Capítulo X



 


Operação: Garotos à Vista.


Copyright 2008 by Aline Fonseca (Nine Black)


Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios.


 


 


Quando pesadelos tornam-se realidade.


ou Capítulo X.


 


Evite a popularidade; ela tem muitas armadilhas,
e nenhum benefício real
.”


William Penn.


 



 Narrado por: Dorcas Meadowes.
 Hoje, Segunda, 17 de Fervereiro.
 Ouvindo: Delírios da Marlene.
  Local: Banheiro Feminino.


 


Sabe quando você sente todos os olhares grudados em você? Como se você estivesse com o cabelo pintado de rosa-shocking, carregando uma placa escrita “Loser” nas suas costas e com um bigode de leite no buço?


 


E sua única saída é correr para o banheiro para ver se alguma dessas três opções está realmente acontecendo com você?


 


Nós nunca tínhamos tido esse problema nas nossas vidas, mas quando eu e Marlene chegamos ao colégio nesta manhã, supostamente, rotineira de segunda-feira. Fomos abordadas por olhares que pareciam nos despir há distância.


 


Quase pirei e tive aquele acesso de freak-it que a Marlene tem quando é exposta a situações contrangedoras/estressantes/humilhantes.


 


- Dorcas, será que a gente está num daqueles sonhos terríveis nos quais nós vamos para o colégio sem roupa e todo mundo fica nos encarando e rindo da nossa cara? – Marlene sussurrou no meu ouvido.


 


- Aquele que a gente tem desde o primário entrando na escola só de lingerie? – Eu completei olhando para o meu próprio corpo e em seguida para o da Lene. – Só se eles tiverem visão raio-x como o Super-Homem porque eu ainda estou te vendo com aquele moletom horrível que dá quatro de você.


 


- Ei! Você disse que ele era fofo. – reclamou Marlene puxando-me na direção do banheiro.


 


- Eu disse que ele te deixava fofa... – Escapou. :x


 


- Uau, isso realmente conseguiu amassar o meu ego. – Ela correu para o espelho em cima da pia.


 


Procuramos alguma coisa errada nos nossos reflexos, e não encontramos nada. A não ser a espinha que eu ganhei na bochecha, mas o cabelo cobria e ela não era uma acne tão monstruosa assim.


 


Uma garotinha que parecia ser do quinto ano passou por nós e ficou encarando a Lene por quase um minuto, quase sugeri que ela tirasse uma foto ou pedisse um autógrafo, mas achei que além de ser algo grosso de se dizer era meio malvado, então guardei os pensamentos naquela seção: “Nunca Falar em Voz Alta”.


 


Eu e Marlene entramos nos reservados para ter certeza que nenhum acidente do tipo “Rio Vermelho” tinha nos pegado. Esse é tipo o nosso código secreto para quando a gente acaba menstruando em momentos inoportunos.


 


- AI MEU DEUS!!! – Marlene berrou. – DORCAS, LEMBRA DO ALERTA VERMELHO EXTRA-TURBO QUE ACONTECEU SÁBADO PASSADO?


 


Eu saí do reservado correndo, nem tinha terminado de fechar a calça, mas dane-se era o banheiro feminino e eu tinha uma amiga em apuros.


 


- Sim! – Eu falei batendo no box da Marlene. – O que aconteceu, Lene?


 


- Alerta Vermelho Super-Hiper-Mega-Ultra-Power-Extra-Turbo. – Ela disse abrindo a porta.


 


Juro por tudo o que é mais sagrado, até pelo Ashram na Índia, que nunca tinha visto a Marlene desse jeito, ela estava branca feito neve, o rosto dela estava translúcido, quase diáfano. Os olhos pareciam que iam saltar das órbitas.


 


- Celular... Lista... Top 10... Nome... Meu...


 


- Como é que é Mestre Yoda? - Eu perguntei, sem entender nada do que ela dizia.


 


- Olha o celular...


 


Tirei o dito cujo da bolsa, e (para a minha não-supresa) tinha uma mensagem nova:


 


Emmy
17-Fev-2009.
Já checou a Lista das Top 10, hoje? Eu sei que não, e também sei que a Lene está com você, então, pergunte a ela, acabei de mandar uma mensagem contando a novidade.


 


- O que é que tem na lista das Top 10? – Eu perguntei levantando os olhos, mas a Marlene não estava mais ali tentando se afogar na pia do banheiro. – Lene?


 


Não tive respostas, comecei a olhar dentro dos boxes, e advinha só? Ela estava parada encarando a privada como se ela fosse uma divindade maia.


 


- Está tudo bem? O que você está fazendo? – Eu perguntei me aproximando devagar.


 


- Estou calculando o ângulo que me fará caber dentro desse vaso sanitário. Talvez assim, depois que eu dê descarga, eu me enrole numa rede de nylon deixada por um daqueles pescadores do Canal da Mancha, e um ativista bonitão que está engajado no projeto de salvar os bebês golfinhos me encontre acreditando que eu sou uma nova espécie bebê baleia... – Marlene “explicou”, sem respirar - ...Daí ele descobrirá que na verdade, eu sou só uma humana desprovida de alguma beleza exterior que foi humilhada na frente de toda escola e cometeu uma tentativa frustrada de suicídio, então o Edward (ativista bonitão) se apaixonará por mim e pela minha história de vida triste e me pedirá em casamento. E nós viveremos felizes para sempre fazendo protestos em frente ao Parlamento e tacando pedras de enxofre nos navios baleeiros japoneses que estão em caçando baleia no ártico.


 


- Como é que é? – Eu disse sem entender absolutamente nada do que ela dizia.


 


- O amor da minha vida se chama Edward e é um ativista bonitão que está esperando para se encontrar comigo no Canal da Macha, estou tentando calcular o melhor ângulo para caber nessa privada para que eu chegue a tempo no nosso encontro. – Marlene explicou começando a medir o perímetro do vaso.


 


- Marlene, se acalma. Você precisa me dizer o que tinha na mensagem que a Emmeline te mandou.


