Beijando o Sr. Dursley



Válter agora parecia uma pessoa completamente diferente sob os olhares de Petúnia. O encontro de domingo tinha melhorado muito o relacionamento entre ambos. Ele já não era mais o garoto que havia esbarrado nela no saguão do hotel. Apesar de conhecê-lo a somente dois dias ela sabia que havia um clima entre eles. Pelo menos era o que Petúnia pensava.
Na segunda, logo pela manhã, Susan ligou para Petúnia querendo saber como fora o encontro. Aproveitando que sua família tinha ido a praia a garota contou os mínimos detalhes sobre a noite anterior.

- Eu pensei que você sentiria raiva de mim por eu ter dado o seu telefone para ele - disse Susan.
- No começo sim...mas depois me dei conta que gostava dele- as duas davam gritinhos de alegria.
- Então, está rolando alguma coisa?
- Eu espero que sim - disse Petúnia ouvindo novos gritinhos de alegria.
- Ela já te ligou para um novo encontro?
- Ainda é segunda de manhã, Su. É muito cedo ainda para isso - disse Petúnia.
- Se ele gostasse mesmo de você poderia ter marcado ontem mesmo um novo encontro.
- Você se esqueceu do que eu te contei? Ontem eu sai correndo para chegar no hotel antes dos meus pais - disse Petúnia.
- Eu tinha esquecido que você tinha dado uma de Cinderela. Só faltou o sapatinho de cristal - Susan caçoava amigavelmente apesar de Petúnia ter gostado da comparação.
- Acho melhor esperar para minha mãe me liberar do castigo e depois eu penso melhor nisso. Vou bancar a menina boazinha para ver se isso acaba logo - disse Petúnia parecendo cautelosa.
- Mas eu tenho certeza que você adorou sair escondida! - Susan continuava com suas brincadeirinhas.

Petúnia ouviu a porta se abrindo.

- Eu tenho que desligar. A general está chegando - Petúnia não deu tempo para Susan se despedir e desligou o telefone.

Jeannie Evans foi logo entrando escoltada por seu marido Jerry Evans.

- Cadê a Lílian? - foi a primeira pergunta que Petúnia fez ao se dar conta da falta da irmã.
- Está no saguão do hotel... com um garoto - respondeu simploriamente Jeannie enquanto colocava sua bolsa dentro do armário.
- Um garoto? - perguntou Petúnia intrigada - Que garoto?

Um silêncio pairou no ar. Jeannie fuzilou Petúnia com os olhos.

- Qual o problema? Ela não pode ter um namorado? - agora era Jerry quem falava.
- Primeiro, ela, até onde eu sei, não liga muito para essa coisas de namoro - disse Petúnia.
- E qual é o problema. É Los Angeles. Aqui a magia acontece - disse Jeannie parada em frente a filha.
- O que seria o número dois? - perguntou Jerry curioso.
- Que número dois? - perguntou Petúnia fingindo não saber do que seu pai falava.
- Você enumerou motivos para a Lílian não poder ter um namorado. Quais são eles? - Jerry pergunto calmamente se sentando numa poltrona.
- É! Quais são eles? - Jeannie parecia interessada também.

Petúnia ia falar que ela era muito estranha para ter um namorado, mas achou melhor se conter. Ela já tinha ficado de castigo exatamente por culpa de Lílian e não queria mais punições. Então, por causa de sua nova fase comportada, limitou-se a dizer.

- Não era nada não - disse simplesmente enquanto ia para o seu quarto.
- Essas crianças! - disse Jerry rindo para Jeannie.

***
-
- O que você fazia no hotel se mora na cidade? - perguntou Petúnia.
- É...que...meu tio, sabe?... - ele não sabia o que disser - Ele é de Nova Iorque e está passando o verão aqui ...
- Por que ele está no hotel em vez de estar na sua casa? - Petúnia estava ficando intrigada.
- O irmão dele, meu pai... eles não se dão bem - disse sussurrando como se tivesse muitas pessoas para ouvir.


Aquela cena da noite anterior não saia da cabeça de Pet. Por que Válter mentia? A garota não tinha as respostas. Queria tê-las, mas não as possuía. Apesar de já sentir algo por ele, aquelas mentiras não saiam de sua cabeça.
Seus devaneios foram bruscamente interrompidos pela chegada de sua irmã. Parecia que o tal "encontro" com o garoto misterioso já tinha acabado.

- Você está bem, Pet? - perguntou sua irmã logo que chegou.

