Arrumando um emprego



No domingo, Válter e Petúnia resolveram conhecer a cidade. Passearam pelos pontos turísticos e passaram em frente a grandes cassinos e hotéis.
Depois disso voltaram para a pensão e dormiram, pois no dia seguinte tinha entrevistas para irem.
A segunda amanheceu e o clima de ansiedade tomou conta de Válter e Petúnia. Ambos estavam muito tensos, porém confiantes, em arranjar um emprego. Petúnia foi a primeira a ir, foi logo pela manhã assim que deu nove horas, pois sua entrevista estava marcada para as onze e meia, mas como não conhecia a cidade, resolveu não se arriscar a se atrasar.
Pet se arrumou impecavelmente com sua melhor roupa. Seu cabelo estava preso em um coque apertado e havia usado tanta maquiagem que parecia um palhaço.
Válter reprovou o visual de Petúnia, mas como ela não dá ouvidos a ninguém, apenas o ignorou.
Las Vegas de manhã não tinha o mesmo ar glamouroso de quando estava de noite. Sem os néons e as luzes, até que ela parecia uma cidade comum a primeira vista. Foi isso que Petúnia percebeu ao percorre-la na procura desesperada para encontrar o lugar de sua entrevista.
A primeira idéia que surgiu nela foi de pedir alguma informação a gentil e sempre disposta a ajudar, Sra. Murphy.

- Oh, querida! – disse ela docemente – Infelizmente não posso ajuda-la. Não tenho a mínima idéia de onde fica essa rua.
- Muito obrigada de qualquer jeito, Sra. Murphy – disse Lílian já a meio caminho de se retirar do hotel.
- Espere! – ordenou a Sra. Murphy e logo depois entregando um papel bem dobrado para Petúnia – É o mapa da cidade – disse a explicando – Talvez lhe auxilie em algo. Ah! E não precisa me agradecer – disse ela percebendo que Petúnia ia novamente agradece-la.
- Até mais, Sra. Murphy – disse Pet se despedindo.
- Boa sorte – disse a Sra. Murphy acenando para Petúnia – Espero que você consiga o seu emprego.

Não podendo contar com o auxílio da Sra. Murphy, Petúnia recorreu ao mapa que ela lhe dera.
Só que pelo tamanho do mapa, era algo um pouco complicado utiliza-lo em movimento. Então resolveu entrar em uma lanchonete para procurar melhor a rua onde teria que ir.
Chegando lá, viu na porta um pequena placa dizendo “PROCURA-SE ATENDENTES” e quando entrou, uma mulher, que parecia ser a dona do lugar, perguntou a Pet:

- Você veio aqui para o emprego de garçonete? – perguntou a mulher.
- Ah, não! – respondeu Petúnia – Eu só quero um café – disse Petúnia se sentando em uma mesa e abrindo o mapa sobre ela.
- É realmente uma pena – disse a mulher – Você tem uma ótima aparência para ser garçonete – comentou ela.
- Eu não. Quero algo maior. Eu estou me candidatando a um emprego de secretária – falou Petúnia menosprezando a mulher.
- De qualquer modo, se não der certo a sua entrevista, você pode tentar entrar aqui.
- Muito obrigado, mas eu mereço algo melhor – disse Petúnia com falsa gratidão.

Com toda a arrogância de Petúnia, a mulher até se espantou. Petúnia olhou em volta, o bar estava vazio. Então ela nem entendia o porque daquela mulher está procurando alguma atendente. Não havia ninguém para ser atendido.
Felizmente ela encontrou a rua onde deveria ir para fazer a entrevista, apesar de ter demorado algum tempo procurando o local. Pagou o seu café e saiu o mais rápido possível da lanchonete.
Após entrar em dois ônibus e andar um quilômetro e meio a pé, lá estava Petúnia, enfrente ao prédio em que logo mais iria fazer a sua entrevista.
Entrou no prédio e subiu ao décimo sétimo andar. Havia alguns bancos para se sentar, porém poucas pessoas. Foi até o balcão onde havia uma placa dizendo “DEPARTAMENTO PESSOAL” e falou com uma mulher que estava atrás dele.

- Boa tarde. Sou Petúnia Evans e tenho uma entrevista marcada com o Sr. Webster.
- Boa tarde, Srta. Evans – disse a recepcionista – Qual é o cargo a que aspira?
- Secretária – falou Petúnia simplesmente.
- Por gentileza Srta. Evans, espere aqui e dentro de alguns minutos chamo a senhorita para a entrevista.

