Ressaca



Capítulo XXII
Ressaca

Jack não se surpreendeu por ser o único dos rapazes a aparecer para tomar café da manhã no horário normal em que era servido. Estranhou mesmo a falta de algumas meninas a mesa.
Apenas Betelguese se encontrava presente, já com suas vestes de montaria, demonstrando que sairia cedo para cavalgar.
A mãe já havia se retirado antes mesmo de Jack aparecer, estava de dieta, dissera à cunhada. Não demorava muito nas refeições, mas Lancaster sabia que o problema dela era dividir a mesa com trouxas, sangues-ruins e lobisomens.
O senhor Black lhe perguntou algo sobre a noite anterior e ele apenas sorriu em resposta, não querendo entrar em detalhes.
-Pai, o Jack me chamou para assistir a aula de hoje. – disse Lyra, chamando a atenção dos mais velhos para si – Eu posso?
Alexander olhou severo para a filha, depois encarou Jack por alguns minutos.
-Animagia é muito complicado filha. – respondeu o homem ainda encarando Lancaster – Por que quer assistir se não vai entender nada?
-Tenho absoluta certeza de que sua filha entenderá muito bem as aulas, senhor Potter. – disse Jack, cortante, depois, com a voz mais amena continuou – Acho que, talvez esteja no sangue de vocês compreender isso...
Felizmente Eric apareceu no recinto, antes que o assunto continuasse sentando-se ao seu lado, como de costume.
-Por Merlin, Vossa Alteza também está horrível... – disse Andrômeda soltando uma gargalhada que fez Eric lembrar de Stella – Não quero nem ver meu sobrinho. Do jeito que o Cygnus bebe tenho certeza que ele vai passar vários dias imprestável.
-Homens precisam se divertir de vez enquanto, minha irmã. – disse Sirius achando graça da cara de ressaca do cavaleiro e do príncipe – Bom, eu preciso ir. – se levantou da mesa – Me acompanha Alexander?
-Ah, sim, Sirius. – Potter também se levantou – Nos vemos depois do almoço, rapazes. E quanto a você Lyra... – abriu um leve sorriso – Pode assistir às aulas se assim desejar filha.
A garota o abraçou demoradamente e, após dar um beijo na testa da esposa, Alexander saiu, seguindo o cunhado, deixando um Jack particularmente feliz consigo mesmo para trás.
Nesse exato momento ninguém menos que Vega Black apareceu saltitante pela porta. Parecia alegre, com um sorriso maroto nos lábios.
Para surpresa total de Jack, puxou a cadeira que estava vaga ao seu lado para se sentar, pronunciando um sonoro “bom dia” a todos.
-Ora, ora, ora... Acordou de bom humor hoje, Vega? – perguntou a tia com curiosidade – O que houve?
-Ah, nada demais, tia Andy... Foram apenas bons sonhos que eu tive... – e lançou um olhar discreto e ao mesmo tempo malicioso para Jack, o fazendo engasgar com o gole da bebida que tomava.
-O que foi, senhor Lancaster? – perguntou ingênua - Também teve bons sonhos?
-Não costumo sonhar, senhorita Black. – respondeu ele rapidamente, não se permitindo lembrar de nenhum momento do sonho que tivera com ela, por mais que aqueles olhos a inquiri-lo tentassem-no.
-Ah... Mas isso é uma pena, senhor Lancaster. Sonhos costumam ser agradáveis. Costumamos nos permitir fazer coisas neles que não nos permitimos na realidade... – dizia ela, já preocupada em cortar um pedaço de bolo para comer.
-Entendo. – ele limpou a boca com o lenço e o colocou na mesa – Talvez seja por isso que eu não costume sonhar, senhorita. Tenho a tendência a realizar as coisas que quero... – se levantou – Bom, se me dão licença, preciso ver meu cavalo no estábulo.
-Eu vou com você, Jack.
-Você não comeu nada ainda, Eric.
-Tudo bem, eu estou sem fome. Senhora, senhoritas, se nos dão licença.
Após o aceno delas os dois saíram. E não demorou muito para que Eric achasse seguro tocar no assunto.
-Ela sabe, não sabe?
-Sabe... – sussurrou Lancaster, com a raiva borbulhando no olhar.
-Mas como?
-A pequena ouviu nossa conversa de ontem. Ela estava lá. O que significa que o meu problema triplicou de tamanho agora...
-O que pretende fazer?