 


- Alguma coisa sobre meu nome estar na Lista das Top 10. – Marlene respondeu. – Mas isso não é mais problema meu, porque eu não vou estar mais aqui em alguns minutos, pelos meus cálculos a bomba que está presente nos esgotos vai conseguir me dar o impulso necessário para chegar ao Canal da Mancha em menos de 10 minutos.


 


- Como ela está? – Lily chegou de supetão no banheiro.


 


- Super bem, ela está calculando que fração da velocidade em anos-luz a fará chegar no Canal da Mancha através de uma descarga. – Eu respondi. – Marlene, o que você acha da gente te conseguir um R2-D2 para aumentar a potência da bomba da descarga?


 


- Cala a boca, Dorcas. O R2-D2 está ajudando a Princesa Leia, o Hansolo e o Luke Skywalker a salvar a República da Galáxia. Eles precisam mais dele do que eu. – Marlene levantou uma das sobrancelhas para mim e me deu um pedala.


 


- Marlene, para com isso. Não é o fim do mundo! – Eu disse com a maior vontade de dar um tapa no rosto dela.


 


- Como não? Hoje é o dia mais humilhante de toda a minha vida, pior do que na terceira série quandoe eu fiz xixi nas calças depois de ir na Casa dos Horrores. – Marlene sentou na tampa da privada. – O que é que eu vou fazer? Não vou sair daqui nunca mais, vou assombrar esse banheiro que nem a Murta-que-Geme.


 


- Eca! – Lily deixou escapar. – Marlene, será que da pra parar de fazer draminha por besteira? Sinceramente, você está sendo agraciada por estar no topo da Lista das Top 10. E você merece isso, não tem porque ficar achando que é uma brincadeira de mau gosto.


 


- Mas é! Deus sabe que eu sou uma espécie de cruzamento entre um dos sete anões e aquela elfo doméstico amiga do Dobby.


 


- Winky. – Eu corrigi, e a Lily me lançou um daqueles olhares significativos.


 


- Para [N/A: Sem assento, eca] já com esse drama senão eu vou chamar a Emmy, e você sabe o que ela vai fazer... – Lily ameaçou.


 


Eu também sabia o que a Emmeline faria. E bom, eu no lugar da Marlene preferiria mil vezes sair por livre e não-espontânea vontade.


 


- Ok, eu vou. – Marlene deu um enorme suspiro.


 


Se eu, que não tinha nada a ver com  estar na Lista, já não estava gostando daquilo, imagina só a Marlene?


 


- Por que o amor da sua vida se chama Edward? – Eu quis saber, só por curiosidade. Sussurro: – Achei que ele se chamava Sirius.


 


- Engraçada, você, viu? – Marlene falou me lançando um daqueles olhares fatais, que eu juro por deus, parecia que ela queria explodir meu cérebro. – Ele se chama Edward porque todos os protagonistas Edwards de livros são perfeitões.


 


- Tipo, o Edward Cullen? – Lily disse dando de ombros.


 


- É, tipo o Edward Cullen, Edward Ferrars, Edward Rawlings, e o Edward Rochester.


 


- Você esqueceu o Edward, Mãos de Tesoura! – Eu disse.


 


- Não, eu não esqueci. – Marlene disse arregalando os olhos, assustada.


 


- Ah, qual é o problema? Eu gosto dele! – Retruquei.


 


- Lógico, mas para ser o Sr. Perfeito ele tem que ao menos poder ter abraçar sem te transformar em picadinho de carne. – Lily disse o óbvio.


 


- É, você tem razão.


 


Entramos na sala, e a Dióxido de Dihidrogênio nos lançou um olhar curioso, ela tinha mudado de lugar na sala! Isso mesmo, nada de sentar no lado oposto ao nosso! As coisas dela (que incluíam uma bolsa rosa quase fúcsia felpuda – alguém tem que dar a ela uma noção de moda) estavam na nossa fileira, mas precisamente no meu lugar na frente da Marlene!


 


Quem ela pensa que é para roubar o lugar dos outros? O Príncipe Harry? Nããããão, mesmo.


 


- Alerta: Dio-Dihi colocou a mente Darth Vader dela para funcionar. – Eu disse para a Lene e para a Lily. – Ela roubou meu lugar, acho que ela quer ser a sua nova melhor amiga, Lene.


 


Marlene revirou os olhos.


 


Estava prestes a enxotar o Lord Sith fêmea do meu assento quando senti alguma coisa vibrar no meu bolso.


 


Era o meu celular, logicamente,  e tinha uma mensagem nova do Remus, ela dizia:


 


Remus
17-Fev-2009.
Estou intimando você, quero dizer, a sua ilustre presença para o ensaio da banda hoje à tarde. O que você acha? Não adianta recusar, estou passando aí depois da aula para lhe raptar. Chama as meninas, também, se elas quiserem ir. :*


 


 Deixei um sorriso bobo e apaixonado escapar. Reli umas 15 vezes a parte do “lhe raptar”, era como se ele estivesse afirmando que me queria tanto quanto eu o queria.


 


- Você vai mesmo deixar ela sentar ali? – Marlene perguntou fazendo uma careta.


 


- Tanto faz. – Eu digo ainda encarando o celular. – Quem se importa com uma porcaria de lugar? A gente pode mudar de fileira, não pode?


 


- Oi, gatas! – Emmeline disse nos dando um abraço grupal. – Salve, Salve, nossa querida Marlene. Segundo lugar na Lista das Top 10, só perdeu para a intercambista brasileira.


 


Marlene se enfiou por dentro do casaco.


 


- Eu gostaria de esquecer isso e viver a minha vida tranquilamente, será que vocês poderiam parar de falar disso durante cinco minutos? Já não basta aguentar a D²  forçando a nossa amizade e querendo nossos lugares? – Marlene falou e eu ainda encarava o celular - O da Dorcas, precisamente, e ela nem parece ligar. Qual o problema com vocês? Só eu estou achando essa popularidade súbita o fim do mundo?


 


- Eu acho que nós deveríamos curtir essa nova fase... – Emmeline disse jogando a bolsa numa das carteiras. – E você deveria parar de ficar se preocupando.


 


- O Remus está nos chamando para o ensaio da banda hoje à tarde, o que vocês acham? – Eu perguntei de supetão.


