O resgate



Capítulo XIII
O resgate

Abriu os olhos com dificuldade, aos poucos sua consciência retornava.
O cavalgar lhe deixava mais tonta e a pouca luz da floresta só fazia dificultar-lhe a percepção de onde estava.
Foi quando se lembrou... A fuga, as irmãs, o lobisomem... Joseth... Olhou para o alto, ele ainda a conduzia no cavalo, parecia aflito.
Virou a cabeça para o outro lado e entendeu porque, estavam sendo perseguidos por Cygnus.
Graças a Merlin!
Sacudiu um pouco a cabeça tentando voltar completamente a si. Acabou por alertar o rapaz.
-Isso não é hora de acordar, querida... – disse ele, debochado, enquanto lançava um novo feitiço na direção em que seu irmão estava, e depôs, mirava a varinha novamente para ela.
Mas Vega já estava mais acordada do que ele suponha. Segurou-lhe a mão antes que ele lhe estuporasse de novo e a mordeu fortemente, fazendo com que o loiro soltasse um grunhido de dor e largasse o pedaço de madeira.
-Peste desgraçada! – gritou Joseph soltando a mão dos dentes dela.
-Traidor! – ela gritou de volta – Você não vai sair bem dessa, Malfoy!
Ele tentou socá-la, fazê-la calar a boca e desacordá-la novamente. Mas um cavalo trombou com o dele antes que ele conseguisse o que pretendia. Teve que segurar fortemente as rédeas da sua própria montaria para não cair.
-Pula, Vega!
Ela olhou para trás, o irmão, ainda distante gritava a ordem.
Mas pular para onde?
-Pula no cavalo!!
Não precisa pedir duas vezes...
E foi o que ela fez, quase caindo entre os dois animais quando Joseph lhe segurou as vestes, tentando impedir-lhe o movimento.
Como se soubesse o que fazia, o cavalo em que agora ela estava montada deu um novo empurrão no de Malfoy, ela conseguiu se desvencilhar, mas não sem que o loiro rasgasse parte de sua roupa.
Vega soltou um logo suspiro quando sua montaria se afastou da de Malfoy. O irmão continuou no encalço do loiro, ela, por sua vez, debruçou-se sobre o animal, esperando conseguir recuperar o fôlego. Arfou cansada próximo ao pescoço dele.
O cavalo soltou um breve relinchar e Vega abraçou-se ainda mais ao pescoço dele, com medo de se desequilibrar e acabar por cair. Não estava acostumava a andar sem selas ou rédeas, e a velocidade com a qual o animal cavalgava não ajudava nem um pouco.
Um pouco mais calma, ela tentou enxergar algum relance do irmão, mas notou que o cavalo fez uma curva aberta e, agora, tomava o rumo contrário para o qual estavam indo.
Ela ergueu o corpo, um tanto quanto assustada, ao notar que Cygnus estava se distanciando, ainda a perseguir Malfoy.
Instintivamente, ela puxou a crina do cavalo, para fazê-lo parar e voltar para onde veio, mas o animal apenas relinchou como quem reclamava do fato e balançou a cabeça, como um pedido mudo para que ela o soltasse.
Vega bufou de raiva e puxou a crina do animal com mais força, antes de resmungar um "Vamos, seu animal burro, eu quero ir para o outro lado! Eu estou me distanciando do meu irmão!".
O animal repetiu o gesto, de maneira mais brusca e aborrecedora.
-Será que você não sabe obedecer a nenhum comando, seu idiota? - ela repetiu, aborrecida, dessa vez batendo com os calcanhares na barriga do cavalo.
Ela esboçou um sorriso vitorioso ao notar que o gesto surtira efeito, mas não era bem o esperado: o cavalo parara.
Vega mordeu o lábio inferior reprimindo um resmungo aborrecido e tornou a tentar atiçar o cavalo através da crina e, mais uma vez, bateu com os calcanhares na barriga dele. O cavalo relinchou de uma maneira que a garota achou um tanto quando repreendedora e ela respirou fundo.
-Ótimo, não preciso de sua ajuda para voltar para casa sozinha, seu inútil! - ela falou, aborrecida, descendo da montaria de modo desajeitado.
A mais nova dos Black respirou fundo e seguiria pela clareira, se não sentisse uma mão segurar o seu braço firmemente.
