Notícia de jornal



Gina imediatamente pulou da cama, vestiu uma roupa qualquer e foi de carro até a loja de conveniência mais próxima, onde pegou os jornais e começou a folheá-los a procura do que Laura havia feito tamanho escândalo. O homem atrás do balcão do caixa tossiu alto e Gina olhou para ele. “Isto não é uma biblioteca, senhorita, vai ter que comprar isso,” ele disse indicando com a cabeça o jornal que ela segurava.

“Sei disso,” ela disse irritada pela grosseria. Francamente, como diabos alguém poderia comprar um jornal sem saber qual deles tinha a informação procurada? Ela acabou pegando todos os jornais a mostra e largou-os em cima do balcão fazendo barulho enquanto sorria docemente para o vendedor.

O homem pareceu muito assustado e começou a registrá-los no caixa um por um. Uma fila começou a se formar atrás de Gina. Ela olhou desejosamente para a sessão de chocolates disponível à sua frente e se virou para ver se tinha alguém olhando. Todos estavam olhando. Ela rapidamente se virou para encarar o vendedor. Finalmente levantou o braço e rapidamente pegou duas barras de chocolate gigantes na prateleira mais perto. Um por vez, todas as outras barras começaram a cair no chão. O adolescente atrás dela começou a rir e olhou em outra direção quando Gina se abaixou com o rosto da cor dos cabelos para catá-las. Tantas haviam caído que ela teve de levantar e abaixar várias vezes. A loja estava silenciosa, exceto por algumas tosses forçadas dos que esperavam atrás dela. Ela então adicionou discretamente alguns pacotes de doces em sua pilha de compras. “Para as crianças,” ela disse alto para o vendedor, esperando que todos atrás dela ouvissem também.

Ele apenas fez um som gutural e continuou a passar os itens. Então ela lembrou que tinha que comprar leite e correu da fila até o canto oposto da loja para pegar uma embalagem de leite da geladeira. Algumas mulheres soltaram muxoxos alto quando ela voltou; o vendedor havia parado de registrar as compras e estava encarando-a. Ela simplesmente encarou de volta.
“Mark,” ele gritou.

Um adolescente cheio de espinhas apareceu por uma porta com uma máquina de etiquetar em uma das mãos. “Quê?” ele disse mal-humorado.
“Abra o outro caixa, por favor, filho, devemos demorar um tempo aqui.” Ele mais uma vez encarou Gina.

Ela lhe fez uma careta.

Mark se arrastou até o segundo caixa olhando para Gina o tempo inteiro. Que é? ela pensou na defensiva; não me culpe por ter esse trabalho. Ele tomou conta do caixa e a fila inteira correu detrás dela para lá. Satisfeita por ninguém mais estar olhando para ela, Gina pegou alguns pacotes de batatas fritas e adicionou-os às compras. “Festa de aniversário,” ela murmurou.

Na fila ao lado, o adolescente pediu um pacote de cigarros baixinho.
“Você tem uma identidade?” Mark perguntou alto.
O adolescente olhou em volta constrangido. Gina riu dele e olhou em outra direção.
“Algo mais?” o vendedor perguntou sarcasticamente.
“Não, obrigada, isso é tudo,” ela disse por dentes cerrados, então pagou e lutou para pôr o troco na bolsa.
“Próximo,” o vendedor chamou o cliente atrás dela.
“Oi, poderia me dar –”

“Com licença,” Gina o interrompeu. “Poderia me dar uma sacola, por favor,” ela disse educadamente, olhando para a enorme pilha de coisas à sua frente.
“Só um momento,” ele disse grosseiramente, “vou cuidar desse cavalheiro primeiro. Sim, senhor, cigarros?”
“Por favor,” o cliente disse olhando para Gina como se se desculpasse.
“Agora,” o vendedor disse se dirigindo a ela, “o que quer?”
“Uma sacola.” Ela apertou a mandíbula.
“Vinte centavos, por favor.”

Gina suspirou alto e colocou a mão na bolsa para procurar o dinheiro na bagunça. Outra fila se formou atrás dela.
“Mark, assuma o caixa de novo, certo?” ele disse zangado.
Gina tirou a moeda da bolsa e, depois de largá-la no balcão, começou a encher a sacola com as compras.
“Próximo,” ele disse novamente, olhando por cima da cabeça ruiva. Gina se sentiu pressionada a sair do caminho e começou a encher rápido a sacola em pânico.
“Vou esperar até a moça acabar,” o cliente disse educadamente.

Gina sorriu para ele apreciativa e se virou para ir embora da loja. Ela saiu andando e murmurando para si mesma até que Mark, detrás do balcão, assustou ao gritar, “Ei, eu te conheço! Você é a garota da televisão!”
Gina se virou rápido surpresa e a alça plástica da sacola se partiu com o peso dos jornais. Tudo caiu no chão e os chocolates, as batatas fritas e doces rolaram em todas as direções.