-Não sei... Mas ficar nas mãos dela é que eu não vou... – ele parou de repente, levou as mãos ao rosto, cansado, e arfou enquanto as deslizava pelos cabelos – O pior, é que eu sei que procurar uma rameira qualquer não vai adiantar... Eu não paro de pensar nela.
-Então, talvez devesse agir de forma inversa, não?
-Como assim?
-Conquiste-a.
Jack soltou uma gargalhada.
-Conquistar uma Black... Isso é uma piada, não é?
-E por que seria?
-Porque elas não têm coração para ser conquistado, Eric, por isso! – berrou, lembrando-se do que dissera ao pai na noite em que Noah fora mordido – Porque eu vou ficar nas mãos dela pro resto da minha vida se não conseguir esquecer aquele maldito sonho! – falou num tom mais baixo – Porque eu sei que não vou conseguir esquecer, por isso estou totalmente ferrado. – completou por fim, num suspiro.
Eric ainda o mirava quieto, esperando que seu acesso de raiva passasse.
-Bom, se me permite dizer, eu não sei qual o problema que você tem com as mulheres Black, Jack, mas pela minha percepção você tem total capacidade de conquistá-la, se quiser... – o amigo voltou a encará-lo, com olhar desconfiado – Desde que chegamos a esse castelo a atenção da menina se virou completamente para você. Não há outra pessoa no recinto sempre que você está lá. É a sua presença que ela sempre insinua incomodar-lhe, e é a sua presença que ela parece querer quando não está por perto.
-Esta dizendo que ela sente algo por mim?
-Sim, estou. A garota fica inquieta demais quando você não esta presente e isso só parece passar quando você chega.
-Isso é por que ela gosta de me tirar do sério, não por que ela goste de mim, Eric.
-No meu vocabulário as duas coisas são sinônimos, Jack.
Lancaster fitou a janela mais adiante, pensativo.
-Então, cavaleiro, vai fugir da briga ou lutar pela dama? – perguntou o príncipe, que só conseguiu um olhar fuzilante seguido de um sorriso maroto como resposta.

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Felix se encontrava recostado a uma árvore em frente da caverna mirando num ar vago a trilha que dava até o local. Seus lábios curvaram-se num largo sorriso ao avistar, ao longe, Betel se aproximando com o cavalo num ar altivo. Calmamente, ele esperou a moça descer da sua montaria e, após prender o animal próximo ao seu, vir ao seu encontro com um largo sorriso.
O rapaz desencostou-se da árvore e já ia se preparar para falar algo, quando a mão que lhe veio de encontro ao rosto fê-lo impedir de realizar o ato.
-Hey! - ele protestou, indignado, enquanto Betel o encarava de forma fuziladora e meio ofegante. - Eu acho que eu não mereci isso.
-Não mereceu? - Betel quase urrou, enfurecida. - Você ainda tem a audácia de me dizer que não merece, Lestrange? - ela prosseguiu, enquanto ele massageava o local atingido. - Você merecia algo muito pior, seu desgraçado de uma figa!
-Mas... - ele perguntou, confuso. - O que foi que eu fiz, Bel...?
-Não me chame de Bel! - ela grunhiu em resposta. - Olhe para sua consciência e veja o que você fez, Felix! - ela inspirou profundamente.
Ele arqueou uma sobrancelha, incrédulo.
-Mas eu não fiz nada!
-Não fez nada! Não fez nada! Pare de ficar repetindo mentiras, Lestrange!
-Betelguese Black, ou você me explica o motivo desse tapa ou eu vou ficar realmente irritado!
-Acho que você não entendeu ainda, Felix! QUEM ESTÁ IRRITADA AQUI SOU EU! Como pôde sair com aquele retardado, traidor e hipócrita do Malfoy?
-Eu só... - ele começou, meio atordoado. - Espera, como você sabe disso? - Betelguese pareceu, instantaneamente perder o ar irritado e Felix notara que a garota ficara visivelmente envergonhada. - Você anda me espionando, Betelguese Black?
-Claro que não. - ela resmungou, enquanto ele a observava com um olhar repreensivo. - Eu só... - ela bufou de raiva. - Mas isso não é o ponto inicial da nossa conversa.
-Não desvie do assunto. - ele a repreendeu num murmúrio.
