Boudoir - parte II



Paul e Homem Bigode correram para o andar de cima e se encontraram em frente à cortina dourada com o outro segurança. “O que está acontecendo?” Homem Bigode lhe perguntou.

“Aquelas garotas que você me mandou vigiar tentaram engatinhar para o outro lado,” o grandalhão disse seriamente. Você podia dizer só de olhar para ele que seu trabalho anterior envolvia matar pessoas que tentassem engatinhar para o outro lado. Ele estava levando aquela coisa de segurança bastante a sério.

“Onde elas estão?” Homem Bigode perguntou.
O gigante limpou a garganta e desviou os olhos. “Estão se escondendo, chefe.”
Homem Bigode revirou os olhos. “Estão se escondendo?”
“Sim, chefe.”
“Onde? Aqui dentro?”
“Acho que sim, chefe.”
“Você acha que sim?”
“Bem, elas não passaram por nós enquanto vínhamos para cá, então ainda devem estar aqui,” Paul sugeriu.
“Muito bem,” Homem Bigode suspirou. “Vamos começar a procurar então, arranje alguém para ficar de olho na cortina.”

A câmera seguiu os três seguranças secretamente enquanto eles patrulhavam a boate procurando atrás de sofás, sob as mesas, atrás das cortinas; eles até conseguiram que alguém desse uma olhada nos banheiros. A família de Gina riu histericamente da cena se desenrolando diante de seus olhos.

Houve uma pequena comoção no andar de cima e os seguranças rumaram naquela direção para resolver o problema. Uma pequena multidão começava a se aglomerar e as duas modelos magricelas pintadas de dourado haviam parado de dançar e estavam agora olhando para a cama com horror. A câmera focou-se na cama king-size em cima da alta plataforma; debaixo dos lençóis dourados, havia o que pareciam ser três porcos lutando sob o tecido. Laura, Luna e Gina rolavam no colchão gritando entre si, tentando ficar o mais imperceptíveis possível debaixo do lençol para que não fossem notadas. Os três grandes calombos na cama pararam de gritar e repentinamente congelaram, sem saber o que se passava do lado de fora.

Os seguranças contaram até três e puxaram o cobertor da cama. Três garotas muito assustadas parecendo presas encurraladas os encaravam de volta e continuavam deitadas ali, fazendo o mínimo volume possível e com os braços esticados e duros aos seus lados.

“A minha pessoa tinha que repousar um pouco antes de sair,” Gina disse bebadamente com seu sotaque real e as outras garotas não agüentaram a risada.
“Venha, princesa, a diversão acabou,” disse Paul. Os três homens acompanharam as garotas até a saída, assegurando-se de que nunca mais fossem admitidas na boate.

“Posso só dizer a minha amiga que vamos embora?” Laura perguntou.
O homem soltou um muxoxo e desviou os olhos.
“Com licença? Estou falando sozinha? Perguntei se estaria tudo bem se eu entrasse para dizer à minha amiga que temos que ir?”
“Olha, parem de brincar, meninas,” Homem Bigode disse chateado. “Seus amigos não estão lá dentro. Agora vão, voltem para suas camas.”
“Com licença,” Laura disse com raiva, “tenho uma amiga na área VIP; ela é baixinha e tem o cabelo castanho, está com um vestido verde...”
“Garotas!” ele elevou a voz. “Ela é uma cantora e não quer ser incomodada em sua folga. Ela é tão sua amiga quanto eu sou árabe. Agora dêem o fora antes que arranjem mais confusão.”

Todos deram risada.

A cena mudou para “A Longa Jornada de Volta,” e todas as garotas estavam no táxi. Hermione estava sentada como um cachorro com o cabeça para fora da janela a mando do motorista. “Você não vai vomitar no meu carro. Ou você põe a cabeça para fora ou anda para casa.” O rosto de Hermione estava quase roxo e ela batia o queixo de tanto frio, mas ela não andaria o caminho inteiro para casa. Ela estava com uma expressão um pouco zangada pelas meninas a terem tirado da boate estragando sua história de ser de Hollywood. Laura e Luna haviam cochilado com as cabeças apoiadas uma na outra.

A câmera deu um giro e focou o rosto de Gina, que estava sentada no banco do passageiro mais uma vez. Mas dessa vez ela não estava tagarelando para o motorista; estava com a cabeça descansando no encosto e tinha o olhar perdido na noite à frente. Gina sabia o que estivera pensando naquela hora quando viu aquela cena. Era hora de voltar para aquela casa enorme sozinha novamente.

“Feliz aniversário, Gina,” a vozinha de Hermione falou oscilando.
Gina virou-se para lhe dar um sorriso e deu de cara com a câmera. “Você ainda está filmando com essa coisa? Desliga!” e ela então derrubou a câmera das mãos de Jorge. Fim.