O homem educado se ajoelhou para ajudá-la a catar as coisas enquanto o resto da loja olhava se divertindo e se perguntando quem era a garota da televisão.
“É você não é?” o garoto riu.

“Eu sabia!” ele bateu uma palma animado. “Você é legal!” É, ela se sentia mesmo bem legal ajoelhada no chão de uma loja catando barras de chocolate. O rosto de Gina ficou escarlate e ela limpou a garganta nervosamente. “Hum... com licença, será que eu poderia ter uma outra sacola, por favor?”
“Sim, custam –”
“Aqui está,” o homem educado o interrompeu colocando uma moeda de vinte centavos na sua frente. O vendedor pareceu perplexo e começou a atender os outros clientes.

“Sou o Peter,” o homem disse ajudando Gina a pôr as coisas na sacola e estendendo-lhe a mão.
“Virgínia,” ela disse um pouco constrangida pelo excesso de ajuda quando apertou a mão dele. Quando viu que ele estava olhando para as compras, disse, “Sou uma chocólatra.”
Ele riu.

“Obrigada pela ajuda,” ela disse grata, levantando-se.
“Sem problemas.” Ele segurou a porta para que ela passasse. Ele era bonito, ela pensou, alguns anos mais velho e com a cor de olhos mais estranha; algo entre verde e cinza. Ela se aproximou um pouco para ver direito.

Ele limpou a garganta.
Ela corou furiosamente, percebendo de repente que havia ficado parada encarando-o como uma boba. Ela andou até o carro e colocou a sacola abarrotada no banco traseiro. Peter a seguiu. Ela sentiu um friozinho na barriga.

“Oi de novo,” ele disse. “Hum... estava pensando se gostaria de ir tomar alguma coisa,” e então ele riu, olhando para o relógio. “Na verdade, é um pouco cedo para isso, que tal um café?”

Ele era muito confiante e estava inclinado de uma maneira bem solta no carro ao lado do de Gina, suas mãos estavam nos bolsos e aqueles olhos estavam fixos nela. No entanto, ele não deixou desconfortável; na verdade, estava bem relaxado, como se chamar uma estranha para tomar café fosse a coisa mais natural do mundo. Era isso que as pessoas faziam agora?

“Hum...” Gina pensou naquilo. Que mal faria sair para tomar café com um homem que havia sido tão educado com ela? O fato de que ele era absolutamente lindo ajudava. Mas além da beleza, Gina realmente queria companhia e ele parecia ser alguém bom de se conversar. Laura e Luna estavam no trabalho e Gina não poderia ficar ligando para a casa da mãe, Molly estava fazendo suas coisas também. Gina precisava conhecer gente nova. Muitos dos amigos que tinha haviam antes sido amigos de Draco antes, mas desde que ele morrera todos aqueles “amigos” não haviam sido presença muito constante em sua vida. Pelo menos ela sabia quem eram seus verdadeiros amigos.

Ela estava prestes a dizer que sim a Peter quando ele abaixou os olhos para sua mão e seu sorriso se desfez. “Oh, me desculpe, não percebi...” Ele se afastou dela estranhamente, como se ela tivesse algum tipo de doença. “Tenho que correr de qualquer maneira.” Ele sorriu rapidamente e saiu com o carro.

Gina ficou olhando, confusa. Havia dito algo errado? Teria levado muito tempo para se decidir? Então olhou para o que o havia feito sair correndo e viu sua aliança brilhar. Ela suspirou alto e correu os dedos pelo cabelo.

Gina bateu a porta do carro e olhou em volta. Ela não queria ir para casa, estava cansada de ficar olhando para as paredes todos os dias e falando consigo mesma. Ainda eram dez horas da manhã e estava um sol lindo e morno lá fora. Do outro lado da rua, seu restaurante preferido estava armando as mesas do lado de fora. Seu estômago roncou. Aquilo era exatamente do que precisava. Tirou os óculos escuros do porta-luvas, pegou os jornais com as duas mãos e atravessou a rua. Uma senhora estava limpando as mesas.

“Há um bom tempo essas mesas não vêem a luz do sol,” ela disse alegremente para Gina quando ela se aproximou da porta.
“É, está um dia lindo, não está?” Gina disse, e as duas olharam para o céu limpo e azul.
“Quer sentar aqui fora, querida?”
“Quero sim, melhor aproveitar enquanto dá, o tempo deve fechar de novo daqui a pouco,” Gina riu sentando-se.
“Precisa pensar positivo, querida.” Ela se ocupou em acomodar Gina. “Certo, vou pegar o cardápio,” ela disse se virando para sair.
“Não, pode deixar, sei o que quero. Poderia me trazer um café da manhã completo?”
“Sem problemas, querida.” Ela sorriu e deixou Gina.

