Lembranças



Carta de Agosto chegando...

=D

;* ;* Beijos!!

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Quatro horas depois, o avião planou sobre o mar e pousou no Aeroporto de Lanzarote, fazendo todos dar vivas e aplaudir. Ninguém parecia mais aliviado que Luna.
“Oh, estou com a maior dor de cabeça,” ela reclamou para as garotas enquanto se dirigiam para a esteira de bagagens. “Aquela maldita garota só fala, fala e fala.” Ela massageou a testa e fechou os grandes olhos azuis, aliviada com sua tão esperada paz.
Laura e Gina avistaram Cindy e sua turma se aproximando e se camuflaram na multidão, deixando Luna em pé sozinha e de olhos fechados.

Elas batalharam até chegar a um lugar de onde pudessem ter uma boa visão das bagagens. Ficaram lá por quase meia hora antes da esteira sequer começar a se mexer e, depois de mais outra meia hora, ainda estavam lá esperando suas malas enquanto o resto das pessoas já se dirigia aos seus transportes.

“Suas vacas,” Luna disse, aproximando-se zangada e arrastando a mala atrás de si. “Ainda estão esperando suas malas?”
“Não, só acho estranhamente confortável ficar aqui e ver algumas bagagens esquecidas ir e voltar. Por que não vai indo para o ônibus enquanto fico aqui e continuo a me divertir,” Laura disse sarcasticamente.
“Bem, espero que tenham perdido a sua bagagem,” Luna atirou. “Ou melhor, espero que sua mala tenha se aberto e suas calçolonas e seus sutiãs tenham se espalhado pela esteira lá atrás para todo mundo ver aqui.”
Gina olhou para Luna com uma expressão de divertimento. “Se sente melhor agora?”
“Não até mastigar um chiclete,” ela respondeu sorrindo.

“Ooh, lá está a minha mala!” Laura disse alegremente e arrastou-a da esteira, conseguindo bater na canela de Gina.
Ai!”
“Desculpe, mas as roupas são prioridade.”

“Se eles perderam minhas roupas, vou processar todo mundo,” Gina disse ficando meio irritada. Àquela altura, todos já tinham ido embora e as três garotas eram as únicas pessoas no lugar. “Por que sou sempre a última pessoa a esperar pela mala?” ela perguntou às amigas.
“Lei de Murphy,” Laura explicou. “Ah, ali está ela.” Ela agarrou a bagagem e bateu mais uma vez nas canelas já doídas de Gina.
Ai! Ai! Ai!” Gina gritou, esfregando as pernas. “Poderia pelo menos virar a maldita coisa para o outro lado?!”
As três saíram dali para conhecer quem as receberia.

“Pára, Gary! Sai de mim!” elas ouviram uma voz enquanto viravam uma esquina. Seguindo o som, encontraram uma moça vestida de uniforme vermelho sendo atacada por um rapaz vestido da mesma maneira. As garotas se aproximaram e ela se recompôs.
“Weasley, Zabini e Lovegood?” ela disse com um forte sotaque inglês.
As garotas acenaram com a cabeça.
“Olá, sou Victoria e serei sua representante de viagem durante a semana.” Ela sorriu. “Sigam-me e lhes mostrarei o ônibus.” Ela piscou marotamente para Gary e levou as garotas para fora.

Eram duas da madrugada e ainda assim uma brisa morna lhes cumprimentou ao saírem do aeroporto. Gina sorriu para as garotas, que sentiram também; agora estavam realmente nas férias. Quando entraram no ônibus, todos deram vivas e as três amigas pretendiam se sentar logo na frente, mas -
“Uhuuu,” Cindy gritou para elas. Ela estava de pé e acenando vigorosamente para elas. “Guardei lugares para vocês aqui atrás!”
Luna suspirou alto detrás de Gina e elas se arrastaram até o fim do ônibus. Gina teve a sorte de se sentar perto da janela, onde poderia igonrar os outros e pensar um pouco. Ela esperava que Cindy entendesse que queria ser deixada em paz, a maior dica sendo que Gina a havia ignorado desde o momento que ela havia se dirigido à mesa das meninas.

