque ela nunca se aproximara dele? E porque ele se interessava tanto pela sua situação? Ah, tanta coisa estava acontecendo em sua vida, desde a manhã anterior...


 


O primeiro toque do telefone nem se completou e James já atendia.


 


- Alô? Sou eu, mãe... O quê? Tem certeza? Ótimo, mãe! – desligou e parecia iluminado ao voltar-se para a amiga. – Descobrimos Lily!


 


A garota agarrou-lhe o braço, ansiosa, ainda abraçando almofadinhas com a outra mão.


 


- O quê? Descobrimos o quê?


 


A ansiedade de James parecia ainda maior.


 


- Seu pai não usou nenhum dinheiro roubado para comprar os remédios, Lily! Os remédios saíram de graça pelo convênio médico da escola, que abriu uma exceção e autorizou o Central a fornecer todos os medicamentos, pois foram pressionados pelo doutor Jonathan! Minha mãe é demais, quando resolve descobrir alguma coisa: falou com a administração do Hospital Central e telefonou para uma conhecida que trabalha para o convênio médico de Hogwarts. Acabou descobrindo que o doutor Jonathan insistiu com os diretores do convênio em favor de sua mãe. Chegou a mandar uma carta ameaçando contratar outro plano de assistência médica para os funcionários da escola, se os remédios não fossem fornecidos!


 


- James! Isso quer dizer que...


 


- Quer dizer que seu pai não tinha o motivo que ele mesmo alegou para praticar o desfalque! Não pode haver crime sem motivo! E, pelo menos que a gente saiba, ele não tinha outro motivo para precisar de tanto dinheiro, tinha?


 


- É claro que não, James. Mas então...


 


- Então ele estava encobrindo alguém ao confessar! Agora temos de descobrir duas coisas: quem é esse alguém e porque seu pai assumiu a culpa no lugar dele!


 


O estado de ânimo de Lílian estava bem diferente daquele que a atormentava desde o dia anterior. Sorriu para o amigo, que lhe trazia esperanças e apertou-lhe a mão.


 


- Você está me saindo um ótimo detetive, James. Mas eu também sou meio detetive. Quer ver?


 


- Você está querendo gozar com a minha cara, é?


 


- Não estou não, Jay. Quer ver como eu também sou capaz de deduzir coisas?


 


- Quero sim, claro...


 


- Sua mãe... – começou Lílian, com desafio em sua voz. – Teve de fazer plantão de enfermagem essa noite não teve?


 


- Teve...


 


- E quando você acordou, hoje de manhã, estava sozinho em casa não estava?


 


- Boa! Como você descobriu isso tudo?


 


- Elementar, meu caro Sherlock! Por que você está com uma meia amarela e outra vermelha!


 


 


 


 


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 - Alô? Sou eu, Don Peperone... A menina esteve aqui... Positivo. E dessa vez o homem aceitou falar com ela... Estava com um rapazinho junto... De óculos escuros... Negativo. Não consegui ouvir o que o prisioneiro falou para os dois moleques... Pode deixar, continuarei de olho, Don Peperone.


 


 


 


 


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Os dois estavam calados há um tempão, andando devagar. Não falavam, mas ambos sabiam que toda a euforia das primeiras descobertas não pareciam levam a nada. Como fazer o Sr. Evans dizer a verdade? Ele deveria ter um motivo muito forte para ter confessado e encobrir o verdadeiro culpado pelo desfalque. Como descobrir esse motivo?


 


Lílian gostaria de perguntar "O que faremos agora, James?", embora a qualquer um pudesse parecer estranho que ela estivesse sendo guiada por alguém como ele. Mas nada falou, pois sabia que o amigo estava fazendo a mesma pergunta a si mesmo.


 


Almofadinhas já saltara de seu colo e corria livremente há frente dos dois, "marcando" cada árvore e cada posta que encontrava.


 


- Lily... – a mão de James tocou-lhe levemente o braço. – Seu pai falou com o Velho das alterações nas contas da escola! Tenho certeza. O professor Dumbledore sabia do desfalque, ou pelo menos já desconfiava dele, quando sofreu o acidente. Aposto que ele sabe quem é o verdadeiro culpado!


 


- Pelo que papai disse, pode ter sido isso mesmo, mas...


 


James tinha parado de andar. Suas sobrancelhas crispavam-se por trás dos óculos escuros. Ele estava concentrando e encontrara um caminho.


 


- Como estará o Velho?


 


- Bom, dizem que ele ainda está mal, na UTI do Metropolitano...


 


- Estará consciente, Lily? Será que a gente conseguiria falar com ele?