-Ah! - ela falou, aliviada. - Cygnus, o que você pensava que estava fazendo ao me fazer montar num animal como... - ela automaticamente parou de falar quando notou que não era bem Cygnus que segurava o seu braço. - Você! - bradou, furiosa, puxando o braço para junto de si e ligeiramente corada. - O que está fazendo aqui?
-Eu te salvo e ainda me trata dessa maneira? - ele arqueou uma sobrancelha, antes de sorrir meio de lado. - A senhorita deveria ser mais agradecida, Vega Black, afinal, sabe-se lá o quê aquele Malfoy poderia fazer com a senhorita agora. - murmurou seriamente. - Foi muita ingenuidade da sua parte cometer um ato tão insano quanto fugir com ele.
-Quem o senhor pensa que é para falar assim comigo, Lancaster? - falou num ar superior e orgulhoso. - Eu não pedi para ser salva. - resmungou, apesar de ter sentido o rosto ruborizar de leve. Ela não queria admitir que fora tola o bastante para ter se deixado levar pelas palavras do Malfoy. - Eu estava muito...
-Ah, sim, estava muito bem, não é mesmo? - ironizou ele, interrompendo-a calmamente. - Estava tão bem com ele que a demonstração de amor dele era te espancar para que ficasse desacordada novamente? Você foi uma tola ao acreditar que o Malfoy poderia estar apaixonado por você, Vega. E ingênua o suficiente para achar que podia tomar uma decisão sozinha, como se já fosse dona do seu próprio nariz.
Vega permaneceu calada, encarando-o com os olhos chispando. Jack suspirou, tentando se acalmar, não sabia o que o levara a falar com ela daquela maneira, afinal, mesmo que o corpo já não demonstrasse tantos indícios infantis, Vega, de certa forma, ainda não passava de uma criança.
-O mundo não é um conto de fadas, Vega. - ele falou seriamente. - Existem pessoas que utilizam a confiança e ingenuidade dos outros para alcançar os seus objetivos. - completou num ar doce. - Sei que não merecia, mas eu acho que você deveria tomar isso como uma lição e saber que nem todos os homens são confiáveis.
-E o senhor, por acaso é confiável, Lancaster? - ela falou de forma arrastada. - Quem me garante que não é igual aos outros? Que não é igual ao Malfoy? Só porque me salvou, não significa que eu tenha de confiar em você. E não me trate como se eu fosse uma criança, afinal, não sabe nada sobre mim e nada lhe dá o direito de me dizer essas coisas! - completou, irritada.
-Certo. - ele deu de ombros, como quem não se importasse. - Deduzo, então, que você não queira a minha ajuda, já que é grandinha o bastante para achar o caminho de casa sozinha. - se espreguiçou num ar desleixado e começou a caminhar calmamente. - Até mais.
Vega o encarou com certa incredulidade antes de bufar de raiva e lançar uma olhadela pela clareira a procura do cavalo que a levou até ali.
Arqueou uma sobrancelha, ao notar que ele não estava mais lá. Num lapso, sua mente chegara a conclusão de que Jack era o cavalo, já que ele disse que a havia salvado e ela não havia visto mais ninguém além de Cygnus e o cavalo sem montaria.
Inspirou profundamente, fazendo uma nota mental de que iria tirar satisfações quando o irmão quando chegasse em casa e, engolindo o seu orgulho, a pequena Black voltou-se para a direção que Jack havia tomado.
-Hey, espera! - ela gritou num tom rouco. Jack automaticamente parou ao notar que ela corria ao seu encontro. Ele sorriu de uma forma divertida e, revirando os olhos, Vega notou que ele já esperava por isso.
-Então, confessa agora que precisa da minha ajuda, Black?
-Claro que não! - murmurou num resmungo. - Apenas acho que o senhor deveria ser mais cavalheiro e, como o cavaleiro que é, deveria proteger uma dama.
Jack riu um pouco e Vega esboçou um ar carrancudo.
-Você é atrevida demais para eu te considerar uma verdadeira dama, Vega. - ele falou, ainda risonho. - Mas eu posso abrir uma exceção dessa vez.
-Era de se esperar. - ela falou com sarcasmo. - Já que o senhor é um cavalo!
-Vou tomar isso como um elogio. - ele sorriu meio de lado. - Então, já que já sabe do meu, hum, segredo, sugiro que você monte em mim para irmos mais rápido.
Ela ficou um tanto quanto envergonhada com o ar que ele lhe lançara.
-Eu não vou montar em você! - murmurou, cruzando os braços sobre o corpo. - Não mesmo.