 


- Ótima idéia. – Lily disse batendo palminhas, quase dando pulinhos.


 


Tive uma visão de relance e a Lily tinha se tornado um daqueles Teletubbies.


 


Assustador, Assustador, Assustador.


 


- Não vou poder ir. – Marlene disse encarando o teto. – Tenho que fazer compras com a minha mãe.


 


- Você está mentindo. – Eu falei. – O que foi?


 


- O Sirius vai estar lá, meu lado direito do encéfalo não resiste a tanto estresse psicológico num único dia. – Ela torceu o lábio e fez uma careta. – Me desculpem.


 



 Narrado por: Lily Evans. 
 Hoje, Domingo, 16 de Fervereiro.
 Ouvindo: Swans – Unkle Bob. 
Local: Aula de Biologia


 


Lene: O que faremos em relação Dio-Dihi?


 


Lily: Você? Gastando PAPEL? O que aconteceu com o seu protesto em relação ao genocídio das florestas tropicais no Brasil?


 


Lene: Está completamente de pé, ou eu deveria dizer desmatado? Mas, caso você não tenha reparado, este é um papel reciclado.


 


Lily: Notório, mas não é por isso que vamos gastá-lo, não é?


 


Lene: Cala a boca, a gente precisa expulsar a dita cuja daqui, a Dorcas está com aquele olhar sonhador como se tivesse visto uma nuvem cor-de-rosa, ou um unicórnio verde-limão.


 


Lily: (?????)


 


Lene: Você sabe, aquele olhar.


 


Lily: Ah, saquei. Mas eu também não vejo problema com a D², você está assim porque acha que ela está por trás de tudo isso.


 


Lene: E você não? Existe alguma mente diabólica por trás de toda lista medíocre de popularidade. E a do Top 10 não foge as regras.


 


Lily: É nesses momentos que eu nutro certo medo de você, tenta ficar tranquila, acho que eles finalmente enxergaram a verdade. Você é linda e uma super amiga. Estão te dando valor, aceita isso e presta atenção nas Briófitas!


 


Lene: Falando em Briófitas... Qual foi essa do professor de Biologia? Será que ele podia rebolar menos? Alguém avisa a ele que o prazo para se candidatar a globeleza já passou há tempos.


 


Lily: Né? Olha só para ele, não acredito que ele deu uma de Cover-Dougie e bordou o nome na camisa. Isso é tão ultrajante, não acredito que ele casou.


 


Lene: Será que ele obriga a esposa dele a bordar o nome nas camisas? Isso é tortura! Vamos denunciar a polícia!


 


Lily: Vamos! É trabalho escravo!


 


Lene: será que o que ele tem é uma esposa? Porque rebolando assim... Nos leva a cogitar que a fruta dele é outra...


 


- Posso ver esse papel, senhorita Evans? – Eu me atrofiei na cadeira, tentando enxergar alguma coisa além da pança (nada sexy) dele.


 


- Se o senhor pode? – Eu quis saber sorrindo, ainda com os olhos estreitos. – Eu receio que não...


 


- Ah, é? E por quê? – Ele pôs a mão na cintura. Era errado imaginar que esse cara casado era gay?


 


- Porque é um assunto meio pessoal, e o senhor provavelmente não vai entender, sabe como é, são assuntos de problemas femininos. – Eu pisquei, de modo que ele entendesse que eu estava falando de menstruação.


 


- Ah, sim... Tudo bem. – Então ele se aproximou de mim, mas precisamente do meu ouvido. – Você e a senhorita McKinnon precisam ir ao banheiro?


 


- Sim, professor. – Eu disse fazendo sinal para a Marlene se levantar. – Obrigada.


 


Marlene me seguiu, com um sorriso frouxo e assim que atravessamos o arco da porta, corremos para o banheiro.


 


- Essa foi por pouco. – Eu disse sentando na pia.


 


- Se foi, já pensou ele lendo nossa comparação com a globeleza? Deus sabe que não sairíamos do colégio vivas. – Marlene disse cortando a garganta.


 


- Nossa? Que eu saiba foi sua... – Eu disse fazendo picadinho do papel. – Mas tudo bem, eu mencionei que o que ele fazia com a mulher era trabalho escravo.


 


A porta abriu, e a Claire entrou deslizando pelo banheiro.


 


- Oi, garotas. – Ela disse sorrindo. – Eu queria mesmo conversar com vocês.


 


Lene me lançou um olhar de “Eu sabia, vadia”.


 


- É? E o que seria? – Eu perguntei nem um pouco curiosa.


 


- É um assunto do interesse de vocês. – Claire disse retocando o gloss. – Disso eu não tenho dúvidas. Mas pretendo colocá-lo em pauta assim que eu me decidir em relação ao que ganhar em troca.


 


Eu levantei as sobrancelhas, ela tinha dito mesmo aquilo? Quero dizer, colocar o assunto EM PAUTA?  Marlene continuou com aquela cara de quem estava prestes a vomitar.


 


- Tchauzinho. – E aí ela saiu do banheiro.


 


- Ai-Meu-Deus! Ai-Meu-Deus! Ai... Meu... Deus! – Marlene dizia, descontroladamente. – Eu sabia! Eu sabia! Eu sabia! Eu simplesmente sabia que a McBitch tinha uma carta na manga!


 


- Calma, Marlene. Não vamos tirar conclusões antes do tempo, ok? – Eu disse mais para me convencer do que convencer a ela.


 


- Oh droga, você ouviu o que ela disse:  “Assim que eu me decidir em relação ao que ganhar em troca.” – Marlene repetiu as palavras, como um gravador. – Ela quer alguma coisa em troca!


 


- É, eu ouvi. – Eu disse. O que diabos ela quis dizer com aquilo? - Mas é melhor a gente voltar para a aula, Lene, antes que ela volte e coloque o assunto em pauta.


 


 




 


 


Estávamos na mesa mais isolada do refeitório, tínhamos recusado o convite da mesa POP, mas os olhares continuavam em nós, era como se fossemos a Angelina Jolie, ou a Lindsay Lohan.


 


- Eu tenho uma melancia na cabeça? – Marlene quis saber.