Enquanto Daniel ia acender as luzes do Club Diva, Gina saiu sorrateiramente de perto do grupo e escapou pela porta mais próxima. Ela precisava se ajustar antes que todos começassem a falar sobre aquilo. Ela se viu num armário apertado e cercada por baldes, rodos e sacos vazios. Que lugar idiota para se esconder, ela pensou. Sentou-se então num banquinho de madeira e pensou no que tinha acabado de ver. Ela estava em choque. Gina se sentia confusa e ao mesmo tempo zangada com Jorge; ele não havia lhe avisado que pretendia fazer aquilo. Talvez se ele tivesse pedido permissão educadamente... aí seria diferente. Apesar de que ela sabia que não concordaria com aquilo.

Mas a última coisa que Gina queria fazer agora era gritar com o irmão na frente de todos. Fora o fato de que o filme a havia humilhado completamente, Jorge realmente havia o feito e editado muito bem. Se tivesse sido qualquer um além dela naquela tela enorme, Gina acharia o documentário muito merecedor do prêmio. Mas era ela, por isso não merecia ganhar... Algumas partes haviam sido engraçadas, ela concordava, e não se importava muito com aquelas que mostravam a si própria e as meninas agindo como idiotas; eram as imagens de sua tristeza que a incomodavam mais.

Grandes lágrimas salgadas rolaram pelo seu rosto branco e ela colocou os braços em volta de si mesma como se abraçasse a si própria em busca de conforto. Ela havia visto na televisão como realmente se sentia. Perdida e sozinha. Ela chorou por Draco, pela ausência dele na sua vida, por tudo o que vinha sofrendo; e então ela chorou por si mesma com soluços fortes e penosos que doíam sempre que ela tentava suprimi-los ou recuperar fôlego. Ela não queria mais estar sozinha, não queria que sua família visse a solidão que ela tentava esconder deles com tanto afinco. Ela apenas queria Draco de volta, só ele; ela não se importava com mais nada. Não se importava se ele voltasse e eles brigassem todo santo dia, não se importava se ficassem sem dinheiro, sem casa e sem nada. Ela só queria ele. Então Gina ouviu a porta se abrir atrás de si e sentiu braços grandes e fortes envolverem seu corpinho frágil. Ela chorou como se os meses de angústia acumulada estivessem finalmente sendo postos para fora de uma vez só.

“O que ela tem? Não gostou?” ela ouviu Jorge perguntar preocupado.
“Só deixe ela em paz, filho,” a mãe dela disse gentilmente e a porta se fechou mais uma vez e agora Daniel estava lá fazendo carinho nos seus cabelos ruivos e balançando-a como se ninasse um bebê.

Finalmente, depois de chorar o que pareceram ser todas as lágrimas do mundo, Gina parou e soltou Daniel. “Desculpe,” ela fungou secando o rosto com as mangas de sua blusa.
“Não precisa pedir desculpas,” ele disse removendo gentilmente a mão dela do seu rosto molhado e lhe entregando um lenço.

Gina ficou um pouco em silêncio enquanto tentava se recompor.
“Se está chateada por causa do filme, não precisa ficar,” ele disse, sentando-se no chão à sua frente.
“É, até parece,” ela disse sarcasticamente limpando as lágrimas de novo.
“Não, sério,” ele disse sinceramente, “achei bastante engraçado. Vocês pareciam estar se divertindo muito.” Ele sorriu para ela.
“Pena que não era assim que eu me sentia,” ela disse tristemente.
“Talvez não foi como se sentiu, mas a câmera não filma os sentimentos, Gina.”
“Você não tem que tentar me fazer sentir melhor.” Gina ficou constrangida por estar sendo consolada por um estranho.
“Não estou tentando fazer você se sentir melhor, só estou dizendo o que realmente é. Ninguém além de você percebeu o que quer que esteja te chateando. Não vi nada demais, então por que alguma outra pessoa veria?”
Gina se sentiu um pouquinho melhor. “Tem certeza?”
“Tenho, tenho sim,” ele disse sorrindo. “Agora você realmente tem que parar de se esconder em todos os lugares do meu pub, posso levar pro lado pessoal,” ele riu.
“As meninas estão bem?” Gina perguntou esperando que fosse só ela sendo boba afinal. Houve uma risada muito alta do lado de fora.

“Elas estão bem, como você pode ouvir,” ele disse indicando a porta com a cabeça. “Hermione está se gabando por ter se passado por uma estrela, Luna finalmente saiu do banheiro e Laura simplesmente não para de rir. Mas o Rony está meio chateado com a Hermione por ter ido pra a área VIP e etc...”

Gina riu.

“Viu? Ninguém nem percebeu o que você viu.”
“Obrigada, Daniel.” Ela respirou fundo e sorriu para ele.
“Está pronta para sair e encarar o seu público?” ele perguntou.
“Acho que sim.” Gina saiu do armário para encontrar o som alto das risadas. As luzes estavam acesas e todos estavam sentados em volta de uma grande mesa contando piadas e casos. Gina se juntou a eles e sentou-se ao lado de sua mãe. Molly abraçou a filha e lhe deu um beijo na bochecha.

