O encontro com Válter



- Você tem consciência do que você fez? - perguntou Jeannie para Petúnia - Largar sua irmã todo esse tempo sozinha?

Lílian e Petúnia haviam chegado desde as onze horas daquela manhã, mas seus pais só voltaram as três da tarde. Assim que chegaram, Lílian, contou o que havia acontecido na praia e Jeannie foi logo em cima de Petúnia.

- Mas mãe, a culpa não é minha se ela é esquisita - respondeu Petúnia já revoltada com a situação.
- Você ainda tem a audácia de chamar sua irmã de esquisita? Sabe o que você merece? Castigo! - bravejou a mãe a plenos pulmões - Você está proibida de sair de casa sozinha até segunda ordem!
- Isso não é justo! Eu não queria que ela fosse! - disse Petúnia desabando em falsas lágrimas - Você me obrigou a levá-la!
- Não adianta tentar me convencer - disse Jeannie sensatamente - Você só vai sair deste quarto quando eu mandar - terminado a última palavra, Jeannie bateu a porta do quarto deixando Petúnia sozinha.

A garota deitou na cama e bufou. Aquilo tudo era um tédio. Demonstrou sua raiva jogando um travesseiro próximo a ela para longe. Ela não conseguia acreditar que estava de castigo por algo que nem havia feito.
A tarde passou mais lentamente do que Petúnia queria e ela continuou sozinha no quarto que para ela mais parecia uma cela. Não saiu nem para ir ao banheiro. A única coisa em que pensava era em se vingar de sua irmã.
Quando anoiteceu a família foi em um restaurante jantar, Petúnia preferiu ficar no quarto do que ver sua família. Assim, poderia telefonar para Susan, já que sua mãe ao menos não a proibira oficialmente de usar o telefone.
Logo que todos foram embora, ela correu para ligar para Susan. Conversou um pouco com a amiga e contou sobre a entediante tarde que tivera. Não se aprofundaram muito no assunto porque Susan iria sair.
Petúnia, mais decepcionada do que nunca foi até o quarto e tirou de sua bolsa de viagem uma revista sobre moda. Sentou na poltrona e se pôs a folhear com uma cara de tédio. Algum tempo depois o telefone tocou. Petúnia ficou surpresa com a ligação. Não esperava que ninguém ligasse para ela a não ser Susan, mas ela tinha acabado de sair de casa.
Quando atendeu ao telefone, ela se espantou ao ouvir a voz de Válter do outro lado da linha. Apesar de não gostar muito dele era bom ter alguém para conversar quando se está sozinha. Até que o telefonema dele tinha sido uma agradável surpresa. Algo inesperado, é verdade, mas não menos agradável.
Depois de algum tempo conversando, Pet se tornou mais amiga de Válter. Até confidenciou que havia gostado dele quando se esbarraram no hotel. Ele propôs a ela que saíssem juntos já que agora tinha uma opinião diferente sobre ele.

- Você está doido? Esqueceu que eu disse que eu estou de castigo? - falou ela com sensatez.
- Você está algemada na cama ou com os pés amarrados na porta? - perguntou ele em tom de gozação.
- Lógico que não, bobo - disse Petúnia não compreendendo o motivo de tudo aquilo.
- Então você pode sair desse quarto a hora que quiser. É só a sua mãe não saber - disse como se você algum simplório.
- Fugir do castigo? É isso que você está me propondo? Por que nós não roubamos uma loja também? - perguntou ela irônica.
- Nenhum ato que você faça é crime. O crime é ser pego - disse como se um grande filósofo ancião.
- Me desculpe por interromper seu momento inspirador, porém eu com serei pega.
- Como você pode ter tanta certeza? - perguntou ele tentando encorajá-la.
- Está certo, está certo... - disse ela por fim, afinal não tinha muito o que perder - Desde de que não demore muito, eu aceito.
- Eu prometo que vai ser rápido. Aliás, tem uma lanchonete perto do hotel que você iria adorar.
- Está bem, eu te encontro na frente do hotel então.
- Não demore muito, quero aproveitar bastante o tempo que temos.

E ela não demorou. Em dez minutos eles se encontraram. Resolveram não ir muito longe ficando mesmo na tal lanchonete a duas quadras do hotel que ele mencionara, quase invisível para quem passasse na rua de tão pequena que era.
Assim que entraram a garota pode se deparar com uma lanchonete de filme B americano dos anos 60. O lugar era bem rude com paredes rachadas. Tinha um grande balcão que ocupava quase todo o pequeno espaço da lanchonete. Pequenos bancos se encontravam ali. Havia três mesas. Eles sentaram em uma. A única pessoa além deles e do atendente era um cara com um sobretudo preto sentado num canto afastado. Aquele cenário mais parecia com o de um romance policial.

- Então você está aqui a muito tempo? - perguntou Válter enquanto comia seu sanduíche.
- Não, cheguei na Quarta-feira.
- Como é morar na Inglaterra? - perguntou ele.
- Normal, quero dizer, é um país como qualquer outro - ela não sabia exatamente o que dizer - Mas, e você? Qual é a sua história? - perguntou ela parecendo interessada.
- Não tenho muito o que contar... - e ele não tinha mesmo - Nasci aqui, moro com meus pais e meus irmãos...
- O que você fazia no hotel se mora na cidade? - perguntou Petúnia.
- É...que...meu tio, sabe?... - ele não sabia o que disser - Ele é de Nova Iorque e está passando o verão aqui ...
- Por que ele está no hotel em vez de estar na sua casa? - Petúnia estava ficando intrigada.
- O irmão dele, meu pai... eles não se dão bem - disse sussurrando como se tivesse muitas pessoas para ouvir.

Passaram um tempo em silêncio. Ela sabia que Válter estava mentindo, só não sabia o motivo. Resolveu não desmenti-lo para não deixá-lo sem graça.

- Então... - disse Válter para puxar conversa - Não quer saber como eu te liguei se você não me deu o seu número?
- Não me dei conta disso. Como? - perguntou Petúnia levemente interessada, apesar de já desconfiar da resposta.
- Susan. Nossa amiga em comum. Eu liguei para ela e pedi seu telefone - disse Válter simploriamente.
- Eu já desconfiava. Afinal era só ela que tinha o meu telefone - Petúnia não demonstrou sinal de irritação por causa da amiga ter dado seu número. Afinal, o encontro estava muito agradável - Que horas são? - perguntou ela se lembrando que já devia ser um pouco tarde e que tinha que ir.
- Quase oito horas - disse Válter após consultar o seu relógio de pulso.
- O quê? Meus pais já devem estar chegando! Eu vou indo - disse Petúnia saindo apressada.
- Espere um minuto! - gritou ele em vão pois Petúnia já havia partido.

Petúnia teve que correr muito para chegar no hotel a tempo. Felizmente ela conseguiu chegar antes de seus pais. Tomou um banho e se dando por satisfeita e aliviada, colocou seu pijama e foi para cama como se não tivesse saído dali. O difícil foi dormir, já que a imagem de Válter não saia de seus pensamentos.

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