 


- Não? – Dorcas respondeu encarando o prato sonhadoramente.


 


- Então por que diabos estão me olhando? É só uma porcaria de lista, não quer dizer absolutamente NADA. – Marlene se jogou na cadeira, e mordeu o sanduíche vegetariano.


 


Assim era melhor, pelo menos ela ficaria calada por tempo o suficiente de modo que eu pudesse pensar.


 


O que a Claire teria para dizer que era do nosso interesse?


 


Era ridículo pensar numa coisa dessas, nada que a Claire já nos tenha dito era do nosso interesse. A não ser que ela venha nos contar que conseguiu o gabarito da prova da semana que vem, ou algo assim.


 


E, bom, isso está fora de cogitação, porque ela é completamente incapacitada de conseguir tal coisa, a não ser que ela tenha vendido algum dos palitos de dente de ouro maciço para comprar o gabarito de algum professor-assistente. E isso nem é loucura porque ela tem tantos palitos que eu duvido que o pai ou a mãe dela sintam falta.


 


Estava pensando nessa possibilidade quando recebi um guardanapo.


 


Claire: Eu sei sobre a operaçãozinha.


 


- AI MEU DEUS! – Eu exclamei alto o suficiente para a nossa área isolada inteira ouvir.


 


- O que foi? – Emmeline largou os talheres no prato, o que também fez o maior barulho e atraiu mais ainda a  atenção para nossa mesa.


 


- Ela sabe... Ela sabe... – Eu disse entregando o guardanapo para a Emmeline.


 


- Te mandaram um bilhete no guardanapo? Isso é tão... – Se eu estivesse em plena consciência eu teria a certeza que ela diria “brega”. – Ai, Deus.


 


- Manda isso para cá. – Marlene disse puxando o guardanapo. – Acho que vou ter um colapso nervoso.


 


- Calma, gente. Nem deve ser tão ruim assim. – Dorcas encarou o papel.


 


E o que aconteceu com a aquela cara de garota apaixonada? Podemos dizer que ela tirou férias e foi substituída pela cara de uma garota prestes a ter um surto esquizofrênico...


 


Ok, exagerei. Mas foi quase isso.


 


- Como assim? Como assim? COMO ASSIM? – Dorcas balbuciava encarando o papel.


 


Eu não podia acreditar naquilo, eu não podia... Virei a cabeça e olhei na direção da mesa da Claire, ela nos acenava, sorrindo.


 


Xinguei-a com todos os palavrões possíveis que eu sabia, e em todas as línguas que eu conhecia.


 


- Wow! – Emmeline exclamou, impressionada com a extensão do meu vocabulário. – Onde você aprendeu tantos palavrões em francês?


 


- Google. – Eu disse dando de ombros. – Como alguém pode ser assim tão...


 


- Sale pute? – Emmy completou. – Morue? Pétasse?¹


 


Eu confirmei com a cabeça.


 


- Vocês sabem que eu sou do tipo pacífica… - Marlene falou. – Gandhi, que me perdoe, mas eu estou com uma tremenda vontade de dizer: Strìopaich na galla!”²


 


[¹: Palavrões em francês, que significam (nesta ordem): Prostituta suja, Bacalhau (na França, é usado para chamar uma mulher de feia), e mulher fácil.]


[²: Do gaélico-escocês que significa, basicamente: “Sua vadia”!]


 


- Vocês são um poço de cultura. – Dorcas disse rindo. – Quando o assunto é palavras de baixo calão, quer dizer.


 


- Aprendi com vovó. – Marlene deu de ombros.


 


Emmeline arregalou os olhos.


 


- Bom, e o que faremos agora? – Eu quis saber. – Imploramos misericórdia?


 


- Muito dramático. – Emmeline disse, pensativa. – Acho que a gente deveria esperar para ver o que ela quer...


 


- E o que diabos pode ser? Nós não podemos dar nada a ela que a mesma já não tenha. – Dorcas exclamou, impaciente.


 


- Ela quer nossas almas... Nos humilhar na frente de todo o colégio, arrancar nossos fios de cabelo e fazer bonecos vodu! – Lene sugeriu.


 


- Para de viajar, Marlene. – em uníssono.


 


- Estou sendo realista... É a Lei de Murphy, eu disse que não ia dar certo desde o início. – Ela retrucou.


 


- Então a culpa é toda sua, que ficou mandando energia negativa para a Operação! – Emmy exclamou.


 



 Narrado por: Emmeline Vance.
 Hoje, Domingo, 16 de Fervereiro.
 Ouvindo: Falling In Love - McFly
Local: Meu cérebro, em meio a devaneios.


 


Eu encarava Miguel à distância quando finalmente chegamos ao local onde a banda se apresentaria. Eu tinha dito a ele que estava tomando vodka coragem para contar ao Bones sobre... Bom, meu amor eterno e constante pelo Miguel que nunca acabou (lógico, ele é constante). Mas ele não parecia aceitar muito bem a minha, digamos assim, indiferença...


 


Ah, mas fala sério! O que ele esperava que eu fizesse? Ele conteve todo o amor dele por mim esses anos e nunca me disse nada! E ainda ficava agarrando a Joanna na minha frente! Ou seja, ele merece sofrer um pouquinho também, não é? Não é?


 


- Cadê o Sirius? – Dorcas perguntou casualmente, apesar de todas nós sabermos a resposta: “Atrasado”.


 


- Eu liguei para casa dele, e a irmã disse que ele estava no hospital. – Remus informou para a surpresa de nós, garotas não-integrantes da banda. – Não se preocupem, parece que o Sirius só foi visitar alguém.


 


- Ei, nós temos de ir. – James informou aos garotos e, em seguida, começou a beijar a Lily de um jeito bem selvagem. Presumo que seja para acalmar a sua ansiedade. Ninguém beija outra pessoa dessa maneira por outra razão, a não ser que ela vá morrer, ou eles nunca mais vão poder se beijar na vida.


 


- Ok, casal! – Eu disse. – Se descolem, vocês têm de entrar lembra?