Gina olhou para a pilha de jornais à sua frente e riu ao ver que o Líder Árabe estava no topo. Havia pegado todos os jornais sem nem se certificar do que se tratavam. Duvidava muito que o Líder Árabe tivesse algum artigo sobre o documentário de Jorge.

Ela ficou sentada por um tempo apenas olhando o mundo à sua volta. Adorava ouvir pedaços das conversas das pessoas quando elas passavam; era como dar uma espiada na vida dos outros. Adorava tentar adivinhar o que cada um fazia, para onde estavam indo, onde moravam, se eram casados ou não... Laura e Gina costumavam ir tomar um café na Grafton Street, o melhor lugar para ver pessoas.

Gina riu baixinho. Elas criavam historinhas para passar o tempo, mas Gina parecia estar fazendo aquilo muito regularmente nos últimos dias. Era apenas mais uma demonstração de como sua mente estava presa à vida dos outros ao invés de focada na sua própria. Ela sabia que Draco estava morto e, de certa forma, já estava acostumada àquilo; no entanto, era o único jeito que tinha de não ter que encarar de vez aquela verdade, de não ter que enfrentar o problema de frente, de viver sem ele. E ela tinha tanto medo...

Ali, na mesa onde sentava, ela continuou a brincadeira até que se cansou e decidiu viver a sua própria vida para variar um pouquinho.
Gina folheou as páginas dos jornais e chegou a um pequeno artigo na sessão de críticas que chamou sua atenção.

“As Garotas na Cidade”, um sucesso de críticas
por Penny Coleman

Para todos os desafortunados que perderam o hilariante documentário televisivo “As Garotas na Cidade” na quarta-feira passada, não se desesperem, porque ele estará de volta às nossas telinhas em breve.
O cômico documentário, dirigido pelo inglês Jorge Weasley, acompanha quatro garotas para uma noite de festa na cidade. Elas nos revelam as misteriosas vidas das celebridades na boate da moda Boudoir e nos proporcionam trinta minutos de gargalhadas de doer a barriga.
O vídeo se provou um sucesso quando foi ao ar pela primeira vez no Canal 4 e as estatísticas revelam que quatro milhões de pessoas assistiram no Reino Unido. O show será reprisado no domingo, às onze da noite no Canal 4. Isso é televisão de qualidade, então não perca!



Gina tentou ficar calma enquanto lia o artigo. Eram obviamente ótimas notícias para Jorge, mas desastrosas para ela. Ter ido ao ar uma vez já fora ruim o suficiente, imagine uma segunda vez. Precisava ter uma conversa séria com Jorge sobre isso.

Ela folheou o resto dos jornais e viu a causa do escândalo de Laura. Todo santo tablóide tinha um artigo sobre o filme e um inclusive tinha uma foto antiga de Luna, Laura e Gina. Como eles haviam conseguido, ela não sabia. Ela realmente não estava feliz com o uso de palavras como “garotas bêbadas” e coisas do tipo.

Sua comida finalmente chegou e ela olhou chocada para uma travessa com salsichas, bacon, ovos, pudins, ervilhas, batatas fritas, cogumelos, tomates e cinco fatias de torrada. Gina olhou em volta constrangida, esperando que ninguém achasse que ela era um monstro. Ela viu o adolescente irritante se aproximando com os amigos, então pegou o prato e correu para dentro do restaurante. Ultimamente, não havia sentido muita vontade de comer e agora que tinha seu apetite de volta, não deixaria um adolescente idiota arruinar aquilo.

Gina devia ter estado no restaurante por mais tempo que percebera, pois quando chegou à casa dos pais em Portmarnock eram quase duas da tarde. Ao contrário do que ela pensara, o tempo não havia fechado. Gina olhou para a praia na frente da casa e viu que estava difícil dizer onde o céu acabava e o mar começava. Várias pessoas estavam chegando ali e havia um cheiro bom de protetor solar no ar. Os sons e os cheiros lhe trouxeram à mente memórias felizes de quando vivera ali.

Gina tocou a campainha pela quarta vez e ninguém atendeu. Ela sabia que tinha gente em casa porque as janelas estavam abertas. Ela andou no jardim tão bem cuidado de Molly e deu uma olhada pela janela da sala para ver se havia algum sinal de vida. Foi então que viu as coisas dos gêmeos espalhadas pela sala e então tocou a campainha mais uma vez. Quando ninguém atendeu novamente, Gina estava a ponto de desistir quando ouviu a batalha de gritos entre Fred e Jorge.