“Bem, achei que foi ótimo,” anunciou Rony entusiasmado. “Se o Jorge pudesse sair com as moças todas as vezes, aí saberíamos o que elas aprontam, eh, Blaise?” Ele piscou para o marido de Laura.
“Bem, posso lhes assegurar,” Hermione falou, “que o que viram não é uma noite normal de garotas.”

Os homens não estavam comprando aquilo.

“Então, você está bem?” Jorge perguntou a Gina receando que a tivesse chateado.
Ela olhou enviesado para ele.
“Achei que iria gostar, Gininha,” ele disse preocupado.
“Talvez eu tivesse gostado se tivesse sabido o que estava aprontando,” ela respondeu.
“Queria que fosse uma surpresa,” ele disse sinceramente.
“Agora você vai ter que ser legal comigo durante os próximos meses,” Gina fez uma cara de inocente enquanto enrolava o cabelo na ponta do dedo. Jorge fez uma careta; ia ser explorado e sabia disso. “Aahhn...” ele gemeu e saiu para conversar com Fred.

“Para dizer a verdade, Gina, tenho que admitir que achei muito engraçado,” riu Laura. “Você e a sua Operação Cortina Dourada,” ela disse cutucando a costela de Luna.
Luna revirou os grandes olhos azuis. “Oh, posso dizer uma coisa a todos vocês – eu não bebo nunca mais.”
Todos riram e Tom a envolveu em seus braços.
“Que foi?” ela disse inocentemente. “Tô falando sério.”

“Falando em bebida, alguém quer alguma?” Daniel levantou da cadeira. “Rony?”
“Quero, uma Budweiser, por favor.”
“Hermione?”
“Hum... vinho tinto, por favor,” ela disse educadamente.
“Arthur?”
“Uma Guinness, obrigada, Daniel.”
“Eu quero o mesmo,” disse Blaise.
“Laura?”
“Só uma Coca-Cola, por favor. Gina, quer uma também?” ela disse, olhando para a amiga. Gina concordou com a cabeça.
“Tom?”
“Coca com vodka, por favor, Dan.”
“Nós também,” disse Fred, indicando o irmão.
“Luna?” Daniel tentou esconder o sorriso.
“Hum... quero... gim e tônica, por favor.”
“Há!” Todos zombaram dela.
“O que é?” Ela deu de ombros como se não se importasse. “Até parece que uma bebida vai me matar...”



Gina estava em frente à pia com as mangas da blusa enroladas até os cotovelos esfregando pratos quando ouviu a voz familiar.
“Oi, meu amor.”
Ela se virou e o viu parado nas grandes portas de vidro que davam para o jardim. “Oi, você,” ela sorriu.
“Saudades de mim?”
“Claro que sim.”
“Já achou aquele marido novo?”
“Claro que já achei, ele está lá em cima dormindo,” ela riu enquanto secava as mãos.
Draco abanou a cabeça em uma desaprovação fingida, “Devo subir e sufocá-lo por dormir na nossa cama?”
“Ah, dê a ele mais uma horinha ou por aí,” ela brincou, olhando para o relógio, “ele precisa descansar.”

Ele parecia feliz, ela pensou;o rosto vivo e ainda tão bonito quanto como ela lembrava. Estava vestindo a blusa azul que ela mais gostava e que lhe dera em um Natal. Ele ficou ali, inclinado com o ombro apoiado na parede, olhando para ela por debaixo de seus longos cílios.

“Você vai entrar?” ela perguntou, sorrindo.
“Não, só passei para ver como você está. Está tudo indo bem?” Ele inclinou um pouco a cabeça e colocou as mãos nos bolsos.
“Mais ou menos,” ela disse balançando as mãos no ar. “Poderia estar melhor.”
“Ouvi dizer que você é uma estrela de televisão agora,” ele sorriu um sorriso largo e sincero que transpareceu até por seus olhos cinzentos.
“Uma estrela bem relutante,” ela riu.
“Você vai ter os homens caindo aos seus pés,” ele assegurou.
“Caindo aos meus pés mesmo,” ela concordou. “O problema é que eles vivem errando o alvo,” ela disse apontando para si mesma. Ele riu alto. “Eu sinto a sua falta, Draco.”
“Não fui muito longe,” ele disse baixinho numa voz macia.
“Vai me deixar de novo?”
“Por enquanto.”
“Te vejo em breve,” ela sorriu.
Ele piscou para ela e desapareceu.

Gina acordou com um sorriso no rosto e sentindo como se tivesse dormido por dias.
“Bom dia, Draco,” ela disse olhando alegremente para o teto.
O telefone tocou ao seu lado. “Alô?”
“Oh, meu Deus, Gina, olhe agora o jornal do fim-de-semana!” Laura disse em pânico.

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