 


É engraçado pensar que estamos prestes a assistir um show dos garotos… Quero dizer, não é exatamente um show, mas é uma apresentação oficial! Colocaram o nome deles com a foto na entrada do pub e tudo! É uma evolução, certo? Para uma banda de garagem...


 


E mais engraçado ainda é pensar que… Bem, que eles só tiveram essa oportunidade porque a gente os pagou para serem nossos namorados. Ok, não é engraçado. Falando nesse contexto, soa como se eles tivessem se vendido, feito o – já mencionado nesta fic – cara que fez o filme “Muito Bem Acompanhada”.


 


- Hey, eles estão entrando. – Lily cutucou meu braço, me tirando do transe.


 


- UHUL! – Eu berrei enquanto todos batiam palmas e ovacionavam.


 


Meu estômago começou a embrulhar quando o Miguel entrou e agarrou o microfone, ele estava adorável, vestido como se realmente fosse um grande vocalista, ele estava vestido como... como um profissional. E eu tentava controlar meus nervos para não dar uma de tiete e me agarrar ao palco.


 


- Olá, Boa Noite. – Miguel sorriu, nervoso. – Nós somos a banda The Doppler e essa música é para uma garota muito especial que entrou na minha vida quando eu menos esperava, a Rainha das minhas Ondas (“Queen of  my Waves”).


 


Querem saber por quê “The Doppler”? Culpa da Marlene, quando a gravadora disse que “Boyband” era um nome muito clichê para uma banda, ela sugeriu isso aí. E adivinha só é o nome dado para o efeito físico que as ondas de rádio formam a partir das suas medições a certas distâncias… É, bem Marlene, mesmo.


 


Opa, os primeiros acordes vêm aí! (N/A: Isso soou tão Fausto Silva)


 


 First time I saw her


Na primeira vez que a vi
She was still with pampers


Ela ainda usava pampers (é, as fraldas)


 


Ops, o que é isso? Acabo de receber um pedaço de guardanapo!


 


Lily: O que você está achando da música, Emmy?


 


Emmy: Bem divertida. A melodia é adorável, um folk boêmio. Estou amando!



But she grew up


Mas agora ela cresceu


 


Dorcas: Era de se esperar que sim… Afinal de contas, você prestou atenção na letra?


 


Emmy: O que tem a letra da música? Achei bastante engraçadinha: Pampers, haha!



 And now this feeling had show up


E este sentimento apareceu.


 


Lily:  Existe ser humano mais lerdo, Senhor? Eu creio que não. Presta atenção, Emmeline!


 


Emmy: Parem de me mandar guardanapo, para eu prestar! Dã!


 


I don't know if she feels the same


Eu não sei se ela sente o mesmo


I guess I will discover if she hears me play


Eu acho que descobrirei se ela me ouvir tocar


 


AI, CACETADA! EU VOU TER UM… PIRIPAQUE! É ISSO AÍ! UM FREAK-IT! DEIXA EU ME SEGURAR NAS BORDAS DA CADEIRA PARA EU TER CERTEZA QUE NÃO VOU CAIR, PORQUE EU NÃO SINTO O CHÃO!


 


É PARA MIM!!! DEUS, É PARA MIM!!! A MÚSICA É PARA MIM!


 


sanidade-mandou-lembrança-junto-com-a-respiração.co.uk/


 


Eu podia sentir os olhares de Miguel sobre mim. Eu tentava não rir, porque eu estava em pânico, e sabia que a qualquer momento eu poderia  sair correndo e agarrar ele no palco.



So... What you had me to say?


Então… O que você tem para me dizer?
Do you like me in this way?


Você gosta de mim desse jeito?


 


Eu sorri para ele, estava pouco me lixando para o Cover-Dougie ou para o fato de que a qualquer momento eu seria pega no flagra como a musa da música (apesar disso ter soado muito brega). E então o refrão estava prestes a começar, e eu balançava minha cabeça seguindo o ritmo do “Tchurururu”.


 


She is the queen of my waves


Ela é a rainha das minhas ondas


 


EU SOU A RAINHA DAS ONDAS DELE!


 


Like the ocean


Como o oceano


 


E COMO O OCEANO... (ELE ESTÁ FAZENDO COMPARAÇÕES COM O OCEANO!!!)



What I feel it’s deep and intense


O que eu sinto é profundo e intense


 


...O QUE ELE SENTE É PROFUNDO E INTENSO! Repetindo caso você não tenha notado a dimensão da coisa: PROFUNDO E INTENSO!


 


Eu estava começando a me levanter, quando alguma garota saiu da platéia e se jogou em cima do Rei das MINHAS Ondas.



And she knows… The Queen of my Waves


E ela sabe… A Rainha das minhas Ondas


 


Eu não se porcaria nenhuma! Só sei que aquela ali agarrada na calça de couro dele é a JOANNA! Sim, a JO-roubanamorados-ANNA!


 


So... What you had me to say?


Então… O que você tem para me dizer?
Do you like me in this way?


Você gosta de mim desse jeito?


 


- Eu quero ir embora daqui. – Eu falei para a Lily enquanto eu fechava meus punhos amassando o resto de guardanapo que se encontrava entre meus dedos.


 


- Emmy, você não pode. O Edgar… O que ele vai ficar pensando? – Lily disse no seu melhor sorriso aconchegante.


 


- Eu sei… Mas… Como é que eu posso ficar aqui assistindo a tudo isso? – Eu comecei a encarar o guardanapo (tinha quase se desintegrado, porque minha mão suava). – Essa música não era para mim? O que essa ladra está fazendo com o meu Rei das Ondas?


 


She is the queen of my waves


Ela é a rainha das minhas ondas


 


E foi aí, que a Joanna beijou o Miguel. E foi aí, também, que eu – apelando para o eufemismo – saí à  francesa.


 


E agora, eu estou aqui andando sozinha no meio dessa rua escura esperando “O Zodíaco” vir me atacar, mas – graças a deus – eu sou repelente de qualquer tipo de homem, então nem ele aparece para me esquartejar. Posso ficar tranquila que infelizmente sairei viva da noite do terror.


 


- EI! EMMELINE! – Ouvi a voz da Lily e da Dorcas vindo de algum lugar pouco distante. – PARA DE ANDAR, EMMY! É PERIGOSO!