Pet, ou melhor, Petúnia se segurou para não gritar palavrões para sua irmã. Só permitia que seus amigos a tratassem com tal intimidade. Mesmo assim Petúnia se segurou dizendo para si mesma "seja boazinha", "seja boazinha".

- O quê foi, Pet? - "de novo?" pensou Petúnia "será que ela é tão retardada que não enxerga que eu odeio isso?" - Algum problema?
- Não, não... É que eu estava pensando se você não podia me dar alguns conselhos amorosos - disse Pet pegando a irmã de surpresa.

Lílian olhou espantada para a outra. Será que ela tinha ouvido direito. Conselhos amorosos?

- O que você disse, Pet? - Lílian ainda não acreditava no que havia ouvido.
- Você deve entender do assunto. Você já não arranjou um namorado, Lílian? Mamãe disse que você estava com um rapaz no saguão do hotel. E aquela história de que é muito nova para namorar?
- E você não conhece a figura rara que é a mamãe. Ele é só um amigo. Mas, para que você quer conselhos amorosos afinal?
- É que tem um rapaz...

Lílian interrompeu Petúnia antes que continuasse.

- Nada mais natural. Uma garota tão linda como você - engraçado como a voz de Lílian tinha saído tão artificial quando falou isso - Mesmo assim, por que não fala isso com a Susan? Ela não é sua amiga? Pelo menos foi o que pareceu no sábado.
- Você ainda está chateada com isso? Ah, esquece aquilo!
- Não é por isso, Pet! É que nós nunca nos demos bem, e parece que vocês duas se entendem muito melhor.
- Mas ela não é minha irmã! Você sim, é minha irmã! Sempre ouvi dizer que as irmãs são as melhores confidentes.

Lílian se assentou na cama.

- Eu não sabia que você gostava tanto de mim assim. Mas, e sobre o garoto? Como é ele? Aliás, quem é ele?
- Ele estava conosco no sábado. O nome dele é Válter... - disse Petúnia com os olhos brilhando.

***

- Foi nessa hora que eu contei para ela sobre o Válter, Su - disse Petúnia a Susan pelo telefone.

Era quarta-feira e mais uma vez Petúnia aproveitava a saída de seus pais e de sua "querida" irmã para conversar com Susan.

- Mas para que você está fingindo ser amiga dela? Você tem que ser boa para os seus pais e não para Lílian.
- Disso eu sei, mas a minha mãe gosta muita mais dela do que de mim. Você viu o que aconteceu no sábado! Eu estou de castigo por causa dela.
- Pelo que eu entendi você deveria se vingar dela e não virar sua "amiguinha".
- Dá para perceber que você não entendeu mesmo, Su! Eu quero que ela goste de mim por vários motivos. Primeiro é que ela não vai me colocar de novo de castigo dedurando para a minha mãe qualquer coisa que eu fizer. Segundo é que talvez com isso minha mãe deixe eu sair mais rápido dessa prisão. E por último, mas não menos importante, é que ela me encubra quando eu quiser sair.
- Belo plano, mas será que a sua irmã vai acreditar nisso, Pet?
- É o que veremos... Mas eu preciso falar sobre outro assunto com você. É sobre o Válter.
- O quê que tem ele? - Susan estava mais curiosa do que o normal apesar de ter uma idéia do que viria a seguir.
- Eu andei pensando... Já que ele não me liga, eu deveria ligar... - Petúnia foi interrompida bruscamente por Susan.
- NÃO! De jeito algum eu não vou deixar minha amiga fazer uma besteira dessas! - Susan gritou tão alto que Petúnia afastou um pouco o telefone do ouvido.
- Besteira? Por que, Susan? - Petúnia não entendia o comportamento da amiga.
- Agora eu é que digo! Você não entende? Ligando para ele você vai parecer desesperada. Então ele vai te achar uma garota muito fácil e não irá mais gostar de você.
- Ele vai me achar fácil? É só um telefonema. Eu não estou pedindo ele em namoro - Petúnia falou sarcástica.
- Vai por mim, amiga. De garotos eu entendo. Homens gostam de conquistar as mulheres, praticamente seduzi-las. São os tais dos jogos de sedução. Se você ligar ele logo vai enjoar de você e vai partir para outra.
- Você esqueceu que eu estou castigo? Ele sabe disso, é por isso que não me liga. Imagina se minha mãe atende. Ela vai me proibir de falar no telefone até eu completar 21 anos.
- Eu sei disso. Tanto que depois que você me falou que estava de castigo eu espero sempre você ligar para mim.
- Então, Su. Ele deve estar fazendo a mesma coisa. Eu preciso ligar para ele! Qual é o número?
- Eu posso ligar para ele se você quiser. Eu explico que você está de castigo e que... - dessa vez Petúnia é quem interrompeu Susan.
- Com você ligando ele vai achar que eu sou uma covarde. Se ele gosta de mim de verdade não vai ligar para uma bobagem dessas. Eu explico tudo quando telefonar.
- Está jogando por sua conta, Pet - disse Susan finalmente cedendo.