-Pois bem, então. - ele falou, passando a mão pelos cabelos. - Sugiro que seja uma boa corredora, Vega, pois na minha forma animaga eu me canso menos e não é pela senhorita ser uma dama que seja uma prioridade por aqui.
-Seu insolente. - ela grunhiu, mas se aproximou dele. Não se sentindo intimidade perante ao fato do rapaz ser maior do que ela. Jack sorriu ao notar que ela havia concordado.
Segundos depois o rapaz dera lugar a um cavalo e Vega esboçou um ar meio divertido, puxando a crina dele mais do que o normal enquanto montava em seu lombo. Ele relinchou em resposta e Vega riu, puxando-a mais uma vez.
Mas, apesar de tudo, estava feliz por não estar mais com Malfoy e, finalmente, estar voltando para casa.

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Enquanto isso, Cygnus ainda se empenhava em alcançar Joseth.
Tinha que admitir que Shadow o surpreendia por estar conseguindo manter o passo da cavalgada enquanto o cavalo de Malfoy já esboçava sinais de cansaço.
E agora, sem a varinha do loiro lhe lançando feitiços toda hora, estava ficando bem mais fácil se aproximar.
Não usava sua varinha para derrubá-lo por que queria fazê-lo com as próprias mãos. Se arrependeu disso durante muito tempo depois.
Por culpa desse capricho, Malfoy conseguiu alcançar a fronteira da floresta, onde acabava o feitiço contra desaparatação que circundava toda a propriedade dos Black.
E fugiu da forma mais covarde possível, abandonando a montaria.
-Cretino! – berrou Cygnus puxando as rédeas de Shadow o fazendo parar – Seu covarde! Volte aqui e lute como um homem! – gritou para o nada, mais para dispersar sua raiva do que para o outro ouvir, já que sabia, Malfoy já deveria estar a quilômetros de distância dali naquele momento.
Deu o comando para que o cavalo desse meia volta.
-Vamos rapaz... Vamos embora para casa...
Ele encontrou a irmã, sobre o lombo do cavalo Jack, no meio do caminho já fora da floresta.
Emparelhou com eles, sorriu para Vega quando ela o encarou. Não estava com cabeça para broncas. Passou a mão nos cabelos dela e a abraçou enquanto cavalgavam a passou vagarosos.
-Maninha, maninha... Que trabalho que você me da hein...
Ela abaixou a cabeça, envergonhada. E, sem lembrar que Jack estava lá e os ouvia, pediu desculpas por tudo.
O irmão apertou-lhe um pouco mais forte o ombro.
-Deixa pra lá... Não aconteceu nada demais, e está tudo bem agora.
Calaram-se quando o cavalo dela parou em frente ao portão de entrada do castelo.
-Acho melhor você vir para cá. – disse Cygnus a puxando para a sua montaria.
Em seguida Jack se transfigurou novamente.
Sem mais palavras ele pegou as rédeas de Shadow e se pôs a caminhar para dentro da propriedade guiando seu cavalo com os irmãos em cima.
Assim que chegaram próximos o suficiente da entrada principal para serem reconhecidos, Stella apareceu correndo, feliz por vê-los.
- Vega! – abraçou a irmã assim que ela desmontou do cavalo, com ajuda de Lancaster - Graças a Merlin!
Lancaster sorriu um pouco, encarando meio de esguelha as irmãs que agora se abraçavam antes de lançar um olhar para Cygnus, que agora descia calmamente do cavalo.
-Eu vou guardar o Shadow.
-Se você quiser podemos mandar que um elfo faça isso para você. – Cygnus comentou, ao que Jack riu um pouco e acariciou a crina do cavalo de forma distraída. – Você deve estar cansado, não?
Jack deu de ombros e negou. Tudo bem que ele sentia o corpo dolorido, mas ele já ficara em estados piores do que o que estava no momento. Nada do que um bom banho e um bom sono não resolvessem.
-Ele só obedece às minhas ordens e só aceita aos meus cuidados. – avaliou com um meio sorriso. – Do mesmo modo, suas irmãs querem vê-lo agora e eu não quero atrapalhar. – ele lhe lançou um olhar significativo para o moreno, ao que ele rapidamente entendeu que ele também se referia a Persephone. – E quando sua irmã estiver melhor, talvez eu diga o quanto ela é pesada e precisa parar de comer tanto.
Cygnus apenas riu e meneou a cabeça, ao que Jack sorriu e se afastou com o cavalo, caminhando tranqüilamente até os estábulos.

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