Quarenta e cinco minutos depois elas chegaram ao Costa Palma Palace e o entusiasmo voltou a se manifestar na barriga de Gina. Havia uma longa estradinha cercada por altíssimas palmeiras. Uma fonte imensa estava acesa com luzes azuis do lado de fora da entrada principal. Draco havia reservado um quarto de bom tamanho que continha duas camas de solteiro, uma pequena cozinha, uma pequena sala com um sofá cama, um banheiro e uma varanda. Gina foi até a varanda e olhou para o mar. Apesar de estar muito escuro para ver alguma coisa, ela podia ouvir a água batendo gentilmente na areia. Ela fechou os olhos e ouviu.

Ali, bem ao lado dela, ela podia sentir Draco. Por um minuto, lhe bateu um desespero enorme por não saber como poderia falar com ele, lhe dizer o quanto o queria ali com ela em carne e osso e como precisava dele. Queria tocá-lo, vê-lo, olhar mais uma vez lá no fundo de seus olhos e cinza e ver apenas a si mesma. Sentia falta... Mais ainda do que o que já lhes acontecera, sentia falta do que não fariam. Sentia saudades dos filhos que nunca teriam, dos beijos que nunca trocariam, das viajens que nunca fariam, das estrelas que nunca veriam deitados numa praia em noites estreladas como aquela em Lanzarote. E mais do que tudo, sentia medo de que pudesse chegar um dia em que se desse conta de que não lembrava exatamente dos tons de cinza dos olhos dele ou de cada movimento que seus cabelos faziam quando ele jogava a cabeça para trás ao rir. Aquele riso tão verdadeiro... Nessas horas, seu coração ruivo parecia desmanchar. Ouviu uma onda bater forte numa pedra fazendo um som que mais lhe pareceu um sussurro... “Gina...”

“Chiclete, chiclete, Luna precisa de chiclete,” Luna se juntou a ela interrompendo seus pensamentos. “Ah! Muito melhor; não tenho mais a urgência de matar pessoas. Tensão aliviada.”
Gina riu fracamente; estava ansiosa para passar aquele tempo com suas amigas. “Gininha, se importa se eu dormir no sofá cama? Ele tem um varalzinho do lado e fica melhor para eu pendurar minhas coisas molhadas... Senão vou deixar tudo espalhado”
“Só se deixar a porta aberta, Luna,” Laura gritou de dentro. “Não vou acordar de manhã com o cheiro de chulé molhado.”
“Valeu,” disse Luna.

Às nove horas daquela manhã, Gina foi acordada pelos sons de Laura se mexendo. Laura disse que já estava indo para a piscina para guardar espreguiçadeiras. Quinze minutos depois, ela voltou para o quarto. “Umas alemãs pegaram todas as espreguiçadeiras. Estarei na praia se me procurar.” Gina murmurou uma resposta sonolenta e caiu no sono de novo. Às dez, Luna pulou em cima dela e ambas decidiram se juntar a Laura na praia.

A areia estava quente e elas tinham que andar rápido para não queimar os pés. Por mais orgulhosa que Gina estivesse estado de seu bronzeado na Inglaterra, estava óbvio que elas tinham acabado de chegar na ilha, porque eram as pessoa mais brancas lá. Elas avistaram Laura sentada sob a sombra de um guarda-sol lendo um livro.
“Oh, aqui é tão lindo, não é?” Luna sorriu, olhando em volta.
Laura tirou os olhos do livro, olhou para cima para encará-las e sorriu. “Um paraíso.”

Gina olhou em volta para ver se aquele era o paraíso para o qual Draco havia ido, por coincidência. Não, nem sinal dele. Por toda sua volta estavam casais; casais passando filtro solar uns nos outros; casais andando de mãos dadas pela praia; casais jogando frescobol. E logo em frente ao seu guarda-sol, estava um casal construindo um castelo de areia e namorando. Gina não teve tempo para ficar deprimida já que Luna havia tirado a roupa e estava dando pulos na areia quente vestindo nada menos que o menor e mais espalhafatoso biquíni que ela já vira.

“Alguma de vocês passa bronzeador em mim?”
Laura pousou o livro ao seu lado e mirou-a por sobre seus óculos de leitura. “Eu passo, mas você mesma vai ter que passar na bunda, hein?”
“Poxaaaa,” Luna brincou. “Não se preocupe, vou pedir a outra pessoa.” Ela se sentou na ponta da esteira de Laura enquanto a outra passava a loção em suas costas. “Quer saber de uma coisa, Laura?”
“O quê?”
“Vai ficar com uma marca horrível se ficar com essa saia.”
Laura olhou para baixo e abaixou um pouco a saia pela barra. “Que marca? Eu nunca fico com marca. Eu tenho pele de inglesa, Luna. Não está sabendo que o que está na moda é ficar cor-de-gelo?”

