O Lobisomem



Capítulo XII
O Lobisomem

Aquela estranha viagem proporcionou aos dois jovens uma sensação completamente esquisita e eles agradeceram profundamente quando sentiram suas costas irem de encontro ao chão da floresta com um baque surdo, fazendo-os soltarem um breve gemido de dor.
Alexander, alguns segundos depois, alcançou os garotos pousando graciosamente em pé no chão. O homem lançou um olhar meio divertido para os presentes e ambos se entreolharam, achando-o ligeiramente familiar, mas a curiosidade rapidamente se dissipou ao notarem que o outro tinha uma grande quantidade de folhas grudadas nos cabelos. Os dois riram um pouco, antes de se levantarem.
-Peço que vocês fiquem de olhos atentos. Essa floresta não é igual às outras que os senhores conhecem.
-Ficaremos atentos. – os dois amigos murmuraram, aparentemente, mais preocupados em se limparem do que outra coisa.
-Esse objeto dos bruxos é esquisito. – Noah comentou depois de alguns segundos, ainda espanando a poeira das vestes. Eric riu em resposta.
-E o que você não acha esquisito no mundo dos bruxos, Noah?
-Algumas coisas. – o rapaz, diferente do que o amigo pensara, abrira um meio sorriso.
Eric meneou a cabeça, imaginando o que Noah deveria estar pensando. Ele o avistara por breves instantes em companhia da primogênita dos Black enquanto se aproximava na confusão que havia se instalado nos jardins.
-Por onde começamos? – Noah questionou, despertando o amigo de seus pensamentos, lançando uma olhadela pela clareira em que estavam. – Ao meu ver, essa floresta é enorme! – completou num resmungo. – Em que posição estamos, Sr Potter? Tendo como referência, é claro, o... – Noah automaticamente parou de falar ao entreouvir um uivar que, novamente, arrepiou-lhe o corpo. – O que é isso? – completou, lançando um olhar significativo para Alexander Potter.
-Um lobisomem. – o homem respondeu numa feição carregada.
-Lobisomem? – Eric questionou, surpreso. – A lenda é real, suponho. – comentou meio atônito.
-Completamente. – o outro reforçou. – Isso nunca foi lenda, pelo menos, não no mundo bruxo.
-Certo. – Eric murmurou, tentando não pensar que a dona da voz alterada que ouviram acabar de executar um feitiço era a sua Stella, mas algo dentro de si o fazia pensar que suas suspeitas estavam corretas. Sentiu-se nervoso ante a possibilidade do monstro a machucá-la, mas procurou não exteriorizar isso. – Agora que sabemos o que nós vamos enfrentar, podemos seguir em frente.
Eric deu um primeiro passo, mas rapidamente foi segurado por Alexander.
-Não seja imprudente, Alteza. – o homem falou num tom de repreensão. – Tudo da lenda é real e, acredite, você não gostaria de ser mordido por um desses. Não mesmo.
-Mas elas estão em perigo! – ele rebateu num tom rouco. – Eu também não quero que nada de mal aconteça a nenhuma Black e... – ele arqueou a sobrancelha, parando alguns instantes de falar ao notar que havia algo faltando ali. – Onde está o Noah?

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-Vamos, mais rápido, mais rápido... – Lynx murmurava para o cavalo, batendo os calcanhares sobre a barriga do animal e agitando as rédeas. A ponta de alguns galhos a feria de leve na face, mas a garota parecia não se importar, limitando-se apenas a fazer leves caretas de dor quando isso ocorria.
-Lynx, não podemos forçar o animal tanto assim... – advertiu Persephone, apesar de desejar que o animal corresse um pouco mais rápido. – Ele já está fatigado.
-Mas ele tem de correr; ele não pode me abandonar dessa vez... – ela murmurou, aflita. – Ele tem que chegar lá a tempo... – ela continuou, falando mais para si do que para a tia.
Um galho arranhou com força o rosto da garota e ela soltou um gemido de dor, cerrando os olhos com fúria e determinação. De forma nítida e cada vez mais perto, o lobisomem soltou um uivo longo e agonizante ao que o cavalo relinchou, assustado, e empinou para trás.
Num bufo de raiva, Lynx tentou controlar o animal, que ficava cada vez mais agitado com as vozes alteradas de Sté e Betel, além de mais uivos da fera, mas foi em vão. O cavalo deu uma nova empinada e, incapaz de manterem-se em equilíbrio, as duas caíram para trás. Lynx reprimiu um xingamento quando o cavalo partiu em disparada, deixando as duas no chão.
-Você está bem, tia Perse? – Lynx perguntou se levantando, um pouco ofegante de dor.
-Sim, e você? Não se machucou? Lynx, perdi meu arco e flecha, você está com o seu?
-Não...- ela respondeu desolada. Mesmo as fechas sendo de prata, a garota não conseguia visualizar nada na escuridão da floresta.