 


- Falar com o Velho? Duvido! Quem está em terapia intensiva nos hospitais...


 


- Não pode receber visitas? Mas temos de tentar, ruiva. Não temos mais nenhuma pista a seguir.


 


- Certo, mas... Ruiva? Como sabe que eu sou ruiva?


 


- Ahn, é que... eu... ahn...


 


- Não se preocupe, gostei do apelido. :]


 


 


 


 


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O Metropolitano ficava muito longe. No bairro dos ricos. A mãe de James vivia dizendo que era um dos hospitais mais caros da cidade, embora, segundo ela, estivesse longe de ser um dos melhores. Um local onde o luxo e a hotelaria pareciam mais importantes do que a ciência.


 


Lílian telefonara para casa e tranqüilizara a mãe, mentindo que ia almoçar na casa de uma colega. Ao desligar, lembrou-se da Sra. Potter, mãe de James:


 


- Será que sua mãe pode nos ajudar lá no hospital?


 


- Não Lily, ela deve estar saindo de lá agora. Não tem nem tempo para almoçar. Pega um ônibus e corre para o Central.


 


“Vida dura" pensou Lílian. O ônibus levava um tempão para transportar os dois jovens até o Metropolitano. Almofadinhas parecia decididamente ter preferido o colo de Lílian ao colo do dono, e James sentia um pontinha de inveja do cachorro. Para falar a verdade, sentia uma inveja imensa! A manhã já terminava quando desceram do ônibus. Passara a hora do almoço, mas nenhum dos dois estava com dinheiro, só passes para ônibus.


 


- Pelo jeito esse hospital é só pra quem pode James. Só tem carro importado.


 


O saguão de entrada do hospital estava fresco, refrigerado, e a recepcionista não “recepcionava” os dois com a mesma afabilidade que deveria oferecer a quem tivesse uma aparência mais próspera:


 


- O que desejam? Têm alguma consulta marcada com um oftalmologista?


 


James não se perturbou com a secura daquela voz, nem com óbvia citação de um oftalmogista. Sentiu que a moça estava fortemente perfumada. Até demais pro seu gosto e pra quem trabalha pela manhã num hospital. Os cheiros de maquiagem pesada e do perfume barato misturavam-se ao leve odor de desinfetante que mantinha imaculado o hospital.


 


- Não. Nós queríamos visitar um paciente. Professor Alvo Dumbledore.


 


A moça digitou alguma coisa no teclado a sua frente e, em menos de um minuto, já tinha a resposta que eles temiam.


 


- O paciente está na UTI. Visitas proibidas.


 


- Mas é que nós somos do grêmio estudantil da Hogwarts High School – mentiu James – Fomos encarregados de saber do estado de nosso diretor...


 


- Condição estável, diz o último boletim médico.


 


- Estável como? Ele pode falar ou está inconsciente? - Perguntou Lílian.


 


- Estável quer dizer que ele continua do jeito que estava antes.E só os médicos podem dar maiores detalhes.


 


- Será que nós podemos falar com o médico responsável para saber que condição e essa?


 


- Vocês não são da família. E eu sou obrigada a pedir que saiam. Não são permitidos animais no hospital.


 


A pista tinha se formado em um muro de Berlim. Os dois amigos saíram frustrados do hospital. Quase como uma pequena vingança pela saída forçada dos dois, James comenta:


 


- Coitada dessa mulher, enche-se de maquiagem, emboneca-se toda mas nem assim consegue ficar bonita...


 


Lílian estranhou.


 


- Oras James, como é que você sabe que essa mulher é feia?


 


- Ora James, vírgula! Do meu gosto essa recepcionista não é. O que você acha? Ela é feia ou não é?


 


- Pra falar a verdade, ela é realmente feia, mas eu só não entendo é como você sabe disso!


 


- Eu sempre sei quando uma mulher é feia ou bonita, Lily...


 


A garota parou de andar e tocou-lhe o braço:


 


- Ah é? Então me diga Jay, eu sou feia ou bonita?


 


O rapaz ficou sério por um instante. Resolveu tentar uma cantada. Não é das piores, mas também não é das melhores.


 


- Ah, ruiva, você é linda.


 


Ah garota corou com a resposta, mas isso James não pode ver.


 


- Ah, seu chato! Não minta! - a menina revidou sorrindo.


 


Os dois riram e continuaram a conversar. Enquanto conversavam, Almofadinhas rosnava. James sentiu uma mão forte em seu ombro.


 


- Muito bem meninos. Vamos ter uma conversinha.


 


Era a voz do investigador Weasley. O cheiro de chiclete mostrava que o outro, o tal Xavier, estava com ele.


 

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