 


Eu parei, sabia que estava dando uma de louca, e caminhei na direção delas... na direção que me levava para o lugar que eu queria fugir. Mas eu também sabia que elas não me fariam voltar para l
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acute;, porque senão seria o inferno na Terra.


 


- Roubaram o meu trono... – Eu disse, chorosa. – Eu não sou mais a Rainha das Ondas, é isso? Eu sofri... Um Golpe de Estado?


 


- Não! – Lily disse tentando manter a voz séria. – Aquela louca foi a única que não entendeu para quem a música era!


 


- Mas... Mas... Ele... Ela... Quero dizer: Qual foi a daquela cena de sucção bucal no meio de uma música? – Eu disse finalmente. – É um restaurante decente, pelo amor de deus! Esse tipo de coisa deveria ser proibida lá dentro, ainda mais se você é o vocalista de uma banda o qual se declarou para uma outra garota no fim de semana anterior!


 


Eu me afundei ainda mais no abraço coletivo. O que diabos estava acontecendo? A música era para quem no final das contas? O Miguel só estava me testando? Será que eu posso estrangular a Joanna sem ser condenada ao corredor da morte?


 


- Quando a gente acha que finalmente encontra o Rei das nossas Ondas... – Eu digo limpando a maquiagem borrada. – Aparece uma falésia das grandes para impedir que ele chegue até a nossa costa.


 


Lily e Dorcas ficaram desnorteadas com o meu comentário, mas balançaram a cabeça apoiando a minha constatação.


 


- Vamos entrar. – Caminhei até a porta e o porteiro a abriu. – Eu tive uma súbita dor de cabeça porque tomei a Diet Coke muito gelada.


 


Voltamos aos nossos lugares, e eles já tocavam outra música. Agora era um cover de Rooney, Believe in Me.


 


 


I can never win with you


Eu nunca posso ganhar com você
I try but you don't let me through


Eu tento, mas você não me deixa
What's the point in fighting when we're down?
Qual a razão de estarmos lutando quando estamos mal?



I know I've been acting strange


Sei que tenho agido estranhamente
But wait don't leave I know I'll change


Mas espere, não me deixe. Eu sei que vou mudar
We're wasting all our time together now
Nós estamos perdendo nosso tempo

I don't know what to say


Eu não sei o que dizer
Every word just makes you turn away


Cada palavra faz você se afastar
And I don't know what to do


E eu não sei o que fazer
Every day I want to be with you


Cada dia eu só quero estar com você
Well I've lost the battle and I'm losing the war


Bem, eu perdi a batalha e estou perdendo a guerra
And I keep on asking myself what for


E continuo me perguntando se
If you believe in fate and destiny 


Você acredita em destino e sina.
Then open your eyes and believe in me
Abra então seus olhos e acredite em mim.


I call up and apologize


Eu te chamo e peço desculpas,
But you just think its one big lie


Mas você acha que é uma grande mentira.
Don't you know you're pushing me away?
Não percebe que você só me afasta?



We've been through so much together


Passamos por muita coisa juntos.
You can't tell me the past will never


Você não pode me dizer que o passado nunca


Mean a thing it's more than a memory
Significou nada, porque ele é mais do que uma lembrança.

Cause everyone I see around


Todos que me vêem
Tells me that I'm such a fool


Dizem que sou idiota 
For making you my punching bag


Por fazer de você meu saco de pancadas 
When things really weren't that bad


Quando as coisas já estavam muito ruins.

I've lost you now


Eu te perdi agora.
I've lost you now


Eu te perdi agora.
But I don't know how to get you back


E eu não sei como ter você de volta
I'm not myself


Eu não sou mais eu.
I'm not myself


Eu não sou mais eu.
I've gotta get us back on track
Tenho que voltar para os trilhos.

I don't know what to say


Eu não sei o que dizer
Every word just makes you turn away


Cada palavra faz você se afastar
And I don't know what to do


E eu não sei o que fazer
Every day I want to be with you


Cada dia eu só quero estar com você
Well I've lost the battle and I'm losing the war


Bem, eu perdi a batalha e estou perdendo a guerra
And I keep on asking myself what for


 


 


Narrado por: Marlene McKinnon.
 Hoje, Segunda, 17 de Fervereiro.
 Ouvindo: Bon Jour – A Bela e a Fera
 Local: Enfiada na Poltrona mais fofa da sala


 


 


“Só, e somente só.”


 


A voz do meu professor de matemática continuava no meu cérebro, era minha tortura particular e aquilo insistia em não sair da minha mente. Eu havia tentado de tudo, simplesmente de tudo. Desde as coisas mais simples como:


 


a)     Pensar em outras coisas


b)     Ouvir música nos fones de ouvido


c)     Montar quebra-cabeça


 


Até as coisas mais complexas e inimagináveis possíveis, como:


 


a)       Ficar de cabeça para baixo e tentar enxerga a ponta de seus fios de cabelo


b)       Sair colocando todos os rolos de papel higiênico dos banheiros do lado certo (Sim, eles têm uma maneira certa para serem colocados!)


c)       Ouvir KISS (meu inferno particular – desculpa aí, quem gosta)  nas alturas na esperança do barulho impedir meu cérebro de pensar.


 


Só que, infelizmente, como dá para notar, nada disso deu certo... Então, eu apelei para a “solução pá-bum” a qual sempre consegue me desligar dos problemas. Eis o Elixir Milagroso, a minha Pedra Filosofal:


 


A Bela e a Fera – Walt Disney


 


Dá para acreditar? Eu não queria ter de recorrer para isso, porque é a mesma coisa de afirmar que a situação é um caso perdido, que eu estou tão carente quanto um Tigre Siberiano em extinção, que estou levantando a bandeira branca e me rendendo ao vazio profundo da depressão-por-conta-de-um-garoto. E bom, eu tinha de admitir, era mesmo uma causa perdida. Eu já devia ter percebido há muito tempo, assim que coloquei a meu samba-canção de estampa de pintos e uma blusa de pijama. E se isso não bastasse, eu deveria ter me tocado quando eu coloquei chocolate no fogo para fazer meu chocolate quente com pedaços de kisses da hershey’s e creme de chantily!