Gina e Luna riram. Por mais que Laura tentasse se bronzear, ela só acabava ficando queimada e vermelha para depois despelar. Ela havia finalmente desistido e aceitado o fato de que fora feita para ser branca.
“Além do mais, estou tão gorda esses dias que não quero dar susto nas pessoas.”
Gina olhou para Laura irritada pela amiga ter se chamado de gorda. Ela havia engordado um pouco mas não estava nem um pouco gorda.
“Por que não vai até a piscina e assusta aquelas alemãs para elas saírem correndo?” Luna brincou.
“É, gente, realmente precisamos acordar cedo amanhã pera pegar as espreguiçadeiras perto da piscina. A praia fica chata depois de um tempo,” Gina sugeriu.
“Non se prreocupe. Vámos pegarr aquelas alemóns,” brincou Laura.

As garotas relaxaram na praia pelo resto do dia, ocasionalmente dando mergulhos para esfriar as cabeças. Almoçaram no bar da piscina e tiveram uma dia preguiçoso como planejado. Gina gradativamente sentia todo o stress e tensão saindo de seus músculos e por algumas horas se sentiu livre.
Naquela noite, elas conseguiram evitar a Brigada da Barbie e aproveitaram o jantar numa ruazinha movimentada perto do hotel.

“Não acredito que são dez horas e já estamos voltando para o quarto,” Luna disse enquanto olhava desejosamente as milhares de opções de bares à sua volta.
Pessoas entravam e saiam dos bares para as ruas, música vindo de cada um dos lugares e se juntando para formar um som estranho e agradável. Gina quase podia sentir o chão pulsando sob ela. A conversa entre elas cessou enquanto absorviam as visões, os sons e os cheiros por onde passavam. Havia risos, o bater de copos e cantoria vindo de todas as direções. Luzes acendiam e apagavam. Na rua, donos de bares lutavam para convencer as pessoas a entrar em seus estabelecimentos dando bebidas de graça e fazendo ofertas.

Corpos jovens e bronzeados ficavam em grupos nas mesas ao ar livre e andavam pelas ruas, o cheiro bom de hidratante pelo ar. Olhando para a faixa etária média da clientela, Gina se sentiu velha.
“Bem, podemos entrar em um bar por um minuto se quiser,” Gina disse insegura, vendo os mais novos dançando pela rua.
Luna parou de andar e começou a analisar os bares para fazer sua escolha.
“E aí, olhos azuis.” Um homem muito atraente parou e sorriu para Luna. “Quer entrar ali comigo?” ele indicou o bar.

Luna olhou para o homem por um minuto, perdida em pensamentos. Laura e Gina sorriram uma para a outra, sabendo que a amiga não iria cedo para a cama, afinal de contas. Na verdade, Luna talvez nem fosse para a cama esta noite, conhecendo ela.
Finalmente a loira saiu do transe e ficou muito reta. “Não, obrigada, tenho um namorado e amo ele!” ela anunciou orgulhosamente. “Venham, garotas!” ela disse para Gina e Laura e saiu andando na direção do hotel.
As duas garotas continuaram na rua, as bocas abertas em choque. Não conseguiam acreditar. Tiveram de correr para alcançá-la.

“Quem é você e o que fez com a minha amiga?” Laura disse, ainda chocada.
“Muito bem.” Luna fez um gesto como se se rendesse e sorriu. “Talvez ser solteira não seja tão bom assim.”
Gina abaixou os olhos e chutou uma pedra pelo caminho enquanto elas andavam para o hotel. Não era mesmo.
“Que bom, Luna,” Laura disse alegremente abraçando Luna pela cintura e lhe dando um pequeno aperto.

Um silêncio caiu entre elas e Gina ouviu a música desaparecer lentamente, se tornando apenas notas de baixo à distância.
“Aquela rua me fez me sentir tão velha,” Laura disse repentinamente.
“Eu também!” Os olhos azuis de Luna pareciam prestes a saltar das órbitas. “Desde quando as pessoas começaram a sair à noite desde tão cedo?”
Laura começou a rir. “Luna, as pessoas não estão ficando mais jovens, receio que nós estejamos ficando mais velhas.”
Luna refletiu por um tempo. “Bem, não é como se fôssemos velhas, velhas, pelo amor de Deus. Quero dizer, não está exatamente na hora de aposentar os sapatos de dança e comprar uma bengala. Poderíamos ficar lá a noite toda, se quiséssemos, nós só estamos... cansadas. Tivemos um dia longo... oh, Deus, eu realmente sôo como uma velha.” Ela começou a murmurar para si mesma enquanto Laura estava ocupada observando Gina, cabisbaixa, chutando a pedra por onde ia.