Infelizmente, nem ela nem Persephone tiveram tempo de procurar mais a fundo pelas armas ou mesmo tiveram tempo de se ajeitarem, pois o lobisomem, que há tão pouco tempo estivera aterrorizando Stella e Betelguese, foi atraído pelos gritos e pelo sangue dos arranhões das duas.
Persephone encontrava-se paralisada. Apesar de ter vagado pela floresta incontáveis vezes, nunca havia visto um lobisomem. Não sabia como descrevê-lo, ele era enorme e aterrorizante. A fera chegou mais perto e ela se encolheu, fechando os olhos. Pôde sentir o hálito do animal mais perto conforme ele se aproximava e chegava mais perto para cheirá-la. Então, o animal começou a se afastar, algo mais forte havia chamado sua atenção.
Ao notar isso, Persephone abriu um dos olhos, ligeiramente surpresa, mas o que viu não fora muito mais acolhedor... A fera tinha seu olhar completamente voltado para Lynx e emitiu um breve rosnado.
A morena, por sua vez, mirava o animal com uma feição carregada, apesar de por dentro se sentir tremendo. Sua mão segurava o punho da varinha com força e ela recuou alguns passos para trás, sentindo-se acuada perante a fera que se aproximava dela sorrateiramente, como se estivesse se deliciando com o cheiro do medo que certamente deveria exalar dela.
Lynx deu um leve pulo ao sentir suas costas baterem num tronco de árvore e deu uns passos para frente, a fim de não se sentir mais acuada do que se encontrava. E ela respirou fundo, tentando controlar a taquicardia que estava a ter. Isso ainda o atraia mais.
O lobisomem uivou e Lynx sentiu os pêlos da nuca se eriçarem; ela notou que Perse a encarava, aflita, e apenas forçou um sorriso.
Tudo o que ocorrera a seguir fora muito rápido para ambas. Num momento, o Lobisomem partira para o ataque e no segundo seguinte, Lynx se sentiu jogada contra a árvore e um corpo à frente dela receber todo o impacto do ataque da fera, enquanto enfiava uma espada no couro do animal.
O Lobisomem urrou de dor e, brutalmente, jogou o rapaz para longe; ao que a morena soltou um grito rouco, ainda com os olhos ligeiramente arregalados em desespero. Ele lançou um olhar enfurecido para Lynx, mas, aparentemente, a besta arranjara um novo alvo.
-Lynx, sai daqui! – ele berrou para a garota quando o lobisomem avançou para cima dele mais uma vez, mas ela estava em estado de choque; completamente lívida e os olhos ligeiramente marejados.
O rapaz apenas inspirou fundo em lugar de gritar de dor quando sentiu os dentes afiados da fera perfurarem a sua carne sem piedade. Ele desistiu de lutar com a fera por alguns instantes e virou o rosto a fim de encontrar o seu olhar ao de Lynx.
-Sai daqui, sua idiota... – resmungou num murmúrio rouco. – Senão a próxima vai ser você... E eu não quero cogitar que isso ocorra.
-Noah... – ela murmurou, com a voz embargada. O rapaz apenas sorriu em resposta. Lynx, sentindo-se completamente impotente, desfaleceu o aperto do punho da varinha deixando-a cair no chão.
-Sai daqui, Lynx... – o loiro repetiu entre dentes. – Deixe de ser teimosa...
A morena abriu os lábios para falar algo, mas teve sua atenção desviada pelo som de passos apressados. O lobisomem percebera o mesmo, pois voltara o olhar para trás, a fim de notar que ruído era aquele. Lynx pôde ver a boca do animal suja de sangue... O sangue de Noah.
O animal mostrou os dentes mais uma vez, mas, antes que pudesse fazer qualquer coisa, fios prateados irromperam de algum ponto da clareira e cercaram o animal numa espécie jaula circular de prata, fazendo-o soltar ganidos de dor todas as vezes que os fios o feriam levemente.
Lynx nem quis saber quem fora o responsável por isso, apenas correu ao encontro do rapaz estirado no chão e deixou-se cair de joelhos ao seu lado.
-Noah... – ela murmurou numa voz embargada, segurando-o com certo esforço em seus braços, a fim de aproximar-se mais dele, o abraçando. – Por que você fez isso? Por que você foi idiota a ponto de cometer uma loucura dessas? – ela apertou-o mais contra si, deixando escapar um soluço. – Era a mim que aquele desgraçado queria, você não precisava impedir...
Ela ouviu um fraco riso escapar dos lábios do rapaz e separou-se dele calmamente, a fim de encará-lo. Ele apenas sorriu para ela e tossiu um pouco, antes de sua cabeça pender de leve para o lado, enquanto ele fechava os olhos calmamente. O sorriso, aos poucos, morria no seu rosto.
Os momentos que vieram a seguir pareceram uma eternidade para Lynx quando Alexander Potter guardou a varinha e a separou de Noah, tentando esconder seu ar surpreso e até mesmo pesaroso ao notar o que acontecera ao rapaz.
Ela se levantou do chão e ouviu, muito distante, o homem dizer que não era seguro levá-lo por chave de portal até o castelo e nem soube como ele arranjara um cavalo e partira a galope, levando Noah consigo.