-Quem está desviando do assunto é você! - ela respirou fundo quando ele notou que ele ainda a encarava como se esperasse que ela dissesse alguma coisa. - Está bem, está bem; eu saí para vigiar alguém sim. - ele ia falar algo mais ela prosseguiu, não dando chance dele se manifestar. - Mas não foi você. Foi o meu irmão e os amigos dele.
A feição de Felix pareceu visivelmente enciumada.
-E porque você vigiaria os amigos de seu irmão, Betelguese Black? - ele arqueou a sobrancelha, desconfiado. - É melhor você explicar muito bem essa história.
-E é melhor você me explicar o que diabos estava fazendo com Malfoy naquela maldita taberna! - ela grunhiu em resposta.
Ele respirou profundamente.
-Sua família está brigada coma dele. Não a minha, Bel. E ainda existem negócios que os Malfoy tem que participar, eu estava apenas cumprindo um pedido do meu pai.
Ela o olhou de esgueira.
-Agora vamos a sua explicação.
Betel suspirou, antes de falar.
-Vega queria ir lá. Só a acompanhei por que ela ameaçou de contar sobre nós dois e... Bom, ela ia acabar indo sozinha e se metendo em confusão.
-Certo. Tudo esclarecido. - respirou fundo. - Agora você precisava me bater primeiro para pedir explicações depois? - ele fez uma feição meio magoada.
-Precisava. - ela riu, apesar de meio envergonhada pela sua reação impulsiva. - Você não me contou que sairia ontem à noite, então, quer dizer que pode ter saído outras vezes sem que eu tivesse ciência disso.
-Bom... - ele fez um ar pensativo, aproximando-se dela calmamente e trazendo-a para junto de si pela cintura. - você também não me avisou que sairia, então, podemos dizer que estamos quites. - ele sorriu meio de lado. - E, Bel, quem era você ali? - ele arqueou uma sobrancelha. - Eu vi uma pessoa que me lembrou muito você, mas, bem... - ele franziu o cenho. - ela era muito diferente.
Betelguese apenas riu e esboçou um ar meio manhoso e meio enciumado.
-É mesmo? E quem era essa pessoa? Uma cortesã, Felix Lestrange?
Ele negou.
-Não havia cortesãs naquela taberna, Betel. - ele falou num tom sério. - Mas foi um velho que me lembrou você.
Ela riu um pouco alto, meio nervosa.
-E quanto whiskys de fogo você tinha bebido para chegar a essa conclusão?
-Incrivelmente nenhum Betel...
-Está querendo dizer que me confundiu com um velho caquético enquanto estava sóbrio, sr. Lestrange?
-Bom, se não era você era seu parente, por que me olhou igualzinho você está me olhando agora.
-Você deve ter visto coisas, Felix. - ela falou calmamente, forçando um meio sorriso. - Eu estava utilizando o Feitiço da Desilusão. - ela emendou. - A Lynx quem o executou para mim.
Se Felix desconfiara ou não da desculpa que Betelguese arranjara, a morena não soube dizer e, tão pouco, se importava em saber, pois, antes que o mesmo se manifestasse, capturou os lábios dele, beijando-o com fervor.

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Quando Cygnus acordou, o sol já estava alto no céu, provavelmente já passava de meio-dia. Entretanto, ele não encontrou forças para levantar da cama e fechou novamente os olhos enquanto um flash da noite passada rodava na sua cabeça.
A noite na taverna, o incontável número de whiskys de fogo tomados, a briga com Malfoy, a volta ao castelo e finalmente, a discussão com Persephone.
Sua cabeça começou a latejar mais forte, indicando que, além de possuir problemas amorosos, ele ainda estava de ressaca.
Levantou-se devagar, tentando colocar os pensamentos em ordem. Não pode dizer que o resultado foi favorável.
-Senhor Black, senhorzinho finalmente acordou! – era Winly exclamando com sua voz esganiçada.
Cygnus bufou, irritado.
-É o que parece, não? Winly, prepare meu banho e traga-me o café-da-manhã ou o almoço, o que seja, não estou com vontade de descer.
Winly não parecera chateado pela forma rude como fora tratado, ainda parecia contente pelo seu senhor ter acordado.
-Sim, senhorzinho. Vosso pai mandou entregar isso para o senhor quando acordasse. – Ela continuou, entregando-lhe um vidro de poções verde.
Cygnus rapidamente pegou o vidro e bebeu todo seu conteúdo. Tinha que agradecer ao pai depois por ter-se lembrado de fazer uma poção para aliviar sua ressaca, mesmo que, nas atuais condições, não fosse de muita ajuda.