Petúnia se acomodou em um dos inúmeros bancos presentes no local enquanto esperava ser chamada para a entrevista. Nesse tempo em que esperou observou todos os cantos da empresa aonde poderia trabalhar. A sala de espera onde estava era ampla e bem arejada por duas grande janelas entre abertas. O sofá em que se encontrava parecia ser de couro legítimo. Olhando mais um pouco viu um balcão onde uma secretária passava algumas ligações. Era bonito e moderno, para ela se estivesse trabalhando ali seria ótimo. Seus olhos giraram mais um pouco pelos cantos. Ela estava um pouco nervosa e temerosa de não conseguir a vaga ou então que descobrissem que inventara algumas coisas no currículo, mas todos esse pensamentos foram varridos de sua mente quando ouviu a voz estridente daquela mesma secretária com quem havia falado há pouco.

- Srta. Evans, o Sr. Webster a aguarda - disse ela em tom de pura eficiência.

Petúnia entrou na porta que a recepcionista lhe indicara como sendo o tal escritório do Sr. Webster. Não sabia muito o que iria acontecer depois, pois nunca havia estado em uma entrevista.

- Boa tarde – disse um homem em uma cadeira – Sou John Webster e você é a Srta Evans, por suposto. Por favor, sente-se – disse ele apontando uma cadeira em frente a sua mesa.
- Muito obrigada – agradeceu Petúnia.

O Sr. Webster já era um homem de certa idade, como Petúnia percebeu após se sentar e observa-lo melhor. Tinha apenas alguns poucos cabelos, todos grisalhos, em sua face havia muitas rugas de expressão e seu escritório parecia ter a cara do dono, pois dava a impressão de algo antigo, apesar de estar limpo.

- O seu currículo, por favor – pediu o Sr. Webster sendo prontamente atendido por Petúnia.

O Sr. Webster observou por algum tempo o currículo e perguntou.

- Então a senhorita não tem experiências anteriores, certo? – perguntou o Sr. Webster em tom inquisidor.
- Não senhor, mas no anúncio dizia... – Petúnia não conclui sua frase porque o Sr. Webster a interrompeu grosseiramente.
- Aqui no seu currículo diz também que a senhorita fez um curso para secretárias... – disse o Sr. Webster mas também foi interrompido, desta vez alguém batia na porta de seu escritório – Entre, por favor – ordenou o Sr. Webster.

Quem havia batido na porta era a mesma mulher com quem Petúnia havia falado na hora que chegara para a entrevista. Ela parecia um pouco atordoada.

- Sr. Webster, há uma mulher aqui fora dizendo que se chama Karen e que se o senhor não aparecer ela fará um escândalo – disse a secretária.
- O quê que ela está fazendo aqui? – perguntou o homem para si – Eu já não disse para ela que tenho esposa e filhos? – se perguntou o Sr. Webster enquanto saía de sua sala e deixava Petúnia sozinha.

Petúnia ficou esperando o Sr. Webster voltar. Mas quando começou a ouvir uma gritaria e um bate-boca do lado de fora da sala imaginou que demoraria um pouco para o ele retornar e poder prosseguir a entrevista. O que era bom, pois assim teria mais tempo para se preparar para as difíceis perguntas que ele lhe estava fazendo.
Aproveitou o tempo livre para observar melhor a sala. Como já havia visto antes, ela tinha uma aparência antiga, mas muito bem conservada. Era ampla e havia várias janelas nela. Mas o que chamou a atenção de Petúnia foi a presença de uma vela acessa ao lado de uma das maiores janelas do lugar, essa estava fechada. Ela não entendeu o porque de uma vela estar acessa logo pela manhã.
Foi até ela para poder olha-la melhor. Sem querer, ao se aproximar da vela, esbarrou nela que caiu na cortina da janela e começou a pegar fogo na cortina.
Petúnia desesperada correu pela sala através de algo para apagar o fogo e encontrou um vaso com algumas flores. Tirou as flores do vaso e começou a bater com elas na cortina numa fracassada tentativa de conter o fogo, que já crescia perigosamente e tomava grandes proporções, inclusive já estava quase botando fogo também na outra cortina a seu lado.
Petúnia então resolveu jogar a água que estava no vaso em cima do fogo, o que foi um grande erro, pois o fogo apenas cresceu mais.
Ela não sabia mais o que fazer, então começou a revirar o escritório atrás de um extintor de incêndio ou de algo mais efetivo no combate ao fogo.
Ela finalmente encontrou um extintor dentro do escritório, e após um pouco de trabalho conseguiu faze-lo funcionar e assim acabar com o fogo. No momento em que Petúnia havia acabado com o fogo, o Sr. Webster voltou para a sua sala e não acreditou no que seus olhos viram.
Encontrou Petúnia segurando um extintor de incêndio enquanto via sua cortina feita de seda pura toda chamuscada. O escritório antes conservado estava uma bagunça. Na busca por algo para apagar o fogo, Petúnia havia revirado o local inteiro, que estava cheio de papéis pelo chão e com muitas gavetas abertas.