“FRED, ATENDE A MALDITA PORTA!”
“NÃO, JÁ DISSE! EU... ESTOU... OCUPADO!” ele gritou de volta.
“EU TAMBÉM!”

Gina tocou a campainha mais uma vez para pôr lenha na fogueira. Uma briga entre os gêmeos era mais do que rara e ela até que podia aproveitar aquilo.

“JORGE!” Ai, aquele grito fora de dar medo.
“ATENDA VOCÊ, SUA BICHINHA PREGUIÇOSA!”
“HÁ! EU SOU PREGUIÇOSO?!”

Gina pegou o celular e ligou para a casa.

“FRED, ATENDA O TELEFONE!”
“NÃO!”

“Oh, pelo amor de Deus,” Gina falou alto, cansada da brincadeira. Ela ligou então para o celular de Jorge.
“Alô?”
“Jorge, abra a porcaria da porta agora ou eu juro que vou arrombá-la,” Gina gritou.
“Ah, desculpe, Gininha, pensei que o Fred já tinha aberto,” ele mentiu.

Ele abriu a porta vestido apenas de cueca e Gina entrou pisando duro. “Meu Deus, espero que não seja assim sempre que a campainha toca!”
Ele deu de ombros e apenas disse, “A mãe e o pai saíram,” e subiu as escadas.

“Ei, onde está indo?”
“Voltando para a cama.”
“Não vai, não,” Gina falava calmamente de um jeito que fazia parecer que a irmã mais velha era ela. “Vai sentar aqui comigo,” ela disse dando umas palmadinhas no sofá, “e vamos ter uma boa e longa conversa sobre ‘As Garotas na Cidade.’”
“Não,” Jorge gemeu. “Temos que fazer isso agora? Sei que te devo uma, mas estou muito, muito cansado.” Ele coçou os olhos.
Gina não teve pena. “Jorge, são duas horas da tarde, como ainda pode estar cansado?”
“Porque só cheguei aqui há algumas horas,” ele disse num tom divertido, piscando para ela. Agora ela definitivamente não estava com pena, estava simplesmente com inveja.
“Senta!” ela disse, mandona.

Jorge ergueu as sobrancelhas, mas quando viu que não tinha escolha, gemeu e se arrastou até o sofá, onde se jogou e se esticou sem deixar nenhum espaço para Gina. Ela revirou os olhos e se aproximou dele arrastando a poltrona do pai.

“Me sinto num psicólogo,” ele riu, cruzando os braços por trás da cabeça ruiva e olhando para ela sem cerimônias.
Quando ele viu o olhar de Gina, seu sorriso se desfez.
“Ah, Gininha, temos mesmo que fazer isso? Já conversamos naquela noite.”
“Francamente achou que eu só iria falar aquilo? ‘Oh, Jorge, me desculpe, mas não gostei do modo como humilhou publicamente a mim e minhas amigas, te vejo semana que vem’?”
“Claro que não.”

Depois de um longo silêncio, ele disse, “Sinceramente pensei que fosse gostar. Até chequei com o Fred e a Luna e eles disseram que você iria gostar! Desculpe se te chateei. Sabe que é a minha irmã preferida,” ele sorriu.
“Isso é porque sou sua única!” ela sorriu. Depois de mais explicações da parte dele, ela realmente viu que ele tivera boas intenções. Mas, de repente, ela parou. O que ele havia dito? Ela sentou alerta na poltrona. “Jorge, acabou de dizer que Luna sabia da fita?”

Ele gelou no sofá e tentou pensar em uma maneira de não se comprometer. Sem conseguir uma desculpa, ele largou a cabeça para trás e tapou o rosto com uma almofada, sabendo que acabara de provocar a Terceira Guerra Mundial.
“Ah, Gininha, não diga nada a ela, ela vai me matar quando me vir!” foi a resposta abafada.

Gina pulou do assento e correu para o andar de cima. De Luna ela cuidaria depois, mas foi então batendo forte cada pé nos degraus para dizer a Fred que estava muito zangada. Mal sabia ela que sua raiva, na verdade, era toda para Luna. Não importava, só precisava descontar em alguém. Mesmo assim, subiu gritando ameaças a ele enquanto subia e então pôs a mão na maçaneta do quarto de hóspedes, onde Fred estava.

“Não entra!” ele gritou lá de dentro.
“Você está ferrado, Fred!” ela gritou. Então abriu a porta e entrou triunfalmente, fazendo a cara mais ameaçadora que podia.
“Disse para não entrar!” disse Fred.
Gina estava prestes a gritar todo o tipo de coisas mas parou ao ver o irmão sentado no chão com Morgana, que segurava o parecia ser um álbum no colo e tinha lágrimas pelo rosto todo.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.