Ele ouviu uma batida na porta e rolou os olhos, mal acordava e já tinha gente procurando-o. Talvez fosse Persephone. Ela pediria desculpas, ele as aceitaria e fariam as pazes. Talvez então nem saísse mesmo do quatro...Ele ouviu a maçaneta girar e virou-se para ver sua irmã, Stella, entrando.
-Você agora vai entrando sem avisar? – Ele perguntou frustrado, por alguns segundos deixara-se iludir achando que Persephone realmente iria até ele, mas não, ela era muito orgulhosa para fazer isso, mesmo quando sabia que estava errada ou, pelo menos, quando Cygnus tinha certeza que ela estava errada. Ele suspirou, com raiva de si mesmo por pensar que poderia ser e queria que fosse ela.
Stella parou no meio do quarto, dando uma boa olhada no irmão. Os cabelos pretos estavam bagunçados, os olhos pareciam fazer um enorme esforço para permanecerem abertos, além de possuir grandes olheiras.
Ela notou também que ele estava vestindo o mesmo traje do dia anterior. Mesmo assim controlou a vontade de passar um sermão e puxar as orelhas do irmão.
-Você está horrível. – limitou-se a comentar, sem responder à pergunta – E, pelo visto, seu humor não está muito melhor.
-Por que acha isso? – ele perguntou com pouca paciência – Afinal minha noite foi maravilhosa, por que meu humor não estaria bom?
Stella deu de ombros.
-Talvez por conta da ressaca. – sorriu amavelmente – Tomou a poção que o papai te mandou?
Cygnus fez que sim com a cabeça.
-Que bom, então se arrume, vamos descer, eu te acompanho na sua refeição.
-Não to a fim de sair da cama hoje, Sté.
-Não está a fim, Cygnus? - ela perguntou raivosa. – Esqueceu-se que possui responsabilidades? E elas incluem as aulas de magia de Eric?
Cygnus revirou os olhos.
-Eu não acho que seria um bom professor hoje. – ele respondeu calmamente, o que só fez aumentar a irritação da irmã.
-Sabe, você não pode se livrar de tudo e passar o dia na cama só porque brigou com a titia.
Foi a vez de Cygnus olhar irritado para a irmã
-Ela não tem nada a ver com isso. – ele respondeu pausadamente. – O fato de querer passar o dia na cama não tem relação nem com os meus problemas amorosos, Stella. Eu tive uma noite maravilhosa, só bebi um pouco demais, admito.
Sté bufou, irritada.
-Um pouco? Cygnus, você deve ter bebido do bar inteiro!
-Não tive tempo para beber o bar inteiro, maninha...
Já que sua tia não acreditava que ele não tivesse dormido com ninguém, do que adiantava não mentir, dizendo que a noite foi bem melhor do que na verdade foi.
-Nenhum de nós, para ser sincero.
Stella engoliu seco.
-Como assim? O que está insinuando, Cygnus?
-Ora Sté, você já é bem crescidinha para saber o que quatro homens solteiros fazem quando saem sozinhos.
-Vo-vocês estavam com mulheres da vida? - ela perguntou, olhando séria para ele, não conseguindo controlar a voz no começo.
Cygnus revirou os olhos, sua irmã era realmente muito ingênua. Se duvidasse, Sté era mais ingênua até do que Vega.
-Puxa, Sté, como você adivinhou?
Ela arregalou os olhos. Então, era realmente verdade? Cygnus não estava brincando? Isso significava que sua tia estava mesmo falando a verdade e que Eric... Ele provavelmente havia...
-Todos vocês? - ela perguntou, temendo a resposta do irmão.
-É claro, Sté... E foi muito bom, se me permite um comentário. Tinha uma ruiva que, Merlin, era só fogo. E Eric... As pessoas pensam que o príncipe é um santo, mas ele estava com uma loira que...
- CYGNUS BLACK! - Stella gritou - Eu não vim aqui pra ouvir você falar dos seus bacanais!
Ele a olhou surpreso pelo ataque, Stella não costumava elevar o tom de voz, de qualquer forma resolveu não se importar.
-É verdade, Sté... O que você veio fazer aqui mesmo?
-Ver se você estava bem, seu cretino, pervertido de uma figa! – urrou – Mas pelo visto você esta bem melhor do que eu poderia imaginar, não? Vou deixá-lo com as suas lembranças... Com licença!
E se retirou, batendo a porta fortemente atrás de si.

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