“Gina, você está bem? Não falou nada já faz um tempo.” Ela estava preocupada.
“Tô, só estava pensando,” Gina disse baixinho, ainda cabisbaixa.
“Pensando no quê?” Laura perguntou gentilmente.
Gina levantou a cabeça rapidamente. “Draco.” Ela olhou para as amigas. “Estava pensando no Draco.”
“Vamos para a praia,” Luna sugeriu, e elas tiraram os sapatos e permitiram que seus pés afundassem na areia fresca.

O céu estava limpo e negro e milhões de pequenas estrelas brilhavam para elas; era como se alguém tivesse jogado purpurina num enorme pano preto. A lua cheia descansava bem perto da linha do horizonte, emanando luz e mostrando onde o céu encontrava o mar. As garotas se sentaram na areia. A água batia ritmadamente diante delas, acalmando-as e relaxando-as. O ar estava morno mas uma breve brisa fresca passou por Gina, fazendo seus cabelos acariciarem sua pele. Ela fechou os olhos, respirou fundo e encheu os pulmões com aquele ar fresco.

“Foi por isso que ele te trouxe aqui, sabe,” Laura disse, vendo a amiga relaxar.
Os olhos de Gina permaneceram fechados e ela sorriu.
“Você não fala muito dele, Gina,” Luna disse casualmente, fazendo desenhos na areia com a ponta do dedo.
Gina abriu os olhos lentamente. Sua voz estava baixa, mas morna e sedosa. “Eu sei.”
Luna olhou de seus desenhos para ela. “Por que não?”

Gina parou por um momento e olhou para o mar negro. “Não sei como falar dele.” Ela pensou por um tempo. “Não sei se digo ‘o Draco era’ ou ‘o Draco é’. Não sei se fico triste ou feliz quando falo dele para outras pessoas. É como se se eu ficasse feliz quando falo sobre ele, algumas pessoas acham um absurdo e esperam que eu chore rios de lágrimas. Quando estou triste ao falar dele, faço as pessoas se sentir desconfortáveis.” Ela continuou olhando para o mar brilhando e sua voz estava mais baixa quando ela falou novamente. “Não posso brincar sobre ele nas conversas porque parece errado. Não posso falar sobre coisas que ele me confidenciou porque não quero contar seus segredos, porque são os segredos dele. Eu só não sei muito bem como lembrar dele nas conversas. Não quer dizer que eu não lembre dele aqui,” ela pôs o dedo na cabeça.

As três estavam sentadas de pernas cruzadas na areia.
“Blaise e eu falamos do Draco o tempo todo.” Laura olhou para Gina com os olhos molhados. “Falamos sobre as vezes que ele nos fazia rir, que foram muitas.” As garotas riram com a lembrança. “Até falamos das vezes em que brigamos. Das coisas que amávamos nele, das coisas que ele fazia que realmente odiávamos.”
Gina levantou as sobrancelhas.

Laura continuou, “Porque para nós, era assim que o Draco era. Ele não era todo perfeito. Lembramos tudo dele, e não há absolutamente nada de errado nisso.”

Houve um longo silêncio.
Luna foi a primeira a falar. “Queria que o Tom tivesse conhecido o Draco.” A voz dela tremeu um pouco.

Gina olhou para ela surpresa.
“O Draco virou meu grande amigo também,” ela disse, lágrimas vindo aos olhos. “E o Tom não conheceu nada dele. Então fico tentando dizer coisas do Draco para ele o tempo todo só para ele saber que não há muito tempo, um dos melhores homens nesse mundo foi o meu amigo e acho que todo mundo deveria tê-lo conhecido.” Seu lábio tremeu e ela o mordeu forte. “Não posso acreditar que alguém que amo tanto agora, que sabe tudo sobre mim, não conheça um amigo tão especial que esteve do meu lado por dez anos.”

Uma lágrima rolou pela bochecha de Gina e ela deu um abraço forte na amiga. “Bem, Luna, então vamos ter que falar para o Tom bastante dele, não é?”
As três meninas se abraçaram e dividiram suas lembranças mais queridas sob o céu estrelado até os primeiros raios de sol aparecerem.

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