- Srta. Evans, poderia me explicar exatamente o que aconteceu aqui? – gritou o Sr. Webster.
- Alguns probleminhas – respondeu Petúnia sem encontrar algo melhor para dizer.
- “Alguns probleminhas”? – repetiu o Sr. Webster loucamente – Srta. Evans, ponha-se daqui para fora, agora – assim que ela o mandou sair, Petúnia foi o mais depressa que pode – E dê-se por satisfeita de eu não chamar a polícia para prender você, sua incendiária – gritou o Sr. Webster quando Petúnia já havia ido embora.

Se sentindo uma fracassada, Petúnia, rumou pelas ruas de Las Vegas sem saber o que fazer. Como diria a Válter que não havia conseguido o emprego de secretária porque havia posto fogo no escritório do Sr. Webster?
Um sentimento de desamparo tomou o seu ser. Era uma fracassada. Era isso que ela era, uma fracassada. Estúpida, estúpida e estúpida... Pouco importava se o Sr. Webster tivesse uma ou mil velas. Ela deveria ter ficado quieta em seu canto esperando o seu retorno.
Mas não, em vez disso foi querer saber o que era aquela maldita vela, e no final nem ao menos descobriu porque ela estava acessa. O pior era que Válter a havia avisado que ela não ia conseguir o emprego. Pior ainda será se ele conseguir o emprego e ela não.
Decidiu então por fim voltar para casa. Já eram duas da tarde e a essa hora Válter deveria estar na entrevista dele. Poderia ficar sozinha e arranjar uma boa mentira para contar a Válter sobre a sua entrevista.
Mas assim que entrou na pensão, foi abordada pela Sra. Murphy:

- Então, Petúnia? - perguntou a Sra. Murphy.
- Então o quê? - perguntou Petúnia sem entender.
- A entrevista. Como foi? Conseguiu o emprego? - perguntou a Sra. Murphy curiosa.
- Não sei... - respondeu Petúnia incrédula - Tenho que esperar agora uma resposta - disse Petúnia tentando ir para o seu quarto, mas a Sra. Murphy não lhe deixava.
- Ah, coitadinha... - falou carinhosamente a Sra. Murphy - Deve ser grande a ansiedade da espera.
- É, é... - disse Petúnia tentando novamente ir embora. Não que não gostasse da Sra. Murphy, mas estava realmente muito cansada e queria ficar sozinha e pensar no dia que tivera.
- Você deve estar com fome. Por isso eu preparei para você um prato de comida - disse a Sra. Murphy entregando o prato para Pet.
- Muito obrigada, Sra. Murphy - agradeceu Pet já indo para seu quarto.
- E eu estou torcendo para você conseguir o emprego - gritou a Sra. Murphy enquanto Petúnia entrava no quarto.

Assim que ela chegou, a primeira coisa que vez foi se jogar na cama. Estava exausta. Não conseguia parar de pensar no quão burra tinha sido pela manhã durante a entrevista.
Ela sabia que havia outros empregos, mas ela tinha certeza que ia conseguir aquele. E Válter havia falado que ela não ia conseguir.
Pensando melhor, talvez o fato de ter posto fogo no escritório do Sr. Webster não tinha sido o pior. Ela já estava se saindo mal na entrevista mesmo. O tal Sr. Webster parecia um louco. Começava a falar coisas sem nexo, tal como: se no anúncio dizia que não precisava de experiência, então por que ele lhe perguntou se já tinha trabalhado outras vezes como secretária?
Sem citar claramente a tal Karen, motivo pela interrupção na entrevista. Ela com certeza era alguma amante do Sr. Webster. “E o desgraçado ainda disse que tinha filhos” pensou Petúnia. Esse homem não tem caráter nenhum. Era até melhor não ter que trabalhar para ele.
Cansada de tudo aquilo, queria esquecer os fatos da manhã. Para isso tirou sua roupa e entrou debaixo do chuveiro para tomar um banho. Precisava relaxar. Hoje não havia sido um dia fácil. Petúnia rezava para que todos os dias em Las Vegas não fossem assim.
De repente, no meio de seu banho, o telefone toca. “Deve ser a Sra. Murphy me perguntando se eu estou bem” pensou Pet tendo que interromper seu banho para atender o telefone.

- Alô - disse Pet assim que atendeu o telefone.
- Oi, Pet - disse Válter no outro lado da linha, para a total surpresa dela.
- Válter? O que aconteceu? Você está bem? Está ferido? Está em algum hospital? A essa hora você não devia estar na entrevista? - perguntou Pet preocupada o bombardeando de perguntas.
- Não, calma... Eu estou bem - disse ele calmamente - Mas você não acredita no que aconteceu!
- O quê, Válter? - perguntou Petúnia temendo pela resposta.
- Consegui o emprego - disse ele com uma voz extremamente feliz.

“Pronto” pensou Petúnia “É agora a hora que as coisas começam a piorar”.

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