***

Petúnia não perdeu tempo e assim que terminou de falar com Susan, ligou para Válter. Ao primeiro toque alguém atendeu ao telefone. Parecia que a pessoa do outro lado da linha esperava alguma ligação.

- Alô - disse Válter afobado com sua inconfundível voz.
- Oi, Válter! Sou eu, Petúnia! - Pet tinha esquecido todos os conselhos que Susan tinha lhe dado sobre não parecer ansiosa. A garota era naquele momento a ansiedade em pessoa. Parecia até que havia alguma emergência.
- Algum problema? - Válter se mostrava preocupado.
- Por que haveria de ter, Válter?
- Você me parece um pouco desesperada, Pet - disse Válter com franqueza.
- Bem que a Susan me falou disso! - praguejou Petúnia em um sussurro.
- Susan falou o quê?
- Nada! Esquece - disse Petúnia tentando desconversar - Eu queria falar algo importante com você.
- Do que se trata? - Válter já até podia prever o que a garota iria dizer.
- Sobre o nosso último encontro eu só queria deixar claro que eu fui embora cedo pois já era tarde e eu tinha saído escondida. Por mim eu ficava com você por horas - disse Petúnia explicando os fatos.
- Eu sei, eu sei... - falou Válter sério - Sem ressentimentos! Fique tranqüila quanto a isso.
- E eu também queria dizer que na sexta vai ter uma festa no hotel. Daquelas que eles promovem para os turistas. Ah! Me esqueci. Você já deve saber! Seu tio está aqui, não está?
- Ele já voltou para Nova Iorque - respondeu Válter conclusivo.
- Então eu o convido para vir na festa sexta-feira. Lógico, se der para você vir.
- Sexta, é? - Válter era um misto de preocupação e decepção - É que... Meus pais vão sair e eu fiquei de cuidar do meu irmãozinho menor. Não vai dar.
- Que pena - Pet também estava decepcionada - Talvez eu pudesse ir na sua casa ajudar você a tomar conta do seu irmão - sugeriu a garota tentando ser prestativa.
- Mas você está de castigo e... - Válter tentava justificar.
- Meus pais e minha irmã estarão na festa. Eu poderei ir escondida.
- Não! Seria muito arriscado para você sair assim. Da última vez você deu sorte, mas é como você disse, seus pais vão estar no hotel e a qualquer hora poderão subir para o quarto para ver você. Eu não quero prolongar mais a sua sentença.
- Tudo bem, eu entendo. Mas assim que eu sair do castigo vamos combinar algo! Espero que em breve - Petúnia voltava a ter esperança.
- Tudo bem. Agora tenho que desligar. Até outro dia, Pet.
- Tchau - disse a garota se despedindo e recolocando o telefone no gancho.

Quando Petúnia terminou de falar com Válter a garota se assentou em sua cama e se pôs a pensar sobre a conversa que acabara de ter. Válter parecia mentir novamente. Ela tinha certeza que ele era filho único. Susan havia lhe contado isso. Pet só continuava sem saber o motivo. Uma idéia lhe passou pela cabeça. "Será que ele tem namorada?" pensou ela. Não, não pode ser. Ele a paquerou no sábado. Válter teria que ser muito canalha para cantar uma garota estando comprometido com outra. Petúnia sabia pelas vezes em que o vira que de canalha Válter não tinha nada. Podia ser mentiroso, mas canalha não.
E assim os dias foram se passando. Petúnia agora saia mais com sua família. Além disso tentava convencer a sua irmã de que agora queria ser amiga dela. Na sexta Petúnia foi a festa mesmo sem Válter apesar de não parar de pensar no garoto. E no sábado, a pedido de Lílian, que agora já começava a acreditar que Pet era sua amiga, Jerry e Jeannie a liberaram do cárcere que era como Petúnia gostava de chamar o seu castigo.
Logo que Petúnia foi liberada do castigo correu para o seu quarto e ligou para Válter.