Lynx permaneceu mirando o local onde o vulto de Alexander sumira até que sentiu alguém abraçá-la carinhosamente. Ela forçou um sorriso e observou a face lívida de Betel a encarando de modo sério.
-Ele não fez nada com você e a Sté também, ou fez? – ela falou num tom rouco e baixo ao que a irmã negou com um meneio de cabeça.
-E você, Lynx, como está?
A morena suspirou, desviando o olhar da irmã e começando a acariciar os cabelos dela com carinho.
-Para ser sincera, Bel, eu não sei muito bem como eu me sinto agora... – ela suspirou. – E a Sté e a tia Perse, onde estão? – ela voltou a mirar a irmã.
Betelguese sorriu um pouco e apontou com a cabeça algum ponto atrás delas. Lynx se virou e também se permitiu sorrir ao notar Eric abraçado a irmã e acariciava calmamente os seus cabelos.
Já Perse apenas encarava o lobisomem preso na jaula com um olhar sério. Ao se deparar com o animal novamente, Lynx tremeu um pouco e apertou mais o abraço da irmã, sentindo-se ligeiramente sufocada com o nó que instalara na sua garganta.
Persephone notou que Lynx agora observava o animal com um ar que ela não soube decifrar qual era – talvez uma mistura de ódio, asco e medo – e suspirou pesadamente.
-É melhor todos irmos para casa. – ela se pronunciou num ar meio doce meio melancólico, fazendo todos voltarem a atenção para ela, menos Lynx: ela ainda mirava o lobisomem. – Não há mais nada para fazermos aqui.
-E quanto a ele? – Lynx questionou num ar carregado ainda sem desviar os olhos da fera. – Devíamos matá-lo. – ela murmurou roucamente. – Ele não merece viver.
-Lynx... – Persephone começou calmamente. – Ele não tem culpa de ser o que é, apesar de tudo. Talvez ele nem...
-Mas ele tem culpa de estar aqui, tia! – ela alteou a voz um pouco, interrompendo Persephone. – Ele... Ele disse que viria. – Lynx murmurou, um pouco desolada. – Ele disse que viria, mas eu não quis ouvir... Eu achei que era apenas uma mentira da parte dele... Uma ameaça de mal-gosto... – Ela respirou fundo. – A culpa é toda minha...
-Ele quem, senhorita Black? – Eric questionou num ar sisudo, não entendendo muito bem. Já Betel e Sté trocaram olhares entre si e com Persephone, não precisando de muito mais para chegarem a uma conclusão.
-O Slughorn, Eric. – foi Sté quem respondeu, baixinho. – A quem Lynx estava prometida; foi com quem ela se casou.
-Mas, Lynce, como o Sirius permitiu que você se casasse com Slughorn, sendo que ele era um lobisomem?
-Ele ainda não era quando eu saí daqui, tia. – Ela respirou fundo mais uma vez. – E eu mesma só fui descobrir isso quando estive lá. – ela suspirou. – E ele me disse o que faria se eu me atravesse a abandoná-lo. – ela soltou um riso de desgosto. – Pelo visto, aquele patife gosta de cumprir suas promessas. – Lynx mordeu o lábio inferior, antes de prosseguir, soltando Betel com cuidado e indo de encontro à jaula onde a fera se encontrava, meio acuado. – Eu sei que há a possibilidade desse monstro ser qualquer pessoa, mas não resta dúvidas de que seja o Slughorn, afinal, ele me odeia. – ela encarou o animal com os olhos chispando e ele lhe mostrou os dentes, fazendo menção de atacá-la. Lynx sentiu ganas de rir quando ele se chocou com as paredes da jaula e soltou um ganido de dor quando os fios da mesma o feriram de leve. – Idiota. – ela resmungou, amarga, sentindo os olhos arderem.
-Lynce... – ela sentiu uma mão segurar o seu braço e virou-se, deparando com Sté. Sorriu e a abraçou fortemente.
-Vejo que a senhorita Stella terá algo para me contar... – ela brincou, como sempre fazia quando eram apenas crianças e ela desconfiava que a irmã havia feito algo de errado.
A irmã apenas riu fracamente.
-Talvez, Lynce, talvez... – ela murmurou num tom misterioso, separando-se do abraço da irmã. – Vamos para casa. A esse ponto o tio Alexander já deve ter chegado.
Ela apenas assentiu e respirou fundo. Ao que tudo indicava, aquela ainda seria uma longa noite...
-E quanto a ele? – perguntou Persephone encarando o bicho enjaulado.
-Deixe-o ai, - respondeu Eric – Pelo que entendi, ele não vai poder sair dessa jaula. Amanhã de manhã mandamos alguém verificar se trata do seu marido, senhorita Black.
-Ex-marido.
-E a Vega?
-Vamos esperar que o Cygnus e o Lancaster tenham tido mais sorte em encontrá-la, Betel. – disse Sté – Precisamos voltar.

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