 


Mas não, eu esperei para perceber no momento em que eu encarei a prateleira de DVD’s e entre todas aqueles filmes eu escolhi “A Bela e a Fera”. Ele é meu selo de fossa. Ele,  “Vestida para Casar!” e “Muito bem Acompanhada”. Só que “A Bela e a Fera” é o último estágio antes de... Bom, não queiram saber.


 


- Tudo é igual, nesta minha aldeia, sempre está, nesta mesma paz – Eu cantei junto com a Bela. – de manhã... Todos se levantam prontos para dizer: Bonjour! Bonjour! Bonjour!


 


Afundei ainda mais na minha poltrona favorita. A mesma que mamãe costuma guardar no armário dos fundos, porque ela está meio idosa, como se  pai véio garoto lá da sala que tem lordose tivesse sentado nela durante um mês e ela tivesse sobrevivido com honras ao mérito, porque nenhuma cadeira do colégio sobreviveu a ele. Falo sério.


 


- Não posso acreditar nisso. – Suspirei e cantei novamente junto à Bela: – Óh... Mais que lindo quadro, quando eles se encontram no jardim! É... O príncipe encantado,  e ela só descobre quem ele é quase no fim! 


 


A situação era comovente, e se ao invés de estar vivendo a minha vida patética eu estivesse num reality show, com certeza eu estaria com uma vaga reservada na grande final, porque qualquer um teria pena de mim, de verdade.


 


Mas tudo bem, porque eu estou pouco me lixando para o Sirius, de verdade. Eu não me importo com o fato dele estar lá no show com a banda dele sendo assediado por um bando de tietes, de verdade. E eu nem estou preocupada com o fato de que nesse exato momento ele pode estar sendo agarrado por uma loira oxigenada qualquer chamada Cynthya (com dois “y”), não estou preocupada mesmo, de verdade.


 


Ah, e a ideia dele retribuindo todo esse “afeto” nem passou pela minha cabeça, DE VERDADE.


 


- Droga! – Eu murmurei, derrubando o controle no chão, tinha esquecido o chocolate quente no fogo.


 


Aquilo me fez sentir a completa Rainha do Patético, e eu não saberia dizer o que era pior: passar a segunda-feira a noite imaginando as mil garotas que o Sirius estava pegando ou descobrir que eu era uma completa negação social – que por um garoto deixou de sair com as amigas e se divertir.


 


Sim, Marlene McKinnon, você é a tradução do ridículo.


 


- Saindo um Chocolatovski Quentovski com Marshmallows! – Respirei fundo, só o aroma do chocolate me fazia sentir melhor. O corpo humano não inventou nada mais sensato do que a dopamina.


 


Toca-se a Campainha...


 


Ah, não. Quem será? Com a minha sorte só pode ser a Claire vindo aqui em casa me chantagear! Mas que disparate! O que diabos ela quer agora? Minha blusa favorita? FALA SÉRIO! Eu vi os palitos de dentes de prata!!! Ela não pode querer mesmo vender nosso segredo por minhas roupas, né? Ela pode comprar tudo com aquele cartão de crédito de latão dela!


 


AI, QUE FILHA DA MÃE DESGRAÇADA! COMO SE MINHA VIDA JÁ NÃO ESTIVESSE NO FUNDO DO POÇO! Sabe o que é isso? Sabe o que é? É a minha própria “Queda de Ônibus Espacial”, é isso aí. Exatamente como o que aconteceu com a NASA quando eles se recusaram a ouvir os alertas dos engenheiros sobre o ônibus espacial Challenger porque queriam porque queriam lançar ele numa data fixa, ao invés de só enviá-lo para o espaço quando todos os problemas estivessem resolvido.


 


É isso aí! O fracasso da Operação: Garotos à Vista tem a mesma causa da Operação: Challenger! E sabe qual é ela? “Pensamento em Grupo” porque estávamos fixadas demais em arranjar namorados e esquecemos dos “poréms” e das “vírgulas” no meio do caminho.


 


NADA DISSO! EU NÃO VOU DAR MINHA BLUSA DE SCOOBY-DOO PARA A VADIA DA CLAIRE! DE JEITO NENHUM! EU PREFIRO QUE ELA ESPALHE PARA DEUS E O MUNDO QUE EU PAGUEI PARA NAMORAR O SIRIUS!


 


...


 


Ok, eu acho que eu prefiro entregar a minha blusa do Scooby para ela. MAS ELA QUE NÃO TENHA O DISPARATE DE ME PEDIR PARA EMBRULHAR PARA PRESENTE PORQUE ISSO EU NÃO VOU FAZER!


 


 


Toca-se a Campainha, Novamente...


 


- JÁ VAI! – Berrei irritada, de modo que a sonoridade da minha voz fez reverberar uma onda de chocolate quente que saltou da minha caneca e me queimou o dedo. – Droga.


 


Coloquei a caneca em cima da mesinha de centro e fui atender a porta lambendo o dedo.


 


- Olá. – A casualidade mandou lembrança para mim quando girei a maldita maçaneta e dei de cara com...


 


- Oi, Lene. – A voz sonora de Sirius invadiu meu cérebro quebrando todas as sequências de sinapses que por um acaso não tinham sido paralisadas durante todo o meu “stresse pós-fim-de-namoro-falso”.


 


Eu estava ali, na entrada da porta usando samba-canção de pintos com uma blusa de pijama, CHUPANDO MEU DEDO QUEIMADO e ENCARANDO SIRIUS BLACK!


 


Falou aí, Deus. Sua existência nunca foi tão dúbia quanto nesse exato momento, parece que você gosta de fazer com que os outros tenham os momentos mais humilhantes possíveis, ein? Está solto no ar um odor de psicopatia, oque me diz? Sadismo? Tirania? Despotismo?


 


O Senhor poderia se colocar no lugar de nós, meros seres humanos, de vez em quando, não? Tipo agora?


 


- Ah... – Eu fiz uma careta e tirei o dedo da boca assim que recobrei a minha consciência. – Sirius! Opa! Er... Desculpa, eu não esperava ninguém.