***

- Então agora que eu estou liberada para sair que tal se você me convidasse? - perguntou Petúnia a Válter pelo telefone.
- Você está se convidando! Eu que deveria convidar você, Pet - conclui rapidamente o rapaz.
- Por que? Não interessa quem convida quem. Ou você não quer sair de novo comigo? - perguntou Petúnia insegura.
- Claro que eu quero - disse Válter despreocupado - Que tal amanhã a noite?
- Amanhã?! Precisa demorar tanto? - pergunto ela afobada - Por que não hoje? - propôs Pet.
- Se você quiser... - disse Válter pausadamente - Por mim tudo bem.
- Então aonde vamos? Quero começar a me aprontar logo, Val!
- Que tal um cinema? - sugeriu Válter.
- Isso é muito clichê! Eu estava pensando em algo como... ir a praia de noite.
- Até que a sua idéia não é ruim. Então te pego às oito?
- Tudo bem, mas não se atrase.

***

Faltavam cinco minutos para as oito horas. Petúnia estava sentada em um banco na frente do hotel. Vestia uma bata branca e um short jeans que no mínimo não era decente para alguém de sua idade. Usava brincos em forma de pérolas e uma bolsa de mão rosa.
Não demorou muito e logo Válter surgiu ao longe. A garota foi a seu encontro.

- Quanto tempo que não nos víamos! - exclamou Válter quando a garota se aproximou - Só por telefone mesmo!
- Não por minha vontade - justificou Petúnia - Eu cansei de chamar você para sairmos e você nada!
- Eu não queria botar você em mais uma enrascada - disse fechando cara - Mas, vamos esquecer isso. Me acompanha, senhorita? - disse irônico estendendo o braço para que ela o pegasse.
- Aceito - respondeu Petúnia da mesma forma irônica de Válter pegando no braço dele.

Os dois caminhavam pelas ruas tranqüilamente. Naquela hora já havia bastante movimento pela cidade. Jovens casais iam na direção da praia como se atraídos pelo luar que pairava no oceano.
Válter não tinha muito o que falar com Petúnia, talvez pelo fato de já terem se falado pelo telefone tantas vezes nesta semana. Somente a contemplava. Seguiram calados até a orla da praia quando finalmente Petúnia falou:

- Como a praia é linda de noite! - disse ela sorrindo docemente.

E era mesmo. Haviam muitas pessoas sentadas em rodas por todos os lugares enquanto, acompanhadas por um violão, cantavam músicas alegres. Era fascinante. Parecia perfeito demais para ser real. Petúnia tinha a impressão de estar no paraíso. Ela estava em um lugar maravilhoso e ainda acompanhada do garoto que ela gostava e que aparentemente também gostava dela.

- Realmente parece o paraíso - disse Válter sonhador adivinhando os pensamentos de Petúnia.

Caminharam lentamente até a faixa de areia. Já perto do oceano se sentaram para observar o contínuo movimento das ondas.

- Isso é sempre tão igual - disse Petúnia relaxadamente - Transmite uma calma.
- É - Petúnia não havia especificado exatamente do que falava, mas Válter sabia que se tratava do mar - Nunca muda. Uma das poucas coisas da vida que sempre ficarão do mesmo jeito.

Válter virou seu rosto e olhou carinhosamente para Pet. Aquela hora era mágica e especial. São aqueles momentos da vida que nós nos lembramos para sempre. Nunca esquecemos. E Válter também não queria esquecer. Registrava cada segundo em sua mente.
Petúnia ficava encabulada com o jeito que Válter a fitava. Ela sabia que ia acontecer, mas não tão cedo. Dúvidas e incertezas pairavam sobre a garota. Ela gostaria tanto de poder ler os pensamentos dele. Ninguém fazia isso já no segundo encontro. Será que era aquele o momento? Petúnia iria arriscar. Não interessava o quanto idiota sua atitude poderia ser. Afinal não há lógica no amor.
Petúnia também virou seu rosto para Válter. Se encaravam olho no olho. Pet fechou os olhos e aproximou seu rosto do de Válter. Ele correspondeu quase que instintivamente. O inevitável aconteceu de novo.
Pet sentiu os lábios quentes de Válter encostarem nos seus enquanto ele a abraçava. Era como se naquele momento não houvesse mais ninguém no mundo, só eles dois. Aquela noite era especial, mas apesar de tudo estar perfeito, o beijo entre os dois foi ápice. Era incrível a sensação de sentir o corpo um do outro em meio a carícias. Pareciam feitos um para o outro.

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