 


O olhar do Sirius percorreu, nessa ordem: os meus pés, minhas canelas grossas – fruto de anos de ginástica olímpica – minhas coxas pelancudas, a samba-canção de pintinhos, minha blusa de pijama “Great Very High”, e minha cara super engraçada de batata emoldurada por um rabo-de-cavalo mal feito e uma franja bagunçada.


 


Ele mordeu o lábio inferior. Com certeza, se segurava para não rir.


 


- Oh, não se preocupe. – Ele soltou depois do segundos de observação. – Está adorável.


 


- Aham... – Eu revirei os olhos e abri a porta para ele entrar. – Sabe... O Miguel não está em casa, na verdade, ele está no show... Onde você deveria estar, certo?


 


Sirius sentou no sofá confortavelmente e encarou a televisão.


 


- A Bela e a Fera? – Ele palpitou mudando de assunto. – Seu favorito?


 


- Não... Quer dizer, é. – Eu me enrolei um pouco confusa com a cena que se passava ao longo da minha sala. Ele parecia tão familiarizado com tudo aquilo que eu estava começando a acreditar que ele fazia parte do cenário, e que naquele exato momento eu sentaria ao lado dele – ao invés de sentar na “poltrona pai véi” – e seria envolvida por seus braços num aconchegante abraço. – É meu favorito.


 


- Você não parece muito segura com a opção. – Ele observou.


 


- Também gosto de A Branca de Neve. – Dei de ombros e me joguei na poltrona em frente ao assento do sofá onde ele estava.


 


- Não consigo imaginar você gostando de uma história assim... – Sirius sorriu. Não entendia o que ele estava fazendo, mas apreciava o fato dele tentar manter uma conversa comigo. – Acho perversa demais para você.


 


- Perversa?! – Levantei a sobrancelha. - O que você quer dizer com isso? Por acaso eu sou delicada demais para gostar de histórias em que uma madrasta tenta asfixiar a própria afilhada com um corselete? Ou causar um traumatismo craniano com um pente afiado?


 


Sirius não pareceu chocado com o meu conhecimento profundo das histórias dos Irmãos Grimm.


 


- Diga-me um motivo para eu acreditar que você gosta. – Ele me desafiou. A princípio achei patético, mas mostrava que ele tentava me conhecer, certo?


 


- Gosto do fato dela ser a mais próxima da realidade. – Dei de ombros. – Cinderela tem uma fada madrinha, A Bela Adormecida tem três, Mulan tem um dragãozinho falante, Aladdin um tapete voador... A Branca de Neve tem apenas 7 anões para ajudar e sua tentativa de assassinato é a mais convincente, quero dizer, é completamente crível a existência de uma maçã envenenada que ocasiona um coma...


 


- É, mas e o despertar com um beijo? – Sirius quis saber.


 


- Bom, imagine que o príncipe se apaixone por ela e lhe paga um tratamento hospitalar. – Eu ri. – Eu disse que ela era a mais próxima da realidade, não disse que ela se encaixava nos padrões.


 


Ele sorriu.


 


- Quer chocolate quente?


 


Sirius confirmou com a cabeça.


 


Coloquei um pouco em outra caneca e entreguei a ele.


 


- E por que A Bela e a Fera? – Sirius indagou.


 


Eu parei, perguntando-me se deveria realmente responder.


 


- Sabe, você não respondeu minha pergunta. – Eu relembrei. – Por que você não está no show?


 


- Estava no hospital. – Meu coração estremeceu quando ele disse isso.


 


Engoli em seco.


 


- Aconteceu alguma coisa? – Tentei manter minha voz firme.


 


- Você está preparada? – disse Sirius, a sua expressão ganhava um ar sério.


 


- Preparada para quê?


 


- Para saber o motivo de eu sempre chegar atrasado aos lugares... – Sirius explicou. – A razão de eu sumir a maior parte do tempo...


 


Respirei fundo, não queria pressioná-lo, mas minha garganta começava a coçar de tanta ansiedade.


 


Confirmei com a cabeça, tentando não implorar para que ele contasse logo.


 


- Bom, você é a primeira pessoa para quem estou contando.  E eu espero que continue assim por algum tempo, até eu me tornar capaz de tornar isso público.


 


Eu comecei a ficar assustada, e se ele tivesse alguma doença terminal? Como... Não sei, HIV? Ou... Mal de Chagas?


 


- Sirius... Está tudo bem com você? – Eu perguntei com a voz carregada de recheio.


 


- Ah, não se preocupe, não é nada comigo. – Ele me assegurou. – Eu só vou no hospital visitar alguém. O que eu quero lhe contar é a razão para a minha presença assídua no leito desta pessoa.


 


 


N/A: Demorou mais chegou! Desculpem o mistério, mas ele será revelado logo no início do capítulo onze, eu sei que isso é uma droga e ninguém gosta, mas... Foi necessário. :D Ah, e desculpa pela música-desastre... Queen of My Waves. Minha criatividade é mesmo limitada.
:* e Bom feriado para vocês! Ah, e não esqueçam de acessar o: http://operacaogv.blogspot.com e votar na enquete, e em breve vai estar cheio de novidades por lá, estou fazendo uns wallpaper de J/L e S/M :*

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Comentários (1)

  • Lana Silva

    Bem, eu comentei nos primeiro capitulos, mas estava louca pra terminar de ler logo. Acho que é uma das melhores S/M L/J que eu já Li *-* Bem, realmente ela demais. Eu queria mesmo ter comentado em todos os capitulos, mas estava curiosa demais pra parar de ler. Nossa essa fanfic é a mistura de muitas coisas legais, a maneira que você narra cada uma das personagens, como se fosse elas  - de um certo modo - a intimidade sabe? A escrita tudo é totalmente perfeito, eu espero realmente que ela não esteja em pausa porque é uma das fanfics que mora no meu favoritos agora. Eu ameiiii ameiii mesmo tudo desde a ideia da fanfic, a tudo a escrita, os personagens e tudo mesmo. Muito legal. Parabens flr.Beijoos! 

    2012-07-11
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